Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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Outros kilombos de maior porte se desenvolveram e ganharam<br />
amplitude no planalto goiano no Século XIX. Na região de Goiás e, hoje,<br />
Tocantins, foram identifica<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des quilombolas nas cercanias<br />
dos arraiais mineradores de São Félix, Nativi<strong>da</strong>de e Arraias, bem como<br />
dos Municípios de Peixe e Porto Nacional. Há ain<strong>da</strong> registros de kilombos<br />
na Região do Bico do Papagaio, entre os rios Araguaia e Tocantins, e<br />
mais ao Sul, nas cercanias de Cavalcante e Chapa<strong>da</strong> dos Veadeiros,.<br />
Na aqui chama<strong>da</strong> região do Entorno, podemos destacar as<br />
comuni<strong>da</strong>des Kalunga, situa<strong>da</strong>s nos municípios de Cavalcante, Monte<br />
Alegre e Teresina de Goiás; o kilombo dos Almei<strong>da</strong>s, de Silvânia; o<br />
Kilombo Moinho, de Alto Paraíso; O Kilombo Jardim Cascata, localizado<br />
em Apareci<strong>da</strong> de Goiânia; O Kilombo Flores Velhas, do município de<br />
Flores de Goiás; o Kilombo Mesquita, <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de Ocidental; o Kilombo<br />
Boa Nova, do município Professor Jamil; o Kilombo do Forte, de São<br />
João <strong>da</strong> Aliança; o Kilombo Sumidouro, de Padre Bernardo e o Kilombo<br />
Vó Rita, de Trin<strong>da</strong>de.<br />
Mais ao sul, na região do Triângulo Mineiro, o pesquisador Nelson<br />
Sarmento salientou a existência de kilombos como do Ambrósio, Tengo-<br />
Tengo ou Kilombo Grande; em Uberaba, o Kilombo <strong>da</strong> Farinha Podre;<br />
em Uberlândia, o Kilombo <strong>da</strong> Grunga (atual distrito de Cruzeiro dos<br />
Peixotos); na Serra Negra (Patrocínio), o Kilombo <strong>da</strong> Serra Negra, entre<br />
outros (Sarmento, 1990, p. 13).<br />
Não é exagero se traçar um panorama de Goiás no século XIX como<br />
um emaranhado de comuni<strong>da</strong>des quilombolas que se <strong>sobre</strong>punham à<br />
cartografia oficial <strong>da</strong>s vilas e arraiais. E a busca <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de também<br />
se deu sob formas alternativas àquela <strong>da</strong> fuga para os kilombos.<br />
Escraviza<strong>da</strong>s e escravizados se esforçavam para comprar sua alforria<br />
bem como a de outros negros. Mediante a adoção de estratégias<br />
diversas que iam do <strong>sobre</strong>trabalho e acordos com seus proprietários,<br />
até artifícios menos nobres como pequenos roubos, lograram obter de<br />
forma mais sistemática a liber<strong>da</strong>de.<br />
Em 1741, havia 120 alforriados e mulatos nas terras de Goiás, número<br />
que se elevou significativamente para 23.577 em 1804. (Palacin, op. Cit.<br />
P. 81). É importante assinalar que, de acordo com o recenseamento de<br />
1804, a população de Goiás era de cerca de 50 mil pessoas, sendo que<br />
pretos e pardos representavam 85,9% enquanto que os brancos eram<br />
apenas 14% do total.<br />
Outras alternativas à luta pela liber<strong>da</strong>de estavam relaciona<strong>da</strong>s,<br />
por exemplo, a depósitos em dinheiro feitos em bancos <strong>da</strong> época por<br />
escravizados (Grinberg, 2011). Um desses bancos, a Caixa Econômica<br />
Federal, tem registros de pelo menos 85 cadernetas de poupança de<br />
pessoas que pagaram pela própria alforria.<br />
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