08.09.2017 Views

Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade

  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Outras tantas situações de insegurança gera<strong>da</strong>s pela presença do<br />

elemento negro não mais escravizado suscitaram o recrudescimento <strong>da</strong><br />

repressão por parte do Estado, repressão esta que, inicialmente, fez-se<br />

abater <strong>sobre</strong> os quilombolas capturados pelos capitães do mato.<br />

Todos os negros que vierem dos tais quilombos, pela<br />

notorie<strong>da</strong>de do fato e sem estrépito de juízo, deve Vossa Mercê<br />

man<strong>da</strong>r logo açoitar na parte mais pública do arraial, com<br />

distinção porém que esta pena se executará em todos aqueles<br />

que voluntariamente foram buscar o quilombo, e não os<br />

moleques ou <strong>negra</strong>s que fossem leva<strong>da</strong>s violentamente para<br />

ele, por que a coação que lhe fizeram os alivia deste castigo.(...)<br />

Deus guarde a Vossa Mercê. Vila Boa, 20 de dezembro de 1949.<br />

(Fonte: Arquivo Histórico de Goiás AHG, Goiânia, Livro Especial -3, p. 49.<br />

Apud, Silva, op.cit. p. 440).<br />

Além <strong>da</strong>s insidiosas caça<strong>da</strong>s de quilombolas nos arrabaldes, coube<br />

às milícias chefia<strong>da</strong>s pelos capitães do mato o ataque e a repressão direta<br />

às próprias comuni<strong>da</strong>des quilombolas, nota<strong>da</strong>mente às de menor porte<br />

e localiza<strong>da</strong>s nas proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s áreas urbanas. Desse modo, a partir<br />

do segundo quartel do século XIX, institucionalizou-se uma <strong>ver<strong>da</strong>de</strong>ira<br />

guerra aos kilombos. Os capitães do mato e suas milícias eram pagos em<br />

função do número de <strong>negra</strong>s e negros abatidos.<br />

O capitão-mor Bartolomeu Bueno do Prado, neto de Anhanguera,<br />

enfrentou com seus homens em 1751 “(...) um quase reino de pretos<br />

foragidos, que ocupavam a campanha desde o rio <strong>da</strong>s Mortes até o Grande,<br />

que se atravessava na estra<strong>da</strong> de S. Paulo para Goyases (...)”, trazendo<br />

como testemunho do sucesso de seu trabalho cerca de 3.900 pares de<br />

orelhas de quilombolas mortos. (Palacin, op. Cit. P. 81).<br />

A partir dessa investi<strong>da</strong> de Bueno do Prado, seguiram-se outras<br />

que, em nome <strong>da</strong> Coroa,tentaram pôr fim à malha de kilombos que<br />

se consoli<strong>da</strong>va na região. Essas duras reprimen<strong>da</strong>s dos genoci<strong>da</strong>s<br />

colonizadores, no entanto, não lograram seu intento. Os kilombos, como<br />

forma de organização <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s e dos os negros contrários à ordem<br />

escravocrata, jamais deixaram de se fazer presentes nas terras de Goiás.<br />

Essa resistência se deveu em grande medi<strong>da</strong> à reconstrução dos laços<br />

de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de linhagens africanas, que se fizeram presente em<br />

to<strong>da</strong> a história <strong>da</strong> colonização brasileira. Tal movimento, contrariava os<br />

43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!