Direto do balcão
Reunindo textos inéditos em livro publicados nos últimos vinte anos pelo autor em jornais e revistas, em Direto do balcão temos um Aldir Blanc que fala de bares (“O buteco é o último reduto das palavras”), de personagens (que vão de Alfredinho Bip-Bip, passando por Betinho, Paulo César Pinheiro, Wilson das Neves, Nei Lopes, Hermínio Bello de Carvalho e por aí vai), de política, de futebol, de música e da paixão de ser avô. Para Heloisa Seixas,que assina a quarta capa, “qualquer cientista social sério que queira entender a alma do Rio deveria estudar suas crônicas”. Nas crônicas de Direto do balcão, Heloisa continua, encontramos “um planeta de caos e beleza, lucidez e loucura, com seus personagens que resumem o universo – e que farão você se dobrar de rir. Tanto que, no fim, talvez lhe reste, no canto do olho, uma lágrima de ternura”. César Tartaglia, na orelha da obra, parece concordar: “divertido mesmo quando explode em indignação, e lírico mesmo quando faz saltar sua veia, Aldir mostra que é possível fazer bom jornalismo, em seu sentido mais amplo, sem perder a ternura”. Este Direto do balcão integra a coleção Aldir 70 — composta também por Rua dos Artistas e arredores, uma edição ampliada de Vila Isabel, inventário da infância, O gabinete do doutor Blanc: sobre jazz, literatura e outros improvisos e Porta de tinturaria.
Reunindo textos inéditos em livro publicados nos últimos vinte anos pelo autor em jornais e revistas, em Direto do balcão temos um Aldir Blanc que fala de bares (“O buteco é o último reduto das palavras”), de personagens (que vão de Alfredinho Bip-Bip, passando por Betinho, Paulo César Pinheiro, Wilson das Neves, Nei Lopes, Hermínio Bello de Carvalho e por aí vai), de política, de futebol, de música e da paixão de ser avô. Para Heloisa Seixas,que assina a quarta capa, “qualquer cientista social sério que queira entender a alma do Rio deveria estudar suas crônicas”.
Nas crônicas de Direto do balcão, Heloisa continua, encontramos “um planeta de caos e beleza, lucidez e loucura, com seus personagens que resumem o universo – e que farão você se dobrar de rir. Tanto que, no fim, talvez lhe reste, no canto do olho, uma lágrima de ternura”.
César Tartaglia, na orelha da obra, parece concordar: “divertido mesmo quando explode em indignação, e lírico mesmo quando faz saltar sua veia, Aldir mostra que é possível fazer bom jornalismo, em seu sentido mais amplo, sem perder a ternura”.
Este Direto do balcão integra a coleção Aldir 70 — composta também por Rua dos Artistas e arredores, uma edição ampliada de Vila Isabel, inventário da infância, O gabinete do doutor Blanc: sobre jazz, literatura e outros improvisos e Porta de tinturaria.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ALDIR BLANC<br />
<strong>Direto</strong> <strong>do</strong> <strong>balcão</strong><br />
AlDIr7
Quan<strong>do</strong> fala pela boca de seus personagens, Aldir<br />
Blanc é lírico, de um lirismo que, como sublinhou<br />
Jaguar, xamã <strong>do</strong> jeito carioca de ser, pode derivar<br />
para o escracho num bolt. E quan<strong>do</strong> o faz pela<br />
própria voz, o poeta da Tijuca parece um tanque de<br />
guerra com alma de passarinho. Luis Fernan<strong>do</strong><br />
Verissimo já fez uma espécie de leitura comparada<br />
entre o poema A Canção de Amor de J. Alfred<br />
Prufrock, de T. S. Eliot, e a letra de O bêba<strong>do</strong> e a<br />
equilibrista, duas genialidades. Antes de concluir<br />
que “em matéria de símiles insólitos, deu empate”,<br />
Verissimo acentuou: “Mas quan<strong>do</strong> o Aldir Blanc<br />
escreveu que a tarde caía feito um viaduto não<br />
estava sen<strong>do</strong> tão abstrato quanto Eliot”.<br />
São pistas para entender a alma de passarinho de<br />
Aldir. Há outras, como nas palavras de um amigo de<br />
sempre, o artista plástico Mello Menezes: “Sua<br />
inteligência é temperada por amizade, correção e<br />
criatividade”. Esse amálgama, que cimenta o<br />
caráter, a ética e a vida <strong>do</strong>s grandes homens, está<br />
presente em cada linha que sai da usina de<br />
criatividade <strong>do</strong> poeta. E em cada obra que dela flui.<br />
Se o lirismo se manifesta pelas estripulias de Ceceu<br />
Rico, de Simpatia-é-quase-Amor, da galera que<br />
habita a Rua <strong>do</strong>s Artistas e o la<strong>do</strong> correto <strong>do</strong> Túnel<br />
Rebouças, a voz tonitruante de Aldir reverbera a<br />
veia <strong>do</strong> Brasil que grita com indignação e raiva, mas<br />
também com amor e um sentimento de justiça cada<br />
vez mais raro neste Bananão (para usar a precisa<br />
expressão de Ivan Lessa).<br />
Esta última é a porção de Aldir pre<strong>do</strong>minante neste<br />
livro. Numa série de artigos, está aqui a essência de<br />
um jornalismo de guerrilha. Nele, não há uma única<br />
linha que não enobreça a imprensa — e, ao mesmo<br />
tempo, que não a confronte com o nanismo ético e<br />
profissional para o qual derivaram jornalões e<br />
revistões que optaram pela prática <strong>do</strong> antípoda<br />
jornalismo de guerra. Diverti<strong>do</strong> mesmo quan<strong>do</strong><br />
explode em indignação, e lírico mesmo quan<strong>do</strong> faz<br />
saltar sua veia, Aldir mostra que é possível fazer<br />
bom jornalismo, em seu senti<strong>do</strong> mais amplo, sem<br />
perder a ternura.<br />
CESAR TARTAGLIA
<strong>Direto</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>balcão</strong>
Copyright © Aldir Blanc.<br />
To<strong>do</strong>s os direitos desta edição reserva<strong>do</strong>s à MV Serviços e Editora Ltda.<br />
ILUSTRAÇÃO [ CAPA ]<br />
Allan Sieber<br />
REVISÃO<br />
Fal Vitiello de Azeve<strong>do</strong><br />
APOIO<br />
cip-brasil. catalogação na publicação<br />
sindicato nacional <strong>do</strong>s editores de livros, rj<br />
B571d<br />
Blanc, Aldir, 1946<br />
<strong>Direto</strong> <strong>do</strong> <strong>balcão</strong> / Aldir Blanc. — 1 ed. — Rio de Janeiro:<br />
Mórula, 2017.<br />
220 p. ; 21 cm. (Aldir 70 ; 5)<br />
ISBN 978-85-65679-64-0<br />
1. Humorismo brasileiro. I. Título.<br />
17-43444 CDD: 869.97<br />
CDU: 821.134.3(81)-7<br />
R. Teotônio Regadas, 26/904 — Lapa — Rio de Janeiro<br />
www.morula.com.br | contato@morula.com.br
Para a neta caçula Cecília, o bisneto Danilo,<br />
e para os que ainda virão, muitos...
SUMÁRIO<br />
11 ANTOLOGIA BIRITEIRA<br />
11 Uma pro seu Pereira<br />
13 Mala sem alça<br />
15 Crisma<br />
18 A divisão <strong>do</strong> Môa<br />
20 Bar, bares<br />
22 Buteco & Bloco<br />
24 Santa milagrosa<br />
28 Concórdia é isso aí<br />
30 O caso <strong>do</strong> batom<br />
32 Uma substância milagrosa<br />
34 Antologia biriteira<br />
37 Encanamentos problemáticos<br />
39 Lan-badas<br />
41 Faça o que eu digo...<br />
43 A volta <strong>do</strong> boêmio<br />
45 O psico-rebola<strong>do</strong><br />
47 O Bar <strong>do</strong> Pavão é nosso<br />
49 A perseguição ao Bip-Bip <strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong><br />
51 Ruas<br />
53 O culpa<strong>do</strong><br />
55 Buteco também é cultura<br />
57 Roteiros e tropeços<br />
59 Enquanto isso, no Bar K.
61 ARTISTAS DA RUA<br />
61 A medicina bate à porta<br />
63 Artistaço da rua<br />
65 Bip-Bip em foco<br />
68 O “pequeno” Alfredinho<br />
70 Betinho: 60 anos<br />
73 Betinho goza<strong>do</strong>r<br />
75 Neves botan<strong>do</strong> fogo<br />
77 Um homem da cor <strong>do</strong> Homem<br />
79 Ernesto Nazareth<br />
81 Paulinho “Galo” Pinheiro<br />
83 Escaramuça na fronteira<br />
85 O riso <strong>do</strong> Rio<br />
87 Último abraço cruz-maltino<br />
90 Marco Aurélio<br />
92 No ritmo <strong>do</strong> coração<br />
94 Deu no N. Y. Times<br />
96 Um brasileiro <strong>do</strong> carvalho<br />
99 A crista <strong>do</strong> galo<br />
102 Flores em vida para Wilson Moreira<br />
104 Cantoras <strong>do</strong>s anos 60<br />
105 Estrela, sempre<br />
107 O BARDO DA MUDA<br />
107 Autógrafos abibola<strong>do</strong>s<br />
109 Pelas barbas <strong>do</strong> profeta<br />
111 Búzios e o pássaro extinto<br />
113 Cura no ventila<strong>do</strong>r<br />
115 Fã clube<br />
117 Pincel caí<strong>do</strong><br />
119 Rio troca-troca
122 Comissão de Inquérito<br />
124 O efeito Leleco<br />
126 Caju inimigo<br />
128 Novos crimes pelo telefone<br />
130 Sou pequeno, mas a ilha é grande<br />
132 A verdade sobre a ida ao Jô<br />
135 BRAZUNDA<br />
135 Escândalos<br />
138 Não ajoelho<br />
140 Pressões mortíferas<br />
143 Bar da Maria Cultural<br />
145 O cabide e os círculos<br />
147 Governabilidade<br />
149 Parceria é pareceria<br />
151 Assassinos seriais<br />
153 Rajadas para Bento Calibre XVI<br />
156 Crimes e castigo<br />
158 Cagan<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> penico<br />
160 Olho por olho<br />
163 Nova Tróia<br />
166 O sócio-mala <strong>do</strong>s males<br />
168 O BAILE NÃO SEGUE<br />
CALMAMENTE<br />
168 Bloco <strong>do</strong> eu-sozinho<br />
170 Se mudar, estraga.<br />
173 Jacaré no Seco<br />
174 Blocos e Clowns<br />
175 Prêmios em busca <strong>do</strong> Tempo Perdi<strong>do</strong>
177 A 8ª ARTE EM PERIGO<br />
177 Cumplicidade no assassinato?<br />
179 Jogadas de efeito<br />
181 O volante-de-contenção<br />
183 Lembra <strong>do</strong> Rego?<br />
185 Paixão<br />
186 O PASSADO NO FUTURO<br />
186 Eu e a Ediouro<br />
188 O nosso “Pasca”<br />
191 O equívoco<br />
193 Banho de Netos<br />
195 Semelhança<br />
197 Crônicas <strong>do</strong> Vô Louco<br />
199 Da série “Crônicas <strong>do</strong> Vô Louco”<br />
201 Dois Vovôs Loucos<br />
204 Dentes de leite<br />
206 Gostar<br />
208 Belíssimo<br />
210 O vidro<br />
212 A flecha <strong>do</strong> tempo atinge o alvo<br />
215 s o b r e a s crô n ic a s
ANTOLOGIA BIRITEIRA<br />
Uma pro seu Pereira<br />
no meu tempo de garoto, cada buteco tinha seu Sumo Goza<strong>do</strong>r:<br />
Pentea<strong>do</strong>, no da esquina da Rua <strong>do</strong>s Artistas com Pereira Nunes;<br />
Paulo Amarelo, no Três Amigos; Esmeral<strong>do</strong> “Simpatia-é-quase-<br />
Amor”, perto <strong>do</strong> IAPI, na Penha; Bimbas, na Rua Camerino... Meu<br />
amigo Wilson Flora, o popular Baiano, acabou com essa tradição.<br />
Pontifica nuns 15 bundas-de-fora e é o mais brilhante gaiato neles<br />
to<strong>do</strong>s. Esse reca<strong>do</strong> vai pro Nordeste, direto ao coração paterno<br />
<strong>do</strong> Seu Antônio Pereira, pai da fera. Seu Pereira é desses cabras da<br />
peste capazes de lutar contra a <strong>do</strong>ença com um humor que a desmoraliza.<br />
Deve ser parente <strong>do</strong> Pau Pereira, uma bebida que tomei<br />
uma vez só, depois de um ensaio <strong>do</strong> Salgueiro, na mocidade, e fiquei<br />
24 horas em camisa de força. Baiano me pediu que dedicasse<br />
essas mal traçadas a Seu Pereira. Com muito prazer. Saiba, Seu<br />
Pereira, que apesar <strong>do</strong>s carros que seu filho me vendeu, continuo<br />
amigo dele. Sei que o senhor precisa de sossego e não vou lhe contar<br />
histórias de caixas de mudança cain<strong>do</strong> pelas ruas com mais<br />
rapidez que seu menino tira cueca em motel. Águas passadas. Já<br />
per<strong>do</strong>ei. A mais recente maluquice <strong>do</strong> seu sempre criativo herdeiro<br />
é a seguinte: o sujeito a<strong>do</strong>rava música sertaneja. Só andava de<br />
chapéu de caubói, cinto com fivela de chifre esculpida, botas de<br />
Tom Mix e violão atravessa<strong>do</strong> nas costas. Seu maior sonho era ser<br />
11
cantor popular, fazer showzão em rodeio, ganhar mulheres e discos<br />
de ouro, faturar posan<strong>do</strong> pra comerciais de tevê. Pegou a estrada,<br />
suou a camisa, apanhou muito, mas, um dia, o sucesso deu-lhe<br />
uma chifrada de boi barroso. Perto de Pirapora, num comício que<br />
celebrava a recente aliança, com fins eleitorais, entre FHC e uns líderes<br />
ruralistas mandantes de vários assassinatos na área, a famosa<br />
dupla Requeijão e Polenguinho faltou em cima da hora, devi<strong>do</strong> a<br />
defeito no carbura<strong>do</strong>r de um carro novo vendi<strong>do</strong> pelo Baiano. O<br />
aprendiz de cantor foi atira<strong>do</strong> diante daquele povo to<strong>do</strong>, pediu a<br />
ajuda de Nossa Senhora Aparecida e cuspiu, da própria lavra, a melô-dramática<br />
“Saiba, Ivete, que nem toda vedete faz boquete”, inspirada<br />
na vida pessoal lá dele, em 246 versos alexandrinos. Parecia<br />
uma dessas letras que eu faço pro Guinga. A plateia veio abaixo,<br />
inclusive com mortos e feri<strong>do</strong>s. O berrante foi leva<strong>do</strong> em triunfo<br />
nos ombros da multidão ao bar. O <strong>do</strong>no <strong>do</strong> estabelecimento lascou:<br />
— Pela pinta, já sei! Vai querer uma especial Bavária...<br />
Nosso herói ficou branco e implorou:<br />
— Por Nossa Senhora Aparecida, de jeito nenhum! Traz Skol,<br />
Kaiser, Schincariol, uma dessas bem merdas...<br />
Sua benção, Seu Pereira, que eu também sou um pouco seu filho.<br />
Coragem e fique com Deus.<br />
12
Mala sem alça<br />
encontrei baiano no bar da maria. De cabeça baixa, cerveja e conhaque<br />
na proa. Legal. Baiano é desses goza<strong>do</strong>res que produzem<br />
mais e melhor quan<strong>do</strong> estão de mau humor.<br />
— Já sei: barraco em casa. E, é claro, tua mulher está sen<strong>do</strong> injusta.<br />
— Acertou em cheio, Blanc. Só porque eu dei uma fugidinha<br />
numa boate nova onde as moças passam gel fosforescente na...<br />
— Baiano, estamos conversan<strong>do</strong> num jornal familiar.<br />
— Desculpe. Pra resumir, enchi a cara e cheguei, às oito da matina,<br />
to<strong>do</strong> lanha<strong>do</strong>.<br />
— Lanha<strong>do</strong>?!<br />
— É. Tinha um strip da Mulher Gato e eu improvisei com a toalha<br />
da mesa uma roupinha de Batman... Uma pena. O clima andava<br />
ótimo com a patroa e eu, sem querer, estraguei tu<strong>do</strong>.<br />
— Não vou discutir o sem querer. Deixa pra lá. Tá feia a coisa, é?<br />
— Blanc, eu, nos últimos tempos, andava o Rei <strong>do</strong> Lar, sen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong><br />
como o F... <strong>do</strong> Bairro Peixoto. Pisei na bola e agora an<strong>do</strong> receben<strong>do</strong><br />
estocadas dignas <strong>do</strong> Cauby Peixoto <strong>do</strong> Bairro F... Pra piorar,<br />
esse buteco anda insuportável. Com a globalização, to<strong>do</strong>s os bares<br />
da cidade foram invadi<strong>do</strong>s por uma figura de encher: o Layout,<br />
aquele Arrumandinho. É um chato de galocha. Chega, te abraça<br />
13
aperta<strong>do</strong>, ô meu queri<strong>do</strong>, beija a tua cara de um jeito meio babão,<br />
larga na tua roupa um perfume desgraça<strong>do</strong> e fala sem parar nas<br />
injustiças que o mun<strong>do</strong> comete diariamente com elezinho. É uma<br />
ladainha ambulante de queixas. Tem um ciúme <strong>do</strong>entio <strong>do</strong>s amigos,<br />
da mulher, <strong>do</strong>s desafetos, <strong>do</strong> time, <strong>do</strong> bonezinho, <strong>do</strong> cachorro,<br />
das latas de sardinha empilhadas em ordem no armário da cozinha<br />
(tá faltan<strong>do</strong> uma lata aqui!), <strong>do</strong> potinho de balas, da caixa de bombons<br />
trancada a sete chaves no armário (alguém pegou um bombom<br />
meu!). O Layout não admite nada fora <strong>do</strong> lugar determina<strong>do</strong><br />
por ele. É uma tremenda mala porque teme “o caos”. Ora, o caos,<br />
na verdade, se chama Caosby Peixoto, imita o cantor cita<strong>do</strong> acima,<br />
usa smoking <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> e o máximo em desordem que promoveu foi<br />
regravar sucessos da Jovem Guarda em ritmo de guarânia, tentan<strong>do</strong><br />
estourar no Paraguai. Detesta ver passarinho na goiabeira da<br />
mulher, mas a<strong>do</strong>ra saber que os amigos mais safos estão comen<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Parece coisa de síndico: segun<strong>do</strong> o estatuto <strong>do</strong> prédio,<br />
o amigo dele pode ter cachorro; a mulher, não. O Layout ouve o<br />
que quer. A<strong>do</strong>ra testar a coitada da cara-metade com babaquices<br />
<strong>do</strong> tipo “E se aparecer um negão desses de conjunto sambola, casa<br />
em Angra, dez carrões na garagem e te pedir pra refrescar? Se pintar<br />
a certeza que ninguém vai saber, rola ou não rola? Que qui tu<br />
diz?”. A mulher, farta, grita “Eu nego!”. E o Layout: “Ah, chama<br />
ele de meu nego, né, sua vadia?”. Sacou, Blanc? Ele finge que não<br />
quer, mas no fun<strong>do</strong>, no fun<strong>do</strong>, é o principal investi<strong>do</strong>r na carteira<br />
de ações <strong>do</strong>s próprios chifres.<br />
14
SOBRE AS CRÔNICAS<br />
uma pro seu pereira<br />
O Dia, 9 de julho de 1998<br />
mala sem alça<br />
O Dia, 6 de agosto de 1998<br />
crisma<br />
O Dia, 1 de fevereiro de 1995<br />
a divisão <strong>do</strong> môa<br />
O Dia, 5 de dezembro de 1996<br />
bar, bares<br />
O Dia, 3 de abril de 2002<br />
buteco & bloco<br />
Bundas, 4 de abril de 2000<br />
santa milagrosa<br />
Bundas, 21 de fevereiro de 2000<br />
concórdia é isso aí<br />
O Dia, 21 de dezembro de 1995<br />
o caso <strong>do</strong> batom<br />
O Dia, 24 de dezembro de 1997<br />
uma substância milagrosa<br />
O Dia, 5 de setembro de 1996<br />
antologia biriteira<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 6 de setembro de 2005<br />
encanamentos problemáticos<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 16 de agosto de 2005<br />
lan-badas<br />
O Dia, 26 de dezembro de 2000<br />
faça o que eu digo...<br />
O Dia, 6 de junho de 1996<br />
a volta <strong>do</strong> boêmio<br />
O Dia, 20 de junho de 1996<br />
o psico-rebola<strong>do</strong><br />
O Dia, 26 de setembro de 1996<br />
o bar <strong>do</strong> pavão é nosso<br />
O Dia, 22 de maio de 1997<br />
a perseguição ao bip-bip<br />
<strong>do</strong> alfre<strong>do</strong><br />
O Dia, 24 de julho de 1997<br />
ruas<br />
O Dia, 13 de março de 2001<br />
o culpa<strong>do</strong><br />
O Dia, 3 de outubro de 2001<br />
buteco também é cultura<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 15 de setembro de 2005<br />
roteiros e tropeços<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 28 de junho de 2015<br />
215
enquanto isso, no bar k.<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 18 de outubro de 2005<br />
a medicina bate à porta<br />
O Dia, 29 de agosto de 1996<br />
artistaço da rua<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 5 de junho de 2005<br />
bip-bip em foco<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 27 de setembro de 2005<br />
o “pequeno” alfredinho<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 22 de maio de 2005<br />
betinho: 60 anos<br />
O Dia, 2 de novembro de 1995<br />
betinho goza<strong>do</strong>r<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 9 de agosto de 2005<br />
neves botan<strong>do</strong> fogo<br />
O Dia, 6 de junho de 1996<br />
um homem da cor <strong>do</strong> homem<br />
O Dia, 11 de julho de 1996<br />
ernesto nazareth<br />
O Dia, 28 de janeiro de 1999<br />
paulinho “galo” pinheiro<br />
O Dia, 29 de abril de 1999<br />
escaramuça na fronteira<br />
O Dia, 15 de agosto de 1996<br />
o riso <strong>do</strong> rio<br />
O Dia, 23 de janeiro de 1998<br />
último abraço cruz-maltino<br />
O Dia, 21 de novembro de 1996<br />
marco aurélio<br />
O Dia, 25 de março de 1999<br />
no ritmo <strong>do</strong> coração<br />
O Dia, 10 de outubro de 1996<br />
deu no n. y. times<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 12 de maio de 2006<br />
um brasileiro <strong>do</strong> carvalho<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 30 de março de 2007<br />
a crista <strong>do</strong> galo<br />
Bundas, 31 de agosto de 1999<br />
flores em vida para<br />
wilson moreira<br />
O Dia, 6 de março de 1997<br />
cantoras <strong>do</strong>s anos 60<br />
O Dia, 28 de outubro de 1996<br />
estrela, sempre<br />
O Dia, 18 de maio de 2000<br />
autógrafos abibola<strong>do</strong>s<br />
O Dia, 14 de novembro de 1996<br />
pelas barbas <strong>do</strong> profeta<br />
O Dia, 2 de janeiro de 1997<br />
búzios e o pássaro extinto<br />
O Dia, 16 de janeiro de 1997<br />
cura no ventila<strong>do</strong>r<br />
O Dia, 10 de julho de 1997<br />
fã clube<br />
O Dia, 5 de abril de 2000<br />
pincel caí<strong>do</strong><br />
O Dia, 7 de dezembro de 1995<br />
rio troca-troca<br />
O Dia, 28 de setembro de 1995<br />
comissão de inquérito<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 21 de junho de 2005<br />
o efeito leleco<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 7 de julho de 2005<br />
caju inimigo<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 7 de julho de 2005<br />
216
novos crimes pelo telefone<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 28 de julho de 2005<br />
sou pequeno, mas a ilha<br />
é grande<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 8 de setembro de 2005<br />
a verdade sobre a ida ao jô<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 20 de outubro de 2006<br />
escândalos<br />
O Dia, 7 de dezembro de 1995<br />
não ajoelho<br />
O Dia, 9 de outubro de 2002<br />
pressões mortíferas<br />
O Dia, 4 de abril de 1996<br />
bar da maria cultural<br />
O Dia, 23 de abril de 1998<br />
o cabide e os círculos<br />
Bundas, 13 de julho de 1999<br />
governabilidade<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 31 de maio de 2005<br />
parceria é pareceria<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 9 de junho de 2005<br />
assassinos seriais<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 9 de outubro de 2005<br />
rajadas para bento calibre xvi<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 27 de abril de 2007<br />
crimes e castigo<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 28 de abril de 2006<br />
cagan<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> penico<br />
Bundas, 2 de maio de 2000<br />
olho por olho<br />
Bundas, 7 de dezembro de 1999<br />
nova tróia<br />
Bundas, 7 de setembro de 1999<br />
o sócio-mala <strong>do</strong>s males<br />
Bundas, 24 de fevereiro de 2000<br />
bloco <strong>do</strong> eu-sozinho<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 26 de fevereiro de 2006<br />
se mudar, estraga.<br />
O Dia, 8 de fevereiro de 1996<br />
jacaré no seco<br />
O Dia, 27 de fevereiro de 2001<br />
blocos e clowns<br />
O Dia, 8 de março de 2001<br />
prêmios em busca<br />
<strong>do</strong> tempo perdi<strong>do</strong><br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 7 de junho de 2005<br />
cumplicidade no assassinato?<br />
Bundas, 27 de junho de 2000<br />
jogadas de efeito<br />
O Dia, 18 de junho de 1998<br />
o volante-de-contenção<br />
O Dia, 18 de dezembro de 1997<br />
lembra <strong>do</strong> rego?<br />
O Dia, 12 de junho de 2002<br />
paixão<br />
O Dia, 1º de agosto de 2001<br />
eu e a ediouro<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 12 de março de 2006<br />
o nosso “pasca”<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 26 de março de 2006<br />
o equívoco<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 16 de março de 2007<br />
banho de netos<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 2 de junho de 2005<br />
semelhança<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 9 de março de 2007<br />
217
crônicas <strong>do</strong> vô louco<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 13 de outubro de 2005<br />
da série “crônicas <strong>do</strong> vô louco”<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 23 de outubro de 2005<br />
<strong>do</strong>is vovôs loucos<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 27 de novembro de 2005<br />
dentes de leite<br />
Bundas, 25 de janeiro de 2000<br />
gostar<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 22 de setembro de 2006<br />
belíssimo<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 1º de setembro de 2003<br />
o vidro<br />
Jornal <strong>do</strong> Brasil, 3 de agosto de 2007<br />
a flecha <strong>do</strong> tempo atinge o alvo<br />
Bundas, 8 de fevereiro de 2000<br />
218
Este livro foi composto em Acta e Tremen<strong>do</strong>us. Ele<br />
integra a coleção Aldir 70, em comemoração pelos 70<br />
anos de vida <strong>do</strong> escritor e compositor. Foi impresso em<br />
2017 pela gráfica Rotaplan em papel pólen bold 70g/m 2<br />
para o miolo e triplex 300g/m 2 para a capa.
ALDIR BLANC é compositor, escritor e médico psiquiatra<br />
por formação. O buteco (com U), a birita e a gozação são<br />
as bases de sua formação. E essa, garante, é a herança<br />
que deseja deixar para os netos e bisnetos: “morrer<br />
atiran<strong>do</strong>, não deixar o riso cair da boca”.<br />
Como cronista escreveu para os jornais O Dia, O Globo,<br />
O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, Jornal <strong>do</strong> Brasil, O Pasquim, Última<br />
Hora e para revistas como Bundas e Playboy. É autor,<br />
entre outros, de Rua <strong>do</strong>s Artistas e transversais (Agir,<br />
2006) e Brasil passa<strong>do</strong> a sujo (Geração Editorial, 1993).<br />
Na coleção Aldir 70 (Mórula Editorial) publicou Rua<br />
<strong>do</strong>s artistas e arre<strong>do</strong>res, Porta de Tinturaria, Vila<br />
Isabel, inventário da infância, O gabinete <strong>do</strong> Doutor<br />
Blanc: sobre jazz, literatura e outros improvisos e este<br />
<strong>Direto</strong> <strong>do</strong> <strong>balcão</strong>.
“O buteco é o último reduto das palavras. A palavra resiste na boca sem dentes,<br />
na saliva <strong>do</strong> bêba<strong>do</strong>, na ane<strong>do</strong>ta e no apeli<strong>do</strong>. Os bares não são apenas o que<br />
servem, mas a inesgotável dádiva de seus frequenta<strong>do</strong>res ao humor popular.”<br />
Aldir Blanc sabe o que diz. E qualquer cientista social sério que queira entender<br />
a alma <strong>do</strong> Rio deveria estudar suas crônicas.<br />
Neste <strong>Direto</strong> <strong>do</strong> <strong>balcão</strong>, Aldir vai falar de política, carnaval e futebol, e vai guiá-lo<br />
por um mun<strong>do</strong> paralelo, o <strong>do</strong>s botequins. Um planeta de caos e beleza, lucidez<br />
e loucura, com seus personagens que resumem o universo – e que farão você<br />
se <strong>do</strong>brar de rir.<br />
Tanto que, no fim, talvez lhe reste, no canto <strong>do</strong> olho, uma lágrima de ternura.<br />
HELOISA SEIXAS<br />
ISBN 978856567964-0<br />
9 78 8 5 6 5 6 7 9 6 4 0