Consciente_Janeiro2017
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‘Não se diagnostica um esquizofrénico<br />
como tal com base em pressupostos<br />
comuns com os quais ajuizamos no dia-adia’<br />
O bom profissional tem que ser procurado. O<br />
estudioso e humano. O que olha e vê, o que ouve e<br />
escuta, não o que julga que pensa e estuda. O bom<br />
acompanhamento da esquizofrenia vai ditar o<br />
futuro do homem ou da mulher a qual se suspeita<br />
da doença. Ainda no século passado, os<br />
esquizofrénicos estavam condenados às paredes de<br />
uma enfermaria e ao isolamento, com colete de<br />
forças ou eletrochoques. Escandalosamente mal<br />
tratados, sob um poder médico que continua a<br />
achar que detêm o poder sobre a saude mental dos<br />
seus semelhantes, a esquizofrenia, continua a ser<br />
um fenómeno para ditos estudiosos e cientistas<br />
acharem que estão a molestar ratos de laboratório.<br />
Lobotomias, torturas e mordaças de diversas<br />
naturezas, os esquizofrénicos ainda estão sob a<br />
alçada do aprisionamento. Se outrora era fisico,<br />
agora é psicofármaco. E não duvidamos que o DSM,<br />
o ‘grande’ manual do médico e que serve para<br />
diagnosticar rapidamente um doente mental, serve<br />
as grandes industrias farmacêuticas. A relação e o<br />
pensamento, não são cadeira na faculdade, não são<br />
cadeira em consultório e duvidamos que sejam nas<br />
suas próprias vidas. Mesmo em respeito por<br />
aqueles que vão além esta barreira económica ou a<br />
tentação comum da falta de seriedade, continuamos<br />
a defender, que a compreensão da esquizofrenia<br />
cabe, exclusivamente à ciência, da compreensão da<br />
psicologia pois só pela compreensão se pode<br />
identificar, se pode diagnosticar. Na esquizofrenia<br />
há produção intensa de pensamentos surreais. As<br />
alucinações e os delírios são os sintomas que mais<br />
se impôem. O tema da perseguição, é um dos temas<br />
delirantes mais comuns tambem na estrutura<br />
psicótica, que é a esquizofrenia. Num dos casos<br />
mais conhecidos em psicanálise, originalmente<br />
analisado por Sigmund Freud, Dr. Schreber, Juiz<br />
brilhante, homem católico, era um homem que<br />
viveu uma vida atormentado pelos seus delírios. Por<br />
várias vezes, se afirmou perseguido por Deus.<br />
Sentia-se e vivia realmente, no seu afeto e dor<br />
psíquica, sem estômago e sem laringe. Esta última,<br />
ele própria, como dizia, tinha-a comido. Entre uma<br />
vida dedicada à uma carreira brilhante na<br />
magistratura e ao serviço de um tribunal, Daniel<br />
Paul Schreber, achava-se numa missão que lhe<br />
tinha sido confiada por Deus. Tinha que se<br />
transformar em mulher e criar uma nova raça para<br />
assim salvar a humanidade. Tambem era<br />
perseguido por pássaros que estavam enchertados<br />
em cadáveres de peixes. Neste mundo vivo e morto,<br />
num emaranhado que era a característica do seu<br />
mundo, vivia o juíz. Faleceu num manicónio.<br />
Janeiro CONSCIENTE 15