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Hermisten M. P. da Costa, A Fortuna e a Providência: MAQUIAVEL E CALVINO<br />
limita<strong>do</strong>. 2 A ciência é uma construção coletiva, 3 não dan<strong>do</strong> conta de compreender<br />
e, menos ainda, explicar toda a realidade. 4 O méto<strong>do</strong> científico, a despeito<br />
de sua grande relevância, é limita<strong>do</strong>. 5 Daí a humildade necessária 6 por parte de<br />
to<strong>do</strong>s os amantes da ciência, e que por isso, por este amor compromissa<strong>do</strong>,<br />
entram neste jogo. 7<br />
Por outro la<strong>do</strong>, é fato que a religião está presente em todas as culturas.<br />
Mesmo que ingenuamente tentemos ignorar, a realidade é que a religião compõe<br />
com cores fortes, varian<strong>do</strong> apenas de tonalidade, o colori<strong>do</strong> de todas as culturas,<br />
outros enuncia<strong>do</strong>s que, novamente, são provisórios. Somente podemos estar ‘absolutamente certos’ de<br />
nossas experiências subjetivas de convicção, de nossa fé subjetiva. Com o í<strong>do</strong>lo da certeza (incluin<strong>do</strong>-se os<br />
graus de certeza imperfeita ou probabilidade) cai um <strong>do</strong>s baluartes <strong>do</strong> obscurantismo que barra o caminho<br />
<strong>do</strong> avanço científico, reprimin<strong>do</strong> a audácia de nossas questões e pon<strong>do</strong> em perigo o rigor e a integridade<br />
de nossos testes. A concepção errada da ciência trai-se em sua pretensão de ser correta; pois, o que faz o<br />
homem de ciência não é sua posse <strong>do</strong> conhecimento, da verdade irrefutável, mas sua indagação persistente<br />
e temerariamente crítica da verdade. (...) A ciência nunca persegue o fim ilusório de que suas respostas<br />
sejam definitivas ou mesmo prováveis. Seu avanço dirige-se, ao contrário, para o fim infinito e ainda<br />
assim atingível de sempre descobrir problemas novos, mais profun<strong>do</strong>s e mais gerais, e de sujeitar suas<br />
respostas sempre provisórias a testes sempre renova<strong>do</strong>s e cada vez mais rigorosos”. POPPER, Karl R.<br />
A lógica da investigação científica. Os Pensa<strong>do</strong>res, v. 44. São Paulo: Abril Cultural, <strong>19</strong>75, p. 383, 384.<br />
Ver também: PIAGET, Jean. A epistemologia genética. Os Pensa<strong>do</strong>res, v. 51. São Paulo: Abril Cultural,<br />
<strong>19</strong>75, p. 129-130. “Hoje em dia toda a gente reconhece que a plena certeza é algo de inatingível nas<br />
ciências a que se chama ‘indutivas’”. POPPER, Karl R. O realismo e o objectivo da ciência. Pós-escrito<br />
à lógica da descoberta científica, v. I. Lisboa: Publicações Dom Quixote, <strong>19</strong>87, p. 234-235.<br />
2 “[A ciência] é provisória e limitada”. Barth, Karl. Esboço de uma <strong>do</strong>gmática. São Paulo:<br />
Fonte Editorial, 2006, p. 7.<br />
3 “A ciência é obra coletiva, porquanto supõe vasta cooperação de to<strong>do</strong>s os sábios, não somente<br />
de dada época, mas de todas as épocas que se sucedem na história”. Durkheim, Émile. Educação e<br />
sociologia. 5. ed. São Paulo: Melhoramentos, (s.d.), p. 35.<br />
4 “O conhecimento científico é produto de um empreendimento humano coletivo ao qual os<br />
cientistas fazem contribuições individuais purificadas e ampliadas pela crítica mútua e pela cooperação<br />
intelectual. Segun<strong>do</strong> essa teoria, a meta da ciência é um consenso de opinião racional sobre o campo<br />
mais amplo possível”. Ziman, John. O conhecimento confiável: uma exploração <strong>do</strong>s fundamentos para<br />
a crença na ciência. Campinas, SP: Papirus, <strong>19</strong>96, p. 13.<br />
5 “Ainda que o conhecimento científico seja importante e poderoso, é essencialmente limita<strong>do</strong>”.<br />
van Riessen, Hendrik. Enfoque cristiano de la ciência. 2. ed. Países Bajos: Felire, <strong>19</strong>90, p. 57.<br />
6 “A primeira preocupação de to<strong>do</strong> praticante de ciência, e, particularmente, de to<strong>do</strong> teólogo, é ser<br />
humilde e modesto. Um cientista não deve pensar que é mais sábio <strong>do</strong> que realmente é. Toda disciplina<br />
científica está presa ao seu objeto. Ela não pode – por causa de uma teoria preconcebida – falsificar<br />
ou negar os fenômenos que observa”. Bavinck, Herman. Dogmática reformada. São Paulo: Cultura<br />
Cristã, 2012, v. 2, p. 246. “Sem humildade, não pode haver verdadeiro avanço cientifico”. HORTON,<br />
Michael S. O cristão e a cultura. São Paulo: Cultura Cristã, <strong>19</strong>98, p. 116.<br />
7 Para uma abordagem mais ampla sobre a ciência, seus desejos e limitações, ver: COSTA,<br />
Hermisten M. P. A ciência e a sua “autonomia”: Ciência ou fé? Rompen<strong>do</strong> em fé com a fé. Ciências<br />
da Religião: História e Sociedade. São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da<br />
Universidade Presbiteriana Mackenzie (8/1, 2010): 61-97. Disponível em: editorarevistas.mackenzie.<br />
br/index.php/cr/article/view/1458/2379. Acesso em: 17 out. 2014.<br />
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