Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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principais artérias de circulação de pessoas e mercadorias, tendo sido<br />
responsáveis pelo aumento populacional <strong>da</strong> região central do Brasil.<br />
Essas trilhas de desbravamentos, que sofreram um refluxo de<br />
trânsito devido à decadência do ouro,passaram a ser utiliza<strong>da</strong>s para a<br />
fuga de pessoas escraviza<strong>da</strong>s. Estas, em busca <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de se arriscaram<br />
em regiões ain<strong>da</strong> não explora<strong>da</strong>s, a não ser por indígenas, e constituíram<br />
seus refúgios em áreas de difícil acesso de modo a sentirem-se seguras<br />
quanto às punições promovi<strong>da</strong>s pelo regime colonialista aos chamados<br />
negros “rebelados”.<br />
Na página seguinte é apresentado o mapa <strong>da</strong> região com<br />
destaque para o percurso dos negros e a consequente formação de uma<br />
significativa rede de kilombos. De um lado, vindos <strong>da</strong> Bahia, <strong>negra</strong>s e<br />
negros se concentraram na região de Arraias, muitos dos quais por lá<br />
ficaram, em função <strong>da</strong> existência de garimpos. Outros seguiram para<br />
o Sul, descendo em direção ao Planalto Central. Essa transumância foi<br />
responsável pelo estabelecimento dos kilombos <strong>da</strong> região Kalunga,<br />
bem como outras comuni<strong>da</strong>des no caminho até o kilombo de Mesquita.<br />
O Mesquita também foi alcançado pelos negros vindos de Minas Gerais,<br />
cujo trajeto em direção ao Norte suscitou a formação de kilombos desde<br />
a região do atual município de Cromínia (antiga Santa Cruz), Piracanjuba<br />
e Professor Jamil. (Ver mapa na página seguinte).<br />
Não se pode olvi<strong>da</strong>r, portanto, a relevância <strong>da</strong> fuga de <strong>negra</strong>s e negros<br />
<strong>da</strong> própria região, <strong>sobre</strong>tudo <strong>da</strong>s áreas de concentração de garimpo,<br />
que fin<strong>da</strong>vam por engrossar as hostes quilombolas. Nesse contexto,<br />
tomaram-se como referência três grandes garimpos dos anos 1700<br />
em torno dos quais proliferaram vilas e kilombos: o grande garimpo de<br />
Arraias em Tocantins, o garimpo Santa Cruz de Goiás, ao sul do Estado<br />
de Goiás, e o Arraial de Santa Luzia, mais especificamente em terras do<br />
Kilombo Mesquita, atualmente no município de Ci<strong>da</strong>de Ocidental. Estes<br />
três pontos focais orientaram o trabalho <strong>sobre</strong> a história <strong>da</strong>s populações<br />
<strong>negra</strong>s quilombolas que, posiciona<strong>da</strong>s às margens de um extenso caminho,<br />
atravessa o Distrito Federal cumprindo um percurso de 682 Km,<br />
conforme pode ser visualizado no mapa <strong>da</strong> página anterior.<br />
As histórias conta<strong>da</strong>s e que passaram de geração a geração no<br />
âmbito dessas comuni<strong>da</strong>des serviram como referenciais no estabelecimento<br />
<strong>da</strong> quilombi<strong>da</strong>de, ou seja, linhagem e perfil cultural, dos que<br />
perfizeram o trajeto para as terras de Goiás em busca de sua liber<strong>da</strong>de.<br />
Saindo <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> Bahia e também de Minas Gerais, atravessando o<br />
sertão em direção ao interior as <strong>negra</strong>s e os negros foram criando assentamentos<br />
que se tornaram kilombos. Outros pontos de convergência<br />
associaram a população <strong>negra</strong> a outras culturas — <strong>sobre</strong>tudo indígenas<br />
e, mais tarde, brancas — fazendo surgir novos pólos urbanos. É o caso,<br />
por exemplo, de algumas ci<strong>da</strong>des históricas surgi<strong>da</strong>s em diferentes épocas<br />
no mesmo trajeto desenhado pelas comuni<strong>da</strong>des quilombolas.<br />
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