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Relatório Final - A verdade sobre a escravidão negra - Comissão da Verdade

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Os povos negros estão nos piores lugares <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e o Estado<br />

brasileiro tem funcionado como uma máquina de legitimação do poder dos<br />

brancos e ricos. Neste sentido, fala-se em Estado racista e genoci<strong>da</strong>. Estado<br />

que, ao longo dos regimes políticos do Brasil — Colônia, Império e República<br />

— sofisticou as estratégias de extermínio <strong>da</strong>s populações africanas e afrobrasileiras.<br />

Escravização, criminalização cultural e religiosa, cristianização,<br />

incentivo à miscigenação e construção de políticas públicas discriminatórias<br />

fizeram parte deste projeto. Lembremos <strong>da</strong> abertura do país aos novos<br />

colonizadores do século XX — os imigrantes europeus que “limpariam a raça”<br />

brasileira. Ações que reforçaram a racialização <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e a exclusão <strong>da</strong><br />

população <strong>negra</strong> do projeto de socie<strong>da</strong>de ideal. O redesenho <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s<br />

ci<strong>da</strong>des modernas revelou a exclusão dos corpos negros de tais modelos;<br />

o epistemicídio; exclusão <strong>da</strong>s história, memórias e conhecimentos dos<br />

povos negros do espaço oficial escolar; perseguição e desestruturação <strong>da</strong>s<br />

comuni<strong>da</strong>des <strong>negra</strong>s rurais.<br />

Embora o legado perverso <strong>da</strong> <strong>escravidão</strong> esteja inscrito em to<strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de brasileira, neste relatório optamos por direcionar a pesquisa para<br />

comuni<strong>da</strong>des quilombolas.<br />

A partir <strong>da</strong> assinatura <strong>da</strong> Lei Áurea, no dia 13 de maio de 1888, muito<br />

se falou <strong>sobre</strong> o colonialismo sob a ótica <strong>da</strong> política e do desenvolvimento<br />

econômico, de modo que os aspectos sociais e dos Direitos Humanos<br />

foram estrategicamente esquecidos, <strong>sobre</strong>tudo quando referentes à<br />

população <strong>negra</strong>.<br />

Durante esse período <strong>da</strong> “libertação” <strong>da</strong>s pessoas escraviza<strong>da</strong>s, o<br />

histórico <strong>da</strong>s famílias de <strong>negra</strong>s e negros que correspondem a 53,6% (IBGE,<br />

2014) <strong>da</strong> população brasileira foi ofuscado tendo sido, por um lado, <strong>sobre</strong>posto<br />

por interesses elitistas e, por outro, tratado como mito. Os resultados dessas<br />

atuações do Estado foram processos discriminatórios de raças, etnias e<br />

por níveis socioeconômicos, diversifica<strong>da</strong>s facetas de racismo (ambiental,<br />

cultural, institucional, etc), além de empecilhos ao desenvolvimento desses<br />

povos, por exemplo, no discurso contrário ao sistema de cotas.<br />

Com um objetivo de resgatar e registrar a versão não conta<strong>da</strong>, ou mal<br />

relata<strong>da</strong>, do escravagismo no Brasil instituiu-se a Comissão Nacional <strong>da</strong><br />

Ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Escravidão Negra do Brasil, vincula<strong>da</strong> ao Conselho Federal <strong>da</strong><br />

Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB). A partir de sua linha de pensamento<br />

foi cria<strong>da</strong> em Brasília comissão com o mesmo propósito, porém no âmbito<br />

do Distrito Federal (DF) e Entorno. Esta vertente, apoia<strong>da</strong> pelo Sindicato dos<br />

Bancários de Brasília, porém sem vínculo com a Ordem dos Advogados do<br />

Brasil/DF, tem como compromisso ratificar histórica e antropologicamente a<br />

<strong>ver<strong>da</strong>de</strong> <strong>sobre</strong> tal período, na região central do país.

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