não. Tanto o circo quanto o palhaço têm muito a oferecer ao público ainda”, comenta. Para ele, a figura do palhaço, atinge tanto crianças quanto adultos. “O palhaço consegue reunir, nele mesmo, um universo: a criança, o homem, a mulher, um pouco de tudo, sem preconceitos”, conclui. Ele exerce o ofício de artista há mais de 20 anos. Questionado sobre a visão que as pessoas têm atualmente dos palhaços, ele ressalta que a relação com a animação de festas ou com seres medonhos que aparecem nos filmes de terror acaba desvirtuando o real significado desta figura. “Hoje, também, você vê pessoas protestando nas ruas com nariz de palhaço, dizendo ‘o governo faz a gente de palhaço’, como algo negativo. Se o governo fizesse as pessoas de palhaças, elas estariam todas bem. O palhaço tem poder de transformação. A sociedade brasileira tem o costume de inferiorizar o palhaço, infelizmente. Mas ele é maior que tudo isso”, conclui. Para definir a importância do ser que representa, Flavio Estevão, 42, o Palhaço Fofinho, de Araçatuba, usa uma frase do poeta inglês Joseph Addison (1672 – 1719): “O sorriso é para a humanidade o que um raio de sol é para as flores”. “É nisso que acredito, que as crianças merecem sorrir para se alimentarem de boas recordações!”, comenta. Com quase 20 anos de dedicação a palhaçaria, ele destaca que o palhaço sempre estará presente e sempre será mágico, mesmo com todos os avanços tecnológicos. “Foi assim com o circo, o cinema, o rádio, a televisão, hoje com a internet e no até mesmo perante as interações ciberespaciais! O palhaço é um ser adaptável, ele vive e está em constante contato com o universo; se o universo muda, o palhaço muda junto. Um novo tempo é tal qual uma nova cidade onde o circo chega, e o palhaço tem que saber onde fica o bairro violento, quem é o ‘manda-chuva’, quem é o mendigo famoso do lugar, pra poder usar essas informações em cena... enfim, o palhaço é esse ser mutável”, comenta. Fernando Henrique Santana Santos, de 24 anos, é o palhaço Pipo, do Circo Internacional Portugal (que passou por Araçatuba e Lins entre agosto e setembro), e é a quarta geração de palhaço de uma família circense. Com base em seus 18 anos de profissão, e compartilhando da mesma opinião que Estevão, Santos diz que o palhaço, de forma geral, foi se reinventando com o tempo, assim como o circo. “Tem muita gente que gosta de dizer que o circo morreu, que acabou, mas ARTISTAS GUARDAM LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA RELACIONADAS A FIGURAS BRINCALHONAS Cada artista que se dedica à palhaçaria guarda memórias da infância acerca da figura que hoje faz parte de sua vida profissional. Fernando Henrique Santana Santos, o Pipo, sempre “respirou” circo e conta que as memórias mais antigas de palhaço estão relacionadas a seu pai, o Marquito, com quem divide o picadeiro. “Muito do que sei foi ensinado pelo meu pai, mas desenvolvi meu próprio palhaço”, diz. Aos seis anos de idade, se apresentava pela primeira vez, ao lado dele, e usando o nome Pipoquinha. Já Vagner Silva, o Popó, teve uma experiência inicial mais inusitada e não foi exatamente com um típico palhaço circense, mas com um Bastião, como é chamado um dos personagens de Folia de Reis. “Quando eu era criança, co uns 5 ou 6 anos de idade, quando as Folias de Reis passavam nas casas, meu pai pedia pra que o Bastião (que é uma espécie de palhaço) não entrasse, porque poderia assustar as crianças. Então, eu nunca tinha visto como ele era e ficava curioso. Até que um dia fui com minha família em uma festa de Reis e vi uma criatura estranha, saltando loucamente com um facão de madeira na mão, correndo atrás de pessoas. Era o Bastião. Quando eu vi, fiquei decepcionado, porque achava que veria algo parecido com um palhaço de circo (que eu só tinha visto em revistas e TV)”, conta. Ele se lembra que não teve medo, pelo contrário. Chegou perto e foi logo puxando a máscara, levando uma bronca em seguida. Foi também com mais ou menos 5 anos que Flávio Estevão, o Fofinho, viu pela primeira vez um palhaço. “Eu estudava na creche São Domingos Sávio e o primeiro espetáculo que assisti foi de um palhaço. Lembro que tinha uma escada em cena e ele executava gags clássicas, mas a que eu mais me recordo era aquela do truque que usa um funil e um balde; é colocado um funil na frente da pessoa e, ao movimentar os braços, parece que a pessoa estava vazando água por todo canto!”, rememora.
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