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FIDES REFORMATA XX, Nº 1 (<strong>20</strong>15): 115-1<strong>20</strong><br />
Dentre as várias características propostas por Goheen, destacam-se o uso <strong>do</strong><br />
culto público como instrumento de cultivo de uma identidade missional, a<br />
necessidade de se entender o contexto cultural da igreja, o treinamento para<br />
o confronto missionário e pais prepara<strong>do</strong>s para fortalecer a fé de seus filhos.<br />
Segun<strong>do</strong> Goheen, uma igreja missional é preparada e estimulada quan<strong>do</strong> ela se<br />
reúne para cultuar. Uma das maneiras pelas quais o culto pode ter esse efeito na<br />
igreja é utilizar a metanarrativa bíblica ao longo <strong>do</strong> culto. Uma outra maneira<br />
é utilizar os elementos de culto para reorientar e redirecionar os membros da<br />
igreja “para o mun<strong>do</strong> incrédulo como a perspectiva suprema de nossa vocação”<br />
(p. 242). Com relação ao contexto cultural da igreja, Goheen sugere que ela<br />
precisa entender profundamente as diferentes cosmovisões que a cercam e não<br />
se deixar iludir pelo desejo de que a cultura seja algo que ela não é. Quanto<br />
ao confronto missionário, Goheen refere-se à prática evangelística associada<br />
à vida no reino. Ele se refere “à maneira que os leigos encarnam o senhorio<br />
de Jesus Cristo no seu trabalho, nos negócios, na vida cadêmica, no trabalho<br />
social, nos tribunais, e na construção civil” (p. 254). Ele alerta para o sofrimento<br />
inevitável que surgirá desse confronto missionário. Por último, Goheen lembra<br />
que em Deuteronômio uma das ameaças que o povo de Deus enfrenta em sua<br />
tarefa missional é “o fracasso em transmitir a fé à geração seguinte” (p. 263).<br />
Goheen descreve os passos que deu para implementar em sua própria família<br />
esse objetivo. Cultos familiares (<strong>do</strong>mésticos), educação cristã, moderação no<br />
uso de tecnologia, compreensão <strong>do</strong> contexto cultural, treinamento <strong>do</strong>s filhos<br />
para serem bons membros da comunidade da aliança.<br />
A Igreja Missional na Bíblia é um excelente exemplo de aplicação de<br />
teologia e cosmovisão bíblicas para entender um assunto extremamente relevante<br />
para a vida da igreja: sua identidade enquanto agente de conversão de<br />
almas. Ele utiliza de maneira magistral a metanarrativa bíblica transforman<strong>do</strong>-a<br />
no fundamento para uma teologia de missões. Mas será que esse livro é sobre<br />
eclesiologia? Goheen frequentemente destaca a importância da eclesiologia<br />
para a identidade missional da igreja, sem oferecer uma definição precisa <strong>do</strong><br />
termo. Em um momento de elucidação sobre o assunto, ele explica de forma<br />
breve que “eclesiologia tem a ver com a compreensão de nossa identidade,<br />
quem somos e por que Deus nos escolheu – a quem pertencemos” (p. 21). Enquanto<br />
Goheen de maneira alguma está erra<strong>do</strong>, a eclesiologia não está limitada<br />
ao que a igreja é, mas também ao que a igreja faz e como faz. Na <strong>do</strong>gmática<br />
clássica, a eclesiologia engloba, além da identidade da igreja, outros assuntos<br />
como marcas, autoridade, governo, culto e meios de graça.<br />
A impressão é que Goheen associa desnecessáriamente a ideia de eclesiologia<br />
à sua teologia de missões. Talvez outra dificuldade encontrada em Goheen<br />
é um fato que ocorre frequentemente com teólogos bíblicos que desejam encontrar<br />
um tema central em toda a Escritura: a identificação forçada de sua matriz<br />
teológica em textos que não oferecem claro suporte para elas. Por exemplo: ao<br />
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