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Curso-de-Teologia-modulo-II

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. *<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

DOUTRINA DE CRISTO ־ CRISTOLOGIA<br />

HISTÓRIA DE ISRAEL ^ 7 ־ y<br />

DOUTRINA DOS ANJOS ־ ANGELOLOGIA<br />

PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO "O AT ^<br />

PRÁTICAS LITÚRGICAS (matériasuplementar)<br />

ΡΠΓ faculda<strong>de</strong> teológica betesda<br />

I WÊi Moldando vocacionados


D IG IT A L IZ A D O POR:<br />

PRESBÍTERO<br />

(TEÓ LOG O APOLOG ISTA)<br />

PROJETO SEMEADORES DA PALAVRA<br />

V IS IT E O FÓR UM<br />

http://sem eadoresdapalavra.forum eiros.com /forum


CURSO DE TEOLOGIA<br />

MODULO 2<br />

DOUTRINA DE CRISTO ■ CRISTOLOGIA<br />

HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

DOUTRINA DOS ANJOS ■ ANGELOLOGIA<br />

PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

PRÁTICAS LITÚRGICAS (m a té ria s u p le m e n ta r!<br />

faculda<strong>de</strong> teológica betesda<br />

Moldando vocacionados


CRISTOLOGIA<br />

Doutrina <strong>de</strong> Cristo<br />

1


SUMARIO<br />

IN TRO D U ÇÃ O ................................................................................................................................................................13<br />

1. DEFINIÇÃO DE T E R M O .................................................................................................................................14<br />

2. A HUMANIDADE DE CRISTO .................................................................................................................... 15<br />

3. A DIVINDADE DE CRISTO .......................................................................................................................... 17<br />

4. NOMES E NATUREZA DE C R IS T O ............................................................................................................. 19<br />

4.1 O NOME JE S U S ............................................................................................................................................. 19<br />

4.2 O NOME CRISTO.............................................................................................................................................19<br />

4.3 FILHO DO HOMEM .....................................................................................................................................20<br />

4.4 FILHO DE DEUS .............................................................................................................................................20<br />

4.5 SENHOR.............................................................................................................................................................. 21<br />

5. A VIDA, ENSINOS E OBRAS DE JE S U S ....................................................................................................22<br />

6. A DIVINDADE DE CRISTO NOS EV A N G ELH O S............................................................................... 23<br />

7. JESUS EM ATOS DOS APÓSTOLOS ....................................................................................................24<br />

8. A DOUTRINA DE JESUS CRISTO NAS EPÍSTOLAS .....................................................................27<br />

9. A DOUTRINA DE JESUS CRISTO NO APOCA LIPSE......................................................................30<br />

10. ALGUNS ENSINOS DA PARTE DE JESUS C R IS T O ..............................................................................32<br />

11. FONTES NÃO-CRISTÃS QUE ESCREVERAM SOBRE JESUS ...................................................35<br />

11.1 FORA DAS ESCRITURAS ........................................................................................................................35<br />

11.2 FLÁVIO JOSEFO (37/38 - 100 d.C.) ...............................................................................................35<br />

11.3 TÁCITO (55/56 - 120 d.C)......................................................................................................................36<br />

11.4 PLÍNIO, O JOVEM (61 - 120 d.C) .................................................................................................37<br />

11.5 SUETÔNIO .....................................................................................................................................................37<br />

11.6 MARA BAR SERAPION ........................................................................................................................38<br />

11.7 TALMUDE ......................................................................................................................................................38<br />

11.8 AVALIAÇÃO HISTÓRICA .......................................................................................................................38


12. HERESIAS SOBRE APESSOADE JESUS CRISTO............................................................ 39<br />

12.1 ATÉ O CONCILIO DE NICÉIA (100-325 d.C.).....................................................39<br />

a) GNOSTICISMO..................................................................................................................39<br />

b) EBIONISMO......................................................................................................................40<br />

c) DOCETISMO......................................................................................................................40<br />

d) MONARQUIANISMO.......................................................................................................41<br />

1) Monarquianismo dinâmico...........................................................................................41<br />

2) Monarquianismo modalista............................................................................................ 41<br />

e) ARIANISMO .....................................................................................................................42<br />

12.2 O PERÍODO PÓS-NICENO (325-600 d.C.)................................................................. 42<br />

a) APOLINARIANISMO....................................................................................................... 42<br />

b) NESTORIANISMO.............................................................................................................43<br />

c) EUTIQUIANISMO..............................................................................................................43<br />

d) OS ELQUESAÍTAS.............................................................................................................43<br />

e) MONOFISISMO..................................................................................................................44<br />

f) MONOTELISMO................................................................................................................44<br />

BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................................45


MÓDULO 1 1DOUTRINA DE CRISTO<br />

INTRODUÇÃO<br />

i<br />

Des<strong>de</strong> seus primeiros passos na Terra, o homem reflete sobre Deus. Reflexão que aflige os céticos e os crentes,<br />

os indiferentes e os místicos. Destino e origem <strong>de</strong> todos os homens, afirmam uns, válvula <strong>de</strong> escape dos fracos<br />

e incultos, dizem alguns, instrumento <strong>de</strong> dominação, alegam outros. Invenção humana, ousam os ateus. Como<br />

vemos, mesmo para aqueles que não lhe atribuem nem mesmo existência, Deus é um gran<strong>de</strong> incômodo.<br />

O incômodo aumenta à medida que se tem conhecimento da Bíblia, a Palavra <strong>de</strong> Deus, o livro mais amado e<br />

0 mais odiado da história da humanida<strong>de</strong>. Por meio do registro <strong>de</strong> fatos históricos, <strong>de</strong> salmos, <strong>de</strong> parábolas, <strong>de</strong><br />

orações, <strong>de</strong> queixas, <strong>de</strong> suas páginas emana algo transcen<strong>de</strong>nte, inexplicável, mas muito real, palpável e prático.<br />

A Bíblia não é um livro antiquado, relicário <strong>de</strong> histórias morais e <strong>de</strong> narrativas <strong>de</strong> milagres, mas é um livro<br />

especial, pois revela Deus e seu interesse especial pelo homem.<br />

É exclusivamente nesse livro que encontramos uma pessoa ímpar: Jesus Cristo. Há os que não crêem nEle,<br />

há os que o consi<strong>de</strong>ram apenas um bom homem, um exemplo a ser seguido ou um Mestre. Existem muitos que<br />

o excluíram <strong>de</strong> suas vidas, chegando ao ponto <strong>de</strong> afirmarem que Ele jamais existiu (Salmos 14.1). Outros têm<br />

passado a vida inteira tentando anular e <strong>de</strong>sacreditar a influência bem como diminuir a importância <strong>de</strong> Jesus. Em<br />

tempos recentes os intelectuais da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> profetizaram: aposentaremos Deus num canto <strong>de</strong>snecessário do<br />

universo, con<strong>de</strong>naremos a divinda<strong>de</strong> ao ostracismo. Sartre falava do silêncio <strong>de</strong> Deus.1Jaspers falava da ausência<br />

divina. Buber gostava <strong>de</strong> mencionar 0 eclipse <strong>de</strong> Deus.2 Hamilton propôs a teologia da morte <strong>de</strong> Deus. No<br />

ensaio “Por que não sou cristão”, Bertrand Russel escreveu: “Historicamente é muito duvidoso que Cristo tenha<br />

sequer existido, e se existiu não sabemos nada a seu respeito”. Jamais houve um tempo em que ataques mais<br />

blasfemos tivessem sido feitos contra Jesus Cristo, o Messias. Cada fase <strong>de</strong> seu messiado está sendo <strong>de</strong>safiada:<br />

seu nascimento, sua vida, seus milagres, sua morte, sua ressurreição... tudo questionado.<br />

Entretanto, a Bíblia revela que Ele é muito mais do que isso: é um dom, um presente <strong>de</strong> Deus para o homem.<br />

Na verda<strong>de</strong>, tudo 0 que Deus sempre <strong>de</strong>sejou foi dar Cristo para o homem que criou. Quando o homem assim<br />

correspon<strong>de</strong> a esse anelo divino, vidas são transformadas, passam a <strong>de</strong>sfrutar da vida em seu sentido mais pleno,<br />

amplo, celestial e prático.<br />

Nosso objetivo neste módulo é apresentar as características inerentes a Cristo que as Escrituras atribuem a<br />

Ele tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, não apenas para termos mais conhecimento, mas para sermos<br />

<strong>de</strong>spertados a conhecer o Senhor Jesus Cristo <strong>de</strong> maneira viva, real e sempre nova.<br />

1Famoso ateu francSs do século XX (1905-1980), filho <strong>de</strong> cristãos nominais (mistura <strong>de</strong> católicos e protestantes). Estudou na Alemanha<br />

e ensinou filosofia na França. Apren<strong>de</strong>u 0 ateísmo com Friedrich Nietzsche (1844-1900). Como outros ateístas, Sartre acreditava que a<br />

existência <strong>de</strong> Deus era impossível porque, pela própria natureza. Deus é um ser autocausado. Antes <strong>de</strong> morrer voltou-se ao Deus que 0 criou<br />

afirmando: ”Não acredito que sou resultado do acaso, um grão <strong>de</strong> areia no universo, mas alguém que foi esperado, preparado, antecipado.<br />

Em resumo, um ser que apenas um Criador po<strong>de</strong>ria colocar aqui; e essa idéia da mão criadora refere-se a Deus” (SARTRE apud GEISLER,<br />

2002, p. 799).<br />

1 Existencialista ju<strong>de</strong>u (1878-1965), nasceu em Viena, Áustria, e estudou filosofia e arte nas universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Viena e Berlim.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

13


MÓDULO 11 DOUTRINA DE CRISTO<br />

DEFINIÇÃO DE TERMO<br />

נ<br />

Cristologia é a doutrina que estuda <strong>de</strong> modo racional e sistemático a pessoa <strong>de</strong> Jesus Cristo. E <strong>de</strong>rivada do<br />

termo grego “Ξριστός - Christos”, ungido, e “logia”, estudo, portanto estudo sobre Cristo. E nas Escrituras, fonte<br />

primária <strong>de</strong> todo conhecimento sobre Deus, que encontramos as informações sobre suas palavras e obras. Partindo<br />

<strong>de</strong>ssa premissa, Deus Filho se revelou, portanto po<strong>de</strong>mos conhecê-lo. Entretanto, nosso conhecimento <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo não é intuitivo, nem natural, mas comunicado por Ele mesmo através dos meios que soberanamente<br />

escolheu. Estudar “Cristologia”, portanto, não é inventar teorias a respeito <strong>de</strong> Cristo e <strong>de</strong> suas obras, nem mesmo<br />

“<strong>de</strong>scobrir” a Cristo, mas conhecer e compreen<strong>de</strong>r a revelação que Ele próprio <strong>de</strong>u <strong>de</strong> si. Por isso, qualquer<br />

estudo <strong>de</strong> Cristo que não tiver a sua revelação como base, meio e princípio regulador não é “Cristologia”,<br />

<strong>de</strong>vidamente entendida.<br />

A história dos seres humanos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua concepção, tem sido a história da preparação para a vinda <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo. O Antigo Testamento prediz essa vinda através <strong>de</strong> tipos, símbolos e profecias diretas. A preservação <strong>de</strong><br />

seu povo, Israel, é uma história <strong>de</strong> expectativa, <strong>de</strong> anseio e <strong>de</strong> preparação.<br />

Com brilho, E. H. Bancroft concluiu que “a pessoa <strong>de</strong> Jesus Cristo não somente está firmemente engastada<br />

na história humana e gravada nas páginas abertas das Escrituras Sagradas, mas também é experimentalmente<br />

materializada nas vidas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> crentes e entrelaçada no tecido <strong>de</strong> toda a civilização digna <strong>de</strong>sse<br />

nome”.3 O ensino <strong>de</strong> Jesus é comumente chamado <strong>de</strong> Boa Nova ou feliz anúncio. Ele mesmo o consi<strong>de</strong>rava<br />

assim: Besorah, em aramaico, que em grego foi traduzido por “ευαγγελίου —euaggelion”, isto é, boa notícia,<br />

informação alvissareira.<br />

Jesus não trouxe ao mundo uma nova doutrina filosófica, nem um projeto <strong>de</strong> reformas sociais, tampouco a<br />

consciência dos mistérios do além. Jesus transformou pela raiz a própria relação do homem com Deus, mostrando<br />

abertamente a todos a face <strong>de</strong> Deus, que antes mal podiam vislumbrar. A boa notícia <strong>de</strong> Jesus fala precisamente<br />

<strong>de</strong>sta vocação sublime do homem e da alegria oriunda da união com o Criador. Como disse certo escritor: “É uma<br />

bela tarefa estudar a respeito <strong>de</strong> Deus. A mente humana jamais po<strong>de</strong> ser empregada para qualquer assunto tão<br />

rico em recompensas quanto na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir 0 conhecimento <strong>de</strong> Deus. Sondar o caráter e a perfeição <strong>de</strong><br />

Deus é a ciência mais elevada, a filosofia mais profunda, a poesia mais altiva, a história mais sublime, a teologia<br />

mais verda<strong>de</strong>ira e a mais dramática biografia”.4<br />

Extrair em poucas páginas a riqueza inexaurível <strong>de</strong> Cristo é impossível. Limitar-nos-emos, portanto, a expor<br />

aqui apenas o essencial.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 1<br />

1 )0 que significa o termo Cristologia?<br />

2) Como o Antigo Testamento prediz a vinda <strong>de</strong> Cristo?<br />

3) O que significa a palavra evangelho?<br />

3 BANCROFT, E.H. <strong>Teologia</strong> elementar. São Paulo: Batista Regular, 1995. p. 97.<br />

4 WATSON apud PRATNEY, 2004, p. 11.<br />

14<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO ! I DOUTRINA DE CRISTO<br />

A HUMANIDADE DE CRISTO<br />

A humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus passou pelos diversos estágios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, como qualquer outro membro da<br />

raça humana. Da infância à ida<strong>de</strong> adulta houve crescimento constante, tanto em seu vigor físico como em suas<br />

faculda<strong>de</strong>s mentais. Não temos parâmetros para aferir até que ponto sua natureza impecável exerceu influência em<br />

seu crescimento. É claro, entretanto, pelas Escrituras, que seu crescimento e suas limitações estiveram sujeitos às<br />

leis ordinárias do <strong>de</strong>senvolvimento humano (Lucas 22.40; 24.39; João 11.33; Hebreus 2.14).<br />

Nos evangelhos temos o relato do seu nascimento, sua vida, seus milagres, sua morte, sua ressurreição, tudo<br />

registrado por seus discípulos, principalmente no evangelho <strong>de</strong> Lucas, cujo propósito é apresentar a humanida<strong>de</strong><br />

do Salvador, mostrando-o como um homem genuíno, normal e perfeito, que revelava Deus aos homens, com<br />

sua graça salvadora para a humanida<strong>de</strong> caída. “Em sua reverência pelo Cristo divino, às vezes os homens se<br />

esquecem do Cristo humano. Não se <strong>de</strong>ve salientar o esplendor da Sua divinda<strong>de</strong> a ponto <strong>de</strong> obscurecer a Sua<br />

verda<strong>de</strong>ira humanida<strong>de</strong>.”5 Foi o que fizeram os gnósticos e os docetas, <strong>de</strong> quem falaremos em outro capítulo.<br />

A Bíblia <strong>de</strong>clara que o Senhor Jesus veio ou foi manifestado na carne: “E 0 Verbo se fez carne e habitou<br />

entre nós, cheio <strong>de</strong> graça e <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1.14). Aqui<br />

precisamos ser muito cuidadosos. A Bíblia nos diz que Cristo se fez carne, mas apenas na semelhança da carne do<br />

pecado. Romanos 8.3 diz: “Porquanto 0 que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus<br />

enviando o seu próprio Filho em semelhança <strong>de</strong> carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, con<strong>de</strong>nou<br />

Deus, na carne, 0 pecado, a fim <strong>de</strong> que 0 preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas<br />

segundo 0 Espírito” (grifo nosso). Quando Cristo se fez carne, Ele não tomou sobre si a corrupção da carne, mas<br />

apenas sua semelhança. O termo “carne” <strong>de</strong>nota a natureza humana <strong>de</strong> Jesus. As Escrituras revelam claramente que<br />

Jesus possuía as características essenciais da natureza humana, isto é, um corpo material e uma alma racional.<br />

Sua humanida<strong>de</strong>, conforme registrada nas Escrituras, é algo <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> ter dúvidas. Ao nascer, Jesus<br />

Cristo sujeitou-se às condições da vida humana, bem como do corpo humano. Sua humanida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>monstrada:<br />

Nasceu <strong>de</strong> uma mulher: “Ora, o nascimento <strong>de</strong> Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, <strong>de</strong>sposada<br />

com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1.18). “Vindo,<br />

porém, a plenitu<strong>de</strong> do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido <strong>de</strong> mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que<br />

estavam sob a lei, a fim <strong>de</strong> que recebêssemos a adoção <strong>de</strong> filhos” (Gálatas 4.4-5, grifo nosso).<br />

Cresceu como uma pessoa normal: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante <strong>de</strong> Deus e dos<br />

homens” (Lucas 2.52).<br />

Sentiu sofrimento e dor: “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se<br />

tomou como gotas <strong>de</strong> sangue caindo sobre a terra” (Lucas 22.44).<br />

Sentiu cansaço: “Estava ali a fonte <strong>de</strong> Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta<br />

da hora sexta” (João 4.6).<br />

Teve fome: “E, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mateus 4.2).<br />

Teve se<strong>de</strong>: “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho<br />

se<strong>de</strong>!” (João 19.28).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

15


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

Tinha emoções: “Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor<br />

do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai,<br />

porque assim foi do teu agrado” (Lucas 10.21). Na morte <strong>de</strong> Lázaro “Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os<br />

ju<strong>de</strong>us que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se” (João 11.33).<br />

Possuía um corpo físico: “Porque os pobres, sempre os ten<strong>de</strong>s convosco, mas a mim nem sempre me ten<strong>de</strong>s;<br />

pois, <strong>de</strong>rramando este perfume sobre o meu corpo, ela 0 fez para o meu sepultamento” (Mateus 26.11-12).<br />

“Caindo a tar<strong>de</strong>, veio um homem rico <strong>de</strong> Arimatéia, chamado José, que era também discípulo <strong>de</strong> Jesus. Este foi<br />

ter com Pilatos e lhe pediu o corpo <strong>de</strong> Jesus. Então, Pilatos mandou que lho fosse entregue. E José, tomando<br />

o corpo, envolveu-o num pano limpo <strong>de</strong> linho e o <strong>de</strong>positou no seu túmulo novo, que fizera abrir na rocha; e,<br />

rolando uma gran<strong>de</strong> pedra para a entrada do sepulcro, se retirou” (Mateus 27.57-60).<br />

Possuía alma racional: “Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e<br />

vigiai comigo” (Mateus 26.38).<br />

Possuía espírito humano: “Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E,<br />

dito isto, expirou” (Lucas 23.46).<br />

Jesus se fez came e foi sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado. Ele foi revestido do corpo humano porque<br />

o pecado entrou por um homem e pela justiça <strong>de</strong> Deus tinha <strong>de</strong> ser vencido por um homem. A Bíblia diz que 0 pecado<br />

entrou no mundo por meio <strong>de</strong> Adão: “Portanto, assim como por um só homem entrou 0 pecado no mundo, e pelo pecado,<br />

a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram... Pois assim como, por uma só ofensa,<br />

veio 0 juízo sobre todos os homens para con<strong>de</strong>nação, assim também, por um só ato <strong>de</strong> justiça, veio a graça sobre todos<br />

os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> um só homem, muitos se tomaram<br />

pecadores, assim também, por meio da obediência <strong>de</strong> um só, muitos se tomarão justos” (Romanos 5.12, 18-19).<br />

Des<strong>de</strong> que o homem pecou era necessário que ele sofresse a punibilida<strong>de</strong>. A Bíblia mostra que todo gênero<br />

humano está con<strong>de</strong>nado; que o homem está perdido <strong>de</strong>baixo da maldição do pecado (Salmos 14.2-3; Romanos<br />

3.23). Era necessário que Cristo assumisse a natureza humana, não somente com todas as suas particularida<strong>de</strong>s<br />

indispensáveis, mas também com todas as fragilida<strong>de</strong>s a que está sujeita, <strong>de</strong>pois da Queda, e, assim, <strong>de</strong>via <strong>de</strong>scer<br />

às profun<strong>de</strong>zas da <strong>de</strong>gradação em que o homem tinha caído. As Escrituras são categóricas em afirmar que somente<br />

Deus po<strong>de</strong> salvar: “Eu, eu sou o SENHOR, e fora <strong>de</strong> mim não há salvador” (Isaías 43.11). Portanto, somente “um<br />

Mediador verda<strong>de</strong>iramente humano, assim, que tivesse conhecimento experimental das misérias da humanida<strong>de</strong><br />

e se mantivesse acima <strong>de</strong> todas as tentações, po<strong>de</strong>ria entrar empaticamente em todas as experiências, provações<br />

e tentações do homem, Hebreus 2.17, 18; 4.15-5.2 e ser um perfeito exemplo humano para os Seus seguidores,<br />

Mateus 11.29; Marcos 10.39; João 13.13-15; Filipenses 2.5-8; Hebreus 12.2-4; 1 Pedro 2.21”.6 Jesus, 0 verda<strong>de</strong>iro<br />

Deus e o homem perfeito, tomou-se “carne” para suprir a necessida<strong>de</strong> da humanida<strong>de</strong>. Quando assumiu a forma<br />

humana na Terra, Jesus não se apegou às prerrogativas da divinda<strong>de</strong> para vencer o diabo, mas aniquilou-se a si<br />

mesmo, “assumindo a forma <strong>de</strong> servo, tomando-se em semelhança <strong>de</strong> homens; e, reconhecido em figura humana, a<br />

si mesmo se humilhou, tomando-se obediente até à morte e morte <strong>de</strong> cruz” (Filipenses 2.7-8).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 2<br />

1) Qual é o propósito do evangelho <strong>de</strong> Lucas?<br />

2) O que <strong>de</strong>nota 0 termo “came” em Jesus?<br />

3) Como é <strong>de</strong>monstrada a natureza humana <strong>de</strong> Jesus?<br />

5 BERKHOF, Louis. <strong>Teologia</strong> sistemática. Campinas: Luz Para 0 Caminho, 1996. p. 318.<br />

‘ I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 318-319.<br />

16<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

A DIVINDADE DE CRISTO<br />

A maioria das pessoas afirma respeitar os ensinamentos da Bíblia. Muitas <strong>de</strong>las chegam a afirmar a inspiração<br />

divina das Sagradas Escrituras, entretanto alegam que os ensinos da Bíblia contêm apenas uma parcela da revelação<br />

<strong>de</strong> Deus, e que Ele tem falado, ou continua falando, <strong>de</strong> uma forma extrabíblica, à parte das Escrituras, não levando<br />

em consi<strong>de</strong>ração a admoestação do apóstolo João em Apocalipse, que diz: “Porque eu testifico a todo aquele que<br />

ouvir as palavras da profecia <strong>de</strong>ste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as<br />

pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro <strong>de</strong>sta profecia, Deus tirará a sua<br />

parte da árvore da vida e da Cida<strong>de</strong> Santa, que estão escritas neste livro” (Apocalipse 22.18-19).<br />

A Bíblia é a autorida<strong>de</strong> final na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> questões doutrinárias (2 Timóteo 3.16-17). A Palavra <strong>de</strong><br />

Deus não permite novos ensinamentos que possam alterar seu conteúdo ou fazer-lhe acréscimos. O apóstolo<br />

Paulo disse: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos<br />

anunciamos, seja anátema” (Gálatas 1.8). Ao consi<strong>de</strong>rar a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, a questão não resi<strong>de</strong> em “se é<br />

fácil crer nessa divinda<strong>de</strong>, ou mesmo compreendê-la”, mas se ela é ensinada na Palavra <strong>de</strong> Deus. Saber quem é<br />

Jesus Cristo é algo tão importante quanto o que Ele fez. Muitos acreditam que Ele esteve na Terra, fez muitos<br />

milagres e muitas outras coisas. A dificulda<strong>de</strong> para alguns é: quem é Cristo? Que tipo <strong>de</strong> pessoa Ele é?<br />

Sendo assim, <strong>de</strong>vemos permitir que Deus dê a última palavra a respeito <strong>de</strong> si mesmo, quer possamos ou não<br />

compreendê-la inteiramente. A Bíblia ensina que Jesus é Deus: “No princípio era o Verbo, e 0 Verbo estava com Deus,<br />

e 0 Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio <strong>de</strong>le, e sem ele nada do<br />

que foi feito se fez” (João 1.1-3; 20.28; Tito 2.13; 1 João 5.20). Jesus Cristo conferiu para si os nomes e títulos dados a<br />

Deus no Antigo Testamento e também permitiu que outros assim 0 chamassem. Quando Ele reivindicou esses títulos<br />

divinos, os principais dos ju<strong>de</strong>us ficaram tão irados que tentaram matá-lo por blasfêmia. Ele reivindicou para si o nome<br />

mais respeitado pelos ju<strong>de</strong>us, tido como tão sagrado que eles nem mesmo o pronunciavam: YHWH.<br />

Deus revelou pela primeira vez o significado <strong>de</strong>sse nome ao seu servo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver lhe perguntado por<br />

qual nome <strong>de</strong>veria chamá-lo: “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: assim dirás aos filhos <strong>de</strong><br />

Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êxodo 3.14). “EU SOU” não é a tradução <strong>de</strong> YHWH. Todavia, trata-se <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>rivado do verbo “ser”, do qual também <strong>de</strong>riva 0 nome divino Yahweh (YHWH) em Êxodo 3.14. Portanto, 0<br />

título “EU SOU O QUE SOU” indicado por Deus a Moisés é a expressão mais plena <strong>de</strong> seu ser eterno, abreviado<br />

no versículo 15 para 0 nome divino YHWH.<br />

A Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento hebraico, traduziu o primeiro uso da expressão “EU<br />

SOU” em Êxodo 3.14 por ‘ego eimi ’ no grego. Em várias ocasiões Jesus empregou o termo ‘ego eimi ’ referindose<br />

a si mesmo, na forma unicamente usada para Deus. Um exemplo claro é este: “Disseram-lhe, pois, os ju<strong>de</strong>us:<br />

Ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verda<strong>de</strong>, em verda<strong>de</strong> vos digo que antes que<br />

Abraão existisse, eu sou! (no grego: ‘ego eimi ’). Então, pegaram em pedras para atirar nele, mas Jesus se ocultou,<br />

e saiu do templo” (João 8.57-59). Jesus atribuiu esse título a si mesmo também em outras ocasiões. Neste mesmo<br />

capítulo Ele <strong>de</strong>clarou: ..eu vos disse que morreríeis nos vossos pecados... se não crer<strong>de</strong>s que eu sou (no grego:<br />

‘ego eim i’), morrereis nos vossos pecados” (João 8.24). Disse ainda: “Quando levantar<strong>de</strong>s o Filho do Homem,<br />

então, sabereis que eu sou (no grego: ‘ego eim i’) e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me<br />

ensinou” (João 8.28). Quando os guardas do templo, juntamente com os soldados romanos, foram prendê-lo na<br />

noite anterior à crucificação, Jesus perguntou-lhes: “A quem buscais? Respon<strong>de</strong>ram-lhe: A Jesus, o Nazareno.<br />

Então Jesus lhes disse: Sou eu (no grego: ‘ego eimi ’)... Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu (no grego: ‘ego eimi'),<br />

recuaram e caíram por terra” (João 18.4-6). Não resta dúvida quanto a quem os lí<strong>de</strong>res judaicos pensavam que<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

17


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

Jesus estava proclamando ser. Fica, portanto, bem claro que, na mente daqueles que ouviram essa afirmação,<br />

não havia qualquer incerteza <strong>de</strong> que Jesus tivesse dito perante eles que Ele era Deus. Essas afirmações foram<br />

consi<strong>de</strong>radas blasfêmias pelos lí<strong>de</strong>res religiosos e resultaram em sua crucificação “porque a si mesmo se fez<br />

Filho <strong>de</strong> Deus” (João 19.7). Os atributos divinos que são dados a Deus Pai também são encontrados em Jesus, o<br />

que evi<strong>de</strong>ncia sua divinda<strong>de</strong>, portanto o Filho é Deus como o Pai e o Espírito Santo (Mateus 28.19; 2 Coríntios<br />

13.13; Efésios 4:4-6, 1 João 5.7). Vejamos na tabela:<br />

• Atributos • Pai • Filho • Espírito Santo<br />

• Onipresença • Jeremias 23.24 • Efésios 1.20-23 • Salmos 139.7<br />

• Onipotência • Gênesis 17.1 • Apocalipse 1.8 • Romanos 15.19<br />

• Onisciência • Atos 15.18 ·João 21.17 • 1 Coríntios 2.10<br />

• Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar • Gênesis 1.1 • João 1.3 ·Jó 33.4<br />

• Eternida<strong>de</strong> • Romanos 16.26 ·Apocalipse 22.13 • Hebreus 9.14<br />

• Santida<strong>de</strong> • Apocalipse 4.8 ·Atos 3,14 • 1 João 2.20<br />

י<br />

Santificador • João 10.36 • Hebreus 2.11 • 1 Pedro 1.2 • Fonte <strong>de</strong> vida eterna • Romanos 6.23 • João 10.28 • Gálatas 6.8<br />

• Inspirador dos profetas • Hebreus 1.1 • 2 Coríntios 13.3 • Marcos 13.11<br />

• Deus • Êxodo 20.2 • João 20.28 • Atos 5.3-4<br />

Diante do exposto, o estudo da Pessoa <strong>de</strong> Cristo se reveste <strong>de</strong> congruência por causa da relação vital que Ele<br />

sustém com o cristianismo. Concluímos que durante esta vida po<strong>de</strong>mos e <strong>de</strong>vemos conhecer Deus até o ponto<br />

necessário para a salvação, confraternização, serviço e maturida<strong>de</strong>, mas na glória do céu passaremos a conhecêlo<br />

mais plenamente.7 Assim, pois, <strong>de</strong> forma bem real, o estudo da vida <strong>de</strong> Jesus Cristo e sua importância é, ao<br />

mesmo tempo, uma sondagem na significação da nossa existência e uma previsão <strong>de</strong> nosso <strong>de</strong>stino. Por certo<br />

todos nós <strong>de</strong>veríamos nos interessar nessa inquirição.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 3<br />

1) Ao consi<strong>de</strong>rar a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, a questão não resi<strong>de</strong> em quê?<br />

2) Qual é o nome mais respeitado pelos ju<strong>de</strong>us, tido como tão sagrado que eles nem mesmo o<br />

pronunciavam?<br />

3) A Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento hebraico, traduziu o primeiro uso da expressão “EU<br />

SOU” em Êxodo 3.14 por qual termo correspon<strong>de</strong>nte?<br />

4) Os atributos divinos que são dados a Deus Pai também 0 são encontrados em Jesus. Cite quatro <strong>de</strong>les.<br />

7FALCÃO, Márcio. M anual <strong>de</strong> teologia sistemática. São Paulo: 0 Arado, s.d.<br />

18<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 ! DOUTRINA DE CRISTO<br />

NOMES E NATUREZA DE CRISTO<br />

Estudos lexicais da Bíblia (ou estudo das palavras) têm um gran<strong>de</strong> valor; eles nos ajudam a ver como o<br />

Espírito Santo usou palavras gregas e hebraicas para expressar seus pensamentos para nós. Os nomes para os<br />

ju<strong>de</strong>us não são apenas um <strong>de</strong>signativo <strong>de</strong> pessoa ou coisa, mas trazem consigo alguma característica inerente<br />

ao seu possuidor. Portanto, os nomes atribuídos a Cristo retratam suas naturezas, em parte sua posição oficial<br />

e em parte a obra para a qual Ele veio ao mundo. Assim, a melhor forma <strong>de</strong> começar é olhando para o modo<br />

como os escritores sagrados usaram as palavras hebraicas e gregas para se referirem ao Messias que Deus<br />

havia prometido para a re<strong>de</strong>nção da humanida<strong>de</strong>, o Cristo anunciado pelos profetas e esperado pelo povo <strong>de</strong><br />

Israel para sua re<strong>de</strong>nção: o centro das Escrituras (Lucas 24.44-47), a alegria dos homens, o Desejado <strong>de</strong> todas<br />

as nações (Ageu 2.7), a nossa glória e esperança.<br />

4.1 O NOME JESUS<br />

O nome Jesus (Ihsou/j Iesous) é a forma grega do nome hebraico “Jehoshua” י ה ו ש ו ע)‏ - Yehoshu‘a), ou<br />

ainda <strong>de</strong> “Jeshua” י ש (171 - Yeshu ‘a), nome usado nos livros históricos pós-exílicos (Esdras 2.2).8 A Septuaginta<br />

traduziu ambas as formas, <strong>de</strong> modo uniforme, como Iesous. Segundo o Dicionário Internacional <strong>de</strong> <strong>Teologia</strong> do<br />

Novo Testamento, “é 0 nome mais antigo que se forma com o nome divino Javé, e significa ‘Javé é socorro’ ou<br />

‘Javé é salvação’”.9 Esse nome foi dado a dois conhecidos personagens do Antigo Testamento (tipos <strong>de</strong> Jesus).<br />

Um <strong>de</strong>les foi Josué, filho <strong>de</strong> Num, prefigurando Cristo como o gran<strong>de</strong> General que conduz seu povo em triunfo,<br />

e a Josué, filho <strong>de</strong> Jozadaque, tipificando Jesus como o sumo sacerdote carregando os pecados <strong>de</strong> seu povo.<br />

4.2 O NOME CRISTO<br />

O título “Cristo” (gr. Ξριστός - Christos) que aparece junto com o nome Jesus é 0 equivalente <strong>de</strong> “Messias”<br />

(hb. מ ש י ה - Mashiyach) do Antigo Testamento. Simboliza uma pessoa que foi cerimonialmente ungida para<br />

um cargo. Durante a Antiga Aliança, os reis e os sacerdotes eram ungidos (Êxodo 29.7; Levitico 4.3; Juizes 9.8;<br />

I Samuel 9.16; 10.1; 2 Samuel 19.10). No período da realeza, os monarcas eram conhecidos como “ungido <strong>de</strong><br />

Yahweh” - alusão ao rito da unção real (1 Samuel 24.10). Entretanto, este título não se reserva exclusivamente ao<br />

rei: todo homem <strong>de</strong> Deus encarregado <strong>de</strong> uma missão específica po<strong>de</strong> tê-lo. É assim que em Isaías 45.1 0 próprio<br />

Ciro é chamado <strong>de</strong> “Messias”, ungido.<br />

O óleo utilizado para a unção <strong>de</strong>sses oficiais simbolizava 0 Espírito Santo (Isaías 61.1; Zacarias 4.1-6), e a<br />

unção representava a transferência do Espírito para a pessoa consagrada. “O conceito <strong>de</strong> ‘Messias’ ou ‘ungido’<br />

inclui três importantes elementos: 1) a <strong>de</strong>signação para um ofício específico; 2) 0 estabelecimento <strong>de</strong> uma relação<br />

sagrada entre 0 ungido e Deus; e 3) a comunicação do Espírito <strong>de</strong> Deus ao que tomou posse do ofício.”10<br />

A concepção judaica da vinda (acham que ele ainda não veio) do Maschíach e da re<strong>de</strong>nção Messiânica é um dos<br />

princípios fundamentais da fé j udaica.11Os ju<strong>de</strong>us acreditam que 0 Maschíach será um ser humano, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte da<br />

família do rei Davi, dotado <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s únicas <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, erudição e pieda<strong>de</strong>, e trará a re<strong>de</strong>nção total e final para<br />

os ju<strong>de</strong>us e para toda a humanida<strong>de</strong>. Segundo consta em suas literaturas, “todo ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong>ve acreditar que Maschíach<br />

surgirá e restaurará o reino <strong>de</strong> David em seu estado e soberania originais, reconstruirá o Bet Hamicdash (Templo<br />

’ COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário internacional <strong>de</strong> teologia do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 1075.<br />

, I<strong>de</strong>m, p. 1075.<br />

10 OLIVEIRA, Raimundo <strong>de</strong>. As gran<strong>de</strong>s doutrinas da Bíblia. 9. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2006. p. 88.<br />

<strong>II</strong> MAIMÔNIDES, Moshe. Princípios da fé, Artigo 12.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

19


MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO<br />

Sagrado <strong>de</strong> Jerusalém), reunirá os dispersos <strong>de</strong> Israel, e em seus dias, todas as leis da Tora serão reinstituídas, como<br />

o tinham sido nos tempos antigos”.12 Quão triste é saber que não reconheceram o seu Messias! O próprio Cristo<br />

disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu<br />

reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos <strong>de</strong>baixo das asas, e vós não 0 quisestes!”.<br />

Os autores do Novo Testamento sabiam da importância <strong>de</strong>sse título, por isso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo adquiriram o hábito<br />

<strong>de</strong> associar 0 título “Cristo” ao nome <strong>de</strong> Jesus. Jesus Cristo significa Jesus - Messias.<br />

4.3 FILHO DO HOMEM<br />

A expressão “Filho do Homem” aparece mais freqüentemente nos três primeiros Evangelhos que em<br />

qualquer outro escrito cristão primitivo (aparece 69 vezes). Este título aparece nos sinópticos unicamente<br />

quando é Jesus quem fala. Assim, “a cristologia do Filho do Homem não é dos Sinópticos, ainda que esta<br />

expressão apareça mais freqüentemente que em qualquer outro escrito do Novo Testamento, já que ela<br />

ocorre não menos que 69 vezes”.13<br />

De acordo com os evangelhos sinópticos, este título messiânico é o único que Jesus aplicou a si mesmo, pois<br />

jamais <strong>de</strong>signou a si próprio como Messias. O nome é por certo expressivo à sua missão escatológica a ser realizada<br />

no futuro, como também relacionado à sua missão terrestre. Ao mesmo tempo em que Ele falava <strong>de</strong> seus sofrimentos<br />

e <strong>de</strong> sua morte, também <strong>de</strong>ixava evi<strong>de</strong>nte sua vinda futura entre as nuvens do céu em glória celeste. O título Filho<br />

do Homem, quando Jesus o aplica à sua missão terrena, expressa também sua humilhação. Ele disse que o “Filho<br />

do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.45) e<br />

“que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais<br />

sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> três dias, ressuscitasse” (Marcos 8.31).<br />

Enquanto os sinópticos expuseram a natureza humana do Filho do Homem, 0 evangelho <strong>de</strong> João, ao empregar<br />

a expressão “Filho do Homem”, como em 3.13: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que <strong>de</strong> lá <strong>de</strong>sceu, a<br />

saber, 0 Filho do Homem que está no céu”, <strong>de</strong>ixa transparecer 0 homem celestial preexistente e divino que <strong>de</strong>sce<br />

do céu, aparece sobre a Terra, incorpora-se à humanida<strong>de</strong> caída e volta ao céu em glória. João, ao utilizar esse<br />

título, quase sempre 0 faz para acentuar a majesta<strong>de</strong> do Filho do Homem e não para expor a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> inerente à<br />

sua humanida<strong>de</strong>. Em sua glorificação Jesus avoca para si esse título: “E chegada a hora <strong>de</strong> ser glorificado 0 Filho<br />

do Homem” (João 12.23 c.c. 13.31, grifo nosso). Em outro texto Jesus atribui a si a função jurídica do Filho do<br />

Homem: “Porque assim como 0 Pai tem vida em si mesmo, também conce<strong>de</strong>u ao Filho ter vida em si mesmo. E<br />

lhe <strong>de</strong>u autorida<strong>de</strong> para julgar, porque é o Filho do Homem” (João 5.26-27, grifo nosso).<br />

4.4 FILHO DE DEUS<br />

O nome “Filhos <strong>de</strong> Deus” era usado em Israel para os seres espirituais, como os anjos (Jó 1.6; 2.1; 38.7;<br />

Salmos 29.1; 89.6), mas às vezes também se referiam aos justos do povo <strong>de</strong> Deus (Gênesis 6.2; Salmos 73.15;<br />

Provérbios 14.26), ou aos monarcas ungidos no momento <strong>de</strong> subir ao trono, especialmente ao rei prometido da<br />

casa <strong>de</strong> Davi (2 Samuel 7.14; Salmos 89.27). Por isso, era habitual atribuir tal apelativo inclusive ao Messias.<br />

Ser Filho <strong>de</strong> Deus significa em Cristo ser homem-Deus. Indiscutivelmente, este título caracteriza <strong>de</strong> maneira<br />

particular e totalmente ímpar a relação entre o Pai e o Filho. Pelas suas palavras fica evi<strong>de</strong>nte que o seu<br />

relacionamento com 0 Pai era substancialmente diferente <strong>de</strong> qualquer outro. Com efeito, ele dizia: “Ninguém<br />

conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece ao Pai senão 0 filho”. Através do Messias, o mundo veio<br />

<strong>de</strong>scobrir que o ser supremo é “amor”, que ele é um pai para cada homem.<br />

11 SCHOCHET, Jacob Immanuel. Maschíach: 0 princípio <strong>de</strong> Maschíach e da era messiânica segundo a le i Judaica e sua<br />

tradifão. São Paulo: Maayanot, 1992. p. 17.<br />

19 CULLMAN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Líber, 2001. p. 238-239.<br />

20<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 ' DOUTRINA DE CRISTO<br />

4.5 SENHOR<br />

A Septuaginta traduziu o tetragrama hebraico Π1ΓΠ - YHWH e seu correspon<strong>de</strong>nte אדני“‏ - Adonay” pela<br />

palavra grega Kuriov (kyrios), que quer dizer “Senhor”, nome divino. O tetragrama era e continua sendo o nome<br />

impronunciável <strong>de</strong> Deus entre os ju<strong>de</strong>us. Não temos como precisar exatamente quando os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />

pronunciar o tetragrama, porém “a partir <strong>de</strong> certa época - certamente no século I a.C. e no século I d.C. - o<br />

substituíram na leitura litúrgicapor^úfcwa/”.14 Moisés, o legislador <strong>de</strong> Israel, havia advertido os israelitas quanto<br />

ao nome sagrado <strong>de</strong> Deus, dizendo: “Não tomarás o nome do SENHOR (YHWH), teu Deus, em vão, porque 0<br />

SENHOR (YHWH) não terá por inocente 0 que tomar o seu nome em vão”. O fato é que os ju<strong>de</strong>us conheciam<br />

bem a substituição do tetragrama em seus ofícios religiosos pelo correspon<strong>de</strong>nte em hebraico אדני“‏ - Adonay”.<br />

O nome Adonay e 0 tetragrama YHWH são tão sagrados para os ju<strong>de</strong>us que eles evitam pronunciá-los na rua, no<br />

seu cotidiano. O segundo nem mesmo nas sinagogas é pronunciado. Para o dia-a-dia eles usam ה ש□“‏ - h a :'shem”<br />

(que significa “O Nome”) para <strong>de</strong>signar a Deus. “A idéia básica do nome Adhonay é a da soberania <strong>de</strong> Deus, da<br />

suprema posição do Criador, em todo o Universo que criou.”15<br />

As Sagradas Escrituras não <strong>de</strong>ixam nenhuma dúvida <strong>de</strong> que Cristo é o Senhor. No Novo Testamento,<br />

Zacarias, o pai <strong>de</strong> João Batista, profetizou dizendo que seu filho seria “chamado profeta do Altíssimo, porque<br />

prece<strong>de</strong>rás o Senhor (Κ ύ ρ ιο ς ), preparando-lhe os caminhos...” (Lucas 1.76), uma clara referência a Jesus.<br />

Os anjos anunciaram o nascimento <strong>de</strong> Jesus aos pastores em Belém dizendo: “ ...hoje vos nasceu, na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Davi, 0 Salvador, que é Cristo, 0 Senhor (Κ ύ ρ ιο ς )” (Lucas 2.11). Houve muitos que chamaram Jesus <strong>de</strong><br />

Senhor (Κ ύ ρ ιο ς ):<br />

a) Seus discípulos: “E eis que sobreveio no mar uma gran<strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> sorte que 0 barco era varrido<br />

pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia. Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor, salva-nos!<br />

Perecemos!” (Mateus 8.24-25).<br />

b) Os apóstolos: “Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé” (Lucas 17.5).<br />

c) Paulo: “Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas<br />

levanta-te e entra na cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> te dirão o que te convém fazer” (Atos 9.5-6).<br />

d) Os que foram tocados por Jesus: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas<br />

aquele que faz a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7.21).<br />

e) Será chamado Senhor pelos não-crentes juntamente com os crentes no último dia: “Pelo que também Deus<br />

o exaltou sobremaneira e lhe <strong>de</strong>u 0 nome que está acima <strong>de</strong> todo nome, para que ao nome <strong>de</strong> Jesus se dobre<br />

todo joelho, nos céus, na terra e <strong>de</strong>baixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para<br />

glória <strong>de</strong> Deus Pai” (Filipenses 2.10-11).<br />

Cristo é verda<strong>de</strong>iramente 0 Senhor dos senhores (1 Timóteo 6.15; Apocalipse 17.14; 19.16). O próprio Deus<br />

o exaltou soberanamente e lhe <strong>de</strong>u um nome que é sobre todos os nomes (Filipenses 2.9), pois Cristo foi feito<br />

mais excelente do que os anjos (Hebreus 1.4), coroado <strong>de</strong> glória e <strong>de</strong> honra (Hebreus 2.9) e assentado à <strong>de</strong>stra da<br />

majesta<strong>de</strong> nas alturas (Hebreus 1.3).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 4<br />

1) O que retratam os nomes atribuídos a Cristo?<br />

2) O que significa o nome Jesus?<br />

3) O que simboliza 0 título “Cristo”?<br />

4) De acordo com os evangelhos sinópticos, qual é 0 título messiânico que Jesus aplicou a si mesmo?<br />

5) Para quem o termo “Filhos <strong>de</strong> Deus” era usado em Israel?<br />

6) A Septuaginta traduziu o tetragrama hebraico por qual correspon<strong>de</strong>nte grego?<br />

14 CUUMAN, Oscar. Op.cit., p. 263.<br />

15 SILVA, Esequias Soares da. Como respon<strong>de</strong>r às Testemunhas <strong>de</strong> Jeová. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1995. v. 1, p. 135.<br />

■ . ־-:‏ «. TEOLOGIA CURSO DE


MÓDULO 2 [ DOUTRINA DE CRISTO<br />

A VIDA, ENSINOS E OBRAS DE JESUS<br />

Notícias a respeito <strong>de</strong> Jesus e da sua mensagem começaram a se espalhar porque 0 que Ele dizia e fazia<br />

<strong>de</strong>ixava as pessoas perplexas. Elas simplesmente não conseguiam parar <strong>de</strong> falar sobre Ele. Depois que Jesus<br />

<strong>de</strong>ixou este mundo, seus seguidores saíram proclamando seus feitos nas ruas, cida<strong>de</strong>s e em qualquer lugar on<strong>de</strong><br />

as pessoas se reunissem. Com o passar do tempo, os primeiros seguidores do mestre da Galiléia começaram a<br />

escrever às comunida<strong>de</strong>s o que eles haviam visto e ouvido.<br />

Dos quatro Evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas são chamados “sinópticos” (i.é, adotam a mesma vista<br />

histórica).16 Os três oferecem uma vista “tridimensional” <strong>de</strong> Jesus Cristo, das suas ações e doutrinas. Marcos<br />

é o mais breve e direto, e tanto Mateus quanto Lucas contêm (nunca em linguagem exatamente idêntica, nem<br />

na mesma or<strong>de</strong>m) a maior parte <strong>de</strong>ssa história, mas cada um <strong>de</strong>les contribui com muitos relatos e ensinos para<br />

completar o quadro.<br />

A. Huck produziu uma Sinopse dos três primeiros Evangelhos com 0 texto grego e as anotações em alemão<br />

(Tübingen, Mohr, 1906), que segue a or<strong>de</strong>m histórica, on<strong>de</strong> passagens semelhantes entre os três são colocadas em<br />

colunas paralelas, e as <strong>de</strong>mais entre elas na sua <strong>de</strong>vida or<strong>de</strong>m. Tischendorf fez a Sinopsis Evangélica incluindo<br />

João, também no texto grego - com explicações em latim. Quatro colunas em paralelo aparecem, por exemplo,<br />

na Entrada Triunfal em Jerusalém, mas João usualmente tem blocos inteiros encaixados sozinhos, na or<strong>de</strong>m dos<br />

eventos.<br />

O interesse do texto grego se vê nisto: os sinópticos usam linguagem e vocabulário diferentes em textos<br />

paralelos, mas as línguas mo<strong>de</strong>rnas não refletem essas diferenças. De qualquer forma, João se diferencia por<br />

conter muitos discursos <strong>de</strong> Jesus que revelam a sua pessoa, especialmente em particular com seus discípulos e,<br />

mais adiante, receberá tratamento separado, inclusive no item “Jesus era o Filho <strong>de</strong> Deus?”.<br />

Em português possuímos a tabela <strong>de</strong> referências que nos indica como fazer uma “Harmonia dos Quatro<br />

Evangelhos” no Manual bíblico <strong>de</strong> Halley, e o livro Harmonia dos Evangelhos, <strong>de</strong> Robert Thomas e Stanley<br />

Gundry. No entanto, na maioria das nossas Bíblias, todo e qualquer texto <strong>de</strong> um Evangelho Sinóptico é<br />

acompanhado por uma referência a outro (ou dois) que contém um item semelhante. Na apostila “Síntese do<br />

Novo Testamento”, neste Módulo 2, temos breves análises dos Evangelhos, suficientes para orientar o leitor<br />

numa base histórica dos atos e palavras <strong>de</strong> Jesus.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 5<br />

1) Quais foram os primeiros livros a tratar da vida, ensinos e obras <strong>de</strong> Jesus entre os fiéis?<br />

2) Por que os Evangelhos <strong>de</strong> Mateus, Marcos e Lucas são chamados <strong>de</strong> sinópticos?<br />

16 Veja Panorama do Novo Testamento: Evangelhos Sinópticos.<br />

22<br />

CURSO DE TEOLOGIA


M ÓD U 10 ϊ JOUTR1NA DE CRISTO<br />

A DIVINDADE DE CRISTO NOS EVANGELHOS<br />

Jesus, com o título “Filho <strong>de</strong> Deus” e “Filho do Homem”, estava afirmando a sua divinda<strong>de</strong>, e muitos dos seus<br />

atributos são exclusivamente privativos do próprio Deus. Os próprios ju<strong>de</strong>us que o ouviam entendiam isso muito<br />

bem: “Por isso, os ju<strong>de</strong>us ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também<br />

dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (João 5.18).<br />

Quando Jesus disse: “Eu e o Pai somos um”, a reação dos ju<strong>de</strong>us foi: “Não é por boa obra que te apedrejamos,<br />

e, sim, por causa da blasfêmia, pois sendo tu homem, te fazes Deus a si mesmo” (João 10.30-33). Quando Jesus<br />

curou um paralítico, dizendo: “Filho, os teus pecados estão perdoados”, os escribas ju<strong>de</strong>us disseram: “Está<br />

blasfemando! Quem po<strong>de</strong> perdoar pecados, a não ser somente Deus?”. Jesus confirmou ter autorida<strong>de</strong> para<br />

perdoar pecados (Marcos 2.7-11). Quando foi interrogado diante do Sinédrio (Suprema Corte Judaica), o sumo<br />

sacerdote lhe perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?”. Jesus respon<strong>de</strong>u: “Sou, e vereis o Filho do<br />

homem assentado à direita do Po<strong>de</strong>roso vindo com as nuvens do céu” (Marcos 14.61-64 - NVI).<br />

Tão íntima era sua relação com Deus que Jesus <strong>de</strong>clarou que conhecê-lo era conhecer o Pai (João 8.19;<br />

14.17); vê-lo era ver o Pai (João 12.45; 14.9); crer nele era crer no Pai (João 12.44; 14.1); recebê-lo era receber<br />

o Pai (Marcos 9.37); odiá-lo era odiar 0 Pai (João 15.23); honrá-lo era honrar 0 Pai (João 5.23).<br />

Cristo revelou um po<strong>de</strong>r sobre as forças da natureza que só Deus, autor <strong>de</strong>ssas forças, po<strong>de</strong>ria possuir.<br />

Acalmou uma furiosa tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vento e vagalhões no mar da Galiléia. E ao fazê-lo, arrancou dos que<br />

estavam no barco a pergunta cheia <strong>de</strong> reverência: “Quem é este que até 0 vento e 0 mar lhe obe<strong>de</strong>cem?” (Marcos<br />

4.41). Transformou a água em vinho (João 2.1-11), alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes<br />

(Mateus 14.21), <strong>de</strong>volveu a uma viúva aflita seu único filho levantando-o <strong>de</strong>ntre os mortos (Lucas 7.12) e trouxe<br />

à vida a filha morta <strong>de</strong> um pai esmagado pela dor (Marcos 5.35). A um antigo amigo morto e sepultado, Jesus<br />

disse: “Lázaro, vem para fora!” e <strong>de</strong> forma dramática o levantou <strong>de</strong>ntre os mortos. Seus inimigos não podiam<br />

negar esse milagre e procuravam matá-lo para evitar que todos cressem nEle (João 11.48).<br />

Jesus <strong>de</strong>monstrou possuir 0 po<strong>de</strong>r do Criador sobre as enfermida<strong>de</strong>s e a doença. Ele fez os coxos andarem,<br />

os mudos falarem e os cegos verem - inclusive um caso <strong>de</strong> cegueira congênita em João 9. O homem curado,<br />

submetido a interrogatório sobre a cura que recebera <strong>de</strong> Jesus, reafirmava: “Eu era cego, e agora vejo,” e<br />

confirmou: “Des<strong>de</strong> que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego <strong>de</strong> nascença. Se<br />

este homem não fosse <strong>de</strong> Deus, nada po<strong>de</strong>ria ter feito” (João 9. 32-33).<br />

A suprema cre<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> Jesus para autenticar a sua divinda<strong>de</strong> foi a sua ressurreição <strong>de</strong>ntre os mortos. Conforme<br />

profetizara aos seus discípulos, foi morto, e em três dias ressuscitou e apareceu <strong>de</strong> novo diante <strong>de</strong>les. Os quatro<br />

Evangelhos narram com pormenores a história (Mateus 26.47; Marcos 14.43; Lucas 22.47-53; João 18.2).<br />

O Novo Testamento e a fé cristã só fazem sentido se reconhecermos a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo. Todos os grupos<br />

e seitas que alegam ser cristãos, mas negam a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, são classificados como hereges. Um Jesus<br />

Cristo que não fosse totalmente divino, totalmente Deus, não seria suficiente para outorgar a vida eterna, não<br />

seria o Messias prometido por Deus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros capítulos do Gênesis.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 6<br />

1) Quando Jesus disse: “Eu e o Pai somos um”, qual foi a reação dos ju<strong>de</strong>us?<br />

2) Tão íntima era a relação <strong>de</strong> Jesus com Deus que ele <strong>de</strong>clarou o quê?<br />

3) Qual foi a suprema cre<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> Jesus para autenticar a sua divinda<strong>de</strong>?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

23


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

JESUS EM ATOS DOS APOSTOLOS<br />

Agora garimparemos 0 livro <strong>de</strong> Atos em busca <strong>de</strong> pepitas espirituais preciosas. A importância especial <strong>de</strong> Atos<br />

na Cristologia é que o mesmo Lucas que escreveu seu Evangelho também escreveu Atos como a sua continuação;<br />

seria como um Quinto Evangelho, ou 0 Evangelho <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong>monstrado e pregado pelos seus seguidores (Atos<br />

1.1-11 - texto este que reafirma a vida, morte, ressurreição e ascensão <strong>de</strong> Jesus Cristo). Aqui, também, Jesus Cristo<br />

reafirma a promessa da vinda do Espírito Santo sobre seus seguidores (cf. João 14.15-27; 16.5-16).<br />

O cumprimento <strong>de</strong>ssa promessa (Atos 2.1-13) revestiu <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r os apóstolos, e Pedro pregou, com po<strong>de</strong>r,<br />

um resumo do Evangelho, enxergado à luz da Ascensão e da vinda do Espírito Santo: “Jesus, o Nazareno, varão<br />

aprovado por Deus diante <strong>de</strong> vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio<br />

<strong>de</strong>le entre vós, como vós mesmos sabeis; sendo este entregue pelo <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong>sígnio e presciência <strong>de</strong> Deus,<br />

vós 0 matastes, crucificando-o por mãos <strong>de</strong> iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da<br />

morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela” (Atos 2.22-24).<br />

Trata-se <strong>de</strong> um resumo do conteúdo dos Evangelhos, com a conclusão pós-pentecostal: “Portanto, que todo 0<br />

Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (v. 36), e a aplicação:<br />

“Arrependam-se, e cada um <strong>de</strong> vocês seja batizado em nome <strong>de</strong> Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e<br />

receberão 0 dom do Espírito Santo” (v. 38). Esses versículos <strong>de</strong>notam a pregação do Evangelho - as boas novas<br />

da salvação mediante a obra completa <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />

No capítulo 3, após uma cura em público em nome <strong>de</strong> Jesus Cristo, Pedro disse diante do povo: “Vós, porém,<br />

negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos conce<strong>de</strong>ssem um homicida. Dessarte, matastes o Autor da vida,<br />

a quem Deus ressuscitou <strong>de</strong>ntre os mortos, do que nós somos testemunhas” (v. 14-16). E <strong>de</strong>pois, o convite:<br />

“Arrepen<strong>de</strong>i-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim <strong>de</strong> que, da presença do<br />

Senhor, venham tempos <strong>de</strong> refrigério, e que envie ele 0 Cristo, que já vos foi <strong>de</strong>signado, Jesus...” (v. 19-20).<br />

Em Atos capítulo 4, interrogados diante do Sinédrio, os apóstolos explicaram: “...tomai conhecimento, vós<br />

todos e todo 0 povo <strong>de</strong> Israel, <strong>de</strong> que, em nome <strong>de</strong> Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem<br />

Deus ressuscitou <strong>de</strong>ntre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós” (v. 10). A conclusão: “E<br />

não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens,<br />

pelo qual importa que sejamos salvos” (v. 12). Já temos aqui a “Pregação Apostólica da Cruz”, a “Crucialida<strong>de</strong><br />

da Cruz” (títulos <strong>de</strong> livros existentes em inglês). E um gran<strong>de</strong> tema adotado pelo apóstolo Paulo: “Porque <strong>de</strong>cidi<br />

nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Coríntios 2.2).<br />

No capítulo 7, Estevão fez sua <strong>de</strong>fesa, ou apologia <strong>de</strong> Jesus Cristo, diante do Sinédrio, <strong>de</strong>monstrando que a<br />

totalida<strong>de</strong> da história <strong>de</strong> Israel e das Escrituras do Antigo Testamento tinha o Salvador como seu alvo, propósito<br />

e cumprimento. Foi apedrejado até a morte por isso, estando presente Saulo, que posteriormente passou a ser o<br />

apóstolo Paulo. O ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> Paulo, nas suas viagens missionárias, era pregar <strong>de</strong>ssa mesma maneira nas<br />

sinagogas judaicas, em Chipre (13.5), em Antioquia da Psídia (13.13-51), em Icônio (14.1-7), em Tessalônica<br />

(17.1-5), em Beréia (17.10-15), em Atenas (17.17), em Corinto (18.1-8), em Éfeso (19.8-9).<br />

No capítulo 8, 0 evangelista Filipe explica para o tesoureiro da rainha da Etiópia 0 significado <strong>de</strong> Isaías 53.7-8<br />

e 0 leva a Cristo. Quando o eunuco (usado como título <strong>de</strong> oficial com livre acesso aos aposentos reais) perguntou:<br />

“Eis aqui água; que impe<strong>de</strong> que seja eu batizado?”, Filipe respon<strong>de</strong>u: “É lícito, se crês <strong>de</strong> todo o coração”. E o<br />

eunuco disse: “Creio que Jesus Cristo é o Filho <strong>de</strong> Deus” (8.26-40). Esta po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada a primeira (e mais<br />

breve!) Confissão <strong>de</strong> Fé que as igrejas exigem para alguém ser recebido como cristão.<br />

Em Atos 9.1-19 Paulo recebeu uma visão <strong>de</strong> Jesus Cristo, que o encaminhou a quem 0 instruísse na fé,<br />

m<br />

CURSO DE TEOLOGIA


M Ó Du í )UTRINA DE CRISTO<br />

impusesse-lhe as mãos para curar a cegueira provocada pela forte visão e lhe transmitisse a plenitu<strong>de</strong> do Espírito<br />

Santo - e assim Paulo foi batizado (v. 18). Em seguida, Paulo passou a ser evangelista e apologista <strong>de</strong> Jesus entre<br />

os ju<strong>de</strong>us (v. 20-22).<br />

No capítulo 10, como resultado <strong>de</strong> visões recebidas pelo centurião romano, e também ao apóstolo Pedro,<br />

houve em território ju<strong>de</strong>u um encontro entre um ju<strong>de</strong>u cristão e uma autorida<strong>de</strong> romana (gentia). Quando os<br />

gentios que aceitaram a pregação <strong>de</strong> Pedro receberam 0 Espírito Santo como no dia <strong>de</strong> Pentecostes (10.44-<br />

46), foi-lhes concedido o batismo como membros plenários da Igreja - e a conclusão, num concilio em<br />

Jerusalém, foi: “Então, Deus conce<strong>de</strong>u arrependimento para a vida até mesmo aos gentios!” (Atos 11.18)<br />

- com confirmação no concilio do capítulo 15. E isto <strong>de</strong>u ímpeto para a evangelização dos gentios (13.1-3<br />

é o ponto <strong>de</strong> partida).<br />

Nas viagens missionárias, Paulo <strong>de</strong>u aos ju<strong>de</strong>us, nas sinagogas, a primeira oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitarem a<br />

Cristo. Como os ju<strong>de</strong>us repudiaram a pregação bíblica a respeito do Messias <strong>de</strong> Israel, Paulo passou a oferta<br />

aos gentios. Assim foi em Antioquia da Psídia, on<strong>de</strong> Paulo teve <strong>de</strong> concluir: “Cumpria que a vós outros,<br />

em primeiro lugar, fosse pregada a Palavra <strong>de</strong> Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais<br />

indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios” (13.46). E o resultado foi imediato: “Os<br />

gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam<br />

sido <strong>de</strong>stinados para a vida eterna” (v. 48).<br />

Em Atos capítulo 16 Paulo e Silas pregaram na colônia romana <strong>de</strong> Filipos, foram encarcerados por isso,<br />

e 0 bom testemunho <strong>de</strong>les em meio às torturas e um terremoto levaram à conversão do carcereiro, que<br />

perguntou: “Senhores, que <strong>de</strong>vo fazer para que seja salvo? Respon<strong>de</strong>ram-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás<br />

salvo, tu e tua casa” (16.30-31). Após a pregação da Palavra <strong>de</strong> Deus, houve batismo daqueles que creram<br />

em Deus (16.32-34).<br />

Em Beréia, os membros da sinagoga foram elogiados porque “examinaram todos os dias as Escrituras,<br />

para ver se tudo era assim mesmo” (Atos 17.11). O padrão é crer no Senhor Jesus da mesma forma que<br />

se crê em Deus, e isso em total consonância com as Escrituras, a Palavra <strong>de</strong> Deus. Em Atenas, Paulo<br />

anunciou Jesus na praça <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> intelectual, tendo como ponto <strong>de</strong> partida um altar “ao Deus<br />

Desconhecido” e alusões aos pensadores gregos. O Deus que fez o mundo, disse, agora (i.é, com a vinda <strong>de</strong><br />

Cristo) or<strong>de</strong>na que todos, em todo lugar, se arrependam (17.24-31).<br />

Em Atos capítulo 20 Paulo, encerrando sua terceira viagem missionária, ao <strong>de</strong>spedir-se dos presbíteros<br />

em Éfeso, fez este resumo da sua obra em Cristo (passado e futuro): “ ...servindo ao Senhor com toda a<br />

humilda<strong>de</strong>, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos ju<strong>de</strong>us, me sobrevieram, jamais <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> vos<br />

anunciar coisa alguma proveitosa e <strong>de</strong> vo-la ensinar publicamente e também <strong>de</strong> casa em casa, testificando<br />

tanto a ju<strong>de</strong>us como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. E,<br />

agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que<br />

o Espírito Santo, <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> em cida<strong>de</strong>, me assegura que me esperam ca<strong>de</strong>ias e tribulações. Porém em nada<br />

consi<strong>de</strong>ro a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que<br />

recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça <strong>de</strong> Deus” (v. 19-24).<br />

Jesus Cristo recebe total <strong>de</strong>dicação dos seus convertidos, e estes recebem a ajuda do Espírito Santo<br />

para testemunhar do evangelho da graça <strong>de</strong> Deus. Este trecho prenuncia a obra missionária <strong>de</strong> Paulo como<br />

encarcerado por causa da sua fé em Cristo, tanto nas suas apologias <strong>de</strong> Cristo diante <strong>de</strong> várias autorida<strong>de</strong>s<br />

quanto nas Epístolas que continuava escrevendo na ca<strong>de</strong>ia (Filipenses, Efésios, Colossenses, Filemom, 1 e<br />

2 Timóteo, Tito). i<br />

No capítulo 22, Paulo, preso por causa <strong>de</strong> um tumulto provocado pelos ju<strong>de</strong>us contra ele no templo,<br />

recebeu do oficial romano licença para fazer sua <strong>de</strong>fesa. Ressaltou seus sólidos fundamentos judaicos,<br />

<strong>de</strong>u testemunho da sua conversão a Jesus, mas não queriam escutar mais nada <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ele <strong>de</strong>clarar que<br />

Jesus o mandou evangelizar os gentios. Diante do governador Félix e do rei Agripa, Paulo confirmou que<br />

toda a sua pregação <strong>de</strong> Cristo estava <strong>de</strong>ntro daquilo que as Escrituras do Antigo Testamento profetizavam,<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

prenunciavam e ensinavam: “...acreditando em todas as coisas que estejam <strong>de</strong> acordo com a lei e nos<br />

escritos dos profetas...” (24.14), e “ ...nada dizendo, senão o que os profetas e Moisés disseram haver <strong>de</strong><br />

acontecer, isto é, que o Cristo <strong>de</strong>via pa<strong>de</strong>cer e, sendo 0 primeiro da ressurreição dos mortos, anunciaria a<br />

luz ao povo e aos gentios” (26.22-23).<br />

Depois da pregação histórica da doutrina <strong>de</strong> Jesus Cristo em Atos dos Apóstolos, fundamentada nos<br />

Evangelhos, e em plena consonância com 0 conteúdo das Escrituras do Antigo Testamento, passamos para a<br />

continuação e aplicação <strong>de</strong>ssa mesma doutrina nas Epístolas.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 7<br />

1) Qual a importância especial <strong>de</strong> Atos na Cristologia?<br />

2) Em Beréia, por que os membros da sinagoga foram elogiados?<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

A DOUTRINA DE JESUS<br />

CRISTO NAS EPÍSTOLAS<br />

As Epístolas têm como tema central a pessoa e a obra <strong>de</strong> Jesus Cristo, conforme são reveladas nos Evangelhos,<br />

confirmadas para os fiéis pelo Espírito Santo e pregadas por eles, historicamente, em Atos dos Apóstolos. Tudo<br />

isso é tomado por certo, como fundamento, pelos autores das Epístolas, sendo que estas foram escritas às pessoas<br />

e às igrejas - as comunida<strong>de</strong>s daqueles que já <strong>de</strong> antemão tinham crido em Cristo como Salvador e sido batizados,<br />

conforme vimos no capítulo sobre Atos dos Apóstolos.<br />

Repassando a narrativa cronológica da vida <strong>de</strong> Jesus Cristo nos Evangelhos, po<strong>de</strong>mos ver repetidas alusões<br />

a ela nas Epístolas:<br />

Jesus nasceu como ju<strong>de</strong>u: “ ...vindo, porém, a plenitu<strong>de</strong> do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido <strong>de</strong><br />

mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim <strong>de</strong> que recebêssemos a adoção <strong>de</strong><br />

filhos” (Gálatas 4.4-5).<br />

Jesus é <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Davi: “...com respeito a seu Filho, 0 qual, segundo a carne, veio da <strong>de</strong>scendência <strong>de</strong><br />

Davi e foi <strong>de</strong>signado Filho <strong>de</strong> Deus com po<strong>de</strong>r, segundo 0 espírito <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> pela ressurreição dos mortos, a<br />

saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Romanos 1.3-4).<br />

As qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jesus: manso - “...pela mansidão e beniginida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo” (2 Coríntios 10.1); sem<br />

pecado - “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça <strong>de</strong><br />

Deus” (2 Coríntios 5.21); humil<strong>de</strong> - “Ten<strong>de</strong> em vós 0 mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,<br />

pois ele, subsistindo em forma <strong>de</strong> Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se<br />

esvaziou, assumindo a forma <strong>de</strong> servo, tomando-se em semelhança <strong>de</strong> homens; e, reconhecido em figura humana,<br />

a si mesmo se humilhou, tomando-se obediente até à morte e morte <strong>de</strong> cruz” (Filipenses 2.5-8).<br />

Nestas primeiras citações já vemos que os fatos históricos singelos passam a ser, <strong>de</strong>pois da Ressurreição,<br />

da Ascensão e do <strong>de</strong>rramamento do Espírito Santo, esclarecidos como Cristologia, Soteriologia (a Doutrina da<br />

Salvação), Eclesiologia (a Doutrina da Igreja), além <strong>de</strong> ser aplicados à vida <strong>de</strong>vocional e ao andar na fé. E assim<br />

que as Epístolas fazem a cada passo. Continuemos a nossa lista:<br />

Jesus foi tentado: “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é po<strong>de</strong>roso para socorrer os<br />

que são tentados” (Hebreus 2.18). “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compa<strong>de</strong>cer-se das nossas<br />

fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Fíebreus 4.15).<br />

Jesus foi transfigurado: “...pois ele recebeu, da parte <strong>de</strong> Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa<br />

lhe foi enviada a seguinte voz: Este é 0 meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu,<br />

nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo” (2 Pedro 1.17-18).<br />

Jesus foi traído: “Porque eu recebi do Senhor 0 que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em<br />

que foi traído, tomou o pão” (1 Coríntios 11.23-24).<br />

Jesus foi crucificado: “...mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os ju<strong>de</strong>us, loucura<br />

para os gentios...” (! Coríntios 1.23).<br />

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MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO<br />

Jesus ressuscitou: “Cada um, porém, por sua própria or<strong>de</strong>m: Cristo, as primicias; <strong>de</strong>pois, os que são <strong>de</strong><br />

Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver <strong>de</strong>struído<br />

todo principado, bem como toda potesta<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os<br />

inimigos <strong>de</strong>baixo dos pés” (1 Coríntios 15.23-25).<br />

Jesus subiu aos céus: “Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e conce<strong>de</strong>u dons aos<br />

homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia <strong>de</strong>scido às regiões inferiores da terra? Aquele que<br />

<strong>de</strong>sceu é também o mesmo que subiu acima <strong>de</strong> todos os céus, para encher todas as coisas” (Efésios 4.8-10).<br />

Jesus instituiu a Ceia do Senhor: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor<br />

Jesus, na noite em que foi traído, tomou 0 pão; e, tendo dado graças, 0 partiu e disse: Isto é o meu corpo, que<br />

é dado por vós; fazei isto em memória <strong>de</strong> mim. Por semelhante modo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver ceado, tomou também<br />

0 cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beber<strong>de</strong>s, em<br />

memória <strong>de</strong> mim. Porque, todas as vezes que comer<strong>de</strong>s este pão e beber<strong>de</strong>s o cálice, anunciais a morte do Senhor,<br />

até que ele venha” (1 Coríntios 11.23-26).<br />

Po<strong>de</strong>mos continuar percebendo, nesses textos (e em muitíssimos outros), que os fatos históricos <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo passam a ser Doutrina, Cristologia, o conteúdo da fé cristã.<br />

MAIS DOUTRINAS DE CRISTO NAS EPÍSTOLAS<br />

O que também fica claro nas Epístolas (em acréscimo ao título “Filho <strong>de</strong> Deus” nos Evangelhos) é a divinda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Jesus Cristo, nos seus vários aspectos:<br />

A Jesus são dirigidas orações como a Deus: “...à igreja <strong>de</strong> Deus que está em Corinto, aos santificados em<br />

Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome <strong>de</strong> nosso Senhor Jesus<br />

Cristo, Senhor <strong>de</strong>les e nosso...” (1 Coríntios 1.2).<br />

Jesus é colocado em igualda<strong>de</strong> com Deus Pai nas saudações <strong>de</strong> algumas Epístolas: “ .. .graça a vós outros<br />

e paz, da parte <strong>de</strong> Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 1.3).<br />

Jesus é Deus revelado a nós: “...nos quais o <strong>de</strong>us <strong>de</strong>ste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que<br />

lhes não resplan<strong>de</strong>ça a luz do evangelho da glória <strong>de</strong> Cristo, o qual é a imagem <strong>de</strong> Deus... Porque Deus, que disse:<br />

Das trevas resplan<strong>de</strong>cerá a luz, ele mesmo resplan<strong>de</strong>ceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da<br />

glória <strong>de</strong> Deus, na face <strong>de</strong> Cristo” (2 Coríntios 4.4,6). “Este [Jesus] é a imagem do Deus invisível, o primogênito <strong>de</strong><br />

toda a criação” (Colossenses 1.15). Devemos enten<strong>de</strong>r a palavra ‘imagem’ como ‘expressão exata’, ‘manifestação<br />

perfeita’, e subenten<strong>de</strong>r ‘primogênito do Pai, <strong>de</strong> quem surgiu toda a criação’. “Ele, que é o resplendor da glória e a<br />

expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu po<strong>de</strong>r...” (Hebreus 1.3).<br />

Jesus Cristo é referido muitas vezes como ‘Senhor’ nas Epístolas: No Antigo Testamento, SENHOR<br />

é tradução do tetragrama YHWH (erroneamente transcrito como “Jeová”), que é Deus Pai Onipotente. As<br />

Testemunhas <strong>de</strong> Jeová, que negam a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, querem que “Senhor” no Novo Testamento seja Deus<br />

Pai, mas os crentes enten<strong>de</strong>m que é título <strong>de</strong> Cristo, com sua plena divinda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro da doutrina da Trinda<strong>de</strong>. Em<br />

1 Coríntios 7.10, 12, 25, “Senhor” é alusão histórica a Jesus Cristo e seus ensinos (no contexto do casamento); no<br />

v. 17,0 Senhor (Jesus Cristo) é equiparado a Deus Pai, e no v. 20 a palavra “Senhor” é claramente o próprio Jesus<br />

Cristo. Temos a mesma <strong>de</strong>finição em Efésios 6.5-7. “O Senhor Jesus” (2 Tessalonicenses 1.7) é um conceito<br />

ensinado pelo Espírito Santo àqueles que se convertem, conforme temos em 1 Coríntios 12.3: “...ninguém po<strong>de</strong><br />

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CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo”. Como cristãos, enten<strong>de</strong>mos a palavra “Senhor,” dirigida tão<br />

freqüentemente a Jesus Cristo, no seu pleno significado divino.<br />

Jesus Cristo confessado como Deus: “...não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo<br />

<strong>de</strong> que ele é po<strong>de</strong>roso para guardar 0 meu <strong>de</strong>pósito até aquele Dia” (2 Timóteo 1.12). “Gran<strong>de</strong> é 0 mistério<br />

da pieda<strong>de</strong>: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado<br />

entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (1 Timóteo 3.16). “...aguardando a bendita esperança e a<br />

manifestação da glória do nosso gran<strong>de</strong> Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13). Pedro escreveu: “...aos que<br />

conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, graça e paz vos<br />

sejam multiplicadas, no pleno conhecimento <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> Jesus, nosso Senhor” (2 Pedro 1.1-2).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 8<br />

1) Qual é 0 tema central das Epístolas?<br />

2) Repassando a narrativa cronológica da vida <strong>de</strong> Jesus Cristo nos Evangelhos, po<strong>de</strong>mos ver repetidas alusões<br />

a ela nas Epístolas. Cite três exemplos.<br />

3) O que também fica claro nas Epístolas em acréscimo ao título “Filho <strong>de</strong> Deus” nos Evangelhos?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

A DOUTRINA DE JESUS CRISTO<br />

NO APOCALIPSE<br />

O livro inicia dizendo que é uma “revelação <strong>de</strong> Jesus Cristo” (Apocalipse 1.1). Jesus Cristo é a pessoa e 0 tema<br />

central do livro. Ele é apresentado como 0 Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Deus que cumpriu as profecias do Antigo Testamento. Ele<br />

notificou ao seu servo João as coisas que em breve <strong>de</strong>vem acontecer e disse a ele: “Escreve, pois, as coisas que<br />

viste, e as que são, e as que hão <strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>stas” (1.19).<br />

O senhorio ou soberania <strong>de</strong> Jesus Cristo se ressalta do começo ao fim do livro. Quando Jesus se manifesta,<br />

andando entre sete can<strong>de</strong>labros <strong>de</strong> ouro e segurando sete estrelas na mão direita, passa a explicar que os<br />

can<strong>de</strong>labros são as sete gran<strong>de</strong>s igrejas da Ásia Menor (on<strong>de</strong> João estava) e as estrelas eram os anjos <strong>de</strong>ssas<br />

igrejas. Jesus está pessoalmente vigiando as igrejas, presente entre elas, naqueles tempos e até hoje.<br />

As cartas que Jesus mandou escrever àquelas igrejas têm aplicação imediata a cada uma <strong>de</strong>las, naquele<br />

momento histórico, mas também são consi<strong>de</strong>radas admoestações a vários tipos <strong>de</strong> igreja durante toda a História<br />

da Igreja, e é muito comum i<strong>de</strong>ntificar cada uma <strong>de</strong>las, na or<strong>de</strong>m em que aparecem, como profecia do que se<br />

suce<strong>de</strong>ria à cristanda<strong>de</strong> no <strong>de</strong>curso dos séculos.<br />

Neste contexto, temos duas <strong>de</strong>clarações paralelas, que, juntas, nos revelam a plena divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo: “Eu<br />

sou 0 Alfa e Omega, diz 0 Senhor Deus, aquele que é, que era e que há <strong>de</strong> vir, o Todo-Po<strong>de</strong>roso” (1.8); e ainda:<br />

“Não temas; eu sou o primeiro e 0 último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos<br />

dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (1.17-18).<br />

Nas cartas às sete igrejas, Jesus Cristo está ditando, mas cada uma <strong>de</strong>las termina com a exortação: “Quem<br />

tem ouvidos, ouça 0 que o Espírito diz às igrejas” (2.7, etc.). Aquilo que Cristo diz fica em pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> com<br />

aquilo que 0 Espírito Santo diz. Já nos Evangelhos estamos acostumados com essa exortação <strong>de</strong> Jesus: “Quem<br />

tem ouvidos, ouça!” (Mateus 11.15), com referência aos seus ensinos - e há muitas expressões paralelas.<br />

A soberania divina <strong>de</strong> Jesus Cristo, tema que percorre o Apocalipse, já é anunciada em 1.5: “.. .Jesus Cristo, a Fiel<br />

Testemunha, 0 Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos<br />

libertou dos nossos pecados”, em plena harmonia com a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Jesus nos Evangelhos: “Toda a autorida<strong>de</strong> me<br />

foi dada no céu e na terra” (Mateus 28.18). Temos ainda 0 cântico <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> anjos proclamando: “Vi<br />

e ouvi uma voz <strong>de</strong> muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong><br />

milhões e milhares <strong>de</strong> milhares, proclamando em gran<strong>de</strong> voz: Digno é o Cor<strong>de</strong>iro que foi morto <strong>de</strong> receber o po<strong>de</strong>r,<br />

e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra,<br />

<strong>de</strong>baixo da terra e sobre o mar, e tudo 0 que neles há, estava dizendo: Aquele que está sentado no trono e ao Cor<strong>de</strong>iro,<br />

seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5.11-13).<br />

Títulos messiânicos do Antigo Testamento, retomados por Jesus nos Evangelhos, reaparecem no Apocalipse,<br />

como: “ .. .0 Leão da tribo <strong>de</strong> Judá, a Raiz <strong>de</strong> Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (Apocalipse 5.5);<br />

e Jesus disse, no último capítulo: “Eu sou a Raiz e a Geração <strong>de</strong> Davi, a brilhante Estrela da manhã” (22.16).<br />

A Segunda Vinda <strong>de</strong> Cristo, referida nos Evangelhos e <strong>de</strong>clarada mais pormenorizadamente na primeira e<br />

na segunda Epístola aos Tessalonicenses, é <strong>de</strong>clarada já no início do Apocalipse: “Eis que vem com as nuvens,<br />

e todo olho o verá, até quantos 0 traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente.<br />

Amém!” (Apocalipse 1.7).<br />

Na mesma linguagem da parábola do servo vigilante (Lucas 12.35-48) temos: “Eis que venho como vem<br />

0 ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não an<strong>de</strong> nu, e não se veja a sua<br />

vergonha” (Apocalipse 16.15).<br />

No <strong>de</strong>curso dos eventos narrados no Apocalipse, Jesus Cristo é sempre enaltecido como o Senhor ressurreto<br />

30<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 ! DOUTRINA DE CRISTO<br />

e glorificado, Soberano, operante em favor do seu povo: “O reino do mundo se tomou <strong>de</strong> nosso Senhor e do seu<br />

Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 11.15); “Então, ouvi gran<strong>de</strong> voz do céu, proclamando:<br />

Agora, veio a salvação, 0 po<strong>de</strong>r, o reino do nosso Deus e a autorida<strong>de</strong> do seu Cristo, pois foi expulso 0 acusador<br />

<strong>de</strong> nossos irmãos, o mesmo que os acusa <strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa<br />

do sangue do Cor<strong>de</strong>iro e por causa da palavra do testemunho que <strong>de</strong>ram e, mesmo em face da morte, não amaram<br />

a própria vida” (Apocalipse 12.10-11).<br />

No capítulo 19 <strong>de</strong> Apocalipse Jesus Cristo é ó vencedor: “Vi 0 céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu<br />

cavaleiro se chama Fiel e Verda<strong>de</strong>iro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama <strong>de</strong> fogo; na sua cabeça,<br />

há muitos dia<strong>de</strong>mas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto<br />

tinto <strong>de</strong> sangue, e 0 seu nome se chama o Verbo <strong>de</strong> Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando<br />

cavalos brancos, com vestiduras <strong>de</strong> linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com<br />

ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro <strong>de</strong> ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira<br />

do Deus Todo-Po<strong>de</strong>roso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS<br />

SENHORES” (Apocalipse 19.11-16). Aqui temos alusão a várias expressões proféticas messiânicas do Antigo<br />

Testamento, e voltamos ao “Princípio” com João, on<strong>de</strong> Cristo já era a “Palavra” (ou “Verbo”, em João 1.1).<br />

No último capítulo do Apocalipse, após revelar os eventos tumultuosos, Jesus volta a prometer a sua Segunda<br />

Vinda, mais em linguagem <strong>de</strong> consolo e encorajamento, para os seus fiéis: “Eis que venho sem <strong>de</strong>mora. Bemaventurado<br />

aquele que guarda as palavras da profecia <strong>de</strong>ste livro” (Apocalipse 22.7); “E eis que venho sem<br />

<strong>de</strong>mora, e comigo está 0 galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (22.12); “Aquele<br />

que dá testemunho <strong>de</strong>stas coisas diz: Certamente, venho sem <strong>de</strong>mora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (22.20).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 9<br />

1) Quais são as <strong>de</strong>clarações paralelas, que, juntas, nos revelam a plena divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo?<br />

2) Quais são os títulos messiânicos do Antigo Testamento, retomados por Jesus nos Evangelhos, que<br />

reaparecem no Apocalipse?<br />

3) Em Apocalipse capítulo 19 temos Jesus Cristo como Vencedor. Como Ele é chamado?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

21


MÓDULO 2 i DOUTRINA DE CRISTO<br />

ALGUNS ENSINOS DA PARTE<br />

DE JESUS CRISTO<br />

Jesus discursava em público após formar seu grupo <strong>de</strong> doze discípulos (cf. Lucas 6.12-16), e uma multidão<br />

se aglomerava ao <strong>de</strong>rredor, “que vieram para o ouvirem e serem curados <strong>de</strong> suas enfermida<strong>de</strong>s; também os<br />

atormentados por espíritos imundos eram curados” (Lucas 6.18). Fica evi<strong>de</strong>nte que os milagres <strong>de</strong> Jesus eram<br />

“sinais” que apontavam para a autorida<strong>de</strong> sobrenatural da sua Pessoa. Seu discurso era: “Bem-aventurados vós,<br />

os pobres, porque vosso é o reino <strong>de</strong> Deus. Bem-aventurados vós, os que agora ten<strong>de</strong>s fome, porque sereis fartos.<br />

Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis <strong>de</strong> rir. Bem-aventurados sois quando os homens vos<br />

odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno,<br />

por causa do Filho do Homem” (Lucas 6.20-22).<br />

Aqui começa a “plataforma” religiosa <strong>de</strong> Jesus Cristo, que se contrapõe aos valores mais estimados pelo<br />

mundanismo. Os valores divinos são eternos, e a recompensa pela prática <strong>de</strong>les se achará no céu (v. 23) - mas<br />

é aqui na Terra que são a norma ética para os fiéis, que pertencem ao Reino <strong>de</strong> Deus no sentido <strong>de</strong> serem leais à<br />

Soberania do Rei Jesus, num mundo <strong>de</strong> trevas e <strong>de</strong> rebelião contra Deus.<br />

Sua mensagem era direta. Dizia ele: “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei 0 bem e emprestai, sem esperar<br />

nenhuma paga; será gran<strong>de</strong> o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo” (Lucas 6.35). É contun<strong>de</strong>ntemente<br />

clara, porém há uma enorme luta espiritual para po-la em prática. Continua Ele: “Não julgueis e não sereis<br />

julgados; não con<strong>de</strong>neis e não sereis con<strong>de</strong>nados; perdoai e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á; boa medida,<br />

recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiver<strong>de</strong>s medido<br />

vos medirão também” (Lucas 6.37-38). Críticas, con<strong>de</strong>nações, perdão e generosida<strong>de</strong> voltarão a nós na mesma<br />

medida em que os distribuímos.<br />

A soli<strong>de</strong>z da nossa vida religiosa é analisada em Lucas 6.43-45, resumida nas palavras “cada árvore é conhecida<br />

pelo seu próprio fruto”, e em Lucas 6.46-49: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?<br />

Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É<br />

semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha;<br />

e, vindo a enchente, arrojou-se 0 rio contra aquela casa e não a pô<strong>de</strong> abalar, por ter sido bem construída. Mas 0<br />

que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojandose<br />

o rio contra ela, logo <strong>de</strong>sabou; e aconteceu que foi gran<strong>de</strong> a ruína daquela casa”. Essa ilustração mostra que<br />

nossa comunhão com Cristo <strong>de</strong>ve servir <strong>de</strong> alicerce profundo da construção que é a nossa vida.<br />

Sobre a oração, Lucas 11.1-13 registra mais outros ensinos públicos <strong>de</strong> Jesus. Na narrativa, Jesus estava<br />

orando e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminar, um discípulo pediu: “Senhor, ensina-nos a orar” (v. 1), e Jesus ofereceu o mo<strong>de</strong>lo<br />

a ser seguido, o “Pai-Nosso” (v. 2-4), e exemplificou como um amigo terrestre aten<strong>de</strong> à petição urgente <strong>de</strong> outro<br />

amigo (v. 5-8), e um pai terrestre aten<strong>de</strong> aos pedidos dos filhos (v. 11-12), <strong>de</strong> modo que, muito mais, nosso Pai<br />

celeste nos aten<strong>de</strong> às orações, mormente as com intenção espiritual (v. 13).<br />

Sobre a firme confiança em Deus, Jesus ensina (Lucas 12.22-34): “ ...não an<strong>de</strong>is ansiosos pela vossa vida,<br />

quanto ao que haveis <strong>de</strong> comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis <strong>de</strong> vestir. Porque a vida é mais do que<br />

o alimento, e o corpo, mais do que as vestes” (v. 22-23). “Preocupar” tem muitos sentidos comuns em português, e a<br />

palavra em grego é semelhante a “tarraxa” (instrumento para fazer rosca em parafusos) - ficar mesmo “contorcido”<br />

ou “em parafuso”. Numa civilização oriental na qual a tamareira é cuidadosamente plantada e cuidada, para dar<br />

frutos quarenta anos mais tar<strong>de</strong>, não se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que ficar “<strong>de</strong>spreocupado” é <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> trabalhar, estudar,<br />

preparar-se e precaver-se. Tudo é uma questão <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s: investir tempo e dinheiro nas coisas que agradam a<br />

32<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 1 1DOUTRINA DE CRISTO<br />

Deus, <strong>de</strong> valor etemo, ou seja: “On<strong>de</strong> estiver o seu tesouro, ali também estará 0 seu coração” (v. 34).<br />

Em Mateus Jesus disse: “Vós sois 0 sal da terra; ora, se 0 sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor?<br />

Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se po<strong>de</strong><br />

escon<strong>de</strong>r a cida<strong>de</strong> edificada sobre um monte; nem se acen<strong>de</strong> uma can<strong>de</strong>ia para colocá-la <strong>de</strong>baixo do alqueire, mas<br />

no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens,<br />

para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5.13-16). Em Mateus<br />

5.17-20 Jesus <strong>de</strong>ixa claro que “não <strong>de</strong>saparecerá da Lei [aqui se refere à totalida<strong>de</strong> do Antigo Testamento] a<br />

menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra”. Mas o cumprimento não será segundo uma interpretação<br />

meramente superficial, farisaica: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exce<strong>de</strong>r em muito a dos escribas<br />

e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (v. 20). Nesse contraste entre as injunções literais do Antigo<br />

Testamento e as intenções do coração do crente em Cristo, Jesus passa a consi<strong>de</strong>rar os assuntos do homicídio, do<br />

adultério, do divórcio, dos juramentos, da vingança e do amor aos inimigos, conforme segue.<br />

O homicídio já está no coração <strong>de</strong> quem o<strong>de</strong>ia o seu próximo (v. 21-26). O adultério já está no coração <strong>de</strong><br />

quem cobiça uma mulher (v. 27-30). Quem se divorcia da sua esposa já a expõe ao adultério, e quem se casar com<br />

a mulher divorciada está adulterando (v. 31-32). Os juramentos não po<strong>de</strong>m ser prestados em nome <strong>de</strong> nenhum<br />

objeto no universo; basta um simples “sim” ou “não” diante do próprio Criador do universo (v. 33-37).<br />

Havendo cada vez mais oposição por parte dos lí<strong>de</strong>res religiosos judaicos contra Jesus, por rejeitarem<br />

sua autorida<strong>de</strong> divina e os indícios <strong>de</strong> ser ele o Messias, Jesus passou a usar muitas parábolas, histórias<br />

baseadas na vida diária bem conhecida, que apontavam para as verda<strong>de</strong>s divinas. Quando Jesus dizia: “O<br />

Reino <strong>de</strong> Deus é semelhante a...” fazia “semelhanças”, comparações, e a Bíblia <strong>de</strong> Lutero chama “parábola”<br />

<strong>de</strong> Gleichnis = semelhança.<br />

Antes <strong>de</strong> passarmos a algumas parábolas, po<strong>de</strong>mos ressaltar que gran<strong>de</strong> volume do que Jesus falava às<br />

multidões era em resposta aos ataques verbais dos escribas e fariseus, que sempre queriam <strong>de</strong>smoralizá-lo em<br />

público. Quanto aos lí<strong>de</strong>res religiosos que “fingiam” viver uma vida religiosa enquanto viviam <strong>de</strong> modo contrário,<br />

e que eram os inimigos mais virulentos do crente em Cristo, a palavra “hipócrita” (gr. Υ ποκριτής - hupokrites),<br />

que em grego significava “ator mascarado” no palco, foi-lhes aplicada por Jesus (“fingidos” é a tradução na<br />

paráfrase “Bíblia Viva’’ - Mundo Cristão), e o fato é que a hipocrisia (no sentido que temos em português, fiel<br />

ao uso por Jesus Cristo) é o pecado mais fortemente con<strong>de</strong>nado por nosso Senhor nos Evangelhos - quanto à<br />

freqüência do uso e à linguagem contun<strong>de</strong>nte usada. No fim do seu ministério público, imediatamente antes da<br />

crucificação, Jesus proferiu um discurso que catalogou todo esse comportamento hipócrita (Mateus 23).<br />

Jesus ensinava as multidões por meio <strong>de</strong> parábolas. Exemplificaremos algumas aqui, citando-lhes apenas os<br />

nomes, cada uma com sua referência bíblica, e a respectiva lição ensinada, preferivelmente quando 0 próprio Jesus<br />

tira a conclusão com as suas próprias palavras. Em cada referência bíblica aqui escolhida 0 leitor po<strong>de</strong>rá achar<br />

na sua Bíblia se há similar em outro Evangelho (pois as parábolas <strong>de</strong> Jesus são assunto dos quatro Evangelhos).<br />

A primeira, pela or<strong>de</strong>m, é a parábola do semeador, que mostra como cada ouvinte recebe a Palavra <strong>de</strong> Deus e<br />

frutifica conforme sua receptivida<strong>de</strong> a ela (Marcos 4.1-20). A parábola do joio (Mateus 13.24-30) ensina que só<br />

Deus (não nós), no fim, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a condição <strong>de</strong> quem é supostamente crente. A parábola do grão <strong>de</strong> mostarda<br />

(Marcos 4.30-32) mostra 0 crescimento da doutrina <strong>de</strong> Jesus Cristo, a partir <strong>de</strong> uma semente mínima até uma<br />

hortaliça grandíssima. Os superlativos aqui representam os superlativos em grego. Não “a menor” semente, nem<br />

“a maior” hortaliça. A parábola do fermento (Marcos 4.33) mostra como a fé em Cristo cresce invisivelmente até<br />

afetar profundamente a humanida<strong>de</strong>.<br />

As parábolas do tesouro escondido e da pérola <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor (Mateus 13.44; 13.45-46) mostram que, na<br />

conversão, a pessoa consi<strong>de</strong>ra lixo todos os valores mundanos em troca <strong>de</strong> ficar com 0 Salvador (cf. Filipenses<br />

3.8-9). A parábola da re<strong>de</strong> fala <strong>de</strong> uma pesca cristã que alcança muitas pessoas, mas nem todas se convertem<br />

em seguidores genuínos (Mateus 13.47-50). Nos ensinos <strong>de</strong> Jesus existem muitas expressões figuradas, lições<br />

morais ou exortações em linguagem <strong>de</strong> exemplificação, que são parabólicas (Lucas 14.7-11), mas nem sempre<br />

são tradicionalmente classificadas como “A parábola <strong>de</strong>...”.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

33


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

Na parábola do gran<strong>de</strong> banquete (Lucas 14.15-23) Jesus mostra que muitos convidados para a ceia com ele no<br />

céu inventarão <strong>de</strong>sculpas para repudiá-lo, mas muitas pessoas na pior situação po<strong>de</strong>rão ser procuradas nos becos<br />

e campos para preencherem as vagas.<br />

Lucas 15 mostra Jesus <strong>de</strong>dicando tudo à recuperação e salvação dos perdidos. A ovelha perdida (15.1-7) tinha<br />

se <strong>de</strong>sviado pelos seus próprios apetites, sempre em busca <strong>de</strong> coisa melhor, lá longe. A dracma perdida (v. 8-10),<br />

caída pela força da gravida<strong>de</strong>, não tinha a mínima condição <strong>de</strong> se movimentar, nem gritar por socorro. O filho<br />

pródigo queria total in<strong>de</strong>pendência e liberda<strong>de</strong>, sem medir as conseqüências (v. 11-31). As <strong>de</strong>finições são nossas,<br />

mas a lição <strong>de</strong> Jesus, para os três casos, é: “Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que<br />

se arrepen<strong>de</strong> do que por noventa e nove justos que não [alegadamente] necessitam <strong>de</strong> arrependimento” (v. 7).<br />

A parábola da viúva persistente (Lucas 18.1-8) ensina a persistência na oração (ver também Lucas 11.5-13).<br />

Essa viúva conseguiu enfrentar um juiz injusto, e a lição apontada por Jesus foi: “Não fará Deus justiça aos seus<br />

escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça <strong>de</strong>morado em <strong>de</strong>fendê-los? Digo-vos que, <strong>de</strong>pressa, lhes<br />

fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18.7-8).<br />

Na or<strong>de</strong>m da narrativa histórica em Lucas, com os lí<strong>de</strong>res religiosos (fariseus, escribas, mestres da Lei,<br />

saduceus, sacerdotes) já tramando contra ele, Jesus contou a parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18-9-14),<br />

na qual o fariseu se jactava (numa suposta oração) em voz alta <strong>de</strong> todos seus (supostos) merecimentos diante <strong>de</strong><br />

Deus, ao passo que o publicano orava à distância: “Deus, tem misericórdia <strong>de</strong> mim, que sou pecador” (v. 13) - a<br />

atitu<strong>de</strong> que leva à justificação diante <strong>de</strong> Deus, mediante a fé em Jesus Cristo.<br />

Contra esses mesmos lí<strong>de</strong>res religiosos Jesus dirigiu a parábola dos lavradores (Lucas 20.9-19). Esses<br />

lavradores recusavam ren<strong>de</strong>r os frutos <strong>de</strong>vidos ao dono, que mandou seus servos e, finalmente, o próprio filho<br />

para pedir prestação <strong>de</strong> contas. Os lavradores acabaram matando 0 filho do dono, assim como os lí<strong>de</strong>res ju<strong>de</strong>us<br />

planejavam fazer com Jesus. Mas per<strong>de</strong>riam tudo e seriam reduzidos a pó (v. 16-18).<br />

Jesus se referiu a “um homem <strong>de</strong> nobre nascimento que foi para uma terra distante para ser coroado rei, e<br />

<strong>de</strong>pois voltar” (Lucas 19.12), mas cujos súditos 0 repudiavam (v. 13), mas, no fim <strong>de</strong> tudo, mandou executar<br />

esses inimigos (v. 27). Há alguma alusão histórica a Hero<strong>de</strong>s Magno, que assim foi para Roma para ser nomeado<br />

rei dos ju<strong>de</strong>us; e também ao próprio Jesus, que estava para se ausentar da Terra mediante a Crucificação, a<br />

Ressurreição e a Ascensão. No ínterim, aplica-se a lição da parábola das <strong>de</strong>z minas (Lucas 19.11-26), <strong>de</strong> cada<br />

um ser fiel às coisas <strong>de</strong> Cristo, como leal servo súdito cujo legítimo rei não está visivelmente presente. As minas<br />

eram moedas gregas (valendo uns três salários mínimos cada), assim como os talentos são pesos <strong>de</strong> ouro ou prata<br />

na parábola dos talentos (Mateus 25.14-28).<br />

Enquanto aguardamos a volta <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong>vemos ser fiéis ao lidarmos com as responsabilida<strong>de</strong>s que ele<br />

nos <strong>de</strong>legou (nossos talentos) e, como na parábola das <strong>de</strong>z virgens (Mateus 25.1-14), mantermo-nos vigilantes,<br />

preparados e equipados para quando Jesus precisar <strong>de</strong> nós, e mormente para a sua Segunda Vinda.<br />

O Evangelho segundo João não registra parábolas no sentido <strong>de</strong> histórias ilustrativas, mas linguagem<br />

semelhante é usada nas <strong>de</strong>clarações “Eu sou...”. Examinando uma <strong>de</strong>las, “Eu sou a vi<strong>de</strong>ira verda<strong>de</strong>ira” (João<br />

15.1-17), vemos que os crentes são os ramos, e o Pai, o agricultor. E Deus quem faz a poda (com corte, limpeza),<br />

visando nossa frutificação. O segredo do ramo, para frutificar, é ficar bem firme, agarrado, na vi<strong>de</strong>ira que é<br />

Jesus. E isso inclui ficar sempre no amor <strong>de</strong> Jesus, confirmado pela obediência aos seus preceitos, e pelo amor ao<br />

próximo do mesmo tipo que Jesus sempre nos <strong>de</strong>dicou.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 10<br />

1) A soli<strong>de</strong>z da nossa vida religiosa é analisada em Lucas 6.43-45. Ela é resumida em que palavras?<br />

2) O que significa a palavra hipócrita no grego?<br />

m<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO<br />

FONTES NÃO-CRISTÃS QUE<br />

ESCREVERAM SOBRE JESUS<br />

Jesus Cristo nada escreveu, apesar <strong>de</strong> haver milhares <strong>de</strong> livros escritos a seu respeito. Viveu na Terra há cerca<br />

<strong>de</strong> dois mil anos. Ele pertenceu a um povo que, segundo as Escrituras, era 0 povo escolhido <strong>de</strong> Deus. No passado,<br />

eles eram conhecidos como povo <strong>de</strong> Israel, entretanto, na época <strong>de</strong> Jesus, eram também chamados <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us.<br />

Jesus viveu na terra que havia sido lar <strong>de</strong> seu povo por centenas <strong>de</strong> anos, uma faixa <strong>de</strong> Terra situada no litoral<br />

oriental do mar Mediterrâneo.<br />

Seus ensinos atraíam as classes menos favorecidas, especialmente os pobres e <strong>de</strong>sprezados, o que fazia com<br />

que os lí<strong>de</strong>res religiosos ficassem intrigados com o que Ele dizia a ponto <strong>de</strong> planejarem sua morte. Depois <strong>de</strong><br />

“calarem” o rei dos ju<strong>de</strong>us, seus seguidores continuaram a espalhar a sua mensagem. O que eles diziam sobre Ele<br />

<strong>de</strong>u início a um novo movimento, primeiro entre os ju<strong>de</strong>us, <strong>de</strong>pois entre os gentios, chamado <strong>de</strong> cristianismo.<br />

Impérios surgiram e se foram, civilizações inteiras <strong>de</strong>sapareceram; revoluções militares, convulsões sociais e<br />

políticas mudaram a or<strong>de</strong>m do nosso mundo. Mas aquela pequena comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pescadores fundada pelo ju<strong>de</strong>u<br />

Jesus, da al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Nazaré, a sua Igreja, permanece em pé até hoje, como um rochedo firme no meio <strong>de</strong> um mar<br />

em contínuo movimento.<br />

Os críticos da Bíblia alegam ou sugerem que os documentos do Novo Testamento não são confiáveis,<br />

pois foram escritos pelos discípulos <strong>de</strong> Jesus ou por cristãos posteriores. Mencionam como prova que não há<br />

confirmação da existência <strong>de</strong> Jesus em nenhuma fonte não-cristã. Vejamos.<br />

11.1 FORA DAS ESCRITURAS<br />

Algumas informações sobre Jesus po<strong>de</strong>m ser extraídas dos historiadores que foram contemporâneos <strong>de</strong>le<br />

ou viveram logo <strong>de</strong>pois. Ele é mencionado pelos historiadores romanos Tácito (Anais XV. 44), Plínio, 0 jovem<br />

(.Epístolas X.96), Suetônio (Cláudio, 25; Nero 16) e pelo famoso historiador ju<strong>de</strong>u Flávio Josefo, em uma<br />

passagem suspeita <strong>de</strong> conter interpolação (Ant. XV<strong>II</strong>I. 3.3).<br />

11.2 FLÁVIO JOSEFO (37/38 - 100 d.C.)<br />

Historiador ju<strong>de</strong>u, filho <strong>de</strong> sacerdote, fariseu <strong>de</strong> família abastada. No ano 66 estava comandando a guerra<br />

judaica contra Roma na Galiléia, on<strong>de</strong> foi preso. Tendo profetizado a ascensão <strong>de</strong> Vespasiano ao po<strong>de</strong>r, quando<br />

isso realmente se concretizou Vespasiano o libertou das ca<strong>de</strong>ias. Des<strong>de</strong> então viveu sob a proteção dos flavianos<br />

em Roma, on<strong>de</strong> compôs seus escritos históricos e apologéticos. Ele não menciona Jesus em sua Guerra judaica,<br />

mas o menciona por duas vezes nas Antiguida<strong>de</strong>s judaicas (Ant. 18.63s; 20.200), sua história do povo ju<strong>de</strong>u.<br />

Em Ant. 20.200 Josefo <strong>de</strong>screve 0 julgamento e apedrejamento <strong>de</strong> Tiago e <strong>de</strong> outros por transgredirem a<br />

Lei, <strong>de</strong> acordo com 0 Sinédrio dirigido pelo sumo sacerdote Ananos no ano <strong>de</strong> 62. Josefo apresenta Tiago como<br />

“irmão <strong>de</strong> Jesus, que é chamado Cristo” (Tou a<strong>de</strong>kvou Igsour kecolemor Wqistor), i<strong>de</strong>ntificando-o assim por<br />

meio <strong>de</strong> seu irmão mais conhecido.<br />

O Testimonium Flavianum (Ant. 18.63s.)<br />

O chamado Testimonium Flavianum {Ant. 18.63s.), que é dado por todos os manuscritos <strong>de</strong> Josefo sem<br />

variação digna <strong>de</strong> menção, on<strong>de</strong> ele relata sobre Jesus Cristo, é o seguinte:<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

35


MÓDULO f |DOUTRINA DE CRISTO<br />

Neste tempo vivia Jesus, um homem sábio, se é que se po<strong>de</strong> chamá-lo um homem. Ele realizava feitos<br />

incríveis e era 0 mestre <strong>de</strong> todos os que aceitavam com alegria a verda<strong>de</strong>. Desta forma ele atraiu ju<strong>de</strong>us e<br />

também gentios. Ele era 0 Cristo. E apesar <strong>de</strong> Pilatos. movido pelas pessoas mais eminentes <strong>de</strong> nosso povo,<br />

tê-lo con<strong>de</strong>nado à morte, seus discípulos não lhe foram infiéis. Apareceu-lhes pois em vida no terceiro<br />

dia; os profetas enviados por Deus haviam anunciado antecipadamente isso e outras coisas maravilhosas<br />

sobre ele. Até o dia <strong>de</strong> hoje subsiste o povo dos cristãos, chamados assim segundo seu nome.<br />

Des<strong>de</strong> 0 século XVI esse texto tem sido objeto <strong>de</strong> fortes controvérsias por especialistas <strong>de</strong> todas as crenças.<br />

Alegam ser duvidoso que um ju<strong>de</strong>u que viveu e trabalhou fora do contexto cristão tenha dito tais coisas sobre<br />

Jesus. Discutiu-se em primeiro lugar se 0 parágrafo precisa ser interpretado como testemunho autêntico <strong>de</strong><br />

Josefo ou se é uma interpolação cristã. No século XX o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>slocou-se cada vez mais para a pergunta se o<br />

Testimonium Flavianum tem por base um relato mais antigo <strong>de</strong> Josefo, que teria sido reelaborado por cristãos,<br />

e se é possível reconstruir 0 fraseado ou a tendência <strong>de</strong>sse relato original <strong>de</strong> Josefo. Assim, três hipóteses são<br />

apresentadas: a autenticida<strong>de</strong>, a interpolação e a reelaboração.17<br />

Este mesmo escritor faz alusão a Tiago, irmão <strong>de</strong> Jesus:<br />

Anano, o mais jovem, cuja nomeação para sumo sacerdote acabei <strong>de</strong> citar... pertence à seita dos saduceus,<br />

que, como já se observou antes, é mais inflexível e impiedosa no tribunal do que todos os outros ju<strong>de</strong>us.<br />

Ananos acreditou que tinha uma oportunida<strong>de</strong> favorável para a satisfação <strong>de</strong>ssa sua dureza <strong>de</strong> coração,<br />

porque Festo estava morto e Albino ainda estava a caminho.18 Por isso, ele reuniu os juizes do Sinédrio<br />

e pôs diante <strong>de</strong>le um homem <strong>de</strong> nome Tiago, irmão <strong>de</strong> Jesus, que é chamado Cristo, e alguns outros.<br />

Ele os acusou <strong>de</strong> transgressão da lei e os mandou para 0 apedrejamento. Mas isso exasperou até os mais<br />

zelosos observadores da lei, que mandaram um encarregado ao rei 19 com 0 pedido <strong>de</strong> exigir por escrito<br />

<strong>de</strong> Ananos que <strong>de</strong>sistisse <strong>de</strong> quaisquer outras ações, pois não havia sido correto em seu primeiro passo.<br />

Alguns <strong>de</strong>les foram ter com Albino... e o informaram <strong>de</strong> que Ananos não tinha nenhuma autorida<strong>de</strong> para<br />

convocar 0 Sinédrio sem seu consentimento. Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse inci<strong>de</strong>nte, Agripa o <strong>de</strong>stituiu <strong>de</strong> seu cargo<br />

<strong>de</strong> sumo sacerdote que ele ocupara por três meses...<br />

11.3 TÁCITO (55/56 - 120 d.C)<br />

P. Cornelius Tacitus, membro da aristocracia senatorial, ocupou cargos habituais (foi procônsul da Ásia em<br />

112/113), entretanto ficou conhecido como historiador por suas duas gran<strong>de</strong>s obras históricas: as Histórias (c.<br />

105 - 110) e os Anais (c. 116-117).<br />

Tácito, em sua biografia, relata os cinco primeiros anos <strong>de</strong> governo do imperador Nero, chamado quinquennium<br />

54-58 d.C. {Ann 13) e 0 reino <strong>de</strong> horror que se seguiu a este (Ann 14-16); entre os exemplos <strong>de</strong>sse período está a<br />

execução cruel <strong>de</strong> cristãos “afflicti suppliciis Christiani, genus hominum superstitionis novae ac maleficae —foi<br />

aplicada pena <strong>de</strong> morte contra os cristãos, um grupo <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> uma superstição nova e maléfica” (Nero 16.2).<br />

O motivo pelo qual ele se refere aos cristãos é o incêndio <strong>de</strong> Roma no ano <strong>de</strong> 64 d.C. {Ann 15.38-44), que Nero<br />

atribuiu aos cristãos para <strong>de</strong>sviar a suspeita <strong>de</strong> si próprio.<br />

Ele <strong>de</strong>screve <strong>de</strong> forma breve e precisa 0 que sabe sobre o autor {auctor) da superstição, a fim <strong>de</strong> esclarecer a<br />

origem dos Christiani,20 que são odiados no meio do povo por causa <strong>de</strong> seus vícios {Ann 15.44,3):<br />

17Para uma melhor compreensão sobre as hipóteses possíveis, ver THEISSEN, Gerd. 0 Jesus histórico. São Paulo: Loyola, 20 04. p. 86.<br />

" Pórcio Festo (60-62) e Luceio Albino (62-64) eram procuradores romanos na Palestina. Como Festo morreu inesperadamente, houve um<br />

vácuo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r após sua morte até a chegada <strong>de</strong> seu sucessor.<br />

״<br />

A referência é ao rei ju<strong>de</strong>u Agripa <strong>II</strong>, que governava na Transjordânia por or<strong>de</strong>m romana e supervisionou 0 Templo até 66. ,0A leitura christianosnão é certa, pois nos manuscritos mais antigos e confiáveis foi corrigida a partir <strong>de</strong> chrestianos. Chrestianosi<br />

provavelmente uma forma vulgar do nome para cristãos, <strong>de</strong>rivado do nome grego <strong>de</strong> escravo Chrestos.<br />

36<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

Mas nem todo o socorro que uma pessoa po<strong>de</strong>ria ter prestado, nem todas as recompensas que um príncipe<br />

po<strong>de</strong>ria ter dado, nem todos os sacrifícios que pu<strong>de</strong>ram ser feitos aos <strong>de</strong>uses, permitiriam que Nero se<br />

visse livre da infâmia da suspeita <strong>de</strong> ter or<strong>de</strong>nado 0 gran<strong>de</strong> incêndio, 0 incêndio <strong>de</strong> Roma. De modo que,<br />

para acabar com os rumores, acusou falsamente as pessoas comumente chamadas <strong>de</strong> cristãs, que eram<br />

odiadas por suas atrocida<strong>de</strong>s, e as puniu com as mais terríveis torturas. Christus, 0 que <strong>de</strong>u origem ao<br />

nome cristão, foi con<strong>de</strong>nado à morte por Pôncio Pilatos, durante 0 reinado <strong>de</strong> Tibério; mas reprimida<br />

por algum tempo, a superstição perniciosa irrompeu novamente, não apenas em toda Judéia, on<strong>de</strong> o<br />

problema teve início, mas também em toda cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Roma (Anais XV.44).<br />

Tácito <strong>de</strong>screveu preconceitos difundidos sobre os cristãos junto com poucas, no entanto bastante precisas,<br />

informações sobre Cristo e o movimento cristão.<br />

11.4 PLÍNIO, O JOVEM (61 - 120 d.C)<br />

Plinius Caecilius Secundus era membro da aristocracia romana, advogado e funcionário público. Por volta <strong>de</strong><br />

111 d.C., Plínio foi enviado pelo imperador Trajano (98-117) à província da Bitínia e Ponto para averiguar acusações<br />

contra os cristãos. Nesse período ele manteve ampla correspondência com Trajano, do que nos restou uma coleção<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>z volumes. Numa <strong>de</strong>ssas cartas, Plínio <strong>de</strong>screve as práticas <strong>de</strong> adoração dos primeiros cristãos:<br />

...quod essent soliti stato die ante lucem convenire carmenque Christo quase <strong>de</strong>o dicere secum invicem<br />

seque sacramento non in scelus aliquod stringere, sed ne furta, ne latrocina, ne adulteria committerent, ne fi<strong>de</strong>m<br />

fallerent, ne <strong>de</strong>positum adpellati abnegarent.<br />

[Eles tinham] o costume <strong>de</strong> se reunir antes do amanhecer num certo dia, quando então cantavam responsivamente<br />

os versos <strong>de</strong> um hino a Cristo, tratando-o como Deus, e prometiam solenemente uns aos outros a não cometer<br />

malda<strong>de</strong> alguma, não <strong>de</strong>fraudar, não roubar, não adulterar, nunca mentir, e a não negar a fé quando fossem<br />

instados a fazê-lo (Epístola X, 96).<br />

Nesse relato, Plínio confirma várias referências do Novo Testamento, entre elas, e principal, que os cristãos<br />

adoravam Jesus como seu Deus.<br />

11.5 SUETÔNIO<br />

Caius Suetonius Tranquillus era membro da or<strong>de</strong>m dos cavaleiros, advogado, amigo particular <strong>de</strong> Plinius<br />

Caecilius, que lhe abriu os caminhos para os mais altos cargos públicos sob o governo dos imperadores Trajano<br />

e Adriano. Desse modo, Suetônio obteve acesso a todos os arquivos reais para redigir sua obra mais importante,<br />

a biografia dos imperadores {De vita Caesarum - Vida dos Césares). Essas Vitae, quase que integralmente<br />

conservadas, <strong>de</strong>screvem em oito volumes a vida <strong>de</strong> todos os doze césares, <strong>de</strong> Júlio César a Domiciano.<br />

O motivo da menção a Cristo foi uma expulsão <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> Roma sob 0 governo do imperador Cláudio (41-<br />

54), que também é citada em Atos 18.2: “Cláudio havia <strong>de</strong>cretado que todos os ju<strong>de</strong>us se retirassem <strong>de</strong> Roma<br />

(dioti o Jkaudior eiwe diatanei ma amawyqgsysi pamter oi Ioudaioi ej tgr Qylgr)”. Sobre Cristo, que é referido<br />

como Chrestus, ele diz o seguinte:<br />

“Judaeos impulsore Chresto assidue tumultuantes Roma expulit (Ele expulsou <strong>de</strong> Roma os ju<strong>de</strong>us que,<br />

incitados por Chrestus, não paravam <strong>de</strong> provocar tumultos” - Vida <strong>de</strong> Cláudio, 25.4).<br />

Escreveu ainda: “Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo <strong>de</strong> pessoas dadas a uma superstição nova e<br />

maléfica” (Vidâ dos Césares, 26.2).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

37


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

11.6 MARA BAR SERAPION<br />

Estóico sírio, originário <strong>de</strong> Samosata, Mara bar Serapion escreveu uma carta, quando <strong>de</strong> sua prisão (em lugar<br />

<strong>de</strong>sconhecido), ao filho Serapion. A carta contém inúmeros conselhos e advertências que Mara faz ao filho em<br />

face <strong>de</strong> sua possível con<strong>de</strong>nação. Assim como Salomão, ele recomenda a sabedoria como único bem e conteúdo<br />

<strong>de</strong> vida pelo qual se <strong>de</strong>ve lutar. A carta contém uma aparente referência a Jesus:<br />

Que vantagem os atenienses obtiveram em con<strong>de</strong>nar Sócrates à morte? Fome e peste lhes sobrevieram como<br />

castigo pelo crime que cometeram. Que vantagem os habitantes <strong>de</strong> Samos obtiveram ao pôr fogo em Pitágoras?<br />

Logo <strong>de</strong>pois sua terra ficou coberta <strong>de</strong> areia. Que vantagem os ju<strong>de</strong>us obtiveram com a execução <strong>de</strong> seu sábio<br />

rei? Foi logo após esses acontecimentos que o reino dos ju<strong>de</strong>us foi aniquilado. Com justiça Deus vingou a morte<br />

<strong>de</strong>sses três sábios: os atenienses morreram <strong>de</strong> fome, os habitantes <strong>de</strong> Samos foram surpreendidos pelo mar, os<br />

ju<strong>de</strong>us arruinados e expulsos <strong>de</strong> sua terra, vivem completamente dispersos. Mas Sócrates não está morto; ele<br />

sobrevive aos ensinos <strong>de</strong> Platão. Pitágoras não está morto; ele sobrevive na estátua <strong>de</strong> Hera. Nem 0 sábio rei está<br />

morto; ele sobrevive nos ensinos que <strong>de</strong>ixou (Manuscrito siríaco, add 14, 658; citado em Geisler, p. 451).<br />

Esse texto corrobora com os evangelhos sinópticos em suas afirmações: os ju<strong>de</strong>us foram responsabilizados<br />

pela morte <strong>de</strong> Jesus, conforme afirmação do Novo Testamento (1 Tessalonicenses 2.15; Atos 4.10); <strong>de</strong> modo<br />

semelhante, alguns interpretam que a <strong>de</strong>rrota judaica perante os romanos era um castigo pela crucificação <strong>de</strong><br />

Jesus (cf. Mateus 22.7; 27.25); Jesus “rei sábio” dos ju<strong>de</strong>us remonta da mesma forma a fontes cristãs (Mateus<br />

2.1 ss., os sábios buscam o recém-nascido rei dos ju<strong>de</strong>us) e à tradição da paixão (especialmente na entrada<br />

triunfal, no escamecimento, no interrogatório <strong>de</strong> Pilatos e no titulus na cruz). Assim, não encontramos na carta<br />

<strong>de</strong> Serapion nenhuma imagem <strong>de</strong> Jesus diversa do que o cristianismo afirma.<br />

11.7 TALMUDE<br />

As obras talmúdicas mais valiosas com relação ao Jesus histórico são aquelas compiladas entre 70 e 200 d.C.<br />

durante 0 <strong>de</strong>nominado Período Tanaíta. O texto mais significativo é 0 tratado da Mishnah:<br />

Na véspera da Páscoa eles penduraram Yeshu e antes disso, durante dias 0 arauto proclamou que [ele] seria<br />

apedrejado “por prática <strong>de</strong> magia e por enganar Israel e fazê-lo <strong>de</strong>sviar-se. Quem quer que saiba algo em sua<br />

<strong>de</strong>fesa venha e interceda por ele”. Mas ninguém veio em sua <strong>de</strong>fesa e eles o penduraram na véspera da Páscoa<br />

(Talmu<strong>de</strong> Babilônico, Sanhedrin 43a).<br />

Essa passagem confirma a crucificação, a época do evento na véspera da Páscoa e a acusação <strong>de</strong> feitiçaria e<br />

apostasia.<br />

11.8 AVALIAÇÃO HISTÓRICA<br />

As notícias sobre Jesus em autores ju<strong>de</strong>us (Josefo) e pagãos (Tácito e Mara bar Serapion) mostram que na<br />

antiguida<strong>de</strong> a historicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus era pressuposta. Os três autores, um aristocrata e historiador ju<strong>de</strong>u, um<br />

filósofo sírio e um romano e historiador, <strong>de</strong> contextos distintos, utilizam informações sobre Jesus <strong>de</strong> maneira<br />

autônoma. Todos sabem da execução <strong>de</strong> Jesus, ainda que <strong>de</strong> forma diferente: Tácito responsabiliza Pôncio Pilatos,<br />

Mara bar Serapion 0 povo ju<strong>de</strong>u e Josefo a aristocracia judaica e 0 governo romano.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 11<br />

1) Quem os ensinos <strong>de</strong> Cristo atraíam?<br />

2) Algumas informações sobre Jesus po<strong>de</strong>m ser extraídas dos historiadores que foram contemporâneos <strong>de</strong>le<br />

ou viveram logo <strong>de</strong>pois. Cite três <strong>de</strong>les.<br />

38<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

HERESIAS SOBRE A PESSOA<br />

DE JESUS CRISTO<br />

Enquanto Jesus viveu, alguns <strong>de</strong> seus seguidores mais próximos esperava que ele tentasse tomar 0<br />

po<strong>de</strong>r daqueles que governavam a terra, mas Jesus <strong>de</strong>monstrou que seu reino não era <strong>de</strong>ste mundo. Ele era<br />

famoso na sua época porque ensinava sobre Deus e falava <strong>de</strong> si mesmo <strong>de</strong> uma forma diferente <strong>de</strong> seus<br />

contemporâneos religiosos.<br />

Depois <strong>de</strong> sua partida, já nos primeiros séculos do cristianismo, começaram a surgir muitas dúvidas e heresias<br />

a seu respeito. Os primeiros Pais da Igreja tiveram <strong>de</strong> se posicionar diante <strong>de</strong> muitas discussões e controvérsias<br />

que giravam em tomo da natureza <strong>de</strong> Jesus Cristo. Perguntas como: “Quem é Cristo?”, “Po<strong>de</strong>ria Deus tomarse<br />

humano?”, “Alguém po<strong>de</strong> crer que Jesus Cristo é uma mistura <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>?” fizeram com<br />

que a Igreja tivesse <strong>de</strong> solidificar sua doutrina. Essas controvérsias discutiam e pensavam sobre a essência <strong>de</strong><br />

Jesus. Durante os três primeiros séculos, os cristãos tiveram <strong>de</strong> lutar não só contra as perseguições do mundo<br />

pagão, mas também contra as heresias e doutrinas corrompidas, <strong>de</strong>ntro do próprio rebanho. Durantes os séculos<br />

subseqüentes, várias <strong>de</strong>ssas perguntas surgiram com nova roupagem, fazendo com que a Igreja se posicionasse<br />

diante <strong>de</strong>sses novos confrontos.<br />

Os pensadores e lí<strong>de</strong>res cristãos sempre reconheceram e tentaram i<strong>de</strong>ntificar um conjunto <strong>de</strong> convicções<br />

essenciais que todo cristão maduro e capaz <strong>de</strong>ve afirmar para ser consi<strong>de</strong>rado verda<strong>de</strong>iramente cristão.<br />

Constatamos isso no próprio Novo Testamento: a primeira epístola <strong>de</strong> João preceitua que qualquer pessoa que<br />

afirma que 0 Cristo não veio em carne (i.é., que Jesus Cristo não foi verda<strong>de</strong>iramente humano) seja consi<strong>de</strong>rado<br />

anátema (excluído). A Igreja dos dois primeiros séculos era atribulada por pessoas que alegavam ser cristãs,<br />

mas ensinavam “outro evangelho”. A doutrina <strong>de</strong> Cristo foi a que mais sofreu ataques em toda história do<br />

cristianismo. Cada fase do seu messiado continuamente foi sendo <strong>de</strong>safiada: seu nascimento, sua vida, seus<br />

milagres, sua morte, sua ressurreição... tudo foi questionado. Des<strong>de</strong> o movimento Nova Era até o infame filme<br />

“A Última Tentação <strong>de</strong> Cristo” surge esta pergunta: Jesus existiu?<br />

12.1 ATÉ O CONCILIO DE NICÉIA (100-325 d.C.)<br />

Os Pais da Igreja dos séculos <strong>II</strong>, <strong>II</strong>I e IV (alguns dos quais foram bispos - supervisores <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> igrejas) -<br />

Irineu, Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Atanásio, Basílio <strong>de</strong> Cesaréia, Gregório <strong>de</strong> Nazianzo e Gregório <strong>de</strong> Nissa<br />

- foram os gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fensores da fé cristã nesse período marcado pela controvérsia sobre a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus.<br />

Algumas respostas apresentadas neste período a perguntas como: “Se Ele é Deus, como isto se relaciona com o<br />

monoteísmo do Antigo Testamento?” e “Em que sentido Jesus é igual ao Pai, e em que sentido Ele é diferente?”<br />

constituíram-se heresias que chegaram aos nossos dias, como 0 gnosticismo, o ebionismo, 0 docetismo, o<br />

monarquianismo, o arianismo etc.<br />

a) GNOSTICISMO<br />

Os gnósticos consi<strong>de</strong>ravam a matéria maligna e negavam a encarnação real e a ressurreição corporal do Filho<br />

<strong>de</strong> Deus. Seus ensinamentos sobre a criação, 0 Cristo e a salvação eram tão radicalmente contrários à pregação<br />

apostólica e ao ensino dos Pais da Igreja, que as igrejas do Império Romano <strong>de</strong>senvolveram confissões da fé<br />

correta a serem professadas por todos os convertidos chamadas <strong>de</strong> Credos. Atualmente o gnosticismo ressurge<br />

sob o disfarce <strong>de</strong> “cristianismo esotérico”, como, por exemplo, a Ciência Cristã, que estabelece forte distinção<br />

entre “Jesus” e 0 “Cristo”, negando qualquer encarnação real, ímpar e ontológica <strong>de</strong> Deus no homem Jesus.<br />

O termo gnosticismo vem da opinião comum dos gnósticos acerca da fonte e norma máxima para a fé cristã: a gnose,<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

39


MÓDULO 11 DOUTRINA DE CRISTO<br />

traduzida do grego por ”sabedoria” ou “conhecimento superior”. Os gnósticos diziam possuir capacida<strong>de</strong>s e conhecimentos<br />

espirituais superiores que os cristãos não possuíam. Os gnósticos seguem lí<strong>de</strong>res, divulgadores <strong>de</strong> conhecimento espiritual<br />

que transcen<strong>de</strong>m 0 entendimento normal, geralmente consi<strong>de</strong>rado secreto. Nos primeiros séculos do cristianismo esse<br />

conhecimento espiritual secreto estava relacionado com as idéias <strong>de</strong> que o “Cristo” é alguém diferente do homem “Jesus”,<br />

que o “Cristo” somente teria habitado em “Jesus”, mas nunca se i<strong>de</strong>ntificou completamente com ele, e alma ou espírito<br />

humano é uma centelha da plenitu<strong>de</strong> divina (como dizem hoje os a<strong>de</strong>ptos da Nova Era).<br />

b) EBIONISMO<br />

Os ebionitas surgiram no começo do segundo século. Seu nome, <strong>de</strong>rivado do termo grego “ebionaioi”, tem<br />

seu correspon<strong>de</strong>nte no idioma hebraico, “ebionim”, que significa “os pobres”. Os ebionitas eram ju<strong>de</strong>us crentes<br />

que não <strong>de</strong>ixavam os preceitos judaicos e também aceitavam Jesus apenas como homem. Essa seita tinha um<br />

ensino exagerado sobre pobreza; rejeitava os escritos do apóstolo Paulo porque nas suas epístolas ele reconhecia<br />

os gentios convertidos como cristãos. O maior ataque ao cristianismo primitivo estava relacionado à interpretação<br />

que tinham à respeito da divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus e <strong>de</strong> seu nascimento virginal. Para eles, Jesus foi um simples homem,<br />

filho <strong>de</strong> José e Maria, que observou a lei <strong>de</strong> forma especial, sendo assim escolhido por Deus para ser 0 Messias.<br />

Em seu batismo, com a <strong>de</strong>scida do Espírito Santo, Jesus teria sido capacitado por este para ser o Messias; assim,<br />

logicamente Jesus não era eterno, logo não era Deus.<br />

Essencialmente esta era também a posição dos monarquianistas dinâmicos, sendo Paulo <strong>de</strong> Samosata seu<br />

principal representante, que faziam distinção entre Jesus e o Logos (veja sobre monarquianistas dinâmico neste<br />

mesmo estudo). Sacrificavam a divinda<strong>de</strong> pela <strong>de</strong>fesa da humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo.<br />

Nenhum concilio con<strong>de</strong>nou oficialmente o ebionismo, mas Tertuliano, Irineu, Eusébio e Orígenes foram<br />

opositores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> peso.<br />

c) DOCETISMO<br />

O docetismo tem uma gran<strong>de</strong> ligação com o gnosticismo, para quem o mundo material era mau e corrompido.<br />

O termo <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma palavra grega (δοχεω) que significa “parecer”. Os docetas <strong>de</strong>fendiam que o corpo <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo era uma ilusão e sua crucificação teria sido apenas aparente.<br />

Para os a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong>ssa heresia, a matéria é ruim, e ο λογος, que é o aeon (espírito), não se envolveria com<br />

a matéria, que é o princípio do pecado, por isso Cristo parecia estar numa matéria carnal, mas na verda<strong>de</strong> não<br />

estava, era ilusório.<br />

Na concepção <strong>de</strong>sse movimento herético, sendo Cristo bom e a matéria essencialmente má, não haveria<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> união entre ο λογος e um corpo terreno.21 Portanto, os docetas negavam a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jesus, dizendo que ele parecia ser humano, mas era divino. “Afirmava que o corpo <strong>de</strong> Jesus não passava <strong>de</strong><br />

fantasma; que sofrimentos e morte eram apenas meras aparências: O u sofria e então não podia ser Deus; ou era<br />

verda<strong>de</strong>iramente Deus e então não podia sofrer.”"<br />

Não houve uma con<strong>de</strong>nação oficial a esse pensamento, mas Irineu e Hipólito foram os opositores <strong>de</strong>ssa idéia filosófica<br />

grega e pagã da época, mas que foi introduzida na Igreja daqueles tempos. Irineu, discípulo <strong>de</strong> Policarpo, bispo <strong>de</strong><br />

Esmima, discípulo do apóstolo João, discípulo <strong>de</strong> Jesus, escreveu acerca da fé cristã comum por volta do ano 177 d.C.:<br />

Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus<br />

discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez os céus e a terra, 0 mar e tudo que nele existe;<br />

em um só Jesus Cristo, Filho <strong>de</strong> Deus, encarnado para a nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos<br />

profetas, anunciou a economia <strong>de</strong> Deus; e a vinda, o nascimento pela virgem, a paixão, a ressurreição<br />

״<br />

A concepção filosófica do Logos ( λ ο γ ο ς ) ocupa um lugar essencial na história longa e complicada <strong>de</strong>ste termo, pois influenciou, ao menos na form a, as idéias judaicas e pagãs tardias <strong>de</strong> um Logos mais ou menos personificado. Dada a alta freqüência <strong>de</strong> utilização da idéia <strong>de</strong><br />

logos antes do cristianismo e simultaneamente a ele, é necessário que 0 leitor 0 estu<strong>de</strong> tal qual aparece no helenismo e no judaísmo, λ ο γ ο ς<br />

(logos) é traduzido por Verbo em João 1.1: “No Princípio era 0 Verbo”.<br />

” BETTENSON. H. Documentos da Igreja cristã. 3. ed. São Paulo: ASTE, 1998. p. 77.<br />

40<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

dos mortos, a ascensão ao céu, em seu corpo <strong>de</strong> Jesus Cristo, dileto Senhor nosso; e a sua vinda dos<br />

céus na glória do Pai, para recapitular todas as coisas e ressuscitar toda a carne do gênero humano; a fim<br />

<strong>de</strong> que, segundo o beneplácito do Pai invisível, diante do Cristo Jesus, nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei<br />

todo joelho se dobre nos céus e nos infernos, e toda língua 0 confesse; e execute o juízo <strong>de</strong> todos”.23<br />

d) MONARQUIANISMO<br />

Essa <strong>de</strong>signação foi dada pela primeira vez por Tertuliano. Como a <strong>de</strong>fesa doutrinária dos apologetas, dos<br />

pais antignósticos e dos pais alexandrinos sobre ο λογος não satisfez as dúvidas teológicas <strong>de</strong> todos na época e<br />

a teologia cristológica ainda era nova e sem consistência, surgiam assim novos pensamentos.<br />

O monarquianismo surgiu no século <strong>II</strong>I, e a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> era combinar a fé no Deus único (monoteísta)<br />

com a nova fé cristã, no qual Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Essa dificulda<strong>de</strong> era complicada <strong>de</strong> resolver, pois<br />

<strong>de</strong> um lado havia aqueles que criam que ο λογος era uma pessoa divina, parecendo ferir a idéia monoteísta, e <strong>de</strong><br />

outro lado havia os que <strong>de</strong>fendiam a idéia <strong>de</strong> que ο λογος era subordinado ao Pai, e isso feria a <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo.<br />

Esse conflito teológico originou dois tipos <strong>de</strong> pensamento: o monarquianismo dinâmico, conhecido também<br />

como adocionismo, e 0 monarquianismo modalista.<br />

1) Monarquianismo dinâmico<br />

Foi uma tentativa <strong>de</strong> resguardar a unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Essa idéia tinha traços do ebionismo, que pregava ser<br />

Jesus apenas homem. Diz-se que Teodoto <strong>de</strong> Bizâncio, homem culto que comerciava couro, foi quem teria dado<br />

origem ao monarquianismo dinâmico. Ele era contra a cristologia do λογος, negava a afirmação <strong>de</strong> que Jesus<br />

Cristo é Deus, achava mais seguro afirmar que Jesus era um mero homem. Não negava 0 nascimento virginal,<br />

mas esse nascimento não divinizava Jesus; Ele continuava sendo um simples homem, apesar <strong>de</strong> ser justo.<br />

Teodoto separou a vida <strong>de</strong> Jesus em tempos, ou seja, até seu batismo Jesus viveu como todo homem vive seu<br />

cotidiano, com a diferença <strong>de</strong> ter sido extremamente virtuoso. Em seu batismo, 0 Espírito ou Cristo <strong>de</strong>sceu sobre<br />

Ele, e a partir daquele momento Ele passou a operar milagres, sem, contudo, tomar-se divino. Essa idéia recebeu<br />

0 nome <strong>de</strong> dinamismo. Jesus, então, era um profeta e não Deus, e um profeta com unção divina (assim como<br />

Elias, Eliseu e outros). Somente após a ressurreição Jesus Cristo uniu-se a Deus.<br />

Teodoto, para fazer apologia à unicida<strong>de</strong> do Pai, precisou <strong>de</strong> um bom argumento, e para isso teve <strong>de</strong> pelo<br />

menos negar a <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus, igualando-se aos ebionitas.<br />

O papa Vítor excomungou Teodoto, mas a sua idéia não teve como ser banida, tanto que Paulo <strong>de</strong> Samosata,<br />

que foi bispo <strong>de</strong> Antioquia por volta <strong>de</strong> 260 d.C., <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u essa forma dinâmica do monarquianismo. Paulo <strong>de</strong><br />

Samosata foi um pouco mais longe que Teodoto e afirmou que ο λογος é i<strong>de</strong>ntificado com razão ou sabedoria e<br />

que essas igualda<strong>de</strong>s não são peculiares ao Cristo encarnado, mas sim um adjetivo que qualquer homem po<strong>de</strong><br />

ter, ou seja, diminuiu ainda mais a <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus Cristo. O que aconteceu então foi que a sabedoria divina<br />

habitou no homem Jesus, e isso não significa que ele seja uma pessoa divina. As doutrinas <strong>de</strong> Tertuliano sobre o<br />

λογος como uma pessoa e a <strong>de</strong> Orígenes sobre ο λογος como hipóstase in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte foram rejeitadas por Paulo<br />

<strong>de</strong> Samosata.<br />

Paulo <strong>de</strong> Samosata, no sínodo <strong>de</strong> Antioquia em 268 d.C., foi <strong>de</strong>clarado herege, mas <strong>de</strong> alguma forma suas<br />

idéias apareceram mais tar<strong>de</strong> em alguns ramos da teologia liberal.<br />

2) Monarquianismo modalista<br />

Os monarquianistas modalistas negavam a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, como fizeram os gnósticos. Viam nEle<br />

apenas um modo ou manifestação do Deus único, em que não reconheciam nenhuma distinção <strong>de</strong> pessoas.<br />

Qualquer sugestão <strong>de</strong> que a Palavra ou Filho era outro que não 0 Pai, ou então uma Pessoa distinta dEle, parecia<br />

levar inexoravelmente à blasfêmia <strong>de</strong> dois Deuses.<br />

23 Contra as heresias. Livro 1. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1995. p. 61 -62 .<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

41


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

Essa é a outra forma <strong>de</strong> monarquianismo, ou seja, é 0 outro modo <strong>de</strong> apologizar o unitarismo divino. O<br />

modalismo (como também era conhecido) era diferente do adocionismo, que dizia que Jesus era adotado por<br />

Deus, pregava que Jesus era Deus, mas se manifestara como criador do mundo (Pai), <strong>de</strong>pois viera à Terra se<br />

encarnando em Jesus para salvar o homem (Filho) e hoje Ele se manifesta na pessoa do Espírito Santo. Para o<br />

modalismo há uma só pessoa, que se manifestou <strong>de</strong> forma diferente e com nomes diferentes, o Pai. A idéia do<br />

monoteísmo judaico não fora ferida.<br />

O primeiro teólogo a <strong>de</strong>clarar formalmente a posição monárquica foi Noeto <strong>de</strong> Esmima, que, nos últimos anos<br />

do segundo século, foi duas vezes convocado pelos presbíteros daquela cida<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> prestar esclarecimentos.<br />

O cerne da pregação <strong>de</strong> Noeto era a enérgica afirmação <strong>de</strong> que havia apenas um Deus, 0 Pai.<br />

No Oci<strong>de</strong>nte seus discípulos ficaram conhecidos como patripassionistas, isto é, a idéia <strong>de</strong> que foi 0 Pai quem<br />

sofreu e vivenciou as outras experiências humanas <strong>de</strong> Cristo.24 Portanto, teria sido o próprio Pai quem entrou<br />

no ventre da virgem, tomando-se, por assim dizer, seu próprio Filho, o qual sofreu, morreu e ressuscitou. Desse<br />

modo, essa pessoa singular unia em si mesma atributos mutuamente incompatíveis, sendo invisível e também<br />

visível, impassível e também passível. Já no Oriente, este modalismo mais refinado tomou-se conhecido como<br />

sabelianismo, em função do nome <strong>de</strong> seu autor, Sabélio. Recebendo uma estrutura mais sistemática e filosófica<br />

por parte <strong>de</strong> Sabélio, foi levada para Roma perto do final do pontificado <strong>de</strong> Zeferino, sendo veementemente atacada<br />

por Hipólito. Sabélio negou a trinda<strong>de</strong> ao afirmar que não há três pessoas e sim uma só pessoa que se manifesta <strong>de</strong><br />

maneiras diferentes. Ele empregou a analogia do sol, um objeto único que irradia tanto calor quanto luz; 0 Pai era,<br />

por assim dizer, a forma ou essência, sendo o Filho e 0 Espírito Santo os modos <strong>de</strong> auto-expressão do Pai.<br />

Em 261 d.C. as doutrinas <strong>de</strong> Sabélio foram rejeitadas e con<strong>de</strong>nadas por negar a distinção das pessoas divinas<br />

na tentativa <strong>de</strong> resgatar uma teologia unicista para 0 cristianismo.<br />

e) ARIANISMO<br />

Os arianos foram seguidores <strong>de</strong> um presbítero <strong>de</strong> nome Ario. Ele afirmava que o Verbo (Jesus Cristo) não<br />

era igual ao Pai, mas uma gran<strong>de</strong> criatura. Segundo Ario, Cristo é o primeiro dos seres criados através <strong>de</strong> quem<br />

todas as outras coisas são feitas. Em antecipação à glória que haveria <strong>de</strong> ter no final, Ele é chamado <strong>de</strong> Logos, 0<br />

Filho, o unigênito. Dizia Ario que Jesus podia ser chamado <strong>de</strong> Deus, apesar <strong>de</strong> não ser Deus na realida<strong>de</strong> plena<br />

subentendida pelo termo.<br />

Diante <strong>de</strong>sse fato, Alexandre, bispo <strong>de</strong> Alexandria, convocou um sínodo, que o <strong>de</strong>pôs do presbiterato e o<br />

excluiu da comunhão da Igreja. Logo <strong>de</strong>pois, 0 imperador or<strong>de</strong>nou que todos os bispos cristãos comparecessem<br />

para <strong>de</strong>liberar a respeito da pessoa <strong>de</strong> Cristo e da Trinda<strong>de</strong> em uma reunião que ele presidiria em Nicéia, em 325<br />

d.C. A gran<strong>de</strong> assembléia realizou-se com a presença <strong>de</strong> 318 bispos católicos, e somente 22 eram <strong>de</strong>claradamente<br />

arianos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início.25 O próprio Ario não obteve licença para participar do concilio por não ser bispo. Foi<br />

representado por Eusébio <strong>de</strong> Nicomédia e Teogno <strong>de</strong> Nicéia. Alexandre dirigiu o processo jurídico contra Ario<br />

e 0 arianismo, sendo auxiliado por seu jovem assistente chamado Atanásio, que viria a sucedê-lo no bispado <strong>de</strong><br />

Alexandria poucos anos <strong>de</strong>pois. Neste concilio foi formulado um documento chamado <strong>de</strong> Credo <strong>de</strong> Nicéia, on<strong>de</strong><br />

os ensinos <strong>de</strong> Ario foram con<strong>de</strong>nados.<br />

12.2 O PERÍODO PÓS-NICENO (325-600 d.C.)<br />

Depois <strong>de</strong> chegar à profissão <strong>de</strong> fé padrão, a Igreja, agora convicta <strong>de</strong> que Jesus Cristo é 0 verda<strong>de</strong>iro Deus,<br />

teria <strong>de</strong> resolver como a divinda<strong>de</strong> e a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus se relacionavam, visto haver muitas heresias no seio<br />

da cristanda<strong>de</strong>. Nesse período surgiram, entre outros, 0 apolinarianismo, 0 nestorianismo e 0 eutiquianismo.<br />

a) APOLINARIANISMO<br />

Esse nome se <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> Apolinário, que era bispo <strong>de</strong> Laodicéia da Síria no final do quarto século. Ele se opôs<br />

,4 Tertuliano “cunhou 0 rótulo <strong>de</strong> patripa$5iani$mo para essa heresia, que significa 0 sofrimento (e a morte) do Pai” .<br />

15 AGOSTINHO, Santo. A Trinda<strong>de</strong>. São Paulo: Paulus. 2. ed. 1994. p. 11.<br />

42<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO<br />

fortemente ao arianismo. Apolinário dizia que a natureza divina tomou lugar da natureza humana <strong>de</strong> Cristo ao<br />

assumir o corpo físico pela encarnação. A questão da mutabilida<strong>de</strong> do λογος pregada pelos arianos era con<strong>de</strong>nada<br />

por Apolinário, pois para ele 0 divino, ao se encarnar, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser divino nem compartilhou divinda<strong>de</strong> ou<br />

energia com a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, mas continuou com a característica sacro-divina, pois algo espiritual não<br />

po<strong>de</strong> se misturar com a carne, visto ser ο λογος perfeito e a carne pecaminosa.<br />

Para Apolinário a natureza humana <strong>de</strong> Jesus tinha qualida<strong>de</strong>s divinas, pois ο λογος é da mesma substância<br />

do Pai e não tem como haver uma espécie <strong>de</strong> simbiose entre duas naturezas totalmente opostas. Jesus Cristo não<br />

teria então herança genética <strong>de</strong> Maria, pois se assim fosse sua carne seria como a dos homens comuns, mas ele<br />

trouxe do céu uma, digamos, “carne celestial0 ״;‏ ventre <strong>de</strong> Maria seria apenas um lugar para 0 <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do feto. O apolinarianismo foi con<strong>de</strong>nado pelo Concilio <strong>de</strong> Constantinopla em 381 d.C.<br />

b) NESTORIANISMO<br />

Os nestorianos eram seguidores <strong>de</strong> Nestor, bispo <strong>de</strong> Constantinopla. Nestor via o divino e 0 humano como<br />

antítese e foi <strong>de</strong>fensor da teologia <strong>de</strong> Antioquia, que ensinava que a natureza divina e a humana presentes na<br />

pessoa <strong>de</strong> Cristo não po<strong>de</strong>m ser confundidas, pois elas não se fun<strong>de</strong>m, acontecendo na realida<strong>de</strong> ter Cristo duas<br />

partes ou divisões, uma humana e outra divina. Essa teoria explica que quando Cristo tinha fome, era a parte<br />

humana que estava em ação, mas quando andou por sobre as águas ou fez milagres, o que estava em ação era a<br />

parte divina. Jesus então era uma pessoa dividida em duas partes com operações parceladas. A idéia <strong>de</strong> que Cristo<br />

agia com toda sua personalida<strong>de</strong> era inaceitável para Nestor.<br />

Nestor fazia objeção à expressão Theotokos (Mãe <strong>de</strong> Deus), usada pelos monges. Para ele Maria <strong>de</strong>u à luz<br />

ao <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Davi, no qual ο λογος residiu, por isso seria errado dizer que Maria é mãe <strong>de</strong> Deus, ou seja,<br />

Maria fora mãe da parte humana <strong>de</strong> Jesus, sendo assim impossível ela ser mãe da parte divina, em que está a<br />

divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus. Nestor preferia a expressão Xristótokos.<br />

O sínodo <strong>de</strong> Efeso, realizado no ano 431 d.C, apoiou a teologia alexandrina, <strong>de</strong>clarando Nestor herege e<br />

con<strong>de</strong>nando-o ao exílio, mas mesmo assim os nestorianos organizaram uma igreja in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte na Pérsia. Apesar<br />

<strong>de</strong> não terem crescido tanto, há igrejas nestorianas até hoje, como, por exemplo, a Igreja <strong>de</strong> São Tomé, na índia.<br />

c) EUTIQUIANISMO<br />

Os eutiquianos eram os seguidores <strong>de</strong> Êutieo, aba<strong>de</strong> ou arquimandrita26 <strong>de</strong> um mosteiro fora <strong>de</strong> Constantinopla,<br />

no quinto século. Êutieo era discípulo <strong>de</strong> Cirilo <strong>de</strong> Alexandria, opositor <strong>de</strong> Nestor.<br />

Essa teoria ensinava que não havia duas naturezas, mas apenas uma natureza em Cristo. Tudo em Cristo<br />

era divino, até mesmo seu corpo. O divino e humano eram uma só coisa. Por ensinar essa teoria, Êutieo fora<br />

excomungado <strong>de</strong> Constantinopla. O papa Leão I convocou então um sínodo em Éfeso no ano 449 d.C., mas 0<br />

partido alexandrino <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u Êutieo (eram amigos), e este voltou ao seu ministério. O papa Leão I expôs sua<br />

idéia numa carta ao bispo Flaviano <strong>de</strong> Constantinopla, mas a idéia não foi discutida. Marcado pelo tumulto, esse<br />

sínodo recebeu o nome <strong>de</strong> “sínodo dos ladrões” e não é reconhecido como concilio ecumênico.<br />

Leão I não ficou satisfeito com tais resultados, e em 451 d.C. convocou outro concilio, agora em Calcedônia,<br />

quando a idéia <strong>de</strong> Êutieo, que era alexandrina, foi rejeitada, e a posição do papa Leão I, aceita.<br />

d) OS ELQUESAÍTAS<br />

Eram os seguidores <strong>de</strong> Elquesai, que dizia ter tido uma visão <strong>de</strong> um anjo que lhe trouxera revelações. Quem<br />

aceitasse os ensinamentos <strong>de</strong> Elquesai alcançaria perdão dos pecados. Os elquesaítas rejeitavam o nascimento<br />

virginal <strong>de</strong> Cristo e criam que Jesus teria nascido como outro qualquer; entretanto, Jesus era consi<strong>de</strong>rado um anjo<br />

superior, 0 mais elevado arcanjo. Essa seita era <strong>de</strong> natureza judaica, porém sincretista, pois além <strong>de</strong> observarem<br />

a lei praticavam a arte mágica e a astrologia.<br />

26 Superior <strong>de</strong> mosteiro na Igreja Grega.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

43


MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO<br />

e) MONOFISISMO<br />

Essa palavra é <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> outras duas palavras gregas: μονος = único e φ υσις = natureza. A formação da<br />

palavra já explica o que essa teoria ensina, ou seja, Cristo tem uma só natureza, que é composta.<br />

Uma das formulações <strong>de</strong>ssa idéia diz que uma energia única uniu as duas naturezas tão perfeitamente que<br />

não restou distinção entre elas. Outra formulação explica que a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo foi transformada pela<br />

divina, havendo uma espécie <strong>de</strong> simbiose, fazendo <strong>de</strong> Jesus um homem impecável e divino, ou seja, a parte<br />

física/humana <strong>de</strong> Jesus foi transformada numa natureza divina.<br />

Na realida<strong>de</strong>, o que houve foi que grupos não aceitaram a posição do concilio <strong>de</strong> Calcedônia, alegando que<br />

tal concilio negou a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo. Severo <strong>de</strong> Antioquia, que era <strong>de</strong>fensor da teoria, dizia que ο λογος só<br />

tem uma natureza, a saber, a que se fez carne. Ele <strong>de</strong>fendia que “uma natureza” é equivalente à “hipóstase ou<br />

uma pessoa”.<br />

Os monofisistas achavam impossível dizer que Cristo tem duas naturezas e ao mesmo tempo tem um corpo ou<br />

é uma pessoa apenas. Em 451 d.C. o monofisismo foi con<strong>de</strong>nado, e o concilio <strong>de</strong> Constantinopla, em 680 d.C.,<br />

também 0 rejeitou, mas os jacobitas sírios, as igrejas cópticas, abissínia e armênia adotaram a idéia monofisista.<br />

f) MONOTELISMO<br />

Tal palavra também advém do grego: μονος = único e θελησις = vonta<strong>de</strong>. Assim, essa seita, que surgiu<br />

<strong>de</strong>ntro do monofisismo, indagava o seguinte: a vonta<strong>de</strong> pertence à pessoa ou à natureza? Isso em Cristo é claro!<br />

A resposta dada por eles era que Cristo tinha apenas uma vonta<strong>de</strong>, negando outras vonta<strong>de</strong>s. Em oposição aos<br />

monotelistas surgiram os duotelistas, que pregavam ter Cristo duas vonta<strong>de</strong>s como também duas naturezas.<br />

O sexto concilio ecumênico, em Constantinopla, realizado no ano 680 d.C., adotou a doutrina das duas<br />

vonta<strong>de</strong>s como doutrina ortodoxa, porém a vonta<strong>de</strong> humana é subordinada à divina, não havendo diminuição da<br />

humana nem absorção <strong>de</strong> uma natureza na outra, e ainda as duas se unem e agem em perfeita harmonia.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 12<br />

1) Depois da partida <strong>de</strong> Jesus, já nos primeiros séculos do cristianismo, 0 que começaram a surgir?<br />

2) Quem foram os Pais da Igreja dos séculos <strong>II</strong>, <strong>II</strong>I e IV?<br />

3) O que ensinava o gnosticismo?<br />

4) Qual a concepção <strong>de</strong> Jesus para os ebionitas?<br />

5) De on<strong>de</strong> <strong>de</strong>riva 0 termo docetismo?<br />

6) Quando surgiu 0 monarquianismo?<br />

7) Os monarquianistas modalistas negavam o quê?<br />

8) 0 que Ario <strong>de</strong>fendia?<br />

9) O que ensinava Nestório?<br />

10) o que ensina 0 m onofisismo?<br />

kh<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ANDERS, Max. Jesus em 12 lições. São Paulo: Vida, 2001.<br />

BANCROFT, E. H. <strong>Teologia</strong> elementar. São Paulo: Batista Regular, 1995.<br />

BERGSTÉN, Eurieo. Introdução à teologia sistemática. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1999.<br />

BERKHOF, Louis. <strong>Teologia</strong> sistemática. Campinas: Luz para 0 Caminho, 1996.<br />

BETTENSON. H. Documentos da igreja cristã. 3. ed. São Paulo: ASTE, 1998.<br />

BORNKAMM, Günter. Jesus <strong>de</strong> Nazaré. São Paulo: Teológica, 2005.<br />

BRUNELLI, Walter. <strong>Curso</strong> intensivo <strong>de</strong> teologia. São Paulo: Ministério IDE, 1999. v. 1.<br />

BULTMANN, Rudolf. Jesus. São Paulo: Teológica, 2005.<br />

CERFAUX, Lucien. Cristo na teologia <strong>de</strong> Paulo. 2. ed. São Paulo: Teológica, 2003.<br />

CHAMPLIN, R. N. e BENTES, J. M. Enciclopédia <strong>de</strong> Bíblia, teologia efilosofia. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1995.<br />

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1995.<br />

DODD, Charles Harold. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo: Teológica, 2003.<br />

DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da teologiapentecostal. São Paulo: Publicadora<br />

Quadrangular, 1991.<br />

ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.<br />

FREYNE, Sean. A Galiléia, Jesus e os evangelhos. São Paulo: Loyola, 1996.<br />

GEORGE, Timothy. <strong>Teologia</strong> dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994.<br />

GRUNDEM, Wayne. Manual <strong>de</strong> teologia sistemática. São Paulo: Vida, 2001.<br />

__________. <strong>Teologia</strong> sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 2006.<br />

HARRIS, R. Laird; ARCHER JR., Gleason L.; WALTKE, Bruce K. Dicionário internacional <strong>de</strong> teologia do<br />

Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.<br />

HEXHAM, Irving. Dicionário <strong>de</strong> religiões e crenças mo<strong>de</strong>rnas. São Paulo: Vida, 2001.<br />

HODGE, Charles. <strong>Teologia</strong> sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.<br />

HORTON, Stanley M. <strong>Teologia</strong> sistemática. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1997.<br />

KEELEY, Robin. Fundamentos da teologia cristã. São Paulo: Vida, 2000.<br />

KELLY, J. N. t). Doutrinas centrais da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 1994.<br />

KREEFT, Peter. Sócrates e Jesus: o <strong>de</strong>bate. São Paulo: Vida, 2006.<br />

LADD, George Eldon. <strong>Teologia</strong> do Novo Testamento. São Paulo: Exodus, 1997.<br />

LANGSTON, A. B. Esboços <strong>de</strong> teologia sistemática. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Juerp, 1999.<br />

LEWIS, C. S. O problema do sofrimento. São Paulo: Vida, 2006.<br />

LINDSAY, Gordon. A vida e os ensinos <strong>de</strong> Cristo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graça, 1994.<br />

MCDOWELL, Josh; WILSON, Bill. Ele andou entre nós. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1995.<br />

MCDOWELL, Josh. Evidências que exigem um veredicto. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1996.<br />

MENZIES, William W.; HORTON, Stanley M. Doutrinas bíblicas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1999.<br />

MIEN, Aleksandr. Jesus, mestre <strong>de</strong> Nazaré. 4. ed. São Paulo: Cida<strong>de</strong> Nova, 1998.<br />

PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1999.<br />

OVERMAN, J. Andrew. O evangelho <strong>de</strong> Mateus e o judaísmo formativo. São Paulo: Loyola, 1997.<br />

SILVA, Esequias Soares da. Como respon<strong>de</strong>r às Testemunhas <strong>de</strong> Jeová. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1995. v. 1.<br />

STOTT, John. A cruz <strong>de</strong> Cristo. 11. ed. São Paulo: Vida, 2006.<br />

THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Batista Regular, 2006.<br />

VIEIRA, J. Jacó. A síndrome <strong>de</strong> Caim. São Paulo: Vida, 2006.<br />

ZUURMOND, Rochus. Procurais o Jesus histórico? São Paulo: Loyola, 1998.<br />

STEIN, Robert. A pessoa <strong>de</strong> Cristo: Um panorama da vida e dos ensinos <strong>de</strong> Jesus. São Paulo: Vida, 2006.<br />

CURSO DE TEOLOGIA


faculda<strong>de</strong> teológica betesda<br />

Moldando vocacionados<br />

AVALIAÇÃO - MÓDULO <strong>II</strong><br />

c r is t o Lo g ia<br />

1) O que significa o nome Cristo? Existe diferença entre Cristo e Messias?<br />

2) Qual foi o propósito <strong>de</strong> Lucas ao escrever seu evangelho?<br />

3) Por que é importante saber sobre a divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo?<br />

4) Cite três textos bilicos em que Jesus é chamado <strong>de</strong> Senhor (Kyrios).<br />

5) Cite três nomes pelos quais Jesus era conhecido e explique-os colocando as referências bíblicas.<br />

6) O que significa “evangelhos sinópticos”?<br />

7) Qual foi a suprema cre<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> Jesus para autenticar a sua divinda<strong>de</strong>?<br />

8) Faça um breve relato <strong>de</strong> Jesus nas epístolas.<br />

9) Faça um comentário sobre a doutrina do gnosticismo<br />

10) O que Ária ensinava sobre a pessoa <strong>de</strong> Jesus Cristo?<br />

CARO(a) ALUNO(a):<br />

• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las<br />

folha <strong>de</strong> papel sulfite, sendo objetivo(a) e claro(a).<br />

CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP<br />

• De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.


HISTÓRIA DE ISRAEL


SUMARIO<br />

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................53<br />

1. ORIGEM DOS POVOS ..........................................................................................................................................54<br />

1.1 MESOPOTAMIA.................................................................................................................................................54<br />

1.2 CANAÃ ..............................................................................................................................................................55<br />

1.3 DE ADÃO A NOÉ..............................................................................................................................................55<br />

1.4 O DILÚVIO .......................................................................................................................................................56<br />

1.5 DESCENDENTES DE NOÉ .........................................................................................................................56<br />

1.6 A TORRE DE BABEL ...................................................................................................................................57<br />

2. OS PATRIARCAS .................................................................................................................................................. 58<br />

3. M OISÉS........................................................................................................................................................................61<br />

3.1 O ÊXODO..............................................................................................................................................................61<br />

3.2 JOSUÉ.................................................................................................................................................................... 63<br />

4. JUÍZES......................... ...............................................................................................................................................64<br />

5. DIVISÃO DO REINO............................................................................................................................................. 66<br />

6. O SURGIMENTO DA ASSÍRIA.........................................................................................................................68<br />

6.1 QUEDA DO REINO DO NORTE................................................................................................................ 69<br />

6.2 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO NORTE.......................................................................... 70<br />

7. O REINO DO SUL ...............................................................................................................................................71<br />

7.1 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO SUL................................................................................. 72<br />

8. IMPÉRIO MEDO-PERSA ................................................................................................................................ 73<br />

9. O RETORNO DO CATIVEIRO ................................................................ ................................................. 76<br />

10. A RELIGIÃO ....................................................................................................................................................... 77<br />

11. OS PROFETAS .............................................................................................................. ............................. ....... 80<br />

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................................................83


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

INTRODUÇÃO<br />

נ<br />

Descrever a história <strong>de</strong> Israel é falar <strong>de</strong> um povo sofredor, mas ao mesmo tempo vencedor. A história <strong>de</strong> Israel<br />

está assentada em quatro importantes pilares: povo, terra, lei e templo. Deus escolhe um povo e lhe promete uma<br />

terra, com ele faz uma aliança, e esse povo lhe constrói um templo. Toda e qualquer tentativa <strong>de</strong> expor <strong>de</strong> modo<br />

sistemático a história <strong>de</strong> Israel não po<strong>de</strong> prescindir <strong>de</strong>sses elementos, pois no princípio era a terra sem povo.<br />

Ao povo <strong>de</strong> Israel foi prometida uma terra que manava leite e mel, e Deus <strong>de</strong>u as regras (Lei) para garantir a<br />

promessa. E na terra da promessa foi construído um templo para garantir a presença <strong>de</strong> Deus.<br />

A origem do povo ju<strong>de</strong>u não é atribuída a uma família <strong>de</strong> nobres ou a um rei mitológico. A história <strong>de</strong> Israel<br />

tem sua origem na Bíblia e encontrou sua expressão mais contun<strong>de</strong>nte na idéia <strong>de</strong> uma Aliança (brit) pactuada<br />

entre o Deus bíblico e 0 povo israelita. O conteúdo teológico <strong>de</strong>ssa Aliança - suas estipulações, condições,<br />

promessas - está nas Escrituras e foi <strong>de</strong>senvolvido ao longo <strong>de</strong> mil anos <strong>de</strong> história da Bíblia.<br />

Tudo começou com um pastor seminôma<strong>de</strong> que <strong>de</strong>cidiu peregrinar da Mesopotâmia a Canaã sob um chamado<br />

divino. Teve dois filhos, Ismael e Isaque, sendo este o filho da promessa <strong>de</strong> Deus (Gênesis 21.1-8), que <strong>de</strong>u<br />

continuida<strong>de</strong> ao plano <strong>de</strong> Deus gerando,-com Rebeca, os filhos Esaú e Jacó.<br />

Jacó troca com seu irmão a bênção da primogenitura por um prato <strong>de</strong> lentilhas. Mais tar<strong>de</strong> trama com sua<br />

mãe um plano para se beneficiar da bênção <strong>de</strong> seu pai, que, sendo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> avançada, não percebe a trapaça e 0<br />

abençoa. Por este motivo foi obrigado a sair da terra <strong>de</strong> seu pai, indo para as terras <strong>de</strong> seu tio Labão. Nessa terra<br />

Jacó teve doze filhos, os quais <strong>de</strong>ram origem às doze tribos <strong>de</strong> Israel. Este relacionamento <strong>de</strong> Deus com seu povo<br />

foi reafirmado em toda a Escritura, passando por Moisés, pelos reis da dinastia <strong>de</strong> Davi, pelos profetas e pelos<br />

últimos livros das Escrituras.<br />

Nossa intenção é mostrar um panorama da história <strong>de</strong> Israel <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua formação até o retomo do cativeiro<br />

com Esdras e Neemias reconstruindo o templo do Senhor, lugar <strong>de</strong> adoração do Deus vivo.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

53


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

ORIGEM DOS POVOS<br />

Gran<strong>de</strong> parte da historiografia relata que as primeiras civilizações do mundo surgiram em uma região que<br />

fica entre 0 Oci<strong>de</strong>nte e o Oriente, mais precisamente conhecida como Crescente Fértil. É uma região que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a Ida<strong>de</strong> da Pedra, constituiu 0 berço <strong>de</strong> inúmeras civilizações altamente <strong>de</strong>senvolvidas, tais como a Suméria, a<br />

Acádia e a Aramita, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolveram e dali se espalharam sobre a face da terra habitável naquela época.<br />

Traçando um arco a partir do que é hoje o Egito, passando pelo norte <strong>de</strong> Israel e do Líbano, a<strong>de</strong>ntrando a<br />

Síria e atravessando 0 Iraque, <strong>de</strong>sembocando finalmente, via Kuwait, no Golfo Pérsico, tem-se 0 <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> uma<br />

meia-lua geográfica. Por isso a região ficou conhecida como Crescente Fértil, <strong>de</strong>vido ao seu traçado que lembra<br />

a lua no quarto crescente e às terras férteis banhadas pelos diferentes rios que ali se encontram. Atualmente,<br />

correspon<strong>de</strong> ao continente Europeu, Oriente Médio e parte da África.<br />

Entre o rio Nilo e 0 Eufrates - dois berços <strong>de</strong> civilizações - há uma pequena faixa <strong>de</strong> terras férteis, a diminuta<br />

faixa entre o mar Mediterrâneo e 0 pequenino rio Jordão, conhecida na Antigüida<strong>de</strong> pelo nome <strong>de</strong> Canaã, on<strong>de</strong><br />

se <strong>de</strong>senvolverá a parte inicial da história <strong>de</strong> Israel.<br />

Crescente Fértil<br />

1.1 MESOPOTAMIA<br />

No idioma grego antigo, meso quer dizer “no meio”, e potamós quer dizer “rio”. Daí surgiu a palavra<br />

Mesopotâmia, que significa “entre rios”. Com esse nome se <strong>de</strong>screve a mais antiga região da Terra, on<strong>de</strong>, em<br />

nosso enten<strong>de</strong>r, se iniciou 0 berço da civilização. A pesquisa arqueológica avançou muitíssimo em nossos<br />

dias, e inúmeros <strong>de</strong>talhes da Mesopotâmia são agora aceitos. Há fortes indícios, tanto arqueológicos quanto<br />

antropológicos, <strong>de</strong> que o Jardim do É<strong>de</strong>n estava localizado ali.<br />

A Mesopotâmia foi habitada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos pré-históricos, sendo berço <strong>de</strong> civilizações antiqüíssimas e<br />

importantes, como os sumérios, os acádios, os assírios e os babilônios. Os mais antigos foram os sumérios, que<br />

construíram sua civilização na Baixa Mesopotâmia por volta <strong>de</strong> 2800 e 2370 a.C. Eles foram os inventores da<br />

escrita - escavações feitas em Uruk revelaram o uso da escrita cuneiforme (sinais em forma <strong>de</strong> cunha) <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

54<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO<br />

o início do terceiro milênio - e construíram as primeiras cida<strong>de</strong>s da região. As cida<strong>de</strong>s não eram unidas, cada<br />

qual tinha seu próprio governo e eram <strong>de</strong>nominadas cida<strong>de</strong>s-estados. Havia várias cida<strong>de</strong>s-estados po<strong>de</strong>rosas<br />

e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que se concentravam em Eridu, e <strong>de</strong>ntre elas, com a ajuda da arqueologia, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar:<br />

Quis; Laraque; Aca<strong>de</strong>, cida<strong>de</strong> do Gran<strong>de</strong> Sargão I (Gênesis 10.10); Lagas; Ereque (Gênesis 10.10) e Ur dos<br />

cal<strong>de</strong>us, cida<strong>de</strong> natal do patriarca Abraão, ao sul da Mesopotâmia. Essas cida<strong>de</strong>s-estados eram habitadas por uma<br />

população idiomaticamente afim, miscigenada e <strong>de</strong> múltiplas origens, que durante algum tempo foi <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância cultural <strong>de</strong>ntro do ambiente semita do Crescente Fértil.<br />

Espalhada por toda a Mesopotâmia, essas “metrópoles” eram rivais e freqüentemente se confrontavam. A<br />

vencedora tomava a riqueza e as terras dos vencidos, e os <strong>de</strong>rrotados sobreviventes eram transformados em<br />

escravos. Mas a cortina da História só se abre por volta do terceiro milênio. A partir daí, as superpotências da<br />

época brigam pelo domínio <strong>de</strong>ssa faixa <strong>de</strong> terra. Incessantemente, confrontaram-se pelo domínio <strong>de</strong>ssa região 0<br />

império egípcio, <strong>de</strong> um lado, e os <strong>de</strong> Sumer, Aca<strong>de</strong>, Assíria e Babilônia, <strong>de</strong> outro.<br />

1.2 CANAÃ<br />

A nação <strong>de</strong> Israel surgiu num <strong>de</strong>terminado espaço geográfico: 0 cobiçado corredor <strong>de</strong> passagem entre duas<br />

gran<strong>de</strong>s potências da época. Do lado oci<strong>de</strong>ntal se encontrava a civilização egípcia no vale do Nilo. No lado oriental,<br />

a civilização mesopotâmica, regada pelos rios Tigre e Eufrates. A ligação entre essas duas potências eram as rotas<br />

comerciais que atravessavam uma pequena faixa <strong>de</strong> terra entre o mar Gran<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>serto, conhecida como Canaã.<br />

Canaã é 0 cenário da parte inicial da história <strong>de</strong> Israel. Ao norte, o país<br />

apresenta montanhas cobertas por neve no inverno; ao sul, um <strong>de</strong>serto<br />

causticante, que se esten<strong>de</strong> sob um sol implacável até 0 mar Vermelho; a<br />

oeste, as ondas e a brisa do Mediterrâneo; a leste, 0 rio Jordão, muito mais<br />

uma minúscula barreira <strong>de</strong>fronte a outro <strong>de</strong>serto do que um potente meio <strong>de</strong><br />

comunicação, como são os rios navegáveis. Ele nasce no lago <strong>de</strong> Tibería<strong>de</strong>s,<br />

antigamente chamado <strong>de</strong> mar da Galiléia, e <strong>de</strong>semboca no mar Morto,<br />

400 metros abaixo do nível do mar, ponto mais baixo do planeta Terra. Do<br />

Mediterrâneo ao Jordão são aproximadamente 80 quilômetros, e uns 450<br />

quilômetros vão do sul ao norte.<br />

A partir do terceiro milênio, Canaã passa a ser objeto <strong>de</strong> disputas entre as<br />

superpotências da época. Devido à ligação com os continentes, passam por<br />

ela tanto mercadores quanto exércitos.<br />

Continuamente, confrontam-se pelo domínio <strong>de</strong>ssa região o império egípcio,<br />

<strong>de</strong> um lado, e os <strong>de</strong> Sumer, Aca<strong>de</strong>, Assíria e Babilônia, <strong>de</strong> outro, sem contar as<br />

ondas <strong>de</strong> invasores que periodicamente surgem através dos <strong>de</strong>sertos e do mar.<br />

Perto do fim do segundo milênio, chegam a Canaã os povos marítimos,<br />

vindos das ilhas gregas ou da Ásia Menor, superiormente armados, entre eles<br />

os filisteus.<br />

1.3 DE ADÃOANOÉ<br />

Adão morreu com 930 anos. Segundo as Escrituras, Noé foi a décima geração, “filho <strong>de</strong> Lameque;<br />

Lameque, filho <strong>de</strong> Metusalém, Metusalém, filho <strong>de</strong> Enoque, Enoque, filho <strong>de</strong> Jare<strong>de</strong>, este, filho <strong>de</strong> Maalalel,<br />

filho <strong>de</strong> Cainã; Cainã, filho <strong>de</strong> Enos, Enos, filho <strong>de</strong> Sete, e este, filho <strong>de</strong> Adão, filho <strong>de</strong> Deus” (Lucas 3.36-<br />

38). Deus agradou-se <strong>de</strong> Noé, que, <strong>de</strong>ntre os homens que viviam na Mesopotâmia, era o único que mantinha<br />

sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> com Ele. Noé <strong>de</strong>monstrou possuir forças morais suficientes para conservar sua integrida<strong>de</strong><br />

ética em todas as circunstâncias da vida.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

55


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

1.4 O DILÚVIO<br />

A Terra entrou em estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração após os primeiros pais terem pecado. “Viu Deus a terra, e eis<br />

que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido 0 seu caminho na terra” (Gênesis 6.11-12).<br />

Entristecido pelo mal que o homem fazia, Deus resolveu acabar com 0 mundo, poupando apenas Noé e sua<br />

família. Antes <strong>de</strong> consumar seu intento, Deus or<strong>de</strong>nou a Noé que construísse uma gran<strong>de</strong> arca calafetada <strong>de</strong><br />

betume por <strong>de</strong>ntro e por fora, com trezentos côvados <strong>de</strong> comprimento, por cinqüenta <strong>de</strong> largura e trinta <strong>de</strong><br />

altura (Gênesis 6.14-15). Noé estava com seiscentos anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando veio 0 dilúvio sobre a Terra. “No ano<br />

seiscentos da vida <strong>de</strong> Noé, aos <strong>de</strong>zessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do gran<strong>de</strong><br />

abismo, e as comportas dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta<br />

noites” (Gênesis 7.11-12).1<br />

Depois que as águas eliminaram toda a vida sobre a Terra, Deus fez sua primeira aliança com 0 homem<br />

nos seguintes termos: “Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais <strong>de</strong>struída toda carne por águas <strong>de</strong><br />

dilúvio, nem mais haverá dilúvio para <strong>de</strong>struir a terra. Disse Deus: Este é 0 sinal da minha aliança que faço entre<br />

mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações: porei nas nuvens 0 meu<br />

arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra” (Gênesis 9.11-13).<br />

1.5 DESCENDENTES DE NOÉ<br />

Depois do dilúvio as terras do mundo então habitado e os povos a <strong>de</strong>spontar serão divididos em três linhagens<br />

principais: aos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Cam coube a tarefa <strong>de</strong> povoar a África, a Ásia distante, a Oceania e certas regiões<br />

do Oriente Médio, Babilônia e imediações do mar Vermelho. Por algum tempo essa raça promoveu e <strong>de</strong>senvolveu<br />

uma admirável civilização, representada pelos babilônios, egípcios, fenícios e outros. A Sem coube a tarefa <strong>de</strong><br />

habitar diversas regiões da Ásia, não chegando a produzir gran<strong>de</strong>s povos nem gran<strong>de</strong>s civilizações, <strong>de</strong>stacando<br />

<strong>de</strong>ntre todos os hebreus, que se notabilizaram pelos pendores religiosos. A Jafé coube as ilhas do mar e as distantes<br />

terras ao norte e oeste. Assim, os jafetitas povoaram todas as ilhas do Mediterrâneo, toda a Europa e parte da Ásia,<br />

aparecendo nos antigos e mo<strong>de</strong>rnos persas e medos. Assim cumpriu-se a profecia encontrada em Gênesis 9.25-27:<br />

“E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. E disse: Bendito seja o SENHOR, Deus <strong>de</strong><br />

Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas <strong>de</strong> Sem; e seja-lhe Canaã por servo”.<br />

1Quanto à gran<strong>de</strong> polêmica se 0 dilúvio foi universal ou parcial, <strong>de</strong>ixamos a referida questão para investigação do nobre leitor, para que<br />

possa tirar as <strong>de</strong>vidas conclusões pertinentes a este importante assunto.<br />

56<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

1.6 A TORRE DE BABEL<br />

Os filhos <strong>de</strong> Noé se espalharam sobre a face da Terra, e um <strong>de</strong> seus netos, chamado Ninro<strong>de</strong>, construiu<br />

um gran<strong>de</strong> império na terra <strong>de</strong> Sinar (Gênesis 10.10). Nessa região, os homens intentaram construir uma<br />

torre que tocasse nos céus. Deus <strong>de</strong>sagradou-se <strong>de</strong>sse projeto e confundiu suas línguas, fazendo com que<br />

não se enten<strong>de</strong>ssem mais. O povo que vivia nessa região se espalhou formando pequenas cida<strong>de</strong>s-estados.<br />

As cida<strong>de</strong>s mais importantes eram: Adab, Zabalam, Umma, Bad-Tibira, Lagash, Akshak, Kish, Nippur,<br />

Shurupak, Uruk e Ur. Cada uma possuía ao seu redor um cinturão <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ias e eram separadas por pântanos<br />

e <strong>de</strong>sertos, característicos da região.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 1<br />

1) On<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolveu 0 berço <strong>de</strong> inúmeras civilizações altamente <strong>de</strong>senvolvidas da Antigüida<strong>de</strong>?<br />

2) O que significa a palavra “mesopotâmia”?<br />

3) Cite o nome <strong>de</strong> três cida<strong>de</strong>s-estados.<br />

4) Adão morreu com quantos anos?<br />

5) Qual foi a aliança que Deus fez com os homens após o dilúvio?<br />

6) Quem foram os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Noé?<br />

7) A Mesopotâmia foi berço <strong>de</strong> civilizações antiqüíssimas e importantes. Quais foram elas?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

57


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

OS PATRIARCAS<br />

Chamam-se patriarcas os três primeiros chefes do povo israelita: Abraão, Isaque e Jacó. A história <strong>de</strong> Israel<br />

tem início com a chamada <strong>de</strong> Abraão para ser o pai da nação escolhida. Abrão vivia em Ur dos cal<strong>de</strong>us, famosa<br />

cida<strong>de</strong> sumeriana localizada às margens do rio Eufrates, na Mesopotâmia. A principal divinda<strong>de</strong> adorada em<br />

Ur era o <strong>de</strong>us lua sumeriano Nannar, conhecido em acadiano como Sin. Provavelmente sua família era <strong>de</strong>vota<br />

<strong>de</strong>ssa divinda<strong>de</strong>, visto que no livro <strong>de</strong> Josué encontramos o registro <strong>de</strong> que “Terá, pai <strong>de</strong> Abraão e <strong>de</strong> Naor,<br />

habitaram dalém do Eufrates e serviram a outros <strong>de</strong>uses” (Josué 24.2). Quando Terá e sua família saíram <strong>de</strong> Ur,<br />

estabeleceram-se em Harã, outro importante centro <strong>de</strong> adoração ao <strong>de</strong>us Sin.<br />

Nessa cida<strong>de</strong> Deus lhe faz promessas: “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e<br />

da casa <strong>de</strong> teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma gran<strong>de</strong> nação, e abençoar-te-ei, e engran<strong>de</strong>cerei<br />

o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e<br />

em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12.1-3). Abraão não vai a Canaã como um chefe beduíno<br />

à procura <strong>de</strong> espólios, nem como um nôma<strong>de</strong>. Ele tem um propósito, um alvo, vai realizar um i<strong>de</strong>al. Quatrocentos<br />

anos <strong>de</strong>pois do dilúvio, Deus dá início à restauração e à re<strong>de</strong>nção da raça humana por meio <strong>de</strong>sse patriarca.<br />

As viagens <strong>de</strong> Abraão tiveram início quando seu pai Terá saiu <strong>de</strong> Ur dos cal<strong>de</strong>us, no sul do Iraque, importante<br />

centro comercial, e levou a família rumo a Canaã. Subindo o Eufrates, seguindo pela estrada principal, chegaram<br />

a Harã, também <strong>de</strong>signada por Padã-Arã, on<strong>de</strong> Terá veio a falecer. Situada cerca <strong>de</strong> 960 quilômetros a noroeste<br />

<strong>de</strong> Ur e 643 quilômetros a nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Canaã, foi 0 local da primeira parada. Em seguida, aten<strong>de</strong>ndo ao chamado<br />

<strong>de</strong> Deus, Abraão partiu <strong>de</strong> Harã rumo a Canaã. Parece que Abraão entrou nessa terra pela Transjordânia, pelo<br />

oci<strong>de</strong>nte do Jordão, o que o teria levado a atravessar todo o sul <strong>de</strong> Damasco, passando pelos contrafortes do<br />

Líbano, talvez pela entrada <strong>de</strong> Hamate.<br />

Na terra <strong>de</strong> Canaã, os encontros entre o patriarca e seu Deus se tomaram constantes. O primeiro local on<strong>de</strong> 0<br />

patriarca levantou suas tendas foi Siquém. Nessa cida<strong>de</strong> “apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua<br />

<strong>de</strong>scendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe aparecera” (Gênesis 12.7). O Deus<br />

<strong>de</strong> Abraão pouca semelhança tem com os mo<strong>de</strong>los politeístas contemporâneos. Não foi criado, não nasceu, não<br />

possui colegas nem rivais, ascendência ou <strong>de</strong>scendência, não tem corpo, sexo ou origem.<br />

Pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua chegada, logo se mudou para uma montanha a oriente <strong>de</strong> Betei, on<strong>de</strong> edificou um<br />

altar ao Senhor e invocou 0 nome do seu Deus. Nesse tempo a terra foi afligida por uma gran<strong>de</strong> seca, o que forçou<br />

Abraão a partir com sua família para o Egito à procura <strong>de</strong> refrigério.<br />

O Egito sobreviveu em meio ao <strong>de</strong>serto graças ao Nilo e às suas enchentes, que <strong>de</strong>positavam 0 limo, espécie<br />

<strong>de</strong> fertilizante natural, nas margens do rio, on<strong>de</strong> os egípcios plantavam legumes, trigo, linho e cevada. Nas suas<br />

margens crescia também o papiro. Essa planta aquática servia para fazer uma espécie <strong>de</strong> papel para escrever,<br />

além <strong>de</strong> cordas, pequenos barcos e re<strong>de</strong>s. Foi nesse país que Abraão e sua família foram peregrinar.<br />

Depois <strong>de</strong> algumas provações, Abraão foi abençoado por faraó. Por fim, 0 patriarca retomou para o Negueve<br />

e <strong>de</strong> lá seguiu para 0 lugar on<strong>de</strong> ao princípio estivera sua tenda, entre Betei e Ai, levando consigo gran<strong>de</strong>s<br />

riquezas (Gênesis 13.3). Nessa região ele se separa <strong>de</strong> seu sobrinho Ló, que escolhe as bandas do oriente, os<br />

pastos ver<strong>de</strong>jantes da planície do Jordão, a leste <strong>de</strong> Betel. A Abraão coube as partes altas <strong>de</strong> Betei, porém a or<strong>de</strong>m<br />

divina foi: “Percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei” (Gênesis 13.17). Depois<br />

disso, Abraão seguiu em direção a Hebrom.<br />

Abraão não possuía filhos, pois sua esposa, Sara, era estéril (Gênesis 16). Ela, que possuía uma escrava<br />

egípcia <strong>de</strong> nome Hagar, disse a Abraão: “Eis que 0 SENHOR me tem impedido <strong>de</strong> dar à luz filhos; toma, pois, a<br />

58<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO f |HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio <strong>de</strong>la” (Gênesis 16.2). Abraão concordou com o pedido<br />

<strong>de</strong> Sara. Hagar concebe e dá à luz um filho, a quem dão o nome <strong>de</strong> Ismael (Gênesis 16.15). Algum tempo <strong>de</strong>pois<br />

Sara recebe a promessa diretamente <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> que ela mesma teria um filho. Nessa época ela tinha a ida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> noventa anos e Abraão aproximadamente cem, mas a promessa se concretizou com o nascimento <strong>de</strong> Isaque<br />

(Gênesis 21.1-7), com quem o plano <strong>de</strong> Deus teria continuida<strong>de</strong>.<br />

Em seguida Abraão se estabelece em Hebrom, a meia distância entre 0 Mediterrâneo e o mar Morto. Nessa<br />

região ele adquire “o campo <strong>de</strong> Efrom, que estava em Macpela, fronteiro a Manre, o campo, a caverna e todo<br />

o arvoredo que nele havia, e todo 0 limite ao redor” (Gênesis 23.17). Sara é a primeira a ser sepultada nessa<br />

proprieda<strong>de</strong>, e logo Abraão lhe faria companhia (Gênesis 23.29; 25.9).<br />

Depois <strong>de</strong> três anos após o sepultamento <strong>de</strong> sua esposa, preocupado com 0 <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> seu filho e com as<br />

promessas <strong>de</strong> Deus, Abraão incumbe seu servo <strong>de</strong> buscar uma esposa para seu filho Isaque, que já estava beirando<br />

os quarenta anos, na sua terra, em meio à sua parentela, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> o próprio Abraão teria vindo (Gênesis 24.4).<br />

Seu servo foi até a Mesopotâmia, para a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> morava Naor, irmão <strong>de</strong> Abraão. Lá chegando encontrou a<br />

pessoa a qual havia pedido a Deus em oração, que logo aceitou sua proposta. A jovem se chamava Rebeca, “filha<br />

<strong>de</strong> Betuel, filho <strong>de</strong> Milca, mulher <strong>de</strong> Naor, irmão <strong>de</strong> Abraão” (Gênesis 24.15).<br />

Abraão casa-se novamente e, através <strong>de</strong> sua esposa Quetura, toma-se o ancestral dos clãs <strong>de</strong> Zinrã, Jocsã,<br />

Medã, Midiã, Isbaque e Suá (Gênesis 25.1-2). Algum tempo <strong>de</strong>pois do casamento <strong>de</strong> Isaque, Abraão morre, com<br />

a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 175 anos.<br />

Peregrinação <strong>de</strong> Abraão<br />

Isaque era o filho da promessa, porém não foi uma figura <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na história <strong>de</strong> Israel. Entretanto, era<br />

por meio <strong>de</strong>le que estavam sendo concretizados os <strong>de</strong>sígnios divinos. Ele <strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> ao projeto <strong>de</strong> Deus,<br />

gerando, com Rebeca, os filhos gêmeos Esaú e Jacó. Depois <strong>de</strong> algum tempo, <strong>de</strong>vido a dificulda<strong>de</strong>s sociais,<br />

econômicas e políticas que a região apresentava, a família mudou-se para Gerar (Gênesis 26).<br />

Esaú, 0 her<strong>de</strong>iro aguardado da aliança, per<strong>de</strong> seu direito <strong>de</strong> primogenitura e os <strong>de</strong>mais privilégios da aliança<br />

em troca <strong>de</strong> um guisado <strong>de</strong> lentilhas (Gênesis 25.34). Mais tar<strong>de</strong>, por motivação pessoal e ajudado por sua mãe,<br />

Jacó engana Isaque, que, não percebendo que estava sendo ludibriado, abençoa Jacó dizendo: “Deus te dê do<br />

orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura <strong>de</strong> trigo e <strong>de</strong> mosto. Sirvam-te povos, e nações te reverenciem;<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 1HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

sê senhor <strong>de</strong> teus irmãos, e os filhos <strong>de</strong> tua mãe se encurvem a ti; maldito seja 0 que te amaldiçoar, e abençoado<br />

o que te abençoar” (Gênesis 27.28-29).<br />

Jacó, que <strong>de</strong>sejava a unção que por direito pertencia a seu irmão Esaú, recebeu a bênção <strong>de</strong> seu pai e tomou-se<br />

o terceiro patriarca da nação israelita, conquistando também a amargura <strong>de</strong> seu irmão. Iniciou assim sua jornada<br />

fugindo da ira <strong>de</strong> seu irmão. Sob a orientação <strong>de</strong> seu pai, foi para a Mesopotâmia (Gênesis 28).<br />

Nessa jornada, Deus renova com Jacó a aliança que havia firmado com seus pais dizendo: “Eu sou o SENHOR,<br />

Deus <strong>de</strong> Abraão, teu pai, e Deus <strong>de</strong> Isaque. A terra em que agora estás <strong>de</strong>itado, eu ta darei, a ti e à tua <strong>de</strong>scendência.<br />

A tua <strong>de</strong>scendência será como 0 pó da terra; esten<strong>de</strong>r-te-ás para 0 Oci<strong>de</strong>nte e para o Oriente, para 0 Norte e para<br />

o Sul. Em ti e na tua <strong>de</strong>scendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Eis que eu estou contigo, e te<br />

guardarei por on<strong>de</strong> quer que fores, e te farei voltar a esta terra, porque te não <strong>de</strong>sampararei, até cumprir eu aquilo<br />

que te hei referido” (Gênesis 28.13-15).<br />

Em Harã, Jacó encontrou-se com Raquel, filha <strong>de</strong> Labão, irmão <strong>de</strong> sua mãe, que correu para anunciar a seus<br />

parentes sua presença ali. Jacó pe<strong>de</strong> a Labão sua filha mais nova em casamento, seguindo os rituais previstos e<br />

prometendo trabalhar durante sete anos para Labão, mas é enganado pelo sogro, o qual lhe dá a filha mais velha,<br />

Lia. Para ficar com a mais nova teve que trabalhar por mais sete anos.<br />

Jacó, com essas duas mulheres e também com suas servas, teve doze filhos, que vão dar origem às doze tribos<br />

<strong>de</strong> Israel. José, o mais novo <strong>de</strong>les, é 0 protegido dos pais. Os irmãos 0 invejam a tal ponto que o ven<strong>de</strong>m como<br />

escravo para mercadores do Egito, com apenas 17 anos (Gênesis 37.2). No Egito, José vai trabalhar na corte <strong>de</strong><br />

faraó. Depois <strong>de</strong> muitas aventuras ele se toma 0 primeiro-ministro. Nesse tempo sobrevêm uma gran<strong>de</strong> fome em<br />

Israel, e José consegue fazer que sua família se estabeleça no Egito. O livro <strong>de</strong> Êxodo relata a façanha do povo <strong>de</strong><br />

Israel, que sob a mais dura servidão constrói para faraó as cida<strong>de</strong>s-celeiros <strong>de</strong> Pitom e Ramessés (Êxodo 1.11).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 2<br />

1) Quem são os patriarcas da nação israelita?<br />

2) O que fez 0 Egito sobreviver em meio ao <strong>de</strong>serto?<br />

3) On<strong>de</strong> o servo <strong>de</strong> Abraão foi buscar esposa para Isaque?<br />

60<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

MOISES<br />

Moisés nasceu no período da escravidão israelita no Egito. As Escrituras registram que os hebreus construíram<br />

duas novas cida<strong>de</strong>s, Pitom e Ramessés, para os egípcios <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chicotadas (Êxodo 1.11). “Mas, quanto mais<br />

os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam; <strong>de</strong> maneira que se enfadavam por causa dos<br />

filhos <strong>de</strong> Israel. E os egípcios faziam servir os filhos <strong>de</strong> Israel com dureza” (Êxodo 1.12-13).<br />

Os egípcios começaram a temer o número cada vez maior <strong>de</strong> israelitas (“um povo mais forte”, segundo<br />

faraó).2 O termo hebraico usado no versículo 12, traduzido como “inquietavam”, é kootz, que significa “<strong>de</strong>testar<br />

e ter horror a, um sentimento doentio”. Por essa razão, faraó or<strong>de</strong>nou que todos os meninos que nascessem entre<br />

os israelitas fossem lançados no rio (Êxodo 1:22).<br />

Quando Moisés nasceu, sua mãe 0 escon<strong>de</strong>u por três meses e <strong>de</strong>pois o colocou em um cesto junto aos juncos<br />

à margem do rio. Afilha <strong>de</strong> faraó, enquanto se banhava no rio, viu a criança e, tomando-a, entregou-a, sem saber,<br />

aos cuidados <strong>de</strong> sua própria mãe, que o criou até ser gran<strong>de</strong>, quando então o <strong>de</strong>volveu à filha <strong>de</strong> faraó, que “o<br />

adotou; e chamou o seu nome Moisés e disse: Porque das águas 0 tenho tirado” (Êxodo 2.10). Moisés entrou num<br />

mundo <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong>, sofrimento e <strong>de</strong>sespero, entretanto protegido pela fé <strong>de</strong> seus pais (cf. Hebreus 11.23).<br />

A vida <strong>de</strong> Moisés, segundo o livro <strong>de</strong> Atos, capítulo 7, po<strong>de</strong> ser dividida em três segmentos <strong>de</strong> quarenta anos<br />

cada. Ele passou seus primeiros quarenta anos no Egito, apren<strong>de</strong>ndo nas escolas egípcias; passou seu segundo<br />

ciclo <strong>de</strong> quarenta anos na terra <strong>de</strong> Midiã; e passou seus últimos quarenta anos no <strong>de</strong>serto com 0 povo hebreu,<br />

alimentado por provações, <strong>de</strong>sânimo e testes, ensinado pela lei que recebeu das mãos <strong>de</strong> Deus.<br />

3.1 O ÊXODO<br />

Moisés havia crescido na corte do faraó, alheio ao seu povo. Entretanto, sua mãe <strong>de</strong>ve ter inculcado em seu<br />

coração, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>, que ele não pertencia ao Egito, que mesmo tendo seu nome egípcio ele era hebreu <strong>de</strong><br />

nascimento. Fora dos limites palacianos, percebe que os filhos <strong>de</strong> Israel viviam como escravos nos campos <strong>de</strong><br />

trabalho forçado.<br />

Sendo Moisés já gran<strong>de</strong>, saiu a seus irmãos e viu sua aflição. Revoltado com uma cena que presenciou, ele<br />

mata um egípcio que feria um hebreu. Temendo por sua segurança, foge para Midiã, região <strong>de</strong>sértica entre o<br />

Egito e Canaã, on<strong>de</strong> é acolhido por Jetro, que lhe dá sua filha Zípora como esposa, com quem tem dois filhos,<br />

Gerson e Eliezer (Êxodo 18.3-4). Durante quarenta anos, Moisés permaneceu fugitivo do Egito, abrigando-se<br />

entre os midianitas do Sinai e da Arábia.<br />

Um dia, apascentando o rebanho <strong>de</strong> seu sogro, nas montanhas do monte Sinai, Moisés tem sua atenção atraída<br />

pelo sobrenatural: um arbusto ressequido em chamas que não se consumia (Êxodo 3.2). Deus aparece a Moisés e<br />

se i<strong>de</strong>ntifica como 0 Deus <strong>de</strong> Abraão, Isaque e Jacó. Ele diz a Moisés que era chegado o tempo em que o povo <strong>de</strong><br />

Israel partiria da terra da escravidão e possuiria Canaã, a terra prometida. Este fato marca o encontro entre Deus<br />

e Moisés. Por quatro vezes ele tenta esquivar-se; ele se sente incapacitado para a missão (Êxodo 3.11), inquire<br />

sobre em nome <strong>de</strong> quem falará (Êxodo 3.13), tem dúvidas sobre se vão escutá-lo (Êxodo 4.1) e, finalmente,<br />

argumenta que não é orador (Êxodo 4.10).<br />

Moisés, o fúgitivo, o pastor, transforma-se a partir <strong>de</strong>ssa experiência em Moisés, o lí<strong>de</strong>r, o profeta e o libertador.<br />

De volta ao Egito, agora com oitenta anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, acompanhado <strong>de</strong> Arão, que servirá <strong>de</strong> porta-voz, Moisés<br />

2“Entrementes, se levantou novo rei sobre 0 Egito, que não conhecera a José. Ele disse ao seu povo: Eis que 0 povo dos filhos <strong>de</strong> Israel é mais<br />

numeroso e mais forte do que nós” (Êxodo 1.8-9).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

61


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

tenta negociar uma retirada pacífica, com o propósito <strong>de</strong> adorar a Yahweh, mas os egípcios recusam a forma<br />

amigável proposta pelo enviado <strong>de</strong> Deus. Deus intervém na história operando sinais, prodígios e maravilhas em<br />

favor <strong>de</strong> seus escolhidos, <strong>de</strong> modo que tanto faraó quanto 0 povo egípcio não vêem outra solução senão a soltura<br />

dos israelitas. As <strong>de</strong>z pragas que se seguiram foram todas <strong>de</strong> caráter judicial - abatiam-se sobre o Egito após cada<br />

recusa <strong>de</strong> faraó em permitir a saída <strong>de</strong> Israel. A última das pragas foi a morte dos primogênitos, que atingiu até<br />

mesmo a família do próprio faraó. O Deus dos hebreus passa a ser conhecido como o Deus libertador, pois Ele é<br />

quem venceu todos os <strong>de</strong>uses egípcios protetores <strong>de</strong> faraó.<br />

A saída <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong> escravos em direção à terra prometida não foi nada fácil. Eles marcharam em direção a<br />

Canaã, família por família, clã por clã, com seus rebanhos e suas posses. Depois <strong>de</strong> alguns dias chegam <strong>de</strong>fronte ao<br />

mar Vermelho. Cercado pelo <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> um lado, pelas montanhas <strong>de</strong> outro, pela frente o mar e por trás os egípcios<br />

que o perseguiam, o povo começa a murmurar: “Não é esta a palavra que te temos falado no Egito, dizendo: Deixanos,<br />

que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no <strong>de</strong>serto” (Êxodo<br />

14.12). E uma provação dolorosa para Moisés, todavia sua confiança em seu Deus 0 faz avançar água a<strong>de</strong>ntro (Êxodo<br />

14.15). Enquanto os israelitas atravessam o mar, “ 0 Anjo <strong>de</strong> Deus, que ia adiante do exército <strong>de</strong> Israel, se retirou e ia<br />

atrás <strong>de</strong>les; também a coluna <strong>de</strong> nuvem se retirou <strong>de</strong> diante <strong>de</strong>les e se pôs atrás <strong>de</strong>les. E ia entre o campo dos egípcios<br />

e o campo <strong>de</strong> Israel; e a nuvem era escurida<strong>de</strong> para aqueles e para estes esclarecia a noite; <strong>de</strong> maneira que em toda a<br />

noite não chegou um ao outro” (Êxodo 14.19-20). Quando chegaram do outro lado do mar, esten<strong>de</strong>u Moisés suas mãos<br />

sobre as águas do mar, que se fecharam sobre os egípcios, exterminando-os com seus carros e cavaleiros.<br />

Depois <strong>de</strong>ssa gloriosa experiência, Israel começa a vagar pelo <strong>de</strong>serto. Inicia-se o penoso processo <strong>de</strong><br />

transformar refugiados em homens livres. Nas primeiras provações, <strong>de</strong>snuda-se o coração dos libertos, e eles<br />

confessam sua sauda<strong>de</strong> das “panelas do Egito”. Em todo momento reclamam e murmuram. Os longos anos nas<br />

terras áridas do <strong>de</strong>serto serviram para purificar a fé do povo. Deus faz uma aliança com seu povo e a sela em Dez<br />

Mandamentos a serem seguidos. No caminho rumo à terra prometida, esses foram ampliados totalizando 613<br />

mandamentos, 365 positivos e 248 negativos.3<br />

Seguindo em direção a Canaã, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terem recebido a Lei, Moisés seleciona doze espias, um <strong>de</strong> cada tribo,<br />

3MAIMÔNIDES. Os 6 1 3 Mandamentos. 3. ed. São Paulo: Nova Arcádia, 1991.<br />

62<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

que <strong>de</strong>verão fazer um reconhecimento da terra. O relatório dos enviados não é uniforme; alguns viram uma terra<br />

que “mana leite e mel”, outros relatam que viram “gigantes perante os quais nós parecemos gafanhotos” (Números<br />

13.33). Josué e Calebe são <strong>de</strong> opinião diferente, neles “houve outro espírito” (Números 14.24). Disseram: “Se<br />

o SENHOR se agradar <strong>de</strong> nós, então, nos fará entrar nessa terra e no־la dará, terra que mana leite e mel. Tãosomente<br />

não sejais rebel<strong>de</strong>s contra o SENHOR e não temais o<br />

povo <strong>de</strong>ssa terra, porquanto, como pão, os po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>vorar;<br />

retirou-se <strong>de</strong>les 0 seu amparo; o SENHOR é conosco; não os<br />

temais” (Números 14.8-9). A sentença divina foi proferida:<br />

nenhum <strong>de</strong> vinte anos para cima entraria na terra prometida,<br />

salvo Josué e Calebe (Números 14.29). Passaram quarenta<br />

anos no <strong>de</strong>serto <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>sobediência a Deus. Todavia, em<br />

sua infinita benignida<strong>de</strong>, Deus supriu suas necessida<strong>de</strong>s e nada<br />

faltou ao povo.<br />

Perto <strong>de</strong> on<strong>de</strong> o rio Jordão <strong>de</strong>semboca no mar Morto, Moisés<br />

reúne toda a congregação e fala-lhes longamente. Ascen<strong>de</strong>ndo<br />

ao monte Nebo contempla com seus olhos a promessa <strong>de</strong> Deus,<br />

terra que po<strong>de</strong> ver, mas não pisar. É 0 fim da penosa, mas<br />

gloriosa, caminhada do maior legislador que Israel já viu. Seu<br />

sucessor está prenunciado, por mérito: Josué.<br />

3.2 JOSUÉ<br />

Filho <strong>de</strong> Num, da tribo <strong>de</strong> Efraim, nascido no Egito, foi 0 homem escolhido por Deus para prosseguir a obra<br />

que Ele havia iniciado por meio <strong>de</strong> Moisés (Números 13.8-16; 27.18). Sua fé no Deus que os libertou do Egito<br />

motiva o povo a possuir a terra prometida, tendo à frente a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> um brilhante estrategista como Josué.<br />

Guiado por Josué, 0 povo atravessou o Jordão em época <strong>de</strong> enchente em pés secos e se <strong>de</strong>parou com as<br />

muralhas <strong>de</strong> Jericó (Josué 3.15), cida<strong>de</strong> fortemente armada e preparada para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se e impedir a penetração<br />

inimiga no interior <strong>de</strong> Canaã. Apenas pela obediência, as gran<strong>de</strong>s muralhas caíram por meio do som das buzinas<br />

que os sacerdotes tocaram (Josué 6.16). A conquista da terra exigia do povo um compromisso <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.<br />

A medida que a terra ia sendo conquistada, também ia sendo repartida entre os filhos <strong>de</strong> Jacó.<br />

Depois <strong>de</strong> conquistar Jericó, Josué enviou espias para averiguar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ai. No primeiro confronto os<br />

israelitas são <strong>de</strong>rrotados, <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> Acã (Josué 7.4-5). Ele, juntamente com sua família, foi<br />

exterminado do meio do povo (Josué 7.22-26). Com um exército <strong>de</strong> trinta mil homens Josué <strong>de</strong>u cabo dos<br />

habitantes <strong>de</strong> Betei e Ai.<br />

Após conquistar essa região, Josué voltou-se para o norte, sem qualquer oposição, até a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Siquém, cerca<br />

<strong>de</strong> 40 quilômetros ao norte <strong>de</strong> Betei. Nesse lugar Josué conduziu 0 povo numa reafirmação da aliança, conforme<br />

Moisés lhe or<strong>de</strong>nara (Josué 8.30-35; Deuteronômio 27.2-8). Anos mais tar<strong>de</strong>, bem próximo <strong>de</strong> sua morte, Josué<br />

reuniu novamente o povo <strong>de</strong> Israel nessa cida<strong>de</strong> com o intuito <strong>de</strong> exortá-lo a guardar os mandamentos <strong>de</strong> Deus e<br />

lembrá-lo <strong>de</strong> tudo que Deus tinha feito por ele (Josué 23-24). Após este evento Josué morreu e foi sepultado em<br />

sua cida<strong>de</strong>, Timnate-Sera.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 3<br />

1) Como a vida <strong>de</strong> Moisés, segundo o livro <strong>de</strong> Atos, capítulo 7, po<strong>de</strong> ser dividida?<br />

2) Quantos são os mandamentos da lei e como estão divididos?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

63


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

JUIZES<br />

3) A qual tribo pertence Josué?<br />

Enquanto Josué esteve vivo o povo se esforçou em manter-se unido, obe<strong>de</strong>cendo às cláusulas da aliança,<br />

razão central <strong>de</strong> seu triunfo. Porém, quando faleceu Josué, com a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 110 anos, levantou-se uma geração<br />

que não conheceu ao seu Deus e fez o que era mal e se inclinou e serviu aos baalins (Juizes 2.11). Isso provocou a<br />

ira <strong>de</strong> Yahweh, <strong>de</strong> forma que Ele enviou inimigos a Israel a fim <strong>de</strong> puni-lo e <strong>de</strong>spertar-lhe 0 interesse em retomar<br />

para os caminhos <strong>de</strong> Deus. Quando Israel se arrependia, Yahweh levantava juizes que li<strong>de</strong>ravam a nação, e assim<br />

experimentavam um período <strong>de</strong> paz e justo governo.<br />

Numa época marcada por crises internas e externas, em momentos <strong>de</strong> perigo surgiram lí<strong>de</strong>res que dirigiam<br />

uma ou mais tribos, salvando 0 povo das mãos dos seus inimigos (cananeus, midianitas, moabitas, amonitas,<br />

filisteus). Personagens <strong>de</strong> origem nem sempre muito relevante, mas sobre os quais <strong>de</strong>scia o Espírito do Senhor,<br />

convertendo-se em guias ou chefes que salvavam e libertavam 0 povo em momento <strong>de</strong> emergência.<br />

O livro <strong>de</strong> Juizes compreen<strong>de</strong> um período que vai do estabelecimento das tribos até a fundação da monarquia.<br />

As histórias dos juizes são diferentes umas das outras, em extensão, conteúdo e forma literária. Entre os doze<br />

juizes retratados, alguns se <strong>de</strong>stacam especialmente, e em meio a esse rol <strong>de</strong> honra há a figura <strong>de</strong> uma juíza:<br />

Débora. Ela foi uma mulher corajosa que, por causa <strong>de</strong> sua sabedoria em julgar e organizar o povo para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

suas terras, recebeu <strong>de</strong>staque na literatura hebraica.<br />

Sempre que a situação exige, surge um novo lí<strong>de</strong>r: Gi<strong>de</strong>ão, Abimeleque, Jair, Jefté, Sansão, Samuel, apontados<br />

por Deus para salvar a nação. Samuel é o último dos juizes e também profeta, é 0 primeiro juiz não-guerreiro. Em<br />

sua época, a nação quer ser dirigida por um rei, assim como ocorria com as outras nações. Ele adverte o povo:<br />

Este será o direito do rei que houver <strong>de</strong> reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos e os empregará no serviço dos<br />

seus carros e como seus cavaleiros, para que corram adiante <strong>de</strong>les; e os porá uns por capitães <strong>de</strong> mil e capitães <strong>de</strong><br />

cinqüenta; outros para lavrarem os seus campos e ceifarem as suas messes; e outros para fabricarem suas armas <strong>de</strong><br />

guerra e o aparelhamento <strong>de</strong> seus carros. Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e pa<strong>de</strong>iras. Tomará<br />

o melhor das vossas lavouras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais e o dará aos seus servidores. As vossas<br />

sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e aos seus servidores. Também tomará os vossos<br />

servos, e as vossas servas, e os vossos melhores jovens, e os vossos jumentos e os empregará no seu trabalho.<br />

Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos. Então, naquele dia, clamareis por causa do vosso rei que<br />

houver<strong>de</strong>s escolhido; mas o SENHORnão vos ouvirá naquele dia (1 Samuel 8.10-18).<br />

Não obtendo consenso, Samuel, <strong>de</strong>sgostoso, ren<strong>de</strong>-se à vonta<strong>de</strong> popular e vê ser coroado 0 primeiro rei em<br />

Israel: Saul, um benjamita que inicia sua carreira como juiz libertador. O refrão do livro dos Juizes: “Naqueles dias,<br />

não havia rei em Israel” (Juizes 17.6; 18.1; 19.1; 21.25) foi finalmente trocado pelo clamor público: “Constituinos,<br />

pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações” (1 Samuel 8.5).<br />

Saul comandou 0 exército popular <strong>de</strong> Israel contra os amonitas que ameaçavam Jabes-Gilea<strong>de</strong> (1 Samuel<br />

11.1). Ele esquartejou uma junta <strong>de</strong> bois e mandou os pedaços para as doze tribos <strong>de</strong> Israel com o seguinte recado:<br />

“Qualquer que não seguir a Saul e a Samuel, assim se fará aos seus bois. Então, caiu 0 temor do SENHOR sobre<br />

o povo, e saíram como um só homem” (1 Samuel 11.7). Todos aten<strong>de</strong>m, Jabes Gilea<strong>de</strong> é libertada e os opressores<br />

são <strong>de</strong>rrotados.<br />

64<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

Esse evento gera repercursão nacional. Pela primeira vez em vários <strong>de</strong>cênios os israelitas unidos venceram<br />

um cruel adversário, e pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Josué Israel tem um lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> respaldo nacional. Em sua monarquia<br />

ele vence os filisteus, bem como Moabe e Amon. Saul dá os primeiros passos para criar uma burocracia,<br />

escolhendo a pequena cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gilboa <strong>de</strong> Benjamim como capital. Também começa a <strong>de</strong>legar po<strong>de</strong>res auxiliares<br />

diretos, colocando seu primo Abner como comandante do exército, bem como a aumentar o pessoal <strong>de</strong> serviços<br />

diretamente ligados ao rei (1 Samuel 14.52).<br />

Por duas vezes Saul <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce à voz do homem <strong>de</strong> Deus. Na primeira vez, Samuel or<strong>de</strong>na que Saul vá a<br />

Gilgal e espere por ele sete dias para ali oferecerem holocaustos ao Senhor. Como Samuel <strong>de</strong>morou a chegar,<br />

Saul ofereceu holocaustos, numa clara <strong>de</strong>sobediência à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Samuel. Na segunda vez, Samuel or<strong>de</strong>na que<br />

Saul extermine os amalequitas, exigindo guerra total, sem saques, sem prisioneiros. Saul não obe<strong>de</strong>ce, poupando<br />

o rei e separando o melhor das ovelhas, das vacas e o melhor que havia. As conseqüências são <strong>de</strong>sastrosas, pois<br />

produz um rompimento entre 0 profeta e o rei. Quando Saul morre na batalha no monte Gilboa (1 Samuel 31),<br />

um <strong>de</strong> seus filhos, Isbosete, reina ainda por mais dois anos sobre as tribos <strong>de</strong> Israel (2 Samuel 2.8).<br />

O <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> Saul coinci<strong>de</strong> com o aparecimento e a ascensão <strong>de</strong> Davi. Samuel, sob orientação divina, vai até<br />

Belém, on<strong>de</strong> encontrou entre os filhos <strong>de</strong> Jessé o rei que Deus tinha provido (1 Samuel 16.1). O próprio Yahweh<br />

indicou claramente a sua escolha (1 Samuel 16.3). Após ser escolhido, veio sobre Davi o Espírito <strong>de</strong> Deus, enquanto<br />

na vida <strong>de</strong> Saul foi permitido que um espírito maligno o atormentasse até o dia <strong>de</strong> sua morte (1 Samuel 16.14).<br />

Davi e Salomão foram os reis mais gloriosos da história <strong>de</strong> Israel. O período <strong>de</strong> oitenta anos dos reinados<br />

<strong>de</strong> ambos é em muitos aspectos a era <strong>de</strong> ouro da longa história <strong>de</strong> Israel. Davi concluiu a conquista da terra <strong>de</strong><br />

Canaã e fundou o reino <strong>de</strong> Israel. Expulsou do país os temíveis filisteus, uniu as tribos e conquistou Jerusalém<br />

para fazer <strong>de</strong>la a se<strong>de</strong> do governo. Foi um rei poeta e escreveu muitos salmos (hinos religiosos) que se encontram<br />

na Bíblia Sagrada.<br />

Durante o reinado <strong>de</strong> Salomão (filho <strong>de</strong> Davi), Israel progrediu muito. Salomão mandou construir palácios,<br />

fortificações e 0 templo <strong>de</strong> Jerusalém. Dentro do templo ficava a Arca da Aliança, que continha as tábuas da<br />

Lei, on<strong>de</strong> estavam gravados os Dez Mandamentos que Deus tinha ditado para Moisés no monte Sinai, quando<br />

os hebreus iam do Egito para Canaã. A maioria do material usado nas construções foi importado <strong>de</strong> Tiro, na<br />

Fenícia. O dinheiro arrecadado com os impostos não era suficiente para pagar as dívidas. Para sustentar os gastos<br />

e os luxos da corte, Salomão aumentou os impostos e obrigou a população pobre a trabalhar em obras públicas.<br />

Além do mais, a cada três meses 30.000 hebreus se revezavam no trabalho das minas e das florestas da Fenícia<br />

na extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, como forma <strong>de</strong> pagamento da dívida externa <strong>de</strong> Israel com a Fenícia. Muita gente <strong>de</strong>ixou<br />

suas terras para trabalhar em suas construções.<br />

Em seu reinado, algo terrível passou a acontecer: 0 templo, que era um lugar sagrado, on<strong>de</strong> Deus manifestava<br />

sua glória, tomou-se lugar <strong>de</strong> opressão, centro do po<strong>de</strong>r econômico, político e privilégios. Sua maneira <strong>de</strong><br />

administrar <strong>de</strong>u início à divisão do reino, que será consumada no reinado <strong>de</strong> seu filho Roboão, tudo porque “ 0<br />

SENHOR se indignou contra Salomão, pois <strong>de</strong>sviara o seu coração do SENHOR, Deus <strong>de</strong> Israel, que duas vezes<br />

lhe aparecera” (1 Reis 11.9).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 4<br />

1) Qual 0 período compreendido pelo livro <strong>de</strong> Juizes?<br />

2) Cite o nome <strong>de</strong> três juizes.<br />

3) Por quantas vezes Saul <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce à voz do homem <strong>de</strong> Deus?<br />

4) O <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> Saul coinci<strong>de</strong> com 0 aparecimento <strong>de</strong> quem?<br />

5) O que começou a acontecer no reinado <strong>de</strong> Salomão?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

65


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

DIVISÃO DO REINO<br />

Normalmente há divergência entre os estudiosos sobre as datas históricas ocorridas no período da Antigüida<strong>de</strong>,<br />

uma vez que as informações não são precisas, pois a data <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado evento era fornecida a partir do<br />

reinado em vigor no momento em que ocorreu, ou <strong>de</strong> algum fenômeno natural ou fato histórico marcante.<br />

Sendo assim, as informações chegaram até os dias <strong>de</strong> hoje através <strong>de</strong> dados como: “No vigésimo sétimo ano <strong>de</strong><br />

Jeroboão, rei <strong>de</strong> Israel, começou a reinar Azarias, filho <strong>de</strong> Amazias, rei <strong>de</strong> Judá” (2 Reis 15.1).<br />

Assim, historiadores e arqueólogos construíram uma linha <strong>de</strong> tempo, datando os eventos históricos. Porém,<br />

muitos <strong>de</strong>les, ainda hoje, estão sujeitos a revisões, através <strong>de</strong> novas <strong>de</strong>scobertas históricas e arqueológicas. De<br />

qualquer modo, as datas utilizadas neste trabalho foram comparadas com várias obras distintas, na tentativa <strong>de</strong><br />

se obter a melhor informação. Em alguns casos, as obras não possuíam todas as referências utilizadas, 0 que<br />

possibilitou o mínimo <strong>de</strong> duas informações para se comparar dados.<br />

A morte <strong>de</strong> Salomão, no ano 931 a.C., abriu caminho para um dos períodos mais traumáticos e <strong>de</strong>cisivos da<br />

longa história <strong>de</strong> Israel - a divisão dos territórios conquistados em dois reinos: o Reino <strong>de</strong> Israel, estabelecido ao<br />

norte do território, constituído por <strong>de</strong>z das doze tribos israelitas sob a regência inicial <strong>de</strong> Jeroboão I; e ao sul, o<br />

Reino <strong>de</strong> Judá, formado pelas duas tribos israelitas restantes e her<strong>de</strong>iro da dinastia davídica, sob 0 comando <strong>de</strong><br />

Roboão, filho <strong>de</strong> Salomão, mantendo a linhagem real.<br />

Com a divisão, a geografia cooperou para o <strong>de</strong>senvolvimento in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cada tribo. A tribo <strong>de</strong> Judá não<br />

se comunicava com as tribos do Norte em razão da largura e profundida<strong>de</strong> do vale <strong>de</strong> Soreque, na região central<br />

<strong>de</strong> Israel. A oeste estavam os filisteus; ao sul, o perigoso <strong>de</strong>serto do Neguebe e também as populações nôma<strong>de</strong>s<br />

da região, sempre hostis aos estrangeiros; a leste, havia o mar Morto. Assim, Judá era a tribo mais isolada <strong>de</strong><br />

Israel, portanto a mais sujeita ao sentimento <strong>de</strong> não-pertinência.<br />

Salomão foi sucedido por seu filho Roboão, que reinou por <strong>de</strong>zessete anos, <strong>de</strong> 931 a 913 a.C. O perfil geral <strong>de</strong><br />

Roboão é <strong>de</strong>scrito da seguinte maneira: “Fez ele 0 que era mal, porquanto não dispôs 0 coração para buscar ao<br />

SENHOR” (2 Crônicas 12.14). O escritor sagrado indica que Roboão e seus compatriotas atingiram o mais baixo<br />

grau <strong>de</strong> comportamento idólatra. Estabeleceram lugares altos e postes-ídolos <strong>de</strong> Aserá, além <strong>de</strong> se envolverem<br />

em rituais <strong>de</strong> prostituição sodomita.


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

O povo das <strong>de</strong>z tribos aclamou Jeroboão como monarca do recém-formado reino. O rei imediatamente<br />

estabeleceu sua capital em Siquém, uma localida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada santa por todos os habitantes <strong>de</strong> Israel. O novo<br />

rei estabelecido havia recebido a promessa <strong>de</strong> uma dinastia eterna caso permanecesse fiel ao Senhor (1 Reis<br />

11.38). Entretanto, se a situação religiosa <strong>de</strong> Judá era má, em Israel tomou-se pior. Jeroboão mandou estabelecer<br />

santuários em Betei e Dã, tomando essas cida<strong>de</strong>s centros <strong>de</strong> adoração pagã. Assim, seu reino se tomou o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> iniqüida<strong>de</strong> para sempre, com 0 qual os futuros reis malignos <strong>de</strong> Israel seriam comparados (1 Reis 16.2, 3, 19).<br />

Jeroboão violou os mandamentos <strong>de</strong> Deus e a aliança com Yahweh, seguindo outros <strong>de</strong>uses e rejeitando 0 Deus<br />

<strong>de</strong> Israel. Portanto, Yahweh findaria a dinastia <strong>de</strong> Jeroboão rapidamente e transportaria Israel para além do rio<br />

Eufrates, em conseqüência <strong>de</strong> seus pecados.<br />

Em várias ocasiões os dois reinos lutaram entre si competindo pelo controle da região. Porém, os laços da<br />

tradição antepassada eram mais fortes, fato que os manteve unidos, muitas vezes em ocasiões <strong>de</strong> perigo (1 Reis<br />

14.30). Uma diferença marcante entre ambos os reinos foi a perpetuação no sul <strong>de</strong> uma única dinastia, a davídica,<br />

enquanto no norte se levantaram cinco diferentes dinastias no curto período <strong>de</strong> 210 anos.<br />

Esse fenômeno se <strong>de</strong>u por causa do papel religioso <strong>de</strong>sempenhado pelos reis da dinastia davídica, 0 que levou<br />

a uma associação entre 0 javismo, religião dos israelitas antes do exílio na Babilônia, cuja conseqüência posterior<br />

foi a esperança messiânica do período pós-exílico.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 5<br />

1) O que aconteceu após a morte <strong>de</strong> Salomão?<br />

2) Como é <strong>de</strong>scrito 0 perfil geral <strong>de</strong> Roboão?<br />

3) Quem foi aclamado rei da tribo do Norte?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

67


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

O SURGIMENTO DA ASSÍRIA<br />

Famosos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos antigos pela cruelda<strong>de</strong> e pelo talento guerreiro, os assírios também se <strong>de</strong>stacaram<br />

pela habilida<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e edifícios monumentais, como atestam as ruínas encontradas<br />

em Nínive, Assur e Nimrud. Estabelecido no norte da Mesopotâmia, 0 império assírio foi uma das civilizações<br />

mais importantes do Oriente Médio. Os primeiros povoadores conhecidos da região eram nôma<strong>de</strong>s semitas<br />

que começaram a levar vida se<strong>de</strong>ntária ao longo do IV milênio a.C. Alguns dados atestam a formação, a partir<br />

do século XIX a.C., <strong>de</strong> um pequeno estado assírio, que mantinha relações comerciais com o império hitita. No<br />

século XV a.C., <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> longo período <strong>de</strong> submissão ao império da Suméria, o estado assírio, com capital em<br />

Assur, começou a tomar-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e a se esten<strong>de</strong>r. Puzur-Assur <strong>II</strong>I foi o primeiro monarca que, livre da<br />

opressão suméria, empreen<strong>de</strong>u a expansão do reino. Graças ao apogeu comercial, os assírios pu<strong>de</strong>ram lançarse,<br />

sob 0 reinado <strong>de</strong> Shamshi-Adad I (1813-1781 a.C., aproximadamente), às conquistas que tanta glória lhes<br />

trouxeram. O soberano concentrou esforços na construção <strong>de</strong> um estado centralizado, segundo 0 mo<strong>de</strong>lo da<br />

po<strong>de</strong>rosa Babilônia. Suas conquistas se esten<strong>de</strong>ram aos vales médios do Tigre e do Eufrates e ao norte da<br />

Mesopotâmia, mas foram barradas em Alepo, na Síria. Morto 0 rei, seus filhos não pu<strong>de</strong>ram manter 0 império<br />

em virtu<strong>de</strong> dos constantes ataques <strong>de</strong> outros povos e dos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência dos súditos. A Assíria caiu<br />

sob o domínio do reino <strong>de</strong> Mitani, do qual se libertou em meados do século XIV a.C. O rei Assur-Ubalit I (1365-<br />

1330) foi consi<strong>de</strong>rado pelos sucessores 0 fundador do império assírio, também conhecido como império médio.<br />

Para consolidar seu po<strong>de</strong>r, estabeleceu relações com o Egito e interveio nos assuntos internos da Babilônia,<br />

casando sua filha com o rei <strong>de</strong>sse estado. Depois <strong>de</strong> seu reinado, a Assíria atravessou uma fase <strong>de</strong> conflitos<br />

bélicos com hititas e babilônios, que se prolongou até 0 fim do século X<strong>II</strong>I a.C. Quem afinal conseguiu imporse<br />

foi Salmanasar I (1274-1245), que <strong>de</strong>volveu ao estado assírio 0 po<strong>de</strong>r perdido. Esse monarca esten<strong>de</strong>u sua<br />

influência até Urartu (Armênia), apoiado num exército eficaz que conseguiu arrebatar da Babilônia suas rotas<br />

e pontos comerciais. Sob o reinado <strong>de</strong> Tukulti-Ninurta I (1245-1208) 0 império médio alcançou seu máximo<br />

po<strong>de</strong>rio. A mais importante façanha do período foi a incorporação da Babilônia, que ficou sob a administração<br />

<strong>de</strong> governadores <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do rei assírio. Com as conquistas, 0 império se esten<strong>de</strong>u da Síria ao Golfo Pérsico.<br />

Depois da morte <strong>de</strong>sse rei, 0 po<strong>de</strong>r assírio <strong>de</strong>caiu em benefício da Babilônia. Passado um período <strong>de</strong> lutas contra<br />

os invasores hurritas e mitânios, a Assíria ressurgiu, no fim do século X<strong>II</strong> a.C., com Tiglate-Pileser I (1115-1077),<br />

que venceu a Babilônia numa campanha terrivelmente dura. Após sua morte, a Assíria sofreu o domínio dos<br />

arameus, do qual não conseguiu libertar-se até que Ada<strong>de</strong>-Ninari <strong>II</strong> (911-891) fez sua primeira campanha militar<br />

para o oeste, na direção do Eufrates superior, pondo fim às tribos dos arameus e outras pequenas tribos.<br />

O sucessor <strong>de</strong> Ada<strong>de</strong>-Nirari, Tukulti-Ninurta <strong>II</strong> (890-884), continuou a política <strong>de</strong> seu antecessor, <strong>de</strong> criar<br />

um império assírio. Ele <strong>de</strong>volveu à Assíria a antiga gran<strong>de</strong>za e submeteu a zona <strong>de</strong> influência dos arameus, no<br />

Eufrates médio, porém sua carreira foi bruscamente interrompida. Suce<strong>de</strong>u-lhe Assur-Nasirpal <strong>II</strong> (883-859), o<br />

mais <strong>de</strong>sumano dos reis assírios, que preten<strong>de</strong>u reconstruir o império <strong>de</strong> Tiglate-Pileser I e impôs sua autorida<strong>de</strong><br />

com inusitada violência. Foi 0 primeiro rei assírio a utilizar carros <strong>de</strong> guerra e unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cavalaria combinadas<br />

com a infantaria. Seu filho Salmanasar <strong>II</strong>I (858-824), conquistador da Síria e região, foi igualmente cruel. O<br />

último gran<strong>de</strong> império assírio iniciou-se com Tiglate-Pileser <strong>II</strong>I (746-727), que dominou <strong>de</strong>finitivamente a<br />

Mesopotâmia. Sua ambição sem limites o levou a esten<strong>de</strong>r 0 império até 0 reino da Judéia, a Síria e 0 Urartu.<br />

Salmanasar IV e Salmanasar V mantiveram 0 po<strong>de</strong>rio da Assíria, que anexou a região da Palestina durante<br />

o reinado <strong>de</strong> Sargão <strong>II</strong> (721-705). O filho <strong>de</strong>ste, Senaqueribe (704-681), teve que enfrentar revoltas internas,<br />

principalmente na Babilônia, centro religioso do império que foi arrasado por suas tropas.<br />

68<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

Império Assírio 4<br />

Com Assurbanipal, a Assíria tomou-se o centro militar e cultural do mundo. Depois <strong>de</strong> sua morte, 0 império<br />

<strong>de</strong>caiu e nunca mais recuperou o esplendor. Fruto das múltiplas relações com outros povos, a civilização assíria<br />

alcançou elevado grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Entre as preocupações científicas dos assírios <strong>de</strong>stacou-se a astronomia:<br />

estabeleceram a posição dos planetas e das estrelas e estudaram a Lua e seus movimentos. Na matemática alcançaram<br />

alto nível <strong>de</strong> conhecimentos, comparável ao que posteriormente se verificaria na Grécia clássica. O espírito militar<br />

e guerreiro dos assírios se reflete em suas manifestações artísticas, principalmente nos relevos que <strong>de</strong>coram as<br />

monumentais construções arquitetônicas. Representam sobretudo cenas bélicas e <strong>de</strong> caça, em que as figuras <strong>de</strong><br />

animais ocupam lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, como no relevo “A leoa ferida”. Também cultivaram a escultura em marfim, na<br />

qual foram gran<strong>de</strong>s mestres, como se constata nos painéis <strong>de</strong> Nimrud, que sobreviveram à ma<strong>de</strong>ira dos móveis em<br />

que eram originariamente incrustados. A religião assíria manteve as ancestrais tradições mesopotâmicas, embora<br />

tenha sofrido a introdução <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>uses e mitos. A eterna rivalida<strong>de</strong> entre assírios e babilônios chegou à religião<br />

com a disputa pela prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong> seus gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>uses, 0 assírio Assur e o babilônio Marduk. O império assírio<br />

sucumbiu ao ataque combinado <strong>de</strong> medos e babilônios. Sob as ruínas <strong>de</strong> uma esplêndida civilização, ficou a trágica<br />

lembrança <strong>de</strong> suas impiedosas conquistas e da ilimitada ambição <strong>de</strong> seus reis.<br />

6.1 QUEDADO REINO DO NORTE<br />

O Reino do Norte lutou em várias ocasiões contra 0 domínio assírio travando alianças com outros reinos,<br />

como, por exemplo, com o Egito, e formando uma liga <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s que enfrentava essa potência. Em 723 a.C.,<br />

os lí<strong>de</strong>res do norte tentaram <strong>de</strong> algum modo forçar o Reino <strong>de</strong> Judá a firmar acordos <strong>de</strong> aliança contra a Assíria,<br />

ameaçando inclusive efetuarem uma troca dinástica. Desesperado, Acaz (732-716 a.C.), governante <strong>de</strong> Judá<br />

naquela ocasião, pediu auxílio à Assíria contra essa intervenção vinda do Reino do Norte, o que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a<br />

tomada da região pelo exército assírio. Em 732 a.C. a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Damasco e a Galiléia foram sitiadas, restando ao<br />

Reino <strong>de</strong> Israel submeter-se ao controle estrangeiro.<br />

Nessa região a migração forçada <strong>de</strong> colonos estrangeiros não foi comprovada, porém é certa a formação <strong>de</strong><br />

uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica através da mistura dos assírios com a população local. A perda, nessa ocasião, <strong>de</strong><br />

4 Imagem obtida em http://www.internext.com.br/valois/pena/1274ac.htm.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

cerca <strong>de</strong> dois terços <strong>de</strong> seu território fez com que restasse ao povo do Reino do Norte aproximadamente apenas<br />

as montanhas <strong>de</strong> Efraim, com a capital em Samaria. O rei Oséias (731-723 a.C.), <strong>de</strong> Israel, entronado sob a<br />

concordância <strong>de</strong> Tiglate-Pileser <strong>II</strong>I, não se conformando com a perda territorial e <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, pediu auxílio<br />

ao Egito, que lhe prometera enviar reforços militares, que nunca chegaram. De qualquer modo, os anos que se<br />

seguiram foram marcados pela esperança <strong>de</strong> libertação. Porém, em 722 a.C., o Reino do Norte foi <strong>de</strong>finitivamente<br />

conquistado por Salmanasar V (726-722 a.C.), ocorrendo a consolidação assíria com Sargão <strong>II</strong> (722/1-705 a.C.).<br />

Samaria foi repovoada por colonos estrangeiros e a população <strong>de</strong>portada por todo o império.<br />

6.2 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO NORTE 5<br />

Nome Data Duração<br />

Jeroboão 1 931-909 22 anos<br />

Nadabe 910-908 2 anos<br />

Baasa 909-886 24 anos<br />

Elá 886-885 2 anos<br />

Zinri 885-- 7 dias<br />

Onri 885/4-874 12 anos<br />

Acabe 874-853 22 anos<br />

Acazias 853-852 2 anos<br />

Jorão 852-841 12 anos<br />

Jeú 841-814 28 anos<br />

Jeoacaz 814-798 17 anos<br />

Jeoás 798-782 16 anos<br />

Jeroboão <strong>II</strong> 782-753 29 anos<br />

Zacarias 753-752 6 meses<br />

Salum 752-- 1 mês<br />

Menaém 752-742 10 anos<br />

Peca 742/1-740 2 anos<br />

Peca 740-732 8 anos<br />

Oséias 731-723 9 anos<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 6<br />

1) Por que a Assíria ficou famosa?<br />

2) Quem foi o primeiro rei assírio a utilizar carros <strong>de</strong> guerra e unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cavalaria combinadas com a<br />

infantaria?<br />

3) O que ocorreu em 722 a.C.?<br />

5 Todas as datas foram tiradas do: M anual bíblico Halley. São Paulo: Vida Nova, 1994. p. 180-181.<br />

70<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

0 REINO DO SUL<br />

Nesse período o Reino <strong>de</strong> Judá era governado por Ezequias (716-697 a.C.), cujo reinado foi marcado pela paz<br />

e prosperida<strong>de</strong>, uma vez que não se envolveu com as questões assírias. Seu sucessor, Manassés (686-642 a.C.),<br />

sentiu mais fortemente 0 jugo assírio, uma vez que auxiliou essa nação na luta contra 0 Egito, sendo fiel vassalo<br />

<strong>de</strong> Assurbanipal (669-630? a.C.).<br />

Durante 0 final do reinado <strong>de</strong> Assurbanipal, 0 controle sobre as províncias mais distantes já havia<br />

diminuído, fato que permitiu a in<strong>de</strong>pendência da província da Babilônia e conseqüentemente a fundação<br />

do império neobabilônico por Nabopolassar (626-605 a.C.), além <strong>de</strong> uma política mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte sob<br />

Josias (640-609 a.C.) em Judá. Esse rei promoveu um crescimento econômico e uma expansão territorial que<br />

somente foi possível <strong>de</strong>vido ao contexto assírio. Sua morte causou abalos na sucessão real, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando<br />

uma instabilida<strong>de</strong> política.<br />

Nos dias <strong>de</strong> Josias (640-609), subiu Faraó-Neco, rei do Egito, contra 0 rei da Assíria, ao rio Eufrates; e<br />

tendo saído contra ele o rei Josias, Neco 0 matou, em Megido, no primeiro encontro. De Megido, os seus<br />

servos 0 levaram morto e, num carro, 0 transportaram para Jerusalém, on<strong>de</strong> o sepultaram no seu jazigo. O<br />

povo da terra tomou a Jeoacaz (609-?), filho <strong>de</strong> Josias, e o ungiu e o fez rei em lugar <strong>de</strong> seu pai. Entretanto,<br />

Faraó-Neco 0 mandou pren<strong>de</strong>r em Ribla, na terra <strong>de</strong> Hamate, para que não reinasse em Jerusalém; e impôs<br />

à terra a pena <strong>de</strong> cem talentos <strong>de</strong> prata e um <strong>de</strong> ouro. Também constituiu rei a Eliaquim, filho <strong>de</strong> Josias, em<br />

lugar <strong>de</strong> seu pai, e lhe mudou o nome para Jeoaquim (609-597); porém levou consigo para o Egito a Jeoacaz,<br />

que ali morreu (2 Reis 23.29-33).<br />

Nos dias <strong>de</strong> Jeoaquim, em 605 a.C., subiu Nabucodonosor, rei da Babilônia, contra ele, que por três anos<br />

ficou seu servo, porém <strong>de</strong>sse confronto ele levou alguns ju<strong>de</strong>us para a Babilônia como cativos, entre os quais 0<br />

profeta Daniel. Algum tempo <strong>de</strong>pois se rebelou contra Nabucodonosor, mas quem irá sofrer com esta atitu<strong>de</strong> é<br />

seu filho. Morreu Jeoaquim, e Joaquim (597 -?), seu filho, reinou em seu lugar. Mal terminaram os festejos <strong>de</strong><br />

sua coroação, chega a Jerusalém a notícia da aproximação <strong>de</strong> Nabucodonosor à frente <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>roso exército.<br />

Joaquim, com apenas <strong>de</strong>zoito anos, rei somente por alguns meses, or<strong>de</strong>na a abertura dos portões da cida<strong>de</strong> e<br />

coloca-se à mercê do rei da Babilônia, juntamente com a família real.<br />

Mesmo com tamanha atitu<strong>de</strong>, Nabucodonosor é extremamente severo: o templo é <strong>de</strong>spojado <strong>de</strong> todos os seus<br />

valores, Joaquim é levado acorrentado para a Babilônia, juntamente com seus ministros, sacerdotes e os mais<br />

graduados funcionários civis e militares, bem como milhares <strong>de</strong> artesãos e artífices, entre os quais se encontrava<br />

0 profeta Ezequiel. Era 0 ano <strong>de</strong> 597, o primeiro exílio.<br />

Nabucodonosor concorda com a preservação da dinastia davídica e indica para ocupar o trono o “tio paterno<br />

<strong>de</strong>ste, Matanias, <strong>de</strong> quem mudou 0 nome para Ze<strong>de</strong>quias” (2 Reis 24.17).<br />

Ze<strong>de</strong>quias (597-587 a.C.) foi entronado por Nabucodonosor, tomando-se 0 regente <strong>de</strong> Judá, sendo o seu<br />

governo bastante complicado, uma vez que a população respeitava a autorida<strong>de</strong> do rei no exílio, não se submetendo<br />

à sua autorida<strong>de</strong>, que se encontrava sob pressão externa.<br />

Em 595 a.C. uma rebelião na Babilônia <strong>de</strong>spertou as esperanças <strong>de</strong> libertação dos cativos, porém esta não ocorreu.<br />

No ano seguinte, a presença babilônica na região foi reforçada. O rei Ze<strong>de</strong>quias encontrava-se em uma situação<br />

<strong>de</strong>licada, realizando um jogo duplo ao manter a sua vassalagem com a Babilônia e, ao mesmo tempo, auxiliando 0<br />

Egito em sua luta contra o domínio etíope, através do envio <strong>de</strong> seus homens para lutar na guerra. Esse fato culminou<br />

na invasão <strong>de</strong> Jerusalém pela Babilônia em 587 a.C., tendo a cida<strong>de</strong> resistido até o verão <strong>de</strong> 586 a.C.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

ו‎7‎


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

A cida<strong>de</strong> santa fica abarrotada <strong>de</strong> refugiados. Se<strong>de</strong>, fome. doenças e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m reinam na cida<strong>de</strong>. O profeta<br />

Jeremias traz o veredicto divino: “Portanto assim diz o Senhor: Eis que eu entrego esta cida<strong>de</strong> nas mãos <strong>de</strong><br />

Nabucodonosor, rei da Babilônia; e ele tomá-la-á” (Jeremias 32.28). Acusado <strong>de</strong> traição, ele é encarcerado, mas<br />

Ze<strong>de</strong>quias manda pô-lo em liberda<strong>de</strong>. Pren<strong>de</strong>-0 novamente, pois não cessa <strong>de</strong> pregar a submissão aos cal<strong>de</strong>us.<br />

Após meses <strong>de</strong> tenaz resistência, <strong>de</strong>bilitada, Jerusalém não resiste à pressão. Ze<strong>de</strong>quias, acompanhado <strong>de</strong><br />

uma forte escolta, tenta escapar, mas nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jericó toda a comitiva é capturada e levada ao rei<br />

da Babilônia. Sua sentença é severa. Seus filhos são <strong>de</strong>capitados ante suas vistas, e em seguida tem seus olhos<br />

vazados. Cego e acorrentado, é conduzido para a Babilônia, on<strong>de</strong> fica encarcerado até sua morte. No dia 9 <strong>de</strong>^v<br />

(586) cai Jerusalém. As muralhas da cida<strong>de</strong> são niveladas, 0 palácio real é incendiado, os objetos <strong>de</strong> culto <strong>de</strong> ouro<br />

e <strong>de</strong> bronze do Templo são <strong>de</strong>smantelados e levados para a Babilônia.<br />

O controle babilônico na região durou cerca <strong>de</strong> cinqüenta anos, tempo que possibilitou o surgimento, do outro<br />

lado do território, no planalto iraniano, <strong>de</strong> um novo reino sob a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Ciro.<br />

7.1 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO SUL6<br />

Nome Data Duração<br />

Roboão 931-913 17 anos<br />

Abias 913-911 3 anos<br />

Asa 911-870 41 anos<br />

Josafá 870-848 23 anos<br />

Jorão 848-841 8 anos<br />

Acazias 841-- 1 ano<br />

Atalia 841-835 6 anos<br />

Joás 835-796 40 anos<br />

Amazias 796-767 29 anos<br />

Uzias 767-740 52 anos<br />

Jotão 740-732 16 anos<br />

Acaz 732-716 16 anos<br />

Ezequias 716-687 29 anos<br />

Manassés 686-642 55 anos<br />

Amom 642-640 2 anos<br />

Josias 640-609 31 anos<br />

Jeoacaz 609-- 3 meses<br />

Jeoaquim 609-597 11 anos<br />

Joaquim 597-- 3 meses<br />

Ze<strong>de</strong>quias 597-587 11 anos<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 7<br />

1) Quem matou o rei Josias e on<strong>de</strong>?<br />

2) Quando o profeta Daniel foi levado para a Babilônia?<br />

‘ Todas as datas foram tiradas do M anual bíblico Halley. São Paulo: Vida Nova, 1994. p. 180-181.<br />

72<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

IMPÉRIO MEDO-PERSA<br />

3) Em que ano ocorreu o primeiro exílio?<br />

A civilização persa conheceu gran<strong>de</strong> esplendor com a dinastia aquemênida, que manteve longa disputa com<br />

as cida<strong>de</strong>s gregas pela hegemonia na Anatólia e no Mediterrâneo oriental. O território central da civilização persa<br />

foi 0 planalto do Irã, entre 0 mar Cáspio e 0 Golfo Pérsico, um dos gran<strong>de</strong>s focos <strong>de</strong> civilização do rio Indo e da<br />

Mesopotâmia. Segundo Heródoto e outros historiadores gregos da antiguida<strong>de</strong>, o nome Pérsia <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> Perseu,<br />

antepassado mitológico dos soberanos daquela região. Des<strong>de</strong> tempos ancestrais, sucessivos grupos étnicos<br />

estabeleceram-se na região. Ao longo do terceiro e do segundo milênio anteriores à era cristã foram formados<br />

os reinos dos guti, dos cassitas e dos elamitas, entre outros. No segundo milênio surgiram também as primeiras<br />

tribos indo-européias, provavelmente originárias das planícies do sul da Rússia, e no início do primeiro milênio<br />

ocorreu a segunda chegada <strong>de</strong> povos indo-europeus proce<strong>de</strong>ntes da Transoxiana e do Cáucaso, entre os quais<br />

estavam os medos e os persas. Os dois grupos são mencionados pela primeira vez em inscrições da época do rei<br />

assírio Salmanasar <strong>II</strong>I, por volta do ano 835 a.C. Entre os séculos IX e V<strong>II</strong> a.C. ocorreu 0 estabelecimento, em<br />

solo iraniano, <strong>de</strong> povos citas chegados através do Cáucaso. Acredita-se que os citas já tivessem se diluído entre os<br />

povos árias quando surgiu a figura <strong>de</strong> Ciaxares, que levou os medos ao auge <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>rio. Rei dos medos entre<br />

625 e 585 a.C., Ciaxares reorganizou o exército - com a adoção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arqueiros montados - e, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> unir suas forças às da Babilônia, enfrentou o po<strong>de</strong>r hegemônico da região, o da Assíria, cuja capital, Nínive, foi<br />

<strong>de</strong>struída em 612. Medos e babilônios dividiram entre si 0 império assírio. Astíages, que reinou <strong>de</strong> 585 a 550 a.C.<br />

herdou do pai um extenso domínio, que compreendia a planície do Irã e gran<strong>de</strong> parte da Anatólia.<br />

O rei persa Ciro, o Gran<strong>de</strong>, da dinastia aquemênida, rebelou-se contra a hegemonia do império medo e em<br />

550 a.C., <strong>de</strong>rrotou Astíages, apo<strong>de</strong>rou-se <strong>de</strong> todo o país e em seguida empreen<strong>de</strong>u a expansão <strong>de</strong> seus domínios.<br />

A parte oci<strong>de</strong>ntal da Anatólia era ocupada pelo reino da Lídia, ao qual estavam submetidas as colônias gregas<br />

da costa da Anatólia. Uma hábil campanha do soberano persa, que enganou o rei lídio Croesus com uma falsa<br />

operação <strong>de</strong> retirada, teve como resultado sua captura, em 546 a.C. A ocupação da Lídia se completou mais tar<strong>de</strong><br />

com a tomada das cida<strong>de</strong>s gregas, as quais, à exceção <strong>de</strong> Mileto, resistiram durante vários anos. A ambição <strong>de</strong><br />

Ciro voltou-se então para a conquista da Babilônia, a po<strong>de</strong>rosa cida<strong>de</strong> que dominava a Mesopotâmia. Ciro tirou<br />

proveito da impopularida<strong>de</strong> do rei babilônio Nabonido, apresentou-se como eleito pelos <strong>de</strong>uses da cida<strong>de</strong> para<br />

reger seu <strong>de</strong>stino e, apoiado pela casta sacerdotal, dominou-a facilmente em 539 a.C. Suce<strong>de</strong>u a Ciro, o Gran<strong>de</strong>,<br />

seu filho Cambises <strong>II</strong>, que em seu reinado, <strong>de</strong> 529 a 522 a.C., empreen<strong>de</strong>u a conquista do Egito, então governado<br />

pelo faraó Ahmés <strong>II</strong>, da XXVI dinastia. Ahmés tentou <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r suas fronteiras com a ajuda <strong>de</strong> mercenários<br />

gregos, mas, traído por estes, abriu as portas do Egito a Cambises, que cruzou o Sinai e <strong>de</strong>stroçou o exército <strong>de</strong><br />

Psamético <strong>II</strong>I, sucessor <strong>de</strong> Ahmés, na batalha <strong>de</strong> Pelusa. A capital egípcia, Mênfis, caiu em po<strong>de</strong>r dos persas, e<br />

o faraó foi aprisionado e <strong>de</strong>portado. Do Egito, Cambises tentou levar a cabo a conquista <strong>de</strong> Cartago, o po<strong>de</strong>roso<br />

império comercial do Mediterrâneo oci<strong>de</strong>ntal, mas a frota fenícia negou-se a colaborar com a campanha, 0 que a<br />

inviabilizou. Ao retomar <strong>de</strong> uma vitoriosa expedição à Núbia, o exército persa foi dizimado pela fome. Enquanto<br />

isso, um impostor, fazendo-se passar por irmão <strong>de</strong> Cambises, apo<strong>de</strong>rou-se da parte oriental do império. Cambises<br />

morreu quando <strong>de</strong>scia o Nilo com 0 restante <strong>de</strong> suas tropas. Um conselho <strong>de</strong> nobres persas <strong>de</strong>cidiu reconhecer<br />

como her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Cambises um príncipe da casa real, Dario, que se distinguira como general dos exércitos<br />

imperiais por mais <strong>de</strong> um ano. Dario I reinou entre 522 e 486 a.C. Os esforços para consolidar-se no trono<br />

ocuparam o novo “rei dos reis”, que soube manejar habilmente 0 castigo e 0 perdão, até que as forças inimigas<br />

foram dizimadas em todo o império. Tão logo se livrou <strong>de</strong> seus adversários, Dario prosseguiu com a política <strong>de</strong><br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

73


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

expansão e incorporou a seus domínios gran<strong>de</strong>s territórios do noroeste do subcontinente indiano (mais tar<strong>de</strong> o<br />

Paquistão). Depois, as tropas persas tentaram, com pouco êxito, estabelecer 0 controle das terras litorâneas do<br />

mar Negro, para opor obstáculo ao comércio grego. Em 500 a.C. as colônias helênicas da Anatólia se rebelaram<br />

contra a autorida<strong>de</strong> imperial, apoiadas por Atenas. A reação tardou vários anos, mas <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>rrota da frota<br />

grega em Mileto o exército persa recuperou todas as cida<strong>de</strong>s rebel<strong>de</strong>s. Quando, no entanto, o imperador persa<br />

tentou tomar as cida<strong>de</strong>s da Grécia européia, sofreu a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Maratona, em setembro <strong>de</strong> 490 a.C. Dario<br />

começou a recrutar um enorme exército para dominar a Grécia, mas morreu em 486, ao tempo em que a rebelião<br />

do Egito proporcionava iim rennn.sn ans helênicos<br />

E U · O P A<br />

Império Persa 7<br />

As principais ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Dario I à frente do império persa foram as <strong>de</strong> organização e legislação. Dividiu<br />

0 império em satrapias (províncias), a cada uma das quais fixou um tributo anual. Para <strong>de</strong>senvolver 0 comércio,<br />

unificou a moeda e os sistemas <strong>de</strong> medidas, construiu estradas e explorou novas rotas marítimas. Respeitou as<br />

religiões locais e parece ter, ele mesmo, introduzido o zoroastrismo como religião estatal. Deslocou a capital para<br />

Susã e construiu um palácio em Persépolis.<br />

O exército persa, antes formado mediante recrutamento em tempo <strong>de</strong> guerra, foi reorganizado por Ciro e<br />

<strong>de</strong>pois por Dario, que criaram um exército profissional e permanente, só reforçado por recrutamento geral em<br />

caso <strong>de</strong> guerra. A elite do exército profissional era constituída pelos “<strong>de</strong>z mil imortais”, guerreiros persas ou<br />

medos, dos quais mil integravam a guarda pessoal do imperador.<br />

Entre 485 e 465 a.C., foi imperador Xerxes, filho <strong>de</strong> Dario I, que reprimiu duramente a revolta que abalou o<br />

Egito no momento em que subiu ao trono e abandonou a atitu<strong>de</strong> respeitosa <strong>de</strong> seu pai diante dos costumes das<br />

províncias. Nova revolta, na Babilônia, foi dominada em 482 a.C. Conseguida a pacificação do império, o exército<br />

<strong>de</strong> Xerxes invadiu a Grécia dois anos mais tar<strong>de</strong>. Depois <strong>de</strong> vencerem a resistência grega nas Termópilas, os<br />

persas tomaram e incendiaram Atenas, mas foram <strong>de</strong>rrotados na batalha naval <strong>de</strong> Salamina. A <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Platéias,<br />

em 479 a.C., conduziu ao abandono da Grécia pelas tropas persas. O próprio imperador per<strong>de</strong>u 0 interesse por<br />

novas conquistas e <strong>de</strong>dicou-se à vida palaciana nas capitais do império até 465 a.C., quando foi assassinado.<br />

Artaxerxes I, imperador <strong>de</strong> 465 a 425 a.C., teve que enfrentar uma nova rebelião no Egito, que levou cinco anos<br />

para ser dominada. Depois do breve reinado <strong>de</strong> Xerxes <strong>II</strong>, que governou <strong>de</strong> 425 a 424 a.C., subiu ao po<strong>de</strong>r Dario<br />

7 Imagem obtida em http://www.internext.com.br/valois/pena/1274ac.htm.<br />

7k<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MODULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

<strong>II</strong>, ocasião em que os governadores da Anatólia souberam aproveitar habilmente a rivalida<strong>de</strong> entre Esparta e<br />

Atenas. Nas guerras do Peloponeso, inicialmente a Pérsia ajudou Atenas, mas <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>sastrosa campanha<br />

ateniense contra a Sicilia, o império aquemênida contribuiu para 0 triunfo final <strong>de</strong> Esparta. Artaxerxes <strong>II</strong> reinou<br />

<strong>de</strong> 404 a 359 a.C. e manteve a política <strong>de</strong> dividir as cida<strong>de</strong>s gregas. Uma revolta levou à in<strong>de</strong>pendência do Egito,<br />

e o império começou a se <strong>de</strong>bilitar.<br />

No ano 401 a.C., pela primeira vez uma força militar grega intemou-se no centro do império persa. Dez mil<br />

mercenários, sob o comando <strong>de</strong> Xenofonte, <strong>de</strong>ram apoio a Ciro, o Jovem, que se rebelara contra Artaxerxes <strong>II</strong>.<br />

Depois da <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Cunaxa, tiveram <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r uma longa retirada, narrada por Xenofonte em Anabasis,<br />

até voltarem a sua pátria. Durante seu reinado, <strong>de</strong> 359 a 338 a.C., Artaxerxes <strong>II</strong>I conseguiu reconquistar o Egito,<br />

o que levou 0 faraó a fugir para a Núbia. Enquanto isso, uma nova potência, a Macedonia, surgia nas fronteiras<br />

oci<strong>de</strong>ntais do império. Seu rei, Filipe <strong>II</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotar os gregos em Queronéia, em 339 a.C., conseguiu<br />

manter toda a Grécia sob sua hegemonia. Concluído 0 curto reinado <strong>de</strong> Arses (<strong>de</strong> 338 a 336 a.C.), subiu ao po<strong>de</strong>r<br />

o último rei aquemênida, Dario <strong>II</strong>I (336 a 330 a.C.). A batalha <strong>de</strong> Granico, em maio <strong>de</strong> 334, pôs o império persa<br />

em mãos do filho <strong>de</strong> Filipe, Alexandre, o Gran<strong>de</strong>. Dario <strong>II</strong>I foi assassinado pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fugir <strong>de</strong> Persépolis.<br />

A formação e o <strong>de</strong>senvolvimento do império aquemênida significaram a criação <strong>de</strong> um vasto espaço político no<br />

mundo, no qual reinou uma tolerância até então <strong>de</strong>sconhecida. Os impérios anteriores - 0 egípcio, 0 babilônio, o<br />

assírio - tinham uma visão política muito mais localista. O império aquemênida foi precursor, em certa medida,<br />

dos sonhos universalistas <strong>de</strong> Alexandre e <strong>de</strong> Roma. Graças a sua tolerância, teve lugar nele, e a partir <strong>de</strong>le, uma<br />

fermentação filosófica, científica, econômica e religiosa <strong>de</strong> vastas conseqüências no mundo antigo.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 8<br />

1) De on<strong>de</strong> <strong>de</strong>riva o nome Pérsia?<br />

2) Quem dividiu o gran<strong>de</strong> império persa em satrapias?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

75


0 RETORNO DO CATIVEIRO<br />

O exército <strong>de</strong> Ciro entrou vitorioso pelo portão da capital babilônica, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Babel, sendo Ciro coroado rei<br />

pela população. A política <strong>de</strong>sse novo governo foi <strong>de</strong> diplomacia com a população conquistada, o que levou a uma<br />

fácil aceitação <strong>de</strong> sua presença no reino como soberano. Ele inverte a política <strong>de</strong> <strong>de</strong>portação adotada tanto pelo império<br />

assírio como pelo babilônico, permitindo que os ju<strong>de</strong>us retomassem à Palestina para reconstruir a Casa <strong>de</strong> Deus.<br />

O Templo fora <strong>de</strong>struído 470 anos, seis meses e <strong>de</strong>z dias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua construção; 1.602 anos, seis meses e <strong>de</strong>z<br />

‏’׳.‏Dilüvio dias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a saída do Egito; 1.950 anos, seis meses e <strong>de</strong>z dias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

Esse soberano, ao ler nas profecias <strong>de</strong> Isaías (Isaías 44.28), escrita 210 anos antes que ele tivesse nascido e<br />

140 antes da <strong>de</strong>struição do Templo, que Deus 0 constituiria rei sobre várias nações e inspirar-lhe-ia a resolução <strong>de</strong><br />

fazer o povo voltar a Jerusalém para reconstruir 0 Templo, ficou tão admirado que, <strong>de</strong>sejando realizá-la, mandou<br />

reunir na Babilônia os principais dos ju<strong>de</strong>us e disse-lhes que lhes permitia voltar ao seu país e reconstruir a Casa<br />

do SENHOR, Deus <strong>de</strong> Israel (Esdras 1.1-5).<br />

Assim, cumprida a profecia <strong>de</strong> Jeremias do tempo do exílio (Jeremias 25.11), e no primeiro ano do reinado, Ciro,<br />

rei dos persas, passa pregão em todo seu reino permitindo aos ju<strong>de</strong>us que retomem a sua pátria. Os chefes das tribos<br />

<strong>de</strong> Judá e Benjamim, juntamente com sacerdotes e levitas, e muitos outros se dirigiram imediatamente a Jerusalém<br />

para esta grandiosa tarefa (Esdras 2.1-70), contando com profecias dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.<br />

Após a chegada a Jerusalém, todos os esforços se concentraram na construção do santuário. Cerca <strong>de</strong> dois<br />

anos <strong>de</strong>pois, o povo conseguiu lançar os fundamentos do Templo (Esdras 3.8). A emoção foi tamanha que os<br />

mais velhos e mais antigos do povo, que tinham visto a magnificência e a riqueza do primeiro Templo, ficaram<br />

tão sentidos e aflitos <strong>de</strong> profunda dor, que não pu<strong>de</strong>ram reter as lágrirhas e os soluços. O povo, em geral, porém,<br />

ao qual somente o presente po<strong>de</strong> impressionar, estava tão contente, que as queixas <strong>de</strong> uns e os gritos <strong>de</strong> júbilos<br />

<strong>de</strong> outros impediam que se ouvisse o som das trombetas (Esdras 3.12).<br />

Segundo Flávio Josefo, “essa notícia chegou até Samaria e os habitantes <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong> vieram indagar o que<br />

se passava; tendo sabido que os ju<strong>de</strong>us, voltando do cativeiro <strong>de</strong> Babilônia haviam reconstruído seu Templo”.9<br />

Depois <strong>de</strong> malograda tentativa <strong>de</strong> se reunirem com os ju<strong>de</strong>us na restauração do santuário, os samaritanos se<br />

opuseram tenazmente a obra tão auspiciosamente iniciada. A oposição <strong>de</strong>les chegou a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciarem<br />

a Ciro, e posteriormente a Cambises,10 as disposições dos ju<strong>de</strong>us, recebendo <strong>de</strong>ste último a autorização <strong>de</strong><br />

proibirem a reconstrução da Casa do SENHOR. Assim o trabalho ficou interrompido durante nove anos, e até o<br />

segundo reinado <strong>de</strong> Dario, rei da Pérsia. Cambises reinou só seis anos e morreu em Damasco. Os magos, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> sua morte, governaram o reino durante um ano, com po<strong>de</strong>r absoluto, mas os chefes das principais famílias da<br />

Pérsia os <strong>de</strong>puseram e elegeram rei Dario, filho <strong>de</strong> Histaspe, cognominado “o Gran<strong>de</strong>” (521-486 a.C.).<br />

Conta-nos este mesmo historiador que Zorobabel, príncipe dos ju<strong>de</strong>us, era estreitamente ligado por afeição<br />

e confiança a Dario, confiando a este e a dois outros dos principais a direção <strong>de</strong> sua casa e tudo o que mais <strong>de</strong><br />

perto se referia à sua pessoa.<br />

Zorobabel obteve <strong>de</strong>ste soberano a autorização para dar continuida<strong>de</strong> às obras que jaziam inertes. O Templo foi<br />

terminado no fim <strong>de</strong> sete anos, no sexto ano do reinado <strong>de</strong> Dario e no dia terceiro do mês <strong>de</strong> Adar (Esdras 6.15).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 9<br />

1) Quem permitiu que os ju<strong>de</strong>us retomassem à Palestina para reconstruir a Casa <strong>de</strong> Deus?<br />

8 JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD. p. 250.<br />

261. p. I<strong>de</strong>m, י<br />

,0O nome <strong>de</strong> Cambises ocorre nas Escrituras como Artaxerxes. Era filho <strong>de</strong> Ciro e reinou entre 530 e 522 a.C.<br />

76<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

A RELIGIÃO<br />

Durante o período da monarquia unida, a religião oficial <strong>de</strong> Israel, 0 Javismo, estava centralizada no Templo<br />

<strong>de</strong> Jerusalém, símbolo do Estado e da religião nacional. O culto era celebrado nesse local, tendo os sacerdotes<br />

um papel primordial nesse momento. O Javismo era uma religião <strong>de</strong> Templo, sendo 0 mais importante <strong>de</strong>les 0<br />

Templo <strong>de</strong> Jerusalém, na capital do Reino <strong>de</strong> Judá, uma vez que este era a habitação <strong>de</strong> Deus.<br />

Com a divisão do reino, o Reino do Norte teve <strong>de</strong> estabelecer outros locais <strong>de</strong> culto, uma vez que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jerusalém e o Templo se encontravam na parte sul do território. Também por isso, a interferência dos cultos às<br />

outras divinda<strong>de</strong>s passou a ser mais constante, possibilitando algum sincretismo. Esse sincretismo teve sua origem<br />

oficial com a monarquia, pois tanto os israelitas quanto os cidadãos foram colocados sob uma mesma obrigação,<br />

através da cobrança <strong>de</strong> impostos, por exemplo. Assim, a religião teve <strong>de</strong> conciliar as diferenças entre os dois<br />

grupos, permitindo algum sincretismo, mesmo havendo representantes do Javismo puro que se colocavam contra<br />

esse processo, através <strong>de</strong> um nacionalismo religioso. Um conceito que alimentava 0 pensamento da época era a<br />

Aliança, estabelecida entre Deus e 0 povo, através da figura <strong>de</strong> Moisés, simbolizando e reafirmando a noção <strong>de</strong><br />

povo escolhido.<br />

A partir disso, um grupo <strong>de</strong> personagens passou a ter gran<strong>de</strong> interferência nesse quadro: os profetas. Uma vez que não<br />

tinham suas palavras aceitas pelos seus contemporâneos, ocorreu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registrá-las, tomando-se as testemunhas<br />

<strong>de</strong> suas épocas, posteriormente organizadas por seus discípulos e retocadas no <strong>de</strong>correr do tempo. Acreditava-se que a<br />

palavra escrita era mais eficaz, seja por sua perpetuação ou simplesmente por algum efeito moral.<br />

O sincretismo religioso foi uma das marcas <strong>de</strong>sse período histórico. A presença <strong>de</strong> grupos politeístas ao redor<br />

sempre foi motivo <strong>de</strong> preocupação das autorida<strong>de</strong>s religiosas javistas nacionalistas, uma vez que po<strong>de</strong>riam influenciar<br />

no modo <strong>de</strong> pensar do povo, levando-o a uma mistura e à adaptação das diversas tradições existentes na região.<br />

Em alguns momentos, os próprios monarcas, <strong>de</strong>vido a uma questão <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, passaram<br />

a cultuar ou ao menos permitir a elevação <strong>de</strong> altares <strong>de</strong> culto a divinda<strong>de</strong>s estrangeiras, causando, por parte<br />

dos lí<strong>de</strong>res religiosos, principalmente <strong>de</strong> alguns profetas, manifestações contrárias a tais <strong>de</strong>cisões. Os profetas<br />

viam nessas atitu<strong>de</strong>s motivos para a ira divina. Assim, anunciavam a <strong>de</strong>sgraça sobre o reino, levando alguns<br />

governantes a tentarem mudar tal processo.<br />

Em muitas situações do passado 0 grupo já havia sentido o peso do castigo divino <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>sobediência<br />

à Lei divina. A religião, <strong>de</strong> caráter nacional, previa que todo o grupo pagasse pelos pecados cometidos em seu<br />

meio; assim, era compreensível que todo um reino fosse <strong>de</strong>vastado, tal qual ocorrera com Israel, uma vez que<br />

seus reis e o povo eram idólatras e não cumpriram as regras estabelecidas por seu Deus. Coube aos profetas,<br />

<strong>de</strong>tentores da palavra eficaz e enviados <strong>de</strong> Deus, 0 anúncio dos castigos futuros. Eles também foram responsáveis<br />

por um aviso sobre a restauração, 0 que forneceu esperanças à população da época, mediante a realização <strong>de</strong> uma<br />

nova aliança entre Deus e seu povo.<br />

As críticas feitas pelos profetas iam diretamente contra 0 modo como 0 povo se comportava com relação a Deus,<br />

pois do mesmo modo como eram efetuadas as oferendas votivas aos outros <strong>de</strong>uses, também eram feitas ao Deus <strong>de</strong><br />

Israel. O principal era a observância dos mandamentos javistas, que haviam sido <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> lado pelo povo e por<br />

seus representantes. A Aliança <strong>de</strong>veria ser refeita, uma vez que o povo não soube compreendê-la.<br />

Durante o reinado <strong>de</strong> Josias, restando apenas o Reino <strong>de</strong> Judá, ele promoveu uma reforma religiosa.<br />

É possível que, observando os acontecimentos que sobrevieram ao Reino do Norte, essa reforma fosse<br />

mais do que necessária na opinião <strong>de</strong>sse monarca. Assim, a <strong>de</strong>struição dos lugares altos e das imagens <strong>de</strong><br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

77


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

culto estrangeiras em seus territórios foi uma das primeiras ações realizadas. O Templo foi reformado e o<br />

livro da Lei - provavelmente gran<strong>de</strong> parte do Livro <strong>de</strong> Deuteronômio - foi encontrado nesse local e lido<br />

para o povo, sendo celebrada uma gran<strong>de</strong> festa (2 Reis 22-23.1-23).<br />

Todos os valores do Javismo <strong>de</strong>rivado da reforma estavam completamente centrados no Templo <strong>de</strong><br />

Jerusalém e às tradições <strong>de</strong>sse local. O rigor <strong>de</strong>ssa reforma se <strong>de</strong>u em função da idéia <strong>de</strong> que a Aliança<br />

<strong>de</strong>veria ser uma ligação profunda do povo com seu Deus, marcada pela submissão: as leis ganharam um<br />

novo peso nesse processo, marcadas pela sua codificação e pelo ensino dos <strong>de</strong>veres nelas contidos.<br />

Essa reforma fez com que o livro da Lei fosse utilizado como meio <strong>de</strong> legislar todo o povo, uma vez<br />

que seu texto abrangia aspectos sociais e éticos <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong>. Assim, toda a região <strong>de</strong> Jerusalém,<br />

arredores e posteriormente as áreas conquistadas por Josias tiveram <strong>de</strong> adotar tal legislação, que durou até<br />

a sua morte. Porém, a lei utilizada não teve continuida<strong>de</strong> com os sucessores <strong>de</strong> Josias.<br />

Outro dado é que essa reforma promoveu a idéia <strong>de</strong> troca entre o povo e seu Deus. Assim, Yahweh<br />

<strong>de</strong>veria retribuir ao povo sempre com bens materiais quando cumprissem os seus mandamentos; caso<br />

contrário, os bens materiais do mundo lhes faltariam. Com essa nova Aliança, um excesso <strong>de</strong> confiança<br />

pairou sobre a população, <strong>de</strong> tal modo que passaram a se consi<strong>de</strong>rar invioláveis. Mas as palavras dos<br />

profetas continuavam a anunciar 0 castigo, pois nem mesmo essa nova Aliança seria capaz <strong>de</strong> apaziguar a<br />

ira divina, e a população continuava, <strong>de</strong> algum modo, com suas práticas idólatras. A crença da população na<br />

Aliança levou-a a cometer atitu<strong>de</strong>s das quais os profetas discordavam. Constantemente o po<strong>de</strong>r da Babilônia<br />

foi <strong>de</strong>safiado através <strong>de</strong> rebeliões, pois a população acreditava que Deus não iria per<strong>de</strong>r uma batalha para<br />

outras nações, suas inimigas.<br />

A população não estava pronta para ouvir as palavras <strong>de</strong> Jeremias (627-587 a.C.), um dos profetas<br />

do período, e o criticou e se opôs à sua mensagem, <strong>de</strong>ixando-o isolado. Jeremias fez <strong>de</strong> Deus o seu<br />

companheiro, aproximando a figura dEle do caráter <strong>de</strong> soberano, fornecendo-lhe um caráter <strong>de</strong> Deus, num<br />

sentido “metafísico” para o termo. Deus passou assim a ser consi<strong>de</strong>rado como pessoa e, portanto, a relação<br />

com esse Deus ganhava um novo caráter: Ele tinha o controle sobre a história do mundo, mas também sobre<br />

cada homem individualmente. A nova Aliança <strong>de</strong>veria ser firmada no coração <strong>de</strong> cada indivíduo, no plano<br />

espiritual, sendo a única capaz <strong>de</strong> salvar o ser humano.<br />

Quando da conquista da Babilônia, a população que era fiel a Deus e seguia todos os seus mandamentos<br />

questionava a justiça divina, que apregoava a idéia <strong>de</strong> pagamento pelos erros dos antepassados a toda a nação. O<br />

profeta Jeremias respon<strong>de</strong>u a essa questão afirmando que tal postulado valia apenas para a antiga Aliança e que<br />

a nova não seria mais <strong>de</strong>sse modo, pois Deus iria retribuir a cada um individualmente.<br />

Porém, como a vida era curta <strong>de</strong>mais e a promessa <strong>de</strong> retribuição ou castigo <strong>de</strong>veria ser cumprida, a população<br />

chegou a um novo questionamento sobre a justiça <strong>de</strong> Deus. Como esta não po<strong>de</strong>ria ser questionada, duas soluções<br />

ocorreram, sendo as últimas gran<strong>de</strong>s conquistas do pensamento pré-cristão. A primeira <strong>de</strong>las foi a vida <strong>de</strong>pois da<br />

morte, ao menos aos fiéis a Deus, que po<strong>de</strong>riam quitar suas dívidas ou receber mais recompensas posteriormente,<br />

resolvendo <strong>de</strong>sse modo o problema da justiça terrena para com aqueles que não vêem sua retribuição em vida.<br />

A segunda foi a existência do Mal. Porém, esse fato trouxe outros questionamentos, por exemplo, como<br />

enten<strong>de</strong>r que um justo passa por todo mal se seu Deus é o Todo-Po<strong>de</strong>roso? O autor do livro <strong>de</strong> Jó, em meados<br />

do século V a.C., enxergou esse problema claramente, retratando um homem justo, fato reconhecido até mesmo<br />

por Deus, sobre 0 qual recaem todos os males. A resposta que Deus forneceu para tal acontecimento foi que as<br />

<strong>de</strong>cisões divinas eram transcen<strong>de</strong>ntes ao homem e não cabia compreendê-las.<br />

Assim, a religião que se formou no exílio e que adquiriu um caráter individual conservou certas observâncias<br />

<strong>de</strong> épocas anteriores, como as regras alimentares, a circuncisão, as prescrições litúrgicas e morais, além da idéia<br />

da Aliança com Deus. O mais importante <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser Deus propriamente dito e passou a ser a compreensão da<br />

vonta<strong>de</strong> divina, levando à codificação da Lei e reduzindo 0 <strong>de</strong>ver do povo à sua obediência.<br />

Outros tipos <strong>de</strong> adaptação também foram necessários, uma vez que a Lei <strong>de</strong>veria ser cumprida. Com a ausência<br />

do Templo, as regras <strong>de</strong> sacrifício sofreram alterações. E muito provável que seja <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que se<br />

78<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

encontra a origem das três orações diárias, como forma <strong>de</strong> substituição dos três sacrifícios que anteriormente<br />

eram realizados nesse local. Os lí<strong>de</strong>res religiosos <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser os profetas, passando a ser o sacerdote, agora<br />

um homem da escrita, um doutor da lei, cuja autorida<strong>de</strong> e hierarquia dava-se no plano eclesiástico e não mais<br />

no plano político. Com a valorização do individualismo, o aspecto coletivo da Aliança havia esmorecido. O<br />

sentimento xenofóbico foi aumentando e misturado à nostalgia do período davídico. Assim foi elaborada a<br />

doutrina messiânica, sobre o envio <strong>de</strong> um novo rei, nascido <strong>de</strong> seu povo, sucessor e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Davi que<br />

traria a paz universal.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 10<br />

1) Durante 0 período da monarquia unida, on<strong>de</strong> estava centralizado o Javismo, a religião oficial <strong>de</strong> Israel?<br />

2) Qual foi uma das marcas <strong>de</strong>sse período histórico?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

79


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

OS PROFETAS<br />

Os profetas do século V<strong>II</strong>I a.C. acompanharam os acontecimentos do Reino do Norte e os primeiros sinais <strong>de</strong><br />

crise do Reino do Sul. Para eles era notório que tais fatos pu<strong>de</strong>ssem ser explicados <strong>de</strong>vido ao ressentimento <strong>de</strong><br />

Deus com relação ao seu povo, que realizava práticas idólatras. A idéia <strong>de</strong> que Ele controlava a História colocava<br />

não só Israel, mas todo o Universo, submetido à sua vonta<strong>de</strong> e autorida<strong>de</strong>. Esses profetas foram os primeiros a<br />

conceber tal conceito, que se tomou a base <strong>de</strong> sua religião.<br />

Nesse período foram quatro os representantes proféticos, tendo dois atuado no Reino do Norte e dois no<br />

Reino do Sul. O primeiro <strong>de</strong>les foi Amós (760-750 a.C.), cuja ação se <strong>de</strong>u durante 0 reinado <strong>de</strong> Jeroboão <strong>II</strong> (783-<br />

743 a.C.). Suas palavras foram anunciadas contra 0 Reino <strong>de</strong> Israel <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sprezo pelo direito e pela justiça,<br />

ignorados pelos lí<strong>de</strong>res, cujas atitu<strong>de</strong>s atingiram diretamente a população mais fraca e mais frágil da socieda<strong>de</strong>.<br />

Além disso, o profeta <strong>de</strong>nunciava as atitu<strong>de</strong>s hipócritas <strong>de</strong> culto a Deus, não havendo mais tempo para uma<br />

remissão do povo, uma vez que a paciência <strong>de</strong> Deus se esgotara e o castigo breve viria.<br />

O segundo profeta <strong>de</strong>sse período foi Oséias (750 a.C.), cujo trabalho profético também se <strong>de</strong>u durante 0<br />

reinado <strong>de</strong> Jeroboão <strong>II</strong>, pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Amós e seus sucessores no Reino do Norte. Sua missão <strong>de</strong>senvolveuse<br />

a partir <strong>de</strong> ameaças e julgamentos seguidos <strong>de</strong> promessas. Criticou as influências dos cultos cananeus que<br />

interferiam no culto a Deus, levando 0 povo a um sincretismo religioso.<br />

O profeta Isaías (740-701 a.C.) atuou no Reino do Sul e foi 0 terceiro a falar nesse século. Ele pregou<br />

o julgamento <strong>de</strong> Jerusalém, criticando a hipocrisia ao culto, assim como Amós. Sob o reinado <strong>de</strong> Acaz, rei<br />

<strong>de</strong> Judá, 0 profeta se colocou contra a aliança feita por esse monarca com o rei da Assíria, Tiglate-Pileser,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a crença incondicional em Deus. Por não ter sido ouvido, ele se afastou da vida pública, tendo seu<br />

retiro terminado quando foi realizada, durante 0 governo <strong>de</strong> Ezequias, uma coalizão patrocinada por Azoto,<br />

cida<strong>de</strong> filistéia, inspirada pelo Egito, cujo resultado foi a tomada da cida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>portação <strong>de</strong> sua população.<br />

Sua oposição à política nacionalista ezequiana colocou-o em conflito com o governo. As críticas à política<br />

nacionalista continuaram, lembrando ao rei que Senaqueribe (704-681 a.C.), rei da Assíria, era um instrumento<br />

nas mãos <strong>de</strong> Deus para o exercício da vonta<strong>de</strong> divina.<br />

Outro profeta que atuou no Reino do Sul foi Miquéias (740 a.C.), conterrçporâneo do profeta Isaías. Sua<br />

profecia con<strong>de</strong>nava as atitu<strong>de</strong>s sociais dos governantes contra 0 povo e anunciava 0 julgamento sobre Samaria<br />

e Jerusalém. Semelhantemente a Amós, ele criticou a iniqüida<strong>de</strong> que estava instaurada no meio do povo e 0 fato<br />

<strong>de</strong> os governantes <strong>de</strong>sprezarem a justiça, levando o país ao caos. Foram anunciadas medidas a serem tomadas<br />

por Yahweh contra 0 seu povo. Sua conclusão foi que as únicas coisas que Deus esperava <strong>de</strong>les era o respeito ao<br />

direito, o amor e a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, a vigilância ao caminhar com Ele, e não as imolações que lhe eram oferecidas.<br />

Sobre os profetas do século V<strong>II</strong> a.C., eles presenciaram a crise pela qual passava 0 Reino do Sul, her<strong>de</strong>iro<br />

legítimo do Reino do Norte, uma vez que este <strong>de</strong>saparecera. Dentre eles, a figura mais importante foi a do profeta<br />

Jeremias. Além <strong>de</strong>le, outros três profetas se <strong>de</strong>stacaram: Naum, Sofonias e Habacuque.<br />

A atuação <strong>de</strong> Naum (612 a.C.) ocorreu durante o reinado <strong>de</strong> Manassés, rei <strong>de</strong> Judá. Seu texto se diferenciou<br />

dos outros profetas à medida que anunciava a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Judá. Segundo ele, uma vez que o reino pagava altos<br />

tributos à Assíria, seus pecados já estavam “pagos”, <strong>de</strong> tal modo que Deus não permitiria que seu povo passasse<br />

por mais humilhações. A Assíria era vista como instrumento <strong>de</strong> Deus, porém como teria passado dos limites<br />

quando <strong>de</strong> sua atuação com o Reino do Norte, essa nação <strong>de</strong>veria então ser castigada.<br />

80<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

Sua missão foi marcada pela pouca fé do povo, uma vez que este estava sob jugo assírio e assim não confiava<br />

em seu Deus, entregando-se à idolatria.<br />

Outro profeta foi Sofonias (630 a.C.), que <strong>de</strong>ve ter atuado durante o reinado <strong>de</strong> Josias. Suas palavras eram<br />

contra todas as práticas sincréticas, fornecendo provavelmente as bases para a reforma religiosa que viria a<br />

ocorrer. Essa reforma promovida por esse monarca não conseguiu extirpar a idolatria instaurada durante o reinado<br />

<strong>de</strong> Manassés, motivo pelo qual os profetas continuaram a anunciar o castigo divino. O profeta também atacou 0<br />

domínio assírio, porém <strong>de</strong> modo mais tênue que Naum. Uma <strong>de</strong> suas mensagens <strong>de</strong>fendia a idéia <strong>de</strong> que como<br />

Deus morava em Jerusalém, apesar <strong>de</strong> todas as iniqüida<strong>de</strong>s lá vigentes, estaria libertada do pecado. Uma parte da<br />

população <strong>de</strong> Judá sobreviveria e seria purificada. Sofonias também abriu a possibilida<strong>de</strong> para que outros povos<br />

do mundo tivessem uma felicida<strong>de</strong> futura, anunciando a vinda <strong>de</strong>sse grupo a Sião.<br />

Habacuque (605-602/1 a.C.) foi o terceiro profeta <strong>de</strong>sse período. Sua obra po<strong>de</strong> ser colocada no período do<br />

domínio babilônico em Judá. Foi composta por um conjunto <strong>de</strong> queixas do profeta para com seu Deus sobre as<br />

atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu povo, seguida <strong>de</strong> respostas divinas. Em sua principal lamentação ele afirmou que Deus era puro<br />

<strong>de</strong>mais e por essa razão não po<strong>de</strong>ria ver 0 mal que havia em Judá. A resposta <strong>de</strong> Deus foi que Ele se utilizaria<br />

<strong>de</strong> uma nação para a realização <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sígnios, fato já mencionado anteriormente pelo profeta Isaías. Outro<br />

oráculo anunciava um princípio on<strong>de</strong> 0 justo viveria por sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a Deus. Assim, a visão do profeta mudou,<br />

o que refletiu em seu cântico final, afirmando a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a Deus, mesmo sem compreendê-la.<br />

Sobre o profeta Jeremias, principal expoente da profecia <strong>de</strong>sse século, suas primeiras pregações foram apelos<br />

para 0 retomo do povo do Reino do Norte para Jerusalém, a Casa <strong>de</strong> Davi, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar o pecado local<br />

e anunciar as condições necessárias para o estabelecimento <strong>de</strong> uma nova Aliança com Deus. Ocorreu então a<br />

reforma promovida por Josias.<br />

O rei Jeoaquim teve o profeta Jeremias como opositor, <strong>de</strong>vido à sua política pró-Egito. Suas profecias passaram<br />

a ser ditadas a seu amanuense Baruque, que foi incumbido <strong>de</strong> lê-las no templo, uma vez que sua entrada havia<br />

sido proibida. O rei, numa <strong>de</strong>ssas leituras, tentou anular a palavra <strong>de</strong> Deus, provocando a fuga <strong>de</strong> Jeremias e <strong>de</strong><br />

Baruque, que tiveram <strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>r.<br />

A atuação <strong>de</strong> Jeremias ficou mais fácil quando subiu ao trono Ze<strong>de</strong>quias, que confiava plenamente no profeta.<br />

Por volta <strong>de</strong> 594 a.C., revoltas da Babilônia eclodiram, além <strong>de</strong> um novo faraó no Egito, <strong>de</strong>spertando a esperança<br />

<strong>de</strong> uma solução breve para o problema dos exilados <strong>de</strong> 597 a.C. O pseudoprofeta Hananias, <strong>de</strong> Gibeão, previu<br />

o retomo da população <strong>de</strong>portada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> dois anos (Jeremias 28.1-10), porém o profeta Jeremias se colocou<br />

contra tal discurso, afirmando que o retomo, apesar <strong>de</strong> ser uma vonta<strong>de</strong> divina, não era para tão cedo e or<strong>de</strong>nou,<br />

através <strong>de</strong> uma carta aos exilados, que se instalassem no país para on<strong>de</strong> foram enviados. Jeremias aconselhou<br />

Ze<strong>de</strong>quias a ser submisso à Babilônia.<br />

Porém, em 588 a.C. Nabucodonosor sitiou Jerusalém, que resistiu por um ano e meio. A cida<strong>de</strong> não suportou<br />

tal pressão e caiu em 586 a.C., e o profeta foi protegido pelas autorida<strong>de</strong>s babilônicas. A <strong>de</strong>struição foi anunciada<br />

por Jeremias, justificada pelas atitu<strong>de</strong>s iníquas do povo, que não soube manter a Aliança com o seu Deus. Nesse<br />

caso, o profeta incluiu os homens que ocupavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os mais altos postos no Reino até 0 povo mais simples.<br />

Ninguém escapou. As maiores críticas foram aos que mais conhecimento possuíam, pois <strong>de</strong>veriam guiar 0 povo<br />

e não o fizeram. O exemplo retirado da <strong>de</strong>struição do Reino <strong>de</strong> Israel simbolizava um retomo ao caos, <strong>de</strong>vido ao<br />

pecado cultivado no meio <strong>de</strong> toda a população.<br />

Na seqüência <strong>de</strong>sses acontecimentos o profeta anunciou a restauração da Aliança <strong>de</strong> Deus com seu povo, que<br />

foi interpretada quando do término da catástrofe por seus discípulos, auxiliando <strong>de</strong>sse modo a sobrevivência do<br />

grupo exilado. Assim, o retomo dos que foram para a Babilônia foi uma das imagens <strong>de</strong>ssa época, na qual Deus<br />

reunia novamente o seu povo, sendo estabelecida uma nova Aliança.<br />

As características <strong>de</strong>sse novo acordo começaram com a lei escrita no coração das pessoas: “Eis aí vêm dias,<br />

diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa <strong>de</strong> Israel e com a casa <strong>de</strong> Judá. Não conforme a aliança<br />

que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam<br />

a minha aliança, não obstante eu os haver <strong>de</strong>sposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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com a casa <strong>de</strong> Israel, <strong>de</strong>pois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também<br />

no coração lhas inscreverei; eu serei 0 seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jeremias 33.31-33). Assim seria<br />

restabelecida a ligação entre Deus e o povo escolhido, o povo <strong>de</strong> Israel, idéia essa amplamente difundida a partir<br />

do século V<strong>II</strong> a.C. Nascia nesse momento a noção <strong>de</strong> que era necessário o conhecimento <strong>de</strong> Deus, o que colocou<br />

essa ativida<strong>de</strong> como base para a vida do grupo. Deus, acima <strong>de</strong> tudo, perdoava os pecados, possibilitando assim<br />

uma retratação por parte do homem, lembrando-lhe da existência <strong>de</strong> pecados erradicáveis ao ser humano. A<br />

fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> futura foi outra promessa que acompanhou essas transformações.<br />

No século VI a.C. Daniel e Ezequiel foram os profetas da esperança. Daniel foi <strong>de</strong>portado muito jovem para<br />

a Babilônia, exatamente no ano <strong>de</strong> 605 a.C., on<strong>de</strong> viveu mais <strong>de</strong> sessenta anos, servindo a seis governadores<br />

babilônicos e dois persas. Ele e seus companheiros eram <strong>de</strong> linhagem real e pertenciam á nobreza <strong>de</strong> Judá. Já<br />

Ezequiel (593-571 a.C.) foi um mestre espiritual no exílio, e a partir <strong>de</strong>le uma nova concepção sobre as relações<br />

entre Israel e Deus se impuseram. Não sabemos exatamente quando se iniciou seu chamado profético, entretanto<br />

sua voz se fez ouvir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Babilônia. O profeta anunciou 0 término do tempo da responsabilida<strong>de</strong> coletiva e <strong>de</strong><br />

que cada um <strong>de</strong>veria respon<strong>de</strong>r por si a Deus.<br />

A partir <strong>de</strong> todos esses acontecimentos, 0 profeta Ezequiel os viu como provas <strong>de</strong> que 0 povo <strong>de</strong> Deus<br />

<strong>de</strong>veria viver em isolamento e marginalizado, pois como Ele é real e santo, <strong>de</strong>veria permanecer afastado <strong>de</strong> tudo,<br />

comunicando-se apenas com algo que Ele tivesse santificado: 0 templo, Jerusalém, o território e o povo, sendo<br />

todo o restante consi<strong>de</strong>rado profano.<br />

O privilégio do povo <strong>de</strong> Israel <strong>de</strong>veria ser manifestado através da obediência, uma vez que foi na ausência <strong>de</strong>la<br />

que o povo pecou e por isso foi castigado. Assim como muitos profetas anteriores, Ezequiel sempre relembrou os<br />

momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência e as suas conseqüências.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 11<br />

1) Quem foram os profetas do século V<strong>II</strong>I?<br />

2) Quem foram os profetas do século V<strong>II</strong>?<br />

3) Quem foram os profetas do século VI?<br />

82<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

com a casa <strong>de</strong> Israel, <strong>de</strong>pois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também<br />

no coração lhas inscreverei; eu serei 0 seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jeremias 33.31-33). Assim seria<br />

restabelecida a ligação entre Deus e o povo escolhido, 0 povo <strong>de</strong> Israel, idéia essa amplamente difundida a partir<br />

do século V<strong>II</strong> a.C. Nascia nesse momento a noção <strong>de</strong> que era necessário o conhecimento <strong>de</strong> Deus, o que colocou<br />

essa ativida<strong>de</strong> como base para a vida do grupo. Deus, acima <strong>de</strong> tudo, perdoava os pecados, possibilitando assim<br />

uma retratação por parte do homem, lembrando-lhe da existência <strong>de</strong> pecados erradicáveis ao ser humano. A<br />

fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> futura foi outra promessa que acompanhou essas transformações.<br />

No século VI a.C. Daniel e Ezequiel foram os profetas da esperança. Daniel foi <strong>de</strong>portado muito jovem para<br />

a Babilônia, exatamente no ano <strong>de</strong> 605 a.C., on<strong>de</strong> viveu mais <strong>de</strong> sessenta anos, servindo a seis governadores<br />

babilônicos e dois persas. Ele e seus companheiros eram <strong>de</strong> linhagem real e pertenciam à nobreza <strong>de</strong> Judá. Já<br />

Ezequiel (593-571 a.C.) foi um mestre espiritual no exílio, e a partir <strong>de</strong>le uma nova concepção sobre as relações<br />

entre Israel e Deus se impuseram. Não sabemos exatamente quando se iniciou seu chamado profético, entretanto<br />

sua voz se fez ouvir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Babilônia. O profeta anunciou o término do tempo da responsabilida<strong>de</strong> coletiva e <strong>de</strong><br />

que cada um <strong>de</strong>veria respon<strong>de</strong>r por si a Deus.<br />

A partir <strong>de</strong> todos esses acontecimentos, 0 profeta Ezequiel os viu como provas <strong>de</strong> que 0 povo <strong>de</strong> Deus<br />

<strong>de</strong>veria viver em isolamento e marginalizado, pois como Ele é real e santo, <strong>de</strong>veria permanecer afastado <strong>de</strong> tudo,<br />

comunicando-se apenas com algo que Ele tivesse santificado: 0 templo, Jerusalém, o território e 0 povo, sendo<br />

todo o restante consi<strong>de</strong>rado profano.<br />

O privilégio do povo <strong>de</strong> Israel <strong>de</strong>veria ser manifestado através da obediência, uma vez que foi na ausência <strong>de</strong>la<br />

que o povo pecou e por isso foi castigado. Assim como muitos profetas anteriores, Ezequiel sempre relembrou os<br />

momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência e as suas conseqüências.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 11<br />

1) Quem foram os profetas do século V<strong>II</strong>I?<br />

2) Quem foram os profetas do século V<strong>II</strong>?<br />

3) Quem foram os profetas do século VI?<br />

82<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ANDRADE, Claudionor <strong>de</strong>. Geografia bíblica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1998.<br />

AUTH, Romi; SILVA, Airton José da; KONINGS, Johan; VITÓRIO, Jal<strong>de</strong>mir. História <strong>de</strong> Israel e as pesquisas<br />

recentes. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2004.<br />

BALL, Charles Ferguson. A vida e os tempos do apóstolo Paulo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1998.<br />

BELL JR., Albert. Explorando o mundo do Novo Testamento. Minas Gerais: Atos, 2001.<br />

BORGER, Hans. Uma história do povo ju<strong>de</strong>u. São Paulo: Sefer, 1999. v. 1.<br />

CAZELLES, Henry. História política <strong>de</strong> Israel: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens até Alexandre Magno. 2. ed. São Paulo:<br />

Paulus, 1996.<br />

CÉSAR, Eben M. Lenz. História e geografia bíblica. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 2001. v. 1.<br />

ELWELL, Walter A. Manual bíblico do estudante. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1997.<br />

GUINSBURG, J. Vida e valores do povo ju<strong>de</strong>u. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.<br />

GUNNEWEG, Antonius H. J. História <strong>de</strong> Israel: dos primórdios até Bar Kochba e <strong>de</strong> Theodor Herzl até nossos<br />

dias. São Paulo: Teológica, 2005.<br />

HALLEY, Henry Hampton. Manual bíblico <strong>de</strong> Halley. São Paulo: Vida, 2001.<br />

JENKINS, Simon. Atlas da Bíblia. São Paulo: Abba Press, 1998.<br />

JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. 5. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2001.<br />

KAPLAN, Aryel. Jerusalém, o olho do universo. São Paulo: Maayanot, 1994.<br />

MERRILL, Eugene. História <strong>de</strong> Israel no Antigo Testamento: o reino <strong>de</strong> sacerdotes que Deus colocou entre as<br />

nações. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2001.<br />

MESQUITA, Antonio Neves <strong>de</strong>. Povos e nações do mundo antigo. 6. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Juerp, 1995.<br />

MILLARD, Alan. Descobertas dos tempos bíblicos. São Paulo: Vida, 1999.<br />

MONEY, Netta Kemp <strong>de</strong>. Geografia bíblica. 10. ed. São Paulo: Vida, 1999.<br />

NALBANDIAN, Garo; SARAGOSA, Alessandro. A Terra Santa. Itália: Casa Editrice Bonechi, 1991.<br />

PIXLEY, Jorge. A História <strong>de</strong> Israel a partir dos pobres. 9. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2004.<br />

QUEIROZ, Eliseu. Israel por <strong>de</strong>ntro. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1987.<br />

ROBERTSON, O. Palmer. O Israel <strong>de</strong> Deus: passado, presente e futuro. São Paulo: Vida, 2005.<br />

SCHLAEPFER, Carlos Fre<strong>de</strong>rico; OROFINO, Francisco Rodrigues; MAZZAROLO, Isidoro. A Bíblia:<br />

introdução historiográfica e literária. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2004.<br />

TOGNINI, Enéas. Geografia da Terra Santa. São Paulo: Louvores do Coração, 1987. v. 1.<br />

_________. Geografia das terras bíblicas. São Paulo: Louvores do Coração, 1987. v. 2.<br />

VELTMAN, Henrique. A história dos ju<strong>de</strong>us no Rio <strong>de</strong> Janeiro. São Paulo: Expressão e Cultura, 1998.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

83


faculda<strong>de</strong> teológica betesda<br />

Moldando vocacionados<br />

AVALIAÇÃO ־ MÓDULO <strong>II</strong><br />

HISTÓRIA DE ISRAEL<br />

1) Desenhe o mapa do Crescente Fértil.<br />

2) Quem eram os antigos habitantes da Mesopotâmia?<br />

3) Quem eram os habitantes <strong>de</strong> Canaã? Exemplifique com versículos bíblicos.<br />

4) Faça um breve relato do Êxodo.<br />

5) Alguns enten<strong>de</strong>m que a Lei contém apenas 10 mandamentos, entretanto o povo ju<strong>de</strong>u diz que não. Quantos<br />

são e como estão divididos?<br />

6) Cite o nome <strong>de</strong> três juizes, com referências bíblicas.<br />

7) Como ficou dividido o reino? Quais foram as datas e quem foi o primeiro rei em cada reino?<br />

8) Quem foi o rei medo-persa que autorizou a volta dos hebreus?<br />

9) Descreva quantos reis governaram o Reino do Norte e em que data.<br />

10) Cite cinco profetas das Escrituras informando em qual reino eles profetizaram.<br />

CARO(a) ALUNO(a):<br />

• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las em<br />

folha <strong>de</strong> papel sulfite, sendo objefivo(a) e daro(a).<br />

CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP<br />

* De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.


DOUTRINA DOS ANJOS<br />

ÁNGELOLOGIÁ<br />

* J p :j-m t


SUMARIO<br />

INTROD UÇÃO .........................................................................................................................................................91<br />

1.D EFIN IÇÃ O DO TER M O .................................................................................................................................92<br />

2.A O R IG EM DOS ANJOS ...............................................................................................................93<br />

2.1 A NATUREZA DOS A N JO S ...........................................................................................................................94<br />

3. CLASSIFICAÇÃO DOS A N JO S .....................................................................................................................97<br />

3.1 GABRIEL.............................................................................................................................................................. 97<br />

3.2 ARCANJO M IG U EL..........................................................................................................................................97<br />

3.3 Q U ERU BIN S....................................................................................................................................................... 98<br />

3.4 SERA FIN S............................................................................................................................................................98<br />

3.5 O ANJO DO SEN H O R ...................................................................................................................................... 98<br />

4. M IN ISTÉR IO DOS ANJOS ...............................................................................................................................101<br />

a) Adorar a D eus........................................................................................................................................................101<br />

b) Mediadores da L e i...............................................................................................................................................101<br />

c) Executam os juízos <strong>de</strong> D eu s...............................................................................................................................101<br />

d) Reúnem os eleitos................................................................................................................................................102<br />

e) No Juízo F in al.......................................................................................................................................................102<br />

5. ANJOS NO ANTIGO E NO NOVO T E ST A M E N T O ................................................................................103<br />

5.1 NO ANTIGO TESTAM ENTO.......................................................................................................................103<br />

5.2 NO NOVO TESTAMENTO ..........................................................................................................................104<br />

6. ANJOS D E SO B E D IE N T E S................................................................................................................................111<br />

6.1 UM SER R E A L .................................................................................................................................................. 111<br />

6.2 SUA EXISTÊNCIA REGISTRADA............................................................................................................. 111<br />

6.3 SUA PERSONALIDADE................................................................................................................................111<br />

6.4 SUA O R IG E M ...................................................................................................................................................112<br />

6.5 SEU CA R Á TER .................................................................................................................................................113<br />

7. SEUS NOM ES E T ÍT U L O S .............................................................................................................................. 114<br />

a) Satanás ...................................................................................................................................................................114<br />

b) D iab o ...................................................................................................................................................................... 114<br />

c) Serpente..................................................................................................................................................................114<br />

d) D ragão.................................................................................................................................................................... 115<br />

e) Belzebu................................................................................................................................................................... 115<br />

f) B elial........................................................................................................................................................................115<br />

g) Tentador..................................................................................................................................................................115


h) Príncipe <strong>de</strong>ste m u n d o .......................................................................................................................................115<br />

i) Príncipe da potesta<strong>de</strong> do a r ..............................................................................................................................116<br />

j) E nganador............................................................................................................................................................116<br />

8. D EM Ô NIO S............................................................................................................................................................117<br />

8.1 A REALIDADE DOS DEMÔNIOS .................................................................................................117<br />

9. NATUREZA DOS DEM Ô NIO S......................................................................................................................119<br />

a) Sua fo rça..............................................................................................................................................................119<br />

b) Sua sabedoria......................................................................................................................................................119<br />

c) Im orais................................................................................................................................................................. 119<br />

10. PROPÓSITO DOS DEM Ô NIO S.................................................................................................................121<br />

a) Oposição aos san to s..........................................................................................................................................121<br />

b) Afastar da f é ....................................................................................................................................................... 121<br />

c) Propagam a idolatria..........................................................................................................................................121<br />

B IBLIO G RA FIA<br />

123


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

INTRODUÇÃO<br />

3<br />

Estudar angelologia é envolver-se em um dos temas mais empolgantes das Escrituras Sagradas. A presença dos<br />

anjos po<strong>de</strong> ser notada em toda a Bíblia. De Gênesis a Apocalipse po<strong>de</strong>mos ver o <strong>de</strong>senvolvimento do ministério<br />

<strong>de</strong>sses seres celestiais no É<strong>de</strong>n, na história do povo <strong>de</strong> Israel e na história da Igreja do primeiro século. Por serem<br />

criaturas especiais, dotadas <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r sobrenatural, conferido pelo próprio Deus, quando os criou, muito<br />

antes dos seres humanos, foram constituídos como “ministros <strong>de</strong> Deus em favor daqueles que hão <strong>de</strong> herdar a<br />

salvação” (Hebreus 1:14). Não obstante, apesar <strong>de</strong> todas as prerrogativas a eles conferidas pela Palavra <strong>de</strong> Deus,<br />

ao contrário do que muitos pensam, os anjos são apenas seres criados e, portanto, não possuem os atributos da<br />

divinda<strong>de</strong>. Eles estão sujeitos ao governo divino, e o importante papel que eles têm <strong>de</strong>sempenhado na história<br />

da humanida<strong>de</strong> toma-os merecedores <strong>de</strong> referência especial e <strong>de</strong> um estudo específico, pois, nas Escrituras, sua<br />

existência é sempre consi<strong>de</strong>rada matéria pacífica.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

91


MÓDULO i I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

DEFINIÇÃO DO TERMO<br />

ג<br />

Initium doctrinae sit consi<strong>de</strong>ratio nominis. Para o estudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado tema, <strong>de</strong>ve-se iniciar pela análise<br />

<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>nominação, que po<strong>de</strong>rá ajudar a compreen<strong>de</strong>r aquilo que se preten<strong>de</strong> estudar. Seguiremos a orientação<br />

do maior orador romano, Marco Túlio Cícero, que disse: “Quando se quer pôr or<strong>de</strong>m e método numa discussão<br />

é preciso dar início <strong>de</strong>finido à coisa <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>bate para se ter <strong>de</strong>la uma idéia clara e precisa”.1Portanto, assim<br />

principiaremos nosso estudo.<br />

De início, pedimos licença para adverti-lo <strong>de</strong> que no transcurso <strong>de</strong> nosso estudo molestaremos freqüentemente<br />

os seus ouvidos com graecu largos, como diriam os filósofos.<br />

O vocábulo “anjo”, tal qual aparece nas versões correntes, vem <strong>de</strong> uma raiz hebraica, מלאך mal’ak. No<br />

grego da Versão dos Setenta (Septuaginta), os eruditos traduziram “m ״al’ak por CXγ γ 6 λ 0 ζ - angelos? Ambos<br />

os termos significam “um mensageiro, embaixador, alguém que é enviado, um anjo, um mensageiro <strong>de</strong> Deus”.<br />

Em Marcos 1.2, por exemplo, 0 termo aggelos é atribuído a João Batista: “...eis que eu envio o meu anjo<br />

{aggelos) ante a tua face, 0 qual preparará 0 teu caminho diante <strong>de</strong> ti”, enquanto mal ’ak é usado na profecia<br />

correspon<strong>de</strong>nte em Malaquias 3.1.<br />

Assim, pelo contexto é que será possível <strong>de</strong>terminar se o mensageiro (anjo) em questão é humano ou angelical.<br />

Como seres espirituais estão divididos em duas classes: anjos santos (bons) e anjos caídos (maus).<br />

Os anjos santos são mensageiros <strong>de</strong> Deus, que por opção própria permaneceram em seu estado original, submissos<br />

à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, enquanto os anjos <strong>de</strong>caídos, ao contrário, são os que se rebelaram (Judas 6; Apocalipse 12.3-4),<br />

tomando-se servos <strong>de</strong> Satanás, “ 0 <strong>de</strong>us <strong>de</strong>ste século” (2 Coríntios 4.4).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 1<br />

1 ) 0 vocábulo anjo vem <strong>de</strong> quais raízes?<br />

2) O que significa o termo anjo?<br />

3) Quais são as duas classes <strong>de</strong> anjos?<br />

'CÍCERO, Marco Túlio. Dos<strong>de</strong>veres. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 33.<br />

1 Ver volume 1, A Septuaginta, p. 37.<br />

92 CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 1 1DOUTRINA DOS ANJOS<br />

A ORIGEM DOS ANJOS<br />

Diferentemente <strong>de</strong> Deus, os anjos são seres criados por Ele antes da criação do universo (Jó 38.7) e, portanto,<br />

foram testemunhas da criação do mundo. São chamados <strong>de</strong> ים Beney H a’Elohiym, “filhos <strong>de</strong><br />

Deus”, mas nem por isso estão sem faltas (Jó 4.18; 15.15).<br />

Não existem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a eternida<strong>de</strong>, como explicitamente <strong>de</strong>claram as Escrituras: “Tu só és SENHOR, tu fizeste o<br />

céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há; e tu os guardas<br />

em vida a todos, e 0 exército dos céus te adora” (Neemias 9.6). “Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas<br />

legiões celestes... Louvem o nome do SENHOR, pois mandou ele, e foram criados” (Salmos 148.2, 5). “Porque nele<br />

foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações,<br />

sejam principados, sejam potesta<strong>de</strong>s; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes <strong>de</strong> todas as coisas, e todas<br />

as coisas subsistem por ele” (Colossenses 1.16-17). Os anjos estão <strong>de</strong> fato entre as coisas “invisíveis” que Deus<br />

criou para servi-lo.<br />

A Bíblia não nos informa 0 momento exato em que os anjos foram criados. No entanto, <strong>de</strong> acordo com Jó<br />

38.4-7, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r que isso se <strong>de</strong>u antes da criação do universo.<br />

Essas criaturas angelicais são mencionadas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Vejamos:<br />

בני<br />

ה אלה<br />

a) Conforme a Concordância Bíblica Exaustiva, no Antigo Testamento eles são mencionados textualmente<br />

por 109 vezes e sempre em missões específicas.3 Leia: Gênesis 16.7, 9-11; 19.1, 15; 24.7,40; 28.12; 31.10-<br />

11; 32.1; 48; Êxodo 3.2; 14.9; 23.20, 23; 32.34; 33.2; Números 20.16; 22.22-27, 31-32, 34-35; Juizes 2.1,<br />

4; 5.23; 6.11-12, 20-22; 13.3, 6, 13, 15-17, 19-20; 1 Samuel 29.9; 2 Samuel 14.17; 19.27; 1 Reis 13.18;<br />

19.5, 7; 2 Reis 1.1, 15; 19.35; 1 Crônicas 21.12, 15-16, 18, 20, 27, 30; 2 Crônicas 32.21; Jó 4.18; Salmos<br />

8.5; 34.7; 35.5-6; 91.11; 103.20; 148.2; Eclesiastes 5.6; Isaías 37.36; 63.9; Daniel 3.28; 6.22; Oséias 12.4;<br />

Zacarias 1.9, 11-14, 19; 2.3; 3.3, 5-6; 4.1, 4-5; 5.10; 6.4-5; 12.8; Malaquias 2.7; 3.1.<br />

b )N 0 Novo Testamento essas criaturas são mencionadas servindo aos santos por 175 vezes (51 vezes nos<br />

Sinópticos, 21 em Atos, 67 em Apocalipse).4 Emprega-se com respeito a homens apenas 6 vezes (Lucas<br />

7.24; 9.52; Tiago 2.25; Mateus 11.10; Marcos 1.2; Lucas 7.27 ao citarem Malaquias 3.1). Convém que 0<br />

aluno examine minuciosamente cada texto e contexto on<strong>de</strong> a palavra está presente: Mateus 1.20, 24; 2.13,<br />

19; 4.6, 11; 11.10; 13.39,41,49; 16.27; 18.10; 22.30; 24.31,36; 25.31, 41; 26.53; 28.2, 5; Marcos 1.2, 13;<br />

8.38; 12.25; 13.27, 32; Lucas 1.11, 13, 18-19, 26, 28, 30, 34-35, 38; 2.9-10, 13, 15; 4.10; 7.27; 9.26; 15.10;<br />

16.22; 20.36; 22.43; 24.23; João 1.51; 5.4; 12.29; 20.12; Atos 5.19; 6.15; 7.35, 53; 8.26; 10.3, 7, 22; 12.7,<br />

11, 15, 23; 23.8-9; 27.23; Romanos 8.38; 1 Coríntios 4.9; 6.3; 11.14; Gálatas 1.8; 3.19; 4.14; Colossenses<br />

2.18; 2 Tessalonicenses 1.7; 1 Timóteo 3.16; 5.21; Hebreus 1.4-7, 13; 2.2, 7, 9, 16; 12.22; 13.2; 1 Pedro<br />

1.12; 3.22; 2 Pedro 2.4, 11; Judas v. 6; Apocalipse 1.1, 20; 2.1, 8, 12, 18; 3.1,7, 14; 5.1, 11; 7.1-2, ll;8 .2 -8 ,<br />

10, 12, 13; 9.1, 11, 13-15; 10.1, 5, 7-10; 11.1, 15; 12.7; 14.6, 8-10, 15, 17-19; 15.1, 6, 8; 16.1, 3-5, 8, 10,<br />

12, 17; 17.17; 18.1, 21; 19.17; 20.1; 21.9, 12, 17; 22.6, 8, 16.<br />

3 GILMER, Thomas L.; JACOBS, Jon; VILELA, Milton. Concordância bíblica exaustiva. São Paulo: Vida, 1999, p. 65.<br />

4COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário internacional <strong>de</strong> teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000. vol. 1, p. 147.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

93


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

SÃO NUMEROSOS<br />

No último livro das Escrituras Sagradas, 0 Apocalipse <strong>de</strong> João, existem apenas três capítulos (4, 6, 13)<br />

on<strong>de</strong> 0 vocábulo está ausente, mas nos <strong>de</strong>mais ele ocorre 67 vezes. Na região celestial, 0 número angelical é<br />

elevado a um grau supremo. A Bíblia é categórica ao afirmar que existem “... milhões <strong>de</strong> milhões e milhares <strong>de</strong><br />

milhares” (Apocalipse 5.11). Eles foram <strong>de</strong>scritos em multidões que ultrapassam nossa imaginação. Confira:<br />

“Mas chegastes ao monte Sião, e à cida<strong>de</strong> do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares <strong>de</strong> anjos”<br />

(Hebreus 12.22). “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais <strong>de</strong> doze<br />

legiões <strong>de</strong> anjos?” (Mateus 26.53). “Vi e ouvi uma voz <strong>de</strong> muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes<br />

e dos anciãos, cujo número era <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> milhões e milhares <strong>de</strong> milhares, proclamando em gran<strong>de</strong> voz:<br />

Digno é o Cor<strong>de</strong>iro que foi morto <strong>de</strong> receber o po<strong>de</strong>r, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor”<br />

(Apocalipse 5.11-12).<br />

Existem ainda outras citações semelhantes com outros apelativos que exprimem o mesmo sentido, a saber:<br />

“anjos <strong>de</strong>struidores” (Salmos 78.49), “ 0 <strong>de</strong>struidor” (Êxodo 12.23), “portadores da morte” (Jó 33.22), “arcanjo”<br />

(Judas 9), “varões” (Gênesis 18.2), “homens” (Josué 5.13), “intérpretes” (Jó 33.23), “ministros” (Salmos 104.4),<br />

“espíritos” (Hebreus 1.14), “ventos” (Salmos 104.4), “mancebos” (Marcos 16.5), “estrelas” (Apocalipse 1.20;<br />

12.4), “filhos <strong>de</strong> Deus” (Jó 1.6;2.1) etc.<br />

2.1 A NATUREZA DOS ANJOS<br />

Para saber sobre a natureza dos anjos, só po<strong>de</strong>mos recorrer às Escrituras Sagradas, pois são elas que nos<br />

trazem a verda<strong>de</strong> sobre Deus e suas criaturas.<br />

a) Eles são incorpóreos<br />

Em várias passagens das Escrituras os anjos são <strong>de</strong>scritos como espíritos: “Fazes a teus anjos ventos e a teus<br />

ministros, labaredas <strong>de</strong> fogo” (Salmos 104.4). “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço<br />

a favor dos que hão <strong>de</strong> herdar a salvação?” (Hebreus 1.14). Em Lucas 24.37-39, Jesus disse: “...um espírito não<br />

tem carne nem ossos, como ve<strong>de</strong>s que eu tenho”. Diante <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>claração do mestre da Galiléia, percebe-se que<br />

os anjos são <strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> corpos físicos. Apesar <strong>de</strong> serem espíritos, ou seja, não possuírem um corpo físico, são<br />

capazes <strong>de</strong> assumir uma aparência humana (Gênesis 19.1-3; Marcos 16.5):<br />

“Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado; este, quando os viu,<br />

levantou-se e, indo ao seu encontro, prostrou-se, rosto em terra” (Gênesis 19.1).<br />

“Enviou Deus um anjo a Jerusalém, para a <strong>de</strong>struir; ao <strong>de</strong>struí-la, olhou o SENHOR, e se arrepen<strong>de</strong>u do mal, e<br />

disse ao anjo <strong>de</strong>struidor: Basta, retira, agora, a mão. O Anjo do SENHOR estava junto à eira <strong>de</strong> Omã, o jebuseu”<br />

(1 Crônicas 21.15).<br />

“No sexto mês, foi 0 anjo Gabriel enviado, da parte <strong>de</strong> Deus, para uma cida<strong>de</strong> da Galiléia, chamada Nazaré,<br />

a uma virgem <strong>de</strong>sposada com certo homem da casa <strong>de</strong> Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria”<br />

(Lucas 1.26-27).<br />

“Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para 0 lado do Sul, no caminho que <strong>de</strong>sce <strong>de</strong><br />

Jerusalém a Gaza...” (Atos 8.26).<br />

94<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

“Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz iluminou a prisão; e, tocando ele o lado <strong>de</strong> Pedro, 0<br />

<strong>de</strong>spertou, dizendo: Levanta-te <strong>de</strong>pressa! Então, as ca<strong>de</strong>ias caíram-lhe das mãos. Disse-lhe 0 anjo: Cinge-te e calça as<br />

sandálias. E ele assim 0 fez. Disse-lhe mais: Põe a capa e segue-me. Então, saindo, o seguia, não sabendo que era real 0<br />

que se fazia por meio do anjo; parecia-lhe, antes, uma visão. Depois <strong>de</strong> terem passado a primeira e a segunda sentinela,<br />

chegaram ao portão <strong>de</strong> ferro que dava para a cida<strong>de</strong>, 0 qual se lhes abriu automaticamente; e, saindo, enveredaram por<br />

uma rua, e logo adiante 0 anjo se apartou <strong>de</strong>le. Então, Pedro, caindo em si, disse: Agora, sei, verda<strong>de</strong>iramente, que o<br />

Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão <strong>de</strong> Hero<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> toda a expectativa do povo judaico” (Atos 12.7-11).<br />

Outra característica dos anjos é que aparecem e <strong>de</strong>saparecem à vonta<strong>de</strong> e movimentam-se com uma rapi<strong>de</strong>z<br />

inconcebível. São imortais, po<strong>de</strong>rosos, possuidores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> inteligência e sabedoria. Apesar <strong>de</strong> os anjos serem<br />

<strong>de</strong>scritos na Bíblia pelo sexo masculino, a passagem <strong>de</strong> Mateus 22:30 <strong>de</strong>ixa claro que eles são assexuados, isto<br />

é, não possuem sexo. Não são <strong>de</strong> modo algum onipresentes, atributo este pertencente somente à divinda<strong>de</strong>.5<br />

Todavia, po<strong>de</strong>m estar presentes no tempo e num espaço bem confinado, como revela 0 texto: “Perguntou-lhe<br />

Jesus: Qual é 0 teu nome? Respon<strong>de</strong>u ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos <strong>de</strong>mônios” (Lucas 8.30).6<br />

Sete <strong>de</strong>mônios habitavam no corpo <strong>de</strong> Maria Madalena (Marcos 16.9).<br />

b) Não <strong>de</strong>vem ser adorados<br />

Os anjos são seres criados e, como tais, não <strong>de</strong>vem ser adorados, pois a adoração é uma prerrogativa exclusiva<br />

do Deus Trino, das três pessoas da Trinda<strong>de</strong>, a saber, do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Isaías 6.3; Romanos<br />

11.33-36; Apocalipse 4). Não encontramos na Bíblia nenhuma passagem que abone a idéia <strong>de</strong> adoração ou culto<br />

aos anjos. Jesus, quando da tentação no <strong>de</strong>serto, <strong>de</strong>ixou bem claro a quem <strong>de</strong>vemos adorar e prestar culto, quando<br />

disse a Satanás: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto”. Visto como um anjo não é Deus, mas<br />

apenas uma criatura <strong>de</strong> Deus, não po<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve ser adorado ou cultuado. O apóstolo João, quando estava na<br />

ilha <strong>de</strong> Patmos recebendo revelação das coisas futuras por intermédio <strong>de</strong> um anjo, “prostrou-se ante os pés do<br />

anjo que lhe mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, o anjo disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu,<br />

dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras <strong>de</strong>ste livro. Adora a Deus” (Apocalipse 22.8-9, grifo<br />

nosso). Portanto, reiteramos que somente 0 Deus revelado nas Escrituras <strong>de</strong>ve ser adorado, porque disse Ele:<br />

“ .. .a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens <strong>de</strong> escultura” (Isaías 42.8).<br />

c) Sua criação<br />

Em conformida<strong>de</strong> com alguns textos bíblicos, <strong>de</strong>duzimos que todos os anjos foram criados <strong>de</strong> uma só vez e que<br />

nenhum outro anjo foi acrescentado <strong>de</strong>pois ao seu número, pois, como já vimos, eles são assexuados (Mateus 22:30),<br />

não se reproduzem. Os anjos não são eternos; fazem parte do universo que Deus criou. Numa passagem que se refere aos<br />

anjos como as “hostes” dos céus (ou o “exército dos céus”), diz Esdras: “Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, 0 céu dos céus<br />

e todo o seu exército (...) e todo 0 exército do céu te adora” (Neemias 9.6; veja Salmos 148.2, 5). Paulo nos diz que Deus<br />

criou todas as coisas, “as visíveis e as invisíveis”, por meio <strong>de</strong> Cristo e para Ele, e <strong>de</strong>pois inclui especificamente o mundo<br />

dos anjos com a expressão “sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta<strong>de</strong>s” (Colossenses 1:16). Por<br />

causa da rebelião foram divididos em duas classes: anjos obedientes e anjos <strong>de</strong>sobedientes, ou anjos bons e anjos maus.<br />

d) Sua personalida<strong>de</strong><br />

Os anjos possuem qualida<strong>de</strong>s que caracterizam uma pessoa. Por exemplo, são seres racionais: “... sábio é meu<br />

senhor, segundo a sabedoria <strong>de</strong> um anjo <strong>de</strong> Deus, para enten<strong>de</strong>r tudo 0 que se passa na terra” (2 Samuel 14.20); são<br />

s Ver no volume 1, Atributos incomunicáveis, p. ????<br />

‘ No grego: legiw n (legeon). Segundo 0 dicionário Strong, legião significa: “corpo <strong>de</strong> soldados cujo número diferia <strong>de</strong> tempos em tempos. Na<br />

época <strong>de</strong> Augusto, parece ter consistido <strong>de</strong> 6826 homens (i.e., 6100 soldados a pé e 726 cavaleiros)” . In: Bíblia On-line: Módulo Avançado<br />

3.0. São Paulo: Socieda<strong>de</strong> Bíblica do Brasil, 2002. CD-ROM.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

seres morais, criados com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discernir e fazer 0 que é certo ou errado: “...como um anjo <strong>de</strong> Deus, assim<br />

é 0 rei, meu senhor, para discernir entre 0 bem e o mal” (2 Samuel 14.17); <strong>de</strong>votam adoração inteligente: “Louvaio,<br />

todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas legiões celestes” (Salmos 148.2); possuem emoções: “Eu vos afirmo<br />

que, <strong>de</strong> igual modo, há júbilo diante dos anjos <strong>de</strong> Deus por um pecador que se arrepen<strong>de</strong>” (Lucas 15.10).<br />

Foram compensados pela obediência e castigados pela <strong>de</strong>sobediência: “Ora, se Deus não poupou anjos quando<br />

pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos <strong>de</strong> trevas, reservando-os para juízo” (2 Pedro<br />

2.4); “ ...e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele<br />

tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do gran<strong>de</strong> Dia” (Judas 6).<br />

e) Sábios e po<strong>de</strong>rosos<br />

Por meio das Escrituras, tomou-se manifesto o mundo espiritual, revelando que os anjos são possuidores<br />

<strong>de</strong> sabedoria e inteligência sobre-humana. Myer Pearlman afirmou que “a inteligência dos anjos exce<strong>de</strong> a dos<br />

homens nesta vida, porém é necessariamente finita”.7<br />

Para os estudantes da Bíblia, a sabedoria dos anjos é evi<strong>de</strong>nte, pois nos é informado que eles foram criados<br />

muito tempo antes que os homens. Jesus forneceu testemunho do conhecimento limitado dos anjos quando falou<br />

da sua segunda vinda, dizendo: “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem<br />

o Filho, senão o Pai” (Marcos 13.32).<br />

Com relação ao seu po<strong>de</strong>r, embora seja gran<strong>de</strong>, é limitado (Salmos 103.20).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 2<br />

1) Por que os anjos são chamados <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> Deus?<br />

2) Quando foram criados os anjos?<br />

3) Cite três passagens dos anjos no Antigo Testamento e três no Novo Testamento.<br />

4) Cite os três capítulos do livro do Apocalipse em que não aparece o termo anjos.<br />

5) No mundo espiritual, os anjos possuem características inerentes ao homem. Quais são elas?<br />

7 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da B íblia. São Paulo: Vida, 1999. p. 60.<br />

96<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

CLASSIFICAÇÃO DOS ANJOS<br />

Os anjos são classificados em duas categorias: anjos obedientes (bons) e anjos <strong>de</strong>sobedientes (maus). Algumas<br />

passagens da Bíblia Sagrada <strong>de</strong>ixam enten<strong>de</strong>r que há uma hierarquia angelical, “...acima <strong>de</strong> todo principado, e<br />

potesta<strong>de</strong>, e po<strong>de</strong>r, e domínio...” (Efésios 1.21); “...pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a<br />

terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta<strong>de</strong>s” (Colossenses<br />

1.16); “...ficando-lhe subordinados anjos, e potesta<strong>de</strong>s, e po<strong>de</strong>res” (1 Pedro 3.22).<br />

Na Carta aos Colossenses a posição hierárquica está em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente: tronos, soberanias, principados e<br />

potesta<strong>de</strong>s, enquanto em Efésios a mesma graduação é mencionada em or<strong>de</strong>m crescente: principados, potesta<strong>de</strong>s,<br />

po<strong>de</strong>r e domínio. Conclui-se que essas posições hierárquicas <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> entre os anjos ocorrem <strong>de</strong>vido às suas<br />

diferentes funções exercidas no céu.<br />

) ג ב ר י א ל)‏ 3.1 GABRIEL<br />

O nome Gabriel é oriundo do hebraico ג ב ר י א ל —Gabriy’el, <strong>de</strong> “13.il geber, “homem (jovem e forte),<br />

varão ”, e significa literalmente “homem <strong>de</strong> Deus, varão <strong>de</strong> Deus”.<br />

Ele aparece quatro vezes nas Escrituras, e sempre em missões específicas (Daniel 8.16; 9.21; Lucas 1.19;<br />

1.26). No Antigo Testamento Gabriel aparece apenas no livro do profeta Daniel, e ali como mensageiro celestial<br />

para revelar eventos futuros ou escatológicos (Daniel 8.19; 9.24-27).<br />

No Novo Testamento Gabriel ressurge somente na narrativa <strong>de</strong> Lucas que <strong>de</strong>screve o nascimento <strong>de</strong> Cristo.<br />

Ali, ele é o mensageiro angelical que anuncia gran<strong>de</strong>s eventos: 0 nascimento <strong>de</strong> João (Lucas 1.11-20) e <strong>de</strong><br />

Jesus (Lucas 1.26-38). Também é apresentado como aquele que “assiste diante <strong>de</strong> Deus” (Lucas 1.19), o que<br />

evi<strong>de</strong>ncia sua relação pessoal com seu criador. Destes casos, conclui-se que Gabriel é o portador das gran<strong>de</strong>s<br />

mensagens divinas aos homens. Po<strong>de</strong>-se concluir dizendo que na Bíblia Gabriel é 0 “anjo mensageiro” e Miguel<br />

0 “anjo guerreiro” (Daniel 10.13; Apocalipse 12.7).<br />

Não é somente nas Escrituras Sagradas que po<strong>de</strong>mos encontrar referências a este ser celestial. Os manuscritos<br />

<strong>de</strong>scobertos nas grutas <strong>de</strong> Qumrã comprovam o interesse dos essênios por anjos. Gabriel é um dos quatro nomes<br />

angelicais escritos nos escudos dos Filhos da Luz enquanto saem para a batalha (1 QM 9.14-16). Os Targuns<br />

introduzem Gabriel nas narrativas bíblicas como aquele que guia José para encontrar-se com seus irmãos (Gênesis<br />

37.15), que enterra Moisés (Deuteronômio 34.6) e <strong>de</strong>strói 0 exército <strong>de</strong> Senaqueribe (2 Crônicas 32.21).8<br />

) מ י כ א ל)‏ 3.2 MIGUEL<br />

O nome Miguel é <strong>de</strong> origem hebraica מ י כ א ל M iyka’el, <strong>de</strong> מ י miy, “quem?”, + כ י‎1‎ kiy, “como?” e Έ1,<br />

“Deus”, e significa literalmente “quem é como Deus, quem é semelhante a Deus”.<br />

Ele é mencionado como aquele que se levanta, provavelmente, em <strong>de</strong>fesa do povo <strong>de</strong> Israel. “Mas 0<br />

príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio<br />

para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia” (Daniel 10.13). Neste mesmo sentido, o versículo<br />

21 fala <strong>de</strong> “... Miguel, vosso príncipe”.<br />

Miguel, diferentemente dos <strong>de</strong>mais anjos, é <strong>de</strong>scrito no Novo Testamento como um arcanjo (Μιχαήλ<br />

ό αρχάγγελος Mikhael hó arkhangelos, “Miguel 0 arcanjo” (Jd 9), vocábulo oriundo do grego, αρχάγγελος<br />

* Durante a época persa os ju<strong>de</strong>us adotaram como língua corrente 0 aramaico. Isto criou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> traduções da Bíblia<br />

nesta língua (targumim). No princípio tratava-se <strong>de</strong> versões orais, <strong>de</strong> caráter parafrásico, da leitura sinagogal (Neemias 8.8). Ao ser posta,<br />

mais tar<strong>de</strong>, por escrito, e ao tornar-se mais complexa a paráfrase, passaram a ter uso extra-sinagogal e a adquirir caráter literário mais<br />

acentuado.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

Arkhangelos, <strong>de</strong> αρχω arkhoo, “governo, chefe, lí<strong>de</strong>r”, e αγγβλος angelos, “anjo, mensageiro”, e significa “lí<strong>de</strong>r<br />

ou chefe dos anjos”.<br />

‏(כרבים)‏ 3.3 qu e r ub i n s<br />

O vocábulo □ כ ר ב י Kerubiym é a forma plural do hebraico בר!"‏ ב Kerub. Seu correspon<strong>de</strong>nte grego é<br />

Χφουβιν Kheroubín. Não se sabe ao certo se este termo significa uma posição especial ou um serviço exaltado<br />

rendido por aqueles que levam este nome.<br />

Aparecem pela primeira vez na entrada do jardim do É<strong>de</strong>n, incumbidos <strong>de</strong> guardar 0 caminho para a árvore<br />

da vida <strong>de</strong>pois que 0 homem foi expulso (Gênesis 3.24). Uma função semelhante foi creditada aos dois querubins<br />

dourados. Sobre a arca da aliança, no Santo dos Santos do tabemáculo no <strong>de</strong>serto, embora em figuras <strong>de</strong> ouro,<br />

foram postos em cada extremida<strong>de</strong> do propiciatório (a tampa que cobria a arca no santíssimo lugar - Êxodo<br />

25.17-22; Hebreus 9.5), on<strong>de</strong> simbolicamente protegiam os objetos guardados na arca e proviam, com suas<br />

asas estendidas, um pe<strong>de</strong>stal visível para o trono invisível <strong>de</strong> Yahweh (Salmos 80.1; 99.1).<br />

Também foram bordados querubins nas cortinas e véus do tabemáculo, bem como estampados nas pare<strong>de</strong>s do<br />

Templo (Êxodo 26.31; 2 Crônicas 3.7).<br />

Profeta do cativeiro babilônico, Ezequiel se refere a estes seres chamando-os pelo seu título <strong>de</strong>zenove vezes.<br />

Os quatro seres viventes mencionados pelo profeta são querubins (Ezequiel 1.5, 13-15; 3.13; 10.14-15).<br />

O principal propósito <strong>de</strong>les é proclamar e proteger a glória, a soberania e a santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Severino Pedro<br />

nos informa que existe uma característica dupla nesses seres viventes <strong>de</strong>nominados querubins: “Eles são chamados<br />

<strong>de</strong> querubins e como tais <strong>de</strong>sempenham dupla função, isto é, são guardas celestiais (Gênesis 3.24), e ao mesmo<br />

tempo eles <strong>de</strong>sempenham a função <strong>de</strong> serafins (os componentes do coro angelical) que clama dia e noite: ‘Santo,<br />

Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos: toda a Terra está cheia da sua Glória’ (cf. Is 6.1-6; Ap 4.8 e ss.)”. 9<br />

Segundo Louis Berkhof, “mais que outras criaturas, eles foram <strong>de</strong>stinados a revelar o po<strong>de</strong>r, a majesta<strong>de</strong> e a<br />

glória <strong>de</strong> Deus, e a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus no jardim do É<strong>de</strong>n, no tabemáculo, no templo e na <strong>de</strong>scida <strong>de</strong><br />

Deus a terra” (<strong>Teologia</strong> sistemática, p. 146).<br />

Satanás também pertencia a essa classe <strong>de</strong> seres espirituais conforme implícito no texto: “Tu eras querubim<br />

da guarda ungido, e te estabeleci...” (Ezequiel 28.14, 16).<br />

‏(טרפים)‏ 3.4 s erafi ns<br />

O termo hebraico □ ש ר פ י Serafiym é a forma plural <strong>de</strong> ש ר ף Saraf, oriundo <strong>de</strong> ש ל ף saraf, “queimar,<br />

cauterizar, ser queimado”.<br />

A única menção a esses seres celestiais nas Escrituras Sagradas localiza-se no livro do profeta Isaías (Isaías<br />

6.3). Presume-se que se ocupam da adoração a Deus, clamando “uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo<br />

é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6.3).<br />

3.5 O ANJO DO SENHOR<br />

Outro ensino veterotestamentário <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, que por sua vez causa muita confusão entre os<br />

cristãos, está estritamente relacionado com as aparições <strong>de</strong> um anjo <strong>de</strong>nominado “Anjo do Senhor” (ΓΗΓΠ<br />

- M al’ak Yehowah ou M al’ak Yahweh). A maneira pela qual este anjo é <strong>de</strong>scrito distingue-0 <strong>de</strong> qualquer מ ל א ך<br />

outro ser criado. Este anjo (mensageiro) aparece inúmeras vezes no Antigo Testamento. Vale lembrar que a<br />

palavra hebraica m al’ak, traduzida por anjo, significa simplesmente “mensageiro”. Porém, encontramos várias<br />

passagens nas Escrituras on<strong>de</strong> o Anjo do SENHOR é chamado <strong>de</strong> “Deus” ou “SENHOR”. Vejamos.<br />

Abraão recebe or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Deus para sacrificar seu filho, Isaque, no lugar em que Ele mostraria. Em obediência,<br />

Abraão fora “ao lugar que Deus lhe dissera, e edificou ali um altar, e pôs em or<strong>de</strong>m a lenha, e amarrou a Isaque,<br />

seu filho, e <strong>de</strong>itou-o sobre o altar em cima da lenha. E esten<strong>de</strong>u Abraão a sua mão e tomou o cutelo para imolar<br />

0 seu filho. Mas 0 Anjo do SENHOR lhe bradou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os céus e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.<br />

9SILVA, Severino Pedro da. Os an jo s- s u a natureza e ofício. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1987. p. 64.<br />

98<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1DOUTRINA DOS ANJOS<br />

Então, disse: Não estendas a tua mão sobre 0 moço e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus<br />

e não me negaste o teu filho, 0 teu único” (Gênesis 22.9-12, grifo nosso).<br />

Jacó lutou com um anjo e prevaleceu. Ao final “Jacó lhe perguntou e disse: Dá-me, peço-te, a saber, o teu<br />

nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó 0 nome daquele lugar<br />

Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva” (Gênesis 32.30, grifo nosso).<br />

Moisés, ao se encontrar inesperadamente com este mensageiro <strong>de</strong> Deus no monte Sinai, <strong>de</strong>scobre: “E apareceulhe<br />

o Anjo do SENHOR em uma chama <strong>de</strong> fogo, no meio <strong>de</strong> uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo,<br />

e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá e verei esta gran<strong>de</strong> visão, porque a sarça se<br />

não queima. E, vendo o SENHOR que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele do meio da sarça e disse: Moisés!<br />

Moisés! E ele disse: Eis-me aqui” (Êxodo 3.2-4, grifo nosso).<br />

E chamado <strong>de</strong> Senhor Jeová: “E 0 Anjo do SENHOR esten<strong>de</strong>u a ponta do cajado que estava na sua mão e<br />

tocou a carne e os bolos asmos; então, subiu fogo da penha e consumiu a carne e os bolos asmos; e o Anjo do<br />

SENHOR <strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong> seus olhos. Então, viu Gi<strong>de</strong>ão que era 0 Anjo do ‏,־SENHOR e disse Gi<strong>de</strong>ão: Ah! Senhor<br />

JEOVÁ, que eu vi 0 Anjo do SENHOR face a face. Porém o SENHOR lhe disse: Paz seja contigo; não temas,<br />

não morrerás. Então, Gi<strong>de</strong>ão edificou ali um altar ao SENHOR e lhe chamou SENHOR é Paz; e ainda até ao dia<br />

<strong>de</strong> hoje está em Ofra dos abiezritas” (Juizes 6.21-24, grifo nosso).<br />

É chamado <strong>de</strong> maravilhoso: “Porém 0 Anjo do SENHOR disse a Manoá: Ainda que me <strong>de</strong>tenhas, não comerei <strong>de</strong><br />

teu pão; e, se fizeres holocausto, o oferecerás ao SENHOR. Porque não sabia Manoá que fosse o Anjo do SENHOR. E<br />

disse Manoá ao Anjo do SENHOR: Qual é o teu nome? Para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos. E o<br />

Anjo do SENHOR lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso? Então, Manoá tomou<br />

um cabrito e uma oferta <strong>de</strong> manjares e os ofereceu sobre uma penha ao SENHOR; e agiu 0 Anjo maravilhosamente,<br />

vendo-o Manoá e sua mulher. E suce<strong>de</strong>u que, subindo a chama do altar para o céu, o Anjo do SENHOR subiu na<br />

chama do altar; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram em terra sobre seu rosto. E nunca mais apareceu o Anjo do<br />

SENHOR a Manoá, nem à sua mulher; então, conheceu Manoá que era 0 Anjo do SENHOR. E disse Manoá à sua<br />

mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto Deus” (Juizes 13.16-22, grifo nosso).<br />

Nesse texto, Ele <strong>de</strong>clara ser seu nome secreto, pois a palavra “maravilhoso” no hebraico “ פ ל א י - piliy ou<br />

-p a liy ” significa “incompreensível, extraordinário, ser difícil <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r”. Todavia, Deus se revela פ ל י א<br />

ao profeta Isaías como o Filho <strong>de</strong> Deus: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos <strong>de</strong>u; e o principado está<br />

sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternida<strong>de</strong>, Príncipe da<br />

Paz” (Isaías 9.6, grifo nosso).<br />

A revelação progressiva <strong>de</strong> Deus vai se tomando inteligível na medida <strong>de</strong> sua vinda à Terra. Através do<br />

profeta Malaquias, Deus anuncia: “Eis que eu envio 0 meu mensageiro (João Batista), que preparará o caminho<br />

diante <strong>de</strong> mim; <strong>de</strong> repente, virá ao seu templo o Senhor (Jesus Cristo), a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a<br />

quem vós <strong>de</strong>sejais; eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos (Deus Pai)” (Malaquias 3.1).<br />

Analisando essa passagem das Escrituras, uma das principais autorida<strong>de</strong>s nos Estados Unidos sobre história<br />

dos ju<strong>de</strong>us, línguas e costumes do Antigo Testamento, Charles L. Feinberg, afirma que “o mensageiro é, sem<br />

sombra <strong>de</strong> dúvida, João Batista” (Mateus 3.3; 11.10; Marcos 1.2-3; Lucas 1.76; 3.4; 7.26-27; João 1.23).10<br />

Este mesmo autor, que cresceu em um lar ju<strong>de</strong>u ortodoxo e estudou hebraico e assuntos afins durante quatorze<br />

anos como matérias preparatórias para o rabinato, admitiu que 0 Anjo da Aliança é “a auto-revelação <strong>de</strong> Deus.<br />

Ele é 0 Senhor em Pessoa, 0 Anjo do Senhor da história do Antigo Testamento, o Cristo pré-encamado das muitas<br />

teofanias (manifestação <strong>de</strong> Deus) nos livros do Antigo Testamento”.11<br />

Por fim, outro ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong> não pequena envergadura conclui: “Não se po<strong>de</strong> evitar a conclusão <strong>de</strong> que este Anjo misterioso<br />

não é outro senão 0 Filho <strong>de</strong> Deus, 0 Messias, 0 Libertador <strong>de</strong> Israel, e o que seria o Salvador do mundo”.12<br />

340. p. FEINBERG, Charles L. Os profetas menores. São Paulo: Vida, 1996. ״<br />

11I<strong>de</strong>m, p. 341.<br />

" PEARLMAN, Myer. Op. cit., p. 59.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

99


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 3<br />

1) De modo geral como po<strong>de</strong>m ser classificados os anjos?<br />

2) Como é colocada a or<strong>de</strong>m hierárquica em Colossenses e em Efésios?<br />

3) O que significa o nome Gabriel?<br />

4) Qual é o único livro do Antigo Testamento em que aparece 0 nome do arcanjo Miguel?<br />

5) O que significa o termo querubim?<br />

6) Qual livro faz menção dos serafins?<br />

7) O que o Dr. Charles L. Feinberg afirma sobre 0 Anjo do Senhor?<br />

100<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

MINISTÉRIO DOS ANJOS<br />

Os anjos foram criados com propósitos <strong>de</strong>finidos por Deus. Nas Escrituras encontramos a razão <strong>de</strong> sua<br />

existência. Foram criados como servos <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> Cristo e da Igreja para executarem a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus na Terra<br />

(Hebreus 1.6, 14). Além disso, conversam entre si (Apocalipse 14.18). Antes <strong>de</strong> se rebelarem contra o Criador,<br />

todos os anjos foram criados primordialmente para adorar a Deus e a Cristo, tendo, portanto, sua existência<br />

centrada nEles. Passemos a analisar o que a Bíblia diz sobre o ministério dos anjos.<br />

A) ADORAR A DEUS<br />

O principal e talvez 0 mais importante ministério dos anjos é 0 <strong>de</strong> adorar e oferecer louvor incessante a Deus.<br />

Várias passagens das Escrituras confirmam esse asserto:<br />

“Vi e ouvi uma voz <strong>de</strong> muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era <strong>de</strong><br />

milhões <strong>de</strong> milhões e milhares <strong>de</strong> milhares, proclamando em gran<strong>de</strong> voz: Digno é 0 Cor<strong>de</strong>iro que foi morto <strong>de</strong><br />

receber o po<strong>de</strong>r, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Apocalipse 5.11-12).<br />

“E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos <strong>de</strong> Deus o adorem” (Hebreus 1.6).<br />

“Bendizei ao SENHOR, todos os seus anjos, valorosos em po<strong>de</strong>r, que executais as suas or<strong>de</strong>ns e lhe<br />

obe<strong>de</strong>ceis à palavra. Bendizei ao SENHOR, todos os seus exércitos, vós, ministros seus, que fazeis a sua<br />

vonta<strong>de</strong>” (Salmos 103.20-21).<br />

B) MEDIADORES DA LEI<br />

Foi por intermédio dos anjos que a Lei mosaica foi transmitida ao povo israelita: “ . ..vós que recebestes a lei<br />

por ministério <strong>de</strong> anjos e não a guardastes” (Atos 7.53). “Qual, pois, a razão <strong>de</strong> ser da lei? Foi adicionada por<br />

causa das transgressões, até que viesse o <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio <strong>de</strong><br />

anjos, pela mão <strong>de</strong> um mediador” (Gálatas 3.19). “Se, pois, se tomou firme a palavra falada por meio <strong>de</strong> anjos, e<br />

toda transgressão e <strong>de</strong>sobediência recebeu justo castigo...” (Hebreus 2.2).<br />

C) EXECUTAM OS JUÍZOS DE DEUS<br />

Por várias vezes os anjos são apresentados nas Escrituras com missões específicas: executar os juízos <strong>de</strong> Deus.<br />

“Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado; este, quando os viu,<br />

levantou-se e, indo ao seu encontro, prostrou-se, rosto em terra. Então, disseram os homens a Ló: Tens aqui<br />

alguém mais dos teus? Genro, e teus filhos, e tuas filhas, todos quantos tens na cida<strong>de</strong>, faze-os sair <strong>de</strong>ste lugar;<br />

pois vamos <strong>de</strong>struir este lugar, porque o seu clamor se tem aumentado, chegando até à presença do SENHOR; e<br />

o SENHOR nos enviou a <strong>de</strong>struí-lo” (Gênesis 19.1, 12-13).<br />

“Esten<strong>de</strong>ndo, pois, 0 Anjo do SENHOR a mão sobre Jerusalém, para a <strong>de</strong>struir, arrepen<strong>de</strong>u-se o SENHOR<br />

do mal e disse ao Anjo que fazia a <strong>de</strong>struição entre o povo: Basta, retira a mão. O Anjo estava junto à eira <strong>de</strong><br />

Araúna, 0 jebuseu. Vendo Davi ao Anjo que feria o povo, falou ao SENHOR e disse: Eu é que pequei, eu é que<br />

procedi perversamente; porém estas ovelhas que fizeram? Seja, pois, a tua mão contra mim e contra a casa <strong>de</strong><br />

meu pai” (2 Samuel 24.16-17).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

lOt


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

“Então, naquela mesma noite, saiu o Anjo do SENHOR e feriu, no arraial dos assírios, cento e oitenta e cinco<br />

mil; e, quando se levantaram os restantes pela manhã, eis que todos estes eram cadáveres” (2 Reis 19.35).<br />

“No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido <strong>de</strong> vermes,<br />

expirou” (Atos 12.23).<br />

“Ouvi, vinda do santuário, uma gran<strong>de</strong> voz, dizendo aos sete anjos: I<strong>de</strong> e <strong>de</strong>rramai pela terra as sete taças da<br />

cólera <strong>de</strong> Deus. Saiu, pois, o primeiro anjo e <strong>de</strong>rramou a sua taça pela terra, e, aos homens portadores da marca<br />

da besta e adoradores da sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e perniciosas” (Apocalipse 16.1-2).<br />

D) REÚNEM OS ELEITOS<br />

No retomo <strong>de</strong> Cristo à Terra para buscar seus fiéis, os anjos exercerão gran<strong>de</strong> influência. “Então, aparecerá no<br />

céu 0 sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as<br />

nuvens do céu, com po<strong>de</strong>r e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com gran<strong>de</strong> clangor <strong>de</strong> trombeta, os quais<br />

reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, <strong>de</strong> uma a outra extremida<strong>de</strong> dos céus” (Mateus 24.30-31).<br />

E) NO JUÍZO FINAL<br />

Os anjos <strong>de</strong> Deus serão os ceifeiros que separarão os cristãos dos incrédulos no dia do juízo final. Eles<br />

conhecem a diferença entre o joio e 0 trigo.<br />

“Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio,<br />

atai-0 em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro... o inimigo que o semeou é o diabo;<br />

a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos” (Mateus 13.30, 39).<br />

“Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus <strong>de</strong>ntre os justos, e os lançarão na<br />

fornalha acesa; ali haverá choro e ranger <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes” (Mateus 13.49-50).<br />

“...e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor<br />

Jesus com os anjos do seu po<strong>de</strong>r, em chama <strong>de</strong> fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e<br />

contra os que não obe<strong>de</strong>cem ao evangelho <strong>de</strong> nosso Senhor Jesus” (1 Tessalonicenses 1.7-8).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 4<br />

1) Os anjos foram criados com propósitos <strong>de</strong>finidos por Deus. Quais são?<br />

2) Cite três ministérios dos anjos.<br />

102<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

ANJOS NO ANTIGO E NO<br />

NOVO TESTAMENTO<br />

O ministério dos anjos é proeminentemente <strong>de</strong>senvolvido. Eles estão presentes em quase todos os<br />

acontecimentos tanto do Antigo como do Novo Testamento. Eles afloram em toda a Bíblia!<br />

5.1 NO ANTIGO TESTAMENTO<br />

O comentador Severino Pedro da Silva observa que “embora os anjos estivessem presentes na criação,<br />

nenhuma referência foi feita ao ministério <strong>de</strong>les até os dias <strong>de</strong> Abraão. Só <strong>de</strong>pois eles aparecem (Gn 16.7 e ss.) e<br />

a partir daí, estão presentes até o último capítulo da Bíblia (Ap 22.16)”.13<br />

Não obstante, no jardim do É<strong>de</strong>n, quando Deus expulsou Adão e Eva, foram colocados querubins para<br />

“guardar o caminho da árvore da vida” (Gênesis 3.24)<br />

• Apareceu no <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> Sur à escrava egípcia Agar a fim <strong>de</strong> lhe socorrer e foi i<strong>de</strong>ntificado como “Anjo<br />

do Senhor”: “Tendo-a achado o Anjo do SENHOR junto a uma fonte <strong>de</strong> água no <strong>de</strong>serto, junto à fonte<br />

no caminho <strong>de</strong> Sur, disse-lhe: Agar, serva <strong>de</strong> Sarai, don<strong>de</strong> vens e para on<strong>de</strong> vais? Ela respon<strong>de</strong>u: Fujo da<br />

presença <strong>de</strong> Sarai, minha senhora. Então, lhe disse 0 Anjo do SENHOR: Volta para a tua senhora e humilhate<br />

sob suas mãos. Disse-lhe mais o Anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremodo a tua <strong>de</strong>scendência, <strong>de</strong><br />

maneira que, por numerosa, não será contada. Disse-lhe ainda 0 Anjo do SENHOR: Concebeste e darás à<br />

luz um filho, a quem chamarás Ismael, porque 0 SENHOR te acudiu na tua aflição” (Gênesis 16.7-11).<br />

• Anunciaram o nascimento <strong>de</strong> Isaque ao patriarca Abraão: “Apareceu 0 SENHOR a Abraão nos carvalhais<br />

<strong>de</strong> Manre, quando ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. Levantou ele os olhos,<br />

olhou, e eis três homens <strong>de</strong> pé em frente <strong>de</strong>le. Vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro, prostrouse<br />

em terra...” (Gênesis 18.1 e ss).<br />

• Predisseram a <strong>de</strong>struição das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Sodoma e Gomorra: “Disse mais 0 SENHOR: Com efeito, 0<br />

clamor <strong>de</strong> Sodoma e Gomorra tem-se multiplicado, e o seu pecado se tem agravado muito. Descerei e<br />

verei se, <strong>de</strong> fato, 0 que têm praticado correspon<strong>de</strong> a esse clamor que é vindo até mim; e, se assim não é,<br />

sabê-lo-ei. Então, partiram dali aqueles homens e foram para Sodoma; porém Abraão permaneceu ainda<br />

na presença do SENHOR” (Gênesis 18.20-22).<br />

• Os anjos salvaram Ló do meio da <strong>de</strong>struição: “Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada<br />

estava Ló assentado; este, quando os viu, levantou-se e, indo ao seu encontro, prostrou-se, rosto em terra... Então,<br />

disseram os homens a Ló: Tens aqui alguém mais dos teus? Genro, e teus filhos, e tuas filhas, todos quantos<br />

tens na cida<strong>de</strong>, faze-os sair <strong>de</strong>ste lugar; pois vamos <strong>de</strong>struir este lugar, porque o seu clamor se tem aumentado,<br />

chegando até à presença do SENHOR; e 0 SENHOR nos enviou a <strong>de</strong>struí-lo” (Gênesis 19.1,12-13).<br />

• Impediram o sacrifício <strong>de</strong> Isaque: “Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR: Abraão! Abraão! Ele<br />

respon<strong>de</strong>u: Eis-me aqui! Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre 0 rapaz e nada lhe faças; pois agora<br />

sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” (Gênesis 22.11-12).<br />

13 SILVA, Severino Pedro da. Op. cit., 85.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

103


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

• Guardaram Jacó: “Também Jacó seguiu 0 seu caminho, e anjos <strong>de</strong> Deus lhe saíram a encontrá-lo”<br />

(Gênesis 32.1).<br />

• Foi adiante <strong>de</strong> Moisés: “Enviarei o Anjo adiante <strong>de</strong> ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus,<br />

os ferezeus, os heveus e os jebuseus” (Êxodo 33.2).<br />

• Guiou Israel no <strong>de</strong>serto: “Então, o Anjo <strong>de</strong> Deus, que ia adiante do exército <strong>de</strong> Israel, se retirou e passou para<br />

trás <strong>de</strong>les; também a coluna <strong>de</strong> nuvem se retirou <strong>de</strong> diante <strong>de</strong>les, e se pôs atrás <strong>de</strong>les” (Êxodo 14.19).<br />

• Dirigiu o damasceno Eliezer para Arã: “O SENHOR, Deus do céu, que me tirou da casa <strong>de</strong> meu pai e <strong>de</strong><br />

minha terra natal, e que me falou, e jurou, dizendo: A tua <strong>de</strong>scendência darei esta terra, ele enviará o seu<br />

anjo, que te há <strong>de</strong> prece<strong>de</strong>r, e tomarás <strong>de</strong> lá esposa para meu filho” (Gênesis 24.7).<br />

• Repreen<strong>de</strong>u Balaão: “Então, o SENHOR abriu os olhos a Balaão, ele viu o Anjo do SENHOR, que estava<br />

no caminho, com a sua espada <strong>de</strong>sembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o<br />

rosto em terra” (Números 22.31).<br />

• Repreen<strong>de</strong>u os israelitas: “Subiu o Anjo do SENHOR <strong>de</strong> Gilgal a Boquim e disse: Do Egito vos fiz subir e<br />

vos trouxe à terra que, sob juramento, havia prometido a vossos pais. Eu disse: nunca invalidarei a minha<br />

aliança convosco. Vós, porém, não fareis aliança com os moradores <strong>de</strong>sta terra; antes, <strong>de</strong>rribareis os seus<br />

altares; contudo, não obe<strong>de</strong>cestes à minha voz. Que é isso que fizestes?” (Juizes 2.12).<br />

• Comissionou Gi<strong>de</strong>ão: “Apareceu o Anjo do SENHOR a esta mulher e lhe disse: Eis que és estéril e nunca<br />

tiveste filho; porém conceberás e darás à luz um filho” (Juizes 13.1 e ss.).<br />

• Feriu 70 mil: “Vendo Davi ao Anjo que feria o povo, falou ao SENHOR e disse: Eu é que pequei, eu é que<br />

procedi perversamente; porém estas ovelhas que fizeram? Seja, pois, a tua mão contra mim e contra a casa<br />

<strong>de</strong> meu pai... <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a manhã até ao tempo que <strong>de</strong>terminou; e, <strong>de</strong> Dã até Berseba, morreram setenta mil<br />

homens do povo” (2 Samuel 24.15-16).<br />

• Socorreu Elias: “Voltou segunda vez o anjo do SENHOR, tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come, porque<br />

0 caminho te será sobremodo longo” (1 Reis 19.7).<br />

• Apareceram a Geazi: “Orou Eliseu e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. O<br />

SENHOR abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio <strong>de</strong> cavalos e carros <strong>de</strong> fogo, em redor<br />

<strong>de</strong> Eliseu” (2 Reis 6.17).<br />

• Livrou Daniel da cova dos leões: “O meu Deus enviou 0 seu anjo e fechou a boca aos leões, para que não<br />

me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante <strong>de</strong>le; também contra ti, ó rei, não cometi<br />

<strong>de</strong>lito algum” (Daniel 6.22).<br />

• Ajudou Zacarias: “Então, perguntei: meu senhor, quem são estes? Respon<strong>de</strong>u-me o anjo que falava comigo:<br />

Eu te mostrarei quem são eles” (Zacarias 1.9).<br />

5.2 NO NOVO TESTAMENTO<br />

No Novo Testamento o ministério dos anjos se toma mais ativo, mais movimentado e mais esclarecido: “Não<br />

são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão <strong>de</strong> herdar a salvação?” (Hebreus<br />

104<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

1.14). Des<strong>de</strong> o nascimento, a vida, a morte, a ressurreição e a ascensão <strong>de</strong> Jesus, os anjos estavam presentes,<br />

0 que faz jus à afirmação do apóstolo Paulo: “...contemplado pelos anjos1) ״ Timóteo 3.16). Jesus foi enfático<br />

sobre o ministério dos anjos, <strong>de</strong> igual modo os apóstolos nos Atos, nas epístolas e no Apocalipse. Vejamos:<br />

• Um anjo anunciou 0 nascimento <strong>de</strong> João Batista: “Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas,<br />

porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome <strong>de</strong><br />

João” (Lucas 1.13).<br />

• Um anjo anunciou a Maria o nascimento <strong>de</strong> Jesus: “No sexto mês, foi 0 anjo Gabriel enviado, da parte<br />

<strong>de</strong> Deus, para uma cida<strong>de</strong> da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem <strong>de</strong>sposada com certo homem da<br />

casa <strong>de</strong> Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria” (Lucas 1.26-27).<br />

• Um anjo anunciou a José o mesmo acontecimento: “Enquanto pon<strong>de</strong>rava nestas coisas, eis que lhe<br />

apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho <strong>de</strong> Davi, não temas receber Maria, tua<br />

mulher, porque 0 que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mateus 1.20).<br />

• Anunciaram aos pastores belemitas 0 nascimento <strong>de</strong> Jesus: “Havia, naquela mesma região, pastores que<br />

viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor <strong>de</strong>sceu<br />

aon<strong>de</strong> eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor <strong>de</strong>les; e ficaram tomados <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> temor. O<br />

anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alegria, que o será para todo<br />

o povo: é que hoje vos nasceu, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2.8-11).<br />

• Foi vista uma gran<strong>de</strong> multidão: “...apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a<br />

Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”<br />

(Lucas 2.13-14).<br />

• José foi advertido por um anjo para fugir: “...eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e<br />

disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque<br />

Hero<strong>de</strong>s há <strong>de</strong> procurar o menino para o matar” (Mateus 2.13).<br />

• Novamente José foi orientado por um anjo para retomar: “Tendo Hero<strong>de</strong>s morrido, eis que um anjo do<br />

Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para<br />

a terra <strong>de</strong> Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino” (Mateus 2.19-20).<br />

• Anjos ministraram a Jesus <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua tentação: “...e eis que vieram anjos e 0 serviram” (Mateus 4.11).<br />

• Jesus disse a Natanael que ele veria anjos: “Em verda<strong>de</strong>, em verda<strong>de</strong> vos digo que vereis 0 céu aberto e<br />

os anjos <strong>de</strong> Deus subindo e <strong>de</strong>scendo sobre 0 Filho do Homem” (João 1.51).<br />

• Jesus tinha, caso fosse necessário, legiões <strong>de</strong> anjos para protegê-lo: “Acaso, pensas que não posso rogar<br />

a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais <strong>de</strong> doze legiões <strong>de</strong> anjos?” (Mateus 26.53).<br />

• Jesus foi fortalecido por um anjo no Getsêmani: “Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava”<br />

(Lucas 22.43).<br />

• Um anjo removeu a pedra do sepulcro: “E eis que houve um gran<strong>de</strong> terremoto; porque um anjo do<br />

Senhor <strong>de</strong>sceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela” (Mateus 28.2).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

Anjos estavam presentes na hora da ascensão: “E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus<br />

subia, eis que dois varões vestidos <strong>de</strong> branco se puseram ao lado <strong>de</strong>les e lhes disseram: Varões galileus,<br />

por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que <strong>de</strong>ntre vós foi assunto ao céu virá do modo como<br />

o vistes subir” (Atos 1.10-11).<br />

Na posição glorificada os anjos ren<strong>de</strong>m-lhe submissão: “.. .0 qual, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ir para o céu, está à <strong>de</strong>stra<br />

<strong>de</strong> Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potesta<strong>de</strong>s, e po<strong>de</strong>res” (1 Pedro 3.22).<br />

Anjos acompanharão a volta <strong>de</strong> Jesus: “Porque 0 Filho do Homem há <strong>de</strong> vir na glória <strong>de</strong> seu Pai, com<br />

os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mateus 16.27). “Quando vier 0<br />

Filho do Homem na sua majesta<strong>de</strong> e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória”<br />

(Mateus 25.31).<br />

Nos evangelhos<br />

Jesus disse que os anjos subiam e <strong>de</strong>sciam sobre ele: “Em verda<strong>de</strong>, em verda<strong>de</strong> vos digo que vereis o céu<br />

aberto e os anjos <strong>de</strong> Deus subindo e <strong>de</strong>scendo sobre 0 Filho do Homem” (João 1.51).<br />

Tinha milhares <strong>de</strong> anjos à sua disposição: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me<br />

mandaria neste momento mais <strong>de</strong> doze legiões <strong>de</strong> anjos?” (Mateus 26.53).<br />

Voltarão com Jesus no dia do juízo: “Porque 0 Filho do Homem há <strong>de</strong> vir na glória <strong>de</strong> seu Pai, com<br />

os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mateus 16.27). “Quando vier o<br />

Filho do Homem na sua majesta<strong>de</strong> e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória”<br />

(Mateus 25.31).<br />

Jesus disse que eles reuniriam seus escolhidos: “E ele enviará os seus anjos, com gran<strong>de</strong> clangor <strong>de</strong><br />

trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, <strong>de</strong> uma a outra extremida<strong>de</strong> dos céus”<br />

(Mateus 24.31).<br />

Jesus disse que eles separarão os ímpios dos justos: “Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que<br />

ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüida<strong>de</strong> e os lançarão na fornalha<br />

acesa; ali haverá choro e ranger <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes. Então, os justos resplan<strong>de</strong>cerão como 0 sol, no reino <strong>de</strong> seu<br />

Pai” (Mateus 13.41-43).<br />

Jesus disse que os anjos se alegram quando um pecador se arrepen<strong>de</strong>: “Eu vos afirmo que, <strong>de</strong> igual<br />

modo, há júbilo diante dos anjos <strong>de</strong> Deus por um pecador que se arrepen<strong>de</strong>” (Lucas 15.10).<br />

Jesus disse confessar nosso nome perante os anjos: “Digo-vos ainda: todo aquele que me confessar<br />

diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos <strong>de</strong> Deus” (Lucas 12.8).<br />

Jesus falou sobre a imortalida<strong>de</strong> dos anjos: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em<br />

casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mateus 22.30).<br />

Jesus falou sobre 0 diabo e seus serviçais: “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda:<br />

Apartai-vos <strong>de</strong> mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41).<br />

106<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

b) Nos Atos dos Apóstolos<br />

No princípio da sua formação a Igreja Primitiva foi auxiliada e protegida por estes seres celestiais. O que<br />

Jesus havia dito nos evangelhos, nos Atos dos Apóstolos toma-se visível aos olhos dos fiéis.<br />

Os anjos testemunharam a ascensão <strong>de</strong> Jesus: “E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus<br />

subia, eis que dois varões vestidos <strong>de</strong> branco se puseram ao lado <strong>de</strong>les e lhes disseram: Varões galileus,<br />

por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que <strong>de</strong>ntre vós foi assunto ao céu virá do modo como o<br />

vistes subir” (Atos 1.10-11).<br />

• Um anjo soltou Pedro e João da prisão: “...<strong>de</strong> noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e,<br />

conduzindo-os para fora...” (Atos 5.19).<br />

Um anjo disse para Filipe ir para o <strong>de</strong>serto ao encontro do eunuco: “Um anjo do Senhor falou a Filipe,<br />

dizendo: Dispõe-te e vai para o lado do Sul, no caminho que <strong>de</strong>sce <strong>de</strong> Jemsalém a Gaza; este se acha<br />

<strong>de</strong>serto” (Atos 8.26).<br />

Um anjo soltou Pedro da prisão: “Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz iluminou<br />

a prisão; e, tocando ele o lado <strong>de</strong> Pedro, o <strong>de</strong>spertou, dizendo: Levanta-te <strong>de</strong>pressa! Então, as ca<strong>de</strong>ias<br />

caíram-lhe das mãos” (Atos 12.7).<br />

• Um anjo falou com o centurião Comélio: “Morava em Cesaréia um homem <strong>de</strong> nome Comélio, centurião<br />

da coorte chamada Italiana, piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao<br />

povo e, <strong>de</strong> contínuo, orava a Deus. Esse homem observou claramente durante uma visão, cerca da hora<br />

nona do dia, um anjo <strong>de</strong> Deus que se aproximou <strong>de</strong>le e lhe disse...” (Atos 10.1-3).<br />

• Um anjo feriu a Hero<strong>de</strong>s: “...um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido<br />

<strong>de</strong> vermes, expirou” (Atos 12.23).<br />

• Um anjo falou com o apóstolo Paulo durante a tempesta<strong>de</strong>: “.. .um anjo <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> quem eu sou e a quem<br />

sirvo, esteve comigo” (Atos 27.23).<br />

c) Nas epístolas<br />

Os anjos não per<strong>de</strong>ram seu foco nas epístolas; continuaram a exercer suas funções <strong>de</strong> servos.<br />

• Paulo falou do julgamento dos anjos: “Não sabeis que havemos <strong>de</strong> julgar os próprios anjos?” (1 Coríntios 6.3).<br />

• O apóstolo disse que era observado a ponto <strong>de</strong> se “tomar espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a<br />

homens” (1 Coríntios 4.9).<br />

• Paulo confirmou 0 ensino <strong>de</strong> Jesus referente à sua vinda acompanhado <strong>de</strong> anjos: “...e a vós outros, que sois<br />

atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu<br />

po<strong>de</strong>r” (2 Tessalonicenses 1.7).<br />

Paulo advertiu quanto a novos ensinos, diferentes daquele por ele ministrado: “Mas, ainda que nós ou mesmo um<br />

anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gálatas 1.8).<br />

• O autor aos hebreus fez gran<strong>de</strong> menção dos anjos (Hebreus 1.4-7, 13; 2.2, 5, 7, 9, 16; 12.22; 13.2).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

107


MÓDULO f 1DOUTRINA DOS ANJOS<br />

d) No Apocalipse<br />

Nesse livro os anjos <strong>de</strong>sempenham um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque tanto na escrita do livro quanto nas revelações ali<br />

<strong>de</strong>scritas.<br />

• Um anjo ditou o livro a João: “Revelação <strong>de</strong> Jesus Cristo, que Deus lhe <strong>de</strong>u para mostrar aos seus servos<br />

as coisas que em breve <strong>de</strong>vem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu<br />

servo João” (Apocalipse 1.1; 22.16).<br />

• Cada uma das sete igrejas tinha um anjo: “Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão<br />

direita e aos sete can<strong>de</strong>eiros <strong>de</strong> ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete can<strong>de</strong>eiros são<br />

as sete igrejas” (Apocalipse 1.20; 2.1 etc).<br />

• Um anjo exclamou a respeito do livro selado: “Vi, também, um anjo forte, que proclamava em gran<strong>de</strong> voz:<br />

Quem é digno <strong>de</strong> abrir o livro e <strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>satar os selos?” (Apocalipse 5.2).<br />

• Milhares <strong>de</strong> anjos cantavam louvores ao cor<strong>de</strong>iro: “Vi e ouvi uma voz <strong>de</strong> muitos anjos ao redor do trono, dos<br />

seres viventes e dos anciãos, cujo número era <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> milhões e milhares <strong>de</strong> milhares, proclamando<br />

em gran<strong>de</strong> voz: Digno é 0 Cor<strong>de</strong>iro que foi morto <strong>de</strong> receber o po<strong>de</strong>r, e riqueza, e sabedoria, e força, e<br />

honra, e glória, e louvor” (Apocalipse 5.11-12).<br />

• Quatro anjos receberam po<strong>de</strong>r para danificar a Terra: “Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro<br />

cantos da terra, conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a<br />

terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma” (Apocalipse 7.1).<br />

• Um anjo selou os eleitos: “Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo 0 selo do Deus vivo, e clamou<br />

em gran<strong>de</strong> voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não<br />

danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus. Então,<br />

ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, <strong>de</strong> todas as tribos dos filhos <strong>de</strong><br />

Israel” (Apocalipse 7.2-4).<br />

• Os anjos se prostraram sobre o rosto diante <strong>de</strong> Deus: “Todos os anjos estavam <strong>de</strong> pé ro<strong>de</strong>ando o trono, os anciãos<br />

e os quatro seres viventes, e ante 0 trono se prostraram sobre 0 seu rosto, e adoraram a Deus” (Apocalipse 7.11).<br />

• Um anjo foi usado para acolher as orações dos santos: “Veio outro anjo e ficou <strong>de</strong> pé junto ao altar, com<br />

um incensário <strong>de</strong> ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações <strong>de</strong> todos os santos<br />

sobre o altar <strong>de</strong> ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença <strong>de</strong> Deus a fumaça do<br />

incenso, com as orações dos santos. E 0 anjo tomou 0 incensário, encheu-0 do fogo do altar e o atirou à<br />

terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto” (Apocalipse 8.3-5).<br />

• Sete anjos tocavam as sete trombetas: “Então, os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se<br />

para tocar” (Apocalipse 8.6).<br />

Um anjo do abismo: “ ...e tinham sobre eles, como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é<br />

Abadom, e em grego, Apoliom” (Apocalipse 9.11).<br />

• Quatro anjos soltaram milhões <strong>de</strong> exércitos: “Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam<br />

108<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 i DOUTRINA DOS ANJOS<br />

preparados para a hora, o dia, 0 mês e 0 ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número dos<br />

exércitos da cavalaria era <strong>de</strong> vinte mil vezes <strong>de</strong>z milhares; eu ouvi o seu número” (Apocalipse 9.15-16).<br />

• Um anjo estava com 0 livro aberto, anunciando o fim: “Vi outro anjo forte <strong>de</strong>scendo do céu, envolto em<br />

nuvem, com 0 arco-íris por cima <strong>de</strong> sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas <strong>de</strong> fogo; e<br />

tinha na mão um livrinho aberto. Pôs o pé direito sobre 0 mar e 0 esquerdo, sobre a terra... e jurou por aquele<br />

que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já<br />

não haverá <strong>de</strong>mora...” (Apocalipse 10.1-2, 6).<br />

• Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão e seus anjos: “Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos<br />

pelejaram contra 0 dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos” (Apocalipse 12.7).<br />

• Um anjo, voando, proclamou o evangelho às nações: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um<br />

evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo”<br />

(Apocalipse 14.6).<br />

• Outro anjo voando proclamou a queda da Babilônia: “Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a gran<strong>de</strong><br />

Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição” (Apocalipse 14.8).<br />

• Um anjo proclamou a perdição dos seguidores da besta: “Seguiu-se a estes outro anjo, 0 terceiro, dizendo, em<br />

gran<strong>de</strong> voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também<br />

esse beberá do vinho da cólera <strong>de</strong> Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com<br />

fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cor<strong>de</strong>iro” (Apocalipse 14.9-10).<br />

• Um anjo anunciou a colheita da Terra: “Outro anjo saiu do santuário, gritando em gran<strong>de</strong> voz para aquele<br />

que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora <strong>de</strong> ceifar, visto que a<br />

seara da terra já amadureceu!” (Apocalipse 14.15).<br />

• Um anjo anunciou a vindima da Terra: “Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que tem autorida<strong>de</strong> sobre o<br />

fogo, e falou em gran<strong>de</strong> voz ao que tinha a foice afiada, dizendo: Toma a tua foice afiada e ajunta os cachos<br />

da vi<strong>de</strong>ira da terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas! Então, o anjo passou a sua foice na terra, e<br />

vindimou a vi<strong>de</strong>ira da terra, e lançou-a no gran<strong>de</strong> lagar da cólera <strong>de</strong> Deus” (Apocalipse 14.18-19).<br />

• Sete anjos <strong>de</strong>rramaram as sete pragas finais: “Vi no céu outro sinal gran<strong>de</strong> e admirável: sete anjos tendo os<br />

sete últimos fiagelos, pois com estes se consumou a cólera <strong>de</strong> Deus” (Apocalipse 15.1).<br />

• Um anjo anunciou o juízo contra a Babilônia: “Depois <strong>de</strong>stas coisas, vi <strong>de</strong>scer do céu outro anjo, que tinha<br />

gran<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, e a terra se iluminou com a sua glória. Então, exclamou com potente voz, dizendo:<br />

Caiu! Caiu a gran<strong>de</strong> Babilônia e se tomou morada <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios, covil <strong>de</strong> toda espécie <strong>de</strong> espírito imundo e<br />

escon<strong>de</strong>rijo <strong>de</strong> todo gênero <strong>de</strong> ave imunda e <strong>de</strong>testável” (Apocalipse 18.1-2).<br />

• Um anjo ajudou a dar a Babilônia o golpe mortal: “Então, um anjo forte levantou uma pedra como gran<strong>de</strong><br />

pedra <strong>de</strong> moinho e arrojou-a para <strong>de</strong>ntro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a<br />

gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, e nunca jamais será achada” (Apocalipse 18.21).<br />

• Um anjo presidiu sobre a <strong>de</strong>struição da besta: “Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com gran<strong>de</strong><br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

109


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

voz, falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vin<strong>de</strong>, reuni-vos para a gran<strong>de</strong> ceia <strong>de</strong> Deus”<br />

(Apocalipse 19.17).<br />

• Um anjo amarrou a Satanás: “Então, vi <strong>de</strong>scer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma<br />

gran<strong>de</strong> corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é 0 diabo, Satanás, e 0 pren<strong>de</strong>u por mil anos”<br />

(Apocalipse 20.2).<br />

• Um anjo mostrou a João a Nova Jerusalém: “Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos<br />

sete fiagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cor<strong>de</strong>iro” (Apocalipse 21.9).<br />

• Um anjo proibiu João <strong>de</strong> adorá-lo: “Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi,<br />

prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não<br />

faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras <strong>de</strong>ste livro.<br />

Adora a Deus” (Apocalipse 22.8-9).<br />

Apesar <strong>de</strong> vivermos em um mundo repleto <strong>de</strong> fantasias criadas pela brilhante mente <strong>de</strong> homens que não crêem<br />

nas Escrituras, os anjos são reais, e mais, é explícita a afirmativa <strong>de</strong> que eles são enviados a favor daqueles que<br />

hão <strong>de</strong> herdar a salvação (Hebreus 1.14).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 5<br />

1) Cite duas aparições dos anjos no Antigo Testamento.<br />

2) Cite duas aparições dos anjos no Novo Testamento.<br />

110<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

ANJOS DESOBEDIENTES<br />

Embora Satanás e seus subordinados jamais <strong>de</strong>vessem receber qualquer proeminência, é salutar compreen<strong>de</strong>r<br />

0 lugar dado a eles nas Escrituras. Nenhum outro indivíduo, exceto a Trinda<strong>de</strong>, recebeu tamanho enfoque na<br />

Bíblia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu início até 0 fim, como o personagem que conhecemos como Satanás, o diabo. Ainda que<br />

algumas pessoas falem <strong>de</strong> “diabos”, como se houvesse muitos <strong>de</strong> sua espécie, tal expressão é incorreta. Há um<br />

número gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> “<strong>de</strong>mônios”, mas existe apenas um “diabo”. “Diabo” é a transliteração do vocábulo grego<br />

“διάβολος - diabolos", nome sempre usado no singular, que significa “acusador” e é aplicado exclusivamente<br />

nas Escrituras a Satanás. “Demônio” é a transliteração <strong>de</strong> “δαιμονιον - daimomon”.<br />

Todos os anjos foram criados perfeitos por Deus, 0 criador <strong>de</strong> todas as coisas visíveis e invisíveis (Ezequiel<br />

28.15). A maior parte <strong>de</strong>les manteve-se obediente, enquanto muitos outros acompanharam Satanás na sua<br />

rebeldia. Esses “anjos, os que não guardaram 0 seu estado original, mas abandonaram 0 seu próprio domicílio,<br />

ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para 0 juízo do gran<strong>de</strong> Dia” (Judas v. 6).<br />

Não temos informações tão minuciosas concernentes a sua origem, queda, caráter, obra e influência, mas 0<br />

que possuímos é suficiente para se compreen<strong>de</strong>r a respeito <strong>de</strong>le e <strong>de</strong> seu exército <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios. Não po<strong>de</strong>mos<br />

permanecer ignorantes em relação aos seus ardis.<br />

6.1 UM SER REAL<br />

Quem é Satanás? Quem é este inimigo das nossas almas? Será uma criatura vestida <strong>de</strong> vermelho, com um<br />

garfo gigante na mão, cauda longa e dois chifres?<br />

Talvez não saibamos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiu esta caricatura. A origem <strong>de</strong>sta representação <strong>de</strong>turpada remonta à Ida<strong>de</strong><br />

Média. Na época medieval, o povo ridicularizava a Satanás e <strong>de</strong>screvia-0 nos termos mais <strong>de</strong>sprezíveis e odiosos<br />

que se podia imaginar.<br />

6.2 SUA EXISTÊNCIA REGISTRADA<br />

Satan (Njs), seu nome hebraico, só é mencionado diretamente em três livros no Antigo Testamento. Na<br />

primeira vez, em 1 Crônicas 21.1, lemos: “Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar 0<br />

censo <strong>de</strong> Israel”. Ele aparece a seguir no livro <strong>de</strong> Jó por várias vezes (1.6-9, 12; 2.1-4, 6-7). Aúltima vez encontrase<br />

em Zacarias 3.1-2: “Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e<br />

Satanás estava à mão direita <strong>de</strong>le, para se lhe opor. Mas o SENHOR disse a Satanás: O SENHOR te repreen<strong>de</strong>, ó<br />

Satanás; sim, 0 SENHOR, que escolheu a Jerusalém, te repreen<strong>de</strong>; não é este um tição tirado do fogo?”.<br />

Já no Novo Testamento ele é mencionado como Satanás ou diabo, cerca <strong>de</strong> setenta e duas vezes. Sua atuação<br />

se toma mais evi<strong>de</strong>nte no Novo Testamento provavelmente <strong>de</strong>vido à encarnação do Filho <strong>de</strong> Deus para <strong>de</strong>struir<br />

as suas obras, efetuando a re<strong>de</strong>nção na cruz do calvário.<br />

6.3 SUA PERSONALIDADE<br />

Ao atribuir-lhe personalida<strong>de</strong>, queremos dizer <strong>de</strong> sua maneira habitual <strong>de</strong> ser, aquilo que o distingue <strong>de</strong> outro<br />

ser, “forma <strong>de</strong> vida caracterizada por uma existência autoconsciente que possui 0 intelecto, emoções e vonta<strong>de</strong>”.14<br />

Ele não é uma “figura <strong>de</strong> linguagem” ou uma “personificação do mal”, é sim um ser pessoal, inteligente, com<br />

vonta<strong>de</strong> e <strong>de</strong>terminação próprias. As Escrituras <strong>de</strong>screvem Satanás como um ser real com todas as marcas <strong>de</strong><br />

14 FRANCISCO, Waldomira. A doutrina dos anjos e d em ô nio s- Estudo exegético acerca dos anjos e <strong>de</strong>mônios à luz das Escrituras. 3. ed. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2005. p. 86.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

!1!


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

sua personalida<strong>de</strong>. Portanto, ele possui todas as características pessoais - ele é capaz <strong>de</strong> pensar, falar e elaborar<br />

estratégias. Ele tem mente, emoções e vonta<strong>de</strong> própria. A Bíblia registra vários pronomes pessoais relacionados<br />

a ele. É, portanto, uma pessoa - um anjo <strong>de</strong>caído, para ser mais específico. Vejamos algumas atribuições que a<br />

Palavra <strong>de</strong> Deus confere a ele:<br />

a) Vonta<strong>de</strong>: “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas <strong>de</strong> Deus exaltarei o meu trono e<br />

no monte da congregação me assentarei, nas extremida<strong>de</strong>s do Norte; subirei acima das mais altas nuvens<br />

e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para 0 reino dos mortos, no mais profundo do<br />

abismo” (Isaías 14.13-15).<br />

b) Conhecimento: “Então, respon<strong>de</strong>u Satanás ao SENHOR: Porventura, Jó <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> teme a Deus? Acaso, não<br />

0 cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra <strong>de</strong> suas mãos abençoaste, e os seus bens<br />

se multiplicaram na terra” (Jó 1.9-10).<br />

Ele é constantemente referido como um ser pessoal. Pronomes pessoais são aplicados a ele nas Escrituras: Jó<br />

1.12; 2.2-3, 6; Zacarias 3.2; Mateus 4.10; João 8.44, como também atos pessoais são realizados por ele: Jó 1.9-<br />

11; Mateus 4.1-11; João 8.44; 1 João 3.8; Judas 9; Apocalipse 12.7-10.<br />

6.4 SUA ORIGEM<br />

Deus é o criador <strong>de</strong> “...todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam<br />

soberanias, quer principados, quer potesta<strong>de</strong>s. Tudo foi criado por meio <strong>de</strong>le e para ele” (Colossenses 1.16). O<br />

próprio Deus <strong>de</strong>clarou que tudo quanto havia feito era muito bom (Gênesis 1.31). As Escrituras indicam que a<br />

criatura conhecida como Satanás nem sempre teve este nome, o qual lhe foi dado por ele ter adotado um proce<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> oposição e resistência a Deus.<br />

No livro do profeta Ezequiel encontramos uma <strong>de</strong>scrição pormenorizada da beleza e sabedoria com que<br />

Satanás foi criado. Assim <strong>de</strong>screvem as Escrituras a seu respeito: “Tu és 0 sinete da perfeição, cheio <strong>de</strong> sabedoria<br />

e formosura. Estavas no É<strong>de</strong>n, jardim <strong>de</strong> Deus; <strong>de</strong> todas as pedras preciosas te cobrias: 0 sárdio, 0 topázio, 0<br />

diamante, o berilo, o ônix, 0 jaspe, a safira, 0 carbúnculo e a esmeralda; <strong>de</strong> ouro se te fizeram os engastes e<br />

os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te<br />

estabeleci; permanecias no monte santo <strong>de</strong> Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia em que foste criado até que se achou iniqüida<strong>de</strong> em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu<br />

o teu interior <strong>de</strong> violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte <strong>de</strong> Deus e te farei perecer,<br />

ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se 0 teu coração por causa da tua formosura,<br />

corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te<br />

contemplem. Pela multidão das tuas iniqüida<strong>de</strong>s, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários;<br />

eu, pois, fiz sair do meio <strong>de</strong> ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos <strong>de</strong> todos os<br />

que te contemplam” (Ezequiel 28.12-18).<br />

Por meio <strong>de</strong>sse texto fica manifesto que Lúcifer pertencia a um alto escalão angelical. Nesse mesmo livro<br />

encontramos indícios <strong>de</strong> como um ser que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais<br />

e estéticos caiu tanto, a ponto <strong>de</strong> ser agora o mais vil do universo.<br />

O capítulo 14 <strong>de</strong> Isaías conta-nos que a causa principal da queda <strong>de</strong>sse terrível ser foi 0 “orgulho”, atingindo<br />

seu clímax, seu momento fatal, com a “violência” (v. 16). O orgulho corroeu a pessoa <strong>de</strong> Lúcifer, que premeditou<br />

um plano para usurpar 0 trono do Deus Altíssimo: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas <strong>de</strong> Deus exaltarei o meu<br />

trono... subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (vv. 13-14).<br />

Por cinco vezes esse formoso querubim ungido quis fazer prevalecer sua vonta<strong>de</strong> em oposição à <strong>de</strong> Deus<br />

afirmando: “Eu subirei ao céu” (v. 14); “exaltarei 0 meu trono” (v. 13); “no monte da congregação me assentarei”<br />

(v. 13); “subirei acima das mais altas nuvens” (v. 14) e “serei semelhante ao Altíssimo” (v. 14).<br />

Diante <strong>de</strong> Deus, tudo isso era ilusório, pois para o Criador tudo era passado: Lúcifer “fazia”, “punha”, “assolava”,<br />

112<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

“<strong>de</strong>ixava”, “<strong>de</strong>struíste”, “mataste”, “era”, “foste”, “estavas” (cf. Isaías 14.16-17; Ezequiel 28.13-15).<br />

Uma das “estrelas” mais brilhantes do céu rebelou-se contra seu Criador e, ao fazer isso, atraiu um terço dos<br />

anjos para juntar-se a ele (Apocalipse 12:3-4). Assim, <strong>de</strong> um começo justo e perfeito, essa pessoa espiritual <strong>de</strong>sviouse<br />

para 0 pecado e a <strong>de</strong>gradação. Como conseqüência <strong>de</strong>ssa rebelião, Lúcifer foi expulso do reino celestial e do<br />

cargo que mantinha, nunca mais ocupando a posição <strong>de</strong> honra e influência que recebera. A sentença do supremo<br />

tribunal celestial foi: “...serás precipitado para 0 reino dos mortos, no mais profundo do abismo” (Isaías 14.15).<br />

6.5 SEU CARÁTER<br />

Nas Escrituras as qualida<strong>de</strong>s e ações que lhe são atribuídas podiam ser referidas apenas a uma pessoa, não<br />

a um princípio abstrato do mal. Devido à ignorância, por vários séculos, ele representou papéis que levaram os<br />

seres humanos a pensar a seu respeito <strong>de</strong> muitas formas enganosas e não no seu verda<strong>de</strong>iro caráter, tomando<br />

assim mais fácil <strong>de</strong>sviá-los <strong>de</strong> Deus.<br />

Lúcifer era um ser celestial perfeito, cheio <strong>de</strong> sabedoria e formosura. Agora é um enganador, um mestre em<br />

enfeitar o pecado para que este pareça atraente. Ele 0 ven<strong>de</strong> com a mais bela embalagem para nos convencer<br />

a comprá-lo! Era isso que 0 diabo fazia no <strong>de</strong>serto. Tentava Cristo mediante ofertas atraentes que 0 levariam à<br />

morte (Mateus 4:1-11).<br />

Em sua Carta aos Efésios, 0 apóstolo Paulo refere-se às “...ciladas do diabo” (6.11), um termo grego que<br />

significa astúcia, engenho e engano. A palavra μεθοδεια — metho<strong>de</strong>ia (ciladas) era usada em relação a um<br />

animal selvagem que perseguia astuciosamente a sua presa e pulava inesperadamente sobre ela.<br />

Na primeira aparição do diabo registrada nas Escrituras ele tentou e enganou Adão e Eva no jardim do É<strong>de</strong>n (Gênesis<br />

3.1). Este sempre foi seu principal método <strong>de</strong> operação: tentar, enganar, ocultar, seduzir, camuflar e <strong>de</strong>turpar.<br />

Segundo Steven J. Lawson, “nos dias atuais, Satanás engana o mundo, para que este aceite suas mentiras,<br />

através das seguintes entida<strong>de</strong>s e propósitos”:<br />

• Movimento da libertação feminina, com seu <strong>de</strong>sígnio unissexual, que nega a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus para a família.<br />

• Movimento gay, exaltando a homossexualida<strong>de</strong>, que é uma completa perversão da criação da sexualida<strong>de</strong><br />

feita por Deus.<br />

• Proliferação das seitas que negam os claros ensinos da Bíblia Sagrada sobre Jesus Cristo e a salvação.<br />

• Difusão do humanismo secular: teologia liberal, psicologia popular, misticismo, filosofia da Nova Era, os<br />

quais negam a existência <strong>de</strong> Deus e a autorida<strong>de</strong> da Bíblia.'5<br />

Lúcifer, “o filho da alva”, foi criado para glória e honra <strong>de</strong> Deus, contudo, <strong>de</strong>vido a sua infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e soberba<br />

em querer ser igual a Deus, per<strong>de</strong>u 0 seu estado <strong>de</strong> pureza e perfeição original transformando-se assim em<br />

Satanás, 0 diabo.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 6<br />

1) On<strong>de</strong> surgiu a caricatura <strong>de</strong> Satanás?<br />

2) Quais são os três livros do Antigo Testamento em que Satã é mencionado diretamente?<br />

3) O que queremos dizer ao atribuir personalida<strong>de</strong> a Satanás?<br />

4) O que Lúcifer recebeu como conseqüência <strong>de</strong> sua rebelião?<br />

15 LAWSON, Steven J. Fé sob fogo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1997. p. 34.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

113


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

SEUS NOMES E TÍTULOS<br />

Os hebreus consi<strong>de</strong>ravam os nomes como uma revelação, encerrando algum atributo ou característica da<br />

pessoa nomeada. Por exemplo, 0 nome Adão significa “da terra”, ou “tirado da terra vermelha”; assim, o seu<br />

nome revela sua origem. Seguindo essa mesma linha <strong>de</strong> raciocínio, investigaremos os vários nomes e títulos <strong>de</strong><br />

Satanás encontrados nas Escrituras.<br />

A seguir, são listados alguns nomes por meio dos quais po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>scobrir suas características e atributos<br />

pessoais.<br />

a) Satanás<br />

No hebraico ש ט[“‏ - satan” significa “adversário, alguém que se opõe”. Esse nome toma bem visível seu<br />

<strong>de</strong>sígnio como adversário. O nome “Satanás” é usado cinqüenta e seis vezes no Antigo e no Novo Testamento.<br />

Ele <strong>de</strong>screve suas tentativas maliciosas e persistentes <strong>de</strong> prejudicar 0 plano <strong>de</strong> Deus.<br />

Sob a con<strong>de</strong>nação divina, Satanás e seus anjos “não prevaleceram; nem mais seu lugar se achou nos céus”<br />

(Apocalipse 12.8). Agora e até 0 final dos tempos, Satanás é o inimigo <strong>de</strong>clarado <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> Cristo, dos anjos<br />

obedientes e do povo eleito.<br />

b) Diabo<br />

O nome diabo significa especificamente “dado à calúnia, difamador, que acusa com falsida<strong>de</strong>”.16 No livro do<br />

Apocalipse o apóstolo João usa quatro nomes para Satanás: “Ele segurou 0 dragão, a antiga serpente, que é o<br />

diabo, Satanás...” (Apocalipse 20.2).<br />

A palavra “diabo”, referindo-se ao próprio Satanás, aparece trinta e cinco vezes no Novo Testamento.<br />

c) Serpente<br />

Entre os antigos a serpente era um emblema <strong>de</strong> astúcia e sabedoria. A primeira manifestação do diabo na<br />

Terra foi registrada no livro <strong>de</strong> Gênesis na tentação do primeiro casal, quando Satanás tomou posse da serpente,<br />

falando, argumentando e raciocinando (3.1-15). Apocalipse 12.9 e 20.2 menciona “a antiga serpente, que se<br />

chama diabo”.<br />

d) Dragão<br />

Houve no registro bíblico duas gran<strong>de</strong>s guerras envolvendo Satanás. A primeira está registrada no livro <strong>de</strong><br />

Apocalipse, entre Miguel e seus anjos contra 0 dragão. A outra aconteceu no <strong>de</strong>serto da Judéia entre Jesus e o<br />

mesmo inimigo (Lucas 4.1-13).<br />

A primeira foi um combate <strong>de</strong> dimensões fora do comum, uma batalha sem <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue, uma<br />

guerra espiritual nos campos <strong>de</strong> batalha imperceptíveis ao homem. “Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos<br />

pelejaram contra 0 dragão. Também pelejaram 0 dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se<br />

achou no céu o lugar <strong>de</strong>les. E foi expulso o gran<strong>de</strong> dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o<br />

sedutor <strong>de</strong> todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse 12.7-9).<br />

E a segunda ocorreu no <strong>de</strong>serto, quando da tentação <strong>de</strong> Jesus (Mt 4.1-11).<br />

clt. Bíblia On-line..., ‏‘י<br />

m<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

e) Belzebu<br />

Este nome, <strong>de</strong> origem aramaica, proce<strong>de</strong> do hebraico ב ע ל ז בו ב ״ - Baal-Zebube” (senhor do inseto ou<br />

senhor das moscas). Posteriormente foi <strong>de</strong>signado pelos ju<strong>de</strong>us para “senhor do monturo” referindo-se a Satanás,<br />

príncipe dos espíritos malignos. Certa feita, após Jesus libertar um cego e mudo os fariseus acusaram-no <strong>de</strong><br />

expelir “<strong>de</strong>mônios senão pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Belzebu, maioral dos <strong>de</strong>mônios” (Mateus 12.24). A palavra maioral no<br />

grego é “α ρ χ ώ ν - archon”, que significa “governador, comandante, chefe, lí<strong>de</strong>r”. Assim, por meio <strong>de</strong>ste texto<br />

sabemos que Satanás governa os espíritos malignos na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> príncipe.<br />

f) Belial<br />

Este nome, ב ל י ע ל“‏ - baliya ‘al” em hebraico, foi usado no Antigo Testamento para <strong>de</strong>signar homens ímpios,<br />

perversos, companheiro vil (Deuteronômio 13.13; Juizes 19.22; 20.13; 1 Samuel 2.12; 10.27; Provérbios 6.12;<br />

19.28). No grego “β ε λ κ χ λ - Belial ou β ε λ ίΟ φ - Beliar” significa alguém “inútil ou malvado”. É também<br />

um dos nomes do diabo (2 Coríntios 6.15).<br />

g) Tentador<br />

Na primeira aparição do diabo registrada nas Escrituras ele tentou e enganou Adão e Eva no jardim do É<strong>de</strong>n<br />

(Gênesis 3.1). Este sempre foi o seu principal método <strong>de</strong> operação: tentar, enganar, ocultar, seduzir, camuflar e<br />

<strong>de</strong>turpar. Satanás tenta os servos <strong>de</strong> Deus com o propósito <strong>de</strong> <strong>de</strong>struí-los, como bem disse Steven Lawson: “Ο<br />

diabo brinca com nossa mente e luta para que pensemos erradamente sobre as <strong>de</strong>cisões que tomamos. Por meio<br />

<strong>de</strong> suas mentiras camufladas <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, ele nos tenta, a fim <strong>de</strong> que admitamos que preto seja branco e viceversa.<br />

Apresenta 0 bem como mal e mal como bem”.17<br />

A tentação é uma das maiores armas do arsenal <strong>de</strong> Satanás; por isso ele é chamado <strong>de</strong> Tentador. No grego<br />

a palavra tentação é “πειρασμόν - peirasmos”, que po<strong>de</strong> significar “testar ou provar algo”. O termo significa<br />

“uma prova <strong>de</strong> retidão” ou “uma indução para 0 mal”, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contexto. Quando proce<strong>de</strong>nte do Diabo, é<br />

sempre para a prática do mal. 1<br />

h) Príncipe <strong>de</strong>ste mundo<br />

Esse título atribuído a Satanás <strong>de</strong>monstra sua influência sobre as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste mundo (gr. κ ο σ μ ο ς<br />

- kosmos). Esta palavra “mundo” possui algumas idéias em sua forma verbal, por exemplo: colocar as coisas em<br />

or<strong>de</strong>m, sistematizar e adornar ou <strong>de</strong>corar. A partir <strong>de</strong>ssa última forma originou-se o vocábulo “cosmético”, que é<br />

o conceito <strong>de</strong> adornar a aparência exterior.<br />

Assim, no Novo Testamento, 0 termo “mundo” é empregado no sentido <strong>de</strong> planeta Terra (cf. João 1.10; Atos<br />

17.24). Também é utilizado para significar os habitantes da Terra, referindo-se ora às pessoas em geral, como em<br />

João 3.16, ora a todos os incrédulos, alheios para com Deus, como em João 14.17 e 15.18. Mas é a concepção<br />

<strong>de</strong> sistema mundial, belamente organizado e disposto a funcionar sem a direção <strong>de</strong> Deus, que vem ao encontro<br />

do que preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>monstrar. O sistema mundial está adornado com belos conceitos <strong>de</strong> cultura, música, arte,<br />

filosofia, religião etc. Não são más em si mesmas, entretanto Satanás distorce seus sentidos, afastando o homem<br />

<strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro relacionamento com Deus, sendo digno do título a ele atribuído: príncipe <strong>de</strong>ste mundo.<br />

No grego a palavra usada para príncipe é “αρχώ ν - archon”, que po<strong>de</strong> ser traduzida por “governador,<br />

comandante, chefe, lí<strong>de</strong>r”, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos concluir que ele exerce gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (concedido por Deus) e<br />

influência sobre esse sistema. Ele mesmo disse que recebeu este direito <strong>de</strong> se fazer obe<strong>de</strong>cer: “Disse-lhe 0 diabo:<br />

Dar-te-ei toda esta autorida<strong>de</strong> e a glória <strong>de</strong>stes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser”<br />

(Lucas 4.6).<br />

Por três vezes Jesus atribuiu esse nome a ele: “Chegou o momento <strong>de</strong> ser julgado este mundo, e agora o seu<br />

príncipe será expulso” (João 12.31); “Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele<br />

17 LAWSON, Steven. Op. cit., p. 24.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

nada tem em mim” (João 14.30) e “...do juízo, porque o príncipe <strong>de</strong>ste mundo já está julgado” (João 16.11).<br />

Ele recebeu o título <strong>de</strong> príncipe, entretanto sobre ele está a autorida<strong>de</strong> e 0 domínio do Rei dos reis e Senhor dos<br />

senhores (Apocalipse 19.16).<br />

i) Príncipe da potesta<strong>de</strong> do ar<br />

Como foi dito, ele exerce influência e autorida<strong>de</strong> não só na Terra, mas também no mundo espiritual. Ele é<br />

perito na astúcia, e com sua eloqüência trouxe após si um terço dos anjos dos céus (Apocalipse 12.4), que lhe<br />

obe<strong>de</strong>cem e se sujeitam às suas or<strong>de</strong>ns e forma <strong>de</strong> governo.<br />

j) Enganador<br />

Satanás é um perito no plantio <strong>de</strong> dúvidas; é sua técnica especial. Na sua primeira aparição registrada na<br />

Bíblia, ele enganou Eva no jardim do É<strong>de</strong>n (Gênesis 3.1; 1 Timóteo 2:14). Suas táticas não mudaram com o<br />

passar do tempo. O diabo promete 0 Céu, mas entrega 0 inferno; oferece a vida, mas envia a morte; fala <strong>de</strong><br />

salvação, mas introduz a <strong>de</strong>struição. O mais mortal <strong>de</strong> todos os inimigos vem camuflado <strong>de</strong> arauto <strong>de</strong> paz,<br />

provedor <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e restaurador <strong>de</strong> esperança.<br />

Além <strong>de</strong> todos esses nomes, ainda encontramos os seguintes: acusador (Apocalipse 12.10), anjo <strong>de</strong><br />

luz (2 Coríntios 11.13-15), homicida (João 8.44), pai da mentira (João 8.44), leão que ruge (1 Pedro 5.8),<br />

<strong>de</strong>struidor (Apocalipse 9.11), entretanto os que até o momento foram apresentados já bastam para <strong>de</strong>monstrar<br />

com quem estamos lidando.<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 7<br />

1) Qual era o nome <strong>de</strong> Satanás antes da queda?<br />

2) O que significa o nome diabo?<br />

3) No Novo Testamento 0 termo “mundo” é empregado em vários sentidos. Quais são eles?<br />

116<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

DEMONIOS<br />

No Novo Testamento o vocábulo grego δαιμονιον - daimonion é limitado e específico em comparação com<br />

as noções que os antigos filósofos tinham <strong>de</strong>la, bem como a utilização <strong>de</strong>sta palavra no grego clássico. Ao ser<br />

traduzida para 0 latim, daimon se tomou daemon, que <strong>de</strong>u origem ao português <strong>de</strong>mônio. Para a cultura grega,<br />

o mundo estava cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios (daimonion - espírito dos mortos), seres intermediários entre os <strong>de</strong>uses e os<br />

homens que po<strong>de</strong>riam ser aplacados ou controlados por magia, feitiços e encantamentos. Eles viviam no ar (gr. αηρ<br />

- aer), parte mais baixa e impura entre a Terra e a Lua.18 A obra dos <strong>de</strong>mônios po<strong>de</strong>ria ser vista nas calamida<strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong>sgraças que sobrevêm à vida do homem, por meio do qual levavam os homens à doença e à loucura.<br />

Na Bíblia daimon é empregado somente para po<strong>de</strong>res malignos. Não há crença nos espíritos dos mortos, ou<br />

nos fantasmas, muito menos <strong>de</strong> sacrifícios a estes, visto que as Escrituras são categóricas em afirmar: “Sacrifícios<br />

ofereceram aos <strong>de</strong>mônios, não a Deus; a <strong>de</strong>uses que não conheceram, novos <strong>de</strong>uses que vieram há pouco, dos<br />

quais não se estremeceram seus pais” (Deuteronômio 32.17). Paulo adverte aos cristãos para que não tenham as<br />

mesmas atitu<strong>de</strong>s dos pagãos, pois “as coisas que eles sacrificam, é a <strong>de</strong>mônios que as sacrificam e não a Deus; e<br />

eu não quero que vos tomeis associados aos <strong>de</strong>mônios” (1 Coríntios 10.20, grifo nosso), sendo que o paganismo<br />

em geral tem o <strong>de</strong>mônio por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>le (Apocalipse 9.20).<br />

Os <strong>de</strong>mônios estão subordinados a Satanás e estão sujeitos a ele. Eles possuem po<strong>de</strong>r tanto para realizar o mal<br />

como para causar doenças. A Bíblia relata 0 caso <strong>de</strong> “uma mulher possessa <strong>de</strong> um espírito <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>, havia<br />

já <strong>de</strong>zoito anos, andava ela encurvada, sem <strong>de</strong> modo algum po<strong>de</strong>r endireitar-se”. Jesus, ao vê-la assim, a libertou<br />

<strong>de</strong>ssa possessão <strong>de</strong>moníaca. Os evangelhos são ricos em exemplos <strong>de</strong> pessoas en<strong>de</strong>moninhadas, cuja personalida<strong>de</strong><br />

foi inteiramente dominada por espíritos malignos que <strong>de</strong>las tomaram posse e que falavam através <strong>de</strong> suas vítimas<br />

(Marcos 5.5). Os textos bíblicos <strong>de</strong>ixam explícito 0 conhecimento sobrenatural que os <strong>de</strong>mônios tinham. Sabiam<br />

quem era Jesus (Marcos 5.7), como também o <strong>de</strong>stino que lhes estava preparado (Mateus 8.29; Tiago 2.19).<br />

8.1 A REALIDADE DOS DEMÔNIOS<br />

Tanto o Antigo quanto 0 Novo Testamento advertem acerca da existência dos <strong>de</strong>mônios. No Antigo Testamento<br />

há referência aos <strong>de</strong>mônios sob 0 nome ש עי ר“‏ - sa‘iyr” ou ש ע ר“‏ - sa'ir” (Levítico 17.7; 2 Crônicas 11.15) ou<br />

(Deuteronômio 32.17; Salmos 106.37). Estes termos hebraicos aparecem ligados ” ש די□‏ (plural) - shed ou ש ד ״<br />

à idolatria e a sacrifícios humanos, sempre con<strong>de</strong>nados por Deus.<br />

Estamos vivendo numa época marcada pelo reavivamento mundial do ocultismo, em que as pessoas prezam<br />

mais a experiência do que a verda<strong>de</strong>. Muitas pessoas dizem crer em Jesus, entretanto não sabem 0 que Ele disse<br />

sobre 0 mundo espiritual.<br />

Jesus reconheceu a existência dos <strong>de</strong>mônios assim como eles também sabiam com quem estavam lidando. Ele<br />

foi acusado pelos fariseus <strong>de</strong> expulsar os <strong>de</strong>mônios pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Belzebu, aos quais contra-atacou dizendo: “Se<br />

eu expulso <strong>de</strong>mônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos<br />

juizes. Se, porém, eu expulso <strong>de</strong>mônios pelo Espírito <strong>de</strong> Deus, certamente é chegado o reino <strong>de</strong> Deus sobre vós”<br />

(Mateus 12.27-28). “Estes sinais hão <strong>de</strong> acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão <strong>de</strong>mônios;<br />

falarão novas línguas...” (Marcos 16.17).<br />

O apóstolo Paulo recebeu por revelação <strong>de</strong> Deus 0 discernimento quanto às oferendas aos ídolos e escreveu<br />

“que as coisas que eles sacrificam, é aos <strong>de</strong>mônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos<br />

513. p. COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Op. (it., ״<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJC<br />

tomeis associados aos <strong>de</strong>mônios. Não po<strong>de</strong>is beber o cálice do Senhor e 0 cálice dos <strong>de</strong>mônios; não po<strong>de</strong>is s<br />

participantes da mesa do Senhor e da mesa dos <strong>de</strong>mônios” (1 Coríntios 10.20-21).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 8<br />

1) Na Bíblia, daimon é empregado somente para quê?<br />

2) O termo shed no Antigo Testamento está ligado a quê?<br />

3) O que Paulo escreveu sobre as coisas sacrificadas?<br />

im<br />

118<br />

CURSO DE TEOLOGI


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

NATUREZA DOS DEMONIOS<br />

As Escrituras <strong>de</strong>ixam evi<strong>de</strong>nte que os <strong>de</strong>mônios possuem características e ações pessoais próprias, o que<br />

<strong>de</strong>monstra que possuem personalida<strong>de</strong> e também inteligência. A Bíblia é taxativa ao expor a realida<strong>de</strong> do mundo<br />

espiritual e <strong>de</strong> seus habitantes, bem como em fazer conhecer as características inerentes <strong>de</strong>ssas criaturas.<br />

No que diz respeito a sua natureza são perversos, imundos e <strong>de</strong>smoralizados. São exemplos <strong>de</strong>ssas características:<br />

“Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois en<strong>de</strong>moninhados, saindo<br />

<strong>de</strong>ntre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram:<br />

Que temos nós contigo, ó Filho <strong>de</strong> Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mateus 8.28-29). “Tendo<br />

chamado os seus doze discípulos, <strong>de</strong>u-lhes Jesus autorida<strong>de</strong> sobre espíritos imundos para os expelir e para curar<br />

toda sorte <strong>de</strong> doenças e enfermida<strong>de</strong>s” (Mateus 10.1).<br />

Os espíritos malignos têm influência sobre os homens e procuram ocupar seus corpos, sujeitando-os a seus<br />

<strong>de</strong>sígnios perversos (cf. Mateus 12.43-44; Marcos 5.8).<br />

a) Sua força<br />

São muito mais fortes do que o homem, violentos, porém <strong>de</strong> pouco vigor em face <strong>de</strong> Jesus. “Ao <strong>de</strong>sembarcar,<br />

logo veio dos sepulcros, ao seu encontro, um homem possesso <strong>de</strong> espírito imundo, o qual vivia nos sepulcros, e<br />

nem mesmo com ca<strong>de</strong>ias alguém podia prendê-lo; porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e ca<strong>de</strong>ias,<br />

as ca<strong>de</strong>ias foram quebradas por ele, e os grilhões, <strong>de</strong>spedaçados. E ninguém podia subjugá-lo” (Marcos 5.2-4).<br />

b) Sua sabedoria<br />

São possuidores <strong>de</strong> uma sabedoria sobrenatural, porém não são oniscientes. Os textos bíblicos comprovam<br />

seu conhecimento sobre Cristo bem como sua con<strong>de</strong>nação eterna:<br />

“Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois en<strong>de</strong>moninhados,<br />

saindo <strong>de</strong>ntre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram:<br />

Que temos nós contigo, ó Filho <strong>de</strong> Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mateus 8.28-29).<br />

“Depois, entraram em Cafamaum, e, logo no sábado, foi ele ensinar na sinagoga. Maravilhavam-se da sua<br />

doutrina, porque os ensinava como quem tem autorida<strong>de</strong> e não como os escribas. Não tardou que aparecesse na<br />

sinagoga um homem possesso <strong>de</strong> espírito imundo, o qual bradou: Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste<br />

para per<strong>de</strong>r-nos? Bem sei quem és: 0 Santo <strong>de</strong> Deus!” (Marcos 1.21-24).<br />

“Mas 0 espírito maligno lhes respon<strong>de</strong>u: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?” (Atos 19.15).<br />

“Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os <strong>de</strong>mônios crêem e tremem” (Tiago 2.19).<br />

c) Imorais<br />

Devido a sua <strong>de</strong>sobediência, os <strong>de</strong>mônios são seres <strong>de</strong> baixa or<strong>de</strong>m moral, <strong>de</strong>generados em sua condição e vil<br />

em suas ações, obedientes a Satanás.<br />

“E eis que, <strong>de</strong>ntre a multidão, surgiu um homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-te que vejas meu<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 IDOUTRINA DOS ANJOS<br />

filho, porque é o único; um espírito se apo<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>le, e, <strong>de</strong> repente, 0 menino grita, e o espírito 0 atira por terra,<br />

convulsiona-o até espumar; e dificilmente o <strong>de</strong>ixa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o ter quebrantado” (Lucas 9.39-40).<br />

“Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois en<strong>de</strong>moninhados,<br />

saindo <strong>de</strong>ntre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis<br />

que gritaram: Que temos nós contigo, ó Filho <strong>de</strong> Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tem po?”<br />

(M ateus 8.28-29).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 9<br />

1) No que diz respeito à natureza dos <strong>de</strong>mônios, 0 que po<strong>de</strong>mos afirmar?<br />

2) O que se po<strong>de</strong> dizer sobre a sabedoria dos <strong>de</strong>mônios?<br />

E ü<br />

120<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

PROPÓSITO DOS DEMÔNIOS<br />

Des<strong>de</strong> sua con<strong>de</strong>nação, 0 diabo e os seus súditos buscam impedir os propósitos <strong>de</strong> Deus bem como ampliar 0<br />

seu domínio. A intensida<strong>de</strong> do seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> reinar não diminui, nem sua busca para alcançar esse fim. A tentação<br />

<strong>de</strong> Jesus no <strong>de</strong>serto evi<strong>de</strong>ncia seu comportamento arrogante, já que nem mesmo Cristo foi poupado <strong>de</strong> seus ataques<br />

e <strong>de</strong>sígnios. Sob seu controle, miría<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios estão interessadas em promover este plano. Várias são as<br />

artimanhas usadas por este exército maligno para obstruir os planos <strong>de</strong> Deus. Dentre elas po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar:<br />

a) Oposição aos santos<br />

Eles constantemente se opõem aos santos em seus esforços para viver piedosamente em conformida<strong>de</strong> com 0<br />

padrão estabelecido nas Escrituras. É por essa razão que o apóstolo Paulo disse: “Revesti-vos <strong>de</strong> toda a armadura<br />

<strong>de</strong> Deus, para po<strong>de</strong>r<strong>de</strong>s ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a<br />

carne, e sim contra os principados e potesta<strong>de</strong>s, contra os dominadores <strong>de</strong>ste mundo tenebroso, contra as forças<br />

espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6.11-12).<br />

Em uma <strong>de</strong> suas viagens missionárias 0 apóstolo diz que “quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não<br />

somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho” (1 Tessalonicenses 2.18).<br />

b) Afastar da fé<br />

Por meio <strong>de</strong> suas astúcias, investem na imitação (são peritos nesta área), fazendo com que muitas pessoas<br />

entendam o certo como errado e 0 errado como certo. Seu alvo principal é induzir os homens ao pecado. Quanto<br />

aos fiéis, “o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obe<strong>de</strong>cerem a<br />

espíritos enganadores e a ensinos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a<br />

própria consciência” (1 Timóteo 4.1-2).<br />

c) Propagam a idolatria<br />

As Escrituras são claras com relação a esta prática:<br />

“Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos <strong>de</strong>mônios, com os quais eles se prostituem; isso lhes será por<br />

estatuto perpétuo nas suas gerações” (Levítico 17.7).<br />

“Sacrifícios ofereceram aos <strong>de</strong>mônios, não a Deus; a <strong>de</strong>uses que não conheceram, novos <strong>de</strong>uses que vieram<br />

há pouco, dos quais não se estremeceram seus pais” (Deuteronômio 32.7).<br />

“...pois imolaram seus filhos e suas filhas aos <strong>de</strong>mônios” (Salmos 106.37).<br />

“Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a <strong>de</strong>mônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero<br />

que vos tomeis associados aos <strong>de</strong>mônios. Não po<strong>de</strong>is beber o cálice do Senhor e o cálice dos <strong>de</strong>mônios; não<br />

po<strong>de</strong>is ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos <strong>de</strong>mônios” (1 Coríntios 10.20-21).<br />

“Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrepen<strong>de</strong>ram das obras das suas<br />

mãos, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> adorar os <strong>de</strong>mônios e os ídolos <strong>de</strong> ouro, <strong>de</strong> prata, <strong>de</strong> cobre, <strong>de</strong> pedra e <strong>de</strong> pau, que nem po<strong>de</strong>m<br />

ver, nem ouvir, nem andar” (Apocalipse 9.20).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS<br />

CAUSAM VÁRIOS MALES FÍSICOS<br />

Nem todas as enfermida<strong>de</strong>s são causadas diretamente por <strong>de</strong>mônios, entretanto po<strong>de</strong>m causar algumas<br />

enfermida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo levar até a morte. A Bíblia fala <strong>de</strong>:<br />

Cegueira: “Então, lhe trouxeram um en<strong>de</strong>moninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar<br />

e a ver” (Mateus 12.22).<br />

Mu<strong>de</strong>z: “Ao retirarem-se eles, foi-lhe trazido um mudo en<strong>de</strong>moninhado. E, expelido o <strong>de</strong>mônio, falou 0<br />

mudo; e as multidões se admiravam, dizendo: Jamais se viu tal coisa em Israel!” (Mateus 9.32-33).<br />

Loucura: “Então, rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia. Logo ao <strong>de</strong>sembarcar, veio da<br />

cida<strong>de</strong> ao seu encontro um homem possesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa<br />

alguma, porém vivia nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante <strong>de</strong>le, exclamando e dizendo em alta<br />

voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. Porque Jesus or<strong>de</strong>nara<br />

ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apo<strong>de</strong>rara <strong>de</strong>le. E, embora procurassem conservá-lo<br />

preso com ca<strong>de</strong>ias e grilhões, tudo <strong>de</strong>spedaçava e era impelido pelo <strong>de</strong>mônio para o <strong>de</strong>serto. Perguntou-lhe Jesus:<br />

Qual é o teu nome? Respon<strong>de</strong>u ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos <strong>de</strong>mônios. Rogavam-lhe que não<br />

os mandasse sair para 0 abismo. Ora, andava ali, pastando no monte, uma gran<strong>de</strong> manada <strong>de</strong> porcos; rogaram-lhe<br />

que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus 0 permitiu. Tendo os <strong>de</strong>mônios saído do homem, entraram nos<br />

porcos, e a manada precipitou-se <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro abaixo, para <strong>de</strong>ntro do lago, e se afogou. Os porqueiros, vendo<br />

o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cida<strong>de</strong> e pelos campos. Então, saiu 0 povo para ver o que se<br />

passara, e foram ter com Jesus. De fato, acharam 0 homem <strong>de</strong> quem saíram os <strong>de</strong>mônios, vestido, em perfeito juízo,<br />

assentado aos pés <strong>de</strong> Jesus; e ficaram dominados <strong>de</strong> terror” (Lucas 8.26-35).<br />

Suicídio: “E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, 0 espírito imediatamente 0 agitou com violência, e, caindo<br />

ele por terra, revolvia-se espumando. Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe suce<strong>de</strong>? Des<strong>de</strong><br />

a infância, respon<strong>de</strong>u; e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu po<strong>de</strong>s alguma<br />

coisa, tem compaixão <strong>de</strong> nós e ajuda-nos” (Marcos 9.20-22).<br />

Ferimentos: “...um, <strong>de</strong>ntre a multidão, respon<strong>de</strong>u: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso <strong>de</strong> um espírito mudo;<br />

e este, on<strong>de</strong> quer que o apanha, lança-0 por terra, e ele espuma, rilha os <strong>de</strong>ntes e vai <strong>de</strong>finhando” (Marcos 9.1-18).<br />

Deformida<strong>de</strong>s: “E veio ali uma mulher possessa <strong>de</strong> um espírito <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>, havia já <strong>de</strong>zoito anos;<br />

andava ela encurvada, sem <strong>de</strong> modo algum po<strong>de</strong>r endireitar-se” (Lucas 13.11).<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

CAPÍTULO 10<br />

1) Várias são as artimanhas usadas pelo exército maligno para obstruir os planos <strong>de</strong> Deus. Cite três <strong>de</strong>las.<br />

!22<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 1 1DOUTRINA DOS ANJOS<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ANKERBERG, John; WELDON, John. Os fatos sobre os anjos: Quem são eles, don<strong>de</strong> vêm e o que fazem hoje.<br />

Porto Alegre: Chamada da Meia-Noite, 1995.<br />

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CÍCERO, Marco Túlio. Dos <strong>de</strong>veres. São Paulo: Martin Claret, 2002.<br />

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luz das Escrituras. 3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2005.<br />

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PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1999.<br />

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SILVA, Severino Pedro da. Os anjos: sua natureza e ofício. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1987.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

123


faculda<strong>de</strong> teológica betesda<br />

Moldando vocacionados<br />

AVALIAÇÃO ־ MODULO <strong>II</strong><br />

ANGELOLOGIA<br />

1) Existe diferença entre os termos aggelos (grego) e malak (hebraico)? o que ambos significam?<br />

2) O termo anjo po<strong>de</strong> ser usado para uma pessoa? Explique.<br />

3) O que se po<strong>de</strong> dizer sobre hierarquia angelical?<br />

4) Quem é o Anjo do Senhor?<br />

5) Faça um breve comentário sobre o ministério dos anjos.<br />

6) Cite pelo menos três exemplos da manifestação dos anjos no Antigo Testamento, nos evangelhos, nos Atos<br />

dos Apóstolos, nas epístolas e no Apocalipse.<br />

7) Quanto à origem <strong>de</strong> Satanás, 0 que as Escrituras dizem?<br />

8) Cite cinco nomes pelos quais as Escrituras se referem ao diabo.<br />

9) Como os gregos concebiam os <strong>de</strong>mônios?<br />

10) Quais os propósitos do diabo e seus <strong>de</strong>mônios?<br />

CARO(a) ALUNO(a):<br />

• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las em<br />

folha <strong>de</strong> papel sulfite, sendo objetivo(a) e daro(a).<br />

CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP<br />

• De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.


PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO


SUMARIO<br />

IN T R O D U Ç Ã O .................................................................................................................................................................131<br />

EVANGELHO SEGUNDO M A TEU S...................................................................................................................132<br />

EVANGELHO SEGUNDO MARCOS ...................................................................................................................133<br />

EVANGELHO SEGUNDO L U C A S ......................................................................................................................134<br />

EVANGELHO SEGUNDO JO Ã O ......................................................................................................................... 136<br />

ATOS DOS APÓ STO LO S........................................................................................................................................ 138<br />

EPÍSTOLA AOS R O M A N O S..................................................................................................................................139<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS CORÍNTIOS.................................................... 140<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS CORÍNTIO S.................................................... 142<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS GÁLATAS ............................................................................143<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS EFÉSIOS ..............................................................................144<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS FILIPEN SES......................................................................... 146<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS COLOSSENSES ................................................................148<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS TESSALONICENSES ................................149<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS TESSALONICENSES................................ 151<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A T IM Ó T E O ........................................................... 152<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A TIM Ó T E O ........................................................... 153<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A TITO ............................................................................................ 154<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A FIL E M O M .................................................................................. 155<br />

EPÍSTOLA AOS HEBREUS ................................................................................................................................. 156<br />

EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. TIAGO ................................................................................157<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. P E D R O ..........................................................159<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. P E D R O ..........................................................160<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. JOÃO ..............................................................161<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. JO Ã O ..............................................................162<br />

TERCEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. JO Ã O ..............................................................163<br />

EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. JUDAS ...............................................................................164<br />

APOCALIPSE DO APÓSTOLO S. JOÃO ........................................................................................................ 165<br />

B IB L IO G R A F IA .............................................................................................................................................................167


MÓDULO ! I PANO RAM A D O NOVO TESTAMENTO<br />

INTRODUÇÃO<br />

נ<br />

O Evangelho, em seu sentido original, não foi uma produção literária. Era um relato oral da mensagem <strong>de</strong><br />

salvação trazida por Jesus Cristo, 0 portador escatológico <strong>de</strong> Deus. Sua mensagem continha as boas novas que<br />

a Igreja Primitiva compreen<strong>de</strong>u como a palavra <strong>de</strong> salvação prometida pelos profetas. A proclamação <strong>de</strong>ssa<br />

salvação foi escrita posteriormente em livros, que ficaram conhecidos por evangelhos.<br />

Os escritores dos evangelhos tiveram liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão ao usarem estilo próprio em suas narrativas.<br />

Assim, o evangelho <strong>de</strong> Marcos inicia-se com as seguintes palavras: “Princípio do evangelho <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo, Filho <strong>de</strong> Deus” (Marcos 1.1, grifo nosso), que significa boas novas que Deus fez em Jesus e por<br />

meio dEle seriam agora proclamadas a todas as nações (cf. Marcos 13.10). Mateus escreveu que “percorria<br />

Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as<br />

enfermida<strong>de</strong>s e moléstias entre 0 povo” (Mateus 4.23; 9.35; 24.14, grifo nosso). Lucas dizia que “<strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

esse tempo, vem sendo anunciado 0 evangelho do reino <strong>de</strong> Deus, e todo homem se esforça por entrar nele”<br />

(Lucas 16.16, grifo nosso). Por fim, 0 apóstolo João pregou “a mensagem que, da parte <strong>de</strong>le, temos ouvido<br />

e vos anunciamos” (1 João 1.5). A conclusão a que se chega é que a mensagem básica <strong>de</strong> todos eles foi a<br />

mesma: as boas novas da salvação através <strong>de</strong> Cristo.<br />

Os evangelhos <strong>de</strong> Mateus, Marcos e Lucas ainda têm em comum um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> relatos, a tal ponto<br />

que se po<strong>de</strong> colocar o conjunto <strong>de</strong> seu conteúdo em três colunas paralelas e lê-los conjuntamente. O número <strong>de</strong><br />

versículos que eles partilham é surpreen<strong>de</strong>nte. Uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> passagens idênticas se encontra nesses<br />

três evangelhos; essas passagens são chamadas pelos estudiosos <strong>de</strong> tripla tradição. Existem ainda outras passagens<br />

que somente são partilhadas por Marcos e Mateus, enquanto outras só por Marcos e Lucas. Aliás, numerosos<br />

textos, ausentes em Marcos, só se encontram em Mateus e Lucas; estes são chamados pelos pesquisadores <strong>de</strong><br />

dupla tradição. Por fim, cada evangelho contém textos que lhe pertencem como próprios. Um fato notável a ser<br />

observado é que somente 53 versículos em Marcos não foram utilizados nem por Mateus nem por Lucas. Marcos<br />

está quase inteiramente contido nos dois outros. Sendo assim, existe um parentesco muito gran<strong>de</strong> entre Mateus,<br />

Marcos e Lucas, por isso receberam a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Evangelhos Sinópticos.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

131


MÓDULO 2 ! PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

EVANGELHO SEGUNDO MATEUS<br />

Mateus po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o evangelho da transição, ou seja. é uma ponte que liga 0 Antigo ao Novo<br />

Testamento. Há mais <strong>de</strong> cem citações diretas do Antigo Testamento. Seu propósito é <strong>de</strong>monstrar que Jesus é o<br />

Messias prometido, o verda<strong>de</strong>iro Rei <strong>de</strong> Israel, e que 0 cristianismo é 0 fiel cumprimento da Antiga Aliança.<br />

Tema: O tema central <strong>de</strong>sse evangelho é o Reino dos céus. Mateus <strong>de</strong>screve <strong>de</strong> forma minuciosa a<br />

<strong>de</strong>scendência humana do Rei (1.1-17) como também a <strong>de</strong>scendência divina (1.18-25). Ele apresenta Jesus como<br />

verda<strong>de</strong>iramente 0 Rei real, que governa em retidão, justiça e, ao mesmo tempo, é Servo Sofredor ou Varão <strong>de</strong><br />

Dores, conforme predito pelo profeta Isaías. Contudo, tragicamente não 0 reconheceram quando veio, porque<br />

seu Reino não era exatamente como imaginavam. Assim, Mateus <strong>de</strong>monstra por meio das profecias messiânicas<br />

que Jesus era aquele <strong>de</strong> quem Moisés e os profetas haviam profetizado. Mateus é o elo que liga o Antigo ao Novo<br />

Testamento: “Este livro parece efetuar uma transição, da expectação judaica <strong>de</strong> um messias político, para um<br />

״.‏Nazaré1‎ cumprimento <strong>de</strong> todas as profecias messiânicas em Jesus <strong>de</strong><br />

Seu <strong>de</strong>stinatário estava familiarizado com as Escrituras, pois nesse evangelho as palavras e obras <strong>de</strong> Jesus são<br />

geralmente acompanhadas com 0 chavão “para que se cumprisse 0 que foi dito da parte do Senhor pelo profeta”.<br />

O termo “Reino” ou “Reino dos céus” ocorre com freqüência (43 vezes), revelando outro tema importante<br />

<strong>de</strong>sse evangelho. Expõe o Reino dos céus prometido no Antigo Testamento (11.13), proclamado por João Batista<br />

e Jesus (3.2; 4.17), representado atualmente pela Igreja (16.18-19) e triunfante na segunda vinda <strong>de</strong> Jesus (25.31,<br />

34). Dos quatro evangelhos, é 0 único a falar sobre a “Igreja” (16.18 e 18.17).<br />

Autor: Uma vez que não há nenhuma referência direta <strong>de</strong> sua autoria, recorreremos à tradição para i<strong>de</strong>ntificar<br />

o autor. Os primeiros pais da Igreja Primitiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século segundo, atribuíram <strong>de</strong> forma unânime a Mateus<br />

a autoria <strong>de</strong>sse livro. Tanto Papias como Irineu, no segundo século, Orígenes, no terceiro, e Eusébio, no quarto,<br />

foram concor<strong>de</strong>s em atribuir a autoria <strong>de</strong>sse livro a Mateus. São poucas as informações acerca <strong>de</strong>le no Novo<br />

Testamento. Sabe-se que também era conhecido como Levi, um dos doze apóstolos <strong>de</strong> Jesus, coletor <strong>de</strong> impostos<br />

do governo romano, que foi chamado pelo Senhor para ser seu discípulo e apóstolo (9.9-13; 10.3).<br />

Para quem foi escrito: O evangelho <strong>de</strong> Mateus é claramente 0 mais judaico dos quatro, entretanto foi escrito<br />

para toda a humanida<strong>de</strong>, mas em especial para os ju<strong>de</strong>us. A intenção <strong>de</strong> dirigir-se primeiramente ao ju<strong>de</strong>u se faz<br />

notória na forma como foi <strong>de</strong>senvolvida sua redação. Segundo Pearlman, “a ausência geral <strong>de</strong> explicação dos<br />

costumes judaicos, <strong>de</strong>monstra que o evangelista escreveu a um povo familiarizado com esses costumes”.2<br />

Estrutura: Des<strong>de</strong> longa data tem-se reconhecido que o evangelho <strong>de</strong> Mateus estava dividido em cinco<br />

seções.3 Por meio do uso <strong>de</strong> um chavão (chamado colofao), 0 autor apresentava seu material numa disposição<br />

lógica e sistemática. Esses colofões são encontrados em cinco partes distintas <strong>de</strong> sua obra, a saber: 7.28; 11.1;<br />

13.53; 19.1; 26.1: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso...”. Examine minuciosamente que 0 material<br />

que antece<strong>de</strong> estas palavras é compreendido <strong>de</strong> narrativa seguida <strong>de</strong> discurso. Portanto, essa disposição or<strong>de</strong>nada<br />

revela alguma estrutura proposital à sua obra.<br />

Devido às discordâncias quanto à estrutura, não se nutre aqui 0 <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>, mas apenas um<br />

esboço didático para aqueles que, em poucas palavras, querem respostas rápidas, mas pesquisadas em fontes<br />

seguras. Os cinco blocos estariam na seguinte disposição:<br />

' HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002. p. 85.<br />

2PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia livro po r livro. 18. ed. São Paulo: Vida, 1996. p. 194.<br />

3Cf. HALE, Broadus David. Op. cit., p. 92.<br />

132<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> Mateus<br />

I. O início do Evangelho (1.1 - 4.11)<br />

a) Os antepassados <strong>de</strong> Jesus (1.1-17)<br />

b) O nascimento e a infância <strong>de</strong> Jesus (1.18 - 2.23)<br />

c) O trabalho <strong>de</strong> João Batista (3.1-12)<br />

d) O batismo e a tentação <strong>de</strong> Jesus (3.13-4.11)<br />

<strong>II</strong>. Jesus na Galiléia (4.12-18.35)<br />

a) O início do trabalho (4.12 - 25)<br />

b) O Sermão do Monte (5.1 - 7.29)<br />

c) Curas e ensinamentos (8.1 - 9.38)<br />

d) Instruções para os doze apóstolos (10.1-42)<br />

e) Amigos e inimigos <strong>de</strong> Jesus (11.1 - 12.50)<br />

f) Parábolas do Reino dos céus (13.1-52)<br />

g) O fim do trabalho na Galiléia (13.53 - 17.27)<br />

h) Instruções para o povo da Nova Aliança (18.1-35)<br />

<strong>II</strong>I. Da Galiléia até Jerusalém (19.1 - 20.34)<br />

IV. O Messias em Jerusalém (21.1 - 27.66)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Por que 0 evangelho <strong>de</strong> Mateus po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o evangelho da transição?<br />

2) Qual o chavão que é usado nesse evangelho?<br />

3) O que Pearlman <strong>de</strong>clarou <strong>de</strong>sse evangelho?<br />

EVANGELHO SEGUNDO MARCOS<br />

O evangelho <strong>de</strong> Marcos enfoca 0 ministério <strong>de</strong> Jesus sob a ótica da ação, daí Pearlman concluir que “Marcos é<br />

0 ‘Evangelho da Ação’, mostrando Jesus como Servo do Senhor, labutando incansavelmente na esfera da re<strong>de</strong>nção<br />

do homem”.4 Jesus está constantemente em movimento: curando, expulsando <strong>de</strong>mônios, confrontando adversários<br />

e instruindo os discípulos, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar sua divinda<strong>de</strong>. Nele cumpriram-se as profecias do Antigo<br />

Testamento ao vir à Terra como Messias. Entretanto, Ele não veio como um rei conquistador, mas como um servo.<br />

Tema: O Servo Sofredor. Marcos focalizou mais os atos do que os sermões <strong>de</strong> Jesus, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comprovar que, mesmo sendo Deus Todo-Po<strong>de</strong>roso, Jesus preferiu ser obediente até a morte e morte <strong>de</strong> cruz<br />

(Filipenses 2.8). Assim, a mensagem ou tema do livro é: “Pois 0 próprio Filho do Homem não veio para ser<br />

servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por ״muitos (Marcos 10.45). O uso do título “Filho do<br />

Homem” ocorre quatorze vezes nesse evangelho, e se interpreta na maioria dos casos <strong>de</strong> acordo com este conceito<br />

(8.31; 9.9; 12.31; 10.33, 45; 14.21, 41). Entretanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> seu evangelho, Marcos i<strong>de</strong>ntifica o humil<strong>de</strong><br />

Servo como o próprio Filho <strong>de</strong> Deus, cujo ministério é autenticado por suas obras po<strong>de</strong>rosas. Segundo Myer<br />

Pearlman, “escrito para um povo militar (os romanos), 0 Evangelho <strong>de</strong> Marcos fornece uma breve narrativa <strong>de</strong><br />

três anos do Capitão da nossa salvação, dirigida e terminada em prol da libertação <strong>de</strong> nossas almas e a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong><br />

Satanás, pelas obras <strong>de</strong> Cristo e seus sofrimentos, morte, ressurreição e triunfo final”.5<br />

4 PEARLMAN, Myer. Marcos: 0 evangelho do servo <strong>de</strong> Jeová. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1995. p. 7.<br />

5I<strong>de</strong>m, p. 201.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

133


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Autor: Assim como os outros três evangelhos, Marcos é anônimo. Em sua narrativa não há nenhuma <strong>de</strong>claração<br />

<strong>de</strong> quem tenha sido 0 autor. Entretanto, a mais antiga tradição, atestada por Papias, bispo <strong>de</strong> Hierápolis, na<br />

região da Frigia, na Ásia Menor, menciona Marcos como autor do evangelho, 0 qual teria copiado tudo aquilo<br />

que teria ouvido <strong>de</strong> Pedro. Irineu, Tertuliano, Clemente <strong>de</strong> Alexandria e outros escritores cristãos posteriores<br />

confirmaram que Marcos foi quem escreveu 0 segundo evangelho dos ditos <strong>de</strong> Pedro. Alguns estudiosos rejeitam<br />

esses testemunhos alegando que foi invenção <strong>de</strong> Papias para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r interesse próprio.<br />

On<strong>de</strong> foi escrito: Não há consenso entre a tradição quanto ao lugar on<strong>de</strong> teria sido escrito esse evangelho.<br />

Devido ao gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> latinismos, tanto Papias como Clemente <strong>de</strong> Alexandria dão testemunho da<br />

composição <strong>de</strong>sse evangelho em Roma, por volta dos anos 60 e 70 d.C. Ao produzir seu evangelho, Marcos<br />

visava apresentar a pessoa, a obra e os ensinamentos <strong>de</strong> Jesus aos cristãos em Roma.<br />

Esboço <strong>de</strong> Marcos<br />

Introdução (1.1-13)<br />

I. Declaração sumária (1.1)<br />

a) Cumprimento da profecia do Antigo Testamento (1.2-3)<br />

b) O ministério <strong>de</strong> João Batista (1.4-8)<br />

c) O batismo <strong>de</strong> Jesus (1.9-11)<br />

d) A tentação <strong>de</strong> Jesus (1.12-13)<br />

<strong>II</strong>. O ministério <strong>de</strong> Jesus na Galiléia (1.14 - 9.50)<br />

a) Princípio: Sucesso e conflitos iniciais (1.14-3.6)<br />

b) Etapas posteriores: Aumento <strong>de</strong> popularida<strong>de</strong> e oposição (3.7 - 6.13)<br />

c) Ministério fora da Galiléia (6.14 - 8.26)<br />

d) Ministério no caminho para a Judéia (8.26 - 9.50)<br />

<strong>II</strong>I. O ministério <strong>de</strong> Jesus na Judéia (10.1 - 16.20)<br />

a) Ministério na Transjordânia (10.1-52)<br />

b) Ministério em Jerusalém (11.1 - 13.37)<br />

c) A paixão (14.1 - 15.47)<br />

d) A ressurreição (16.1 -20)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Marcos enfoca 0 que em seu evangelho?<br />

2) Qual é a mensagem do livro?<br />

3) On<strong>de</strong> teria sido escrito esse evangelho?<br />

EVANGELHO SEGUNDO LUCAS<br />

Diferentemente <strong>de</strong> seus pares, Lucas é 0 único dos evangelistas que inicia seu texto com um prólogo, ou<br />

seja, fornece os dados prévios que nortearam a elaboração <strong>de</strong> seu trabalho. É o evangelho mais longo do Novo<br />

Testamento e inclui boa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações não encontradas em outros textos. “A extensão incomumente<br />

ampla <strong>de</strong> vocabulário, a excelência da gramática e a alta qualida<strong>de</strong> do estilo mostram que a obra <strong>de</strong> Lucas é digna<br />

<strong>de</strong> ocupar um lugar respeitável entre os gigantes literários <strong>de</strong> todos os tempos.”6 Sua intenção foi transmitir a<br />

Teófilo a plena verda<strong>de</strong> sobre o que já tinham sido oralmente inteirados (1.3-4).<br />

4 HALE, Broadus David. Op. cit., p. 103.<br />

m<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Tema: 0 Homem perfeito. O que os gregos realizaram na arte e na literatura é conhecido <strong>de</strong> toda a gente,<br />

mas o que realizaram no campo puramente intelectual é ainda mais excepcional. Inventaram as matemáticas, a<br />

ciência e a filosofia; foram os primeiros a escrever histórias, em lugar <strong>de</strong> meros anais; especularam livremente<br />

sobre a natureza do mundo e as finalida<strong>de</strong>s da vida, sem que se achassem acorrentados a qualquer ortodoxia<br />

herdada. Foi para esses intelectuais que Lucas <strong>de</strong>screveu a vida e a obra <strong>de</strong> Cristo, 0 Homem e Salvador Perfeito.<br />

Assim como Mateus apresentou Jesus como rei messiânico e Marcos como Servo Sofredor, Lucas 0 <strong>de</strong>screveu<br />

como o Homem perfeito, cheio <strong>de</strong> simpatia para com toda a humanida<strong>de</strong>, Salvador <strong>de</strong> todos os homens, sem<br />

distinção <strong>de</strong> qualquer espécie. Embora os evangelhos fossem <strong>de</strong>stinados, em última análise, à totalida<strong>de</strong> da raça<br />

humana, parece que Mateus tinha em vista os ju<strong>de</strong>us, Marcos os romanos e Lucas os gregos. Lucas escreveu<br />

especialmente para o povo grego, símbolo da cultura, da filosofia, da sabedoria, da educação, a fim <strong>de</strong> apresentar<br />

a gloriosa beleza e perfeição <strong>de</strong> Jesus, 0 homem perfeito.<br />

Autor: O vocabulário e o estilo <strong>de</strong>monstram que 0 autor era letrado. Ele fez muitas referências a enfermida<strong>de</strong>s<br />

e diagnósticos. Tanto Lucas como os Atos revelam através da <strong>de</strong>dicatória (ao mesmo Teófilo) e da referência <strong>de</strong><br />

Atos 1.1., ao “primeiro tratado”, que ambos proce<strong>de</strong>m do mesmo autor. O Cânon Muratoriano (cerca <strong>de</strong> 170-180<br />

d.C.) fornece a seguinte informação acerca <strong>de</strong> Lucas - Atos: “O terceiro livro dos evangelhos é o segundo Lucas,<br />

aquele médico que, após a ascensão <strong>de</strong> Cristo, quando Paulo o havia levado como companheiro em sua viagem,<br />

o compôs em seu próprio nome, com base em relatos. Ele não viu o Senhor na carne, mas, conforme po<strong>de</strong><br />

traçar 0 curso dos acontecimentos, ele os escreveu. Assim também ele iniciou sua história com o nascimento <strong>de</strong><br />

João”.7 A autoria do terceiro evangelho, diante <strong>de</strong>sta e <strong>de</strong> outras evidências, tem sido atribuída a Lucas por toda<br />

a Igreja cristã. Lucas foi 0 único autor sagrado do Novo Testamento que não era ju<strong>de</strong>u. De acordo com 0 livro<br />

aos Colossenses, ele era médico (4.14). “Esta observação levou a um estudo <strong>de</strong>talhado do vocabulário e estilo do<br />

terceiro Evangelho e <strong>de</strong> Atos, para se <strong>de</strong>terminar se está evi<strong>de</strong>nte ali a mão <strong>de</strong> um médico. No final do último<br />

século, apareceu uma obra que pareceu colocar um fim a todos os argumentos. William K. Hobart, em The<br />

Medical Language o f St. Luke (a Linguagem Médica <strong>de</strong> São Lucas), concluiu, a partir <strong>de</strong> suas investigações,<br />

ao comparar 0 vocabulário <strong>de</strong> Lucas - Atos com Hipocrates, Galênio, Discóri<strong>de</strong>s e Areteu (médicos no mundo<br />

antigo) que o material escrito por Lucas só po<strong>de</strong>ria ser proveniente da mão <strong>de</strong> um médico.” 8<br />

Para quem foi escrito: O livro é en<strong>de</strong>reçado a um cristão chamado Teófilo (1.1 -4). Entretanto, não resta dúvida<br />

<strong>de</strong> que o relato era dirigido a um vasto círculo <strong>de</strong> leitores, incluindo os gentios e as pessoas em todas as partes.<br />

Esboço <strong>de</strong> Lucas<br />

I. Prólogo (1.1-4)<br />

<strong>II</strong>. A narrativa da infância (1.5 - 2.52)<br />

a) Anúncio do nascimento <strong>de</strong> João Batista (1.5-25)<br />

b) Anúncio do nascimento <strong>de</strong> Jesus (1.26-38)<br />

c) O encontro <strong>de</strong> Maria e Isabel (1.39-56)<br />

d) O nascimento <strong>de</strong> João Batista (1.57-80)<br />

e) O nascimento <strong>de</strong> Jesus (2.1-40)<br />

f) O menino Jesus no templo (2.41-52)<br />

<strong>II</strong>I. Preparação para 0 ministério público (3.1 - 4.13)<br />

a) O ministério <strong>de</strong> João Batista (3.1-20)<br />

b) O batismo <strong>de</strong> Jesus (3.21-22)<br />

c) A genealogia <strong>de</strong> Jesus (3.23-38)<br />

d) A tentação (4.1-13)<br />

7HALE, Broadus David. Op. (it., p. 104.<br />

' I<strong>de</strong>m, p. 106.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

135


MÓDULO 2 : PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

IV. O ministério galileu (4.14 - 9.50)<br />

a) Em Nazaré e Carfanaum (4.14-44)<br />

b) Do chamamento <strong>de</strong> Pedro ao chamamento dos doze (5.1 - 6.16)<br />

c) O Sermão da Montanha (6.17-49)<br />

d) Narrativa e diálogo (7.1 - 9.50)<br />

V. A narrativa <strong>de</strong> viagem no caminho para Jerusalém (9.51 - 19.28)<br />

VI. O ministério em Jerusalém (19.29 - 21.38)<br />

a) Acontecimentos na entrada <strong>de</strong> Jesus em Jerusalém (19.29-48)<br />

b) História <strong>de</strong> controvérsias (20.1 - 21.4)<br />

c) Discurso escatológico (21.5-38)<br />

V<strong>II</strong>. A paixão e a glorificação <strong>de</strong> Jesus (22.1 - 24.53)<br />

a) A refeição da Páscoa (22.1-38)<br />

b) A paixão, morte e sepultamento <strong>de</strong> Jesus (22.39 - 23.56)<br />

c) A ressurreição e a ascensão (24.1-53)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Como Lucas inicia seu texto?<br />

2) Lucas escreveu para 0 povo grego com que finalida<strong>de</strong>?<br />

3) Por que meios conclui-se que o autor <strong>de</strong>sse evangelho era letrado?<br />

EVANGELHO SEGUNDO JOÃO<br />

Quão diferente é este evangelho dos <strong>de</strong>mais! Suas diferenças se manifestam em todos os planos: um quadro<br />

literário diferente, episódios inéditos, longos discursos <strong>de</strong> revelação, um Cristo mais celeste do que terrestre, a<br />

utilização abundante <strong>de</strong> simbolismo, para mencionar apenas alguns pontos. A diferença mais evi<strong>de</strong>nte é sem dúvida<br />

aquela que se refere ao quadro geral do ministério <strong>de</strong> Jesus. Os sinópticos apresentam um ministério público <strong>de</strong><br />

mais ou menos um ano, que se <strong>de</strong>senrola principalmente em tomo do lago <strong>de</strong> Genesaré e termina tragicamente<br />

por ocasião da subida <strong>de</strong> Jesus a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Em João, 0 itinerário é completamente<br />

diferente: Jesus faz constantemente o vaivém entre a Galiléia e a Judéia, subindo a Jerusalém quatro ou cinco<br />

vezes por ocasião das festas judaicas (ver João 2.13; 5.1; 7.10; 10.22; 12.12).<br />

Tema: O evangelho do Filho <strong>de</strong> Deus. João expõe em termos explícitos qual é o propósito <strong>de</strong> seu livro:<br />

oferecer uma série <strong>de</strong> evidências que comprovem a natureza e a missão divina <strong>de</strong> Jesus. O Jesus <strong>de</strong> João é<br />

completamente diferente. Antes <strong>de</strong> tudo. Ele não proclama 0 Reino <strong>de</strong> Deus, não fala em parábolas, não dá<br />

ensinamentos éticos, não faz nenhum exorcismo. Ele revela as coisas celestes, a saber, sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />

seu papel <strong>de</strong> salvador, bem como a pessoa do Pai. Para João, Jesus é mais do que 0 Messias esperado ou 0 profeta<br />

do Reino. Ele é o filho do homem vindo do céu para revelar as coisas celestes, conforme está <strong>de</strong>clarado em 20.31:<br />

“Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é 0 Cristo, 0 Filho <strong>de</strong> Deus, e para que, crendo, tenhais<br />

vida em seu nome”.<br />

Autor: À semelhança dos sinópticos. esse evangelho também é anônimo; em nenhum lugar o autor se<br />

i<strong>de</strong>ntifica pelo nome. A Igreja Primitiva atribuiu ao apóstolo João, filho <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u e irmão <strong>de</strong> Tiago, a autoria<br />

<strong>de</strong>sse evangelho.<br />

Para quem foi escrito: Não encontramos em seus escritos qualquer menção a seus prováveis <strong>de</strong>stinatários.<br />

Entretanto, po<strong>de</strong>mos afirmar que foi escrito para novos cristãos e não-cristãos. Seu propósito era evangelizar<br />

tanto ju<strong>de</strong>us como helenistas, bem como fortalecer a igreja e catequizar os novos convertidos.<br />

136<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> João<br />

Prólogo (1.1-8)<br />

I. O ministério público <strong>de</strong> Jesus (1.19 - 12.50)<br />

a) Preparação (1.19-51)<br />

b) As bodas em Caná (2.1-12)<br />

c) Ministério em Jerusalém (2.13 - 3.36)<br />

d) Jesus e a mulher <strong>de</strong> Samaria (4.1-42)<br />

e) A cura do filho <strong>de</strong> um oficial do rei (4.43-54)<br />

f) A cura <strong>de</strong> um paralítico em Betesda (5.1-15)<br />

g) Honrando 0 Pai e 0 Filho (5.16-29)<br />

h) Testemunhas do Filho (5.30-47)<br />

i) Ministério na Galiléia (6.1-71)<br />

j) Conflito em Jerusalém (7.1 - 9.41)<br />

k) Jesus, 0 bom Pastor (10.1-42)<br />

1) Ministério em Betânia (11.1 - 12.11)<br />

m) Entrada triunfal em Jerusalém (12.12-19)<br />

n) Rejeição final: <strong>de</strong>scrença (12.20-50)<br />

<strong>II</strong>. O ministério <strong>de</strong> Jesus aos discípulos (13.1 - 17.26)<br />

a) Servir — um mo<strong>de</strong>lo (13.1-20)<br />

b) Pronunciamento <strong>de</strong> traição e negação (13.21-38)<br />

c) Preparação para a partida <strong>de</strong> Jesus (14.1-31)<br />

d) Produtivida<strong>de</strong> por submissão (15.1-17)<br />

e) Lidando com rejeição (15.18 - 16.4)<br />

f) Compreen<strong>de</strong>ndo a partida <strong>de</strong> Jesus (16.5-33)<br />

g) A oração <strong>de</strong> Jesus por seus discípulos (17.1-26)<br />

<strong>II</strong>I. Paixão e ressurreição <strong>de</strong> Jesus (18.1 - 21.23)<br />

a) A prisão <strong>de</strong> Jesus (18.1-14)<br />

b) Julgamento perante 0 sumo sacerdote (18.15-27)<br />

c) Julgamento perante Pilatos (18.28 - 19.16)<br />

d) Crucificação e sepultamento (19.17-42)<br />

e) Ressurreição e aparições (20.1 -21.23)<br />

Epílogo (21.24-25)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Como se manifesta as diferenças <strong>de</strong>sse evangelho para com os outros?<br />

2) Qual é o tema do evangelho <strong>de</strong> João?<br />

3) Qual foi 0 propósito <strong>de</strong> João ter escrito seu evangelho?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

137


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

ATOS DOS APOSTOLOS<br />

Atos é o único registro autêntico que relata a história e 0 <strong>de</strong>senvolvimento da Igreja Primitiva <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

ascensão <strong>de</strong> Cristo até o encarceramento <strong>de</strong> Paulo em Roma. Há alguns poucos indícios nas cartas paulinas<br />

sobre acontecimentos que ocorreram nesses primeiros anos. Em Atos, o leitor é convidado a fazer uma viagem<br />

ao longo <strong>de</strong> três <strong>de</strong>cênios, visitando Jerusalém, Judéia, Samaria, Síria, Chipre, muitas cida<strong>de</strong>s da Ásia Menor,<br />

Macedonia, Grécia e finalmente Roma.<br />

Tema: O nascimento e a expansão da Igreja. O livro <strong>de</strong> Atos fornece um relato preciso <strong>de</strong> como 0 cristianismo<br />

foi fundado, organizado e como os problemas foram resolvidos. Po<strong>de</strong>-se afirmar que esse livro é 0 relato do<br />

ministério <strong>de</strong> Cristo continuado por seus servos. Atos é o elo que liga os ensinos <strong>de</strong> Cristo com a prática cristã,<br />

o que o toma 0 livro central do Novo Testamento. Até a posição em que foi canonizado é significativa, colocado<br />

entre os evangelhos e as epístolas: “Atos forma uma ponte entre os Evangelhos e as Epístolas; 0 Evangelho prevê<br />

a igreja, e as Epístolas pressupõem a igreja”.9<br />

Autor: O autor <strong>de</strong> Atos dos Apóstolos não se i<strong>de</strong>ntifica pelo nome. O livro <strong>de</strong> Atos e 0 terceiro evangelho<br />

certamente nasceram da mesma mão. Alguns estudiosos enten<strong>de</strong>m que este é uma continuação do evangelho <strong>de</strong> Lucas.<br />

Tradicionalmente esse autor tem sido i<strong>de</strong>ntificado como Lucas, 0 médico e companheiro <strong>de</strong> Paulo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios<br />

da Igreja. Assim como no evangelho <strong>de</strong> Lucas, o vocabulário e o estilo <strong>de</strong>monstram que o autor era letrado. O grego<br />

koiné utilizado em Lucas - Atos, quase clássico, evi<strong>de</strong>ncia que ambos os livros foram escritos por um único autor.<br />

Para quem foi escrito: À semelhança do evangelho <strong>de</strong> Lucas, é <strong>de</strong>dicado a Teófilo (Lucas 1.3 com Atos 1.1).<br />

Teófilo parece ter sido uma pessoa <strong>de</strong> certa distinção, à vista do tratamento que Lucas lhe dá - excelentíssimo<br />

atribuído alhures aos governadores romanos da Judéia (Atos 23.26; 24.3; 26.25).<br />

Esboço <strong>de</strong> Atos<br />

I. Prólogo (1.1-14)<br />

a) A promessa do Espírito Santo (1.4-8)<br />

b) A ascensão <strong>de</strong> Cristo (1.9-11)<br />

c) O encontro para a oração no cenáculo (1.12-14)<br />

<strong>II</strong>. Pedro e 0 ministério da Igreja judaica em Jerusalém (1.15 - 12.24)<br />

a) A seleção <strong>de</strong> Matias como o décimo segundo apóstolo (1.15-26)<br />

b) A <strong>de</strong>scida do Espírito Santo no Pentecostes (2.1 -47)<br />

c) A cura <strong>de</strong> um coxo (3.1 - 4.31)<br />

d) Autorida<strong>de</strong> apostólica na Igreja antiga (4.32 - 5.42)<br />

e) O ministério <strong>de</strong> Estêvão (6.1 - 7.60)<br />

f) O primeiro ministério a não-ju<strong>de</strong>us (8.1-40)<br />

g) A conversão <strong>de</strong> Saulo (9.1-31)<br />

h) Enéias e Dorcas curados através do ministério <strong>de</strong> Pedro (9.32-43)<br />

i) A história <strong>de</strong> Comélio (10.1-11.18)<br />

j) O testemunho da Igreja antiga (11.19 - 12.24)<br />

<strong>II</strong>I. Paulo e a extensão internacional da igreja em Antioquia (12.25 - 28.31)<br />

a) A primeira viagem missionária <strong>de</strong> Paulo (12.25 - 14.28)<br />

b) O concerto em Jerusalém para discutir lei e graça (15.1-35)<br />

c) A segunda viagem missionária <strong>de</strong> Paulo (15.36 - 18.22)<br />

d) A terceira viagem missionária <strong>de</strong> Paulo (18.23 - 21.14)<br />

e) A viagem <strong>de</strong> Paulo a Roma através <strong>de</strong> Jerusalém (21.15 - 28.31)<br />

, HALE, Broadus David. Op. cit., p. 169.<br />

138<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Atos é 0 único registro autêntico que relata o quê?<br />

2) Por que a posição em que Atos foi canonizado é significativa?<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS ROMANOS<br />

A Epístola aos Romanos, segundo Martinho Lutero, é a principal composição literária do Novo Testamento e<br />

a mais pura <strong>de</strong>scrição dos ensinos dos evangelhos. O impacto que as magistrais palavras <strong>de</strong>ssa epístola causaram<br />

no “Cisne <strong>de</strong> Eisleben” fê-lo afixar, na capela <strong>de</strong> Wittemberg, as “noventa e cinco teses”. Romanos é a maior, mais<br />

rica e mais abrangente <strong>de</strong>claração da parte do apóstolo Paulo sobre 0 evangelho. Calvino escreveu “que entre as<br />

muitas e notáveis virtu<strong>de</strong>s, a Epístola possui uma, em particular, a qual nunca é suficientemente apreciada, a saber:<br />

se porventura conseguimos atingir uma genuína compreensão <strong>de</strong>sta Epístola, teremos aberto uma amplíssima<br />

porta <strong>de</strong> acesso aos mais profundos tesouros da Escritura”.10 Vários são os assuntos doutrinários encontrados na<br />

Epístola aos Romanos: a justiça divina; a universalida<strong>de</strong> do pecado; a fé; a salvação; a justificação; a santificação;<br />

Adão e Cristo; a salvação <strong>de</strong> Israel; e o ministério cristão.<br />

Tema: Justificação pela fé. A Epístola aos Romanos é uma resposta completa, lógica e reveladora à gran<strong>de</strong><br />

pergunta dos séculos: “como po<strong>de</strong> o homem ser justo para com Deus?” (Jó 9.2). A discussão sobre esse tema<br />

envolve os capítulos um ao cinco, concluindo que o homem encontra sua justificação única e exclusivamente<br />

na misericórdia <strong>de</strong> Deus, em Cristo, que é oferecida no evangelho e recebida pela fé. Portanto, ninguém po<strong>de</strong><br />

entrar em contato com Deus senão <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> estabelecida uma via <strong>de</strong> acesso a<strong>de</strong>quada. Essa justiça se encontra<br />

em Cristo, “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a re<strong>de</strong>nção que há em Cristo Jesus, a quem<br />

Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua<br />

tolerância, <strong>de</strong>ixado impunes os pecados anteriormente cometidos” (Romanos 3.24-25). Myer Pearlman resumiu<br />

0 tema <strong>de</strong> Romanos da seguinte maneira: “A justificação dos pecadores, a santificação dos justificados, pela fé e<br />

pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus”.11<br />

Por quem foi escrita: Tércio (cf. Romanos 16.22). O apóstolo Paulo estava na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Corinto, no fim <strong>de</strong><br />

sua terceira viagem missionária. Ali encontrou uma irmã cristã, chamada Febe, <strong>de</strong> Cencréia, subúrbio <strong>de</strong> Corinto,<br />

que estava <strong>de</strong> viagem marcada para Roma (16.1-2). Paulo aproveitou a oportunida<strong>de</strong> para enviar, por meio <strong>de</strong>la,<br />

uma carta à igreja naquele lugar, falando <strong>de</strong> sua futura visita e dando aos romanos uma <strong>de</strong>claração das verda<strong>de</strong>s<br />

que lhe tinham sido reveladas.<br />

Quando foi escrita: E muito mais simples estabelecer 0 lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> essa carta foi escrita do que especificar<br />

a data em que foi escrita. Há um consenso geral <strong>de</strong> que ela foi escrita <strong>de</strong> meados a fins dos anos cinqüenta,<br />

provavelmente na primavera <strong>de</strong> 57 d.C., ou talvez no inverno <strong>de</strong> 57-58 d.C. (2 Coríntios 13.1; Atos 20.1-2).<br />

Fundação da igreja <strong>de</strong> Roma: A origem da igreja <strong>de</strong> Roma é <strong>de</strong>sconhecida. Alguns pesquisadores atribuem sua<br />

fundação logo após 0 dia do Pentecostes (Atos 2), em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> naquele dia se encontrar presentes em Jerusalém<br />

“forasteiros romanos” (Atos 2.10) que possivelmente retomaram com a mensagem <strong>de</strong> salvação para sua pátria.<br />

Esboço <strong>de</strong> Romanos<br />

I. Introdução (1.1-17)<br />

a) I<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> Paulo (1.1-7)<br />

b) Desejo <strong>de</strong> Paulo <strong>de</strong> visitar Roma (1.8-15)<br />

c) Resumo do evangelho (1.18 - 3.20)<br />

10CALVINO, João. Romanos. 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001. p. 23.<br />

" PEARLMAN, Myer. Através da B íb lia ..., cit., p. 253.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

139


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

<strong>II</strong>. Todos pecaram (1.18 - 3.20)<br />

<strong>II</strong>I. Justificação apenas pela fé (3.21 - 5.21)<br />

IV. Praticando justiça na vida cristã (6.1 - 8.39)<br />

V. Deus e Israel (9.1 - 11.36)<br />

VI. Aplicações práticas (12.1 - 15.13)<br />

V<strong>II</strong>. Apropria situação <strong>de</strong> Paulo (15.14-33)<br />

V<strong>II</strong>I. Recomendações pessoais (16.1-24)<br />

IX. Bênção (16.25-27)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Quais são os assuntos doutrinários encontrados nessa epístola?<br />

2) Qual é o tema <strong>de</strong>ssa epístola?<br />

3) Quando foi escrita essa epístola?<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS CORÍNTIOS<br />

Corinto era uma das cida<strong>de</strong>s cosmopolitas mais importantes da época. Possuía um gran<strong>de</strong> porto e com isso<br />

controlava gran<strong>de</strong> parte das navegações entre 0 Oriente e o Oci<strong>de</strong>nte. Situava-se ao sul do istmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis<br />

quilômetros <strong>de</strong> largura que liga a Grécia central à península do Peloponeso. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Corinto era conhecida<br />

pela sua idolatria e imoralida<strong>de</strong>. A principal divinda<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> era Afrodite (Vênus), <strong>de</strong>usa do amor licencioso,<br />

e milhares <strong>de</strong> prostitutas profissionais serviam no templo <strong>de</strong>dicado à sua adoração. “Amoral <strong>de</strong> sua socieda<strong>de</strong> era<br />

tão corrupta que ‘corintianizar’ significava viver uma vida muito dissoluta.” 12 Foi nesse ambiente que o apóstolo<br />

Paulo, em sua segunda viagem missionária, estabeleceu a igreja.<br />

Tema: Or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>cência. Sem a presença do apóstolo Paulo a igreja <strong>de</strong> Corinto caiu em divisões e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns.<br />

Os coríntios se agruparam em tomo <strong>de</strong> vários mestres e lí<strong>de</strong>res da igreja - Pedro, Paulo e Apoio, o que gerou<br />

facções <strong>de</strong>ntro da igreja. A jovem igreja apelou a Paulo, enviando-lhe cartas por meio <strong>de</strong> alguns membros da<br />

congregação. Essa epístola foi escrita com o propósito <strong>de</strong> corrigir os muitos problemas que haviam surgido no<br />

seio da igreja e também para oferecer soluções e estabelecer os padrões <strong>de</strong> conduta cristã. Paulo respon<strong>de</strong> às<br />

várias questões levantadas pela <strong>de</strong>legação, sobre os mais diversos assuntos, entre os quais se encontravam os<br />

relacionados com a ressurreição, a imoralida<strong>de</strong>, as ações judiciais entre irmãos e a falta <strong>de</strong> entendimento quanto<br />

a certas questões práticas como o casamento, a adoração pública, a celebração da Ceia do Senhor e o uso dos<br />

dons espirituais.<br />

Por que foi escrita: Durante os <strong>de</strong>zoito meses que passou em Corinto Paulo ensinou a Palavra <strong>de</strong> Deus entre<br />

os coríntios. Logo após esse período, 0 apóstolo se <strong>de</strong>spediu dos seus filhos na fé e foi para Efeso, <strong>de</strong>pois para<br />

Cesaréia e por fim a Jerusalém (Atos 18.22). Não muito tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua partida chegou ao seu conhecimento<br />

1: HORTON, Stanley. I e I I Coríntios: os problemas da igreja e suas soluções. 3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD. p. 11.<br />

m<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

que a igreja não estava vivendo uma vida cristã genuína. Paulo prontamente lhes escreve aconselhando que os<br />

irmãos evitassem a companhia <strong>de</strong> pessoas imorais, mas tudo indica que essa carta não chegou ao seu <strong>de</strong>stinatário<br />

(1 Coríntios 5.9). Posteriormente, iniciou sua terceira viagem missionária, passando pelas regiões superiores, e<br />

chegou pela terceira vez a Éfeso. Enquanto estava em Éfeso, cerca <strong>de</strong> 440 km a leste, do outro lado do mar Egeu,<br />

chegou ao seu conhecimento, por meio <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>legação vinda <strong>de</strong> Corinto (provavelmente levada por Estéfanes,<br />

Fortunato e Acaico), que as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns ainda permaneciam no seio da igreja. Portanto, ao escrever essa carta,<br />

Paulo tratou dos sérios problemas da igreja <strong>de</strong> Corinto, além <strong>de</strong> aconselhar e doutrinar sobre variados assuntos<br />

que os coríntios lhe encaminharam por escrito.<br />

Quando foi escrita: Paulo <strong>de</strong>morou <strong>de</strong>zoito meses em Corinto na sua primeira visita, viajando <strong>de</strong>pois, por<br />

mar, até Éfeso; visitou Jerusalém e Antioquia. percorreu os lugares da Ásia Menor on<strong>de</strong>, anteriormente, fizera<br />

trabalho missionário, voltando então a Éfeso, on<strong>de</strong> permaneceu por dois anos (Atos 18.11, 23; 19.1). Escreveu<br />

<strong>de</strong> Éfeso a primeira Epístola aos Coríntios, talvez um ano após sua chegada ali, no ano 55 d.C.<br />

Esboço <strong>de</strong> Ia Coríntios<br />

I. Introdução com saudação e ação <strong>de</strong> graças (1.1-9)<br />

a) O problema <strong>de</strong> um espírito sectário que surgiu <strong>de</strong> uma preferência por lí<strong>de</strong>res religiosos<br />

<strong>de</strong>vido à sua suposta sabedoria superior (1.10-4.21)<br />

b) O contraste entre a sabedoria divina e a humana sobre a cruz mostra o erro <strong>de</strong> um espírito<br />

sectário que se origina da sabedoria humana (1.10-3.4)<br />

c) O papel dos lí<strong>de</strong>res religiosos mostra que eles são importantes, mas nunca motivo para<br />

jactância (3.5 - 4.5)<br />

d) Uma repreensão aberta comparando ironicamente o orgulho coríntio com a loucura <strong>de</strong> Paulo<br />

(4.6-21)<br />

<strong>II</strong>. O problema da disciplina da igreja interna ocorrida <strong>de</strong>vido a um caso <strong>de</strong> incesto (5.1-13)<br />

<strong>II</strong>I. O problema <strong>de</strong> processos entre os cristãos perante cortes públicas (6.1-11)<br />

IV.<br />

O problema <strong>de</strong> abuso sexual do corpo oriundo <strong>de</strong> uma aplicação errônea do ensinamento<br />

ético <strong>de</strong> Paulo (6.12-20)<br />

V. O problema do relacionamento entre a esfera secular e a vida espiritual do crente,<br />

especialmente nas áreas <strong>de</strong> sexo, casamento e escravidão (7.1-40)<br />

VI. Os alimentos consagrados aos ídolos (8.1 - 11.1)<br />

a) O princípio básico do amor (8.1-13)<br />

b) O exemplo da pessoa <strong>de</strong> Paulo antece<strong>de</strong> seus direitos (9.1-27)<br />

c) A aplicação do princípio em comportamento e ação (10.1 - 11.1)<br />

V<strong>II</strong>. A questão do uso do véu (11.2-16)<br />

V<strong>II</strong>I. O problema <strong>de</strong> profanar a Ceia do Senhor (11.17-34)<br />

IX. O uso dos dons espirituais (12.1 - 14.40)<br />

a) A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> (12.1-31)<br />

b) A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor (13.1-13)<br />

c) A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle (14.1-40)<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

141


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

X. A questão da ressurreição dos mortos (15.1-58)<br />

XI. Concluindo observações pessoais (16.1-24)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Como era conhecida a igreja <strong>de</strong> Corinto?<br />

2) Qual é 0 propósito apresentado nessa epístola?<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS CORÍNTIOS<br />

A primeira carta foi bem recebida e gerou frutos, entretanto a igreja sofria os ataques externos dos falsos mestres,<br />

que negavam a autorida<strong>de</strong> do apóstolo Paulo. É uma carta cheia <strong>de</strong> emoção, mistura <strong>de</strong> alegria, sofrimento e indignação.<br />

Revela o coração e os sentimentos mais íntimos do apóstolo e também seus motivos mais profundos.<br />

Tema: A <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seu ministério contra os falsos mestres. A presença <strong>de</strong> mestres falsos em Corinto colocava<br />

em dúvida a condição <strong>de</strong> Paulo como apóstolo e sua autorida<strong>de</strong> como lí<strong>de</strong>r. Ele, então, escreveu a segunda<br />

Epístola aos Coríntios para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sua posição e <strong>de</strong>nunciar aqueles que estavam distorcendo a verda<strong>de</strong>. De<br />

todas as epístolas <strong>de</strong> Paulo, esta é a mais autobiográfica, contendo inúmeras referências às dificulda<strong>de</strong>s que ele<br />

enfrentou no curso do seu ministério. Ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r seu chamado e ministério, ele abre seu coração e expõe seus<br />

sentimentos mais íntimos e seus motivos mais profundos.<br />

Para quem foi escrita: De Efeso, Paulo escreveu uma epístola severa aos coríntios, “em muita tribulação e angústia<br />

<strong>de</strong> coração... com muitas lágrimas” (2.4), registrando todo o peso <strong>de</strong> sua autorida<strong>de</strong> apostólica, que fora questionada e<br />

rejeitada (12.12; 13.3). Ele a enviou por intermédio <strong>de</strong> Tito e seguiu em direção à Macedonia, on<strong>de</strong> Tito o encontrou<br />

posteriormente com um relatório estimulante, dando-lhe novas <strong>de</strong> que aquela carta obtivera efeito benéfico e que os<br />

coríntios haviam reconhecido plenamente o seu ministério apostólico. Entretanto, havia uma pequena minoria que recusara<br />

a sua autorida<strong>de</strong>. Para consolar e animar os primeiros, e admoestar os últimos, Paulo escreveu a sua segunda carta.<br />

On<strong>de</strong> foi escrita: Provavelmente foi escrita da Macedonia, durante a sua terceira viagem missionária.<br />

Esboço <strong>de</strong> 2a Coríntios<br />

I. Saudação (1.1-2)<br />

<strong>II</strong>. Explicação do ministério <strong>de</strong> Paulo (1.3 - 7.16)<br />

a) Consolação e sofrimento (1.3-11)<br />

b) Mudanças <strong>de</strong> planos (1.12 -2 .4 )<br />

c) Perdoando 0 ofensor (2.5-11)<br />

d) Perturbação em Trôa<strong>de</strong> (2.12-13)<br />

e) Natureza do ministério cristão (2.14-7.4)<br />

f) Deleitando-se com 0 relatório <strong>de</strong> Corinto (7.5-16)<br />

<strong>II</strong>I. Generosida<strong>de</strong> ao dar (8.1 - 9.15)<br />

a) Macedônios e Jesus como exemplos (8.1-9)<br />

b) Cumprindo as boas intenções (8.10-12)<br />

c) Compartilhando recursos (8.13-15)<br />

d) Uma <strong>de</strong>legação honrada (8.16-24)<br />

e) Preparação conveniente do dom (9.1-5)<br />

f) Bênção <strong>de</strong> dar (9.6-16)<br />

1*2<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

IV. Defesa e uso da autorida<strong>de</strong> apostólica (10.1 - 13.10)<br />

a) Repreensão por avaliação superficial (10.1-11)<br />

b) Repreensão por comparações tolas (10.12-18)<br />

c) Zelo <strong>de</strong> Deus pela Igreja (11.1-4)<br />

d) Comparação com falsos apóstolos (11.5-15)<br />

e) Tolerância mal orientada dos coríntios (11.16-21)<br />

f) Jactância relutante <strong>de</strong> Paulo (11.22 - 12.13)<br />

g) Anúncio da terceira visita (12.14 - 13.10)<br />

V. Saudações finais (13.11-14)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Por que o apóstolo Paulo escreveu essa segunda epístola?<br />

2) Quando foi escrita essa epístola?<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS GÁLATAS<br />

Essa epístola é 0 manifesto <strong>de</strong> Paulo contra a perversão da graça <strong>de</strong> Deus. Para Lutero, “a epístola <strong>de</strong> Gálatas é a<br />

minha epístola. Diante <strong>de</strong>la sou como que preso por laços matrimoniais. Ela é minha Katherine”, pois consi<strong>de</strong>rava a<br />

Epístola aos Gálatas como a expressão máxima da liberda<strong>de</strong> cristã. Nessa epístola se toma manifesta a batalha entre o<br />

legalismo e a graça <strong>de</strong> Deus. O legalismo que aprisiona 0 homem em sua tentativa <strong>de</strong> alcançar a justiça através do mérito<br />

é confrontado com a graça <strong>de</strong> Deus, que opera para libertar o homem <strong>de</strong>ssa escravidão.<br />

Tema: A lei e a graça. Pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Paulo ter partido da Galácia, apareceram alguns mestres judaicos<br />

insistindo para que os gentios se submetessem à guarda da Lei <strong>de</strong> Moisés. Esta questão tomou tamanha relevância<br />

que foi até Jerusalém para ser <strong>de</strong>cidida. Reunidos os apóstolos, no Concilio <strong>de</strong> Jerusalém (Atos 15), chegaram à<br />

conclusão <strong>de</strong> que os gentios eram justificados pela fé sem as obras da Lei. “Insurgiram-se, entretanto, alguns da<br />

seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: E necessário circuncidá-los e <strong>de</strong>terminar-lhes que observem a lei<br />

<strong>de</strong> Moisés” (Atos 15.5). Estes continuavam a insistir que, apesar <strong>de</strong> os gentios serem salvos pela fé, esta seria<br />

aperfeiçoada pela obediência à Lei <strong>de</strong> Moisés. Tem-se tomado evi<strong>de</strong>nte que a principal preocupação do apóstolo<br />

era que os gálatas não per<strong>de</strong>ssem sua confiança no único e verda<strong>de</strong>iro evangelho. E significativo observar quantas<br />

vezes a palavra evangelho aparece nesta pequena epístola, ora como substantivo, ora como elemento componente<br />

<strong>de</strong> um verbo (1.6-9, 11, 16, 23; 2.2, 5, 7, 14; 3.8; 4.13). A essência ou conteúdo <strong>de</strong>ste evangelho é também afirmado<br />

e reafirmado: “Que o homem não é justificado por obras da lei e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (2.16; cf. 2.21;<br />

3.9, 11; 4.2-6; 5.2-6; 6.14-16). Essa epístola tem sido chamada <strong>de</strong> “ 0 grito <strong>de</strong> guerra da Reforma”, “a gran<strong>de</strong> autora<br />

da liberda<strong>de</strong> religiosa”, “a <strong>de</strong>claração da in<strong>de</strong>pendência do cristão” etc.<br />

Por que foi escrita: Foi escrita para alertar os gálatas sobre os ensinos espúrios dos falsos mestres judaizantes, que<br />

ensinavam que os crentes gentios <strong>de</strong>veriam obe<strong>de</strong>cer à Lei <strong>de</strong> Moisés a fim <strong>de</strong> se salvarem. Paulo lembra aos gálatas que<br />

0 Espírito lhes foi dado não por observarem a Lei, mas com base na fé que tinham em Cristo (3.1-5).<br />

Quando foi escrita: Não há concordância entre os estudiosos quanto à data para a escrita <strong>de</strong> Gálatas. Alguns aceitam<br />

como data 0 encerramento da primeira viagem missionária (cerca <strong>de</strong> 50 d.C.), e Antioquia como lugar <strong>de</strong> composição.<br />

Há também aqueles, no outro extremo, que dizem que foi durante a prisão romana do apóstolo (60 d.C. e <strong>de</strong>pois).<br />

Advogados da teoria da Galácia do Norte aceitam uma data mais remota, justificando que a visita do apóstolo Paulo<br />

àquela área ocorreu na terceira viagem missionária, conforme mencionado em Atos 18.23. Já a teoria da Galácia do<br />

Sul adota uma data mais recuada alegando que Paulo havia trabalhado na Galácia do Sul antes <strong>de</strong> qualquer outro grupo<br />

<strong>de</strong> igrejas. Portanto, 0 livro teria sido escrito na segunda viagem, em Corinto, antes da chegada <strong>de</strong> Timóteo e Silas, por<br />

volta do ano 48 d.C.13<br />

'3HENDRIKSEN, William. Gálatas. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 26-27.<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> Gálatas<br />

I. Introdução (1.1-10)<br />

a) Deserção dos gálatas (1.6-7)<br />

b) Denúncia contras os judaizantes (1.8-9)<br />

c) Declaração da integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo (1.10)<br />

<strong>II</strong>. Paulo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> sua autorida<strong>de</strong> (1.11 - 2.21)<br />

a) A fonte <strong>de</strong> sua autorida<strong>de</strong> (1.11 -24)<br />

b) O reconhecimento <strong>de</strong> sua autorida<strong>de</strong> (2.1-10)<br />

c) A manifestação <strong>de</strong> sua autorida<strong>de</strong> (2.11-21)<br />

<strong>II</strong>I. Paulo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> seu evangelho (3.1 - 4.31)<br />

a) Com discussão (3.1-4.11)<br />

b) Por apelo (4.12-20)<br />

c) Por alegoria (4.21-31)<br />

IV. Paulo exorta os gálatas (5.1 - 6.10)<br />

a) Para usar a<strong>de</strong>quadamente sua liberda<strong>de</strong> cristã (5.1-15)<br />

b) Para caminhar através do Espírito (5.16-26)<br />

c) Para carregar os fardos dos outros (6.1-10)<br />

V. Conclusão (6.11-18)<br />

a) Advertência contra os legalistas (6.11-13)<br />

b) Centralida<strong>de</strong> da cruz (6.14-16)<br />

c) Marcas <strong>de</strong> um apóstolo (6.17)<br />

d) Bênção (6.18)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) O que se toma manifesto nessa epístola?<br />

2) Qual é a essência ou conteúdo <strong>de</strong>ssa epístola?<br />

3) Por que foi escrita?<br />

4) Segundo a teoria da Galácia do Sul, quando Paulo teria escrito essa epístola?<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS EFÉSIOS<br />

Éfeso era uma cida<strong>de</strong> portuária estratégica, tão importante quanto as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alexandria, no Egito,<br />

e Antioquia, na Síria. Situava-se no extremo oci<strong>de</strong>nte da Ásia Menor (na atual Turquia) e era o porto mais<br />

importante no mar Egeu, na principal rota entre Roma e 0 Oriente. É nesse ambiente que o apóstolo Paulo vai<br />

estabelecer uma igreja. Foi fundada no ano <strong>de</strong> 53 d.C., na viagem <strong>de</strong> retomo para Jerusalém. Em sua terceira<br />

viagem missionária, um ano mais tar<strong>de</strong>, Paulo lá permaneceu por três anos pregando e ensinando com eficiência<br />

(Atos 19.1-20). Pouco tempo <strong>de</strong>pois, Paulo foi enviado como prisioneiro a Roma, on<strong>de</strong> recebeu a visita <strong>de</strong> vários<br />

irmãos, entre eles Tíquico, que será 0 responsável por levar essa carta às igrejas daquela região.<br />

Tema: O Evangelho das Regiões Celestiais. Devido à sua profundida<strong>de</strong> e sublimida<strong>de</strong> da doutrina, “ao<br />

entrarmos nos portais da Carta aos Efésios, estaremos penetrando nas ‘regiões celestiais’, on<strong>de</strong> teremos uma visão<br />

144<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

dos propósitos divinos para a Igreja na face da terra <strong>de</strong> uma maneira <strong>de</strong>slumbrante”.14 Não havia uma situação<br />

específica nem qualquer controvérsia que provocasse a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa carta. Ao contrário, trata-se <strong>de</strong> uma carta<br />

<strong>de</strong> encorajamento na qual Paulo <strong>de</strong>screve a natureza e a estrutura da Igreja e <strong>de</strong>safia os crentes a agirem como<br />

representantes do corpo <strong>de</strong> Cristo na Terra.<br />

Efésios é um dos documentos religiosos que transcen<strong>de</strong>m o normal, atingindo um grau muito elevado na escala<br />

dos valores morais, intelectuais e estéticos. Não é sem merecer que tem sido apresentada por teólogos e estudiosos<br />

do Novo Testamento como a “epístola do terceiro céu”, por conter as mais significantes e profundas <strong>de</strong>clarações<br />

sobre os eternos propósitos <strong>de</strong> Deus concernentes aos homens.15<br />

Por que foi escrita: Com a intenção <strong>de</strong> manifestar, <strong>de</strong> modo abrangente, o significado <strong>de</strong> Cristo, a epístola<br />

<strong>de</strong>screve a ação e a obra <strong>de</strong> Deus em Cristo, a qual tudo penetra (1.10; 3.10, 18; 4.10), e, com isto, ele acentua a<br />

relação eterna que existe entre Cristo, 0 Cabeça, e seu corpo, a Igreja (1.4; 2.15; 4.13; 5.23).<br />

Quando foi escrita: Essa é uma das quatro cartas que o apóstolo Paulo escreveu durante sua prisão em Roma<br />

(59-61/62 d.C.). Com exceção <strong>de</strong> Filipenses, as <strong>de</strong>mais foram escritas na mesma ocasião e enviadas pelo mesmo<br />

mensageiro, Tíquico (6.21; Colossenses 4.7-9; Filemom 10-12).<br />

Esboço <strong>de</strong> Efésios<br />

I. Saudação <strong>de</strong> abertura (1.1-2)<br />

<strong>II</strong>. A posição do crente em Cristo (1.3-14)<br />

a) Bênçãos <strong>de</strong> total re<strong>de</strong>nção (1.3-8)<br />

b) Parceria no propósito <strong>de</strong> Deus (1.9-14)<br />

<strong>II</strong>I. A oração do apóstolo por discernimento (1.15-23)<br />

a) Para corações que vêem com esperança (1.15-23)<br />

b) Para a experiência que compartilha da vitória <strong>de</strong> Cristo (1.19-21)<br />

c) A igreja: o corpo <strong>de</strong> Cristo (1.22-23)<br />

IV. O passado, presente e futuro do crente (2.1-22)<br />

a) A or<strong>de</strong>m passada dos mortos que vivem (2.1-3)<br />

b) A nova or<strong>de</strong>m da vida amorosa <strong>de</strong> Deus (2.4-10)<br />

c) A antiga separação e falta <strong>de</strong> esperança (2.11-12)<br />

d) A nova união e paz atual (2.13-18)<br />

e) A Igreja: edifício <strong>de</strong> Cristo (2.19-22)<br />

V. O ministério e mensagem do apóstolo (3.1-13)<br />

a) O ministério concedido a Paulo (3.1-7)<br />

b) O ministério que é dado a cada crente (3.8-13)<br />

VI. A oração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do apóstolo (3.14-21)<br />

a) Por força através do Espírito Santo (3.14-16)<br />

b) Por fé e amor através da habitação <strong>de</strong> Cristo (3.17-19)<br />

c) A Igreja e a glória <strong>de</strong> Deus (3.20-21)<br />

"CABRAL, Elienai. Comentário bíblico: Efésios. 3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1999. p. 11.<br />

ls i<strong>de</strong>m, p. 7.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

145


M ÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

V<strong>II</strong>. A responsabilida<strong>de</strong> do crente (4.1 - 16)<br />

a) Para alcançar a unida<strong>de</strong> com diligência (4.1 - 6)<br />

b) Para aceitar a graça e dons com humilda<strong>de</strong> (4.7 - 11)<br />

c) Para crescer no ministério como parte do corpo (4.12 - 16)<br />

V<strong>II</strong>I. O chamado do crente para a pureza (4.17 - 5.14)<br />

a) Ao recusar a falta <strong>de</strong> inclinação mundana (4.17-19)<br />

b) Ao tirar 0 velho e colocar 0 novo (4.20 - 32)<br />

c) Ao brilhar como filho da luz (5.8-14)<br />

IX. A vocação do crente para a vida cheia do Espírito (5.15 - 6.9)<br />

a) Buscar a vonta<strong>de</strong> e sabedoria <strong>de</strong> Deus (5.15 - 17)<br />

b) Manter a plenitu<strong>de</strong> do Espírito através <strong>de</strong> louvor e humilda<strong>de</strong> (5 .1 8 -2 1 )<br />

c) Conduzir todos os relacionamentos <strong>de</strong> acordo com a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus (5.22 - 6.9)<br />

X. A vocação do crente para a batalha espiritual (6.10 - 20)<br />

a) A realida<strong>de</strong> da batalha invisível (6 .1 0 - 12)<br />

b) Armadura para 0 guerreiro (6 .1 3 -1 7 )<br />

c) A ação envolvida na batalha (6 .1 8 - 20)<br />

d) Observações finais (6.21 - 24)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Como essa epístola tem sido apresentada por teólogos e estudiosos do Novo Testamento?<br />

2) On<strong>de</strong> foi escrita essa epístola?<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS FILIPENSES<br />

Por volta do ano 350 a.C., a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Creni<strong>de</strong>s, que tinha esse nome <strong>de</strong>vido a uma série <strong>de</strong> fontes encontradas em suas<br />

proximida<strong>de</strong>s, passou a ser <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> Filípos, em homenagem a Filipe da Macedonia, pai <strong>de</strong> Alexandre, o Gran<strong>de</strong>.<br />

Sua localização era estratégica, pois se encontrava numa cordilheira <strong>de</strong> montanhas que dividia a Trácia da Macedonia<br />

e a Ásia da Europa. Por volta do ano 168 a.C., a cida<strong>de</strong> caiu nas mãos dos romanos, quando a província da Macedonia<br />

foi subjugada. Em 42 a.C., Marco Antônio e Otávio <strong>de</strong>rrotaram Bruto e Cássio nessa região. Por ter enviado socorro<br />

a Antônio, a cida<strong>de</strong> tomou-se colônia romana (Atos 16.12). A história da fundação <strong>de</strong>ssa igreja é relatada em Atos 16.<br />

Trata-se da primeira igreja que Paulo fundou na Europa, na segunda viagem missionária, por volta do ano 51 d.C.<br />

Tema: Alegria no sofrimento. Embora Paulo estivesse escrevendo da prisão, a alegria é a nota dominante nesta<br />

carta. Afim <strong>de</strong> encorajá-los na fé, Paulo expõe como viver uma vida cristã feliz, mostrando que a verda<strong>de</strong>ira alegria<br />

só po<strong>de</strong> vir do conhecimento pessoal <strong>de</strong> Cristo e da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> sua força. Segundo Pearlman, “a epístola aos<br />

Filipenses foi chamada ‘ 0 mais doce dos escritos <strong>de</strong> Paulo’ e a ‘mais formosa <strong>de</strong> todas as cartas <strong>de</strong> Paulo em que<br />

expõe o seu próprio coração e on<strong>de</strong> em cada sentença brilha um amor mais temo do que o <strong>de</strong> uma mulher”.16<br />

Por que foi escrita: Paulo queria <strong>de</strong>monstrar sua gratidão aos filipenses por ter recebido uma doação em<br />

dinheiro trazida por Epafrodito (2.25; 4.14, 18). Epafrodito quase per<strong>de</strong>ra a vida na viagem. Quando recuperou<br />

sua saú<strong>de</strong> (2.25-30; 4.18), Paulo 0 enviou a Filipos com essa epístola <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento e exortação acerca <strong>de</strong> sua<br />

preocupação com possíveis problemas na igreja (3.2-4.9).<br />

16 PEARLMAN, Myer. Através da B íb lia ..., cit., p. 277.<br />

146<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Quando foi escrita: Paulo escreveu essa carta quando se encontrava preso (1.7, 13, 17), mas ele não diz a<br />

localização da sua prisão. Sabe-se que Paulo esteve aprisionado em Cesaréia durante dois anos (Atos 23.33;<br />

24.27) e também em Roma (Atos 28.16). Entretanto, não foram somente essas ca<strong>de</strong>ias que <strong>de</strong>tiveram 0 apóstolo;<br />

ele mesmo afirma que havia estado ”muito mais vezes” preso do que outras pessoas (2 Coríntios 11.23), 0 que<br />

evi<strong>de</strong>ncia que ele havia sofrido mais prisões do que aquelas mencionadas em Atos.17 Se porventura a Epístola<br />

aos Filipenses foi escrita em Cesaréia, então sua data teria sido entre 56 e 58 d.C. E se porventura ele a escreveu<br />

em Roma, então <strong>de</strong>ve ser datada <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 59 d.C., que foi quando Paulo chegou pela primeira vez a Roma.<br />

Tradicionalmente tem-se atribuído que essa epístola, bem como todas as outras “epístolas da prisão”, foi escrita<br />

em Roma, lugar on<strong>de</strong> Paulo passou seu mais prolongado e famoso período <strong>de</strong> encarceramento.<br />

Esboço <strong>de</strong> Filipenses<br />

I. Introdução (1.1-11)<br />

<strong>II</strong>. Circunstância da prisão <strong>de</strong> Paulo (1.12-26)<br />

a) Pregaram 0 evangelho (1.12-18)<br />

b) Garantiram as bênçãos (1.19-21)<br />

c) Criaram um dilema para Paulo (1.22-26)<br />

<strong>II</strong>I. Exortações (1.27 - 2.18)<br />

a) Vida digna do evangelho (1.27-2.4)<br />

b) Reproduzir a mente <strong>de</strong> Cristo (2.5-11)<br />

c) Cultivar a vida espiritual (2.12-13)<br />

d) Cessar com murmúrios e questionamentos (2.14-18)<br />

IV. Recomendações e planos para os companheiros <strong>de</strong> Paulo (2.19-30)<br />

a) Timóteo (2.19-24)<br />

b) Epafrodito (2.25-30)<br />

V. Advertências contra 0 erro (3.1-21)<br />

a) Contra os judaizantes (3.1-6)<br />

b) Contra o sensualismo (3.17-21)<br />

c) Conclusão (4.1-23)<br />

d) Apelos finais (4.1-9)<br />

e) Reconhecimento das dádivas dos filipenses (4.10-20)<br />

í) Saudações (4.21-22)<br />

g) Bênção (4.23)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Além <strong>de</strong> encorajá-los na fé, 0 que essa epístola mostra?<br />

2) On<strong>de</strong> foi escrita essa epístola?<br />

1'Clemente diz que Paulo esteve preso sete vezes (1 Ciem 5.6).<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

״


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS COLOSSENSES<br />

Colossos era uma pequena cida<strong>de</strong> da província da Frigia, na Ásia Menor, situada na margem sul do rio Licos,<br />

cerca <strong>de</strong> 160 km a leste <strong>de</strong> Éfeso, e avizinhava-se com Laodicéia e Hierápolis. Por aí passava a principal rota<br />

comercial, 0 que fez a região do vale do Licos se tomar muito próspera e rica. Colossos não era a cida<strong>de</strong> principal<br />

- honra que pertencia a Laodicéia - e havia conhecido a prosperida<strong>de</strong>, porém pela época da dominação romana<br />

começou a <strong>de</strong>clinar a ponto <strong>de</strong> vir a ser a menor e a menos importante das três cida<strong>de</strong>s. A igreja <strong>de</strong> Colossos foi<br />

estabelecida enquanto Paulo esteve em Éfeso (Atos 19.10).<br />

Tema: Os falsos mestres. Na prisão 0 apóstolo tomou conhecimento, provavelmente por meio <strong>de</strong> Epafras,<br />

<strong>de</strong> que uma heresia perniciosa, conhecida mais tar<strong>de</strong> pelo nome <strong>de</strong> gnosticismo, ameaçava a igreja <strong>de</strong> Colossos.<br />

Enfatizando um conhecimento especial (gnosis, em grego) e negando a Cristo a condição <strong>de</strong> Deus e Salvador,<br />

“o gnosticismo brotou do dualismo neoplatônico que associava aquilo que é bom ao i<strong>de</strong>al, ao espiritual, e o que<br />

é mau ao material. Na plena expressão do gnosticismo, 0 re<strong>de</strong>ntor gnóstico vem à terra para dar àqueles que tem<br />

ouvidos para ouvir informações sobre as verda<strong>de</strong>iras origens <strong>de</strong>les. Esse conhecimento (gnosis) traz libertação<br />

e salvação àqueles que o aceitam”.18 Sendo assim, os gnósticos vangloriavam-se <strong>de</strong> possuir uma sabedoria<br />

muito mais profunda do que a dos apóstolos e aquela revelada nas Escrituras Sagradas, e ninguém po<strong>de</strong>ria ser<br />

feliz se não tivesse sido iniciado no mais profundo mistério <strong>de</strong> seu culto. A persuasão dos falsos ensinos era tal<br />

que precisavam ser tomadas medidas rigorosas para evitar a proliferação <strong>de</strong>les no seio da igreja. Escrevendo da<br />

prisão, o apóstolo Paulo combateu esses falsos ensinos que haviam se infiltrado na igreja <strong>de</strong> Colossos.<br />

Por que foi escrita: Os gnósticos consi<strong>de</strong>ravam-se cristãos dotados <strong>de</strong> conhecimento superior ao dos <strong>de</strong>mais<br />

convertidos. Os colossenses, tendo ouvido falar da prisão <strong>de</strong> Paulo, enviaram Epafras, 0 seu ministro, para<br />

informar ao apóstolo sobre a situação em que se encontravam (1.7-8). Por meio <strong>de</strong> Epafras Paulo ficou sabendo<br />

que falsos mestres procuravam acrescentar à fé cristã uma doutrina cuja força provinha das mitologias da Grécia,<br />

do Egito, da Pérsia e da índia. “Ao combinar elementos da filosofia pagã, alguns elementos da astrologia e<br />

mistério das religiões gregas com as doutrinas apostólicas do cristianismo, 0 gnosticismo tornou-se uma forte<br />

influência na igreja.” 19 Certos gnósticos negavam a verda<strong>de</strong>ira humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo e ensinavam que Cristo era<br />

uma divina influência que emanava <strong>de</strong> Deus e havia <strong>de</strong>scido sobre o homem Jesus no seu batismo, retirando-se<br />

no Jardim do Getsêmani antes <strong>de</strong> sua crucificação. De acordo com esse ensino, foi Jesus quem morreu e não 0<br />

Cristo. Ainda ensinavam que a matéria era má e que o Deus dos ju<strong>de</strong>us não era 0 Ser Supremo, mas um ser bem<br />

inferior a quem <strong>de</strong>nominavam <strong>de</strong> Demiurgo. Este era incomunicável e habitava na luz inacessível; sendo perfeito<br />

e a matéria má, não po<strong>de</strong>ria haver contato entre ambos. Entretanto, havia uma série <strong>de</strong> seres intermediários entre<br />

a divinda<strong>de</strong> e os homens, <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> éons, os quais seriam emanações <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>ntre os quais Cristo<br />

fazia parte, assim como os anjos, que “eram consi<strong>de</strong>rados mediadores e salvadores”.20 O apóstolo combateu tais<br />

ensinos em sua carta como se verifica em tais passagens: 1.13,15; 2.9-10, 15, 18-19.<br />

Quando foi escrita: O portador da mensagem foi Epafras, mas a Epístola aos Colossenses foi enviada por<br />

intermédio do mesmo mensageiro que levou as epístolas aos efésios e a Filemom, ou seja, Tíquico, companheiro<br />

<strong>de</strong> ministério do apóstolo (4.7-8), sendo escrita mais ou menos no mesmo tempo da Epístola aos Efésios.<br />

’8CARSON, D. A.; M 00, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006. p. 180.<br />

״<br />

MATHER, George A.; NICHOLS, Larry A. Dicionário <strong>de</strong> religiões, crenças e ocultismo. São Paulo: Vida, p.l 75. ” RENOVATO, Elinaldo. Colossenses: a perseverança da igreja na palavra nestes dias difíceis e trabalhosos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2004. p. 19.<br />

148<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> Colossenses<br />

I. Introdução (1.1-14)<br />

<strong>II</strong>. Oração <strong>de</strong> louvor pela fé dos colossenses (1.3-8)<br />

a) Oração <strong>de</strong> petição pelo crescimento <strong>de</strong>les em Cristo (1.9-14)<br />

<strong>II</strong>I. Apresentação da supremacia <strong>de</strong> Cristo (1.15 - 2.7)<br />

a) Na criação (1.15-17)<br />

b) Na Igreja (1.18)<br />

c) Na reconciliação (1.19-23)<br />

d) No ministério <strong>de</strong> Paulo (1.24 - 2.7)<br />

IV. Defesa da supremacia e suficiência <strong>de</strong> Cristo (2.8-23)<br />

a) Contra a falsa filosofia (2.8-15)<br />

b) Contra 0 legalismo (2.16-17)<br />

c) Contra o louvor aos anjos (2.18-19)<br />

d) Contra o ascetismo (2.20-23)<br />

V. A vocação exaltada (3.1 - 4.6)<br />

VI. Conclusão (4.7-18)<br />

a) Companheiros <strong>de</strong> Paulo (4.7-9)<br />

b) Saudações finais (4.10-15)<br />

c) Exortações e bênçãos finais (4.16-18)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Qual era a heresia que ameaçava essa igreja?<br />

2) De que se vangloriavam os gnósticos?<br />

3) O que ensinavam os gnósticos?<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS TESSALONICENSES<br />

Em sua segunda viagem missionária, Paulo foi <strong>de</strong> Filipos para Tessalônica e aí fundou a comunida<strong>de</strong> cristã,<br />

apoiado por Silvano e Timóteo (1 Tessalonicenses 1.1, 5-8; 2.1-14; 3.1-6). Esta é uma das cartas mais pessoais<br />

<strong>de</strong> Paulo. Não é tão doutrinária ou polêmica como algumas outras. O corpo da carta consiste principalmente <strong>de</strong><br />

recomendações, reminiscências pessoais, conselhos e exortações. A verda<strong>de</strong> central ressaltada amplamente é a<br />

esperança futura da vinda <strong>de</strong> Cristo.<br />

Tema: A vida santa até a volta <strong>de</strong> Cristo. Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar conhecimento do estado da igreja, Paulo<br />

enviou Timóteo <strong>de</strong> Atenas para Tessalônica (3.1). Depois <strong>de</strong> receber 0 relatório <strong>de</strong> Timóteo sobre a novel igreja que<br />

os missionários haviam <strong>de</strong>ixado em Tessalônica após a perseguição que sofreram, Paulo escreveu aos tessalonicenses<br />

para regozijar-se com a fé <strong>de</strong>les e também para sanar as dúvidas sobre os diversos assuntos para os quais eles<br />

<strong>de</strong>sejavam esclarecimentos suplementares, especialmente em relação ao ensino da volta <strong>de</strong> Cristo, pois alguns,<br />

aplicando erroneamente o sentido das palavras <strong>de</strong> Paulo, haviam <strong>de</strong>sistido <strong>de</strong> trabalhar e estavam ociosos, vivendo<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

149


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

do trabalho dos outros. Pelo fato <strong>de</strong> alguns membros da congregação terem falecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Paulo <strong>de</strong>ixara a<br />

cida<strong>de</strong>, os fiéis estavam ansiosos para saber se estes, em conseqüência, sofreriam alguma <strong>de</strong>svantagem no regresso<br />

<strong>de</strong> Jesus, em comparação àqueles que ainda estivessem vivos. Ao retratar 0 assunto nessa carta, o apóstolo concluiu,<br />

em todos os cinco capítulos, com uma referência à vinda do Senhor (1.10; 2.19; 3.13; 4.17; 5.23).<br />

Por que foi escrita: A igreja <strong>de</strong> Tessalônica era muito jovem, tendo sido estabelecida apenas dois ou três anos antes<br />

<strong>de</strong> essa carta ser escrita. Paulo havia recebido um relatório favorável sobre os tessalonicenses, entretanto escreveu a<br />

carta com o propósito <strong>de</strong> salientar a importância da fé como também encorajar os crentes em face das perseguições<br />

(3.1-5), além <strong>de</strong> dirimir as dúvidas levantadas, principalmente a respeito da segunda vinda do Senhor.<br />

Quando foi escrita: Escrita em Corinto, logo após a chegada <strong>de</strong> Timóteo e Silas (Atos 18.5; 1 Tessalonicenses<br />

1.1; 3.6), na segunda viagem missionária <strong>de</strong> Paulo, por volta <strong>de</strong> 50 d.C.<br />

Esboço <strong>de</strong> Ia Tessalonicenses<br />

I. Dados pessoais e históricos (1.1 - 3.13)<br />

a) Saudação <strong>de</strong> Paulo (1.1)<br />

b) O elogio <strong>de</strong> Paulo aos tessalonicenses (1.2-10)<br />

<strong>II</strong>. A conduta <strong>de</strong> Paulo entre os tessalonicenses (2.1-12)<br />

a) Sua retidão (2.1-4)<br />

b) Sua diligência (2.5-9)<br />

c) Seu comportamento irrepreensível (2.10-12)<br />

d) O interesse <strong>de</strong> Paulo pelos tessalonicenses (2.13 - 3.13)<br />

e) Pelos sofrimentos (2.13-20)<br />

f) Pelas suas provações (3.1-8)<br />

g) Pelo seu crescimento constante (3.9-13)<br />

<strong>II</strong>I. Ensino prático e exortativo (4.1 - 5.28)<br />

a) Ensino sobre crescimento cristão (4.1-12)<br />

b) Na vida sexual (4.1-8)<br />

c) No amor fraternal (4.9-10)<br />

d) Numa vida or<strong>de</strong>ira (4.11-12)<br />

e) Ensino sobre os mortos em Cristo (4.13-18)<br />

f) Ensino sobre o Dia do Senhor (5.1-11)<br />

g) Ensino sobre os <strong>de</strong>veres variados (5.12-28)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Qual é o tema <strong>de</strong>ssa epístola?<br />

2) Qual foi o propósito <strong>de</strong> Paulo ao escrever essa epístola?<br />

3) Quando foi escrita essa epístola?<br />

150<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO AOS TESSALONICENSES<br />

Com o aumento da perseguição, muitos na igreja continuavam confusos sobre quando ocorreria a volta <strong>de</strong><br />

Cristo. Os cristãos pensavam que o Dia do Senhor estava iminente, po<strong>de</strong>ndo acontecer a qualquer momento.<br />

Com isso, muitos <strong>de</strong>ixaram seus afazeres com o pretexto <strong>de</strong> estarem à espera da volta <strong>de</strong> Cristo. Nesse contexto<br />

Paulo indica os vários acontecimentos que <strong>de</strong>vem prece<strong>de</strong>r a segunda vinda <strong>de</strong> Cristo.<br />

Tema: A segunda vinda <strong>de</strong> Cristo. Chegou ao conhecimento do apóstolo Paulo, <strong>de</strong> fontes não i<strong>de</strong>ntificadas,<br />

que alguns cristãos em Tessalônica, embora experimentassem certo crescimento espiritual, haviam interpretado<br />

mal seu ensino a respeito da segunda vinda <strong>de</strong> Cristo. Assim, ele escreveu uma segunda carta para tratar <strong>de</strong>sses<br />

problemas que haviam se intensificado (2 Tessalonicenses 3.11), bem como para encorajar os fiéis e repreen<strong>de</strong>r<br />

os ociosos.<br />

Por que foi escrita: O propósito principal <strong>de</strong> Paulo nessa epístola é semelhante ao da anterior, ou seja,<br />

fortalecer a fé dos cristãos e transmitir-lhes a certeza da volta <strong>de</strong> Cristo.<br />

Quando foi escrita: Essa segunda carta foi escrita pouco tempo <strong>de</strong>pois da primeira. O lugar provável da<br />

escrita foi Corinto, por volta <strong>de</strong> 50 d.C. ou início <strong>de</strong> 51 d.C.21<br />

Esboço <strong>de</strong> 2a Tessalonicenses<br />

I. Saudações (1.1-2)<br />

<strong>II</strong>. Ações <strong>de</strong> graça e estímulo na perseguição (1.3-12)<br />

a) Correção sobre o Dia do Senhor (2.1-17)<br />

b) Sua relação com 0 presente (2.1-2)<br />

c) Sua relação com a apostasia (2.3)<br />

d) Sua relação com o homem da iniqüida<strong>de</strong> (2.3-5)<br />

e) Sua relação com o <strong>de</strong>tentor (2.6-9)<br />

f) Sua relação com os <strong>de</strong>screntes (2.10-12)<br />

g) Sua relação com os crentes (2.13-17)<br />

<strong>II</strong>I. Exortações à oração e à disciplina (3.1-15)<br />

a) A confiança <strong>de</strong> Paulo (3.1-5)<br />

b) Os mandamentos <strong>de</strong> Paulo (3.6-15)<br />

c)Bênção e saudação (3.16-18)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Qual é o propósito principal <strong>de</strong>ssa epístola?<br />

2) De on<strong>de</strong> foi escrita essa epístola?<br />

21HENDRIKSEN, W illiam. 7 e 2 Tessalonicenses. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. p. 25.<br />

CURSO DE TEOLOGIA . «


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

EPÍSTOLAS PASTORAIS<br />

1 E 2 TIMÓTEO E TITO<br />

As duas epístolas a Timóteo e a epístola a Tito são conhecidas como epístolas pastorais, por serem escritas<br />

a dois pastores. Paulo, quando as escreveu, estava bem maduro na fé, e conseqüentemente encontramos nelas<br />

as palavras <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida do gran<strong>de</strong> apóstolo aos ministros e obreiros cristãos. Temos, ainda, nessas cartas, a<br />

sabedoria amadurecida pela velhice. E, após tantos séculos, ainda hoje os obreiros cristãos encontram nessas<br />

páginas a fonte inesgotável <strong>de</strong> ânimo e auxílio.<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO A TIMÓTEO<br />

Paulo havia partido para a Macedonia (1 Timóteo 1.3), mas esperava voltar logo. Timóteo, assíduo companheiro<br />

<strong>de</strong> viagens e amigo íntimo <strong>de</strong> Paulo, foi enviado a Éfeso para cuidar da igreja e refutar os falsos mestres que ali<br />

haviam surgido (1.3-4). Cauteloso com a vida <strong>de</strong> seu filho na fé, Paulo escreveu essa carta para ajudar Timóteo<br />

em seu ministério.<br />

Tema: O cuidado pastoral das igrejas. Timóteo era jovem e ainda não possuía suficiente autorida<strong>de</strong> para refrear<br />

os homens arrogantes que se levantassem contra ele. Havia muitas coisas em Éfeso que requeriam organização e<br />

<strong>de</strong>mandavam a sanção <strong>de</strong> Paulo, bem como a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu nome. Timóteo provavelmente serviu por algum<br />

tempo como lí<strong>de</strong>r na igreja <strong>de</strong> Éfeso. Paulo <strong>de</strong>sejava visitá-lo (3.14-15; 4.13), mas como não podia naquele<br />

momento resolveu escrever uma carta para dar-lhe instruções práticas sobre o ministério.<br />

Por que foi escrita: Da Macedonia ele escreveu a Éfeso para estimular o próprio Timóteo a levar a cabo a<br />

dificílima tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter os falsos mestres que laboravam no erro bem como dar-lhe autorida<strong>de</strong> perante a igreja.<br />

Sendo assim, “Timóteo estava ali para trazer à lembrança da igreja os caminhos <strong>de</strong> Paulo. A carta que 0 autoriza<br />

a tanto não necessitaria ao mesmo tempo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong>sses ‘caminhos’”, 22 pois já era conhecida <strong>de</strong><br />

seus <strong>de</strong>stinatários.<br />

Quando foi escrita: Por volta <strong>de</strong> 64 d.C., sendo enviada possivelmente da Macedonia (talvez Filipos).<br />

Esboço <strong>de</strong> Ia Timóteo<br />

I. Introdução (1.1-20)<br />

<strong>II</strong>. Instruções relacionadas à igreja (2.1 - 3.16)<br />

a) Seu culto (2.1-15)<br />

b) Seus lí<strong>de</strong>res (3.1-13)<br />

c) Sua função em relação à verda<strong>de</strong> (3.14-16)<br />

<strong>II</strong>I. Instrução relacionada aos <strong>de</strong>veres pastorais (4.1 - 6.10)<br />

a) Em relação à igreja como um todo (4.1-16)<br />

b) Em relação às várias classes na igreja (5.1 - 6.10)<br />

IV. Exortações finais (6.11-21)<br />

” FEE, Gordon D. Novo comentário bíblico contemporâneo. São Paulo: Vida, 1994. p. 22.<br />

152<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

a) Para manter a fé e militar na fé (6.11-21)<br />

b) Para apresentar as reivindicações <strong>de</strong> Cristo aos ricos (6.17-19)<br />

c) Para guardar a verda<strong>de</strong> (6.20-21)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Qual é o tema <strong>de</strong>ssa epístola?<br />

2) Por que foi escrita essa epístola?<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO<br />

S. PAULO A TIMÓTEO<br />

Essa carta foi escrita quando a vida <strong>de</strong> Paulo estava quase no fim. Ele apresenta um breve sumário <strong>de</strong> seu<br />

evangelho e pe<strong>de</strong> a Timóteo para que fique ao seu lado. Paulo já havia passado por uma audiência preliminar<br />

(4.16-18), e a maioria <strong>de</strong> seus companheiros 0 havia <strong>de</strong>ixado (1.15-17; 4.10-11, 16). Paulo aguardava seu<br />

julgamento final, do qual pouco esperava senão a morte (4.6-8). Em meio a tais circunstâncias Paulo dá<br />

conselhos úteis a Timóteo, escrevendo seus pensamentos finais, passando a este “uma espécie <strong>de</strong> testamento e<br />

manifestação última <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, uma ‘transferência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>”’.23<br />

Tema: O sofrer pela fé. Paulo admoesta Timóteo a aceitar sua parte dos sofrimentos, comprometendo-se a<br />

testemunhar a favor <strong>de</strong> Cristo e do evangelho como também a favor da integrida<strong>de</strong> e da veracida<strong>de</strong> do evangelho<br />

pregado pelo próprio Paulo. Timóteo <strong>de</strong>veria fazer isso seguindo para Roma a fim <strong>de</strong> ficar ao lado <strong>de</strong> Paulo até a sua<br />

morte. Para Timóteo era a hora da verda<strong>de</strong>: não aten<strong>de</strong>r ao chamado <strong>de</strong> Paulo, envergonhando-se <strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar com<br />

ele em sua prisão, seria o mesmo que se envergonhar <strong>de</strong> proclamar Jesus Cristo como seu Senhor (cf. 2.1, 3, 8-9).<br />

Por que foi escrita: O apóstolo Paulo, já com ida<strong>de</strong> avançada, estava próximo do final <strong>de</strong> sua vida, mas seu<br />

<strong>de</strong>sejo ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> continuar sua missão não se apagara. Ele estava escrevendo para um <strong>de</strong> seus amigos mais<br />

íntimos - eles viajaram juntos, sofreram, choraram e riram juntos. Timóteo é retratado como um jovem muito<br />

novo, enfermiço, tímido, carente <strong>de</strong> espírito enérgico, e assim o apóstolo o exorta incisivamente a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o<br />

evangelho, a pregar a Palavra <strong>de</strong> Deus, a perseverar na tribulação e a cumprir sua missão. Em face da oposição<br />

e da perseguição Timóteo <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sempenhar seu ministério sem medo ou vergonha.<br />

Quando foi escrita: De acordo com Eusébio <strong>de</strong> Cesaréia, essa carta teria sido escrita durante sua prisão em<br />

Roma, antes <strong>de</strong> sua iminente execução por or<strong>de</strong>m do imperador Nero, por volta dos anos 66 ou 67 d.C.24<br />

Esboço <strong>de</strong> 2a Timóteo<br />

I. Introdução (1.1-5)<br />

<strong>II</strong>. Ação <strong>de</strong> graças (1.3-5)<br />

<strong>II</strong>I. Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> diante das dificulda<strong>de</strong>s (1.6-14)<br />

a) Devido à natureza da experiência cristã (1.6-8)<br />

b) Devido à gran<strong>de</strong>za do evangelho (1.9-11)<br />

c) Devido ao exemplo <strong>de</strong> Paulo (1.12-14)<br />

” FEE, Gordon D. Op. cit., p. 24.<br />

24 CESARÉIA, Eusébio <strong>de</strong>. História eclesiástica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1999. p. 70-71.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

1S3


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

IV. Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> diante das <strong>de</strong>serções (1.15 - 2.13)<br />

a) O exemplo <strong>de</strong> Onesíforo (1.15-18)<br />

b) O caráter da obra <strong>de</strong> Timóteo (2.1-7)<br />

c) A obra re<strong>de</strong>ntora <strong>de</strong> Cristo (2.8-13)<br />

V. Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> diante do erro (2.14 - 4.8)<br />

a) Erro doutrinário (2.14-26)<br />

b) Erro prático (3.1 - 4.8)<br />

VI. Conclusão (4.9-22)<br />

a) Instrução (4.9-13)<br />

b) Advertência (4.14-15)<br />

c) Explicação (4.16-18)<br />

d) Saudações (4.19-21)<br />

e) Bênção (4.22)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Quando foi escrita essa carta?<br />

2) O apóstolo exorta incisivamente Timóteo a quê?<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A TITO<br />

Paulo e Tito trabalharam juntos por um breve período na ilha <strong>de</strong> Creta (a sudoeste da Ásia Menor, no mar<br />

Mediterrâneo), no período entre a primeira e a segunda prisão <strong>de</strong> Paulo em Roma. Paulo <strong>de</strong>ixou Tito em Creta<br />

para nomear presbíteros nas várias igrejas da ilha (1.5) enquanto ele e Timóteo foram para Efeso e encontraram<br />

ali a igreja em tão gran<strong>de</strong> confusão, que Paulo <strong>de</strong>ixou Timóteo ali para restaurar a or<strong>de</strong>m. Da Macedonia ele<br />

escreveu a Efeso a fim <strong>de</strong> dar autorida<strong>de</strong> a Timóteo e também escreveu para Tito a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>legar-lhe autorida<strong>de</strong><br />

contra os falsos mestres.<br />

Tema: Instruções aos lí<strong>de</strong>res da igreja. Paulo aconselha 0 jovem pastor a como proce<strong>de</strong>r na escolha dos<br />

presbíteros, dando orientações sobre o tipo <strong>de</strong> pessoa exigida para essa função. A conduta <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les em<br />

seus lares revelava sua idoneida<strong>de</strong> para 0 serviço na igreja. Em seguida Paulo enfatiza a importância <strong>de</strong> como se<br />

relacionar com pessoas <strong>de</strong> variadas faixas etárias na igreja (2.2-6). Exorta a Tito para que ele próprio se tomasse<br />

o “padrão dos fiéis”, a ensinar com intrepi<strong>de</strong>z e convicção (2.9-15). Por fim, Paulo incentiva Tito a ajudar as<br />

pessoas no sentido do comportamento cristão exemplar.<br />

Por que foi escrita: Essa carta, como também as <strong>de</strong> Timóteo, não foi en<strong>de</strong>reçada a comunida<strong>de</strong>s, mas aos seus<br />

“pastores”, a homens, portanto, que exercem o ministério na igreja. Sendo assim, “temos aqui os primeiríssimos<br />

testemunhos das assim chamadas or<strong>de</strong>nações eclesiásticas, isto é, da codificação das normas e regulamentações<br />

do comportamento eclesiástico”.25<br />

Quando foi escrita: Aproximadamente por volta <strong>de</strong> 64 d.C., sendo enviada provavelmente da Macedonia<br />

(talvez Filipos), na mesma época em que a primeira carta a Timóteo foi escrita.<br />

״<br />

SHREINER, J.; DAUTZENBERG, G. Forma e exigências do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Teológica, 2004. p. 156. m<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> Tito<br />

I. Saudações iniciais (1.1-4)<br />

<strong>II</strong>. Os presbíteros na igreja (1.5-9)<br />

a) Sua necessida<strong>de</strong> (1.5)<br />

b) Suas qualificações (1.6-9)<br />

<strong>II</strong>I. Os falsos mestres (1.10-16)<br />

IV. Instruções a vários grupos no seio da igreja (2.1-10)<br />

V. O <strong>de</strong>ver cristão <strong>de</strong> praticar boas obras (2.11 - 3.11)<br />

VI. Mensagens e saudações finais (3.12-15)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Como Paulo aconselha 0 jovem pastor Tito?<br />

2) Quando foi escrita essa epístola?<br />

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A FILEMOM<br />

Filemon é um cristão rico <strong>de</strong> Colossos, convertido por Paulo (Filemom 19), que se tomou um colaborador<br />

amigo (Filemom 1.17, 20, 22). Circunstâncias que ignoramos aproximaram Onésimo, escravo da casa <strong>de</strong><br />

Filemom, do prisioneiro Paulo, que o converteu ao evangelho.<br />

Tema: Reconciliação. Paulo escreveu essa carta provavelmente durante sua primeira prisão em Roma (Atos<br />

28.16-31). Ele interce<strong>de</strong> junto a Filemom em favor <strong>de</strong> Onésimo, um escravo fugitivo que Paulo havia conhecido<br />

em Roma, que respon<strong>de</strong>u às boas novas convertendo-se à fé em Cristo (1.10). Agora Onésimo tomara-se melhor<br />

que um escravo: é um “irmão caríssimo” (12-16), pelo qual Paulo pediu para que Filemom não o castigasse,<br />

mas 0 perdoasse. “Assim como Paulo interce<strong>de</strong>u por um escravo, Cristo interce<strong>de</strong> por nós, que fomos escravos<br />

do pecado. Da mesma forma que Onésimo foi reconciliado com Filemom, nós somos reconciliados com Deus<br />

através <strong>de</strong> Cristo.” 26<br />

Por que foi escrita: Paulo escreveu essa carta a fim <strong>de</strong> convencer Filemom a perdoar Onésimo, seu escravo<br />

fugitivo, e aceitá-lo como irmão na fé.<br />

Quando foi escrita: Essa é uma das quatro cartas que 0 apóstolo Paulo escreveu durante seu encarceramento<br />

em Roma. Essa epístola direcionada a Filemom foi enviada pelo mesmo mensageiro que levou as epístolas aos<br />

Colossenses e aos Efésios - Tíquico -, sendo escrita mais ou menos no mesmo tempo da epístola aos Efésios<br />

(59-61/62 d.C.).27<br />

Esboço <strong>de</strong> Filemom<br />

I. Saudação (1-3)<br />

<strong>II</strong>. Ação <strong>de</strong> graças em relação a Filemom (4-7)<br />

a) Louvor pessoal (4)<br />

b) Características dignas <strong>de</strong> louvor (5-7)<br />

“ Bíblia <strong>de</strong> Estudo Aplicação Pessoal.<br />

” HALLEY, Η. H. M a n u a l bíblico <strong>de</strong> Halley. São Paulo: Vida, 2001. p. 677.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

155


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

<strong>II</strong>I. Petição <strong>de</strong> Paulo por Onésimo (8-21)<br />

a) Um pedido <strong>de</strong> aceitação (8-16)<br />

b) Uma garantia <strong>de</strong> reembolso (17-19)<br />

c) Uma confiança na obediência (20-21)<br />

IV. Preocupações pessoais (22-25)<br />

a) Esperança <strong>de</strong> libertação (22)<br />

b) Saudações(23-24)<br />

c) Bênção (25)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Paulo interce<strong>de</strong> junto a Filemom em favor <strong>de</strong> quem?<br />

2) Qual é o propósito <strong>de</strong> Paulo ao escrever essa epístola?<br />

EPÍSTOLA AOS HEBREUS<br />

A epístola <strong>de</strong>stinada aos hebreus contém uma discussão completa da eterna Deida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, seu supremo<br />

governo e sacerdócio exclusivo, e como essas coisas são sobejamente explicadas nela, <strong>de</strong> sorte que todo 0 po<strong>de</strong>r<br />

e obra <strong>de</strong> Cristo se manifestam ali. Hebreus revela a verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus Cristo como Deus. Ele é a<br />

autorida<strong>de</strong> máxima, portanto é maior do que qualquer religião ou qualquer anjo. Ele é superior a qualquer lí<strong>de</strong>r<br />

ju<strong>de</strong>u (como Abraão, Moisés ou Josué) e superior a qualquer sacerdote. Jesus é a revelação completa <strong>de</strong> Deus.<br />

Tema: A superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo. O verda<strong>de</strong>iro propósito <strong>de</strong>ssa epístola é <strong>de</strong>monstrar por meio <strong>de</strong> raciocínio<br />

conclu<strong>de</strong>nte que Jesus é o melhor, supremo e suficiente Salvador. O autor procura <strong>de</strong>monstrar cuidadosamente<br />

a verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus Cristo, sendo superior aos anjos (1.4 - 2.18), aos lí<strong>de</strong>res religiosos (3.1 - 4.13)<br />

e a qualquer sacerdote (4.14 - 7.28). O cristianismo ultrapassa o judaísmo por ter uma aliança melhor (8.1-13),<br />

um santuário melhor (9.1-10) e um sacrifício suficiente pelos pecados (9.11 - 10.18). Depois <strong>de</strong> estabelecida a<br />

superiorida<strong>de</strong> do cristianismo, 0 escritor parte para as implicações práticas <strong>de</strong> seguir a Cristo. Os leitores são<br />

exortados a apegarem-se à sua nova fé, a encorajarem-se uns aos outros e a aguardarem ansiosamente a volta <strong>de</strong><br />

Cristo (10.19-25). São advertidos das conseqüências <strong>de</strong> rejeitar 0 sacrifício <strong>de</strong> Cristo (10.26-31) e lembrados das<br />

recompensas da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> (10.32-39). Então, 0 autor explica como viver pela fé, citando exemplos <strong>de</strong> homens e<br />

mulheres fiéis na história <strong>de</strong> Israel (11.1 -40), encorajando-os e exortando-os quanto ao cotidiano cristão (12.1-17).<br />

Por que foi escrita: O objetivo inicial é <strong>de</strong>monstrar aos ju<strong>de</strong>us que Jesus, o Filho <strong>de</strong> Maria, era 0 Cristo, 0<br />

Re<strong>de</strong>ntor que lhes fora prometido nas Escrituras, e sua superiorida<strong>de</strong> sobre 0 antigo concerto. A conclusão a que<br />

se chega é que Jesus é superior aos profetas, aos anjos, a Moisés, a Josué, ao sábado, aos sacerdotes. Ele é nosso<br />

bem maior.<br />

Quando foi escrita: Tudo indica que essa carta foi escrita antes da <strong>de</strong>struição do Templo em Jerusalém, no ano<br />

70 d.C. O autor faz uso do tempo presente ao <strong>de</strong>screver 0 trabalho do sacerdócio levítico (7.8; 9.6-10,13; 10.2; 13.10),<br />

e isso nos leva a enten<strong>de</strong>r que 0 santuário ainda estava ativo, 0 que justificaria sua datação conforme calculado.<br />

Autor: No tocante à autoria, há quem pense que seu autor foi Paulo; outros, Lucas; outros, Bamabé; outros,<br />

Apoio; e ainda outros, Clemente - no dizer <strong>de</strong> Jerônimo. Eusébio, todavia, no sexto livro <strong>de</strong> sua História<br />

Eclesiástica, faz menção somente a Lucas e Clemente.<br />

156<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> Hebreus<br />

I. A superiorida<strong>de</strong> da pessoa <strong>de</strong> Jesus (1.1 - 4.13)<br />

a) Superior aos profetas (1.1-3)<br />

b) Superior aos anjos (1.4 - 2.18)<br />

c) Superior a Moisés (3 .1 -1 9 )<br />

d) Superior a Josué (4.1-13)<br />

<strong>II</strong>. A superiorida<strong>de</strong> do ministério <strong>de</strong> Jesus (4.4 - 10.8)<br />

a) Superior ao <strong>de</strong> Arão (4.14-5.10)<br />

b) O sacerdócio <strong>de</strong> Melquise<strong>de</strong>que, figura <strong>de</strong> Jesus, é melhor do que o <strong>de</strong> Arão (7.1 - 8.5)<br />

c) Jesus é mediador <strong>de</strong> uma melhor aliança (8.6 - 10.18)<br />

<strong>II</strong>I. A superiorida<strong>de</strong> da caminhada da fé (10.19 - 13.35)<br />

a) Um chamado à segurança total da fé (10.19 - 11.40)<br />

b) A persistência da fé (12.1 -29)<br />

c) Admoestações sobre o amor (13.1-17)<br />

d) Conclusão (13.18-25)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) O que a carta aos Hebreus revela?<br />

2) Qual é o verda<strong>de</strong>iro propósito <strong>de</strong>ssa carta?<br />

3) A qual conclusão se chega nessa carta?<br />

EPÍSTOLAS GERAIS OU CATÓLICAS<br />

Aqui se inicia uma série <strong>de</strong> epístolas <strong>de</strong>nominadas “universais”, porque, diferentemente das <strong>de</strong> Paulo, não<br />

são en<strong>de</strong>reçadas a nenhuma igreja em particular, mas aos crentes em geral, exceto a segunda e a terceira epístola<br />

<strong>de</strong> João. O termo católicas foi aplicado pela primeira vez às sete cartas como um grupo por Eusébio (265-340),<br />

embora escritores mais antigos tenham chamado as cartas <strong>de</strong>ste grupo <strong>de</strong> “gerais”.<br />

EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. TIAGO<br />

A epístola <strong>de</strong> Tiago é muito especial. Ela difere <strong>de</strong> todas as outras epístolas do Novo Testamento por não tratar<br />

<strong>de</strong> assuntos como: salvação, Igreja, Espírito Santo, vida no além etc. O próprio Jesus é mencionado apenas por<br />

duas vezes (1.1 e 2.1). Talvez por isso Martinho Lutero a chamasse <strong>de</strong> “epístola <strong>de</strong> palha, porquanto não exibe o<br />

caráter do evangelho”.28 Entretanto, ela aborda um importantíssimo problema - a relação entre as obras e a fé.<br />

Tema: A fé genuína. Tiago é enfático ao afirmar que a fé verda<strong>de</strong>ira sempre se caracteriza pela obediência<br />

e que somente esse tipo <strong>de</strong> fé <strong>de</strong>monstrada em obras trará salvação. Em toda essa epístola <strong>de</strong>staca-se a relação<br />

entre a fé genuína e a vida piedosa. A fé verda<strong>de</strong>ira é provada (1.2-16), ativa (1.19-27), ama o próximo (2.1-13),<br />

manifesta-se pelas boas obras (2.14-26), domina a língua (3.1-12), <strong>de</strong>seja a sabedoria <strong>de</strong> Deus (3.13-18), confia<br />

em Deus (4.13-17), é paciente (5.7-12) e diligente em oração (5.13-20). A conclusão é que Tiago quer que os<br />

crentes não apenas ouçam a verda<strong>de</strong>, mas também a coloquem em prática.<br />

Por que foi escrita: O autor escreveu para dar conselhos práticos bem como encorajar aqueles que estavam<br />

sendo oprimidos mediante as várias provações e perseguições. “Esta carta é um quadro da vida cristã primitiva em<br />

28 LUTERO apud CHAMPLIN, 199S, p. 1.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

157


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

meio às mais difíceis condições sociais e num ambiente que não era simpático, se não completamente hostil.” 29<br />

Autor: A carta <strong>de</strong>clara ter sido escrita por “Tiago, servo <strong>de</strong> Deus e do Senhor Jesus Cristo” (1.1). No Novo<br />

Testamento encontramos algumas pessoas com esse nome:<br />

1) Tiago, filho <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u, irmâo <strong>de</strong> João. Foi <strong>de</strong>capitado a mando <strong>de</strong> Hero<strong>de</strong>s Agripa I, em 44 d.C., ou em<br />

data anterior (Marcos 1.19; 3.17; Atos 12.2);<br />

2) Tiago, filho <strong>de</strong> Alfeu, um dos doze apóstolos (Marcos 3.18; Mateus 10.3; Lucas 6.15; Atos 1.13);<br />

3) Tiago, irmão <strong>de</strong> Jesus, filho <strong>de</strong> José e Maria (Marcos 6.3; Gálatas 1.19);<br />

4) Tiago, pai do apóstolo Judas (Lucas 6.16; Atos 1.13).<br />

“Destes quatro homens, Tiago, pai <strong>de</strong> Judas (Marcos 3.17) não po<strong>de</strong> ser e não é seriamente consi<strong>de</strong>rado<br />

como autor, porque ele em nenhuma outra parte é conhecido. Tiago, filho <strong>de</strong> Alfeu (Marcos 3.18; 15.40) foi<br />

um dos doze apóstolos e possivelmente po<strong>de</strong>ria ter escrito a carta. Todavia, não há absolutamente nenhuma<br />

evidência na história da igreja para ligar seu nome com a carta. Tiago, filho <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u, era um dos doze e um<br />

dos três discípulos íntimos do Senhor. Ele aparentemente era tido em alta consi<strong>de</strong>ração pela igreja primitiva<br />

em Jerusalém. Contudo, esta carta teve problemas em ser aceita no cânon, talvez porque as igrejas apostólicas<br />

e subapostólicas reconhecessem que ela não fora escrita por um dos doze. Depois que Jerônimo e Agostinho<br />

praticamente forçaram a igreja oci<strong>de</strong>ntal a aceitá-la no cânon, a igreja da Espanha afirmou (do século sete em<br />

diante) que ela era da mão <strong>de</strong> seu santo patrono, Tiago, filho <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u. O Concilio <strong>de</strong> Trento (1546), <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>ferência à forte Igreja Católica na Espanha, <strong>de</strong>cidiu somente que esta carta era <strong>de</strong> autoria do ‘apóstolo<br />

Tiago’. Contudo, Tiago, filho <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u, foi martirizado por Hero<strong>de</strong>s Agripa I em 44 d.C. É <strong>de</strong> maneira geral<br />

consi<strong>de</strong>rado pelos estudiosos que esta data prematura obstaria uma autoria pelo filho <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u. A absoluta<br />

falta <strong>de</strong> apoio patrístico e <strong>de</strong> manuscrito antes do quinto século confirmaria esta conclusão. Deve ser <strong>de</strong> alguma<br />

significação o fato <strong>de</strong> que o autor não se i<strong>de</strong>ntifica como um apóstolo, como fazem Paulo e Pedro, em suas cartas.<br />

A ausência <strong>de</strong>ste termo em 1.1 apóia a conclusão <strong>de</strong> que nenhum dos dois apóstolos chamado Tiago escreveu esta<br />

carta. Diante disto, resta apenas Tiago, irmão <strong>de</strong> nosso Senhor como possível autor.” 30<br />

Quando foi escrita: O lugar é impreciso. Várias são as sugestões <strong>de</strong> on<strong>de</strong> teria sido escrita essa epístola.<br />

Alguns <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m Roma, outros Jerusalém, outros Alexandria, não havendo um consenso entre os estudiosos. O<br />

mesmo ocorre com relação à data. Acredita-se que essa epístola é o mais antigo <strong>de</strong> todos os documentos do Novo<br />

Testamento. Alguns lhe dão a data <strong>de</strong> 48 d.C. (Bíblia <strong>de</strong> Estudo Pentecostal), ao passo que outros ainda são mais<br />

radicais, datando em 40 d.C. Para outros (Manual bíblico Halley, Myer Pearlman) essa epístola foi escrita perto<br />

do fim da vida <strong>de</strong> Tiago, provavelmente em 62 d.C.<br />

Esboço <strong>de</strong> Tiago<br />

I. Saudação (1.1)<br />

<strong>II</strong>. Provações (1.2-18)<br />

a) O propósito das provações (1.2-12)<br />

b) A procedência das provações (1.13-16)<br />

c) O propósito <strong>de</strong> Deus<br />

<strong>II</strong>I. A Palavra <strong>de</strong> Deus (1.19-27)<br />

a) Escutar a Palavra (1.19-20)<br />

b) Receber a Palavra (1.21)<br />

c) Obe<strong>de</strong>cer à Palavra (1.22-27)<br />

30 HALE, Broadus David. Op. cit., p. 362.<br />

” I<strong>de</strong>m, p. 369.<br />

158<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

IV. Parcialida<strong>de</strong> (2.1-26)<br />

a) A or<strong>de</strong>m (2.1)<br />

b) A conduta (2.2-3)<br />

c) As conseqüências (2.4-13)<br />

V. Fé e obras (2.14-26)<br />

a) A questão (2.14)<br />

b) A ilustração (2.15-17)<br />

c) O doutrinamento (2.18-26)<br />

VI. Os pecados da língua (3.1-12)<br />

a) Freio da língua (3.1-4)<br />

b) A vangloria da língua (3.5-12)<br />

V<strong>II</strong>. A verda<strong>de</strong>ira sabedoria (3.13-18)<br />

V<strong>II</strong>I. Mundanismo (4.1-17)<br />

a) Sua causa (4.1-2)<br />

b) Suas conseqüências (4.3-6)<br />

c) Sua cura (4.7-10)<br />

d) Suas características (4.11-17)<br />

IX. Riquezas, paciência e juramentos (5.1-12)<br />

a) Oração (5.12-18)<br />

b) A conversão <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sviado (5.19-20)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Por que essa epístola difere das <strong>de</strong>mais do Novo Testamento?<br />

2) Tiago é enfático ao afirmar 0 quê?<br />

3) Por que foi escrita essa epístola?<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL<br />

DO APÓSTOLO S. PEDRO<br />

Simão era filho <strong>de</strong> Jonas (João 1.42) e nasceu em Betsaida, assim como o seu irmão André. Possuía um gênio forte<br />

e temperamento impulsivo, “sendo totalmente extrovertido, seus <strong>de</strong>feitos são visíveis a todos”,31 porém possuía um<br />

coração generoso e repleto <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong>. Não se <strong>de</strong>ixava vencer pela adversida<strong>de</strong>, revelava uma fibra invejável, embora<br />

a sua coragem e iniciativa pessoal estivessem fundamentadas na própria força humana. Homem simples, ru<strong>de</strong>, <strong>de</strong> pouca<br />

instrução, <strong>de</strong>dicava-se à pesca.<br />

Tema: Sofrimento como cristão. Sob 0 domínio do Império Romano os cristãos estavam sendo torturados e mortos<br />

por causa <strong>de</strong> sua fé e a igreja <strong>de</strong> Jerusalém estava sendo dispersa. Pedro sabia o que era sofrer pelo seu Senhor, pois já<br />

havia sido colocado em ca<strong>de</strong>ias por causa da sua fé. Então ele escreve à Igreja dispersa, que sofria pela fé (como ele),<br />

oferecendo-lhe conforto e esperança, exortando-a à lealda<strong>de</strong> contínua a Cristo.<br />

Por que foi escrita: Para proporcionar encorajamento à Igreja dispersa, que sofria pela fé, oferecendo-lhe<br />

conforto e esperança, exortando-a à lealda<strong>de</strong> contínua a Cristo, tal como fazem todos os <strong>de</strong>mais documentos do<br />

Novo Testamento.<br />

״<br />

LAHAYE, Tim. Temperamentos transformados. São Paulo: Mundo Cristão, s.d. p. 25. CURSO DE TEOLOGIA<br />

159


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Autor: A autoria da primeira epístola <strong>de</strong> Pedro não está envolta em dúvidas e questionamentos, como acontece<br />

com outros escritos bíblicos. O autor começa 0 texto se apresentando: “Pedro, apóstolo <strong>de</strong> Jesus Cristo” (1.1). A<br />

seu respeito, o Novo Testamento nos fornece muitas informações. Seu nome original era Simão (σ ιμ ώ ν - Simon),<br />

abreviatura <strong>de</strong> Simeão, nome hebraico que significa “famoso”. Simão era pescador (Mateus 4.18), até o dia em<br />

que, conduzido por seu irmão André, conheceu o Senhor Jesus, o qual lhe disse: “Tu és Simão, filho <strong>de</strong> Jonas;<br />

tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro” (João 1.42). Era chamado também <strong>de</strong> “Simão Barjonas”, ou seja,<br />

Simão, filho <strong>de</strong> Jonas (Mateus 16.17), ou filho <strong>de</strong> João (João 21.15).<br />

Quando foi escrita: As tradições dizem que Pedro sofreu martírio no reinado do imperador Nero (54 - 68 d.C.),<br />

em Roma. Papias, bispo <strong>de</strong> Hierápolis, na Frigia, localizada a poucos quilômetros ao norte <strong>de</strong> Laodicéia, se<br />

utilizou <strong>de</strong>ssa epístola <strong>de</strong> Pedro, conforme <strong>de</strong>clara Eusébio <strong>de</strong> Cesaréia: “O mesmo escritor utiliza testemunhos<br />

tomados da primeira carta <strong>de</strong> João, e igualmente da <strong>de</strong> Pedro...” (HE, <strong>II</strong>I, 39.17).32 Se aceitarmos o apóstolo<br />

Pedro como autor, essa epístola não po<strong>de</strong>rá ter sido escrita <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 68 d.C.<br />

Esboço <strong>de</strong> Ia Pedro<br />

I. Introdução (1.1-2)<br />

<strong>II</strong>. A fé e esperança dos crentes no mundo (1.3 - 2.10)<br />

a) Regozijando na esperança da volta <strong>de</strong> Cristo (1.3-12)<br />

b) Vida justa <strong>de</strong>vido à esperança (1.13-2.3)<br />

c) Renovação para o povo <strong>de</strong> Deus (2.4-10)<br />

<strong>II</strong>I. A conduta do crente nas circunstâncias diárias (2.11 - 5.11)<br />

a) Submissão e respeito pelos outros (2.11 - 3.12)<br />

b) Sofrimento em nome <strong>de</strong> Cristo (3.13-4.19)<br />

c) Servindo humil<strong>de</strong>mente enquanto sofre (5.1-11)<br />

d) Conclusão (5.12-14)<br />

e) Silvano, co-autor <strong>de</strong>sta carta (5.12)<br />

f) Saudações (5.13)<br />

g) Exortações finais com bênção (5.1)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Por que foi escrita essa epístola?<br />

2) Quando foi escrita essa epístola?<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL<br />

DO APÓSTOLO S. PEDRO<br />

A maneira em que foi escrita essa epístola não se assemelha à primeira, pois sua linguagem é diferente. Pedro,<br />

ardoroso <strong>de</strong>fensor da fé cristã, se posiciona contra os falsos mestres diante das doutrinas e práticas não-cristãs.<br />

Tema: Os falsos mestres. Enquanto a primeira epístola <strong>de</strong> Pedro trata do perigo externo - as<br />

perseguições - , a segunda adverte do perigo interno: a falsa doutrina. Anteriormente Pedro havia escrito<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confortar e encorajar os crentes em meio ao sofrimento e à perseguição. Agora, três<br />

anos mais tar<strong>de</strong>, nessa carta, que continha suas últimas palavras, o apóstolo escreveu com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

advertir os cristãos contra um ataque <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro - as heresias.<br />

92CESARÉIA, Eusébio <strong>de</strong>. H istória eclesiástica. São Paulo: Fonte Editorial, 2005. p. 113.<br />

160<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Por que foi escrita: É uma carta <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida. Pedro sabia que seu tempo estava próximo (1.13-14). Por<br />

este motivo, ele foi explícito em seu propósito, advertindo seus leitores contra as heresias ocasionadas pelos<br />

falsos mestres. Pedro os exorta a permanecerem nas palavras dos profetas e apóstolos, que predisseram a vinda<br />

<strong>de</strong> falsos mestres, expondo a razão da <strong>de</strong>mora da volta <strong>de</strong> Cristo (3.1-13), e encorajando-os a crescerem na fé<br />

genuína (3.14-18).<br />

Quando foi escrita: Como na primeira epístola, se aceitarmos 0 apóstolo Pedro como autor, essa também não<br />

po<strong>de</strong>rá ter sido escrita <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 68 d.C.<br />

Esboço <strong>de</strong> 2a Pedro<br />

I. Saudação (1.1-2)<br />

<strong>II</strong>. A verda<strong>de</strong>ira doutrina (1.3 - 2.3)<br />

a) As virtu<strong>de</strong>s morais (1.3-11)<br />

b) Testamento <strong>de</strong> Pedro (1.12-15)<br />

c) Os falsos mestres (1 .16-2.3)<br />

<strong>II</strong>I. Exposição e julgamento dos falsos mestres (2.4-22)<br />

a) Destruição dos falsos mestres (2.4-10)<br />

b) Descrição dos falsos mestres (2.10-22)<br />

IV. Advertências contra os traidores do final dos tempos (3.1-18)<br />

a) Escamecedores nos últimos dias (3.1-7)<br />

b) Crentes e o Dia do Senhor (3.8-18)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Qual é 0 tema <strong>de</strong>ssa epístola?<br />

2) O apóstolo Pedro escreveu essa epístola com qual finalida<strong>de</strong>?<br />

PRIMEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL<br />

DO APÓSTOLO S. JOÃO<br />

Declarações breves, palavras simples e contrastes acentuados - luz e trevas, verda<strong>de</strong> e mentira, justiça e<br />

pecado, vida e morte, amor e ódio, amar a Deus e amar ao mundo, filhos <strong>de</strong> Deus e filhos do diabo - são<br />

usados para <strong>de</strong>finir a vida cristã. Diante <strong>de</strong>sse dualismo, João escreve para dissipar as dúvidas e dar segurança,<br />

apresentando um retrato claro <strong>de</strong> Cristo.<br />

Tema: Jesus é o Filho <strong>de</strong> Deus. Falsos mestres haviam se infiltrado no meio da Igreja, negando as verda<strong>de</strong>s<br />

do cristianismo, principalmente a encarnação <strong>de</strong> Cristo. João refuta tais ensinos consi<strong>de</strong>rados enganosos (2.26;<br />

3.7), qualificando seus mestres como “falsos profetas” (4.1), mentirosos (2.22) e anticristos (2.18, 22; 4.3). Ao<br />

contrário <strong>de</strong>sses ensinos espúrios, o apóstolo apresenta Deus como “luz”, símbolo da pureza e santida<strong>de</strong> absoluta<br />

(1.5-7), e explica como os cristãos po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem andar na luz para ter comunhão com Deus (1.8-10) através <strong>de</strong><br />

seu Filho Jesus, que é o verda<strong>de</strong>iro Deus e a vida eterna (5.20).<br />

Por que foi escrita: João, que viu Jesus curar, ensinar, assistiu à sua morte, encontrou-o ressuscitado e viu<br />

sua ascensão, portanto uma testemunha ocular, escreveu com o propósito <strong>de</strong> reafirmar a confiança dos cristãos<br />

em Deus e na sua fé bem como refutar as heresias dos falsos mestres.<br />

Quando foi escrita: Provavelmente entre os anos 85 e 90 d.C., em Éfeso.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

161


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> Ia João<br />

I. A encarnação (1.1-10)<br />

a) Deus tomou-se came na forma humana (1.1-4)<br />

b) Deus é luz (1.5-10)<br />

<strong>II</strong>. A vida <strong>de</strong> justiça (2.1-29)<br />

a) Caminhada na luz (2.1-7)<br />

b) Advertindo contra o espírito do anticristo (2.18-29)<br />

<strong>II</strong>I. A vida dos filhos <strong>de</strong> Deus (3.1 - 4.6)<br />

a) Justiça (3.1-12)<br />

b) Amor (3.13-24)<br />

c) Crença (4.1-6)<br />

IV. A fonte do amor (4.7-21)<br />

V. O triunfo da justiça (5.1-5)<br />

VI. A garantia da vida eterna (5.6-12)<br />

V<strong>II</strong>. Certezas cristãs (5.13-21)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Quais são os contrastes acentuados que aparecem nessa epístola?<br />

2) Qual era a doutrina principal negada pelos falsos mestres?<br />

SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL<br />

DO APÓSTOLO S. JOÃO<br />

Assim como a primeira epístola, essa também foi escrita para fazer oposição aos falsos mestres gnósticos,<br />

como também aos docetas, que estavam cirandando algumas igrejas.<br />

Tema: A prática da verda<strong>de</strong>. Os falsos mestres eram um problema perigoso para a Igreja, pois atacavam as<br />

bases do cristianismo. A palavra verda<strong>de</strong> é empregada cinco vezes nos quatro primeiros versículos: “amo na<br />

verda<strong>de</strong>” (v. 1); “conhecem a verda<strong>de</strong>” (v. 1); “da verda<strong>de</strong> que permanece em nós” (v. 2); “a graça, a misericórdia<br />

e a paz... estarão conosco em verda<strong>de</strong> e em amor” (v. 3); e “andando na verda<strong>de</strong>” (v. 4). Portanto, a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />

estar presente e ativa na vida <strong>de</strong> todos os cristãos.<br />

Por que foi escrita: O autor en<strong>de</strong>reça sua carta à “senhora eleita e seus filhos”. Sendo assim, alguns enten<strong>de</strong>m<br />

que João escreveu para uma senhora cristã e a seus filhos, enquanto outros sugerem que a carta era <strong>de</strong>stinada a<br />

uma igreja. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do <strong>de</strong>stinatário, 0 fato é que ele advertiu contra os falsos mestres itinerantes.<br />

Quando foi escrita: Provavelmente entre os anos 85 e 90 d.C., em Éfeso.<br />

Esboço <strong>de</strong> 2a João<br />

I. Introdução (1-3)<br />

<strong>II</strong>. Elogio pela lealda<strong>de</strong> passada (4)<br />

162<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

TXT. Exortações (5-11)<br />

a) Para amar 0 próximo (5-6)<br />

b) Para rejeitar 0 erro (7-11)<br />

IV. Conclusão (12-13)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Qual é 0 motivo que levou 0 autor a escrever essa carta?<br />

2) O que se enten<strong>de</strong> por “senhora eleita e seus filhos”?<br />

TERCEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL<br />

DO APÓSTOLO S. JOÃO<br />

Enquanto na segunda epístola João exorta quanto aos falsos mestres viajantes que se infiltravam no seio da<br />

Igreja, nessa 0 autor elogia Gaio quanto aos cuidados para com os servos <strong>de</strong> Deus que viajavam <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> em<br />

cida<strong>de</strong> fortificando e ajudando a estabelecer novas congregações.<br />

Tema: A importância da hospitalida<strong>de</strong>. Se por um lado os heréticos itinerantes estavam perturbando a fé dos<br />

cristãos, por outro os genuínos mestres da verda<strong>de</strong> estavam fazendo visitas às igrejas para fortalecer a fé dos<br />

cristãos. Na carta anterior João proibiu a hospitalida<strong>de</strong> para os falsos mestres; aqui ele estimula a hospitalida<strong>de</strong>.<br />

Entretanto, Diótrefes, uma pessoa dominante em uma das igrejas, se opôs à autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João. Além disso, ele<br />

recusou hospitalida<strong>de</strong> aos missionários viajantes e proibiu os outros <strong>de</strong> recebê-los, excomungando-os quando<br />

eles 0 faziam. João escreveu para estimular Gaio em sua generosida<strong>de</strong> bem como para repreen<strong>de</strong>r Diótrefes por<br />

sua conduta nada caridosa.<br />

Por que foi escrita: João escreveu para estimular Gaio em sua generosida<strong>de</strong> e para repreen<strong>de</strong>r Diótrefes por<br />

sua arrogância e também para anunciar sua intenção <strong>de</strong> breve visitá-lo (v. 14).<br />

Quando foi escrita: Como as outras duas cartas, provavelmente foi escrita entre os anos 85 e 90 d.C., em Éfeso.<br />

Esboço <strong>de</strong> 3a João<br />

I. Saudação (1)<br />

<strong>II</strong>. Mensagem a Gaio (2-8)<br />

a) Oração por sua saú<strong>de</strong> (2)<br />

b) Recomendação para a a<strong>de</strong>são à verda<strong>de</strong> (3-4)<br />

c) Recomendação para sua hospitalida<strong>de</strong> (5-8)<br />

<strong>II</strong>I. Con<strong>de</strong>nação à arrogância <strong>de</strong> Diótrefes (9-11)<br />

IV. Elogio a Demétrio (12)<br />

V. Conclusão (13-14)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) Por que foi escrita essa epístola?<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

163


MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

EPÍSTOLA u n iv e r s a l<br />

DO a p ó s t o l o s . j u d a s<br />

Os falsos mestres gnósticos haviam se infiltrado na Igreja, transformando a graça <strong>de</strong> Deus em licenciosida<strong>de</strong><br />

ilimitada para fazerem tudo o que <strong>de</strong>sejavam sem temer 0 castigo <strong>de</strong> Deus. Em nada diferiam <strong>de</strong> Balaão, que,<br />

movido pelo lucro fácil, levou os israelitas à <strong>de</strong>senfreada orgia. Foi para combater tais heresias que Judas escreveu:<br />

“.. .exortando-vos a batalhar<strong>de</strong>s, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3).<br />

Tema: Perseverança na fé. Judas mostra logo <strong>de</strong> início seu propósito <strong>de</strong> escrever sua epístola ao advertir os<br />

cristãos contra os falsos mestres e conclamando-os a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (v. 3). Os<br />

epítetos utilizados para esses falsos mestres <strong>de</strong>monstram a mais dura investida contra os hereges do Novo Testamento:<br />

a) Homens ímpios (v. 4)<br />

b) Transformam a graça <strong>de</strong> nosso Deus em libertinagem (v. 4)<br />

c) Negam a Jesus Cristo (v. 4)<br />

d) Entregam-se à imoralida<strong>de</strong> sexual (v. 7)<br />

e) Como animais irracionais se corrompem (v. 10)<br />

f) Pastores que só cuidam <strong>de</strong> si mesmos (v. 12)<br />

g) Nuvens sem água (v. 12)<br />

h) Ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujida<strong>de</strong>s (v. 13)<br />

i) Estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre (v. 13)<br />

j) Murmuradores, <strong>de</strong>scontentes, andando segundo as suas paixões (v. 16)<br />

k) Promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito (v. 19)<br />

Com essas sentenças, 0 autor <strong>de</strong>ixa bem transparente que no Dia do Senhor os ímpios serão <strong>de</strong>struídos por Jesus.<br />

Autor: O autor <strong>de</strong>ssa epístola tem sido i<strong>de</strong>ntificado como “Judas, servo <strong>de</strong> Jesus Cristo e irmão <strong>de</strong><br />

Tiago” (v. 1). Seis homens aparecem nas Escrituras com este nome: Judas Iscariotes, escolhido por Jesus para<br />

ser apóstolo (Mateus 10.4); o irmão <strong>de</strong> Jesus (Mateus 13.55); o apóstolo, filho <strong>de</strong> Tiago, também chamado <strong>de</strong><br />

Ta<strong>de</strong>u (Mateus 10.3; Lucas 6.16); um cristão <strong>de</strong> Damasco, em cuja casa Paulo se hospedou, após sua conversão<br />

(Atos 9.11); um cristão que se <strong>de</strong>stacou na igreja <strong>de</strong> Jerusalém, também chamado <strong>de</strong> Barsabás (Atos 15.22-32);<br />

e por fim Judas, o Galileu, um revolucionário (Atos 5.37). A Igreja Primitiva tem i<strong>de</strong>ntificado Judas como o<br />

meio-irmâo <strong>de</strong> Jesus (Mateus 13.55; Marcos 6.3).<br />

Por que foi escrita: A gran<strong>de</strong> maioria dos estudiosos concorda que a epístola <strong>de</strong> Judas foi escrita para<br />

combater a heresia gnóstica. O gnosticismo tinha se alastrado pela Seara do Senhor e já contaminava muito <strong>de</strong><br />

seus fiéis. “Congregações eram subvertidas, obreiros, enganados. Até os mesmos responsáveis pelo redil viam-se<br />

ludibriados pelos sofismas e casuísmos dos falsos mestres.” 33 Sendo assim, a intenção <strong>de</strong> Judas era, por um lado,<br />

fazer com que aqueles que permaneciam íntegros reconhecessem 0 perigo dos falsos ensinos e protegessem a si<br />

próprios e aos outros crentes e, por outro lado, advertir os apóstatas <strong>de</strong>ntro da igreja quanto ao juízo final.<br />

Quando foi escrita: Determinar datas sempre foi um problema para os estudiosos, visto que existem muitas<br />

fontes <strong>de</strong> informações, e em alguns casos não coinci<strong>de</strong>m. Para alguns essa epístola foi escrita antes <strong>de</strong> 2 Pedro,<br />

portanto antes do ano <strong>de</strong> 65 d.C.; para outros foi escrita <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2 Pedro, como muitos estudiosos acreditam,<br />

por volta dos anos 70 e 80 d.C.<br />

33 ANDRADE, Claudionor <strong>de</strong>. Judas: batalhando pela genuína fé cristã. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2002. p. 3.<br />

164<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Esboço <strong>de</strong> Judas<br />

I. Saudação (1-2)<br />

<strong>II</strong>. Advertência contra os falsos mestres (3-19)<br />

a) Motivo para a advertência (3-41<br />

b) Lembrete do antigo povo ímpio (5-7)<br />

c) Caráter do julgamento dos falsos mestres (8-19)<br />

<strong>II</strong>I. Exortações por perseverança (20-23)<br />

IV. Bênção (24-25)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1) O autor adverte seus leitores sobre 0 quê?<br />

2) Cite três epítetos utilizados para os falsos mestres.<br />

APOCALIPSE DO APÓSTOLO S. JOÃO<br />

Apokalupsis (αποκαλυψ ις), no grego, tem 0 sentido <strong>de</strong> “<strong>de</strong>svendar, manifestar, aparecer”. Esse livro revela<br />

a completa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus Cristo e o plano <strong>de</strong> Deus para o fim do mundo, além <strong>de</strong> enfocar Jesus em sua<br />

segunda vinda, sua vitória sobre 0 mal e o estabelecimento <strong>de</strong> seu reino. Portanto, Apocalipse é o livro da<br />

consumação final, on<strong>de</strong> todos os caminhos convergem para a pessoa <strong>de</strong> Jesus Cristo - tema central do livro. Ele<br />

é apresentado como o Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Deus que cumpriu as profecias do Antigo Testamento e garante o triunfo final<br />

do gran<strong>de</strong> plano <strong>de</strong> Deus para a salvação da humanida<strong>de</strong>. Somente Ele é digno <strong>de</strong> <strong>de</strong>satar os selos do livro da<br />

ira <strong>de</strong> Deus. Portanto, Apocalipse é o cumprimento das profecias concernentes ao Dia do Senhor, trazendo tanto<br />

juízo quanto re<strong>de</strong>nção.<br />

Tema: A soberania <strong>de</strong> Deus. A soberania consiste em um po<strong>de</strong>r supremo e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, enten<strong>de</strong>ndo-se por<br />

po<strong>de</strong>r supremo aquele que não está limitado por nenhum outro, e por in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte aquele que não tem que acatar<br />

regras que não sejam aquelas que emanam <strong>de</strong> si mesmo. Portanto, dizer que Deus é soberano é dizer que Ele<br />

é maior do que qualquer po<strong>de</strong>r do universo, sendo incomparável. De maneira muito transparente e minuciosa,<br />

encontramos nesse livro o relato final da história da humanida<strong>de</strong> bem como 0 <strong>de</strong>stino dos seres viventes. De<br />

antemão, sabemos do fim do sistema mundial <strong>de</strong> Babilônia, o fim do Anticristo e seu reinado e 0 fim <strong>de</strong> Satanás<br />

e seu domínio. O livro é marcado pelo número sete: sete cartas, sete bênçãos (1.3; 14.13; 16.15; 19.9; 20.6;<br />

22.7,14), sete selos, sete trombetas, sete trovões, sete taças. “As sete cartas apontam para os eventos do final dos<br />

tempos. Os sete selos antecipam tais eventos. As sete trombetas trazem julgamento <strong>de</strong> Deus. As sete bênçãos e<br />

os sete trovões reforçam as promessas e os julgamentos divinos.” 34<br />

João inicia esse livro explicando como recebeu a revelação da parte <strong>de</strong> Deus (1.1-20). Em seguida, registra<br />

mensagens específicas <strong>de</strong> Jesus às sete igrejas que estavam na Ásia (2.1 - 3.22). De repente, o cenário se<br />

transforma, e imagens dramáticas e majestosas irrompem perante os olhos <strong>de</strong> João. Essa série <strong>de</strong> visões retrata o<br />

futuro ressurgimento do mal culminando com a manifestação do Anticristo (4.1 - 18.24). Em seguida, João faz a<br />

narração <strong>de</strong>talhada do triunfo do Rei dos reis (19.16), das bodas do Cor<strong>de</strong>iro (19.7), do Juízo Final e da chegada<br />

da Nova Jerusalém vinda do céu (21.2), findando com a promessa da volta <strong>de</strong> Cristo (22.6-21).<br />

Por que foi escrito: Foi escrito a fim <strong>de</strong> mostrar que o Senhor não permitirá que o mal prevaleça, mas que 0 reino<br />

<strong>de</strong> Deus será instituído na Terra. Um dia, a ira <strong>de</strong> Deus pelos pecados será plena e completamente liberada sobre a face<br />

da Terra, porém aqueles que não rejeitaram a Cristo escaparão do castigo <strong>de</strong> Deus sobre os ingratos e <strong>de</strong>sobedientes.<br />

94 H0RT0N, Stanley Nl. Apocalipse: as coisas que em breve <strong>de</strong>vem acontecer. 3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2005. p. 3.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

165


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

Quando foi escrito: Como a epístola <strong>de</strong> Judas, não há consenso em relação à data em que esse livro foi escrito,<br />

variando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os dias do imperador Cláudio (41-54 d.C.) até os dias <strong>de</strong> Trajano (98-112 d.C.). Entretanto, a<br />

corrente predominante é a que prefere pensar em 95 d.C., já em fins do governo <strong>de</strong> Domiciano (81-96 d.C.).<br />

Esboço <strong>de</strong> Apocalipse<br />

I. Prólogo (1.1)<br />

<strong>II</strong>. As cartas às sete igrejas (1.9 - 3.22)<br />

a) Um semelhante ao Filho do Homem (1.9-20)<br />

b) As cartas (2.1 - 3.22)<br />

<strong>II</strong>I. Os sete selos (4.1 - 5.14)<br />

a) O cenário (4.1 - 5.14)<br />

b) Os selos (6.1 - 8.1)<br />

IV. As sete trombetas (8.2 - 11.18)<br />

a) O cenário: o altar dourado (8.2-6)<br />

b) As trombetas (8.7 - 11.18)<br />

V. Os sete sinais (11.19 -1 5 .4 )<br />

a) O cenário: a arca do concerto (11.19)<br />

b) Os sinais (12.1 - 15.4)<br />

VI. As sete taças (15.5 - 16.21)<br />

a) O cenário: o templo do testemunho (15.5 - 16.1)<br />

b) As sete taças (16.2-21)<br />

V<strong>II</strong>. Os sete espetáculos (17.1 - 20.3)<br />

a) O cenário: um <strong>de</strong>serto (17.1-3)<br />

b) Os espetáculos (17.3 -2 0 .3 )<br />

V<strong>II</strong>I. As sete visões da consumação (20.4 - 22.5)<br />

a) O cenário: (20.4-10)<br />

b) As cenas (20.11 - 22.5)<br />

IX. Epílogo (22.6-21)<br />

a) As palavras <strong>de</strong> conforto (22.6-17)<br />

b) Palavras <strong>de</strong> advertência (22.18-19)<br />

c) Bênção final (22.20-21)<br />

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM<br />

1 O que revela o livro do Apocalipse?<br />

2) O que se enten<strong>de</strong> por soberania?<br />

3) Quais fatos relacionados com 0 número sete marcam 0 livro do Apocalipse?<br />

4) Por que foi escrito o Apocalipse?<br />

5) Qual é a data predominante para a elaboração do livro do Apocalipse?<br />

166<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ANDRADE, Claudionor <strong>de</strong>. As verda<strong>de</strong>s centrais da fé cristã. Rio <strong>de</strong> janeiro: CPAD, 2006.<br />

_________. Judas: batalhando pela fé cristã. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2002.<br />

ARCHER JR., Gleason. Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida, 2000.<br />

BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia judaica e a Bíblia cristã: introdução à história da Bíblia. 2. ed. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Vozes, 1999.<br />

BORNKAMM, Günter. Bíblia Novo Testamento: introdução aos seus escritos no quadro da história do<br />

cristianismo. 3. ed. São Paulo: Teológica, 2003.<br />

CABRAL, Elienai. Comentário bíblico: Efésios. 3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1999.<br />

_________. Romanos: 0 evangelho da justiça <strong>de</strong> Deus. 8. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2005.<br />

CALVINO, João. Romanos. 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001.<br />

_________. Gálatas. São Paulo: Parakletos, 1998.<br />

_________. Hebreus. São Paulo: Parakletos, 1997.<br />

_________. Pastorais. São Paulo: Parakletos, 1998.<br />

CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006.<br />

CESAREIA, Eusébio <strong>de</strong>. História eclesiástica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1999.<br />

CHAMPLIN, R. N. e BENTES, J. M. Enciclopédia <strong>de</strong> Bíblia, teologia e filosofia. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1995.<br />

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Can<strong>de</strong>ia, 1995.<br />

DOCKERY, David S. Manual bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001.<br />

FALCAO, Márcio. Como conhecer uma seita. São Paulo: O Arado, 2006.<br />

FEE, Gordon D. Novo comentário bíblico contemporâneo: 1 e 2 Timóteo, Tito. São Paulo: Vida, 1994.<br />

FRANCISCO, Edson <strong>de</strong> Faria. Manual da Bíblia hebraica: introdução ao Texto Massorético. São Paulo: Vida<br />

Nova, 2003.<br />

FRAVE, Philippe. Epístola aos Colossenses. São Paulo: Casa da Bíblia, 1996.<br />

FREYNE, Sean. A Galiléia, Jesus e os evangelhos. São Paulo: Loyola, 1996.<br />

GABEL, John B.; WHEELER, Charles B. A Bíblia como literatura. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2003.<br />

GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução bíblica. São Paulo: Vida, 1997.<br />

GEISLER, Norman. A inerrância da Bíblia. São Paulo: Vida, 2003.<br />

_________. Enciclopédia <strong>de</strong> Apologética: respostas aos críticos da fé cristã. São Paulo: Vida, 2002.<br />

GILBERTO, Antonio. A Bíblia através dos séculos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1995.<br />

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002.<br />

HALLEY, Henry Hampton. Manual bíblico <strong>de</strong> Halley. São Paulo: Vida, 2001.<br />

HENDRIKSEN, Willian. 1 e 2 Tessalonicenses. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.<br />

_________. Gálatas. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.<br />

HOOVER, Thomas Reginald. Comentário bíblico 1 e 2 Coríntios. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1999.<br />

HORTON, Stanley M. Apocalipse: as coisas que brevemente <strong>de</strong>vem acontecer. 3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2005.<br />

_________. I e <strong>II</strong> Coríntios: os problemas da igreja e suas soluções. 3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2006.<br />

JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2001.<br />

KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2004.<br />

LAHAYE, Tim. Temperamentos transformados. São Paulo: Mundo Cristão, 1978.<br />

MAINVILLE, O<strong>de</strong>te. Escritos e ambiente do Novo Testamento. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2002.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

167


MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

MARTINEZ, Florentino García. Textos <strong>de</strong> Qumran. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 1995.<br />

MARTÍNEZ, Florentino García; BARRERA, Julio Trebolle. Os homens <strong>de</strong> Qumran. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 1996.<br />

MATHER, George A.; NICHOLS, Larry A. Dicionário <strong>de</strong> religiões, crenças e ocultismo. São Paulo: Vida.<br />

MICHAELS, J. Ramsey. Novo comentário bíblico contemporâneo: João. São Paulo: Vida, 1994.<br />

OLIVEIRA, Raimundo <strong>de</strong>. As gran<strong>de</strong>s doutrinas da Bíblia. 9. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2006.<br />

OVERMAN, J. Andrew. O evangelho <strong>de</strong> Mateus e o judaísmo formativo. São Paulo: Loyola, 1997.<br />

PATE, C. Marvin. As interpretações do Apocalipse. São Paulo: Vida, 2003.<br />

PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia livro por livro. São Paulo: Vida, 1996.<br />

_________. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1996.<br />

_________. Atos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1995.<br />

_________. Epístolas paulinas: semeando as doutrinas cristãs. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1998.<br />

_________. João: o evangelho do filho <strong>de</strong> Deus. São Paulo: Vida, 1995.<br />

_________. Lucas: o evangelho do homem perfeito. São Paulo: Vida, 1995.<br />

_________. Marcos: o evangelho do servo sofredor. 2. ed. São Paulo: Vida, 1995.<br />

_________. Mateus: 0 evangelho do gran<strong>de</strong> rei. São Paulo: Vida, 1995.<br />

PHILLIPS, John. Explorando as escrituras: uma visão geral <strong>de</strong> todos os livros da Bíblia. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

CPAD, 2005.<br />

RENOVATO, Elinaldo. 1 e 2 Tessalonicenses. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2005.<br />

_________. Colossenses: a perspectiva da igreja na palavra nestes dias difíceis e trabalhosos. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

CPAD, 2004.<br />

SHREINER, J.; DAUTZENBERG, G. Forma e exigências do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo:<br />

Teológica, 2004.<br />

SILVA, Severino Pedro da. Epístola aos Hebreus: as coisas novas e gran<strong>de</strong>s que Deus preparou para você. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 2003.<br />

VANHOOZER, Kevin. Há um significado neste texto? São Paulo: Vida, 2005.<br />

VERMES, Geza. Jesus e o mundo do judaísmo. São Paulo: Loyola, 1996.<br />

WILLIANS, David J. Novo comentário bíblico contemporâneo: Atos. São Paulo: Vida, 1996.<br />

168<br />

CURSO DE TEOLOGIA


faculda<strong>de</strong> teológica betesda<br />

Moldando vocacionados<br />

AVALIAÇÃO - MÓDULO <strong>II</strong><br />

PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

1) Os evangelhos sinópticos retrataram a vida e a obra <strong>de</strong> Jesus, porém registraram uma mensagem que foi<br />

básica em todos eles. Qual foi esta mensagem?<br />

2) Explique a expressão “Reino dos céus” amplamente usada no evangelho <strong>de</strong> Mateus.<br />

3) O que significa 0 termo “homem perfeito” no evangelho <strong>de</strong> Lucas?<br />

4) Por que a posição em que foi canonizado o livro <strong>de</strong> Atos é significativa?<br />

5) Comente com suas palavras o propósito <strong>de</strong> o apóstolo Paulo ter escrito a primeira Carta aos Coríntios.<br />

6) Qual nome era dado à Epístola <strong>de</strong> Gálatas na Reforma?<br />

7) Por que a Epístola aos Efésios tem sido chamada <strong>de</strong> “epístola do terceiro céu”?<br />

8) Qual é a mensagem que 0 gnosticismo pregava na igreja <strong>de</strong> Colossos? Quais passagens das Escrituras<br />

combatem tal ensino?<br />

9) Quais são as epístolas pastorais? Por que são chamadas assim?<br />

10) Faça um breve comentário sobre o livro <strong>de</strong> Apocalipse.<br />

CARO(a) ALUNO(a):<br />

• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-tes em<br />

folha <strong>de</strong> papel sulfite, sendo objetivo(a) e daro(a).<br />

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• De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.


PRATICAS LITURGICAS


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................175<br />

1. LITURGIA NO CULTO ..........................................................................................................................................176<br />

1.1 A A CO LH ID A ........................................................................................................................................................176<br />

1.2 SAUDA ÇÃO.......................................................................................................................................................... 176<br />

1.3 ABERTURA........................................................................................................................................................... 176<br />

1.4 CÂ N TICO S............................................................................................................................................................ 176<br />

1.5 LEITURA INTRODUTÓRIA............................................................................................................................ 177<br />

1.6 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................177<br />

1.7 CÂNTICOS E LO U V ORES...............................................................................................................................177<br />

1.8 MINISTRAÇÃO DA PALAVRA.......................................................................................................................177<br />

1.9 APELOS E CO N V ITES.......................................................................................................................................177<br />

1.10 ORAÇÃO DE INTERCESSÃO.......................................................................................................................178<br />

1.11 BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS............................................................................................................................ 178<br />

2. CASAM ENTO .............................................................................................................................................................179<br />

2.1 CERIMÔNIA RELIGIOSA COM EFEITO C IV IL .......................................................................................179<br />

2.2 EXIGÊNCIA L E G A L .......................................................................................................................................... 179<br />

2.3 REGIME DE B E N S ..............................................................................................................................................180<br />

3. CERIMÔNIA DE CASAM ENTO ........................................................................................................................ 181<br />

3.1 MINISTRAÇÃO DA PALAVRA DE D E U S .................................................................................................. 181<br />

3.2 ENTRADA DAS A LIA N ÇA S............................................................................................................................181<br />

3.3 V O T O S.....................................................................................................................................................................181<br />

3.4 ENTREGA DAS A LIA N Ç A S........................................................................................................................... 182<br />

3.5 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................ 182<br />

3.6 PRONUNCIAM ENTO.........................................................................................................................................182<br />

4. BATISMO NAS Á G U A S.......................................................................................................................................... 183<br />

4.1 MOMENTOS PREPARATÓRIOS ................................................................................................................... 183<br />

4.2 O BA TISM O .......................................................................................................................................................... 184<br />

4.3 COMPORTAMENTO.......................................................................................................................................... 184<br />

5. CEIA DO SE N H O R .................................................................................................................................................. 185<br />

5.1 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................ 185<br />

5.2 SAUDA ÇÃO...........................................................................................................................................................185<br />

5.3 CÂ N TIC O S.............................................................................................................................................................185<br />

5.4 MINISTRAÇÃO DA PALAVRA.......................................................................................................................185<br />

5.5 A CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SEN H O R .................................................................................................. 185


5.6 DISTRIBUIÇÃO DOS ELEM EN TO S.............................................................................................................186<br />

5.7 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................ 186<br />

5.8 LO U V O R ................................................................................................................................................................. 186<br />

5.9 BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS ..............................................................................................................................186<br />

6. APRESENTAÇÃO DE CRIANÇAS.....................................................................................................................187<br />

6.1 CERIM ÔNIA...........................................................................................................................................................187<br />

7. CULTO FÚ N E B R E ....................................................................................................................................................188<br />

7.1 CERIM ÔNIA...........................................................................................................................................................188<br />

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................................................................189


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

INTRODUÇÃO<br />

Por meio <strong>de</strong>sta matéria suplementar <strong>de</strong>sejamos apenas informar, sem jamais impor a maneira <strong>de</strong> realizar<br />

algumas cerimônias que ocorrem na vida da igreja, como o casamento, 0 batismo, a Santa Ceia, o culto<br />

fúnebre etc. Não foi escrito com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar padrões éticos ou estatuir normas a serem observadas<br />

dogmaticamente; antes, visa tão-somente a oferecer algumas opções sobre celebrações comuns no dia-a-dia do<br />

obreiro evangélico.<br />

Iniciamos sugerindo uma forma <strong>de</strong> culto, sabendo que não existe um padrão, pois é o Espírito Santo quem<br />

dirige a liturgia, porém apenas transcrevemos algumas etapas que consi<strong>de</strong>ramos saudáveis para uma boa<br />

administração do tempo.<br />

Discorremos sobre as normas legais para concretização <strong>de</strong> um casamento segundo o Código Civil <strong>de</strong> 2002,<br />

atual lei vigente em nosso país. Enten<strong>de</strong>mos por bem que os ministros do evangelho esclareçam aos nubentes<br />

a forma pela qual seus bens serão administrados, e assim falamos sobre as formas <strong>de</strong> regime <strong>de</strong> bens. Também<br />

esclarecemos a respeito do efeito civil sobre o casamento religioso.<br />

Um assunto polêmico que apresentamos neste volume é a questão do batismo. Não trataremos aqui dos tipos<br />

<strong>de</strong> batismo, que serão objeto <strong>de</strong> estudo no módulo 4 do curso, apenas exemplificaremos um modo pelo qual o<br />

batismo po<strong>de</strong> ser realizado.<br />

Em seguida, trazemos a liturgia da celebração da Ceia do Senhor, buscando, <strong>de</strong> uma forma bíblica, explicar<br />

sua importância bem como sua celebração. Depois da Ceia do Senhor, apresentamos a maneira pela qual uma<br />

criança é apresentada na igreja.<br />

Por fim, trazemos ao conhecimento <strong>de</strong> nossos leitores a liturgia <strong>de</strong> um culto fúnebre, situação com a qual o<br />

ministro se <strong>de</strong>para em sua vocação cristã.<br />

Nosso <strong>de</strong>sejo é que você, estudante da Palavra <strong>de</strong> Deus, esteja sempre preparado para toda boa obra.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

175


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

LITURGIA NO CULTO<br />

Culto é uma forma <strong>de</strong> adoração à divinda<strong>de</strong> em qualquer <strong>de</strong> suas formas. No caso dos cristãos, o culto é<br />

o meio pelo qual o <strong>de</strong>voto entra em contato com a Trinda<strong>de</strong> santa, isto é, com Deus Pai, com o Filho e com o<br />

Espírito Santo. Ao mesmo tempo, o culto também <strong>de</strong>senvolve uma comunhão <strong>de</strong> pessoas, que se reúnem em um<br />

<strong>de</strong>terminado lugar com fins comuns <strong>de</strong>:<br />

a) Louvar, adorar e glorificar ao Senhor;<br />

b) Falar com 0 Senhor por meio da oração;<br />

c) Ouvir a Palavra <strong>de</strong> Deus ministrada por um pregador.<br />

O culto é público, ou seja, aberto para qualquer pessoa participar. A direção do culto cabe prioritariamente<br />

ao Espírito Santo, entretanto não resta dúvida <strong>de</strong> que Ele 0 fará por meio <strong>de</strong> um agente humano. O ministro que<br />

estiver à frente <strong>de</strong> um culto a Deus <strong>de</strong>ve estar primeiramente em sintonia com o Espírito Santo.<br />

A liturgia do culto, em regra geral, obe<strong>de</strong>ce à seguinte or<strong>de</strong>m, diferenciando-se em alguns aspectos em<br />

algumas <strong>de</strong>nominações.<br />

1.1 A ACOLHIDA<br />

Antes <strong>de</strong> iniciar 0 culto, os cooperadores, diáconos e diaconisas <strong>de</strong>vem estar atentos para que os visitantes<br />

sejam bem recebidos, <strong>de</strong> modo que facilitem a sua permanência no local <strong>de</strong> culto. Um fator que faz a diferença<br />

no culto é o calor humano, o clima acolhedor, aquele sentimento <strong>de</strong> estar acolhido em um ambiente fraterno com<br />

as <strong>de</strong>mais pessoas.<br />

1.2 SAUDAÇÃO<br />

A saudação é imprescindível. O ministro jamais <strong>de</strong>ve fazer distinção entre os irmãos e os visitantes. As<br />

saudações são das mais variadas entre os cristãos. Alguns iniciam os cultos dizendo: “Paz”; outros: “A paz<br />

do Senhor”; e outros: “Boa noite”. Em algumas igrejas evangélicas os fiéis, ao chegarem, põem-se <strong>de</strong> joelhos<br />

e começam a orar por alguns instantes até que se inicie 0 culto. Em outras igrejas os participantes aguardam<br />

sentados o início da liturgia.<br />

1.3 ABERTURA<br />

Após a saudação, 0 celebrante, ou quem for indicado pela direção da igreja, po<strong>de</strong>rá iniciar com uma oração<br />

com todos os participantes. Não se fazem orações <strong>de</strong>coradas ou rezas, mas são feitas principalmente com o<br />

intuito <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a Deus e pedir perdão das faltas para que a adoração seja recebida como aroma agradável<br />

perante Deus.<br />

1.4 CÂNTICOS<br />

Após a oração inicial, entoam-se alguns hinos juntamente com a congregação (dois ou três hinos são essenciais).<br />

Esse momento inicial <strong>de</strong> adoração po<strong>de</strong> ser acompanhado <strong>de</strong> instrumentos musicais com equilíbrio. Os sons<br />

176<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 1 1PRÁTICAS LITLJRGiCAS<br />

dos instrumentos jamais <strong>de</strong>vem ultrapassar as vozes dos adoradores; ambos possibilitam uma harmonia tal que<br />

prepara 0 espírito para receber a Palavra <strong>de</strong> Deus. Muita atenção tem que ser dada à afinação dos instrumentos,<br />

porque do contrário são capazes <strong>de</strong> irritar a audição e tomar o ambiente da reunião <strong>de</strong>sagradável.<br />

1.5 LEITURA INTRODUTÓRIA<br />

Depois <strong>de</strong> louvar com os hinos, far-se-á a leitura bíblica, <strong>de</strong> modo responsivo, para que todos possam <strong>de</strong>ixar<br />

a Palavra penetrar em sua alma. A leitura é feita comumente pelo dirigente do culto, mas nada obsta que seja<br />

feita por alguém indicado pelo ministro, e <strong>de</strong>ve ser feita em alto e bom som, observando as regras da língua<br />

portuguesa (acentuação, vírgula etc.).<br />

1.6 ORAÇÃO<br />

Feita a leitura, far-se-á outra oração agra<strong>de</strong>cendo a Deus pela liberda<strong>de</strong> religiosa bem como pelos seus favores<br />

para conosco. Essa oração <strong>de</strong>ve ser breve, mas fervorosa.<br />

1.7 CÂNTICOS E LOUVORES<br />

É normal que nas igrejas existam conjuntos, corais, portanto, <strong>de</strong>pois da oração, os conjuntos po<strong>de</strong>m apresentar<br />

sua adoração. O dirigente do culto tem que estar atento para que os cânticos não ocupem o tempo necessário à<br />

ministração da Palavra <strong>de</strong> Deus. Não <strong>de</strong>vemos subestimar os cânticos, pois são parte inseparável do culto, mas<br />

também não <strong>de</strong>vemos sublimá-los a ponto <strong>de</strong> prejudicar o horário <strong>de</strong>stinado à mensagem <strong>de</strong> Deus.<br />

Algumas igrejas aproveitam esse momento <strong>de</strong> adoração para recolher as ofertas e os dízimos que os fiéis<br />

levam à Casa <strong>de</strong> Deus, que são recolhidos pelo corpo diaconal. Outras igrejas não recolhem as ofertas por meio<br />

<strong>de</strong> recolhedores, mas colocam uma caixinha ou gazofilácio à saída do templo. Ao passarem por esta uma, os<br />

participantes que sentirem 0 <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> colaborar <strong>de</strong>positam suas ofertas. Outras preferem que seus ofertantes<br />

levem suas ofertas até a frente do púlpito, on<strong>de</strong> colocam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma salva.<br />

1.8 MINISTRAÇÃO DA PALAVRA<br />

Este é o momento em que 0 pregador irá discorrer uma prédica, quando Deus falará com seu povo por meio<br />

<strong>de</strong> sua Palavra. É um momento solene, portanto merece toda a atenção. É o momento propício para que o Espírito<br />

<strong>de</strong> Deus ilumine a mente dos fiéis para a compreensão da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para suas vidas.<br />

O tempo <strong>de</strong> ministração varia <strong>de</strong> igreja para igreja, mas 0 importante é que se dê tempo suficiente para que 0<br />

pregador <strong>de</strong>senvolva seu tema <strong>de</strong> modo completo: introdução, dissertação e conclusão.<br />

1.9 APELOS E CONVITES<br />

Após a ministração da Palavra, salvo direção contrária do Espírito Santo, <strong>de</strong>ve-se fazer 0 apelo aos participantes,<br />

a fim <strong>de</strong> que reconheçam sua natureza pecaminosa e se convertam ao evangelho <strong>de</strong> Jesus Cristo para remissão<br />

dos pecados. O apelo não <strong>de</strong>ve ser excessivamente exaustivo, pois é obra do Espírito Santo.<br />

Uma maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar afeto pelos visitantes é convidá-los a ir à frente para receber uma oração.<br />

Comumente a pessoa que é forçada a ir à frente para receber a oração sente-se incomodada e nunca mais volta ao<br />

culto. Existem também aquelas pessoas in<strong>de</strong>cisas que precisam <strong>de</strong> alguém que lhes aju<strong>de</strong> a aten<strong>de</strong>r ao convite.<br />

Depois do apelo, é bom lembrar aos visitantes os dias <strong>de</strong> cultos bem como convidá-los para estar juntos nas<br />

próximas reuniões.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

177


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

1.10 ORAÇÃO DE INTERCESSÃO<br />

A oração <strong>de</strong> intercessão <strong>de</strong>ve ser direcionada a algum pedido específico que a irmanda<strong>de</strong> trouxe para que toda<br />

a congregação ore. Nessa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se interce<strong>de</strong>r por todos os presentes, por aqueles que por motivos<br />

diversos não pu<strong>de</strong>ram estar presentes, pelos enfermos e necessitados em geral.<br />

1.11 BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS<br />

Para concluir o culto, é edificante impetrar as bênçãos apostólicas: “A graça <strong>de</strong> nosso Senhor e Salvador<br />

Jesus Cristo, o amor <strong>de</strong> Deus e as consolações do Espírito Santo sejam com toda esta igreja, e todos respondam:<br />

Amém”.<br />

178<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 1 í PRÁTICAS UTÚRGICAS<br />

CASAMENTO<br />

Em nenhum outro ato da vida são necessários tantos formalismos e solenida<strong>de</strong>s como no casamento. O<br />

casamento é uma instituição civil e religiosa, estando, portanto, sujeito a regulamentos jurídicos.<br />

As solenida<strong>de</strong>s do casamento, juntamente com 0 procedimento formal <strong>de</strong> habilitação que o antece<strong>de</strong>,<br />

encontram sua razão <strong>de</strong> ser em mais um aspecto: impe<strong>de</strong>m que <strong>de</strong>cisões apressadas levem os nubentes a um ato<br />

superficial do qual possam arrepen<strong>de</strong>r-se; obrigam os interessados a meditar sobre o novo estado familiar no qual<br />

preten<strong>de</strong>m ingressar, realçando as responsabilida<strong>de</strong>s e contribuem para a vitalida<strong>de</strong> da instituição e da família<br />

perante a socieda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>le toma público conhecimento.<br />

O pastor <strong>de</strong>ve familiarizar-se com as leis do local on<strong>de</strong> for celebrada a cerimônia, pois assim manterá a<br />

consciência tranqüila, sabendo que está cumprindo os requisitos da lei. Além disso, <strong>de</strong>ve manter um registro<br />

no qual fará constar os casamentos realizados em sua igreja, com todos os dados necessários e a assinatura dos<br />

Cônjuges, das testemunhas e do ministro oficiante.<br />

A cerimônia po<strong>de</strong> ser celebrada no templo ou em local apropriado para tal ato, mas sempre na presença <strong>de</strong><br />

testemunhas (Código Civil, art. 1.534).<br />

E bom que os participantes ensaiem antes a or<strong>de</strong>m do programa da cerimônia para evitar dissabores. O pastor<br />

<strong>de</strong>ve orientar e se possível até participar <strong>de</strong> um ensaio com as pessoas envolvidas, conscientizando-as da maneira<br />

correta <strong>de</strong> se portar em um casamento.<br />

2.1 CERIMÔNIA RELIGIOSA COM EFEITO CIVIL<br />

Na época do Império o direito apenas reconhecia o casamento católico, por ser essa a religião oficial do Brasil,<br />

expresso na Constituição da República. Com a chegada <strong>de</strong> imigrantes e <strong>de</strong> pessoas que professavam religiões<br />

diversas, instituiu-se, ao lado do casamento eclesiástico, o <strong>de</strong> natureza civil, por <strong>de</strong>terminação legal, em 1861. A<br />

partir <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1891, por meio do Decreto n° 181, foi introduzido o casamento civil obrigatório, como<br />

conseqüência da separação entre Igreja e Estado. Com essa alteração, o legislador buscou atribuir efeitos civis ao<br />

casamento religioso, conforme a Constituição <strong>de</strong> 1934, mantido na Constituição atual <strong>de</strong> 1988 (art. 226, § 2o).<br />

A Lei n° 1.110/50 disciplina que 0 casamento religioso eqüivale ao civil quando os consortes promoverem o<br />

<strong>de</strong>vido processo <strong>de</strong> habilitação perante o oficial <strong>de</strong> registro na forma da lei civil.<br />

Somente tem valida<strong>de</strong> 0 “matrimônio oficiado por ministro <strong>de</strong> confissão religiosa reconhecida (católico,<br />

protestante, muçulmano, israelita). Não se admite, todavia, o que se realiza em terreiro <strong>de</strong> macumba, centros <strong>de</strong><br />

baixo espiritismo, seitas umbandistas, ou outras formas <strong>de</strong> crendices populares, que não tragam a configuração<br />

<strong>de</strong> seita religiosa reconhecida como tal”.1 O Código Civil <strong>de</strong> 2002 estabelece, no art. 1.515, a valida<strong>de</strong> do<br />

casamento religioso que aten<strong>de</strong>r às exigências da lei para a valida<strong>de</strong> do casamento civil, equiparando-se a este,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que registrado, produzindo os efeitos a partir da data <strong>de</strong> sua celebração.<br />

2.2 EXIGÊNCIA LEGAL<br />

De posse da certidão <strong>de</strong> habilitação (autorização para casar-se), expedida pelo oficial <strong>de</strong> registro civil, os<br />

interessados requererão a cerimônia ao juiz <strong>de</strong> paz (no nosso caso, um pastor cre<strong>de</strong>nciado), que é a autorida<strong>de</strong><br />

competente para celebrar o casamento. De acordo com a lei, a celebração do casamento é gratuita (art. 1.512<br />

1 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições <strong>de</strong> direito civil. 11. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1996. p. 42.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

179


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

do Código Civil). Para quem não <strong>de</strong>seja fazer na igreja, no próprio cartório existe a “casa das audiências”, on<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>rá ser realizada a cerimônia, com toda a publicida<strong>de</strong>, com portas abertas, na presença <strong>de</strong> pelo menos duas<br />

testemunhas, parentes ou não dos contraentes (art. 1.534 do Código Civil). Se algum dos noivos não souber<br />

escrever, a lei exige que sejam quatro testemunhas (art. 1.534, § 2o). Os nubentes são obrigados a <strong>de</strong>monstrar<br />

livre e espontânea vonta<strong>de</strong> em se casarem, respon<strong>de</strong>ndo “sim” <strong>de</strong> forma inequívoca, sem qualquer termo ou<br />

condição. Em seguida o juiz <strong>de</strong> paz proferirá as seguintes palavras estatuídas pelo art. 1.535 do Código Civil:<br />

“De acordo com a vonta<strong>de</strong> que ambos acabais <strong>de</strong> afirmar perante mim, <strong>de</strong> vos receber<strong>de</strong>s por marido e mulher,<br />

eu, em nome da lei, vos <strong>de</strong>claro casados”.<br />

A seguir, será lavrado o assento no livro <strong>de</strong> registro (art. 1.536 do Código Civil). Na prática, o registro já<br />

está lavrado no livro, aguardando-se apenas 0 consentimento e a formalização do ato pelo juiz, para que seja<br />

assinado por ambos os noivos e pelas testemunhas. Também já estarão prontas as respectivas certidões, que serão<br />

entregues aos nubentes após sua assinatura.<br />

De acordo com 0 novo Código Civil, art. 1.565, § Io, qualquer dos nubentes, querendo, po<strong>de</strong>rá acrescer ao seu<br />

o sobrenome do outro. Não é <strong>de</strong> nossa cultura que o marido venha a acrescentar o nome da esposa. O assento <strong>de</strong><br />

casamento fornecerá a prova hábil para alterar os documentos pessoais respectivos.<br />

2.3 REGIME DE BENS<br />

A união pelo casamento almeja mútua cooperação, assim como assistência moral, material e espiritual. O<br />

casamento não <strong>de</strong>ve possuir conteúdo econômico direto. Uma vez realizado 0 matrimônio, surgem direitos e<br />

obrigações em relação à pessoa e aos bens patrimoniais dos cônjuges. O fato é que a união entre o homem e a<br />

mulher traz reflexos patrimoniais para ambos, principalmente após o <strong>de</strong>sfazimento do vínculo conjugal. Desse<br />

modo o regime <strong>de</strong> bens entre os cônjuges compreen<strong>de</strong> uma das conseqüências jurídicas do casamento.<br />

Sendo assim, por regime <strong>de</strong> bens subenten<strong>de</strong>-se a modalida<strong>de</strong> do sistema jurídico que rege as relações<br />

patrimoniais <strong>de</strong>correntes do casamento. Esse sistema regula essencialmente a proprieda<strong>de</strong> e a administração dos<br />

bens trazidos antes do casamento e os adquiridos posteriormente pelos cônjuges.<br />

O direito brasileiro regula quatro espécies <strong>de</strong> regime: 1) comunhão parcial; 2) separação total; 3) comunhão<br />

universal e 4) participação final <strong>de</strong> aquestos.<br />

O regime da comunhão parcial <strong>de</strong> bens é aquele que é imposto pela lei quando os nubentes não fazem opção<br />

pelo regime <strong>de</strong> comunhão, da separação ou da participação final nos aquestos. Nesse regime, os bens que cada<br />

um trouxe antes do pacto nupcial não se comunicam e constituem o patrimônio pessoal da mulher ou do marido,<br />

bem como os que receber na constância do casamento em razão <strong>de</strong> doação ou sucessão.<br />

O regime <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> bens caracteriza-se pela incomunicabilida<strong>de</strong> dos bens presentes e futuros dos<br />

cônjuges. Cada cônjuge conserva, em separado, a proprieda<strong>de</strong> e a posse <strong>de</strong> seus bens, administrando-os a sua<br />

vonta<strong>de</strong>. Igualmente as dívidas permanecem sob total responsabilida<strong>de</strong> daquele que as contraiu.<br />

A comunhão universal é o regime mediante 0 qual os cônjuges convencionam que todos os seus bens<br />

presentes e futuros, móveis e imóveis, adquiridos antes ou durante a constância do casamento tomam-se comuns,<br />

constituindo-se um só patrimônio comum, ainda que os bens que o componham tenham sido trazidos apenas por<br />

um dos cônjuges.<br />

Quanto ao regime da participação final nos aquestos, cada cônjuge, durante o casamento, mantém patrimônio<br />

próprio, mas à época da dissolução da socieda<strong>de</strong> conjugal passa a ter direito à meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os bens adquiridos<br />

pelo casal.<br />

Desse modo, se os nubentes <strong>de</strong>sejarem assumir 0 regime <strong>de</strong> comunhão parcial, não necessitará <strong>de</strong> pacto.<br />

Se outra modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regime for sua escolha, precisarão estipulá-la por meio <strong>de</strong> escritura pública. Desse<br />

modo, embora seja facultativa a escolha do regime, os cônjuges necessariamente <strong>de</strong>vem recorrer ao pacto se não<br />

<strong>de</strong>sejarem a comunhão parcial.<br />

O Código Civil <strong>de</strong> 2002 disciplina a comunhão parcial (arts. 1.658 a 1.666); a comunhão universal (arts. 1.667<br />

a 1.671); a participação final nos aquestos (arts. 1.672 a 1.686) e a separação <strong>de</strong> bens (arts. 1.687 e 1.688).<br />

180<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

CERIMONIA DE CASAMENTO<br />

Após os padrinhos entrarem no recinto, os nubentes ficarão juntos, <strong>de</strong> pé, diante do ministro, o noivo à direita<br />

da noiva. O oficiante e todos os presentes orarão em agra<strong>de</strong>cimento por mais um enlace matrimonial. Depois,<br />

dirigindo-se à igreja dirá: “Comparecem a este santuário (se for igreja), irmão (diga o nome <strong>de</strong>le) e irmã (o nome<br />

<strong>de</strong>la), para solenemente unir-se em matrimônio a fim <strong>de</strong> que sejam cumpridas as formalida<strong>de</strong>s legais conforme<br />

consta no documento expedido pelo Cartório <strong>de</strong>ste distrito”.<br />

O oficiante <strong>de</strong>ve perguntar se há entre os presentes alguém que se oponha àquele ato. Não havendo, dá<br />

prosseguimento à cerimônia.<br />

Pergunta ao noivo se ele persiste no firme propósito, por livre e espontânea vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> casar-se co m ____<br />

____ (nome <strong>de</strong>la). Pergunta para a noiva se ela persiste no firme propósito, por livre e espontânea vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

casar-se co m _________(nome do noivo).<br />

O oficiante em seguida dirá: “Diante <strong>de</strong> vossa manifestação <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vos receber<strong>de</strong>s em matrimônio, eu,<br />

representando o magistrado civil, vos <strong>de</strong>claro casados”.<br />

Depois faz a leitura do termo <strong>de</strong> casamento (religioso com efeito civil). Assinam o termo o oficiante, o noivo,<br />

a noiva e as testemunhas.<br />

3.1 MINISTRAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS<br />

O oficiante trará aos participantes da cerimônia a explanação da Palavra <strong>de</strong> Deus (em média <strong>de</strong> 15 a 30<br />

minutos no máximo). Neste momento cumprimenta os familiares dos nubentes, as autorida<strong>de</strong>s presentes e os<br />

convidados. Ressalta a responsabilida<strong>de</strong> da união conjugal e a responsabilida<strong>de</strong> assumida diante <strong>de</strong> Deus.<br />

3.2 ENTRADA DAS ALIANÇAS<br />

Nessa oportunida<strong>de</strong> o ministro po<strong>de</strong> ressaltar a importância da aliança, pois fala <strong>de</strong> compromisso, <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>.<br />

3.3 VOTOS<br />

Dirigindo-se ao noivo, 0 ministro dirá:<br />

“_________________(nome do noivo) você promete, diante <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong>stas testemunhas, receber________<br />

___ (nome da noiva) como sua legítima esposa para viver com ela, conforme o que foi or<strong>de</strong>nado por Deus, na<br />

santa instituição do casamento? Promete amá-la, honrá-la, respeitá-la, protegê-la na enfermida<strong>de</strong> ou na saú<strong>de</strong>, na<br />

prosperida<strong>de</strong> ou na adversida<strong>de</strong> e manter-se fiel a ela enquanto os dois viverem?”<br />

O noivo respon<strong>de</strong>rá: “Sim, prometo”.<br />

Dirigindo-se à noiva, o ministro dirá:<br />

“_________________(nome da noiva) você promete, diante <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong>stas testemunhas, receber________<br />

___ (nome do noivo) como seu legítimo esposo para viver com ele, conforme 0 que foi or<strong>de</strong>nado por Deus, na<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

181


MÓDULO 2 I PRÁTICAS UTÚRGICAS<br />

santa instituição do casamento? Promete amá-lo, honrá-lo, respeitá-lo, protegê-lo na enfermida<strong>de</strong> ou na saú<strong>de</strong>,<br />

na prosperida<strong>de</strong> ou na adversida<strong>de</strong> e manter-se fiel a ele enquanto os dois viverem?”<br />

A noiva respon<strong>de</strong>rá: “Sim, prometo”.<br />

3.4 ENTREGA DAS ALIANÇAS<br />

O ministro pedirá ao noivo que repita as seguintes palavras: “Usando esta aliança, como símbolo <strong>de</strong> nossa<br />

união, eu me caso contigo, unindo a ti 0 meu coração e a minha vida e tomando-te participante <strong>de</strong> todos os meus<br />

bens”. Em seguida pedirá à noiva que repita as mesmas palavras.<br />

3.5 ORAÇÃO<br />

O ministro concluirá pedindo que os nubentes se ajoelhem, e juntamente com os presentes invocará as bênçãos<br />

<strong>de</strong> Deus sobre a vida do casal.<br />

3.6 PRONUNCIAMENTO<br />

O celebrante dirá para 0 casal: “Diante <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong>stas testemunhas, por meio <strong>de</strong> suas manifestações <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong>, eu os <strong>de</strong>claro marido e mulher, casados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”. Neste<br />

momento po<strong>de</strong> citar um versículo das Escrituras que achar conveniente.<br />

lüü<br />

182<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO f | PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

BATISMO NAS AGUAS<br />

Aqui não é 0 lugar apropriado para falar sobre as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> batismo (aspersão, afüsão e imersão);<br />

faremos isso na disciplina “Doutrinas da igreja”. Neste momento <strong>de</strong>sejamos apenas sugerir alguns procedimentos<br />

para receber uma pessoa que se dispôs a cumprir o mandamento bíblico do batismo nas águas lembrando que não<br />

<strong>de</strong>sejamos polemizar o assunto.<br />

O Senhor Jesus instituiu duas or<strong>de</strong>nanças para seus seguidores: o batismo (“E disse-lhes: I<strong>de</strong> por todo<br />

0 mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será<br />

con<strong>de</strong>nado” - Marcos 16.15-16) e a Ceia (“ ...0 Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo<br />

dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória <strong>de</strong><br />

mim. Semelhantemente também, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no<br />

meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beber<strong>de</strong>s, em memória <strong>de</strong> mim” - 1 Coríntios 11.23-25). Essas duas<br />

cerimônias são <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nanças, visto que foram outorgadas pelo Senhor Jesus (Mateus 28.19).<br />

4.1 MOMENTOS PREPARATÓRIOS<br />

Somente <strong>de</strong>vem ser batizadas as pessoas que tiverem reconhecido sua natureza pecaminosa (que são<br />

pecadoras), tiverem se arrependido e aceitado Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador. Por ser um<br />

momento solene, antes da realização <strong>de</strong> tão importante ato, o ministro ensinará aos interessados as doutrinas<br />

centrais do cristianismo bíblico e histórico, bem como os costumes <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>nominação. Quando se verificar<br />

a conversão genuína do candidato, 0 passo seguinte é mostrar-lhe a necessida<strong>de</strong> do batismo em água. Aos que<br />

manifestarem o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se batizar, é salutar certificar-se quanto às suas convicções cristãs, para evitar batizar<br />

os que não <strong>de</strong>monstrem autêntica conversão.<br />

É indispensável que 0 ministro <strong>de</strong>monstre que 0 batismo gera compromissos com a:<br />

a) Igreja - como parte do corpo <strong>de</strong> Cristo, terá que trabalhar para o progresso da igreja; promover sua<br />

espiritualida<strong>de</strong>; manter-se firme nos cultos e contribuir com alegria (1 Coríntios 12.27-28; 15.58);<br />

b) No lar - viver uma vida <strong>de</strong> oração (1 Tessalonicenses 5.17); criar os filhos no temor do Senhor (Provérbios<br />

22.6); buscar a salvação dos familiares e <strong>de</strong> todos os pecadores (Mateus 28.19);<br />

c) No mundo - andar com prudência evitando a pecaminosida<strong>de</strong> e o que é reprovável (1 Tessalonicenses 5.22);<br />

ser justo em suas relações com as pessoas (Salmos 15.2-5); fiel nos compromissos (Romanos 13.8); evitar<br />

murmurações, fofocas e a ira (Filipenses 2.14).<br />

O ministro perguntará aos candidatos: “Concordam em assumir este compromisso?”. Havendo concordância,<br />

os candidatos são apresentados ao plenário da igreja para, após uma oração, serem submetidos às águas batismais.<br />

Nesse momento é dada a oportunida<strong>de</strong> aos candidatos para que possam testificar <strong>de</strong> sua fé no Senhor Jesus Cristo<br />

e ainda <strong>de</strong> manifestarem sua perseverança.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

183


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

4.2 O BATISMO<br />

No dia <strong>de</strong>terminado é celebrado um culto <strong>de</strong>vocional antes da cerimônia do batismo. Se 0 batismo for efetuado<br />

em águas correntes, é pru<strong>de</strong>nte que o oficiante conheça 0 local e tenha auxiliares à sua retaguarda para evitar<br />

perturbações à solenida<strong>de</strong>; se for efetuado no batistério (o que é muito comum), primeiramente <strong>de</strong>sce o oficiante,<br />

e se possível alguns auxiliares, para po<strong>de</strong>r ajudar os batizandos a entrarem no recinto, como também a saírem.<br />

O ministro dirá ao batizando, estando ambos nas águas: “Irmão (â)___________ (nome da pessoa), <strong>de</strong>vido a sua<br />

confissão pública, ao seu testemunho e à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nosso Senhor Jesus Cristo, eu o batizo em nome do Pai, do<br />

Filho e do Espírito Santo”. Nesse momento o batizando é inclinado para trás até ser submerso totalmente, com<br />

muita rapi<strong>de</strong>z, levantando-o logo para a posição em que se encontrava.<br />

4.3 COMPORTAMENTO<br />

Durante a realização do batismo, 0 ministério da igreja, juntamente com 0 oficiante, <strong>de</strong>ve acautelar-se quanto<br />

ao comportamento <strong>de</strong> alguns. Esta recomendação é feita para que um ato tão solene não se tome uma ocasião<br />

<strong>de</strong> escândalos ou gracejos. Para que todos os presentes saibam quem será batizado, é bom que todos estejam<br />

trajando vestes apropriadas para a ocasião. Recomendamos que sejam confeccionadas capas brancas para se<br />

sobreporem às vestimentas dos candidatos. A atenção maior <strong>de</strong>ve ser dada às irmãs, para que suas vestes sejam<br />

cobertas totalmente com a capa. Tudo para glória e honra do nome do Senhor.<br />

Se algum enfermo ou alguém com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se locomover <strong>de</strong>sejarem se batizar, é aconselhável que<br />

fiquem por último, por ser mais pru<strong>de</strong>nte e oportuno.<br />

‎84‎ו<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO ג IPRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

CEIA DO SENHOR<br />

A Ceia do Senhor é um momento <strong>de</strong> recordação, <strong>de</strong> reflexão do que o Senhor Jesus fez por nós ao morrer<br />

na cruz. Representa a mais sublime celebração da igreja, pois anuncia a restauração do relacionamento do ser<br />

humano com seu Criador por intermédio <strong>de</strong> Jesus Cristo. Foi instituída por Jesus para que seus discípulos em<br />

todas as partes, sempre que celebrarem, lembrem-se <strong>de</strong> seu sacrifício na cruz do Calvário: “ ...0 Senhor Jesus,<br />

na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo<br />

que é partido por vós; fazei isto em memória <strong>de</strong> mim. Semelhantemente também, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cear, tomou o cálice,<br />

dizendo: Este cálice é 0 Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beber<strong>de</strong>s, em memória<br />

<strong>de</strong> mim. Porque, todas as vezes que comer<strong>de</strong>s este pão e beber<strong>de</strong>s este cálice, anunciais a morte do Senhor, até<br />

que venha” (1 Coríntios 11.23-26).<br />

Em geral, nas igrejas evangélicas a Ceia do Senhor é servida mensalmente; em alguns lugares é celebrada<br />

semanalmente, e há os que a celebram somente uma vez por ano. E importante que os membros entendam que só<br />

<strong>de</strong>ve participar da mesa do Senhor aquele que estiver em comunhão com o corpo <strong>de</strong> Cristo, que é a Igreja.<br />

PASSOS PARA O OFÍCIO<br />

5.1 ORAÇÃO<br />

O culto da Ceia do Senhor é impar, e toda reverência é indispensável. Assim que os membros forem chegando<br />

ao recinto on<strong>de</strong> será celebrada, necessariamente por-se-ão <strong>de</strong> joelhos e orarão a Deus; se porventura houverem<br />

cometido alguma falta, é 0 momento oportuno para reconciliação.<br />

5.2 SAUDAÇÃO<br />

Cumprimentam-se os irmãos com a saudação <strong>de</strong> costume da igreja: “A paz do Senhor”, “graça e paz” etc., e<br />

em seguida faz-se uma oração com toda congregação para dar início ao culto da Ceia do Senhor.<br />

5.3 CÂNTICOS<br />

O ministro entoará alguns cânticos espirituais acompanhado <strong>de</strong> instrumentos musicais juntamente com os<br />

presentes. Depois <strong>de</strong> alguns cânticos é feita a leitura introdutória, <strong>de</strong> forma responsiva, concluindo com uma<br />

oração coletiva. Depois da leitura po<strong>de</strong>-se dar oportunida<strong>de</strong> a um ou outro conjunto da igreja para louvar a<br />

Deus com um hino. Lembre-se <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista que a ênfase maior nesse dia <strong>de</strong>ve estar na<br />

ministração da Palavra e na celebração da Ceia.<br />

5.4 MINISTRAÇÃO DA PALAVRA<br />

Tanto 0 ministro como alguém escolhido por ele po<strong>de</strong> ministrar a Palavra <strong>de</strong> Deus aos fiéis num período<br />

razoável entre 20 e 30 minutos. Depois da exposição da Palavra, em algumas igrejas têm-se o hábito <strong>de</strong> lavar as<br />

mãos para partir 0 pão; em outras com um pano envolto no pão servem os membros.<br />

5.5 A CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR<br />

Antes <strong>de</strong> servir os elementos da Ceia, é feita a leitura bíblica <strong>de</strong> um dos textos das Escrituras que fale do<br />

ato: Mateus 26.26, Marcos 14.22-26, Lc 22:14-20; 1 Coríntios 11.23-32 etc. Após a leitura é conveniente uma<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

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MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

breve explanação sobre o ato, conscientizando sobre a importância <strong>de</strong> participar da Ceia. O pão e 0 vinho são<br />

consagrados por meio <strong>de</strong> uma oração e passam a ser símbolos do corpo e do sangue do Senhor. Depois da oração<br />

o pão é partido.<br />

5.6 DISTRIBUIÇÃO DOS ELEMENTOS<br />

Depois da consagração, os diáconos servem aos participantes primeiramente o pão. Em algumas igrejas o<br />

pão é imediatamente ingerido, enquanto em outras todos aguardam para que possam fazê-lo juntos. Durante a<br />

distribuição do pão po<strong>de</strong>m-se ouvir louvores. E <strong>de</strong> fundamental importância que 0 diácono ou a diaconisa diga<br />

na hora da entrega: “Este é o corpo <strong>de</strong> Cristo que foi partido por vós, tomai <strong>de</strong>le e comei”. Depois <strong>de</strong> distribuído<br />

0 primeiro elemento, o oficiante perguntará se alguém ficou sem participar. Logo que todo o corpo da igreja for<br />

servido, os diáconos serão servidos pelos presbíteros e estes pelo pastor ou oficiante da igreja.<br />

Depois <strong>de</strong>ste ato, será feita a consagração do cálice, que representa 0 sangue <strong>de</strong> Cristo, por meio <strong>de</strong> uma<br />

oração. Depois <strong>de</strong>sta, o oficiante entregará as ban<strong>de</strong>jas ao corpo diaconal, que distribuirá a toda a igreja. Depois<br />

que todos forem servidos, far-se-á a pergunta: “Alguém ficou sem participar?”. Então, o corpo diaconal será<br />

servido pelas mãos dos presbíteros e estes pelo pastor ou oficiante.<br />

5.7 ORAÇÃO<br />

Concluída a distribuição dos elementos, toda a congregação elevará sua voz em oração para agra<strong>de</strong>cer a Deus<br />

por ter concedido participar <strong>de</strong> momento tão significante. Essa oração <strong>de</strong>ve ser breve e objetiva.<br />

5.8 LOUVOR<br />

Algumas igrejas encerram a celebração da Ceia do Senhor logo após a oração, outras ainda cantam um louvor,<br />

e nesta oportunida<strong>de</strong> recolhem os dízimos e as ofertas. Em ambos os casos, é bom que não se faça qualquer outra<br />

coisa no culto, a fim <strong>de</strong> manter os bons momentos vividos durante a celebração.<br />

5.9 BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS<br />

Para concluir o culto da Ceia do Senhor, é edificante impetrar as bênçãos apostólicas: “A graça <strong>de</strong> nosso<br />

Senhor e Salvador Jesus Cristo, 0 amor <strong>de</strong> Deus e as consolações do Espírito Santo sejam com toda esta igreja,<br />

e todos respondam: Amém”.<br />

186<br />

CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO<br />

APRESENTAÇÃO<br />

DE CRIANCAS<br />

כ<br />

O ato <strong>de</strong> apresentar as crianças tem amparo bíblico, entretanto não é mandamento neotestamentário. Os<br />

ju<strong>de</strong>us tinham o hábito <strong>de</strong> apresentar as crianças ao Senhor no oitavo dia após o nascimento: “E, quando os oito<br />

dias foram cumpridos para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome <strong>de</strong> Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes<br />

<strong>de</strong> ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação, segundo a lei <strong>de</strong> Moisés, o levaram a Jerusalém, para o<br />

apresentarem ao Senhor (segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo macho primogênito será consagrado<br />

ao Senhor) e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: um par <strong>de</strong> rolas ou dois pombinhos”<br />

(Lucas 2.21-24).<br />

Não se trata <strong>de</strong> batismo em água, e sim uma apresentação da criança a Deus, uma maneira <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento<br />

e ao mesmo tempo <strong>de</strong> fé, on<strong>de</strong> se suplica a bênção divina. O oficiante do ato <strong>de</strong>ve ser o pastor da igreja; no seu<br />

impedimento, o obreiro que imediatamente respon<strong>de</strong> em seu lugar.<br />

Por se tratar <strong>de</strong> uma cerimônia simples, comumente é celebrada no final do culto, com uma oração específica,<br />

estando presentes os pais ou outros parentes próximos.<br />

6.1 CERIMÔNIA<br />

Os pais levarão a criança à frente da congregação enquanto se entoa um hino <strong>de</strong> louvor a Deus ou corinho<br />

apropriado. E feita uma leitura bíblica <strong>de</strong> algum texto das Escrituras Sagradas que esteja relacionado com o ato,<br />

explicando em breves palavras o sentido da apresentação (1 Samuel 1.20; Lucas 2.21; Marcos 10.13-16; Mateus<br />

19.13-15). O oficiante segurará a criança <strong>de</strong> maneira tema e segura. Com a igreja <strong>de</strong> pé, todos orarão suplicando<br />

as bênçãos <strong>de</strong> Deus para a criança bem como sobre seus familiares.<br />

Após a oração, o ministro entregará a criança à mãe, ou ao responsável, cumprimentando-a pela atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

apresentá-la ao Senhor.<br />

A cerimônia é bem simples, não havendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomá-la mais simples nem mais complexa.<br />

CURSO DE TEOLOGIA<br />

187


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

CULTO FÚNEBRE<br />

É a cerimônia que menos agrada ao oficiante, porém faz parte do ofício sacerdotal. Assim que o ministro<br />

receber a notícia do falecimento <strong>de</strong> um membro <strong>de</strong> sua igreja, <strong>de</strong>verá, na medida do possível, ir ao lar do falecido<br />

para prestar seus pêsames bem como manifestar auxílio espiritual aos parentes.<br />

Por se tratar <strong>de</strong> um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> emoção, <strong>de</strong>ve-se conhecer a vida pregressa do falecido para evitar<br />

pronunciamentos constrangedores. O culto fúnebre é um momento digno <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração, i<strong>de</strong>al para levar a um<br />

público heterogêneo a mensagem <strong>de</strong> esperança e salvação no Senhor Jesus Cristo. A mensagem <strong>de</strong>ve ser breve,<br />

simples, <strong>de</strong> fácil assimilação, sem per<strong>de</strong>r seu objetivo, que é consolar a família enlutada.<br />

7.1 CERIMÔNIA<br />

No local do sepultamento, inicia-se com uma oração, ressaltando a soberania <strong>de</strong> Deus e pedindo 0 consolo<br />

aos familiares nesse momento <strong>de</strong> separação. Em seguida, o ministro fará a leitura <strong>de</strong> um texto das Sagradas<br />

Escrituras i<strong>de</strong>al para o momento, usando, entre outros, alguns dos seguintes: Salmos 116.15; 1 Coríntios 15.39-<br />

55; 2 Coríntios 1.5-7; 5.1-10; 1 Tessalonicenses 4.13-18; Apocalipse 14.13. Se houver mais pessoas para falar,<br />

<strong>de</strong>ve-se levar em conta o fator tempo, portanto 0 oficiante <strong>de</strong>ve estabelecer um limite <strong>de</strong> tempo para cada um<br />

que se pronunciará.<br />

E salutar enfatizar o significado do ato, que, mesmo sendo <strong>de</strong> dor e tristeza pela separação do ente querido<br />

que partiu, é para recordar as promessas <strong>de</strong> Deus para os seus seguidores. Se 0 testemunho <strong>de</strong>ixado pela pessoa<br />

objeto do ato fúnebre foi um exemplo <strong>de</strong> fé e obediência à Palavra <strong>de</strong> Deus, 0 momento se toma propício para o<br />

ministro ressaltar as virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ser cristão.<br />

Os cânticos somente serão entoados com autorização dos familiares, jamais por iniciativa do oficiante ou <strong>de</strong><br />

pessoas alheias à família, para evitar qualquer constrangimento. Quando autorizado, <strong>de</strong>ve servir <strong>de</strong> consolo e<br />

conforto espiritual aos familiares. As vezes a família pe<strong>de</strong> que se cante algum hino favorito da pessoa falecida.<br />

Após 0 ato, o ministro fará mais uma oração, suplicando a Deus consolação para todos os familiares e<br />

agra<strong>de</strong>cendo o tempo em que o fiel servo <strong>de</strong> Deus cumpriu seu tempo na vida cristã. Ao findar a oração, o<br />

ministro dará por encerrado o culto fúnebre com os seguintes dizeres: “Está concluída a cerimônia e a condução<br />

do sepultamento fica a critério da família”.<br />

Algumas vezes o ministro é convidado para dar auxílio espiritual a uma família cujo falecido não é crente. Em<br />

tal situação, como não há 0 que se mencionar da vida do falecido, o momento se toma apropriado para ressaltar a<br />

importância <strong>de</strong> se viver preparado para o instante do chamamento à eternida<strong>de</strong>. Aqui sim a ocasião é evangelística<br />

no sentido exato do termo. Deve-se ter 0 cuidado <strong>de</strong> não fazer alusões à vida do falecido concernentes à salvação<br />

(se foi ou não salvo); Deus é quem julgará a todos.<br />

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CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I PRÁTICAS UTÚRGICAS<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Bíblia do ministro com concordância. São Paulo: Vida, 2002.<br />

OLIVEIRA, Temóteo Ramos <strong>de</strong>. Manual do ministro. 4. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: CPAD, 1990.<br />

SILVA, Osmar José da. Liturgia: rituais, símbolos, cerimônias, doutrinas, costumes e histórias. São Paulo,<br />

2000.<br />

CURSO DE TEOLOGIA 189<br />

E3


faculda<strong>de</strong> teológica betesda<br />

Moldando vocacionados<br />

AVALIAÇÃO - MODULO <strong>II</strong><br />

PRÁTICAS LITÚRGICAS<br />

1) O culto <strong>de</strong>senvolve a comunhão <strong>de</strong> pessoas, que se reúnem em um <strong>de</strong>terminado lugar,<br />

com quais fins comuns?<br />

2) Quais são os regimes <strong>de</strong> bens adotados do direito brasileiro?<br />

3) Quais são as duas or<strong>de</strong>nanças instituídas pelo Senhor Jesus aos seus seguidores?<br />

4) Porque a ceia do Senhor representa a mais sublime celebração da igreja cristã?<br />

5) Faça um breve comentário sobre a liturgia do culto da sua igreja.<br />

CARO(a) ALUNO(a):<br />

Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las<br />

folha <strong>de</strong> papel sulfite, sendo objetívo(a) e daro(a).<br />

CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP

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