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FIDES REFORMATA XIX, Nº 2 (2014): 55-75<br />
A Fortuna e a Providência: Maquiavel e Calvino,<br />
<strong>do</strong>is Olhares sobre a História e a Vida<br />
Hermisten Maia Pereira da Costa *<br />
Resumo<br />
Em 2013 foram comemora<strong>do</strong>s os 500 anos da redação de O Princípe<br />
(1513), de Maquiavel. Em 2014, são lembra<strong>do</strong>s os 450 anos da morte <strong>do</strong><br />
reforma<strong>do</strong>r francês João Calvino (1564). Esses <strong>do</strong>is personagens, com referenciais<br />
teóricos e pressuposições tão diferentes, exerceram grande influência<br />
na história das ideias e continuam sen<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong>s com entusiasmo em pleno<br />
século 21. O autor propõe-se a analisar aspectos de suas compreensões sobre<br />
religião, história e vida, avalian<strong>do</strong>, consequentemente, a participação humana<br />
dentro deste cenário.<br />
Palavras-chave<br />
Maquiavel; Calvino; Religião; História; Fortuna; Providência.<br />
Introdução<br />
O sentimento religioso, mesmo sen<strong>do</strong> rechea<strong>do</strong> de elementos de racionalidade<br />
e compreendi<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong>s cânones da razão, também possui elementos<br />
inexplicáveis. Sei que este argumento pode ser inicia<strong>do</strong> pelo fim; no entanto,<br />
neste caso, a ordem <strong>do</strong>s argumentos não altera a tese: o sentimento religioso<br />
pode ser compreendi<strong>do</strong> dentro de uma perspectiva plural na qual se aglutinam<br />
elementos de racionalidade e, digamos, elementos estranhos à razão humana.<br />
O nosso conhecimento, inclusive o científico, como sabemos, é provisório 1 e<br />
* O autor é mestre e <strong>do</strong>utor em Ciências da Religião e professor visitante <strong>do</strong> CPAJ. Integra a<br />
equipe pastoral da Primeira Igreja Presbiteriana de São Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo (SP).<br />
1 “O velho ideal científico da epistéme, <strong>do</strong> conhecimento absolutamente certo, demonstrável –<br />
provou ser um í<strong>do</strong>lo. A exigência da objetividade científica torna inevitável que to<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> científico<br />
permaneça provisório para sempre. Pode-se de fato corroborá-lo, mas toda corroboração é relativa aos<br />
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