Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade
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anco de Estado e com to<strong>da</strong>s as marcas <strong>da</strong> colonização.<br />
Essa história foi vasculha<strong>da</strong> junto aos remanescentes de kilombos.<br />
Ancora<strong>da</strong> no secular costume africano <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de,<br />
a memória <strong>negra</strong> se faz presente na fala <strong>da</strong>s pessoas mais velhas e na<br />
sua reprodução pelas mais jovens, nas lembranças dos tempos idos e na<br />
visão atual do processo de consoli<strong>da</strong>ção do kilombo e seus percalços: a<br />
per<strong>da</strong> do espaço territorial pela grilagem, compra, expulsão ou outras<br />
práticas ilegais, a violência física e moral contra os quilombolas, o assédio<br />
sexual de jovens e outras situações jamais conta<strong>da</strong>s pela história oficial.<br />
A memória <strong>negra</strong> vem assim se contrapor à história oficial,<br />
<strong>da</strong>ndo concretude ao protagonismo e emancipação do povo negro na<br />
reelaboração do seu passado. Esse encontro <strong>da</strong>s águas entre a memória<br />
<strong>negra</strong> e a memória branca forneceu um rico conjunto de informações<br />
que possibilitou e inspirou a consecução deste <strong>Relatório</strong>.<br />
1.2 A Análise documental<br />
Além <strong>da</strong> visita aos acervos existentes nas ci<strong>da</strong>des seleciona<strong>da</strong>s,<br />
também o Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF)e a Fun<strong>da</strong>ção<br />
Cultural Palmares (FCP), órgão do Ministério <strong>da</strong> Cultura, constituíram cenários<br />
<strong>da</strong> pesquisa. Lá foram obtidos importantes documentos <strong>sobre</strong> o<br />
Estado de Goiás e Distrito Federal.<br />
Face à exigui<strong>da</strong>de do tempo e à falta de condições logísticas, a metodologia<br />
adota<strong>da</strong> previa a coleta in loco de todos os documentos que<br />
pudessem ter informações de interesse do trabalho. Na impossibili<strong>da</strong>de de<br />
se realizar uma triagem mais rigorosa localmente, optou-se pela captação<br />
do maior volume de materiais para que a análise viesse a ser realiza<strong>da</strong> em<br />
Brasília. Assim, <strong>da</strong>s viagens às ci<strong>da</strong>des considera<strong>da</strong>s históricas bem como<br />
<strong>da</strong> visita ao ArPDF foram recolhidos milhares de documentos para análise.<br />
O trabalho de análise documental é muitas vezes penoso, assemelhando-se<br />
à garimpagem. São horas debruça<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> a leitura para<br />
que se encontre um ou dois documentos que possam interessar. Além<br />
do desafio de se li<strong>da</strong>r com uma grande quanti<strong>da</strong>de de material, há ain<strong>da</strong><br />
dificul<strong>da</strong>des referentes à própria leitura, seja pela má quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
imagem, pelo tipo de manuscrito ou mesmo em face <strong>da</strong>s expressões<br />
utiliza<strong>da</strong>s nos documentos à época e hoje em desuso.<br />
A tarefa exigiu assim a busca de um especialista que pudesse auxiliar<br />
a equipe nos trabalhos de análise documental. A Comissão entrou<br />
em contato com o Professor Doutor em História Deusdedith Alves Rocha<br />
Junior, especialista em análise de documentação antiga (paleografia),<br />
que se propôs a aju<strong>da</strong>r nos trabalhos de pesquisa. A avaliação geral<br />
ocorreu, porém, diante do volume do material a CVN/SBB e o especialista<br />
não tiveram tempo hábil para a realização de oficinas que levassem<br />
a um estudo aprofun<strong>da</strong>do. A CVN/SBB fez as traduções que conseguiu,<br />
<strong>da</strong>s quais as informações estão referi<strong>da</strong>s neste <strong>Relatório</strong>.<br />
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