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FIDES REFORMATA XIX, Nº 2 (2014): 31-53<br />
Fo<strong>do</strong>r desiste de seu antigo argumento tentan<strong>do</strong> usar a estratégia anteriormente<br />
citada de Laurence e Margolis de enfraquecer a premissa (1) (ver<br />
pág. 40). Para ele, no entanto, não basta dizer que os conceitos não são nem<br />
aprendi<strong>do</strong>s nem inatos, ele precisa fornecer uma terceira opção. Se declaro que<br />
um veículo X não é nem um carro, nem um trator, eu posso afirmar ser ele uma<br />
moto, um caminhão ou outra coisa, pois eu tenho outras opções. Neste caso,<br />
porém, Fo<strong>do</strong>r não tem nada além destas duas opções, tanto é que ele não a<br />
expõe. Assim, a simples afirmação de que conceitos não são nem aprendi<strong>do</strong>s<br />
nem inatos é cheia de som, mas não significa nada.<br />
2. INATISMO E EVOLUCIONISMO<br />
Como vimos, a proposta <strong>do</strong> inatismo de conceitos traz em si afirmações<br />
fortes. Tais afirmações também têm consequências no mesmo grau. Reivindica-se<br />
que quan<strong>do</strong> uma tese filosófica é contrária a alguma teoria científica que<br />
é bastante recomendada, devemos reformular nossa tese filosófica ao invés<br />
de aban<strong>do</strong>narmos a teoria científica. Isto acontece quan<strong>do</strong> se pesa o inatismo de<br />
conceitos e a teoria evolucionista. Algumas das críticas dirigidas contra a<br />
posição de Fo<strong>do</strong>r estão arraigadas justamente na incompatibilidade dela com o<br />
evolucionismo. Mas nem to<strong>do</strong>s conseguem enxergar assim. Existem <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s<br />
na literatura de conceitos de ver a relação entre inatismo e a teoria darwinista.<br />
O primeiro mo<strong>do</strong> é aquele em que as duas posições são complementares, ou<br />
seja, que o inatismo é corrobora<strong>do</strong> pelo evolucionismo; dada nossa herança<br />
genética, nossas disposições conceituais inatas podem ser explicadas por ela.<br />
Do outro la<strong>do</strong>, estão os que acreditam que, na verdade, inatismo e evolucionismo<br />
são totalmente incompatíveis. Mas por que isto é importante para o inatismo<br />
de conceitos? Esta questão é importante por que a reivindicação desta última<br />
vertente é que se os <strong>do</strong>is são incompatíveis, devemos aban<strong>do</strong>nar o inatismo de<br />
conceitos e ficar com o evolucionismo por ser uma teoria científica bem mais<br />
ratificada. Vamos, então, olhar rapidamente para cada la<strong>do</strong> desse debate e ver<br />
que as consequências tiradas dele são teístas.<br />
Autores como Chomsky e Fo<strong>do</strong>r, que en<strong>do</strong>ssaram algum tipo de inatismo,<br />
acreditam que a tal herança inata reivindicada foi dada no processo<br />
evolutivo. Em sua posição mais recente, como vimos no desfecho da seção<br />
anterior, Fo<strong>do</strong>r diz que a questão central é buscar compreender como essa<br />
herança inata contribui para a aquisição <strong>do</strong> repertório conceitual, e Chomsky,<br />
por exemplo, diz:<br />
an innate concept is one the acquisition of which is independent of experience. Quite likely, there are<br />
none of those either. Rather, the problem is to explain how a creature’s innate en<strong>do</strong>wment (whether it is<br />
described in neurological or in intentional terms) contributes to the acquisition of its conceptual repertoire;<br />
that is, how innate en<strong>do</strong>wments contribute to the processes that start with experience and end in<br />
concept possession”.<br />
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