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Consciente_Janeiro2017

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O<br />

cérebro humano, no seu<br />

funcionamento natural, está<br />

sintonizado para prestar atenção à<br />

dor. É o sistema límbico, onde as<br />

emoções são em grande parte processadas, que<br />

modula a dor experienciada pelo individuo para<br />

cada estimulo nocivo. No seguimento de estudos<br />

publicados em 1991, com o objetivo de criar um<br />

modelo neurobiológico da depressão e da dor,<br />

Howard Fields mostrou que em pacientes com<br />

cancro é possível bloquear completamente a<br />

componente afetiva da dor através de uma cirurgia<br />

que retira parte do lobo cerebral frontal. Estes<br />

pacientes continuavam a registar dor severa, no<br />

entanto, essa dor não era incómoda. Estas<br />

descobertas ajudam a conceber a dor como um<br />

sinal com uma utilidade de alerta para algo de<br />

errado, sendo que apenas quando chega ao sistema<br />

límbico, o chamado cérebro emocional, se torna na<br />

experiência que reconhecemos como dor. Este<br />

alerta para a possibilidade de perigo para o<br />

organismo é útil na grande maioria das vezes,<br />

permitindo-nos usar este mecanismo na<br />

manutenção de ambas a nossa sobrevivência e<br />

saúde. Mas não é difícil lembrarmo-nos de um<br />

momento em que nos magoámos e a dor<br />

continuou, tendo servido o seu propósito de aviso<br />

mas permanecendo para lá da sua utilidade. A<br />

plasticidade do cérebro, igualmente fascinante no<br />

seu papel na resiliência humana e na quase<br />

imensurável capacidade de aprendizagem da<br />

espécie, tem um importante papel nesta possível<br />

permanência, aparentemente inútil, da dor. É esta<br />

plasticidade do sistema nervoso que contribui, em<br />

conjunto com alterações do seu funcionamento<br />

não totalmente percebidas, para a continuação de<br />

um sinal de dor durante o que podem ser meses ou<br />

anos após a sua utilidade. Quando a dor se estende<br />

por um período superior a seis meses, esteja ou<br />

não presente uma causa fisiológica subjacente,<br />

passa a ser considerado o diagnóstico de dor<br />

crónica. (cont..)<br />

Janeiro CONSCIENTE 37

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