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Fides 19 N2 - Revista do Centro Presbiteriano Andrew Jumper

Revista Fides Reformata 19 N2 (2014)

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FIDES REFORMATA XIX, Nº 2 (2014): 55-75<br />

determinan<strong>do</strong>, assim, a visão da realidade e consequentemente a ética e os valores<br />

destas. 8 A religião é um apanágio <strong>do</strong> ser humano. 9 O etnólogo Malinowski<br />

(1884-<strong>19</strong>42), inicia seu livro Magia, Ciência e Religião, com esta afirmação:<br />

“Não existem povos, por mais primitivos que sejam, sem religião nem magia”. 10<br />

A análise introdutória <strong>do</strong> pensamento destes <strong>do</strong>is autores com compreensões<br />

tão diferentes se deve ao fato de que em 2013 tivemos as comemorações<br />

<strong>do</strong>s 500 anos da redação da obra mais famosa de Maquiavel (1469-1527), O<br />

Príncipe. 11 Por sua vez, em 2014, relembramos os 450 da morte <strong>do</strong> Reforma<strong>do</strong>r<br />

João Calvino (1509-1564). O sentimento religioso está presente na obra<br />

de ambos, ainda que de mo<strong>do</strong> diferente e com propósitos distintos. Vamos<br />

ao assunto.<br />

1. maquiavel: nem anjo, nem demônio – um pouco<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is 12<br />

1.1 Pensa<strong>do</strong>r controverti<strong>do</strong><br />

Maquiavel é o oposto a um maquiavélico, pois descreve as manhas <strong>do</strong><br />

poder, pois, como se disse, “divulga um segre<strong>do</strong>” – Merleau-Ponty. 13<br />

O quadro de um Maquiavel cor-de-rosa não é um quadro historicamente<br />

verdadeiro. É uma convenção fabulosa tão oposta à verdade histórica<br />

como a concepção <strong>do</strong> “diabólico” Maquiavel – E. Cassirer. 14<br />

8 “Por toda a parte, até hoje, tem si<strong>do</strong> o sentimento religioso a inspiração, a substância, ou o<br />

cimento das instituições livres, onde quer que elas duram, enraízam, e florescem”. BARBOSA, Ruy.<br />

Cartas de Inglaterra. 2. ed. São Paulo: Livraria Academica Saraiva & C. Editores, <strong>19</strong>29, p. 433.<br />

9 Thomas Hobbes em 1651, concluiu que a religião é exclusividade <strong>do</strong> ser humano: “Verifican<strong>do</strong><br />

que só no homem encontramos sinais, ou frutos da religião, não há motivo para duvidar que a semente da<br />

religião se encontra também apenas no homem, e consiste em alguma qualidade peculiar, ou pelo menos<br />

em algum grau eminente dessa qualidade, que não se encontra em outras criaturas vivas”. HOBBES,<br />

Thomas. Leviatã. Os Pensa<strong>do</strong>res, v. 14. São Paulo: Abril Cultural, <strong>19</strong>74, p. 69. No século 20 Nash falou<br />

sobre o caráter inescapável da religião na vida humana: “Religião é uma realidade inescapável da vida.<br />

To<strong>do</strong>s os humanos têm algo que os preocupa de maneira última e, seja este qual for, o seu objeto final é<br />

a pessoa de Deus”. NASH, Ronald H. Questões últimas da vida: uma introdução à filosofia. São Paulo:<br />

Cultura Cristã, 2008, p. <strong>19</strong>.<br />

10 Malinowski, Bronislaw. Magia, ciência e religião. Lisboa: Edições Setenta, (s.d.), p. <strong>19</strong>.<br />

11 O Príncipe foi escrito em 1513 e publica<strong>do</strong> postumamente em 1531.<br />

12 Quanto às opiniões diferentes a respeito de Maquiavel e sua obra, ver: Chevallier, Jean-<br />

-Jacques. As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias. 3. ed. Rio de Janeiro/Brasília: Agir/<br />

Editora Universidade de Brasília, <strong>19</strong>82, p. 44ss.; Berlin, I. O problema de Maquiavel: In: Curso de<br />

introdução à ciência política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, <strong>19</strong>82, p. 117-143; Cassirer,<br />

Ernst. O mito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. São Paulo: Códex, 2003, p. 145-159.<br />

13 Merleau-Ponty, Maurice. Elogio da filosofia. Coleção Ideia Nova. 2. ed. Lisboa: Guimarães<br />

& C.ª Editores, (<strong>19</strong>79), p. 76.<br />

14 Cassirer, O mito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, p. 175.<br />

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