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Hermisten M. P. da Costa, A Fortuna e a Providência: MAQUIAVEL E CALVINO<br />
... empregan<strong>do</strong> um gênero similar de censura e protesto ao que Farel recorrera<br />
antes, arrastou-me de volta a uma nova situação. Alarma<strong>do</strong> com o exemplo de<br />
Jonas, o qual ele pusera diante de mim, ainda prossegui na obra <strong>do</strong> ensino. E<br />
embora continuasse como sempre fui, evitan<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os meios a celebridade,<br />
todavia fui leva<strong>do</strong>, sem o saber, como pela força, a comparecer às assembleias<br />
imperiais, onde, voluntária ou involuntariamente, fui força<strong>do</strong> a aparecer ante<br />
os olhos de muitos. 82<br />
A situação política mu<strong>do</strong>u em Genebra. Assim, em 22 de outubro de<br />
1540 – entre outras cartas enviadas –, o Conselho <strong>do</strong>s Duzentos resolve convidar<br />
Calvino a voltar para Genebra; ele hesita. Em 1º de maio de 1541, o Conselho<br />
Geral, por considerar Calvino e Farel “pessoas de bem e de Deus”, revoga o<br />
edito de banimento de 1538. Farel, que convencera Calvino em 1536 a permanecer<br />
em Genebra, agora, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Conselho daquela cidade – visto que<br />
Calvino não atendera ao seu convite –, convence Calvino a retornar a Genebra<br />
em 1541. Em agosto <strong>do</strong> mesmo ano, Calvino já se decidira; mesmo desejan<strong>do</strong><br />
permanecer em Estrasburgo, voltaria a Genebra: “Mas quan<strong>do</strong> eu me lembro<br />
que não pertenço a mim próprio, eu ofereço meu coração, apresenta<strong>do</strong> como um<br />
sacrifício ao Senhor”. 83 Na manhã de terça-feira de 13/09/1541 os magistra<strong>do</strong>s<br />
de Genebra, precedi<strong>do</strong>s por um arauto, foram receber Calvino, percorren<strong>do</strong> o<br />
mesmo caminho que ele e Farel fizeram três anos antes, passan<strong>do</strong> pela porta<br />
Cornavin em direção Versoix. Neste mesmo dia, Calvino entra em Genebra; no<br />
dia 16, escreve a Farel dan<strong>do</strong>-lhe notícia da sua entrevista com os magistra<strong>do</strong>s<br />
e <strong>do</strong>s passos para a elaboração da forma para disciplina eclesiástica. 84<br />
A partir de então, Calvino dá prosseguimento à implantação de uma<br />
intensa reforma naquela cidade. Mais tarde (1557), ele contaria que regressou<br />
a Genebra com lágrimas, tristeza, ansiedade e abatimento, contrarian<strong>do</strong> a sua<br />
“aspiração e inclinação”. Contu<strong>do</strong>, tinha dentro de si um sentimento maior <strong>do</strong><br />
que simplesmente fazer o que desejava; confessa:<br />
... o bem-estar desta Igreja, é verdade, era algo tão íntimo de meu coração, que<br />
por sua causa não hesitaria a oferecer minha própria vida; minha timidez, não<br />
obstante, sugeriu-me muitas razões para escusar-me uma vez mais de, voluntariamente,<br />
tomar sobre meus ombros um far<strong>do</strong> tão pesa<strong>do</strong>. Entretanto, finalmente<br />
uma solene e conscienciosa consideração para com meu dever prevaleceu e me<br />
fez consentir em voltar ao rebanho <strong>do</strong> qual fora separa<strong>do</strong>. 85<br />
82 Ibid., p. 41-42.<br />
83 John Calvin Collection. CD-ROM. Albany, OR: Ages Software, <strong>19</strong>98, Calvin, “Letter to Farel,”<br />
n. 73.<br />
84 John Calvin Collection. CD-ROM. Albany, OR: Ages Software, <strong>19</strong>98, Calvin, “Letter to Farel,”<br />
n. 76.<br />
85 CALVINO, O Livro <strong>do</strong>s Salmos, v. 1, p. 42.<br />
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