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Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade

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época em que inúmeras comuni<strong>da</strong>des de fugitivos <strong>da</strong><br />

<strong>escravidão</strong> (e também índios e desertores militares), e depois<br />

aquelas com a migração dos libertos, se formaram. Não se<br />

trata de um passado imóvel, como aquilo que sobrou (posto<br />

nunca transformado) de um passado remoto. As comuni<strong>da</strong>des<br />

de fugitivos <strong>da</strong> <strong>escravidão</strong> produziram histórias complexas<br />

de ocupação agrária, criação de territórios, cultura material e<br />

imaterial próprias basea<strong>da</strong>s no parentesco e no uso e manejo<br />

coletivo <strong>da</strong> terra. O desenvolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des <strong>negra</strong>s<br />

contemporâneas é bastante complexo, com seus processos de<br />

identi<strong>da</strong>de e luta por ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia (GOMES, 2015, p. 07).<br />

Muito diferente do que o imaginário supremacista historiográfico<br />

branco gosta de imaginar, as mulheres e os homens que vieram do<br />

continente africano para o americano não se reduzem à força de trabalho<br />

que sustentou e sustenta o projeto colonialista e suas heranças atuais. Estes<br />

indivíduos que cruzaram o Atlântico em inúmeras levas de migração força<strong>da</strong><br />

ao longo de quatro séculos, também civilizaram a América, juntamente<br />

aos povos chamados indígenas, e com estes últimos, foram pioneiros<br />

na a<strong>da</strong>ptação e ressignificação de ciências alimentares, linguísticas,<br />

medicinais, filosóficas. Não só ergueram a ci<strong>da</strong>de colonial com a força física,<br />

como constituíram o projeto de socie<strong>da</strong>de que estava em marcha com os<br />

conhecimentos que pra cá trouxeram, como foram os casos <strong>da</strong>s técnicas<br />

de encontro e manejo de metais e pedras preciosas; plantação em longa<br />

escala e criação de animais em território tropical, como afirma Costa e Silva,<br />

Gomes, entre outras autoras e autores.<br />

Além disso, em visita à Comissão em agosto de 2016, Aércio Van-Dúnem<br />

do Nascimento, descendente direto <strong>da</strong> rainha angolana Nzinga Mbandi,<br />

reiterou que o termo kilombo teve origem com as histórias de lutas <strong>da</strong>s<br />

nações angolanas contra o tráfico de pessoas nos anos 1600, significando<br />

espaços de refúgio, de uni<strong>da</strong>de comunitária e de resistência.<br />

Assim, a Estra<strong>da</strong> Real, caminho do ouro até os portos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de Rio<br />

de Janeiro/RJ e Parati/RJ, também foi trafega<strong>da</strong> por <strong>negra</strong>s e negros que<br />

se libertaram do jugo escravista e que buscavam abrigo nas regiões mais<br />

distantes. A outra rota quilombola vinha <strong>da</strong> Bahia, fazendo de Goiás ponto de<br />

encontro <strong>da</strong>queles que buscavam experiências de liber<strong>da</strong>de.<br />

Na história do povoamento <strong>da</strong> região destaca-se o surgimento e a<br />

consoli<strong>da</strong>ção dos kilombos e sua resistência às investi<strong>da</strong>s do poder colonial,<br />

razão pela qual essas comuni<strong>da</strong>des ganharam protagonismo e relevância<br />

no trabalho de recuperação histórica. Em outras palavras, a perspectiva<br />

metodológica aqui adota<strong>da</strong> privilegia essas histórias. A região do DF e<br />

Entorno foi e é essencialmente caracteriza<strong>da</strong> pela grande presença de<br />

povos quilombolas e indígenas. Como tal, deve ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong> com base no<br />

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