Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
FIDES REFORMATA XIX, Nº 2 (2014): 55-75<br />
Contu<strong>do</strong>, o mais famoso testemunho favorável a Maquiavel é o de J. J.<br />
Rousseau (1712-1778), no seu Contrato Social (1762), quan<strong>do</strong> diz que Maquiavel,<br />
“fingin<strong>do</strong> dar lições aos reis, deu-as, grandes, aos povos. O Príncipe de<br />
Maquiavel é o livro <strong>do</strong>s republicanos”. 20<br />
Da mesma forma, um contemporâneo nosso, Marcílio Marques Moreira<br />
afirma no mesmo diapasão que “Maquiavel pode e deve ser considera<strong>do</strong> como<br />
precursor da tradição democrática moderna”. 21<br />
Particularmente, com a ousadia talvez da ignorância, não compartilho<br />
das ideias de Espinosa, Rousseau e Moreira; por outro la<strong>do</strong>, não vou tão longe<br />
como o Cardeal Pole. De qualquer forma, tenho de admitir que O Príncipe é<br />
um “trata<strong>do</strong> de pedagogia”. 22<br />
Strauss observa que, ao defender de forma pública ideias antigas e amplamente<br />
praticadas, Maquiavel teve o seu nome associa<strong>do</strong> a estes ensinamentos:<br />
Maquiavel é o único pensa<strong>do</strong>r político cujo nome entrou no uso comum para<br />
designar um tipo de política que existe e que seguirá existin<strong>do</strong> qualquer que<br />
seja a sua influência, uma política guiada exclusivamente por considerações de<br />
conveniência, que emprega to<strong>do</strong>s os meios, justos ou injustos, o aço ou veneno,<br />
para alcançar seus fins – sen<strong>do</strong> seu fim o engrandecimento da própria pátria –,<br />
porém também colocan<strong>do</strong> a pátria ao serviço <strong>do</strong> engrandecimento <strong>do</strong> político<br />
ou estadista, ou <strong>do</strong> próprio parti<strong>do</strong>. 23<br />
Analisemos então, alguns aspectos <strong>do</strong> pensamento de Maquiavel.<br />
Como bem sabemos, Maquiavel desejan<strong>do</strong> alcançar a graça <strong>do</strong> príncipe<br />
Lorenzo II (1492-15<strong>19</strong>), 24 escreveu O Príncipe em 1513, dedican<strong>do</strong>-lhe a<br />
20 Rousseau, J. J. Do contrato social. Os Pensa<strong>do</strong>res, v. 24. São Paulo: Abril Cultural, <strong>19</strong>73,<br />
p. 95. Ver também: ARON, Raymond. Estu<strong>do</strong>s políticos. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de<br />
Brasília, <strong>19</strong>85, p. 99ss.; SKINNER, Quentin. As fundações <strong>do</strong> pensamento político moderno. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, <strong>19</strong>96, p. 173-174.<br />
21 MOREIRA, Marcílio M. O pensamento político de Maquiavel: In: Maquiavel, O Príncipe –<br />
Estu<strong>do</strong>s. Brasília: Editora Universidade de Brasília, <strong>19</strong>85, p. 113.<br />
22 CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: Editora UNESP, <strong>19</strong>99, p. 246.<br />
23 STRAUSS, Leo. Nicolás Maquiavelo: In: STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph (compila<strong>do</strong>res).<br />
Historia de la filosofia política. México: Fon<strong>do</strong> de Cultura Económica, © <strong>19</strong>93, <strong>19</strong>96 (reimpresión),<br />
p. 287. De mo<strong>do</strong> ilustrativo <strong>do</strong> que foi dito, no Dicionário de Política edita<strong>do</strong> por Bobbio e outros, no<br />
verbete Maquiavelismo, lemos: “... expressão usada especialmente na linguagem ordinária para indicar<br />
um mo<strong>do</strong> de agir, na vida política ou em qualquer outro setor da vida social, falso e sem escrúpulos,<br />
implican<strong>do</strong> o uso da fraude e <strong>do</strong> engano mais que da violência...”. PISTONE, Sérgio. Maquiavelismo:<br />
In: BOBBIO, Norberto et al. (Eds.). Dicionário de política. 6. ed. Brasília: Editora Universidade de<br />
Brasília, <strong>19</strong>94, v. 2, p. 738.<br />
24 Ver a carta dedicatória ao príncipe na obra. Maquiavel, N. O príncipe. Os Pensa<strong>do</strong>res, v. 9.<br />
São Paulo: Abril Cultural, <strong>19</strong>73, p. 9-10. Na mesma edição encontra-se a carta escrita por Maquiavel ao<br />
embaixa<strong>do</strong>r florentino Francesco Vettori, em 10/12/1513, p. 117-120.<br />
59