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Consciente_Janeiro2017

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O facto de percebermos ainda pouco dos<br />

mecanismos que levam ao desenvolvimento de<br />

alguns síndromes de dor crónica torna mais<br />

complicada a sua gestão medicamentosa, por um<br />

lado pela falta de conhecimento sobre as suas<br />

causas e, por outro, pelos efeitos secundários que<br />

a grande maioria destes medicamentos<br />

despoletam numa situação de uso continuado. Por<br />

estas razões, e com a ligação entre a perceção de<br />

dor e todo o aparelho psicológico do ser humano<br />

clara, o uso da psicologia na gestão da dor crónica<br />

é cada vez mais frequente, existindo na maioria<br />

dos grandes hospitais pelo mundo departamentos<br />

multidisciplinares de gestão da dor com recursos a<br />

técnicas psicoterapêuticas. Mas como é que a<br />

psicologia pode ajudar? É a dor, como indica a<br />

comum expressão, realmente psicológica?<br />

Que variáveis psicológicas afetam a perceção da dor?<br />

Diversas variáveis têm influência na perceção da<br />

dor, desde funções cognitivas (como a atenção e a<br />

memória) até a variáveis psicossociais<br />

(expectativas relativa à dor e aprendizagem por<br />

modelação do comportamento de outos). A<br />

perceção da dor, mesmo quando esta é aguda, é<br />

em grande parte dependente do contexto em que<br />

esta ocorre. Em estudos laboratoriais de dor<br />

experimental levados a cabo por Sternbach e<br />

publicados sobre o nome de ‘Dor. Uma análise<br />

psicofisiológica’ em 1968, quando o contexto, o<br />

medo e a ansiedade, foi controlado, ambos o efeito<br />

placebo e a medicação são menos eficazes. Estes<br />

resultados são explicados pelo facto de grande<br />

parte da utilidade de tanto o efeito placebo como<br />

da medicação, neste caso opioides, ser a própria<br />

redução do medo e da ansiedade associadas à<br />

experiência de dor. A forte ligação entre o nível de<br />

dor percebida e, tal como foi indicado<br />

anteriormente, o contexto - o estado<br />

psicofisiológico do individuo – oferece pistas para<br />

o já referido papel das diversas psicoterapias no<br />

aumento da qualidade de vida daqueles que<br />

sofrem de dor crónica. Para além do contexto, a<br />

atenção também influencia a experiencia de dor.<br />

Quando nos focamos na dor, esta torna-se mais<br />

percetível. Pacientes com preocupações<br />

hipocondríacas, que são hipervigilantes em relação<br />

a sensações corporais, podem aumentar estas ao<br />

ponto de criaram ou aumentarem o nível de dor.<br />

Outras variáveis psicossociais, como as crenças<br />

sobre a dor, as estratégias de coping, o sentimento<br />

de autoeficácia e a tendência para “catastrofizar”,<br />

têm também impacte na perceção da dor e na<br />

medida em que a dor tem uma influência negativa<br />

na vida dos indivíduos. A consciência destes<br />

fatores é claramente de significância para casos de<br />

dor crónica, sendo que oferecem tanto a terapeutas<br />

como a pacientes um ponto de partida para<br />

começar a trabalhar a dor sem necessidade de<br />

conhecer as possíveis causas fisiológicas desta.<br />

Pacientes com dor crónica mostram, com<br />

frequência, problemas com as dimensões<br />

psicológica e emocional da dor que foram<br />

discutidas anteriormente. De facto, fatores<br />

psicológicos preexistentes podem constituir uma<br />

vulnerabilidade ao desenvolvimento de dor<br />

crónica. O investigador Compton com os seus<br />

colaboradores, num estudo sobre a prevalência de<br />

adição em pacientes com dor crónica levado a<br />

cabo em 1998, (cont..)<br />

38 CONSCIENTE Janeiro

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