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Liderança e Integridade

Livro sobre liderança com base na Fé cristã

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"Sonda-me ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e<br />

conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum<br />

caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno."<br />

Com bastante freqüência, somos inclinados a valorizar mais o que<br />

as pessoas possuem - suas ha bilidades, seu potencial - ou o que elas<br />

fazem - seu desempenho, suas rea lizações eoresultado do seu tr abalho.<br />

Raramente valorizamos o ou tr o simplesmente por aquilo que ele é<br />

- seu caráter, sua integridade.<br />

Quando se trata de alguém que está em po sição de liderança,<br />

apreciamos sua performance, sua influência, sua eloqüência, aquilo<br />

que está sempre àvista e enc he noss os olhos.<br />

O líder, por sua vez, geralmente se deixa levar por essa expectativa<br />

e busca justamente cer car-se de cuidados qu e impressionem<br />

positivamente as pessoas.<br />

Neste livro tremendamente prático, o autor não formula teorias,<br />

nem re corre ao desgastado esquema dos "passos para aprimorar sua<br />

liderança". Mas abr e seu coração e com partilha conosco seus anseios,<br />

suas experiências, sua própria vida, e sugere atitudes que o líder pode<br />

tomar para viver de "cara limpa", sem as máscaras que tão facilmente<br />

são usadas para causar uma boa impressão.<br />

Este éumlivro que nos leva a um a to mada de po sição - à busca da<br />

maior e mais sublime pos ição que alguém possa alme jar nesta vida: ser<br />

semelhante a jesus e levar outro s a seguir nosso exemplo.<br />

Isso só é possível se deixarmos qu e o Senhor sonde o nosso<br />

coração e nos revele aquilo qu e precisa ser mudado. A partir daí não<br />

contarem os mais com o nosso esforço para sermos bons líderes. Nossa<br />

úni ca atitude será reconhecer no ssos erros e deixar que o próprio Deus<br />

no s conduza a uma vida de integridade. E isto é aplicável não somente a<br />

quem se encontra em posição de liderança, mas a qualquer cristão que<br />

dese ja viver retamente, na dependência do Senhor.<br />

oRev. RonaldoLidórioémissionário presbiteriano (APMT) e membro da Missão AMEM.<br />

Juntamente com sua esposa, Rossana, tem atuado na plantação de igrejas entre grupos<br />

não-alcançados no oeste africano e na Amazônia brasileira.<br />

Trabalhatambémcomo consultor voluntário na geração de estratégias para alcançar gruposanimistas<br />

em diversos países. Édoutor em Antropologia Cultural eautor dos livros<br />

Com a Mão noArado eMissões: o Desafio Continua , publicados pela Editora Betânia.<br />

Editora<br />

Leitura para uma vida bem -sucedida<br />

Caixa Po stal 5010 • 31611 ·970 Ve nda Nova . M G<br />

www.edltorabetanla.com.br<br />

ISBN978-85-358-0221-4<br />

1 88535 802214


Ao meu irmão Gedson Lidório, que revisou o texto<br />

e participou intensamente de sua produção.<br />

É também um exemplo de integridade para mim.


SUMÁRIO<br />

Prefácio • 07<br />

Introdução • 09<br />

Capítulo 1- <strong>Integridade</strong> de coração • 11<br />

Capítulo 2 - A busca pela integridade denuncia o pecado • 32<br />

Capítulo 3- <strong>Integridade</strong> nos relacionamentos • 51<br />

Capítulo 4- <strong>Integridade</strong> na família • 66<br />

Capítulo 5- <strong>Integridade</strong> na liderança • 77<br />

Conclusão • 105<br />

Notas • 108<br />

Referências • 111<br />

5


PREFÁCIO<br />

Ronaldo Almeida Lidório traz a lume mais uma contribuição<br />

para a edificação do povo de Deus, em nossa terra e, quiçá,<br />

além-fronteiras. Prefaciar esta obra é uma alegria imensa e<br />

um elevado privilégio. E isso, por três razões.<br />

Em primeiro lugar, a vida do escritor referenda a sua obra.<br />

Um dos grandes problemas contemporâneos éodivórcio entre<br />

a academia eapiedade, o discurso e a vida, a teoria ea<br />

prática, a fé e as obras. Ronaldo vive o que prega e prega o que<br />

vive. Ele fala não como um teórico, proclamando do alto de<br />

uma cátedra conceitos distantes da sua vida. Ele fala sobre<br />

integridade e é um exemplo de integridade. Tenho o privilégio<br />

de desfrutar da amizade desse abençoado homem de Deus.<br />

Tivemos a alegria de recebê-lo algumas vezes no aconchego<br />

do nosso lar. Temos acompanhado sua vida, suas lutas, suas<br />

lágrimas, suas alegrias e suas conquistas. Conhecemos sua vida<br />

no campo familiar e também nas lidas mais intensas do seu<br />

profícuo ministério. Ronaldo é fiel, sensível e amável com a<br />

esposa. É um pai que inspira seus filhos. Ronaldo é um filho<br />

que honra o legado recebido de seus pais e constitui-se exemplo<br />

para seus irmãos. Ronaldo é um pastor de almas, amado<br />

por todos aqueles que o ouvem, o lêem e desfrutam de sua<br />

companhia. Ronaldo é um homem a quem Deus salvou, chamou,<br />

capacitou e revestiu com humildade e poder para ser um<br />

ganhador de almas.<br />

Em segundo lugar, a obra do escritor legitima suas credenciais.<br />

Este livro trata de um assunto importante em nossa Pátria.<br />

Vivemos uma crise de integridade nos palácios, no parlamento,<br />

nas instituições, na igreja e na família. Precisamos de<br />

7


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

um choque ético em nossa nação, que comece a partir do topo<br />

da pirâmide. Precisamos de exemplos que nos inspirem. Este<br />

livro não foge dessa temática. Ele descerra as cortinas e mostra<br />

não apenas a carranca da crise, mas aponta soluções que<br />

emanam da Palavra de Deus. Este livro é um farol na escuridão,<br />

uma voz altissonante que ecoa no deserto, uma resposta<br />

de Deus às necessidades gritantes da nossa gente. Minha ardente<br />

expectativa é que a leitura deste livro o ajude a fazer<br />

correção de rota, a realinhar sua jornada, dando-lhe direção<br />

certa, caminhada segura e chegada vitoriosa.<br />

Em terceiro lugar, o estilo do escritor revela sua habilidade<br />

na comunicação. Ronaldo fala coisas profundas de maneira<br />

simples. Ele serve o cardápio rico da verdade sem trazer para<br />

a mesa todos os ingredientes usados nos bastidores. Suas palavras<br />

são simples, mas seus pensamentos, profundos. Seu estilo<br />

tem leveza, suas palavras têm doçura. Ronaldo prega com<br />

unção e escreve com sabedoria. Ele não é um alfaiate do<br />

efêmero, mas um escultor do eterno. Este livro brota como<br />

águas límpidas de uma mente repleta de luz e de um coração<br />

cheio de fogo. Espero em Deus que essas águas saciem sua<br />

sede e refrigerem sua alma.<br />

- Hernandes Dias Lopes<br />

8


INTRODUÇÃO<br />

Este não é um texto teológico nem uma exposição bíblica<br />

sobre a integridade cristã. Não é minha intenção criar mais<br />

uma obra a respeito de liderança com um enfoque empreendedor<br />

e de resultados. O que apresento é um simples convite<br />

para que você possa acomodar-se em uma confortável poltrona<br />

e pensar comigo por alguns momentos sobre o presente<br />

estado de sua alma.<br />

Você não lerá aqui sobre estratégias de liderança, mas sobre<br />

os valores da alma. Vamos nos recolher por algumas horas<br />

da vida pública para nos debruçar sobre a particular e pessoal.<br />

Deixaremos neste tempo o palco e olharemos para os bastidores.<br />

E ali pensaremos juntos sobre a integridade em nossa vida<br />

e na liderança que exercemos.<br />

Estes capítulos se baseiam mais nos meus anseios e esperanças<br />

do que em meus acertos e realizações. E assim, em<br />

uma conversa sincera e amiga, gostaria de convidá-lo a abrir<br />

seu coração, tratar de si mesmo, pesar a sua alma e deixar<br />

fluir em suas veias o amor do Pai.<br />

Na Palavra, a oração mais marcante na busca pela integridade<br />

talvez tenha sido a proferida pelo salmista, quando elamou:<br />

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e<br />

conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho<br />

mau e guia-me pelo caminho eterno." (SI 139.23,24.)<br />

Ela reconhece a nossa incapacidade de autoconhecimento<br />

e que, portanto, precisamos de Deus para nos sondar. Reco-<br />

9


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

nhece também a incapacidade humana de discernir os caminhos,<br />

ou de fazer a escolha certa entre o caminho mau e o<br />

caminho eterno. Necessitamos de Deus para nos guiar. Essa<br />

oração expressa as áreas da vida em que a luta se trava. Não é<br />

nos palácios ou nas ruas, mas no coração e nos pensamentos.<br />

Precisamos de Deus para nos provar. "Guia-me pelo caminho<br />

eterno" deve ser o nosso pedido a cada nova manhã.<br />

As primeiras linhas e o esboço deste livro surgiram a partir<br />

de um fato que tem me preocupado. Muitos homens e mulheres,<br />

ao buscarem com ânsia o reconhecimento público ou as<br />

realizações humanas, têm se encantado com aquilo que não<br />

sacia a alma nem alimenta o coração. Com isso, se distanciam<br />

a cada dia de um tesouro insubstituível - a integridade.<br />

Observando a cíclica evangélica brasileira, podemos perceber<br />

processos de coerção social sobre a liderança eclesiástica.<br />

Isso acaba levando-a a valorizar mais os resultados do que<br />

a fidelidade; a prestigiar mais os títulos do que a intimidade<br />

com Deus; a pagar mais pela eloqüência do que pela integridade.<br />

Esses são processos nocivos que mancham a alma, entristecem<br />

a vida e geram modelos equivocados de liderança<br />

que, infelizmente, serão seguidos.<br />

George Barna reconheceu esse desafio em sua vida quando<br />

afirmou:<br />

"Tire a minha integridade e terei pouco a oferecer como um<br />

representante de Cristo, como um analista da cultura americana,<br />

como um pai de duas crianças pequenas e como um líder na<br />

minha igreja."!<br />

Este livro é, portanto, uma simples contribuição para irmãos<br />

e irmãs que a cada dia lutam por uma vida autêntica e<br />

que, remando contra a maré, desejam mais do que apenas construir<br />

uma boa reputação. Querem ter o caráter de Cristo.<br />

O meu desejo, e a minha oração, é que estas linhas falem<br />

ao seu coração como falaram ao meu.<br />

10


CAPíTULO<br />

INTEGRIDADE<br />

DE CORAÇÃO<br />

"Nada do que tocamos é eterno."<br />

Essa frase de Charles Kerman nos ajuda a responder à seguinte<br />

pergunta: Quais são os critérios com os quais Jesus<br />

julga a nossa vida?<br />

Freqüentemente julgamos a vida alheia mais a partir de valores<br />

externos, contábeis e visíveis do que pelo que se passa<br />

no coração. Desse modo, nos encantamos com homens, histórias,<br />

livros e lideranças que não encantam a Deus.<br />

A sociedade nos leva a crer que somos aquilo que aparentamos.<br />

E não são raras as vezes que nos julgam pelos nossos<br />

títulos, realizações, influência e tantas outras credenciais que<br />

tentam, plasticamente, definir nossa aparência pública. Entretanto,<br />

no Reino de Deus, pregado por Jesus, essas roupagens<br />

não representam a nossa identidade - quem de fato somos.<br />

Possuímos uma tendência natural para nos escondermos.<br />

Somos, por isso, seres fabricantes de máscaras. Construímos<br />

máscaras com o mesmo intuito dos povos tribais em<br />

seus rituais xamânicos: para o engano do próximo e manipulação<br />

social. Creio que as máscaras que somos tentados a<br />

construir possuem, em um primeiro momento, a intenção de<br />

apresentar uma imagem que julgamos ideal para os de longe.<br />

Comumente, essa imagem não representa a verdade do<br />

nosso ser, mas uma idéia utilitária que tentamos vender. Se<br />

obtemos sucesso na construção de máscaras que passem essa<br />

11


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

imagem aos de longe, somos tentados a construir outras mais<br />

elaboradas, refinadas, que possam enganar também os de perto.<br />

É por isso que podemos nos surpreender com alguém bem<br />

perto de nós, de nosso círculo de amizade e relacionamento,<br />

que repentinamente se desvenda como portador de valores e<br />

práticas antagônicas à imagem que dele tínhamos. É que não o<br />

conhecíamos. Olhávamos para ele, mas o que enxergávamos<br />

era sua máscara. Mas não paramos aí.<br />

Como seres fabricantes de máscaras, ao chegarmos ao ponto<br />

do engano coletivo, com os de longe e os de perto, nos<br />

propomos a uma nova empreitada, ainda mais desafiadora:<br />

construir máscaras que enganem não apenas o outro, mas<br />

também a nós. Chamo a essas máscaras de máscaras do autoengano.<br />

Certa vez, eu aconselhava um cristão que se surpreendera<br />

consigo mesmo ao trair a confiança de um líder que amava e<br />

admirava. Em meio a lágrimas, exclamou:<br />

"Como pude fazer isso?"<br />

Então pensei: Quantas vezes essa pergunta nos assola! O<br />

auto-engano não é apenas possível, mas, infelizmente, habitual.<br />

Pode levar homens e mulheres a jamais confrontarem suas<br />

mazelas e pecados, levando-os a viverem como se tudo estivesse<br />

bem.<br />

A construção de máscaras de engano e auto-engano é uma<br />

prática pecaminosa que nos leva para longe de uma conversa<br />

franca e necessária sobre a nossa vida. Fugimos assim de um<br />

dos assuntos mais controvertidos e evitados pelo homem desde<br />

sua queda: a verdade.<br />

No Reino da Luz, a verdade éofundamento para qualquer<br />

avaliação. Não por acaso, a Palavra nos diz que a verdade nos<br />

libertará. A ausência desta, por outro lado, nos mantém cativos<br />

às mesmas masmorras psíquicas, volitivas e cornportamentais<br />

de sempre. Eoauto-engano - quando a psiquê humana<br />

mente para ela mesma, tentando racionalizar o pecado eafraqueza<br />

- torna-se uma das fortes oposições à verdade.<br />

Por tudo isto, eu o convido, neste momento, a deixar cair<br />

qualquer máscara que você possa ter construído ao longo dos<br />

anos e, por acaso, esteja usando. E então olhe-se em um espe-<br />

12


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

lho íntegro, sem reservas, na presença do Espírito do Senhor<br />

que nos conhece e nos leva ao caminho da verdade.<br />

O elemento principal com o qual Jesus nos avalia é bem<br />

menos visível, menos contábil e certamente menos observado<br />

por aqueles que nos cercam, pois ele nos vê no íntimo, sem<br />

máscaras, manipulações ou enganos. A Palavra usa expressões<br />

como coração puro (SI 51.10), de todo o teu coração (Mt<br />

22.37), integridade do coração (SI 78.72) e santidade ao Senhor<br />

(Êx 28.36) para nos fazer entender que somos avaliados<br />

por Cristo pelas coisas do coração, e não pela nossa roupagem.<br />

Entenda claramente que Jesus conhece o secreto da sua<br />

vida. É certo que ele não se impressiona com as grandes construções<br />

que você levantou, as realizações aclamadas por multidões<br />

ou as teses defendidas debaixo dos holofotes. O Carpinteiro<br />

olha direto para o seu coração e vasculha a sua alma.<br />

Eéjustamente nesse campo que você será encontrado fiel, ou<br />

não.<br />

<strong>Integridade</strong> é um termo que está ligado à inteireza. Vem do<br />

latim integritas, que se aplica à retidão, à santidade e a um<br />

espírito irrepreensível. O autor de Imitação de Cristo, possivelmente<br />

Tomás de Kempis, já perguntava no século XV:<br />

"Que mais te pode incomodar e embaraçar que os afetos<br />

desordenados de teu coração?" 1<br />

Em 1 Samuel 16, o profeta buscava o ungido do Senhor<br />

entre os filhos de Jessé. Antes de indicar Davi, que viria a ser<br />

rei sobre Israel, o Senhor diz a Samuel:<br />

"Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua<br />

estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como<br />

vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos,<br />

porém o Senhor olha para o coração." (16.7 - ARC.)<br />

É fato que não podemos purificar nosso próprio coração.<br />

Dentre tantas verdades marcantes do cristianismo, uma delas<br />

é esta: nós dependemos de Deus. E dependemos dele para<br />

13


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

crer, para segui-lo e para nos parecermos mais e mais com o<br />

Filho. Assim, creio que o objetivo de Cristo é tão-somente<br />

levar-nos a orar como o salmista:<br />

"Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de<br />

mim um espírito inabalável." (SI 51.10.)<br />

William Hersey Davis, tentando fazer-nos diferenciar entre<br />

a ilusão do palco earealidade da vida, compara caráter e<br />

reputação, quando diz:<br />

''Ascircunstâncias nas quais você vive determinam sua reputação.<br />

A verdade na qual você crê determina o seu caráter.<br />

Reputação é o que pensam a seu respeito.<br />

Caráter é quem você é.<br />

Reputação é a sua fotografia.<br />

Caráter é a sua face.<br />

A reputação fará de você rico ou pobre.<br />

O caráter fará de você feliz ou infeliz.<br />

Reputação é o que os homens dizem a seu respeito no dia do<br />

seu funeral.<br />

Caráter é o que os anjos falam de você perante o trono de Deus."?<br />

As conversas de Deus com seus filhos sempre são conversas<br />

sinceras que procuram moldar nosso caráter, e não apenas<br />

construir uma bela reputação. Mesmo porque a reputação,<br />

por mais importante que seja - e é - se apresenta por demais<br />

volátil. Em dias de comunicação em massa via internet, uma<br />

reputação construída ao longo de 30 anos pode ser destruída<br />

em 30 minutos. O caráter, porém, éaverdade a nosso respeito,<br />

quem de fato somos e como o Senhor nos vê. Esse éobem<br />

precioso que não devemos negociar. Um pastor amigo, observando<br />

a sua própria vida, regado pelo livro Avalie a Sua Vida,<br />

de Wesley Duewel, desabafou anos atrás em uma carta:<br />

"... os aplausos levaram-me, durante anos, a pensar que tudo<br />

estava bem. Saía-me muito bem enquanto estava nos púlpitos,<br />

comunicava-me com diversos grupos e era admirado por minha<br />

audácia na pregação. Muitos passaram a seguir o meu exem-<br />

14


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

pIo. Vários diziam: 'Desejo ser como você'. (...) Não precisei<br />

orar muito para que o Espírito Santo me direcionasse para os<br />

pecados e falhas em meu caráter. Usava exemplos que não condiziam<br />

com a verdade e utilizava livremente o púlpito para<br />

atacar os grupos contrários ao meu ministério. Eu possuía todos<br />

os elementos para cair e permanecer prostrado. Louvado<br />

seja Deus por um dia que tirei para reavaliar a minha vida!"<br />

Esse pastor amigo meu percebia, entre outras coisas importantes,<br />

que nenhum homem vai além do seu caráter. E entendia<br />

o perigo de se desenvolver uma liderança ou uma reputação<br />

sem um caráter Íntegro como fundamento. Eaintegridade,<br />

bem como outras virtudes cristãs, precisa ser construída.<br />

Nas palavras do próprio Duewel: ''A única vida digna de<br />

ser vivida é aquela vivida para Deus":'. E é nesse íntimo relacionamento<br />

que perceberemos que só uma boa semente trará<br />

bons frutos.<br />

Pensemos um pouco sobre a integridade e suas características.<br />

Ao ler as características listadas, utilize o momento para<br />

avaliar o seu próprio coração e, confiante no Senhor, esperar<br />

coisas novas e boas de Deus.<br />

A integridade vai além da sinceridade<br />

Gostaria que você entendesse que a integridade vai além<br />

da mera sinceridade. A sinceridade é um comportamento da<br />

alma expresso através do reconhecimento da verdade. A palavra<br />

sincero vem do latim sincerus, possivelmente da época em<br />

que ídolos eram esculpidos em madeira e vendidos no mercado.<br />

Algumas peças, para disfarçar as falhas da madeira, recebiam<br />

um acabamento com cera que as tornava imperceptíveis<br />

à primeira vista. Todos sabiam que os ídolos esculpidos de<br />

forma perfeita em madeira pura eram "sem cera", ou sincerus.<br />

Em se tratando da alma humana, sabemos que a sinceridade,<br />

por si, não nos leva a uma vida íntegra, e sim ao reconhecimento<br />

da verdade. E reconhecer a verdade, porém não seguila,<br />

nos conduz tão-somente à autoconsciência de nossa presente<br />

situação. Podemos atestar uma verdade pessoal, reco-<br />

15


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

nhecer nossas falhas morais, concluir que precisamos da transformação<br />

do Espírito e mesmo assim vivermos da mesma forma,<br />

sem nenhuma mudança, pelos próximos 30 anos. E essa é<br />

uma postura comum entre o povo de Deus.<br />

<strong>Integridade</strong>, portanto, não é apenas convicção. É atitude<br />

transformadora e validadora. Leva-nos a uma profunda inquietação<br />

que produz transformações internas e externas. Faz-nos<br />

desejar viver de acordo com a nossa fé, nossos valores, nossos<br />

sermões e escritos, nossos ensinos em sala de aula; de acordo<br />

com a Bíblia que lemos eoDeus no qual cremos. Faz-nos desejar<br />

mais que o conhecimento teológico, a eloqüência na pregação,<br />

a retórica nas colocações eaaura de autoridade perante a<br />

igreja. Faz-nos desejar apaixonadamente uma vida autêntica,<br />

perante Cristo, mesmo quando ninguém está olhando.<br />

Conheço irmãos preciosos que andam distanciados do Pai,<br />

mesmo não lhes faltando sinceridade de coração. Reconhecem<br />

seus erros, sabem o caminho a seguir, mas não o fazem.<br />

Huckabee nos fala sobre como a integridade, aplicada aos processos<br />

da vida, pode revolucionar uma pessoa e uma nação",<br />

Tenho dois amados e obedientes filhos - Vivianne e Ronaldo<br />

Júnior, com 13 e 11 anos. Muitas vezes, quando estão prestes a<br />

tomar uma atitude indevida, eles me olham como já conscientes<br />

do que não deve ser feito. Às vezes, é algo simples, como ligar a<br />

TV na hora da refeição. Ao se prepararem para pegar o controle<br />

remoto, olham para os pais, sabendo que não deveriam fazêlo,<br />

mas tentados. Há em nossa vida, normalmente, conhecimento<br />

do caminho, das limitações e da verdade. E existe uma grande<br />

diferença entre o conhecimento eaobediência.<br />

O Pastor Adail Sandoval, homem de Deus dedicado ao Rei<br />

por mais de 40 anos, afirmou em uma de suas palestras: "Se<br />

um dia você for levado a escolher entre a sua reputação eo<br />

seu caráter, escolha o caráter". Esse homem de Deus não reduz<br />

o valor da reputação, mas exalta a necessidade de lidarmos<br />

com Deus além da exposição pública e da simples sinceridade.<br />

Importa-nos obedecer.<br />

Não nos basta compreender os desafios do evangelho nem<br />

repetir semanalmente a nossa confissão de fé. É preciso traduzi-los<br />

para uma vida íntegra, que vai além da mera sinceri-<br />

16


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

dade. A grande diferença entre sinceridade e integridade éa<br />

obediência. Enquanto a primeira reconhece suas falhas e erros,<br />

a segunda se contorce incomodada por conserto e transformação.<br />

A integridade vai além da sinceridade.<br />

A integridade deve perdurar na inconstância<br />

Um dos elementos desse processo de superficialidade que<br />

luta contra a integridade em nossa vida é a inconstância humana.<br />

Sabemos que o universo no qual habitamos é marcado<br />

pela inconstância derivada da imperfeição. Conseqüentemente,<br />

é também inconstante nosso coração. Há dias bons e maus.<br />

Dias de vitória e de derrota. Dias de alegria e de angústia. E da<br />

mesma forma que o Universo pode abrigar mudanças dramáticas<br />

e climáticas em um só dia, também em um só dia podemos<br />

passar por momentos de alegria, tristeza, euforia e ansiedade.<br />

Somos naturalmente inconstantes.<br />

Como podemos buscar um coração íntegro se o mundo no<br />

qual habitamos, a sociedade e nossa própria alma estão sujeitos<br />

aos abalos sísmicos de um Universo imperfeito e incerto?<br />

Em primeiro lugar, precisamos crer realmente que Deus<br />

está no controle de toda e qualquer situação em nossa história<br />

pessoal. Que ele detém o direito autoral de cada capítulo da<br />

nossa vida. Que nada, inclusive os momentos mais conflitantes,<br />

produzidos pela imperfeição universal nascida lá no Éden, fogem<br />

ao absoluto controle de Deus. Ele permanece Senhor<br />

mesmo quando se cala. E Jesus é a maior demonstração de<br />

como o Pai deseja interagir conosco; não nos tirando do mundo,<br />

mas nos livrando do mal. E nessa dialética existencial, Deus<br />

transforma o mal em bem, usa a própria inconstância humana<br />

caída como instrumento de aproximação com o Pai, de conversão,<br />

de quebrantamento e salvação.<br />

C. S. Lewis já nos ensinava que a certeza da nossa salvação<br />

está na imutabilidade do caráter de Deus. E esta é a nossa<br />

segurança: o Deus ao qual amamos e servimos não é regido<br />

pela mesma dialética inconstante do Universo ou dos altos e<br />

baixos emocionais e espirituais em nossa vida. Ele, ao contrário,<br />

se apresenta na Palavra como o Monte Sião, que não se<br />

17


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

abala; as Muralhas de Jerusalém; a Rocha de Israel. É nele e<br />

por causa dele que podemos descansar, mesmo em situações<br />

de tempestades e incertezas.<br />

Cantamos um hino em Gana que diz:<br />

"... Não vivemos para celebrar o sofrimento; nem para chorar;<br />

Mas quando ele vier choraremos;<br />

... no sofrimento há Deus;<br />

não cremos na dor sem Deus,<br />

não cremos na dor sem Deus."<br />

Além de confiar no caráter imutável de Deus, para mantermos<br />

vida íntegra em meio a circunstâncias incertas, é necessário<br />

buscarmos humildade para poder administrar as perdas.<br />

Tenho notado que os maiores erros não resultam de ações,<br />

mas de reações. E, basicamente, em três circunstâncias: diante<br />

do pecado, do sofrimento ou das críticas. Esses três vetores<br />

provocam reações que tendem a colocar em xeque a nossa<br />

integridade.<br />

Nem todos os caminhos do Senhor são fáceis, mas todos<br />

são caminhos de amor. Quando chega o dia mau, sempre me<br />

vem à mente a vida de José. Traído pelos irmãos, jogado em<br />

um poço, vendido para uma terra distante, encarcerado e humilhado,<br />

ele manteve o espírito humilde, crendo que Deus o<br />

amava. É porque o Senhor nos ama que freqüentemente transforma<br />

o mal em bem. Do cárcere, José foi para o palácio e ali<br />

se tornou o braço forte do Senhor na preservação do seu povo<br />

durante a época de fome.<br />

Há, portanto, duas verdades que servem como âncora para<br />

buscarmos um coração íntegro, mesmo perante a inconstância<br />

da vida: a certeza de que o Senhor está no controle do Universo<br />

incerto no qual vivemos eaconvicção de que ele nos ama.<br />

Muitos líderes serviram ao Senhor com zelo e dedicação<br />

durante toda uma vida, mas se encontram paralisados porque<br />

não conseguiram responder bem, reagir bem, perante um vendaval<br />

que se abateu sobre sua vida e ministério. Alguns anos<br />

atrás, recebi uma mensagem eletrônica, enviada para milhares<br />

de pessoas, de um líder angustiado. Nela ele respondia a críti-<br />

18


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

cas que lhe faziam e acusava fortemente seus opositores. Uma<br />

carta típica de alguém que, no calor do sofrimento, senta em<br />

frente a um computador e não espera sua ira passar. Ao contrário,<br />

reage.<br />

Tempos depois encontrei-me com esse amigo, e ele me disse<br />

como estava transtornado ao escrever aquela mensagem.<br />

Na conversa pontuamos alguns passos. Primeiramente, a reação.<br />

Em geral, somos treinados para agir bem, mas não para<br />

reagir bem. As reações são mais difíceis que as ações, pois,<br />

especialmente na liderança, as ações são planejadas e seguem<br />

um padrão projetado. Um líder, porém, é medido por suas<br />

reações. Se as ações demonstram planejamento, as reações<br />

demonstram valores.<br />

Em segundo lugar, conversamos sobre a ausência de real<br />

dimensionamento do problema. Quando estamos em um vendaval,<br />

ele aparenta ser, para nós, a maior tempestade de todas.<br />

Nada se compara a ela. Isso porque somos seres sensitivos e<br />

valorizamos muito mais o que experimentamos do que aquilo<br />

que observamos. Assim, ao experimentarmos o sofrimento, o<br />

pecado ou a crítica, tendemos a dimensionar tal problema de<br />

forma supervalorizada. Utilizamos uma medida "superfaturada".<br />

Certamente muitos que nada sabiam daquele conflito vieram<br />

a conhecê-lo da pior maneira possível: através daquele<br />

amargurado e-mail em massa.<br />

A longanimidade se torna necessária em momentos pontuais<br />

e críticos. Longanimidade, no original grego, significa<br />

fôlego profundo, e a idéia é de um atleta que corre com todas<br />

suas forças durante quilômetros e, quando exausto, ainda<br />

respira profundamente para vencer a última parte da corrida.<br />

Precisamos de espírito longânimo em meio às tempestades.<br />

Elas passam.<br />

Perante um problema, seja circunstancial ou relacional, no<br />

qual tenhamos ou não falta, a melhor reação éareação lenta.<br />

Penso em duas exceções: quando há risco imediato ou quando<br />

o vendaval gera em nós quebrantamento. No primeiro caso, é<br />

necessário reagir rapidamente para conter um possível dano,<br />

e não há tempo para um dimensionamento tranqüilo. No segundo<br />

caso, o Espírito, nos confronta com o pecado e não há<br />

19


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

tempo a perder para cair de joelhos dizendo: "Pequei contra<br />

ti". Porém, de forma geral, toda reação lenta tende a ser a<br />

melhor opção.<br />

Antes de seguir adiante, gostaria de lhe fazer um precioso<br />

convite: Confie na soberania do Senhor e esteja convicto de<br />

que ele o ama. Isso lhe dará a brandura, paciência e perseverança<br />

para seguir buscando um coração íntegro na presença<br />

do Senhor, mesmo em meio aos vendavais da vida.<br />

A integridade é vista nos detalhes<br />

Se quisermos conhecer a integridade de um homem, devemos<br />

observar os detalhes. Temos de conhecê-lo na informalidade<br />

do lar, no trato com amigos chegados, na conversa ao<br />

telefone. O conceito bíblico de sermos fiéis no pouco para<br />

sermos colocados no muito pressupõe grau de dificuldade e<br />

detalhamento. O pouco nos prova como também nos expõe.<br />

É, portanto, no pouco, nos detalhes da vida, que podemos diagnosticar<br />

em nós ou em outros o grau de integridade.<br />

O Pastor Hernandes Dias Lopes é um homem que tem sido<br />

tremendamente usado por Deus através de seus abençoados e<br />

desafiadores sermões'. Convivendo com ele e sua família na<br />

informalidade do lar durante um final de semana, era visível<br />

que zelava por uma existência coerente com a fé, e isso era<br />

visto nos detalhes - a maneira apaixonada como trata a esposa,<br />

o carinho com os filhos e a forma zelosa como acompanhava<br />

até o elevador a senhora que os servia como ajudante no<br />

lar. Como bem aplicou Platão, filósofo grego: "Você pode descobrir<br />

mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do<br />

que em um ano de conversa". A informalidade nos expõe com<br />

maior freqüência, pois nos encontra em estado de espontaneidade.<br />

Os grandes mestres do conhecimento consideram que as<br />

coisas pequeninas são importantes. Schopenhauer, filósofo<br />

alemão, afirma que é precisamente nas pequenas coisas que o<br />

homem revela o seu caráter. Se desejamos trabalhar em nosso<br />

caráter e fomentar integridade de coração, comecemos pelas<br />

coisas pequeninas, pelos detalhes de cada dia. Da mesma ma-<br />

20


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

neira, se desejamos nos avaliar perante Deus, observemos em<br />

nossa vida os detalhes.<br />

Fiodor Dostoievski acreditava que um homem poderia ser<br />

definido por suas motivações. Se tal afirmação soar um reducionismo,<br />

ao menos poderemos concordar que as ações de um<br />

homem podem ser definidas por suas motivações. Um exercício<br />

que tento fazer ao tomar novas iniciativas é ponderar um<br />

pouco sobre minhas motivações. O ser humano possui uma tendência<br />

carnal de apoiar ou realizar aquilo que julga beneficiálo.<br />

Assim são os jogos políticos, pois assim é o coração humano.<br />

Um exercício positivo é dar passos em direções certas (sejam<br />

relacionais, financeiras, ministeriais) que envolvam perdas pessoais.<br />

Ao se colocar em uma situação (quando necessário) de<br />

perda ou desconforto para que outro ganhe, você estará instruindo<br />

seu coração a viver com os valores do Alto.<br />

Isso pode ser feito em circunstâncias normais que envolvam<br />

dinheiro, tempo e prazer. Evitar uma compra pessoal em<br />

prol de um bem mais importante e necessário para outro. Substituir<br />

um momento que poderia render um ganho particular<br />

por um que ajude outro a ganhar. Privar-se de algo que lhe dê<br />

prazer para prover algo que dê prazer a outro. Uma das maravilhas<br />

de Deus é que ele nos fez com um espírito "ensinável".<br />

Precisamos usar essa oportunidade para construirmos uma vida<br />

mais parecida com a de Cristo, e isso acontecerá a partir das<br />

pequenas COIsas.<br />

A integridade deve se traduzir em atitudes<br />

Um dos maiores desafios que enfrentamos, desde os nossos<br />

primeiros pais, é a tradução de nossos valores espirituais e<br />

morais para atitudes espirituais e morais. Permita-me listar aqui,<br />

dentre tantas atitudes que buscam a construção de um caráter<br />

íntegro, algumas que considero de extrema colaboração nesse<br />

sentido.<br />

Calar-se<br />

Vivemos em uma sociedade onde o simbolismo é elemento<br />

21


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

definidor das relações humanas. Assim, valorizamos a comunicação<br />

verbal, os discursos, as respostas bem colocadas, o<br />

jogo de palavras. Se por um lado isso colabora para desenvolver<br />

uma comunicação mais ativa, por outro tem nos levado a<br />

esquecer o valor do silêncio.<br />

A integridade é testada na adversidade, e uma das atitudes<br />

mais comuns perante a adversidade relacional éoconfronto.<br />

Em especial nos contextos ministeriais em que as críticas<br />

nos bastidores ganham a nossa atenção e somos levados<br />

a reagir de forma desproporcional, desnecessária ou<br />

mesmo inapropriada. Freqüentemente falamos quando deveríamos<br />

nos calar.<br />

Podemos nos lembrar do Pastor Oswald Smith, da Igreja do<br />

Povo, em Toronto, no Canadá. Décadas atrás, ele passou a<br />

viver sob uma cortina de severas críticas e terríveis ataques<br />

levantados por todos os lados, especialmente pela liderança<br />

de igrejas irmãs. Ao fim de um importante encontro de líderes,<br />

aquele homem de Deus bradou, como quem define a linha<br />

que separa o neófito do maduro, dizendo:<br />

"Não combato nem me defendo. Faço a obra de Deus."<br />

Certamente há momentos de falar, fazer-se ouvir. Mas reconheço<br />

que os homens de Deus que tenho conhecido buscam<br />

mais o silêncio do que o confronto verbal perante as adversidades,<br />

e fazem a obra de Deus.<br />

Um dos grandes investimentos que podemos fazer em relação<br />

ao outro é justamente ouvi-lo. Lincoln dizia que, ao dialogar<br />

com alguém, gastava um terço do tempo pensando no que<br />

falar e dois terços pensando no que o outro falava.<br />

Há, porém, uma forte diferença entre escutar e ouvir. Em<br />

inglês, duas palavras distintas são bem utilizadas. Escutar (to<br />

hear) refere-se ao ato físico, funcional do aparelho auditivo,<br />

enquanto ouvir (to listen) diz respeito a um ato mental que<br />

nos faz pensar a partir de algo. Muitas vezes nos acostumamos<br />

apenas a escutar sem que aquilo tenha qualquer chance<br />

de nos fazer ponderar, pensar um pouco mais sobre o assunto,<br />

imaginar o outro lado de uma situação. Pessoas que apenas<br />

escutam são facilmente identificadas. Suas respostas são prontas<br />

e repetitivas.<br />

22


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

A maior dificuldade para se ouvir ocorre quando não é preciso<br />

ouvir. Penso aqui em uma figura de autoridade que, em<br />

sua presente função, seja um professor, um chefe, um líder de<br />

equipe ou um pastor, não precisaria ouvir e poderia apenas<br />

falar. Gedson Lidório nos diz:<br />

"Quão perigosa é tal posição. A arte de ouvir de fato deve<br />

ser perseguida exaustivamente, pois será de grande investimento<br />

na construção de uma vida íntegra e, sobretudo, de uma<br />

liderança íntegra.:"<br />

Não negociar a verdade<br />

Provérbios 12.19 nos diz que "Os lábios que dizem a verdade<br />

permanecem para sempre; mas a língua mentirosa dura<br />

apenas um instante" (NVI). Há certos valores que precisam estar<br />

sempre presentes em nossa vida, relacionamentos e processos<br />

de liderança. Um deles é não negociar a verdade. Isso<br />

inclui, de forma especial, a manipulação da verdade. Refirome<br />

ao evitamento ou maquiagem da verdade para se contornar<br />

um problema ou se beneficiar de um resultado.<br />

Quando a Palavra nos ensina que a posição do crente, o seu<br />

falar, deve ser "Sim, sim; não, não" (Mt 5.37), o que se advoga<br />

não é uma atitude de extremos: ou sim ou não. O assunto aqui<br />

éaverdade: dizer sim quando for sim, e não quando for não.<br />

No cenário do genuíno cristianismo, a verdade não pode ser<br />

negociada, e ela é um dos grandes blocos que constroem uma<br />

vida íntegra.<br />

Quando o missiólogo Dr. Antônio Carlos do Nascimento<br />

afirmou em seu seminário que "nenhuma igreja vai além do<br />

seu pastor", fiquei pensando no investimento pessoal. Enquanto<br />

ele apresentava a figura de uma igreja mais autêntica, anotei<br />

no rodapé da apostila que tinha em mãos:<br />

"<strong>Integridade</strong>: como tratamos as pessoas; o que falamos; o<br />

que não falamos; conversar com as pessoas e não acerca delas;<br />

fazer prioritariamente o que é certo, e não apenas o que nos<br />

agrada; evitar a influência do dinheiro; evitar a influência do<br />

23


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

poder; lembrar os princípiosque guiama vida; testar meu próprio<br />

caráter nas pequenas coisas."<br />

Abraham Lincoln foi um dos estadistas mais atacados em<br />

toda a história dos Estados Unidos. Recebeu título de desonesto,<br />

corrupto, incapaz, mentiroso e adúltero. O Illinois State<br />

Register referia-se a ele como o "político mais desonesto da<br />

história americana". Quando aconselhado a negociar benefícios<br />

para os donos dos grandes jornais a fim de que sua imagem<br />

fosse poupada, Lincoln respondeu:<br />

"Quando deixar este escritório, gostaria de sair com um<br />

amigo fiel ao meu lado: minha consciência."?<br />

Ao falar sobre a verdade de forma mais objetiva (o que é<br />

verdadeiro), posso dar-lhe a entender, erroneamente, que esta<br />

éaúnica forma de verdade que importa. Há uma verdade subjetiva,<br />

a qual também devemos valorizar. Trata-se da verdade<br />

volitiva, ou seja, os motivos que nos levam a agir e reagir. Os<br />

motivos que nos levam a fazer algo ou deixar de fazer; a falar<br />

ou calar. Tais verdades motivacionais precisam ser obervadas<br />

de perto, pois elas representam o atual estado de nosso coração.<br />

Muitos líderes podem desenvolver realizações corretas<br />

por motivações erradas.<br />

O Comentário da Bíblia Shedd fala a respeito de Jó, que foi<br />

chamado de íntegro em jó 1.1. Comenta-se ali: "Homem íntegro.<br />

Literalmente: completo, que não significa sem pecado,<br />

mas um homem de honradez, reto, com o temor de Deus em<br />

seu coraçâo'". Interessante o destaque para o temor e a sua<br />

ligação com a integridade. De fato, "o temor do Senhor éo<br />

princípio da sabedoria", conforme Salomão escreveu em Provérbios<br />

1.7. A busca pela verdade motivacional que nos leva à<br />

integridade de vida passa pelo temor do Senhor.<br />

Salomão nos diz que não se deve amar a loucura (Pv 1.22),<br />

mas a sabedoria. E com isso ele faz uma apologia ao entendimento.<br />

É necessário construir entendimento em nossa mente<br />

e em nosso coração a respeito das verdades de Deus, pois intuitivamente<br />

escolheremos tão-somente o caminho mal. O temor<br />

do Senhor é o princípio da sabedoria porque o temor do<br />

Senhor me leva a buscar, em sua Palavra, o entendimento que<br />

24


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

me levará a ter vida sábia. Quem teme a Deus é liberto do<br />

caminho mal (Pv 2.12). W W Wirsbe, autor de ''A Crise da<br />

<strong>Integridade</strong>", citado pelo pastor João Costa", diz que a "integridade<br />

está para o caráter do indivíduo como a saúde está<br />

para o corpo, ou como a visão perfeita está para os olhos".<br />

A integridade, que não negocia a verdade, seja objetiva ou<br />

subjetiva, alimenta um caráter mais parecido com o de Cristo.<br />

Assumir a responsabilidade<br />

Quando nos posicionamos ao lado da verdade, normalmente<br />

somos chamados a assumir responsabilidades. E isso pode se<br />

dar pela irredutível defesa de algo que, no senso comum, passaria<br />

desapercebido, ou pode ser por falhas e pecados nossos<br />

que precisam ser confrontados, perdoados e abandonados.<br />

Segundo o escritor francês François La Rochefoucauld,<br />

quase todas as nossas falhas são mais perdoáveis do que os<br />

métodos que concebemos para escondê-las. Uma vida íntegra<br />

leva em consideração a possibilidade da falha, do pecado e da<br />

queda. Ou seja, precisamos assumir a responsabilidade perante<br />

nossas atitudes a fim de mantermos a integridade espiritual<br />

e moral. E essa é uma das lições mais difíceis de serem aprendidas.<br />

No caso de uma queda, o caminho aparentemente mais<br />

curto - a negação do pecado e sua responsabilidade sobre ele<br />

- não é de fato curto, pois não nos leva aonde Deus nos quer.<br />

Precisamos assumir a responsabilidade por aquilo que de<br />

fato somos responsáveis, seja algum detalhe um grande ato.<br />

No caso de uma queda moral, não raramente se vê, na vida<br />

daquele que caiu, um sentimento de indignação com a igreja,<br />

que o ignora e não colabora para sua recuperação. Certamente<br />

essa é uma grande falha da igreja em nossos dias, e também<br />

na história. Porém, eu gostaria, neste momento, de tratar sobre<br />

os sentimentos e atitudes daquele que caiu. O caminho de<br />

Deus para a restauração passa pelo quebrantamento. É normalmente<br />

um caminho que se tenta evitar, pois é um caminho<br />

de humilhação.<br />

Outro dia, reclamei com minha filha, Vivianne, sobre algo<br />

que, depois, percebi que ela não tinha feito. Fui ao seu quarto<br />

25


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

lhe pedir perdão porque errei. O sentimento é ambíguo e produz,<br />

além da tristeza do erro, uma angústia provinda da humilhação<br />

por reconhecer: errei.<br />

Imaginemos tal situação com uma exposição muito mais<br />

ampla, mais dura e implacável, como muitas vezes são os ambientes<br />

eclesiásticos. A tentativa de fuga é comum, porém não<br />

éomelhor caminho. Não há restauração sem que se reconheça<br />

e assuma a responsabilidade pelo erro.<br />

Permita-me endereçar uma palavra a líderes que possuem<br />

grande dificuldade de pedir perdão de maneira verbal e clara,<br />

ou de voltar atrás em decisões tomadas, mesmo quando<br />

francamente equivocadas. Essa postura provém de um coração<br />

soberbo. Vem de uma soberba que o faz pensar (mesmo<br />

que não de forma gráfica) sobre a sua superioridade. Talvez<br />

seja nutrida pelo seu conhecimento, ou sua posição de liderança,<br />

ou sua função de destaque, seus ganhos e merecimentos.<br />

Perceba, porém, que esse é um caminho de morte. Seu<br />

coração, ao negar procurar o outro e falar "Errei, perdoeme",<br />

se lança em uma rota de colisão com o temor do Senhor<br />

e com a sabedoria, o entendimento de que somos todos<br />

igualmente dependentes da graça de Cristo para viver. Muitas<br />

vezes, os líderes imaginam que sua autoridade estaria sendo<br />

questionada se assim o fizessem. Estes se esquecem de<br />

que aquilo que está em jogo é muito mais valioso do que<br />

nossa temporária autoridade; é nosso eterno coração.<br />

Há também aqueles que, para reconhecerem um erro e assumirem<br />

a responsabilidade, fazem-no sob protesto e acusações.<br />

Refiro-me aos que, perante seu próprio pecado, racionalizam<br />

que o outro também pecou, ou é um agressor maior,<br />

que não foi leal ou submisso. Grande erro. Essas razões não<br />

passam de sombras nas quais tentam esconder o próprio coração<br />

da humildade necessária para o quebrantamento.<br />

Líderes inacessíveis correm grande risco de seguirem o caminho<br />

da soberba e da altivez, sem ter quem os alerte. Não<br />

ande só, e aproveite as oportunidades que tem para se humilhar,<br />

educando assim o seu coração a aprender o que é bom e<br />

a estar no caminho certo.<br />

Leon Tolstoi sabia que "todos pensam em mudar a humani-<br />

26


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

dade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo'i'", atestando<br />

que é sempre mais fácil falar sobre os problemas universais do<br />

que sobre o pecado do coração. E Wertheimer escreveu que<br />

"somente depois de as termos praticado é que as faltas nos<br />

mostram quão facilmente as poderíamos ter evitado" 11.<br />

Nenhum de nós está isento da possibilidade do erro. Uma<br />

das admiráveis atitudes de Davi foi justamente assumir integralmente<br />

a sua responsabilidade quando Natan lhe disse, após<br />

falar sobre alguém que roubara a única ovelhinha do vizinho:<br />

"Tu és o homem" (2 Sm 12.1-7). Davi não deu desculpas. Não<br />

racionalizou dizendo: Outros fizeram pior do que eu. Nem<br />

mesmo tentou explicar suas motivações. Caiu de joelhos e colocou-se<br />

nas mãos de Deus. O coração de Davi dizia: "Sou<br />

responsável". E ele se tornou o homem segundo o coração de<br />

Deus.<br />

Que Deus nos ajude a administrar o orgulho eavergonha,<br />

e também a humilhação, a fim de assumirmos a responsabilidade<br />

pelo pecado e seguirmos em frente no perdão transformador<br />

do Senhor.<br />

Aprender com os erros<br />

Precisamos compreender que integridade não é uma atitude<br />

medida pela ausência de erros, mas pela decisão de não<br />

repeti-los.<br />

Quando assumimos responsabilidades, o fazemos também<br />

em relação aos nossos erros. Precisamos entender que integridade<br />

é um hábito que se ganha na rotina diária, quando procuramos<br />

agir de forma pura e justa. E mesmo quando isso não<br />

acontece, devemos aprender com nossos erros.<br />

Para que assim caminhemos, será preciso, primeiramente,<br />

desmistificar os erros. Dale Carnegie escreveu, na década de<br />

50, o livro Como EvitarPreocupações e Começar a Viver 1 2. Nele,<br />

Carnegie ensina que devemos deixar o medo de encarar os nossos<br />

erros. Devemos analisá-los e compreendê-los. O autor usa<br />

William James para nos ensinar que a aceitação do que aconteceu<br />

é o primeiro passo para se vencer as conseqüências de qualquer<br />

infortúnio.<br />

27


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

Pensando em líderes, devemos compreender o que muito<br />

bem foi colocado por Kevin Cashrnan,':' ao expor que a habilidade<br />

que temos de crescer como líderes é limitada pela habilidade<br />

de crescermos como pessoas. Não devemos jamais distinguir<br />

nossa função de liderança (mesmo porque é passageira)<br />

de nossa identidade pessoal. Um grande engano em época<br />

de empreendedorismo é um auto-investimento no perfil de liderança.<br />

Não que isso não seja efetivo, porém é passageiro.<br />

Investir tempo, forças e energia para se qualificar como um<br />

bom líder pode lhe privar de investir tempo, forças e energia<br />

para crescer como pessoa e como cristão. Como líder, posso<br />

dar-me ao luxo de seguir em frente, mesmo tendo cometido<br />

erros. Porém, como pessoa e cristão, devo fazer com que meus<br />

erros se tornem minha melhor oportunidade de conserto e<br />

crescimento.<br />

Muito se fala sobre aprender com os próprios erros, porém<br />

pouco se vê acontecendo nesse sentido. Um dos principais<br />

motivos para a tendência de sermos recorrentes nos mesmos<br />

erros é a falta de entendimento sobre eles. Tenho um amigo<br />

que possui um temperamento explosivo. Diversas vezes, isso<br />

se tornou motivo de brincadeiras que ele próprio faz sobre<br />

seu temperamento. Ao observarmos alguma alteração desnecessária<br />

no tom da sua voz, ele rapidamente já se justifica dizendo<br />

que tem um temperamento forte. Esta é justamente a<br />

forma inadequada de lidarmos com nossos erros: observando-os<br />

passivamente, justificando-os e racionalizando-os.<br />

Não raramente nos pegamos pensando em pessoas com problemas<br />

mais graves apenas para nos escondermos da óbvia<br />

necessidade de sermos confrontados e de crescermos. Inúmeros<br />

erros não advêm de queda espiritual ou moral objetiva,<br />

mas tão-somente da ausência de crescimento. Muitos não tiveram<br />

a oportunidade de amadurecer e carregam as mesmas<br />

manias e birras de quando eram crianças. E isso gera grandes<br />

perdas, tanto pessoais como para os que estão ao redor.<br />

Para aprendermos com nossos erros, é necessário levá-los<br />

a sério. Um temperamento explosivo não é apenas um temperamento<br />

forte, mas algo que machuca pessoas, entristece o<br />

Espírito Santo pela falta de domínio próprio e nos impede de<br />

28


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

vivermos mais tranqüilos com nossas próprias reações. A crítica<br />

não é apenas uma questão de objetividade, ou de ser direto,<br />

como muitas vezes justificamos. A crítica compulsiva é um<br />

agente do diabo para a destruição da vida alheia; um desencorajamento<br />

que pode marcar uma pessoa pelo resto da vida,<br />

além de um mecanismo que faz o coração do crítico adoecer<br />

com a amargura. Não conheço pessoas críticas felizes.<br />

A desavença relacional não é apenas um problema de percurso<br />

- já que todos têm problemas com relacionamento -<br />

como podemos pensar. Desavenças relacionais repetitivas com<br />

pessoas diferentes indicam que algo está errado em nossa forma<br />

de lidar com o próximo. É certo que muitos problemas<br />

relacionais não advêm de pecado, mas tão-somente de perfis<br />

distintos ou distintas maneiras de enxergar uma só coisa. O<br />

que provém dessa diversidade, seja de perfilou de observação,<br />

é que pode se tornar pecado. É quando meu olhar de<br />

superioridade impede que meu irmão se sinta bem ao meu<br />

lado; quando minha fraqueza carnal me impede de andar duas<br />

milhas, mesmo que outros já tenham feito o mesmo comigo<br />

tantas vezes; quando a minha exigência de perfeição projetada<br />

no outro cobra dele uma postura impossível, levando-me a<br />

julgá-lo por aquilo que não pode ser ou não pode dar. Ao fazermos<br />

assim, teremos adoecido o coração.<br />

C. S. Lewis nos ensina que, "quando um homem se torna<br />

melhor, compreende cada vez mais claramente o mal que ainda<br />

existe em si. Quando um homem se torna pior, percebe<br />

cada vez menos a sua própria maldade"!". Para aprendermos<br />

com nossos erros, é necessário levá-los a sério, conversar com<br />

o Pai sobre eles, pedir forças para mudarmos e amadurecermos,<br />

crescer um pouco mais.<br />

Cuidar do próprio coração<br />

O Senhor sonda nosso coração. Portanto é nossa imagem<br />

interna, e não a externa, que precisa de maior cuidado. Em<br />

dias de ufanismo e triunfalismo, somos levados a procurar sempre<br />

o que nos destaca, ou destaca o nosso trabalho. Esse é um<br />

grave engano, visto que o Senhor não sonda nossos relatórios,<br />

29


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

mas o nosso coração. O Dr. Augustus Nicodemus, exímio expositor<br />

da Palavra, afirma que Deus não nos chama para termos<br />

sucesso sempre, mas para sermos fiéis.<br />

Compreender a marcante diferença entre caráter e reputação<br />

não pressupõe que faremos uma escolha legítima. É preciso<br />

estar disposto a priorizar a verdade. Abraham Lincoln gostava<br />

de afirmar que "caráter é como uma árvore e reputação,<br />

a sombra. A sombra é o que nós pensamos sobre isso. A árvore<br />

é a realidade" 15.<br />

Muitas vezes confundimos inteligência, conhecimento e sabedoria.<br />

Podemos aplicar as palavras "a inteligência é uma espada...<br />

o caráter, a empunhadeira", de Bodenstedt, dizendo<br />

que é o caráter que delineará a sabedoria no agir. Outras vezes<br />

confundimos temperamento brando com bom caráter. Ao<br />

contrário, como disse Pierre Azai'z: "O caráter éaesperança<br />

do temperamento". Um temperamento brando, quieto ou mais<br />

vagaroso, pode dar a impressão de domínio próprio e esconder<br />

as paixões mais carnais.<br />

E nesse processo é importante termos uma visão correta a<br />

nosso próprio respeito. Quem afinal somos nós? Quem define<br />

a nossa identidade? A verdade é que muitas vezes não somos<br />

. .<br />

quem as pessoas pensam que somos, pOIS mesmo os amigos<br />

mais chegados nos conhecem apenas a partir dos sinais externos.<br />

Nossas emoções, os medos secretos, as esperanças pessoais,<br />

os paradigmas da alma, estes formam um cenário totalmente<br />

desconhecido por aqueles que se colocam ao nosso lado.<br />

Mas também não somos quem nós pensamos que somos.<br />

Isso porque o nosso poder de autocompreensão é por demais<br />

limitado. Somos enganados pela falsa sinalização dos sentidos,<br />

pelas nossas próprias tendências subconscientes, além da<br />

óbvia falta de capacidade de um completo autoconhecimento.<br />

Aristóteles, filósofo grego e aluno de Platão, já afirmava que<br />

"somos seres desconhecidos. Especialmente eu".<br />

É, portanto, necessário aceitar que somos quem o Senhor<br />

diz que somos. A verdade a nosso respeito não está guardada<br />

em um arquivo na casa do amigo nem mesmo em nossa própria<br />

posse. Está no julgamento de Deus. Ele nos "sonda e nos<br />

conhece" (SI 139.1) e julga-nos com exatidão, pesa a nossa<br />

30


INTEGRIDADE DE CORAÇÃO<br />

alma e categoriza todos os nossos sentimentos mais profundos.<br />

Você é quem Deus diz que você é.<br />

Convictos dessa verdade, é preciso crescer. Não priorize o<br />

crescimento da sua reputação, ministério ou carreira. Priorize<br />

o crescimento do seu caráter.<br />

Neste capítulo, conversamos sobre a integridade de coração.<br />

Gostaria de convidá-lo a refletir um pouco sobre essas<br />

verdades, aplicando-as à sua vida particular. Mencionei que<br />

a integridade vai além da sinceridade, que ela deve perdurar<br />

na inconstância, que é vista nos detalhes e se traduz nas atitudes.<br />

Nessas atitudes, dando um contorno mais prático e<br />

visível aos valores da integridade de coração, sugeri calar-se,<br />

evitando sempre se defender, não negociar a verdade, assumir<br />

a responsabilidade do erro, aprender com eles e cuidar<br />

do seu coração.<br />

Perante esta conversa e estes assuntos, gostaria de lhe perguntar:<br />

Como está a sua vida com Deus? Não me refiro aqui a<br />

seu ministério, realizações, títulos ou reconhecimento público.<br />

Deixe tudo isso de lado por um momento, baixe a guarda<br />

e, na presença do Pai, peça que ele, que sonda os corações, lhe<br />

traga à memória aquilo que necessita de conserto, de perdão,<br />

de molde e quebrantamento.<br />

É nesse campo, privado e particular do nosso coração, que<br />

as verdadeiras batalhas são travadas. Não se apresse em seguir<br />

adiante para o segundo capítulo. Tire um tempo, o que<br />

necessário for, para ponderar sobre a sua vida com Deus. Antes<br />

de refletir e ponderar, ore como o salmista:<br />

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e<br />

conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho<br />

mau e guia-me pelo caminho eterno." (51139.23,24.)<br />

31


CAPíTULO<br />

ABUSCA PELA<br />

INTEGRIDADE<br />

DENUNCIA OPECADO<br />

"Quando um homem se torna melhor, compreende cada<br />

vez mais claramente o mal que ainda existe em si. Quando um<br />

homem se torna pior, percebe cada vez menos a sua própria<br />

maldade." (C. S. Lewis.) I<br />

Na jornada em busca de uma vida íntegra, a humildade é<br />

um claro sinal de maturidade cristã, pois ela, em si, é fruto da<br />

compreensão da nossa total dependência de Deus. Quanto mais<br />

buscamos uma vida íntegra na presença do Senhor, mais somos<br />

confrontados pelo Espírito nas áreas da nossa alma que<br />

precisam de conserto, de perdão, de libertação e cura. E esse<br />

confronto gera, sempre, um espírito de humildade, pois percebemos<br />

quem somos eoquanto carecemos de Deus. Para<br />

avaliar o crescimento espiritual de um amigo ou discípulo, basta<br />

observar sua humildade.<br />

Devemos compreender que a busca pela integridade denuncia<br />

o pecado. O teólogo Richard Baxter (1615-1691), homem<br />

piedoso, autor de mais de 130 livros, afirma em sua obra<br />

O Pastor Aprovado que "é mais fácil julgar o pecado que<br />

dominá-lo", e desafia-nos: "Somos exortados a olhar por nós<br />

mesmos para não suceder que convivamos com os mesmos<br />

pecados contra os quais pregamos'", Isso é algo que deve nos<br />

fazer refletir com temor perante Deus a cada palavra proferida<br />

no púlpito de nossas igrejas.<br />

32


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

A presença de Deus realça a nossa imperfeição<br />

Em Gênesis 17.1, lemos que Deus disse a Abraão: "Eu sou<br />

o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito".<br />

Andar na presença de Deus leva-nos ao caminho da perfeição<br />

ao mesmo tempo em que esse andar na presença dele<br />

aponta de forma clara as nossas imperfeições.<br />

Não há como sermos santos e íntegros se o pecado que<br />

abrigamos não for denunciado. O pecado é, sociologicamente,<br />

compreendido de forma simbólica na organização social<br />

humana. Ao falarmos de pecado, vêm à nossa mente o que<br />

rotulamos como pior, ou inaceitável, como o adultério, o roubo<br />

e o assassinato. Outras sociedades também possuem suas<br />

compreensões simbólicas do pecado. Entre os konkombas de<br />

Gana, o maior pecado é mentir. Entre os indígenas da Amazônia,<br />

talvez seja ser "pão-duro", ou sovina. De toda forma, precisamos<br />

observar que o pecado, mesmo não embutido de um<br />

simbolismo social degradante, igualmente nos afasta de Deus.<br />

É fácil censuramos a embriaguez, mas temos dificuldade de<br />

confrontar a gula. Apontamos com clareza a falta de domínio<br />

próprio nos relacionamentos, mas convivemos pacificamente<br />

com a inveja. Nós nos iramos contra o roubo, mas somos tolerantes<br />

com o engano.<br />

Quando Paulo nos advertiu, dizendo que a carne luta contra<br />

o Espírito e este contra a carne (GI 5.17), deixou claro que<br />

não derrotaremos a carne lutando contra a carne. Derrotaremos<br />

a carne nos enchendo do Espírito. Isso não dilui a necessidade<br />

de estarmos alertas, e 1 Coríntios 10 afirma que é nossa<br />

tarefa resistir e suportar (v. 13). Significa que os processos<br />

de transformação que contrariam a carne em nossa vida se<br />

darão pela presença e atuação do Espírito Santo em nós. Assim,<br />

o maior passo a ser dado para termos vida íntegra e santa<br />

é sermos cheios do Espírito.<br />

A vida devocional nos dá o alimento diário e combate<br />

o pecado<br />

Homens maduros e com longo tempo de liderança entre o<br />

33


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

povo de Deus sistematicamente nos alertam para o cuidado<br />

com a vida devocional. Richard CeciI expressa que o principal<br />

defeito dos ministros cristãos está centrado na deficiência<br />

quanto ao hábito devocional. Edward Bounds, citando Robert<br />

Murray McCheyne em seu belo texto "Comece o Dia em<br />

Oração":', alerta:<br />

"Eu sinto que é muito melhor começar com Deus - ver a<br />

Sua face primeiro, elevar a minha alma para junto d'Ele - antes<br />

de me aproximar dos outros."<br />

João Calvino, reformador e teólogo, nos ensina:<br />

"Não somos nossos: portanto, nem nossa razão nem nossa<br />

vontade devem presidir nossos planos ou nossos atos. Não somos<br />

nossos: portanto, não tenhamos como objetivo procurar o<br />

que convém à carne. Não somos nossos: portanto, esqueçamos,<br />

na medida do possível, a nós mesmos e tudo o que é nosso. Pelo<br />

contrário, somos do Senhor, logo vivamos e morramos para<br />

Ele. Somos de Deus: portanto deixemos a sua sabedoria e vontade<br />

presidir todas as nossas ações.?"<br />

Para os líderes cristãos, uma das maiores barreiras para<br />

uma vida devocional éopróprio ministério. Com um envolvimento<br />

integral no ministério, é muito fácil não encontrarmos<br />

tempo para a oração, leitura e reflexão na Palavra por estarmos<br />

ocupados trabalhando para o Senhor. Eu tento manter<br />

minha mente dirigida pelo comentário de Jesus sobre Marta e<br />

Maria (Lc 10.41,42). O trabalho que Marta realizava era legítimo,<br />

de valor e honroso. Era para o Mestre. Ela desejava ter<br />

a casa arrumada, a comida pronta. Ela queria servi-lo. Maria,<br />

porém, estava aos seus pés, e foi ela quem escolheu a melhor<br />

parte. Mantenho essa imagem mental para ajudar-me no diaa-dia.<br />

O serviço que posso prestar para o Senhor não deve<br />

substituir minha vida com ele, meu tempo com ele. A melhor<br />

parte a que o Senhor se refere não está ligada apenas ao desejo<br />

do Mestre, e sim à necessidade de Maria. Ela precisava<br />

estar com Jesus.<br />

A melhor parte não é só um ritual que agrada a Deus, é<br />

34


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

também um elemento que sacia a nossa alma. Se não estivermos<br />

com ele, o serviço, eventualmente, irá perecer. Teremos<br />

perdido a visão do Alto, o rumo certo, as motivações bíblicas<br />

que antes estavam em nosso coração, a brandura no relacionamento<br />

com o outro, a paixão pelo Senhor e pelos perdidos.<br />

Teremos, enfim, apenas uma casa bem-arrumada, com<br />

uma bela mesa posta e comida quente. O Mestre, porém,<br />

não estará lá.<br />

Marta estava ocupada com afazeres legítimos, e Jesus a<br />

adverte de que ela se preocupava demais com muitas coisas,<br />

mas poucas eram realmente necessárias. Uma delas é estar<br />

com ele.<br />

Não desejo expor aqui sobre a vida devocional de forma<br />

prolongada, pois escrevo, sobretudo, para líderes que são cristãos<br />

maduros que a praticam e ensinam sobre ela. Desejo<br />

convidá-lo a manter uma figura mental que o ajude a fazer as<br />

escolhas certas, de tempo e de atenção, ao longo dos dias.<br />

Escolha estar com o Senhor.<br />

A Bíblia nos leva a ter a real visão do pecado eaentender o<br />

que é a verdadeira religião. Tiago nos diz que:<br />

"Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela<br />

sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência<br />

concebido, dá à luz o pecado; eopecado, sendo consumado,<br />

gera a morte... Se alguém entre vós cuida ser religioso e não<br />

refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião<br />

desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é<br />

esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardarse<br />

da corrupção do mundo." (Tg 1.14,15,26,27 - ARe.)<br />

É surpreendente a explicação de Tiago a respeito do pecado<br />

que nasce na concupiscência e gera a morte. Ao comparar<br />

o verdadeiro cristianismo com a falsa religiosidade, a partir<br />

daquilo que é santo ou pecaminoso, ele simplifica a mensagem,<br />

tornando-a aplicável à vida diária. Exemplifica dizendo<br />

que é falsa religiosidade não refreiar a língua, ao passo que é<br />

verdadeiro cristianismo visitar os órfãos e as viúvas.<br />

Fica claro o ensino de que precisamos lidar com o pecado<br />

de forma prática e objetiva. C. S. Lewis nos fala sobre o enga-<br />

35


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

no que sempre rodeia o pecado, quando afirma que "um homem<br />

mediocremente mau sabe que não é muito bom; um homem<br />

inteiramente mau pensa que é justo">, Isso revela a mundana<br />

tendência de lidarmos com o pecado através de ilusões e<br />

fantasias, e não por meio da verdade.<br />

Há mensagens claras na Palavra do Senhor quanto ao pecado:<br />

que o pecado é combatido pelo poder de Deus; que a<br />

carnalidade - tendência natural humana ao pecado - é controlada<br />

pelo Espírito; que, por fazermos escolhas naturalmente<br />

más, a forma bíblica e certa de deixarmos morrer a carne é<br />

sermos cheios do Espírito; que a vida devocional - buscar ao<br />

Senhor e escolher a melhor parte - éaprincipal iniciativa para<br />

aqueles que desejam estar com ele.<br />

Creio que boa parte dos problemas ligados à liderança ou<br />

aos relacionamentos é resultado de questões espirituais. Observando<br />

de longe, percebemos apenas o conflito entre as pessoas,<br />

a dificuldade de perdoar, a complexidade das demandas,<br />

a intolerância e os erros recorrentes. A raiz desses processos,<br />

porém, é espiritual. Eles não são resolvidos por livros de autoajuda<br />

ou pelo estudo das 20 regras para ser um bom líder. São<br />

coisas do coração. Grande parte dos conflitos que drenam<br />

nosso tempo e energia não existiria se tivéssemos uma vida<br />

devocional melhor.<br />

Gostaria de tomar a liberdade neste momento e lhe perguntar<br />

sobre a sua vida devocional, sobre o tempo que investe<br />

para simplesmente estar com o Senhor, lendo a sua Palavra,<br />

ouvindo a sua voz, conversando com ele. Se há algo a ser dito<br />

é: Tome uma decisão hoje de escolher a melhor parte.<br />

Vários perigos em não lidar objetivamente com o pecado<br />

Há vários perigos a respeito do pecado. Um dos maiores é<br />

não o compreendermos e, com a mente confusa ou cauterizada,<br />

o tratarmos como parte da vida normal do cristão. Outro<br />

perigo é nos acostumarmos com ele, mesmo com plena consciência<br />

de estar pecando contra o Pai. Em todas essas situações,<br />

a mente humana tende a desenvolver mecanismos ilusórios<br />

que colaboram para a perpetuação do pecado em nossa<br />

36


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

vida. Tais mecanismos podem ser criados através da racionalização,<br />

da fuga e da hipocrisia. A racionalização argumenta<br />

sobre os motivos pelos quais se deve continuar pecando. A<br />

fuga impede que a mente pense de forma objetiva sobre o pecado,<br />

tratando-o como um assunto distante, ligado apenas ao<br />

outro. A hipocrisia lida com o pecado através de um sentimento<br />

corrompido, justificando-o com a observação de que<br />

outro peca ainda mais.<br />

A racionalização<br />

A racionalização é facilmente perceptível em uma conversa.<br />

Quando o pecado é apontado na vida de outro e este já<br />

possui um padrão de racionalização, sua primeira resposta é<br />

argumentativa e explicativa. Ele não assume o erro ou a fraqueza,<br />

mas fala com fervor do erro e da fraqueza dos outros<br />

ao seu redor. Em determinado momento, pode esboçar um<br />

reconhecimento de culpa, mas somente após uma longa jornada<br />

de explicações e acusações que, em seu íntimo, lhe servem<br />

para gerar uma ilusória justificativa. A racionalização é<br />

uma tendência natural humana, e a vemos presente no padrão<br />

comportamental infantil. Se confrontamos nosso filho<br />

de dez anos sobre sua atitude em meio a um conflito com o<br />

irmão ou a irmã, sua reação institiva será justificar-se através<br />

do que o outro fez de errado. Quando uma criança, confrontada<br />

com seu erro, responde com a afirmação "Ele me<br />

bateu primeiro...", está configurada a presença de um padrão<br />

mental de racionalização que podemos, ou não, carregar<br />

por toda nossa vida.<br />

O problema central da racionalização é que ela nos distancia<br />

da verdade. Ajuda-nos, tão-somente, a pensarmos sobre as<br />

razões que justificam o nosso erro. Não nos confronta, e jamais<br />

nos ajuda a termos um coração transformado. Se você<br />

trabalha com um irmão que sempre racionaliza seus problemas<br />

pessoais, há grave chance de que ele venha a repeti-los<br />

muitas e muitas vezes.<br />

A soberba eoorgulho são aliados da racionalização, pois<br />

nos levam a pensar que o outro é inferior, está errado, e que<br />

37


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

somos vítimas nesse processo. Fazem também com que, mesmo<br />

reconhecendo nosso erro, nos concentremos nos erros do<br />

próximo. A soberba faz com que pensemos que de fato estamos<br />

sempre certos, ou que o outro sempre está mais errado. O<br />

orgulho nos impede de olhar para o próximo como Cristo olha<br />

para ele. Talvez a forma mais eficaz de combatermos a racionalização<br />

em nossa vida seja cultivar a humildade. Corações<br />

humildes tendem a ser mais realistas, earealidade é um caminho<br />

para a verdade.<br />

A fuga<br />

A fuga, assim chamemos, impede que o pecado seja ao menos<br />

avaliado ou reconhecido. Ele é-tratado como um objeto distante<br />

e que jamais deve ser seriamente observado. Tal mecanismo<br />

é mais dissimulado, porém se tornará perceptível pelas<br />

evasivas no pensamento ou no discurso. Ambas as atitudes<br />

mentais possuem como característica um discurso evasivo, e<br />

este é, em si, uma conseqüência direta do pecado.<br />

A fuga, portanto, não segue um padrão primariamente<br />

comportamental, e sim mental. É a forma como podemos aprender<br />

a pensar eéabundantemente encontrada em pessoas que<br />

cresceram em lares onde os problemas não eram jamais tratados.<br />

Simplesmente eram esquecidos em um canto. Lares em<br />

que os pais não assumiam a responsabilidade e não tinham conversas<br />

francas com os filhos sobre o pecado e sobre os conflitos<br />

da vida. A fuga, como padrão mental, leva a pessoa a distanciarse<br />

internamente do problema. Mesmo quando se quebranta e<br />

reconhece o erro, não o expressa de forma clara.<br />

O problema da fuga, bem como o da racionalização, é que<br />

nos distanciamos da verdade e nos tornamos susceptíveis a<br />

cair novamente. A Palavra de Deus nos fala sobre o valor da<br />

verdade e do valor dela para nós. E, em um aconselhamento<br />

com irmãos que racionalizam ou fogem dos conflitos em pauta,<br />

é necessário ser objetivo. Sugiro recapitular os problemas,<br />

descrever objetivamente suas atitudes ou palavras, colocar o<br />

assunto sobre a mesa, com brandura e amor. Reitere, logo no<br />

início do aconselhamento, seu compromisso de caminhar com<br />

38


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

ele, para que saiba que é amado e sinta-se seguro o suficiente<br />

para conversar de forma sincera e aberta. Ao colocar o assunto<br />

sobre a mesa, aguarde. Sua intenção não é pontuar seu erro,<br />

mas levá-lo a contornar o padrão de racionalização e de fuga<br />

que tem seguido. Você não pode fazer isso para ele. Se nenhum<br />

passo for dado por ele, faça perguntas que o ajudem a<br />

caminhar, tais como: "O que você acha sobre essas atitudes<br />

ou palavras?" "Como você se sente neste momento?" "O que<br />

você acha que está errado nessa atitude?" Ore e, se puder,<br />

peça a outros que façam o mesmo, para que o Senhor ajude<br />

aquele que está no aconselhamento a transpor as barreiras da<br />

racionalização e da fuga. Freqüentemente, o resultado é muito<br />

positivo, pois é maior Aquele que está em nós.<br />

Gostaria de lhe propor um desafio, caso você tenha adotado<br />

esse padrão mental e comportamental. Coloque perante o<br />

Senhor esses desvios que o impedem de olhar objetivamente o<br />

pecado presente em sua vida: a racionalização e a fuga. Procure<br />

alguém para ajudá-lo e converse a respeito. Ore a Deus,<br />

pedindo a ele que o mantenha alerta e, sobretudo, com um<br />

olhar objetivo em relação aos seus problemas. Um bom exercício<br />

é nomeá-los. Não trate o pecado como erros gerais. Ele<br />

tem nome. Trate a mentira como mentira, a inveja como inveja.<br />

Nomeie seus problemas e converse a respeito deles com o<br />

Senhor e com um amigo chegado.<br />

Necessitamos da Palavra, que nos confronta, ensina, conduz<br />

à retidão e alinha nossos pensamentos, impedindo a fuga<br />

irresponsável ou a racionalização improdutiva. Sendo assim, a<br />

busca por uma vida autêntica faz-nos olhar para Deus e tomanos<br />

sensíveis ao pecado com um objetivo:<br />

"Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de<br />

Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta,<br />

na qual resplandeceis como luzeiros no mundo." (Fp 2.15.)<br />

A hipocrisia<br />

A hipocrisia já é, em si, uma ação objetiva com relação a<br />

um problema. Isto é, há menor chance de alguém se manter<br />

39


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

hipócrita de forma inconsciente, o que, com freqüência, acontece<br />

com a racionalização e a fuga.<br />

A hipocrisia perante o pecado é bem retratada no filme A<br />

Letra Escarlate, que retrata a religiosidade do século XVII.<br />

Ele conta a história de peregrinos ingleses que haviam fundado<br />

uma cidade no Novo Mundo e desejavam que esta fosse a<br />

Nova Jerusalém. O enredo mostra a hipocrisia humana perante<br />

o pecado. Um homem honesto e de boas intenções - o pastor<br />

que ensina os índios - se apaixona por uma mulher que<br />

julgava ser viúva. E assim os dois pecam, sendo levados à forca.<br />

Os líderes, seus algozes, os mais corruptos lobos vestidos<br />

de ovelhas, selam o destino deles. Um desses, prisioneiro do<br />

pecado, tenta viver uma vida aparentemente piedosa para esconder<br />

várias psico-patologias. Deseja adulterar e, quanto mais<br />

alimenta o desejo, mais acusa e condena os outros.<br />

Outro grupo é representado por aqueles que vivem no pecado<br />

da mente e do espírito, vaidosos, egoístas, presunçosos e<br />

soberbos, e se auto-afirmam através da perseguição que lançam<br />

aos pecados da carne. Acusando outros, sentem-se menos<br />

pecadores e justificam o próprio pecado, como a soberba<br />

e a altivez.<br />

Baxter salienta que a iluminação éaprimeira parte da<br />

santificação e que, quanto mais clara for a luz de um cristão,<br />

mais ardente e vivo será seu coração. Salomão enfatiza que<br />

Deus se entristece profundamente com uma conduta como a<br />

daqueles homens: "O Senhor aborrece... olhos altivos" (Pv<br />

6.16,17) e "Em vindo a soberba, sobrevém a desonra" (Pv<br />

11.2). Gálatas 5 nos revela que as obras da carne estão todas<br />

em pé de igualdade - ou seja, os pecados contra a pessoa de<br />

Deus (idolatria, feitiçaria), contra o próprio corpo (prostituição,<br />

impureza, lascívia, bebedeiras e glutonarias) e contra o<br />

corpo de Cristo (inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias,<br />

dissensões, facções e invejas).<br />

Devemos lutar não apenas contra a prostituição eaidolatria,<br />

como claramente se faz na igreja de Cristo, mas também<br />

contra a arrogância, a murmuração, o orgulho, a malícia, a<br />

avareza, a inveja, a altivez, a jactância, o desrespeito eoatrevimento.<br />

40


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA D PECADO<br />

Para a psicologia analítica, a projeção é um mecanismo de<br />

defesa e consiste na dinâmica de "colocar" em alguém algo inaceitável<br />

de seu ego, algo geralmente negativo que é reprimido<br />

ou negado, na tentativa de sentir-se mais livre. A projeção, portanto,<br />

é um comportamento colaborador da hipocrisia.<br />

A hipocrisia é um resultado direto da alma corrompida e<br />

promove maior corrupção. Leva aquele que dela é possuído a<br />

tratar dos erros alheios com veemência, dureza e intolerância,<br />

enquanto esconde em seu coração problemas semelhantes. Um<br />

dos frutos da hipocrisia, a meu ver, é o legalismo. O legalismo<br />

é uma forma de comunicá-la à sociedade, pois o legalista é<br />

aquele que se atém à forma da lei com tamanha intensidade<br />

que se torna um acusador, impiedoso, sem cores de misericórdia.<br />

Por outro lado, não raramente esconde seus problemas<br />

mais íntimos - nesse caso, o atrevimento, o desrespeito, a falta<br />

de amor.<br />

O legalista pode ser facilmente identificado. Trata-se daquele<br />

que possui palavras sempre afiadas, jamais reflexivas,<br />

que o envolvam. São, porém, dirigidas à igreja, ao povo de<br />

Deus, ao outro. Tais palavras apontam continuamente os problemas,<br />

jamais as virtudes. São pessoas irredutíveis, como se<br />

pudessem distinguir aqueles que são ou não salvos, agradam<br />

ou não a Deus. Mas o principal sinal é este: apegam-se sobretudo<br />

à forma (ações e posturas externas) e esquecem-se do<br />

conteúdo, daquilo que se passa no coração.<br />

Para os legalistas, aquele que possui uma forma cristã, seja<br />

em um culto ou nas próprias roupas, é rapidamente classificado<br />

de forma positiva. Muitas vezes, com conhecimento da<br />

Palavra e possibilidade de um bom uso dela, podem se deixar<br />

convencer de que são defensores das verdades divinas, munidos<br />

da melhor das intenções. Desconhecem que, nesta caminhada,<br />

têm perdido as marcas de Cristo, que são a brandura e<br />

o amor; a tolerância eadisposição para andar a segunda milha;<br />

o desejo de recuperar e não de acusar; a simplicidade, a<br />

alegria e as risadas com os amigos; o reconhecimento de que<br />

pertencemos a Deus e carecemos dele. O pecado visto em ações<br />

legalistas passa quase sempre pelo desrespeito, a altivez e o<br />

atrevimento.<br />

41


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

Para sabermos se estamos tomando um caminho legalista,<br />

devemos procurar os sinais. Cito dois deles. O primeiro éa<br />

facilidade no julgamento, pois o legalismo se concentra em<br />

observar e julgar o outro, perdendo, assim, sua postura reflexiva,<br />

de avaliação do próprio coração. O segundo sinal é a<br />

arrogância, a falta de desejo e de disposição para ouvir o outro,<br />

suas idéias e posições. A arrogância pretere o diálogo e,<br />

assim, o legalista acusa, jamais dialoga.<br />

Se nosso coração anda nesta trilha, se nos tornamos juízes<br />

de nossos irmãos, e arrogantes o suficiente para evitarmos o<br />

diálogo e nos expressarmos tão-somente pela crítica e acusação,<br />

é possível que já sejamos legalistas. Porém, não é tarde<br />

para olhar para o Senhor, como quem busca misericórdia, amor<br />

ao próximo, zelo pela Palavra e um coração puro, coerente<br />

com a bondade do Senhor sobre a nossa vida.<br />

A postura bíblica perante a tentação<br />

Gostaria de partilhar sobre a postura bíblica com relação ao<br />

pecado. Para isso, usarei Neemias como referência. Ele é um<br />

exemplo de homem que seguiu a visão que o Senhor plantou em<br />

seu coração. Dirigiu-se para uma Jerusalém destruída e<br />

desabitada para reconstruí-la (Ne 1.3,4; 2.1-6). Depois de lutar<br />

contra diversos inimigos, como Sambalá e Tobias, que o aterrorizavam,<br />

enfrentar críticas de perto e de longe, finalmente concluiu<br />

sua missão. Com a cidade reconstruída eoculto a Deus<br />

restabelecido, ele volta para prestar contas ao rei Artaxerxes.<br />

Em seguida, regressa a Jerusalém e encontra um quadro bem<br />

diferente do que deixara. Um grupo influente se apropriara da<br />

dinâmica do culto ao Senhor, bem como das ofertas e dos<br />

dízimos, enviara para casa os levitas responsáveis pelo louvor a<br />

Deus e controlava o templo, tornando-o uma fonte de lucro.<br />

Neemias, ao voltar, é procurado por esse grupo que tenta<br />

suborná-lo. Com palavras honrosas, buscam convencê-lo de que<br />

ele é um deles e que a tal apropriação não é indevida.<br />

Neemias até então já havia enfrentado três tipos de ataques.<br />

O primeiro deles foi um ataque vocacional, quando<br />

Sambalá e Tobias lhe perguntam: "Que é isso que fazeis?"<br />

42


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

(2.19), ou seja: Que loucura é essa que você pensa ser uma<br />

visão de Deus? Deus não trabalha dessa forma. Ou ainda quando<br />

o interpelam: "Que fazem estes fracos judeus?" (4.2), quer<br />

dizer: Com que força e habilidade vocês imaginam reconstruir<br />

a cidade derribada de Jerusalém? Tentavam assim questionar<br />

sua vocação, a direção de Deus em sua vida e sua autoridade<br />

para empreender aquela grande tarefa.<br />

Diante desse ataque vocacional, Neemias reafirmou perante<br />

Deus o seu compromisso de vida e disse: "Não declarei a ninguém<br />

o que o meu Deus me pusera no coração para eu fazer<br />

em Jerusalém" (2.12). Ou seja, ele manteve no coração a pureza<br />

do seu chamado. O chamado éaconvicção que mantém<br />

o líder no trabalho, o pastor no púlpito eomissionário no<br />

campo. Sem a convicção de chamado de Deus, não suportaremos<br />

as críticas e o dia mal.<br />

O segundo ataque foi emocional. Neemias denunciou esse<br />

ataque em diversas ocasiões, como em 6.19, quando diz:<br />

"Tobias escrevia cartas para me atemorizar"; ou ainda em 6.14,<br />

em que fala de "... Noadia e dos mais profetas que procuraram<br />

atemorizar-me". O plano era aterrorizá-lo. E esse é um<br />

dos ataques mais eficazes do inimigo, pois a ansiedade tem o<br />

poder de nos paralisar. A ansiedade, sobretudo a crônica, que<br />

se perpetua durante um longo período, possui a capacidade de<br />

drenar nossa energia, motivação, alegria e sonhos. Perante tal<br />

ataque, Neemias também guardou o seu coração. Ele chamou<br />

os amigos e leu a Palavra. Lições preciosas. Diante de situações<br />

emocionalmente complexas, não podemos estar sós, bem<br />

como não podemos nos distanciar da Palavra, que aviva a alma.<br />

O terceiro ataque foi espiritual. Enquanto Neemias persistia<br />

na visão de Deus e no seu chamado, houve uma mudança<br />

tática na atuação de Sambalá. Este passou a usar um profeta<br />

para tentar dissuadi-lo. Neemias, porém, teve discernimento<br />

de Deus, como mostra em 6.12, quando ele diz: "... Então,<br />

percebi que não era Deus quem o enviara; tal profecia falou<br />

ele contra mim, porque Tobias e Sambalá o subornaram".<br />

Note que tal profeta era um profeta de Deus, porém fora<br />

comprado para falar da parte dos homens. Isso nos mostra<br />

que os maiores problemas da igreja vêm justamente da igreja.<br />

43


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

o inimigo é especialista em usar o povo de Deus contra o<br />

povo de Deus.<br />

Normalmente, quando um líder é atacado nestas áreas -<br />

vocacional, emocional e espiritual - e permanece de pé, pela<br />

graça de Deus, o inimigo lança sobre ele um último ataque,<br />

que é o ataque moral.<br />

Essa era a situação de Neemias. Após ter guardado o coração<br />

perante todos os ataques, agora é exposto ao ataque moral<br />

em que lhe propunham colaborar e usufruir da corrupção.<br />

Diante desse ataque, Neemias assume a postura de quem<br />

teme o Senhor e faz aquilo que devemos fazer ao sermos tentados:<br />

ele radicalizou. E quando digo que ele radicalizou, estou<br />

sendo literal. A Palavra descreve a sua postura perante a<br />

tentação moral: "Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei<br />

alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei<br />

por Deus" (13.25).<br />

Em outras palavras, o que ele estava comunicando era:<br />

Eu não permitirei que o pecado me prive da intimidade com<br />

Deus.<br />

a pecado é um processo poderoso que conta com diversas<br />

armas para nos atrair e conquistar. Ante tais processos, precisamos<br />

radicalizar, não negociando com o pecado, não dialogando<br />

com ele e, no temor do Senhor, nos afastando dele.<br />

Contudo, se você caiu diante de um desses ataques, ou de<br />

outros, lembre-se:<br />

"Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade,<br />

o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar,<br />

mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para<br />

vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos<br />

contritos." (Is 57.15.)<br />

o Senhor está sempre pronto a perdoar e levantar o caído.<br />

É preciso, porém, que haja contrição, humildade, reconhecimento<br />

e desejo de abandonar aquilo que não vem dele. É preciso<br />

identificar o tipo de ataque que é lançado contra a sua<br />

vida; orar a Deus nesse momento, pedindo sua misericórdia e<br />

graça; ser fortalecido para que não caia, ou receba perdão<br />

44


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

caso já tenha caído. E assim, de pé tão-somente pela graça de<br />

Deus, caminhar, pois há muito ainda a ser construído.<br />

A diferença entre o pecado eaenfermidade psíquica<br />

Percebo que, por vezes, não fazemos uma clara distinção<br />

entre uma enfermidade psíquica e uma atitude pecaminosa. E<br />

isso pode causar sérios danos ao acompanhamento daquele<br />

que está sofrendo. Tanto o pecado quanto a enfermidade e<br />

toda imperfeição advêm da queda. Porém, há (e devemos entender<br />

isto) uma clara distinção entre o pecado eaenfermidade.<br />

O pecado é um processo que necessita de quebrantamento<br />

e de perdão. Já a enfermidade requer compreensão, tratamento<br />

e cura.<br />

Encontrei-me, certa vez, com um missionário que sofria<br />

com o TOC (transtorno obsessivo compulsivo) havia anos. Ele<br />

compartilhou que, mesmo com o sofrimento, foi capaz durante<br />

anos de liderar uma equipe missionária em um dos países<br />

mais árduos da Europa. Estava envolvido no ministério por<br />

quase doze anos, procurando omitir de todos seu problema<br />

psíquico. Passou a se isolar para esconder as várias manias,<br />

das quais não conseguia se livrar. Chegava a passar toda a noite<br />

verificando repetitivamente se a porta de seu apartamento<br />

estava fechada - um dos seus rituais. Finalmente, resolveu abrir<br />

o coração em um encontro de líderes. Enquanto falava, partilhou<br />

seu maior temor. Ele receava que os outros, percebendo<br />

seu problema, o julgassem um pecador indolente, e não alguém<br />

enfermo e abatido. Foi abraçado por vários líderes que<br />

vivenciaram esse e tantos outros problemas psicoemocionais.<br />

A partir daí, passou a receber acompanhamento de um psicólogo<br />

cristão que o levou, após algum tempo, a uma celebrada<br />

recuperação.<br />

O TOC - como também a depressão e diversas outras<br />

enfermidades psíquicas - pode ser facilmente confundido com<br />

posturas pecaminosas se observadas de maneira superficial.<br />

Várias ações advindas de pessoas com tais transtornos precisam<br />

ser encaradas como fruto da enfermidade, e não do<br />

pecado. A psicanálise ajuda com a terapia proposta, apesar<br />

45


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

de sua abordagem se concentrar na anulação da culpa moral<br />

para a facilitação da cura, o que pode causar estragos em<br />

outras áreas da vida.<br />

Contudo, nós, cristãos, precisamos observar com cuidado<br />

essa linha divisória, a fim de tratarmos a enfermidade dos enfermos<br />

eopecado dos pecadores. No ótimo artigo "Combatendo<br />

a Ansiedade", lemos que "É certo que as enfermidades<br />

psíquicas, bem como outras formas de imperfeição humana,<br />

provêm da queda e podem, em si, levar a atitudes negativas e<br />

pecaminosas em um segundo momento't'v Meu desejo aqui,<br />

porém, é tão-somente levá-lo a perceber a diferença entre esses<br />

dois estados da alma humana.<br />

Alguns anos atrás, um certo líder me telefonou. Ele sofria<br />

de uma depressão profunda havia anos. Com o receio natural<br />

ao nosso meio de abrir o coração, tentou de várias formas<br />

esconder a sua enfermidade. A ansiedade advinda da depressão<br />

o mantinha em contínuo estado de sofrimento. As noites<br />

se tornaram insones. A eufórica mudança de humor ocorria<br />

por diversas vezes a cada dia, todos os dias. Teve fortes ataques<br />

da síndrome de pânico que o paralisava perante as situações<br />

mais corriqueiras do dia-a-dia, como dirigir um carro ou<br />

atravessar uma rua. Partilhou comigo que, por diversas vezes,<br />

durante momentos de extremo sofrimento, pensou no suicídio.<br />

Sentia-se culpado e em pecado por tais pensamentos, entendendo-os<br />

como uma fraqueza moral e espiritual.<br />

Após ouvi-lo, passei a expor que, de fato, ele sofria de uma<br />

enfermidade que produzia uma fraqueza pessoal, porém não<br />

moral, mas psíquica. Disse-lhe que, da mesma forma que um<br />

joelho machucado poderia falhar e levá-lo a cair, sem que ele<br />

assim o desejasse, sua condição psíquica também poderia leválo<br />

a atitudes inesperadas e trágicas. Nesse caso, entretanto,<br />

ele precisaria muito mais de tratamento e cura do que de arrependimento<br />

e perdão.<br />

C. S. Lewis nos ajuda a compreender esse quadro quando<br />

afirma que:<br />

"O material psicologicamente mau não é um pecado, mas<br />

uma doença. Não é preciso que alguém dele se arrependa, mas<br />

46


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

que seja curado. E, diga-se de passagem, isto é muito importante.<br />

Os homens julgam-se uns aos outros por seus atos exteriores.<br />

Deus os julga por suas escolhas morais."?<br />

o primeiro passo, nesse caso, é identificar o problema; se<br />

é moral ou psíquico. Em segundo lugar, deve-se procurar a<br />

ajuda certa. Em ambas as situações, o aconselhamento cristão<br />

éamelhor arma. Contudo, na segunda, é preciso também procurar<br />

um especialista para seguir um tratamento psicológico<br />

ou psiquiátrico. Quanto maior a clareza sobre isso, mais rápida<br />

é a recuperação.<br />

Gedson Lidório, que é psicanalista, nos alerta que "muitos<br />

cristãos se esforçam para sair do quadro de ansiedade sem, no<br />

entanto, resolver a questão. Da repressão surge a angústia que<br />

é interpretada organicamente'". Como ansioso, antes, desejava<br />

ver resolvido o motivo da ansiedade. Agora, angustiado,<br />

chama por um médico para resolver seus problemas que supõe<br />

serem físicos. Dessas considerações, podemos deduzir uma<br />

regra simples: Enfrente a ansiedade da maneira correta. Isso é<br />

explicado por Lopez: "Se, em virtude de um intenso esforço<br />

de repressão, desaparece o elemento ideológico da ansiedade<br />

e se reforçam as vivências orgânicas que o acompanham, veremos<br />

aparecer em seu lugar a angústia'".<br />

Davi enfrentava a depressão, a ansiedade, a angústia e outros<br />

males psíquicos na presença de Deus. Gedson Lidório<br />

nos diz que:<br />

"Davi, reconhecendo ser Deus o seu refúgio, colocava para<br />

fora tudo que o incomodava, sua tristeza e angústia gritando:<br />

'Atéquando encherei de cuidados a minha alma, tendo tristeza<br />

no meu coração cada dia? Até quando o meu inimigo se exaltará<br />

sobre mim? Tem compaixão de mim, Ó Senhor, porque estou<br />

angustiado; consumidos estão de tristeza os meus olhos, a<br />

minha alma e o meu corpo. Os laços da morte me cercaram; as<br />

angústias do Seol se apoderaram de mim; sofri tribulação e<br />

tristeza'. Terminava o salmo, normalmente, já alegre e cheio de<br />

esperança. Os passos são claros: reconhecia a presença e o amor<br />

de Deus. Expressava de maneira clara a angústia em seu coração,<br />

suas emoções. Cantava e orava reafirmando a força do<br />

47


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

Senhor sobre seus males. Alegrava-se na presença dEle, como<br />

no Salmo 13, quando diz que 'Cantarei ao Senhor, porquanto<br />

me tem feito muito bern'."!"<br />

Devemos observar estes passos se nos encontramos ansiosos<br />

e angustiados: reconhecer que Deus controla a nossa<br />

vida e também o incontrolável; expressar a Deus de forma<br />

clara a angústia do coração, sem nada ocultar; orar e cantar<br />

a força divina em nossa vida; alegrar-se na presença dele,<br />

alegria que vem do Espírito quando o buscamos com todo o<br />

nosso coração; experimentar da sua bondade, pois "me tem<br />

feito muito bem".<br />

Além de nos livrarmos da ansiedade e da angústia, devemos<br />

cuidar para não cairmos na depressão. Um dos passos<br />

para tal é desenvolvermos uma mente realista, que mede as<br />

preocupações com uma régua verdadeira, e não simplista ou<br />

superfaturada. A depressão é um mal que, quando já desenvolvido,<br />

pode nos limitar imensamente. Assim, deve ser tratada<br />

de forma aberta e objetiva. Conheço líderes que superaram<br />

o insuperável na vida e no trabalho, mas que sucumbiram à<br />

depressão. É necessário identificar seus sinais, buscar a força<br />

do Senhor, não caminhar só e perceber que Aquele que nos<br />

salva e cura também pode nos devolver a alegria. O choro<br />

pode durar uma noite - mesmo que esta seja longa - mas a<br />

alegria, no Senhor, vem pela manhã.<br />

Carnegie II nos dá alguns conselhos sobre isso. Apesar de<br />

não serem conclusivos, são evidentemente positivos. Sua intenção<br />

é de nos encorajar a buscar, em nossas atitudes, uma<br />

postura pro-ativa que anda na contramão da depressão.<br />

"1) Pense alegremente e, normalmente, você se sentirá alegre.<br />

2) Não desforre em ninguém nem gaste tempo falando mal<br />

de quem o desagrada. 3) Não se preocupe com a ingratidão,<br />

que é um mal real. Espere-a. Quando der algo, não espere a<br />

gratidão. Faça-o pela satisfação de dar. Além do mais, gratidão<br />

se cultiva, pois então ensine a seus filhos. 4) Conte as bênçãos e<br />

não os aborrecimentos. 5) Não viva sofrendo em desejar imitar<br />

aos outros, mas encontre-se, seja você mesmo. 6) Do limão faça<br />

uma limonada. 7) Não se preocupe consigo. Esqueça de si mes-<br />

48


A BUSCA PELA INTEGRIDADE DENUNCIA O PECADO<br />

mo e comece a se interessar pelos demais. 8) Faça, todo dia,<br />

uma boa ação, que ponha um sorriso de alegria no rosto de<br />

alguém."<br />

As nossas atitudes diárias não são determinantes, em última<br />

análise, dos caminhos do coração. Estamos sujeitos a outras<br />

forças, genéticas, ambientais e espirituais. É certo, porém,<br />

que uma atitude pro-ativa em nossa vida diária possui<br />

sua parcela de contribuição para o equilíbrio da alma - nossa<br />

e de outros que nos rodeiam.<br />

Perante a ansiedade, a angústia eadepressão, uma boa ferramenta<br />

de prospecção é falar consigo mesmo. Davi a usou<br />

abundantemente, e devemos imitá-lo. Ele dizia no Salmo 116:<br />

"Bendizei, ó minha alma ao Senhor,' Volta, minha alma, ao<br />

teu repouso, pois o Senhor te fez bem. Pelo contrário, tenho<br />

feito acalmar e sossegara minha alma; qual criança desmamada<br />

sobre o seio de sua mãe, qual criança desmamada está a minha<br />

alma para comigo. "<br />

o livro Depressão Espiritual, de Lloyd-Jones, tem sua base<br />

inicial no segredo de sabermos conversar com nosso próprio<br />

coração.<br />

Particularmente, gosto da manifestação pública dos Alcoólicos<br />

Anônimos, quando dizem:<br />

"Deus, concede-me a serenidade para aceitar as coisas que<br />

não posso mudar; a coragem para mudar as coisas que posso; e<br />

a sabedoria para saber a diferença."12<br />

Gostaria de encerrar este capítulo encorajando-o a crer<br />

comigo que a busca pela integridade e pela santidade certamente<br />

evidencia e denuncia o pecado. É possível que, ao buscarmos<br />

o Senhor e uma vida na presença dele, iremos, em um<br />

primeiro momento, lidar com áreas de nossa vida que irão nos<br />

causar desconforto. Isso se dá porque Deus, que nos sonda e<br />

nos conhece, há de responder nossas orações que pedem<br />

quebrantamento, perdão e conserto. Mas não desanime. A<br />

49


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

busca por uma vida íntegra denuncia o pecado, e somente quando<br />

ele é denunciado podemos caminhar com liberdade na presença<br />

do Senhor.<br />

Convido-o, assim, a ponderar mais uma vez em seu coração<br />

e a se debruçar sobre esse assunto de desconforto, sabendo<br />

que a presença de Deus realça a nossa imperfeição, mas a<br />

nossa vida devocional nos dá alimento e combate o pecado.<br />

Pense neste instante sobre os vários perigos que existem em<br />

relação ao pecado, como a racionalização, a fuga e a hipocrisia,<br />

que também geram o legalismo. Avalie seu coração e peça<br />

a Deus humildade e discernimento. Nomeie o pecado, não seja<br />

vago ou disperso. Caso seja o orgulho, não seja evasivo. O<br />

Senhor possivelmente o fará lembrar-se de posturas do coração<br />

e atitudes diárias que evidenciam o pecado. Seja objetivo.<br />

Ouça aquilo que o Espírito diz e para onde ele aponta. Ele,<br />

que nos sonda e nos conhece. Peça ao Senhor que o livre da<br />

racionalização, da fuga e da hipocrisia. Faça um compromisso<br />

com o Senhor em observar as áreas fracas de sua vida, as que<br />

necessitam de vigilância e prontidão. Mais uma vez, nomeie<br />

tais áreas e converse com Deus de forma clara e pessoal. Peça<br />

a Deus uma postura bíblica, como a de Neemias, que<br />

radicalizou perante a tentação. Não saia deste momento sem<br />

buscar o Senhor, sua bondade, seu perdão, sua força para caminhar.<br />

Observe também a clara diferença entre enfermidade psíquica<br />

e pecado, e busque ajuda se for o caso. Não esteja só, e<br />

peça ao Senhor que o livre do sentimento de derrota e de pecado<br />

e lhe dê compreensão e cura. Enfrente sua ansiedade,<br />

angústia ou depressão de forma clara perante o Senhor. Aquele<br />

que nos livra do câncer e das dores musculares também<br />

pode curar a nossa alma e alegrar nosso coração. Reconheça<br />

que você precisa dele e o busque. A intimidade com o Senhor<br />

o fortalecerá.<br />

50


CAPíTULO<br />

INTEGRIDADE<br />

NOS RELACIONAMENTOS<br />

"Muitos cristãos não temem o estalar das bombas, mas temem<br />

uma gargalhada. "I<br />

Preocupo-me quando vejo líderes alegrando-se com os que<br />

choram e celebrando a queda alheia com palavras torneadas<br />

por uma falsa espiritualidade. Preocupo-me quando vejo que<br />

em nossa vida ministerial há pouco lugar para sinceros relacionamentos.<br />

Preocupo-me quando nos cercamos de seguidores<br />

e até mesmo de alguns admiradores, mas não contamos<br />

com pelo menos três amigos chegados e sinceros que possam<br />

nos alertar no dia mal. Preocupo-me quando desenvolvemos<br />

um estilo de liderança ou pastoreio no qual não precisamos<br />

prestar contas a ninguém. Preocupo-me quando, prostrados,<br />

não podemos confiar nos colegas de ministério que nos cercam<br />

para abrirmos o coração, receosos de que isso um dia<br />

seja usado contra nós. Preocupo-me quando o mundo age com<br />

mais graça e misericórdia com o caído do que a igreja. Preocupo-me<br />

com os relacionamentos.<br />

Em geral, tratamos as pessoas de acordo com aquilo que pensamos<br />

a respeito delas. E a verdade é que, invariavelmente, desconhecemos<br />

aqueles que nos cercam. Desconhecemos suas ansiedades<br />

e frustrações, sonhos e esperanças, histórias e paixões.<br />

De certa forma, é mais fácil desenvolvermos um caráter íntegro<br />

no horizonte da nossa alma do que nos relacionamentos.<br />

Neste universo relacional, o maior desafio é amar o diferente.<br />

Creio que amar o próximo é um grande passo pelo fato<br />

51


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

de sermos naturalmente intolerantes com todo aquele que<br />

pensa, fala e age diferente de nós. Tornamo-nos, inconscientemente,<br />

o paradigma para todo homem. E, assim, o próximo se<br />

transforma em um ser difícil de ser amado.<br />

Durante uma gostosa conversa em um café da manhã, Valdir<br />

Stuernegel afirmou que os amigos nos humanizam, insistindo<br />

que todo líder necessita de pelo menos três amigos sinceros<br />

que possam apontar-lhe o erro. "Em todo o tempo ama<br />

o amigo, e na angústia se faz o irmão." (Pv 17.17.) E isso nos<br />

leva a Ralph Emerson, quando nos ensina que a única maneira<br />

de termos amigos é sermos amigos. Neste capítulo, desejo<br />

conversar com você sobre os seus relacionamentos.<br />

<strong>Integridade</strong> nos relacionamentos demanda amor<br />

É alarmante perceber que a igreja é capaz de apregoar uma<br />

verdadeira espiritualidade sem de fato amar. Dessa forma, geramos<br />

relacionamentos cada vez mais utilitários e menos sinceros.<br />

Ao escrever a Primeira Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo<br />

reserva os capítulos 12 e 14 para falar a respeito dos dons<br />

espirituais, pois era um assunto de interesse e necessidade. Entre<br />

os dois capítulos sobre os dons espirituais, o apóstolo enxerta<br />

um dos textos mais definidores da nossa fé - 1 Coríntios 13<br />

- que nos apresenta a centralidade do amor na vivência cristã.<br />

Mostra-nos, desse modo, a possibilidade de sermos uma igreja<br />

com aparência, forma e discurso espiritual, e ainda assim<br />

carnal; com a presença de dons espirituais, mas sem o essencial<br />

da fé cristã. A mensagem desses capítulos é clara: o amor<br />

é superior aos dons.<br />

Sempre temo reler os três primeiros versículos do capítulo<br />

13, pois confrontam minha vida ao afirmar que podemos ter<br />

dons espirituais e tamanha fé ou praticar toda sorte de ações<br />

sociais, porém sem amor nada haverá que, ao fim, possa ser<br />

aproveitado. Nem sermões bem preparados nem liturgias<br />

cúlticas. Nem ações missionárias nem grandes projetos sociais<br />

para ajudar o pobre e o necessitado. O amor, aqui exposto, não<br />

é apenas superior aos dons, mas um marcador de nossa identidade<br />

cristã. Somos dele quando buscamos amar.<br />

52


INTEGRIDADE NOS RELACIONAMENTOS<br />

Isso significa que minha vida em Cristo não pode ser definida<br />

puramente pelos dogmas que entendo e aceito, por um<br />

lado, nem pelas experiências de espiritualidade que vivencio,<br />

por outro. Sem amor serão vazios de significado. Minha vida<br />

em Cristo é definida pela presença do amor, que não apenas é<br />

essencial como também se automanifesta.<br />

Para nosso temor e tremor, o Espírito descreve nesse capítulo<br />

que o amor é perceptível, deixa marcas. Ele é prático, notável e<br />

visível. Ele é paciente, esperando pela hora oportuna para o outro.<br />

É benigno, fazendo com que a dor do vizinho seja também a<br />

nossa. Não arde em ciúmes, portanto evita comparações e se<br />

nega a criticar o próximo. Torna-se, assim, impossível amar sem<br />

auto-evidência, sem que as marcas do amor sejam vistas pelos<br />

que passam pela mesma estrada que nós. Precisamos amar o próximo<br />

o suficiente para não criticá-lo. Essepróximo, o outro, diferente<br />

de nós, é nossa base de testes, o cenário no qual devemos<br />

aprender a praticar o ato mais sublime que vem do Pai.<br />

O amor prova a espiritualidade. Somos naturalmente seres<br />

construtores de máscaras e tais máscaras tendem a esconder<br />

aquilo que é nitidamente carnal e vergonhoso. Assim, usando<br />

máscaras bem elaboradas, podemos falar sobre fé sem de fato<br />

crer; pregar contra o pecado sem intimamente repudiá-lo;<br />

expor sobre o amor e na manhã seguinte prejudicar o irmão.<br />

Sendo assim, um mecanismo que prova claramente nossa<br />

espiritualidade é este: atos de amor.<br />

O oposto do amor também é evidente. Gera incrível tolerância<br />

com nossas próprias limitações e fraquezas e torna-se<br />

gravemente intolerante para com o próximo. Dessa forma, se<br />

alguém conversa com formalidade, é antipático, mas se nós o<br />

fazemos, somos respeitosos. Se alguém brada ao pregar, está<br />

sendo artificial. Se nós bradamos, é sinal de espiritualidade.<br />

Se alguém não faz, é preguiçoso, mas se nós não fazemos somos<br />

ocupados. Se alguém contrai uma dívida é irresponsável e<br />

desequilibrado, se nós nos endividamos, é porque recebemos<br />

pouco. Se alguém discorda, é soberbo, mas se nós discordamos,<br />

somos criteriosos. Se alguém critica, ele o faz por estar<br />

tomado de inveja ou ciúmes, se somos nós que criticamos,<br />

estamos sendo zelosos. Se alguém repete um sermão, está sen-<br />

53


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

do desleixado, mas se nós o fazemos, Deus quer falar novamente<br />

ao seu povo. Se alguém erra, era de se esperar vindo<br />

dele, se nós erramos, dizemos que errar é humano. Se alguém<br />

cai, suas atitudes carnais já indicavam isto, se nós caímos, o<br />

inimigo preparou-nos uma armadilha. Se alguém brinca, está<br />

sendo mundano, se nós brincamos, somos informais. Se alguém<br />

ofende no falar, é descontrolado, se nós o fazemos, é<br />

porque somos sinceros. Sim, o amor testa a espiritualidade.<br />

Do versículo 9 em diante, vemos que o amor é um aprendizado.<br />

Eu era menino e agora sou homem; via de forma obscura<br />

e agora vejo claramente. Ou seja, amar é um processo, uma<br />

caminhada. Nós não nascemos amando.<br />

Para amarmos, devemos pedir ao Senhor que nos ajude. O<br />

salmista, no Salmo 119.2, afirma que andará nos caminhos do<br />

Senhor quando este dilatar o seu coração. Precisamos de corações<br />

dilatados, abertos, prontos para amar. Peçamos ao Pai,<br />

pensando nos cenários do nosso cotidiano, dizendo: Ensiname<br />

a amar.<br />

Para amarmos, precisamos também nos desapegar daquilo<br />

que é incompatível com o amor. John Edwards, em seu livro<br />

Afeto Religioso, nos fala sobre a incompatibilidade do amor<br />

com as palavras de agressão. Devemos nos desapegar daquilo<br />

que impede que o amor faça parte da nossa vida. Jamais amaremos,<br />

enquanto nossa agenda diária estiver repleta de competitividade,<br />

ciúmes, falso zelo, comparações desnecessárias,<br />

soberba e agressões.<br />

Lutero, citado por Mahaney, em seu livro Glory to Glory,<br />

disse que:<br />

"Esta vida, portanto, não é justiça, mas crescimento em justiça.<br />

Não é saúde, mas cura. Não é ser, mas se tornar. Não é<br />

descansar, mas exercitar. Ainda não somos o que seremos, mas<br />

estamos crescendo nessa direção. O processo ainda não está<br />

terminado, mas vai prosseguindo. Não é o final, mas é a estrada.<br />

Todas as coisas ainda não brilham em glória, mas todas as<br />

coisas vão sendo purificadas.'?<br />

Em 1999, preguei sobre os essenciais da nossa fé na Igreja<br />

54


INTEGRIDADE NDS RELACIONAMENTOS<br />

Konkomba, de Gana. Lembro-me de que, após o culto, um<br />

dos crentes me procurou para perguntar:<br />

"Por onde devo começar?"<br />

Fui para casa pensando nessa pergunta. No outro dia, fui<br />

procurá-lo e logo o encontrei embaixo de uma árvore, rodeado<br />

por amigos, numa alegre conversa. Sentei-me ao seu lado e<br />

sussurrei no seu ouvido:<br />

"Comece procurando aquele com o qual você foi intolerante,<br />

e não o amou como Cristo."<br />

Depois de ficar pensativo por uns minutos, ele se levantou<br />

e saiu caminhando com passos curtos e lentos. Foi procurar<br />

alguém. Santa caminhada. Nada fácil. Mas alegra o coração<br />

daquele que é Amor.<br />

<strong>Integridade</strong> nos relacionamentos requer uma avaliação justa<br />

Talvez um dos maiores problemas quando tratamos da intepridade<br />

nos relacionamentos seja a avaliação interpessoal.<br />

"E quase impossível divorciar a apreciação intelectual de um<br />

problema, de seu envolvimento emotivo. As paixões, as simpatias<br />

e os preconceitos irracionais colorem, quando não deturpam,<br />

os julgarnentos.t"<br />

Olhando para a nossa própria vida relacional, percebemos<br />

que em geral não condenamos, em nós mesmos, aquilo que é<br />

facilmente condenável no outro. Ou seja, possuímos critérios<br />

injustos para avaliar aqueles que nos cercam. E a tolerância,<br />

tão comum quando julgamos nossos relacionamentos e motivações,<br />

torna-se ausente em relação ao próximo.<br />

"Quem aos demais julga, perde o trabalho: quase sempre se<br />

engana e facilmente peca; ao passo que, em julgar e examinar a si<br />

mesmo, trabalha sempre com fruto. Aquele que julgar com eqüidade<br />

as próprias ações, não julgará severamente as alheias.?"<br />

Wayne Dyer nos incita a uma auto-avaliação ao nos ensinar<br />

que, quando julgamos os outros, não os definimos, definimos<br />

a nós mesmos.<br />

Mais uma vez, desejo salientar a necessidade de entender que<br />

55


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

a idéia que fazemos de tudo que está ao nosso redor não é exatamente<br />

a realidade. Stephen Brown' conta o caso que aconteceu<br />

num consultório de um psiquiatra que submetia um de seus pacientes<br />

ao teste de Rorschach, que consiste em vários borrões sem<br />

sentido em algumas pranchas. Cada um acha que significa algo e<br />

remete ao seu interior a fonte dessa interpretação. O paciente viu<br />

cenas de sexo em todos os borrões. Quando o psiquiatra perguntou<br />

ao paciente se tinha certeza, ele respondeu:<br />

"Não fique preocupado comigo, doutor, éosenhor que possui<br />

estas figuras obscenas."<br />

A maneira como enxergamos o mundo à nossa volta está<br />

profundamente ligada à nossa avaliação pessoal, nosso crivo e<br />

ótica.<br />

Por essa mesma razão, enquanto legalistas falavam em apedrejar<br />

a prostituta, o Senhor Jesus a olhou com olhar de misericórdia.<br />

Os fatos eram os mesmos. Havia uma lei, uma pecadora<br />

e um pecado que foi descoberto. A maneira como observamos<br />

tais fatos, porém, depende de nossa ótica, de nossa avaliação.<br />

Se o fazemos com coração legalista, pegamos as pedras e nos<br />

sentimos os justiceiros do Universo. Se for com coração que<br />

ama e avalia a fraqueza do próximo com a medida do Senhor, o<br />

abraçamos na esperança de que ele abandone o pecado e se<br />

converta a Deus. Os fatos são os mesmos. Nossa reação perante<br />

eles, porém, depende de uma avaliação íntegra.<br />

A Palavra nos ordena a examinar a nós mesmos e provar os<br />

espíritos. Para isso, nos dá o modelo dos de Beréia, que examinavam<br />

comparativamente o que ouviam com o que liam nas<br />

Escrituras. É muito importante olharmos para as Escrituras<br />

quando julgamos o outro, pois nunca o conheceremos como<br />

Deus o conhece. Uma boa terapia bíblica é tentarmos medir<br />

nossa forma de agir e reagir para com o próximo em comparação<br />

à de Cristo. Daí nos lembramos facilmente de como ele<br />

caminhou com os discípulos; como amou e tratou com lealdade<br />

aquele que iria traí-lo; como tratava as crianças e se apiedava<br />

dos enfermos. Vamos nos recordar também de sua preferência<br />

em doar atenção a viúvas, órfãos, doentes e encarcerados;<br />

de sua paciência com os intransigentes, sem deixar de<br />

lhes falar a verdade do Pai.<br />

56


INTEGRIDADE NOS RELACIONAMENTOS<br />

Relacionamentos íntegros só existirão quando nossa avaliação<br />

tornar-se justa e nós usarmos da mesma tolerância e misericórdia<br />

com os outros que vemos o Senhor usando conosco.<br />

Devemos nos perguntar, sobretudo, como estamos tratando e<br />

lidando com aqueles que nos cercam, em especial nossos<br />

opositores ou aqueles que pensam de forma distinta.<br />

A integridade nos relacionamentos se baseia na humildade<br />

A humildade é um elemento fundamental para relacionamentos<br />

íntegros, pois equilibra o nosso senso crítico, que é uma<br />

barreira para compreendermos o próximo. Desarmados, temos<br />

mais facilidade em ver o outro como o Senhor o vê. Nessa linha,<br />

Pedro nos lembra que "Deus resiste aos soberbos" e nos ensina<br />

dizendo: "cingi-vos todos de humildade" (1 Pe 5.5). As pessoas<br />

mais maduras que conheço, os amigos que mais me servem de<br />

modelo, são pessoas humildes.<br />

Abraham Lincoln era um homem humilde de coração.<br />

Staton, membro do seu gabinete, o chamara publicamente de<br />

tolo e, no dia seguinte, foi inquirido por um grupo de jornalistas<br />

e curiosos a respeito da declaração. Ao que Lincoln prontamente<br />

respondeu:<br />

"Se Staton chamou-me de tolo,.devo sê-lo, pois ele é um<br />

homem sábio e está quase sempre certo em seu julgamento.:"<br />

A partir daquele dia, Lincoln passou a ter ao seu lado um<br />

amigo fiel, não mais um competidor político. Tal atitude de<br />

Lincoln demonstrava seu espírito pronto a relevar pequenos<br />

desvios comportamentais daqueles que o cercavam, de forma<br />

a manter-se próximo o suficiente para influenciá-los. Uma ótima<br />

postura para um líder.<br />

Não me refiro aqui, porém, ao jogo da diplomacia em que<br />

corações transtornados e acusadores se escondem por trás de<br />

olhares brandos, sorrisos plásticos e palavras bem escolhidas<br />

para alcançarem um objetivo. Falo sobre a humildade que vem<br />

do Alto e que nos leva a perceber que somos necessitados da<br />

mesma graça e misericórdia que aquele que está ao nosso lado.<br />

Creio que nem tudo, naqueles que nos cercam, precisa ser<br />

confrontado, especialmente quando estamos na liderança de um<br />

57


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

grupo. Confrontar todo e qualquer comportamento ou expressão<br />

inadequada pode ser um sinal de imaturidade ou falta de sabedoria.<br />

Se desejamos construir bons relacionamentos, precisamos<br />

estar dispostos a tolerar pequenos desvios comportamentais<br />

do outro. Isso irá nos manter próximos o suficiente para influenciálo<br />

positivamente. Um amigo que denuncia toda expressão inadequada,<br />

desvio e erro, de forma pronta e direta, desenvolverá um<br />

círculo de suspeição e distanciamento. Não estará próximo o<br />

bastante para influenciar alguém. Não me refiro, porém, a uma<br />

tolerância comprometedora com o pecado.<br />

Conheço irmãos queridos que, no afã de cooperar com sua<br />

equipe de trabalho, apontam todo e qualquer erro, em todo e<br />

qualquer lugar. Nada lhes escapa, seja uma palavra mal colocada<br />

ou uma atitude que poderia ser melhor burilada. Tal atitude<br />

os impedirá, em breve, de serem ouvidos. Creio que é<br />

necessário ter certa tolerância nos pequenos desvios, a fim de<br />

podermos ser ouvidos naquilo que é essencial. Passo a passo,<br />

após o essencial ser bem trabalhado, haverá confiança suficiente,<br />

e abertura, para que os detalhes também sejam tratados.<br />

Nesse caso, para me guiar, estabeleci duas exceções. A primeira<br />

é quando um pequeno desvio passa a ser um perigo em<br />

potencial para outras pessoas. E a outra é quando tal desvio há<br />

de se transformar em algo maior. Nesses dois casos, é necessário<br />

agir com urgência e de forma mais direta. Caso contrário,<br />

avalie na vida do irmão ou amigo que deseja influenciar quais<br />

são as áreas principais que carecem de direção, e invista nelas.<br />

Um coração humilde mantém o espírito aberto ao ensino.<br />

Assim, a cada palavra e experiência há desejo de se aprender.<br />

Um coração humilde tende a gerar mentes amadurecidas,<br />

pois ouve mais o outro, pondera mais, aprende mais. Uma<br />

vida humilde inspira. Note que os soberbos nos impressionam,<br />

por vezes, com suas respostas argutas e críticas. Mas<br />

não desejamos segui-los. Desejamos seguir os humildes. No<br />

mundo empresarial se diz comumente que pessoas não seguem<br />

líderes pelos seus valores pessoais, mas pela sua competência.<br />

Devo concordar, visto que, no mundo empresarial,<br />

objetiva-se ganho, e para ganhar é necessário competência.<br />

Porém, no Reino de Deus, líderes são seguidos em função de<br />

58


INTEGRIDADE NOS RELACIONAMENTOS<br />

suas vidas, e não puramente por sua competência. Desejamos<br />

imitá-los, nos parecer com eles, aprender com eles.<br />

Ao pensar sobre um espírito humilde, vem à minha mente a<br />

figura do Pastor Francisco Leonardo Schalkwijk, que era diretor<br />

e professor do Seminário Presbiteriano do Norte no tempo<br />

em que tive o privilégio de estudar lá. Apesar de altamente<br />

qualificado e competente, seu espírito humilde era o que mais<br />

nos inspirava. Lembro-me de quando ele foi confundido por<br />

alguns recém-chegados com um jardineiro, por suas roupas<br />

simples e seu jeito provinciano. Ele nada falou. Ao contrário,<br />

carregou malas e caixas escada acima para ajudá-los. Lembrome<br />

de quando partilhava abertamente sobre suas dúvidas, desarmando<br />

nosso espírito e diminuindo o espaço que separava<br />

professores de alunos. Lembro-me de quando, silenciosamente,<br />

em meio a uma "guerra de pães" no refeitório, ele ali chegou,<br />

e todos nos aquietamos. Passo a passo, ele pegava os pedacinhos<br />

de pão caídos no chão e os comia. Saiu também em<br />

silêncio. Desejava apenas ensinar, e jamais tratamos novamente<br />

os alimentos com o descaso de antes. Lembro-me de que, após<br />

as aulas, já cansado, ele procurava um de nossos quartos onde<br />

houvesse uma cama desocupada, qualquer uma, para tirar um<br />

rápido cochilo. Não precisava de grandes aparatos para viver<br />

e trabalhar, para ensinar e ser feliz.<br />

A humildade inspira, pois em nosso coração, lavado pelo sangue<br />

do Cordeiro, temos como alvo de vida nos parecermos mais<br />

e mais com Aquele que, sendo Deus, encarnou-se homem, nasceu<br />

em uma estrebaria, numa família simples, vestiu-se também<br />

de roupas simples e encantou o mundo com suas palavras e sua<br />

vida. Se somos de Cristo, nascemos para amar a simplicidade e a<br />

humildade de coração. Se desenvolvermos a humildade, construiremos,<br />

também, relacionamentos mais íntegros.<br />

<strong>Integridade</strong> nos relacionamentos pressupõe investimento<br />

pessoal<br />

A igreja em Atos perseverava também na comunhão. Uns<br />

investiam nos outros, e todos investiam no grupo. Quando<br />

Lucas diz que em "cada alma" - do grego pase psyche - "havia<br />

59


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

temor" (At 2.43), ele fala não apenas sobre um impacto psicoemocional<br />

da Palavra sobre o povo mas também sobre sua<br />

consciência cristã. O temor aqui não estava apenas no coração<br />

- kardia - do povo de Deus mas também em sua psyche,<br />

em sua consciência, aqui traduzida por alma.<br />

A mente, o processo mental e as convicções racionais estavam<br />

também "contaminados" pelo valor do evangelho, e isso os<br />

levava a viver em comunhão eainvestir nos relacionamentos.<br />

No versículo 44, vemos algo belíssimo e contagiante. A manifestação<br />

e a presença de Deus, com sinais e prodígios, bem como<br />

a exposição da Palavra pelos apóstolos, não levaram esses discípulos<br />

do primeiro século a um estado de simples contemplação<br />

do divino. Eles traduziram essas verdades para a própria vida e<br />

assim todos os que creram fizeram algo, agiram de acordo com<br />

sua fé. Eram coerentes com a Palavra ouvida e com a presença<br />

do Espírito. Assim, vendiam seus bens, distribuíam entre os<br />

pobres, supriam os necessitados, transformavam a sociedade.<br />

Quando o texto afirma que os irmãos tinham tudo em koinos<br />

- comum - a referência é atribuída ao coração generoso -<br />

koinonikos - da comunidade dos santos. Entretanto, esse tudo<br />

em comum não é uma expressão que se restringe somente à<br />

venda de propriedades e à distribuição de bens. Era uma<br />

koinonia que apontava para o resumo dos mandamentos - amar<br />

a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.<br />

Tílius defende que até a distribuição dos bens aos mais<br />

necessitados era um ato realizado em culto a Deus, em que<br />

um pacto de amor ao Senhor e ao próximo era repetido em<br />

hinos judaico-cristãos com constantes menções ao Antigo Testamento,<br />

sobretudo ao maior de todos os mandamentos. Dessa<br />

forma, vender e distribuir eram apenas ações decorrentes<br />

da hoinonia, adaptadas ao contexto da época.<br />

Não devemos tentar institucionalizar o amor e colocá-lo sob<br />

uma forma inflexível de demonstração. O amor exposto na Palavra,<br />

que gera verdadeira koinonia, não pode ser reduzido à entrega<br />

dos dízimos e ofertas, de cestas de gêneros alimentícios no<br />

primeiro domingo do mês ou de participação em ações sociais<br />

isoladas. É preciso ir bem além, ao ponto de gerar mudança no<br />

estilo de vida, demonstrando o amor que nos constrange.<br />

60


INTEGRIDADE NOS RELACIONAMENTOS<br />

Crisóstomo, a respeito do texto, afirma que aquela era uma<br />

comunidade onde "ninguém acusava, ninguém invejava, ninguém<br />

tinha ressentimentos; não havia orgulho nem desprezo...<br />

o pobre não sabia o que era vergonha, o rico não conhecia<br />

a arrogância'". O texto de Atos termina dizendo que nenhum<br />

necessitado havia entre eles. E João, posteriormente,<br />

viria reiterar isso, afirmando que, se vemos um irmão necessitado<br />

e não compartilhamos aquilo que possuímos, não podemos<br />

afirmar que o amor de Deus está em nós (1 Jo 3.17).<br />

Quantas pessoas estão ao nosso redor com carências não<br />

apenas físicas, mas sobretudo relacionais. Investir nesses relacionamentos<br />

é mandamento bíblico, provoca verdadeira comunhão<br />

e redunda em ganho para o Reino de Deus.<br />

Um dos efeitos positivos do investimento nos relacionamentos<br />

é o aprendizado. Normalmente aprendemos muito uns com<br />

os outros. Não apenas um aprendizado objetivo, através da observação,<br />

mas também subjetivo, quando tal relacionamento<br />

demandar uma mudança de nossa postura diante dos outros.<br />

Muito comumente, as pessoas que investem nos relacionamentos<br />

vêem áreas de sua própria vida vir à tona em busca de conserto,<br />

crescimento, amadurecimento. Isso acontece porque relacionamentos<br />

não são sempre fáceis. Assim, quando se afia o<br />

ferro com ferro (Pv 27.17), nos tornamos mais parecidos com<br />

Cristo através da convivência com o irmão.<br />

A integridade nos relacionamentos nos ajuda a lidar bem com<br />

a crítica<br />

Certamente, toda liderança sofrerá oposição. E a mais devastadora<br />

pode se apresentar em forma de crítica.<br />

As críticas podem afetar qualquer pessoa, e também o líder,<br />

em intensidade às vezes maior que de outros tipos de oposição.<br />

Friendly Fire é uma expressão usada freqüentemente na<br />

Guerra do Iraque. Refere-se normalmente aos soldados mortos<br />

pelo "fogo amigo", ou seja, pelos próprios companheiros<br />

de armas. Lembro-me de assistir à cena de soldados aliados<br />

chegando mortos ao país de origem, com toda a honraria. Foram<br />

atingidos fatalmente por esse "[riendly [ire".<br />

61


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

Algo semelhante acontece entre o povo de Deus. Dentre os<br />

líderes e crentes feridos, as mágoas mais profundas foram causadas<br />

pelo próprio povo de Deus. Sofremos mais quando os<br />

de perto nos atingem. E nada é tão fatal quanto uma crítica<br />

lançada ao vento. Benjamin Disraeli (1804-1881) nos ensina<br />

que "para se evitar a crítica nada faça, nada diga, nada seja".<br />

Expõe assim que aqueles que trabalham, falam e assumem uma<br />

postura serão irremediavelmente criticados em algum momento<br />

de sua jornada.<br />

Creio que muito poderia ser dito a respeito da crítica e de<br />

seu poder de destruição. Cito apenas alguns passos práticos<br />

para lidarmos com ela.<br />

Quando sofremos oposição, calar-nos deve ser nossa primeira<br />

atitude. Isso porque sempre há a possibilidade de a crítica<br />

- mesmo a que se mostra ofensiva ou hostil - ter fundamento,<br />

e só saberemos disso depois de um tempo de meditação.<br />

Epíteto nos diz que é impossível para um homem aprender<br />

aquilo que ele acha que já sabe.<br />

Devemos também nos manter atentos quando a mesma crítica<br />

vem de fontes diferentes, que não têm conexão entre si. É<br />

possível que nossa falha seja mais visível aos outros que a nós.<br />

Amar o irmão que nos critica é pedra fundamental em um<br />

relacionamento cristão, pois a figura da segunda milha e da<br />

outra face parece-nos ser a essência para a existência de um<br />

relacionamento íntegro. C. S. Lewis ensina-nos que "Deus não<br />

nos fez para sermos felizes. Ele nos fez para arnar'", Desafianos<br />

assim a manter a perspectiva do amor, mesmo em cenários<br />

de insatisfação. Carlos Drummond de Andrade afirma que "há<br />

vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para<br />

amá-la'", mostrando que, ao longo da caminhada relacional,<br />

sempre lidaremos com um leque de motivações que tendem a<br />

nos levar ao distanciamento, seja físico ou do coração.<br />

A crítica, porém, não pode ser vista como uma ação inofensiva.<br />

E devemos também saber como recebê-la emocionalmente,<br />

pois a crítica pode apresentar-se como um agente que<br />

fomenta o temor, que é um elemento limitador. Quando tememos<br />

a Deus, limitamos a nossa própria carne, e esse é um<br />

temor positivo, bíblico. Mas quando tememos as circunstân-<br />

62


INTEGRIDADE NOS RELACIONAMENTOS<br />

cias ou as pessoas, abrigamos um temor que nos limita severamente,<br />

podando nossa ousadia, coragem e visão.<br />

Quantos líderes bem preparados se viram paralisados perante<br />

a crítica mordaz! Há algumas atitudes previsíveis quando<br />

alguém é colocado na tribuna para julgamento sumário.<br />

Inicialmente, é levado pelo forte desejo de se justificar. Depois<br />

passa por uma fase de depressão, olhando ao redor para<br />

ver quem mais lhe aponta o dedo acusador. Alguns romperão<br />

relacionamentos. Outros saberão como administrar o prejuízo<br />

até que a verdade surja ou, mesmo que esta fique encoberta<br />

pela poeira das suspeições, continuarão caminhando.<br />

Contudo, uma das reações mais destrutivas é capitular. E<br />

isso aconteceu com diversos líderes. Anos atrás, ouvi a respeito<br />

de um missionário que desenvolveu um ministério tremendamente<br />

abençoado em uma região da Ásia. À medida que o<br />

trabalho crescia, ele sofria freqüentes críticas dos colegas de<br />

campo. Alguns questionavam a autenticidade dos resultados.<br />

Outros questionavam seus métodos. Por fim, ele capitulou.<br />

Encaminhou-se para um pequeno seminário nos Estados Unidos,<br />

na tentativa de se manter fora do cenário de discórdia e,<br />

quem sabe, ganhar compreensão dos colegas; ou o esquecimento.<br />

Seu trabalho ainda hoje é referência para muitos. Abençoou<br />

povos e ministérios, mas seu coração não suportou o<br />

calor dilacerante das críticas.<br />

Na esfera psicológica, pessoas que sofrem oposição constante<br />

tendem a desenvolver uma personalidade crítica, ou seja,<br />

tendem a perceber o mundo como uma grande e unânime força<br />

de oposição. O senso de realidade fica altamente prejudicado.<br />

Isso é visto claramente quando um irmão, criticado por<br />

outros dois ou três, resolve enviar um e-mail para todos os<br />

800 amigos de sua lista, defendendo-se. Em sua mente, o mundo<br />

é como uma força oposicionista - o que não é verdade.<br />

Elias estava em crise e deprimido. Havia sido caçado, estava<br />

faminto e era foragido. Possuía os ingredientes para sucumbir<br />

e seguiu esse caminho. Pediu a morte, e disse a Deus: "Estou<br />

só". Esse é um grande engano fomentado pelo psiquismo<br />

crítico. Deus então o fez ver que havia ainda 7.000 que se<br />

mantinham fiéis ao seu lado. Quando você se sentir encurrala-<br />

63


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

do em uma caverna e sofrendo forte oposição, lembre-se de<br />

que, nesse momento, há muitos que o amam. Possivelmente<br />

alguns o admiram e com certeza há alguém orando por você.<br />

Dale Carnegie!", com todo seu bom humor, dá dicas para<br />

lidarmos com as críticas. Escreveu algo que ouviu de um amigo:<br />

"Lembre-se de que ninguém chuta um cachorro morto", e<br />

acrescentou que, quando somos chutados, a pessoa que o faz<br />

ganha uma espécie de sentimento de importância. Citou também<br />

Schopenhauer, que nos ensina que alguns sentem imensa<br />

satisfação nas falhas e loucuras de outros. E ainda nos adverte<br />

que a crítica injusta é, muitas vezes, um elogio disfarçado.<br />

Diante dessas palavras, somos levados a meditar em como deve<br />

ser, biblicamente, nossa avaliação de nosso opositor, quando<br />

detectamos que uma certa inveja jaz por trás de suas palavras.<br />

Em relação à crítica, creio que há três atitudes que nos<br />

ajudam a caminhar.<br />

Não jogue fora a crítica<br />

Mesmo a crítica movida pelo sentimento mais pecaminoso<br />

pode conter alguma verdade sobre nós. Ou seja, se quem o critica<br />

o faz nitidamente por ciúme, inveja ou amargura, não despreze<br />

suas palavras, pois podem, em meio a motivações erradas,<br />

conter alguma verdade. Nem sempre Deus nos confronta através<br />

de irmãos maduros e espirituais. Não jogue fora a crítica. Leve-a<br />

para casa, coloque-a perante o Senhor e sonde seu coração, avaliando<br />

se há alguma verdade na crítica que lhe fizeram.<br />

Não durma com a crítica<br />

Depois de avaliar a crítica, lide com ela de maneira definida.<br />

Se há verdade em seu conteúdo, peça que o Espírito o leve a se<br />

quebrantar eacorrigir o erro. Se envolve outros irmãos, peça<br />

perdão, conserte o que foi quebrado e siga em frente. Se não há<br />

verdade em seu conteúdo, lance-a na lixeira. Em qualquer dessas<br />

situações, é importante não dormir com a crítica. Isto é, não a<br />

mantenha presa à sua mente e coração por um tempo prolongado.<br />

A crítica possui a capacidade de nos paralisar ao gerar profunda<br />

ansiedade. Se não lidamos com ela de forma definitiva,<br />

64


INTEGRIDADE NOS RELACIONAMENTOS<br />

passará a ser o último pensamento ao dormirmos eoprimeiro ao<br />

acordamos. Consumirá nossas energias, sobretudo as emocionais,<br />

e nos paralisará pouco a pouco. Não durma com a crítica.<br />

Não se torne um crítico<br />

Percebo que as pessoas mais críticas que conheço são aquelas<br />

que, em algum momento, foram demasiadamente criticadas.<br />

Pode ter sido na infância, na escola ou mesmo em casa. Ou<br />

pode ter se dado no ministério ou na igreja. Passaram então a<br />

tratar seu círculo de relações como uma força antagônica à<br />

sua existência, desenvolvendo uma postura freqüentemente<br />

crítica. Talvez a maior cilada que o inimigo arme contra nós,<br />

ao facilitar contínuas críticas que nos sobrevêm, seja, ao final,<br />

nos transformar em críticos compulsivos.<br />

Gostaria de concluir este capítulo convidando-o a pesar<br />

seus relacionamentos. Lembre-se de que eles demandam amor<br />

e também uma avaliação justa do outro. Tais relacionamentos,<br />

saudáveis e íntegros, se baseiam na humildade e pressupõem<br />

investimento pessoal. Para mantermos bons relacionamentos,<br />

e nos mantermos bem nos relacionamentos, precisamos também<br />

aprender a lidar com as críticas. Não jogue a crítica fora,<br />

não durma com ela, não se torne um crítico.<br />

Reserve alguns minutos para pensar sobre seus relacionamentos,<br />

especialmente se são íntegras as suas motivações. Pense<br />

nas pessoas que estão ao seu redor e pondere sobre seus<br />

critérios pessoais para se aproximar delas.<br />

Pese seu coração e peça ao Senhor para lhe revelar, de forma<br />

clara, se você se tornou um crítico. Assuma um compromisso<br />

de vigilância contra tal postura. Peça ao Senhor que o ensine a<br />

lidar com as críticas que lhe são feitas. Se seu coração está,<br />

neste momento, abatido pelas críticas, peça a Deus sabedoria,<br />

temperança e equilíbrio para não lançá-las fora imediatamente.<br />

Pondere sobre elas. Não durma com tais críticas, a fim de evitar<br />

que gerem ansiedade que o paralise. E por fim, não caia na cilada<br />

do diabo, de transformá-lo em um crítico destruidor.<br />

Que o Senhor nos ajude a sermos íntegros nesta área vital<br />

da experiência cristã, que são os relacionamentos.<br />

65


CAPíTULO<br />

INTEGRIDADE<br />

,<br />

NA FAMILlA<br />

"Não poderemos ser uma bênção longe se primeiramente<br />

não o somos perto. E não há nada mais perto de nós que a nossa<br />

família."<br />

Ao partilhar sobre esse assunto em um seminário para líderes,<br />

fui procurado por alguns homens de Deus. Eles estavam à<br />

frente de ministérios equilibrados e maduros, mas viviam um<br />

caos em casa. A verdade é que muitos têm conseguido abençoar<br />

pequenos e grandes grupos, até mesmo multidões, enquanto<br />

fracassam na própria casa.<br />

O nosso lar é nosso primeiro desafio, e é onde devemos investir<br />

energia e tempo e desenvolver um relacionamento construtivo.<br />

Davi é sempre citado como um vitorioso líder que fracassou<br />

em casa. Venceu o gigante, superou a perseguição de<br />

Saul, peregrinou foragido em sua própria terra, refugiou-se na<br />

casa de seus antigos inimigos e, na perseverança do Senhor, reinou<br />

sobre Israel. Por outro lado, fracassou diversas vezes em<br />

casa. Em seu lar, enfrentou adultério, mentira, incesto, competição<br />

e trágica rebeldia. Certamente há lições preciosas nesses<br />

fatos, e uma delas é que não podemos perder o lar de vista.<br />

Meu presente ministério à frente de uma equipe na Amazônia<br />

e ainda interagindo com um movimento missionário na África<br />

implica várias viagens, pesquisa, encontros e reuniões. Apesar<br />

de tentar minimizar os dias em que fico distante de casa, eles<br />

são normalmente mais do que desejaria. Percebi, portanto, que<br />

precisaria de alguns critérios claros que me ajudassem. Em primeiro<br />

lugar, durante o tempo que me encontro em casa, procu-<br />

66


INTEGRIDADE NA FAMíliA<br />

ro estar sempre à disposição da família. Por ter meu escritório<br />

em casa, centralizo ali toda a tarefa ministerial. Porém, estando<br />

no meio de uma manhã de trabalho, se abordado pela Vivianne<br />

ou pelo Ronaldo Júnior para conversar sobre a escola ou qualquer<br />

outro assunto, aquilo se transforma na minha prioridade.<br />

Se, por um lado, cria uma certa instabilidade em meu trabalho,<br />

por outro, obtenho um resultado bastante construtivo.<br />

Neste capítulo, gostaria de conversar com você sobre o seu<br />

relacionamento e sua interação com sua família. Vamos pensar<br />

na necessidade de sermos um modelo para os de perto, a<br />

fim de, aprovados, sonharmos em abençoar outros um pouco<br />

mais distantes de nós. Também conversaremos sobre o aconchego<br />

do lar e seu potencial terapêutico para a nossa vida,<br />

relacionamentos e ministério. Abra seu coração e dirija sua<br />

mente para sua casa e sua família neste momento.<br />

Ser um modelo para os de perto<br />

Os ministros possuem o privilégio de terem a vida vinculada<br />

ao ministério. Por outro lado, se não houver certo controle, esse<br />

privilégio se transforma em um peso. Os ministros não são como<br />

bancários que, num determinado horário do dia saem do trabalho<br />

e vão para casa. O trabalho de um ministro está em todo<br />

lugar, e especialmente em casa. Ali é onde é procurado pelas<br />

ovelhas que necessitam de conselho, direção e liderança. Ali é<br />

onde precisa preparar suas palestras, estudar, resolver muitas<br />

questões administrativas. Ali também lida com questões por vezes<br />

complexas. É onde, muitas vezes, mantém seu escritório.<br />

No campo missionário não é diferente. Costumo dizer à<br />

nossa equipe que somos missionários 24 horas por dia. O ministério<br />

é dinâmico e, assim, não há feriados. Mesmo as férias<br />

precisam ser muito bem planejadas para que de fato sejam<br />

férias. É verdadeiramente um privilégio servir a Cristo e fazêlo<br />

de forma integrada à sua casa e vida diária, porém essa dinâmica<br />

não deve penalizar a família.<br />

Algo importante a fazer é conversar com a família (esposo,<br />

esposa, filhos) sobre o que é o ministério. As crianças (e muitas<br />

vezes também o cônjuge), apesar de viverem no contexto do<br />

67


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

ministério, não conhecem ao certo a sua dinâmica. É importante<br />

sempre investir na família, conscientizando-a do valor do<br />

ministério. Em casa procuramos sempre passar para as crianças<br />

o que acontece em nossos campos na Africa e na Amazônia.<br />

Se alguém se converte, se há algo bom acontecendo, se há alguma<br />

luta pela qual orar. Fazemos com que se envolvam e, sobretudo,<br />

a partir de uma postura pro-ativa, positiva, que os ajude a<br />

compreender e participar, até onde for saudável, da dinâmica<br />

dos campos e ministérios.<br />

Em segundo lugar, é prioritário separar um tempo para que<br />

o contexto em casa não seja de ministério. Rossana e eu, desde<br />

que trabalhávamos na África, morando em uma aldeia na<br />

tribo Konkomba, desenvolvemos um costume: sentar para<br />

conversar sobre o ministério. Ou seja, no trânsito normal da<br />

casa, a conversa é familiar, e não ministerial. Ao conversarmos<br />

sobre o ministério, e o fazemos praticamente todos os<br />

dias, tiramos um momento específico, sentamos e conversamos.<br />

Isso nos ajuda a não permitir que tudo se transforme em<br />

trabalho, tornando o lar em uma estação ministerial.<br />

Um bom termômetro são os filhos. Eles precisam ter alegria<br />

ao ouvirem sobre o ministério. Devem participar das conversas<br />

e também um pouco da dinâmica. Se assim não acontecer,<br />

se o assunto for um peso ou motivo de descontentamento,<br />

possivelmente algo está errado.<br />

É mais fácil ser um modelo para as massas do que para um<br />

único indivíduo. É mais fácil brilhar em um púlpito do que<br />

exercer paciência com a esposa. É mais fácil admoestar uma<br />

congregação com 1.000 pessoas do que ser modelo de vida<br />

para dois filhos. Um provérbio chinês nos ensina que: Antes<br />

de começar o trabalho de mudar o mundo, dê três voltas dentro<br />

de sua casa. Não importa o que você diga a seus filhos para<br />

fazerem. Eles naturalmente seguirão aquilo que o vêem fazendo.<br />

A Palavra nos adverte que, "se alguém não tem cuidado dos<br />

seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é<br />

pior do que o descrente" (1 Tm 5.8).<br />

O Dr. Ed Wheat escreveu em seu livro O Amor que Não se<br />

Apaga:<br />

68


INTEGRIDADE NA FAMíliA<br />

"Posso aprender o significado do amor atravésda Palavra de<br />

Deus. Eleé racional e não irracional. Posso compreendero amor<br />

e aumentar essacompreensão ao longode minha vida. O amor<br />

não é fácil ou simples: trata-se de uma arte que devo desejar<br />

aprender e incluirem minhavida. Posso aprender a amar."!<br />

A construção do outro<br />

A construção do outro nasce do desejo e da disposição intencional<br />

em investir naquele que está ao nosso lado. Quantas<br />

vezes líderes gastam uma vida inteira investindo em seus discípulos<br />

e equipe, enquanto o cônjuge e os filhos são privados<br />

de sua atenção, ensinos, testemunho e tempo. A construção<br />

do outro parte da compreensão do amor formativo que se propõe<br />

a ver seu cônjuge amadurecido na presença do Senhor.<br />

Nossa atenção deve, neste momento, ser direcionada para<br />

o cônjuge. Ou seja, como está a saúde psíquica dele, o temperamento,<br />

a força de vontade, a saúde física, a relacional e, o<br />

mais importante: a saúde espiritual? Maria Helena Matarazzo<br />

inicia um de seus famosos livros falando que a tendência clássica<br />

seria de considerar que em um matrimônio duas metades<br />

se unem, formando um inteiro, mas que, por outro lado, nós,<br />

indivíduos, não somos metades. Já somos inteiros.<br />

Assim, quando duas pessoas se casam, são "duas totalidades"<br />

que se unem para realizarem uma terceira totalidade, isto<br />

é, uma vida a dois. Matarazzo cita ainda outra autora, Gilda<br />

Montoro, que declara existirem basicamente quatro formas<br />

de casamento: a simbiose, tipo Romeu e Julieta; os vínculos<br />

entre egoístas e generosos; o esvaziamento mútuo, que se dá<br />

entre dois carentes afetivos, e o crescimento mútuo, no qual<br />

existe troca verdadeira. Como tem sido o nosso?<br />

Não importa o que mais façamos, é necessário investir na<br />

construção do cônjuge. É preciso que seu amadurecimento,<br />

seu crescimento na fé e na saúde emocional e física sejam prioridade<br />

para nós. Não deveria nos interessar termos ministérios<br />

bem resolvidos e equipes bem formadas se em casa não<br />

investimos o suficiente para o crescimento do outro. Ouvi certa<br />

vez um empresário cristão afirmando que seu principal objeti-<br />

69


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

vo não era formar gerentes eficazes, mas sair de casa sabendo<br />

que sua esposa está feliz e perto de Deus. Essa é uma postura<br />

de investimento intencional que gerará bons frutos.<br />

o caminho da cumplicidade<br />

Outro passo para o crescimento mútuo é trilhar o caminho<br />

da cumplicidade em que o esposo e esposa têm sonhos diferentes,<br />

têm desejos diferentes, mas igualdade na vontade de<br />

ajudar um ao outro. A vida nos reserva grandes e pequenas<br />

diferenças, eamaior parte dos casais tem pouco em comum,<br />

havendo assim muitos desejos opostos. O segredo aqui é transformar<br />

os desejos opostos em desejos compartilhados.<br />

Quando eu era solteiro, não tinha interesse nem motivação<br />

turística. De fato, sempre encarava esse tipo de viagem como<br />

perda de tempo. Esse meu traço é uma herança familiar. Quando<br />

me casei, logo percebi que Rossana, vinda de uma família<br />

que valoriza o turismo, gostava de usar as oportunidades para<br />

visitar lugares interessantes. Nos primeiros meses, durante e<br />

após nossa lua-de-mel, percebi que havia dois caminhos possíveis:<br />

da rivalidade e distinção de objetivos, ou da transformação<br />

das diferenças em objetivos compartilhados. Passamos a<br />

partilhar tais diferenças. Quão construtivo e complementar é<br />

essa experiência! Rossana passou a transitar.comigo no mundo<br />

da pesquisa, apesar de não ter naturalmente muito interesse<br />

por ele, e eu aprendi a jogar palavras cruzadas durante as noites<br />

e realizar passeios em praças e museus; para ficar apenas nesses<br />

exemplos. Uma vida com interesses compartilhados em que<br />

a cumplicidade é encontrada é uma maravilhosa experiência e<br />

um bom passo para uma vida familiar íntegra na qual os desejos<br />

de ambos, e de todos da família, são igualmente visitados.<br />

Fidelidade conjugal<br />

Em uma pesquisa geral, feita em 2008, a antropóloga Miriam<br />

Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ouviu<br />

1.300 pessoas com idades entre 20 e 50 anos. Concluiu que<br />

47% das mulheres e 60% dos homens são infiéis. A psiquiatra<br />

70


INTEGRIDADE NA FAMíliA<br />

Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas de São Paulo, entrevistou<br />

3.000 pessoas na mesma faixa etária e constatou que 67%<br />

dos homens e 23% das mulheres já traíram seu parceiro.<br />

Mesmo sem tais dados em mãos, pode-se perceber, puramente<br />

pela observação ao nosso redor, que vivemos uma época<br />

de graves crises conjugais envolvendo infidelidade sexual.<br />

Gostaria de ressaltar, porém, que a infidelidade conjugal é mais<br />

ampla do que a infidelidade sexual, e normalmente também a<br />

precede. Há muitos lares aparentemente normais em que o<br />

casal já não se comunica mais. O carinho, a atenção eocuidado<br />

há muito já se foram. Restou-lhes a convivência, necessária,<br />

muitas vezes sofrida. Os anos passam e já partilham muito<br />

pouco. As palavras lhes faltam, e também o interesse. O relacionamento<br />

que resta é totalmente utilitário.<br />

É geralmente nesse contexto que se abrem as portas para a<br />

infidelidade conjugal e sexual, que envolvem intenções, pensamentos,<br />

fantasias e ações.<br />

Infidelidade é simplesmente não ser fiel. É não ser fiel aos<br />

votos declarados perante Deus no altar, mas, sobretudo, à sua<br />

Palavra e seus desejos para nós como casal. No caminho da<br />

infidelidade, conjugal e sexual, devemos nos lembrar de que<br />

esse não é o desejo de Deus. Seu desejo é de amor, crescimento<br />

mútuo, complementariedade e alegria.<br />

A infidelidade, porém, nasce de forma muito mais branda e<br />

quase imperceptível. Nasce da superficialidade. Refiro-me ao<br />

ato de ignorar o outro, suas necessidades e desejos, suas ocupações<br />

e interesses. A superficialidade prolongada normalmente<br />

dá lugar ao desprezo. Desprezo das idéias, das ações, da participação<br />

em atividades mútuas. O desprezo, por sua vez, desperta<br />

os sentidos por algo que se perdeu - sobretudo a cumplicidade,<br />

o amor eocompanheirismo. Abrem-se os olhos para se<br />

procurar o perdido, mas não no cônjuge. A procura é em outro.<br />

Quando tal porta é aberta, já há infidelidade conjugal, e em<br />

breve será possível haver também infidelidade sexual.<br />

Há diversos motivos para a infidelidade conjugal. Um deles<br />

advém de algo potencialmente positivo, que é o crescimento pessoal.<br />

E isso é um paradoxo. O índice de homens (para ficar nesse<br />

exemplo) que desejam se divorciar é proporcionalmente maior<br />

71


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

quando estes se encontram na casa dos 30 ou 40 anos. Estão com<br />

a vida bem encaminhada e com um emprego fixo e proeminente.<br />

Ou seja, ocorre quando eles estão, socialmente, bem. Tenho aconselhado<br />

alguns homens nessa situação e que já se decidiram pela<br />

separação. Os motivos apresentados são muitos; porém, sempre<br />

tenho a sensação de que, em algum lugar, a frase que poderia<br />

definir suas intenções é: Eu mereço algo melhor. Essa frase é<br />

fruto de uma visão de crescimento pessoal e, obviamente, do orgulho.<br />

Ao perceberem, a seus olhos, que cresceram e já não são<br />

mais tão simples e desinteressados como antigamente, demandam<br />

algo mais, que vai desde novos hobbies até novo cônjuge.<br />

A Palavra nos alerta que o caminho do pecado é loucura.<br />

Entretanto é certo também que, com os olhos muitas vezes<br />

fechados, tal loucura é cada vez mais desejada e experimentada.<br />

Como todo precipício, as conseqüências da destruição do<br />

relacionamento conjugal só são integralmente percebidas quando<br />

se está em franca queda. Somente aí, por vezes, os olhos se<br />

abrem para perceber o perigo, as tristezas e a dor.<br />

Um relacionamento conjugal íntegro deve manter seus olhos<br />

abertos e vigilantes para tal possibilidade. Ao menor sinal de<br />

uma possível caminhada em direção à infidelidade conjugal,<br />

seja o desprezo, a superficialidade ou a perda do prazer em<br />

estar junto e partilhar as pequenas coisas da vida, deve-se procurar<br />

ajuda, e com urgência.<br />

Desejo incentivá-lo a não se calar perante os problemas<br />

conjugais e também a não permanecer só. Procure conselheiros,<br />

amigos, pastores. Procure ajuda. O ministério Oásis, em<br />

Anápolis,? fundado pelo Dr. Bill e Karina Bacheller, tem sido<br />

tremendamente usado por Deus para restaurar relacionamentos<br />

rompidos. Os conselheiros, o Pastor Cloi e Raquel Marques,<br />

sempre mencionam que, quanto antes procuramos ajuda,<br />

maior a chance de restauração.<br />

Certa vez, encontrei-me com um senhor, um conhecido<br />

preletor sobre relacionamento conjugal nas igrejas de sua região,<br />

que passeava calmamente em um supermercado bem tarde<br />

da noite. Eu estava ali para comprar algo que minha esposa<br />

havia pedido. Então o encontrei empurrando um carrinho de<br />

supermercado quase vazio. Eu o conhecia e, após cumprimen-<br />

72


INTEGRIDADE NA FAMíliA<br />

tá-lo, perguntei-lhe casualmente sobre suas compras. Ele prontamente<br />

respondeu que passava por ali praticamente todos os<br />

dias após o trabalho, permanecendo algumas horas antes de ir<br />

para casa. Diante da minha surpresa ao perceber que ele gastava<br />

horas por dia rondando por ali sem a intenção de realmente<br />

fazer compras, ele complementou:<br />

"Ronaldo, a minha casa é um inferno."<br />

Nesse caso, vemos os principais passos para a infidelidade<br />

conjugal: o distanciamento do outro, a repulsa, a quebra da<br />

comunicação e o desejo de estar longe. Certamente são portas<br />

abertas para um casamento destruído.<br />

Jamais, porém, é tarde para recomeçar ou recuperar aquilo<br />

que se perdeu se houver uma disposição mútua. Se você se<br />

sente distante do seu cônjuge, já perdeu o primeiro amor, o<br />

desejo de estar perto e conversar, a atração pessoal e sexual, e<br />

seus sonhos o projetam para outras pessoas e outros lugares<br />

que não o seu lar, é hora de parar onde está e traçar um caminho<br />

de volta. Há volta. Não é um caminho fácil, mas é um<br />

caminho de amor. A reconstrução de relacionamentos rompidos<br />

é especialidade do nosso Pai.<br />

Planejamento estratégico familiar<br />

A integridade na família é desenvolvida quando colocamos<br />

nossa família perante o Senhor e buscamos para ela um rumo<br />

que glorifique o nome de Jesus. Como líderes, somos acostumados<br />

ao planejamento; em muitos casos, planejamento estratégico<br />

de cinco ou dez anos. Temos rumos definidos para um<br />

projeto ou um programa, mas, às vezes, nos esquecemos de<br />

planejar os rumos da família. Gostaria, assim, de dar-lhe alguns<br />

breves conselhos que podem ajudá-lo nesse exercício:<br />

1. Observe a quantidade e a qualidade relacional no lar. A<br />

família se fundamenta no relacionamento, eéatravés dele que<br />

goza as alegrias e amarga os conflitos. Investir na quantidade e<br />

na qualidade das relações é essencial. Gostaria de sugerir a leitura<br />

do ótimo livro As Cinco Linguagens do Amor, de Gary<br />

Chapman, da Editora Mundo Cristão'. O livro é dividido em 14<br />

partes, e sugiro que o casal o leia juntos. Cada dia (ou semana,<br />

73


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

como preferirem) um dos cônjuges lê o capítulo enquanto o<br />

outro ouve. O que ouve tem, após a leitura, a tarefa de aplicar o<br />

conteúdo ao seu relacionamento. Esse simples exercício tem<br />

sido de grande proveito para muitos casais. Um deles nos<br />

confidenciou que foram 14 dias que salvaram seu casamento.<br />

2. Tenha um sonho familiar compartilhado. Certa vez, ouvi o<br />

Pastor Jeremias Pereira falar sobre um tema familiar. Repassei o<br />

CO daquela mensagem para todos da nossa equipe na Amazônia.<br />

Ali ele dizia que era preciso ter um sonho familiar. O alvo proposto<br />

era ser uma família cristã, saudável, amorosa, unida, feliz e<br />

missionária. É preciso ter um sonho compartilhado. Gostaria de<br />

lhe indicar também um ótimo livro de Augusto Cury - 12 Semanas<br />

Para Mudar Uma Vida, da Editora Planeta. O objetivo do livro<br />

é levar-nos a rever o direcionamento da nossa vida. Muitas vezes,<br />

esse é um exercício necessário para o casal e a família, sobretudo<br />

quando vivem sonhos não compartilhados.<br />

3. Inicie, cedo, o processo de restauração. Não espere até<br />

seu relacionamento estar deteriorado. Inicie o processo de restauração<br />

assim que os sinais de desgaste estiverem evidentes,<br />

tais como o desinteresse pelo cônjuge, sentimento de intolerância,<br />

atos de aversão. Recomendo a leitura, neste caso, do<br />

ótimo livro do Pastor Hernandes Dias Lopes: Restaurando a<br />

Família, da Editora Candeia.<br />

4. Seja um sacerdote em seu lar. O Senhor quer que você<br />

seja um sacerdote em seu lar, e isso significa que você tem a<br />

responsabilidade de conduzi-la à presença de Deus. Implica<br />

também conhecer bem o seu lar e os limites em seu próprio<br />

casamento. Ore por sua família, coloque-a no altar do Senhor,<br />

lute por ela e chame-a para uma vida santa. Gostaria de sugerir<br />

o livro Limites no Casamento, de Henry Cloud e John<br />

Towsend, da Editora Vida.<br />

S. Invista diariamente no desenvolvimento de uma boa comunicação.<br />

Não é segredo que muitos dos conflitos relacionais<br />

advêm - ou são agravados - de uma comunicação prejudicada.<br />

Descobrir o segredo da comunicação ativa e integral com seu<br />

cônjuge é certamente um passo no rumo certo. Sugiro a leitura<br />

do ótimo livro Descobrindo os Tesourosdo Casamento, de Debby<br />

Cherry, da Editora CPAD. Nele, a autora, apropriadamente,<br />

74


INTEGRIDADE NA FAMíliA<br />

afirma que são as pequenas coisas que constroem ou destroem<br />

um casamento. Uma delas é a comunicação diária.<br />

6. Converse sobre a vida sexual. É necessário que o casal<br />

esteja alinhado quanto à sua vida sexual, ou seja, que estejam<br />

contentes e que não haja pontos obscuros nessa área. O livro<br />

Respostas Francas Sobre Sexo no Casamento, de Tim e Beverly<br />

LaHaye, da Editora Betânia, certamente é de grande ajuda.<br />

Escolhi este capítulo para partilhar sobre os processos<br />

mentais, sua dinâmica e perigos. Todos nós desenvolvemos<br />

processos mentais, que são basicamente os padrões de pensamentos<br />

que usamos em determinadas situações. Tais padrões<br />

(formas como organizamos os pensamentos) se tornam repetitivos<br />

e cíclicos. Assim, perante uma crítica, alguns desenvolvem<br />

um processo mental de autopiedade e assim passam a<br />

relembrar a infância sofrida, os insucessos da vida e assim por<br />

diante. Perante um elogio, outros podem desenvolver um processo<br />

mental de orgulho no qual, em sua fantasia, são o centro<br />

do Universo, das atenções e dos fatos. Processos mentais são<br />

padrões de pensamentos assumidos perante as situações da<br />

vida. Eles podem ser de grande ajuda, desde que cativos ao<br />

Senhor Jesus. Senão, podem servir de destruição pessoal e familiar.<br />

O apóstolo Paulo nos exorta a levarmos cativo todo<br />

pensamento à obediência a Cristo (2 Co 10.5) e assim nos leva<br />

a crer que o Senhor deseja guiar-nos não somente nos nossos<br />

atos, mas também em nossos pensamentos.<br />

Quando uma atmosfera de sensualidade - provocada por<br />

uma pessoa, uma imagem, uma palavra - leva ao desenvolvimento<br />

de pensamentos de prostituição, adultério e infidelidade<br />

- de forma repetitiva e diária - há de se concluir que um<br />

processo mental já foi construído e sua mente está instruída a<br />

reagir com tais pensamentos. Esse estado se difere de um pensamento<br />

fortuito, ocorrido em um caso isolado que, apesar de<br />

igualmente pecaminoso, ainda não se enraizou ao ponto de<br />

poder ser categorizado como um processo mental.<br />

Apesar de os processos mentais serem desenvolvidos em<br />

qualquer área da vida e dos pensamentos, gostaria de focar,<br />

neste momento, na sexualidade. Se uma provocação sensual<br />

75


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

leva ao desencadeamento de um processo mental repetitivo e<br />

impuro, é necessário tratar tal estado de forma séria e urgente.<br />

A psicologia cristã nos ensina que o progresso da infidelidade<br />

sexual se dá, normalmente, na seguinte escala:<br />

• pensamentos de infidelidade, isolados, em decorrência da<br />

provocação sensual;<br />

• pensamentos repetitivos (gerando padrões mentais) de infidelidade<br />

em decorrência da provocação sensual;<br />

• pensamentos repetitivos (padrões mentais) de infidelidade,<br />

mesmo na ausência de uma provocação sensual objetiva;<br />

• fantasias sexuais em contexto de infidelidade;<br />

• ato de infidelidade sexual.<br />

Se você identifica a existência de um processo mental<br />

resposta quase automática do pensamento - que o leve a um<br />

ambiente de infidelidade sexual, é momento de procurar ajuda.<br />

Não esteja só. Busque o Senhor e um conselheiro de sua<br />

confiança. Abra seu coração, partilhe suas lutas e fraquezas.<br />

Assuma um compromisso de prestação de contas, de forma<br />

regular, com alguém que o acompanhe. Prestação de contas<br />

pode ser uma grande arma na construção de uma mente sadia<br />

durante o tratamento de vícios mentais.<br />

Neste capítulo, vimos que a integridade na família desafianos<br />

a ser um modelo para os de perto. Também nos convida à<br />

construção do outro, ao caminho da cumplicidade, e nos alerta<br />

a respeito da infidelidade conjugal. Fala-nos sobre processos<br />

mentais e como termos sobre eles vigilância. Gostaria de<br />

convidá-lo a avaliar seu casamento e sua vida em seu lar.<br />

Coloque seu casamento e sua família perante Deus agora,<br />

em oração. Avalie como vai a sua casa; seu relacionamento<br />

com seus filhos e com seu cônjuge; como eles o vêem e como<br />

você os influencia. Peça que Deus traga clareza à sua mente<br />

sobre esses pontos.<br />

Planeje, na presença do Senhor, investir para ter uma família<br />

cristã, saudável, amorosa, unida, feliz e missionária. Assuma<br />

um compromisso, na presença dele e com sua ajuda, de ser<br />

um cônjuge amoroso, cuidadoso e fiel.<br />

76


CAPíTULO<br />

INTEGRIDADE<br />

NA LIDERANÇA<br />

"Muitas vezes nos impressionamos com homens e ministérios<br />

que não impressionam a Deus."<br />

Quando o Dr. Russell Shedd proferiu essa frase, passei a<br />

pensar e pesar meu próprio ministério. Parece existir certa<br />

carência de equilíbrio e coerência em nosso trabalho como<br />

líderes do povo de Deus. Há situações antagônicas que não<br />

são necessariamente contraditórias. Tenho visto pastores que<br />

pregam com lucidez em tom professoral e outros que falam<br />

com paixão e em brados. O principal elemento a ser julgado<br />

aqui, entretanto, é invisível aos olhos e inaudível aos ouvidos.<br />

É a fidelidade do coração. E a fidelidade é um elemento que<br />

pode ser multifacetado, principalmente na liderança.<br />

Charles Swindoll, em seu excelente livro <strong>Liderança</strong> em Temposde<br />

Crise, cita o presidente americano Harry Truman quando<br />

definia um líder como "uma pessoa capaz de fazer os outros executarem<br />

algo de que não gostam - e fazê-los gostar'". Swindoll<br />

diz que poderia definir liderança em um só termo: influência.<br />

Por outro lado, é certo que não podemos ensinar aquilo<br />

que não sabemos e, dessa forma, não poderemos influenciar<br />

pessoas em áreas que não experimentamos.<br />

Mauro Rodriguez, num livro muito importante-, faz um<br />

diálogo entre a psicologia da personalidade eocristianismo,<br />

refletindo sobre a Igreja na Idade Média que "para não escandalizar<br />

os ignorantes... escandalizava os mais inteligentes". A<br />

época era outra, porém a tônica é a mesma: a manipulação<br />

77


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

das massas através de máscaras e imagens bem produzidas.<br />

Podemos, sim, nos impressionar com homens, histórias, sermões<br />

e ministérios que não impressionam a Deus. E não o<br />

impressionam, por assim dizer, porque não trazem mais do<br />

que palavras ao vento. O conteúdo proferido contraria o testemunho<br />

diário. Há mais conhecimento e habilidade para o<br />

trabalho do que seriedade e compromisso com Cristo.<br />

Neste capítulo, conversaremos sobre a integridade na liderança.<br />

Não apenas sobre a arte de liderar, que aqui não é nosso<br />

tema principal, e sim sobre a necessidade de liderarmos<br />

com coração íntegro. Meu convite, portanto, é que você se<br />

avalie como líder na presença do Senhor. Algumas áreas são<br />

cruciais para construirmos uma liderança íntegra.<br />

<strong>Integridade</strong> na visão<br />

Não há nada tão perigoso, na liderança, como perder o rumo<br />

de Deus para sua vida e seu trabalho; perder a visão do Alto.<br />

Em nossos dias, pastores e líderes recebem uma grande<br />

carga de expectativas ministeriais, em termos de imagem, produção<br />

e resultados. Tem sido desenvolvida a idéia de que todo<br />

pastor deve ser um grande líder, visionário, orador, exegeta e<br />

administrador. O livro Igreja S/AJ fala-nos a respeito desse<br />

perigo. Penso que o perfil de um líder segundo a Palavra é<br />

profundamente distinto de um líder dos sonhos do mercado.<br />

Em um encontro, alguém me apresentou a um líder de uma<br />

grande empresa norte-americana. Ele não era cristão e tinha<br />

em mente a idéia de liderança segundo os valores do mercado,<br />

ou seja: produção, qualidade e lucro. Foi introduzido como<br />

alguém que poderia nos dar grandes conselhos de liderança. E<br />

isso me fez pensar. O que ele faria caso seu gerente o enganasse?<br />

Ou ainda, se uma filial não desse o lucro esperado? Estaria<br />

ele disposto a perdoar ao gerente e investir na filial que lhe dá<br />

prejuízo? Certamente que não. Cristo, porém, faria assim, investindo<br />

nos fracos e apoiando os que vivem no prejuízo. Os<br />

valores de liderança no mercado são muitas vezes antagônicos<br />

aos valores do evangelho.<br />

Gostaria que você pensasse em algo neste momento. É pro-<br />

78


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

vável que você viva sob muitas demandas de trabalho e expectativas<br />

de muitos ao seu redor. Talvez você gaste boa parte de<br />

suas energias e tempo para satisfazer a tais demandas e às<br />

pessoas. Nada pecaminoso até então, visto que todo trabalho<br />

envolve demandas e nossas principais atividades envolvem<br />

pessoas. Porém, em algum momento, é preciso perguntar qual<br />

o principal elemento que define nosso trabalho e ministério. E<br />

creio que a resposta é simples: Devemos viver e trabalhar tãosomente<br />

para saciar a expectativa de Deus para conosco.<br />

Estamos agindo dentro da vocação de Deus ou lutando para<br />

realizar o que Deus não determinou? Tendemos a desejar fazer<br />

sempre o que o dia pede. A agenda não pára e determina o<br />

ritmo. As pessoas, especialmente as que trabalham conosco,<br />

possuem uma visão predeterminada a nosso respeito, sobre o<br />

que devemos ou não fazer. Tudo isso contribui para nos colocar<br />

em uma roda viva, que não pára. Precisamos aprender a<br />

parar para ouvir a Deus; buscá-lo e rever nossos caminhos,<br />

nossas direções e escolhas. Devemos crer que "esperar em<br />

Deus não é ociosidade, mas trabalho maior que qualquer outro<br />

trabalho para quem não estiver habilitado":'.<br />

Mais importante que a pressa é estarmos convictos de que<br />

andamos na visão de Deus. O Pastor José João, ministro na<br />

Igreja Presbiteriana de Manaus, freqüentemente separa as segundas-feiras<br />

para se retirar. Vai para um sítio próximo e se<br />

detém a descansar e ponderar. Descansar do forte ritmo ministerial<br />

e ponderar sobre as escolhas feitas ao longo daqueles<br />

dias perante o povo de Deus. Se há algo que não podemos<br />

perder ao longo da caminhada, é a visão de Deus.<br />

<strong>Integridade</strong> de visão ministerial é convicção de que andamos<br />

na visão do Senhor, mesmo no dia mau. Bem sabemos<br />

que a visão da igreja de Deus muitas vezes não é a visão de<br />

Deus, o que implica o fato de que nem sempre teremos amplo<br />

apoio ao seguir o caminho divino. O líder - sobretudo o líder<br />

- precisa ter esta convicção: de que o caminho trilhado por<br />

ele, e talvez seguido por muitos após ele, é o caminho de Deus.<br />

A Palavra nos relata que "o Senhor não vê como vê o homem.<br />

Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o<br />

Senhor olha para o coração" (1 Sm 16.7 - ARe). E lemos, a<br />

79


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

respeito do sonho de Neemias, quanto aos muros de Jerusalém:<br />

"Não declarei a ninguém o que o meu Deus me pusera no<br />

coração para eu fazer em Jerusalém" (Ne 2.12). O ponto<br />

crucial em nosso trabalho como líderes é perseguir a visão do<br />

Alto e, se nos aquietarmos e buscarmos o Senhor, ele a colocará<br />

em nosso coração de forma clara e certa.<br />

Stuart Mill afirmou que uma pessoa com uma crença representa<br />

uma força de noventa e nove que têm somente um<br />

interesse. Neste ponto somos induzidos a chegar a mais uma<br />

conclusão: Padecemos mais pela ausência de visão do que pela<br />

ausência de recursos. Nem precisamos de fé para vermos os<br />

recursos iniciais, pois Deus coloca-os à mão. Foi o que ocorreu<br />

em vários episódios: do rapazinho com dois pães e cinco<br />

peixes, do sogro de Moisés, daqueles que moveram a pedra<br />

do túmulo de Lázaro, dos anônimos que reconstruíram o muro<br />

com Neemias, e da tantos outros. Quando Deus vocacionou<br />

Moisés, deu a ele a visão da grande obra - tirar o povo do<br />

Egito - porém Moisés se viu sem recursos para isso.<br />

Em seguida, Deus perguntou a Moisés o que ele tinha nas<br />

mãos. Moisés viu que segurava apenas um cajado. O Senhor<br />

então o fez entender quão poderoso pode ser um cajado, quando<br />

usado por Deus.<br />

Vivemos em um mundo onde o cenário mudou earealidade<br />

está sendo reconstruída por valores alienígenas à fé cristã.<br />

São valores que combatem a visão espiritual e nos lançam em<br />

programas utilitários. É preciso conhecê-los, não apenas para<br />

sobrevivermos, mas também para instruir-nos. Um exemplo é<br />

o cenário de relativismo existencial em que o universo social<br />

nos desafia como ministros. A vida torna-se extremamente<br />

relativa, onde tudo pode ser verdadeiro e tudo pode ser falso.<br />

Há verdade em todo pensamento, e qualquer postura de vida<br />

é justificável.<br />

Isso nos leva a andar de acordo com a maré social e perdemos<br />

a visão. Líderes que não lutam mais pelo que crêem, e<br />

crêem bem menos do que antes. Líderes que se moldam à<br />

tendência do momento e corrompem a sua visão de ministério.<br />

Que trocam a vocação pelo status; o ministério de Deus<br />

por uma posição em que recebem benefícios e reconheci-<br />

80


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

mento; O caminho do Senhor por um lugar seguro ou mais<br />

desenvolvido.<br />

As grandes oportunidades da vida podem ser as grandes<br />

armadilhas do ministério. Jamais negocie sua vocação e sua<br />

visão. Se você é um pregador da Palavra, não se tranque em<br />

um gabinete. Se você é um missionário, não fuja do campo. Se<br />

você é um mestre, não troque seus alunos por um título maior.<br />

Se você é pastor, jamais negocie seu rebanho por um emprego.<br />

Ao longo da vida, o líder precisa abrir mão de desejos e<br />

orientações particulares para gerenciar sua vida e seu trabalho.<br />

A visão de Deus não é um desses elementos. Repitamos, a<br />

cada dia, o pedido ao Senhor para não nos desviarmos de sua<br />

visão e seus caminhos.<br />

Falo deste assunto de todo o coração. Por algum motivo, é<br />

um temor constante. Talvez a oração que eu mais repita ao<br />

longo dos meus dias de adulto seja esta: Que o Senhor não<br />

permita que eu saia da sua visão. As possibilidades são tantas,<br />

as cores são por vezes tão reluzentes e as propostas, cativantes.<br />

Porém importa-nos cumprir o desejo de Deus. Uma imagem<br />

mental que me auxilia é a da Igreja Moraviana em suas<br />

peregrinações missionárias a partir da forte experiência com<br />

o Senhor no dia 13 de agosto de 1727. Partiram levas de missionários,<br />

e sempre quando interpelados sobre quem eram e<br />

para onde iam, respondiam sob a mesma instrução: "Seguimos<br />

buscando para o Cordeiro o galardão do seu sacrifício".<br />

Essa é uma visão a seguir.<br />

<strong>Integridade</strong> na influência<br />

Liderar é influenciar pessoas. Outro dia, encontrei-me com<br />

um irmão em Cristo, ribeirinho no interior do Amazonas. Ele<br />

falava usando vários argumentos de encorajamento semelhantes<br />

aos encontrados nas palestras do Pastor Jeremias Pereira.<br />

Conversando a respeito, percebi que ele e muitos outros assistem<br />

às palestras do Pastor Jeremias em DVDs e CDs enquanto<br />

viajam pelos rios da Amazônia. Liderar é influenciar<br />

pessoas, perto ou longe.<br />

Nem todos os líderes possuem função de destaque, seja em<br />

81


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

um ministério ou numa organização. Independentemente de<br />

sua função ou cargo, o líder de determinado círculo é aquele<br />

que influencia os que estão ao seu redor. Se essa qualidade de<br />

liderança pode ser usada de forma benéfica para o grupo que<br />

com ele caminha, certamente também pode ser usada de forma<br />

trágica. Precisamos nos preocupar com o tipo de influência<br />

que estamos exercendo.<br />

Francis Shaeffer previa um tempo em que a aparência moral<br />

seria mais importante que os valores morais. Vivemos essa época<br />

hoje e podemos percebê-la nitidamente pelo rápido desenvolvimento<br />

do hedonismo em nosso meio. O homem nascido<br />

sob o signo do hedonismo busca insaciavelmente a própria felicidade.<br />

O altruísmo passou a ser um termo vazio de significado,<br />

eaintegridade não aguça nenhum apelo pessoal. Infelizmente<br />

vemos também nascer em nossos tempos igrejas hedônicas onde<br />

os cultos se transformam em bolsas de valores e o produto oferecido<br />

éaauto-satisfação. Quem não o oferece em abundância<br />

é penalizado pelo esvaziamento de sua congregação.<br />

Esse movimento hedônico eclesiástico leva-nos a ter respostas<br />

e propostas que segurem o rebanho, muitas vezes em detrimento<br />

da integridade ministerial. É a falsa moral tomando o seu<br />

lugar e gerando uma igreja que nega sua identificação com um<br />

Cristo que pagou um preço alto pela sua autenticidade.<br />

Cristo gerou uma igreja que deveria ser rica em muitos aspectos<br />

e enriquecer os pobres de espírito e os sedentos deste<br />

mundo. No entanto, algumas denominações e iniciativas cristãs<br />

têm explorado os pobres para enriquecerem a igreja. É o<br />

evangelho ao contrário.<br />

Bonhoeffer, em seu livro Ética" escreveu um capítulo interessante<br />

a respeito do pudor. Ele fala que, em lugar de Deus, o<br />

ser humano enxerga a si mesmo, porque teve seus olhos abertos<br />

(Cn 3.7). "O ser humano se reconhece em sua desunião<br />

em relação a Deus e ao semelhante. Reconhece que está nu ...<br />

ele se sente exposto. Nasce o pudor... o encobrimento é necessário<br />

porque mantém viva a vergonha... debaixo da máscara<br />

continua vivo o desejo pelo restabelecimento da unidade<br />

perdida.:" Muitas lideranças, fragilizadas pelos holofotes, elogios<br />

e benefícios do ministério, precisam recapitular o desejo<br />

82


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

pela unidade perdida. Um dos apelos do evangelho é este:<br />

revisitarmos freqüentemente a simplicidade da fé cristã.<br />

Há uma clara diferença entre liderança e gerenciamento.<br />

O líder possui uma visão definida e influencia pessoas a seguirem<br />

em tal caminho. O gerente organiza as funções e atividades.<br />

Quando lideramos, precisamos ser líderes como também<br />

gerentes. Uma liderança sem gerência promoverá sonhos ilusórios<br />

que, por falta de competência, jamais serão atingidos.<br />

Uma gerência sem liderança criará uma máquina de trabalho<br />

sem rumo, que anda muito bem, mas não se sabe para onde.<br />

Na liderança, não precisamos ter os atributos necessários<br />

para influenciar e gerenciar. Podemos nos cercar de pessoas<br />

que tenham tais dons. O importante, porém, é desenvolvermos<br />

uma postura íntegra ao gerenciarmos pessoas, ajudandoas<br />

a saírem de sua zona de conforto, sem, contudo, lançá-las<br />

além de suas limitações. Tenho para mim que essa não é uma<br />

tarefa fácil, pois um prejulgamento equivocado a respeito de<br />

alguém será o suficiente para errarmos no gerenciamento. E<br />

conhecer as pessoas implica tempo de convivência.<br />

Assim, ao influenciarmos, precisamos fazê-lo de forma íntegra.<br />

Isso significa que, se você está cercado por pessoas com<br />

um chamado de Deus, sua missão é fazê-las crescer e amadurecer<br />

a fim de que cumpram o chamado do Senhor. Não devemos<br />

usar os que estão ao nosso redor para servir-nos. Devemos,<br />

entretanto, sermos usados para que cresçam e sejam e<br />

cumpram o que o Altíssimo tem para a vida delas. <strong>Integridade</strong><br />

na influência é um conceito definido pela direção. Em que direção<br />

influenciamos aqueles que nos cercam? Há três possibilidades<br />

mais claras: para que nos sirvam, para que sirvam a<br />

instituição ou para que sirvam a Deus. Precisamos cuidar para<br />

que os influenciemos de tal forma que desejem servir a Deus,<br />

e tão-somente a Deus.<br />

<strong>Integridade</strong> na vida diária<br />

Neste momento, gostaria de convidá-lo a pensar sobre sua<br />

vida como líder. Um dos maiores desafios que temos perante<br />

nós é, certamente, nossa vida diária. Saber disciplinar nossa<br />

83


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

vida diária e direcioná-la para Deus e perante Deus é o caminho<br />

da sabedoria. Para tal, proponho falarmos de algumas atitudes<br />

que passam pelo desenvolvimento da simplicidade, fortalecimento<br />

dos relacionamentos pessoais e tratamento da<br />

ansiedade. Dentre tantas áreas, creio que essas três nos serão<br />

de boa ajuda.<br />

Antes de falarmos sobre tais áreas, porém, permita-me repetir<br />

um assunto de extrema importância - a necessidade de nos<br />

despirmos perante o Senhor. O uso de máscaras na vida diária é<br />

uma das atitudes mais comuns e mais destrutivas para um líder<br />

chamado por Deus. Isso o impedirá de crescer, mudar, enxergar<br />

o caminho e segui-lo. Elepoderá encerrar sua vida com aplausos<br />

pelo sucesso, mas com o coração amargurado. Há algo a ser<br />

feito: retirar nossas máscaras e nos mostrarmos como estamos.<br />

Deus nos ama além das máscaras. Outros também nos amarão.<br />

O poema "Máscaras", de Gilbert B. Lazan, reflete bem essa<br />

realidade.<br />

"Cada vez que ponho uma máscara para esconder minha<br />

realidade, fingindo ser o que não sou, faço-o para atrair o outro<br />

e logo descubro que só atraio a outros mascarados, distanciando-me<br />

dos outros devido a um estorvo: A máscara.<br />

"Faço-o para evitar que os outros vejam minhas debilidades<br />

e logo descubro que, ao não verem minha humanidade, os outros<br />

não podem me querer pelo que sou, senão pela máscara.<br />

"Faço-o para preservar minhas amizades e logo descubro<br />

que, quando perco um amigo, por ter sido autêntico, realmente<br />

não era meu amigo, e, sim, da máscara.<br />

"Faço-o para evitar ofender alguém e ser diplomático e logo<br />

descubro que aquilo que mais ofende às pessoas, das quais quero<br />

ser mais íntimo, é a máscara.<br />

"Faço-o convencido de que é o melhor que posso fazer para<br />

ser amado e logo descubro o triste paradoxo; o que mais desejo<br />

obter com minhas máscaras é, precisamente, o que não consigo<br />

com elas."<br />

Quando renunciamos às máscaras, conversamos com Deus<br />

de forma autêntica, sem rodeios e medos, buscando o que é de<br />

fato o melhor dele.<br />

84


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

Simplicidade na vida didria<br />

A simplicidade é uma virtude provida por Deus, pois somos<br />

naturalmente tendentes à complexidade, a demandas e<br />

ao desequilíbrio. Simplicidade não significa apenas abstinência.<br />

Na busca pela simplicidade a partir, exclusivamente, da<br />

abstinência, homens se enclausuraram em celas escuras de<br />

monastérios isolados. Muitos perceberam, então, que a cobiça<br />

está no coração do homem, e não apenas no dinheiro, no<br />

sexo e no poder. A cobiça o levar a desejar ter, ser e estar onde<br />

não poderia e não deveria. E a cobiça mata a simplicidade da<br />

vida tanto em um monastério distante quanto em uma grande<br />

cidade capitalista. O que deve ser domado éocoração.<br />

A perda da simplicidade é conseqüência de um coração alimentado<br />

pela cobiça que nos leva a crer e viver em mentiras.<br />

Algumas delas são mais freqüentes, e gostaria de mencioná-las.<br />

A primeira é a que diz que precisamos do reconhecimento<br />

de todos para sermos felizes. Isso leva homens e mulheres,<br />

sobretudo líderes, a investirem o que não têm (tempo, dinheiro,<br />

talento) em uma busca frenética pelo aplauso daquele que<br />

nada sabe ou, semelhantemente a nós, nada tem. O Senhor<br />

prova os corações.<br />

A segunda mentira é que precisamos de mais bens e de mais<br />

tecnologia de ponta para sermos efetivos. Assim, a tecnologia<br />

exige atualizações constantes, os escritórios devem ser caríssimos,<br />

a poltrona só pode ser de couro legítimo. Imensa ilusão!<br />

Homens mais simples, com o coração mais puro, mostram-se<br />

muito mais efetivos com apenas papel e lápis.<br />

A terceira mentira afirma que a felicidade é proporcional<br />

ao conforto, e este deve ser comprado com dinheiro. Basta<br />

um passeio por uma casa simples em uma aldeia africana paupérrima<br />

para que tal pressuposto seja colocado em xeque. A<br />

felicidade é encontrada em Deus, e ele se revela em ambientes<br />

de simplicidade, onde há menos dispersão.<br />

Falemos sobre a primeira mentira. O reconhecimento do próximo<br />

pode ser, ou não, algo legítimo. Não o sabemos. Os que<br />

ganham troféus não são necessariamente os mais talentosos, e<br />

sim os que melhores oportunidades tiveram. Os que recebem<br />

85


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

aplausos ao fim de um curso universitário brilhante não são os<br />

que impreterivelmente se tornam os melhores profissionais. Os<br />

melhores seminaristas, do ponto de vista acadêmico, também<br />

não são necessariamente os melhores pastores. Os títulos de<br />

Ph.D. possuem pouca validade na solução de conflitos. Ser eleito<br />

em uma igreja com 1000/0 dos votos pode lhe parecer um ato<br />

de total reconhecimento pessoal e ministerial, mas Deus prova<br />

os corações, e situações de franca aprovação podem mudar rapidamente.<br />

Aqueles que nos aplaudem ou nos criticam, em geral,<br />

nos conhecem pouco. Amigos chegados normalmente dialogam<br />

e não se extremam em aplausos ou críticas. Tanto os<br />

elogios quanto as críticas daqueles que não nos conhecem bem<br />

podem coincidir muito pouco com a verdade.<br />

Desse modo, a felicidade não está no aplauso do público<br />

nem no reconhecimento daqueles que nos cercam. Está em<br />

sabermos que, com isso ou a despeito disso, servimos ao Cordeiro<br />

Jesus com tudo o que somos e tudo o que temos. Está<br />

em sabermos que nossas energias, tempo, volições, talentos,<br />

limitações e humanidade foram usados para um fim principal:<br />

servir a Cristo. Se assim for, o que procuraremos será um reconhecimento<br />

apenas - apenas um - que não nos dará glória,<br />

mas nos mostrará graça, trará eterna felicidade. Será encontrado<br />

através das palavras do Senhor, naquele lindo dia quando,<br />

por sua graça, ouviremos: "Servo bom e fieL."<br />

Pensemos por um momento sobre a segunda mentira. Desenvolvemos<br />

vidas complexas que geram dependências em<br />

tecnologias que nos fazem parecer efetivos. O celular precisa<br />

estar sempre ligado e, seja qual for a origem da chamada, a<br />

conversa pessoal que estiver em andamento é cortada, pois há<br />

um apelo místico nesse aparelhinho que não aceita aguardar.<br />

Ocorre fato semelhante no balcão das lojas. Podemos estar<br />

fechando uma compra, mas, se o telefone toca, o vendedor<br />

jamais o ignora. É preciso atender. E aquele que está ali presente,<br />

em pessoa, tem de esperar. Os e-mails nos levam a expectativas<br />

de interação em tempo real. Algumas vezes já fui<br />

questionado por ter demorado mais do que doze horas para<br />

responder a uma mensagem. Tal dinâmica tecnológica nos leva<br />

a uma aparente impressão de efetividade. Afinal, estamos sem-<br />

86


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

pre fazendo algo, sempre ocupados, sempre falando, teclando<br />

ou viajando.<br />

A frustração surge quando se percebe que os mais efetivos<br />

líderes não são necessariamente os que se cercam de tecnologia<br />

ou mantêm um ritmo frenético de atividades. E isso ocorre<br />

por diversos motivos. Um deles é que a tecnologia possui,<br />

embutida em si, uma demanda de tempo. O celular mais moderno<br />

traz novas funções a serem aprendidas e ele fica ultrapassado<br />

a cada três meses. Os programas de informática já<br />

são lançados com a previsão de atualizações. É preciso experimentar,<br />

ler, aprender, reaprender. Essa dinâmica, porém, não<br />

assegura efetividade. Um exercício simples e útil que podemos<br />

fazer é este: pensar no que é desnecessário. Chegamos<br />

então à conclusão de que um líder:<br />

a) não deve gastar mais do que 10% de seu tempo útil de trabalho<br />

com atualizaçãode ferramentas tecnológicas;<br />

b) deve administrar o uso do telefone de forma que não seja<br />

um empecilho para relacionamentose para conversas facea<br />

face;<br />

c) deve concentrar-se mais em seus alvos e usar apenas as ferramentas<br />

necessárias para alcançá-los, por maisatrativasque<br />

outras lhe pareçam.<br />

A terceira mentira gira em torno do conforto. Conheci um<br />

pastor cujo sonho de consumo do momento era comprar uma<br />

televisão de plasma de 42 polegadas. Mostrou-me sua sala e o<br />

local exato onde a colocaria - no lugar de uma outra, ainda bem<br />

nova. Esta era um pouco menor, de tela plana e de boa marca.<br />

Ele logo me explicou o benefício da nova televisão: som estéreo,<br />

imagem perfeita, qualidade ao assistir a um bom programa. Notei<br />

que sua sala era muito aconchegante. Havia um jogo de sofá<br />

confortável, de mola, tipo americano, que nos abraça quando<br />

nos sentamos nele. Havia um tapete no centro, e cortinas bem<br />

colocadas contribuíam para o aconchego. Ao tentar ligar a TV<br />

prestes a ser trocada, porém, ele se complicou ao usar o controle<br />

remoto. Não sabia qual tecla ligava a TV ou o DVD. E isso<br />

me deixou curioso. Perguntei-lhe com qual freqüência assistia à<br />

TV na sala. Sua esposa chegou naquele instante e respondeu<br />

87


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

por ambos: quase nunca. Em seguida, ela passou a falar sobre o<br />

pouco tempo que tinham como casal; como era melhor no passado,<br />

quando viviam em um quarto e sala bem simples; o que<br />

perderam ao longo do tempo.<br />

Esse episódio me fez pensar nessa mentira que tenta nos<br />

convencer de que o conforto traz felicidade ou relacionamentos<br />

melhores; ou de que dele precisamos para viver a vida de<br />

forma plena. Um grande engano. A felicidade se dá em ambientes<br />

simples, na presença de Deus, com o calor humano.<br />

Por nove anos, eu e Rossana, vivemos em uma aldeia africana<br />

muito simples. Minha filha mais velha nasceu lá. É um<br />

local com muitas limitações, sobretudo em relação ao conforto.<br />

Hoje, quando conversamos em família, recordando os<br />

momentos mais gostosos que tivemos, todos sempre se lembram<br />

da aldeia. Ali, uma fraca lâmpada de 9 volts, conectada a<br />

uma bateria de carro, virava motivo de celebração, pois antes<br />

usávamos apenas velas. Isso mostra que casas bem iluminadas,<br />

portas decoradas e tapetes coloridos não formam necessariamente<br />

um ambiente de felicidade.<br />

Relacionamentos duradouros<br />

Quando Goethe afirmou que nos transformaríamos em uma<br />

sociedade que se move em bloco, certamente ele pensava no<br />

condicionamento de massa nos fazendo perder a sensibilidade<br />

das coisas pequenas e individuais. As experiências espirituais<br />

também se tornaram massificadas. De todas as perdas, uma<br />

que nos impede de manter integridade de vida e de liderança é<br />

a ausência de relacionamentos mais profundos e duradouros.<br />

O líder, quando obstinado apenas em seus ideais, cultivará ao<br />

seu lado seguidores. Mas, se interessado em pessoas e relacionamentos,<br />

cultivará amigos. Os amigos não apenas nos humanizam<br />

como também são parte vital de nosso crescimento em Cristo.<br />

Precisamos investir em relacionamentos duradouros.<br />

A trajetória de Jesus foi marcada por relacionamentos, e relacionamentos<br />

duradouros. Seus discípulos não se encontravam<br />

com ele nas reuniões formais, mas caminhavam com ele no diaa-dia.<br />

O assunto das conversas não versava apenas sobre o mi-<br />

88


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

nistério público, mas tratava da família, dos corações, das aflições,<br />

das alegrias. Freqüentemente comiam juntos. Com regularidade<br />

se reuniam em casas de amigos. Viajavam também juntos.<br />

Jesus, ao liderar, liderava com amizade. O custo certamente<br />

é maior. A possibilidade de decepção e mesmo traição é proporcionalmente<br />

agravada. Porém, no Reino de Deus, não se caminha<br />

sozinho. Fomos feitos para a comunhão.<br />

Um dos textos mais desafiadores na história da igreja em<br />

Atos encontra-se no capítulo 2 quando nos diz, no verso 42,<br />

que "perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão,<br />

no partir do pão e nas orações". Os versos 45 e 46 explicam<br />

como perseveravam na comunhão: partilhando seus bens entre<br />

os que tinham necessidade e se encontrando de forma unânime<br />

no templo e nas casas. Uma descrição impactante. O "a<br />

medida" que cada um tinha necessidade indica que eram sensíveis,<br />

que conheciam a medida, que observavam uns aos outros<br />

para que todos pudessem estar supridos. Quando lemos o<br />

que Lucas descreve, que se reuniam, unânimes, no templo e<br />

nas casas, precisamos parar por um momento e entender o<br />

contexto.<br />

A igreja em Atos era formada por judeus, judaizantes e também<br />

gentios. Os judeus vinham de uma vivência de extrema<br />

formalidade na adoração. O culto era celebrado no templo<br />

com uma liturgia inflexível e bem demarcada. Já os gentios<br />

vinham de uma realidade menos formal; um culto mais caseiro,<br />

menos litúrgico. Porém, a igreja, agora uma em Cristo Jesus,<br />

era unânime tanto no templo como nas casas. Provavelmente<br />

tinham preferências distintas. Mesmo assim, todos freqüentavam<br />

os cultos formais do templo e as reuniões informais<br />

nas casas. A intenção deles, de coração, era estar na presença<br />

de Deus juntamente com os irmãos na fé.<br />

Creio que precisamos resgatar essa teologia mais relacional<br />

e menos utilitária. Precisamos desejar estar com nossos irmãos<br />

na fé pelo que nos une, pelo que nos aproxima: o Senhor Jesus.<br />

Cultive amizades e relacionamentos duradouros. Se sua idéia<br />

de encontros pessoais resume-se a reuniões do conselho da<br />

sua igreja, você está em franco perigo. Informalize também o<br />

ambiente familiar. Não permita que os assuntos de trabalho<br />

89


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

venham a preencher todos os cantos de sua casa e da conversa<br />

da sua família.<br />

Cultive relacionamentos sinceros. Invista tempo para conhecer<br />

e se fazer conhecido. Tenha ao seu lado pelo menos<br />

três ou quatro amigos com os quais possa sorrir de forma<br />

descontraída e com eles abrir o coração; amigos que possam<br />

lhe apontar o erro sem grande cerimônia.<br />

Não raramente, líderes que enfrentam conflitos pessoais<br />

reagem acusando aqueles que os colocaram em um pedestal<br />

inatingível. E há dois problemas básicos com o pedestal: Primeiramente,<br />

não é lugar para nenhum de nós, visto que tenta<br />

roubar a glória de Deus. Além disso, é um local solitário. E<br />

não é bom estar só.<br />

Talvez você seja líder de um ministério de expressão em sua<br />

área, seja bem conhecido e aclamado. Pessoas gostam de estar<br />

ao seu lado ou de dizerem que se encontraram com você em tal<br />

lugar, passando uma idéia de intimidade. Talvez o seu tipo de<br />

trabalho o leve a ter certo destaque social, ou mesmo intelectual.<br />

Você é referência para alguns, ou para muitos. Se esse é o<br />

seu caso, algumas medidas devem ser tomadas com vigor. Uma<br />

delas trata do seu coração. Impeça - por meio de oração, da<br />

leitura da Palavra e de franca dedicação de espírito - que seu<br />

coração venha a abrigar algum sentimento de superioridade.<br />

Expulse de sua mente qualquer pensamento que tente convencêlo<br />

de que seu destaque ministerial é conseqüência de suas habilidades<br />

únicas. Esse é o caminho da derrota e do pecado. A<br />

segunda medida é prática. Apesar do destaque que lhe é conferido<br />

- quem sabe de forma alheia à sua vontade - não aceite o<br />

pedestal nem a tribuna. Desça até onde está o povo, pois é a ali<br />

o seu lugar. Não saia pelas portas do fundo, mas se coloque na<br />

porta de entrada para ver de perto os irmãos. Lide com a multidão<br />

como Jesus o fez. Esteja com ela, se misture a ela e use a<br />

oportunidade para lhe falar sobre o Pai. As pessoas o ouvirão.<br />

E, por último, exercite seu espírito na humildade.<br />

o cuidado com a ansiedade<br />

Entre os líderes, noto que a ansiedade está ligada a dois<br />

90


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

fatores principais: a responsabilidade e a expectativa. Responsabilidades<br />

que se sobrepõem à capacidade individual<br />

deflagram uma dinâmica de ansiedade. Expectativas geradas<br />

por nós a nosso próprio respeito, por nós a respeito de outros<br />

ou por outros a nosso respeito, quando não condizentes com<br />

a realidade e as limitações, possuem o mesmo efeito. Tanto a<br />

responsabilidade quanto a expectativa, postas dessa forma,<br />

geram um grande mal: o coração ansioso, que não descansa,<br />

que não sossega, que não dorme e jamais se alegra.<br />

Miguel Rizzo, pregador da Palavra de Deus afirmou:<br />

"O grande princípio de Jesus divide a conduta humana em<br />

duas partes: a compulsória eavoluntária, isto é, o que fazemos<br />

porque somos obrigados a fazê-lo, e o que praticamos a mais,<br />

de moto próprio, espontaneamente: a primeira milha e a segunda.<br />

O que a doutrina proclama é que, só quando o voluntário<br />

sobrepuja o necessário, a vida pode cessar de ser escravidão,<br />

atingindo seu pleno sentido de dignidade e valor."<br />

Um dos maiores erros dos obreiros cristãos é tentar realizar<br />

a obra de Deus sem os recursos de Deus. É como viajar<br />

num navio desconhecendo as cartas náuticas e ainda descobrir<br />

que tal embarcação está sem comida e água, sem velas,<br />

sem motor, sem leme, sem bússolas e sem capitão.<br />

A certeza de estar agindo no poder de Deus gera, por outro<br />

lado, homens e mulheres de iniciativa, íntegros na ação, resolutos,<br />

determinados, audazes, destemidos, desprendidos e<br />

prontos para andar a segunda milha.<br />

O que seria necessário de recursos espirituais conjugados<br />

com formação e especializações para intentar fazer nos dias<br />

de hoje pelo menos dez por cento do que William Carey realizou?<br />

Vejamos uma pequena lista, dada por Schwantes, de algumas<br />

de suas realizações:<br />

"(1) Traduções completas ou parciais da Bíblia, impressas<br />

em quarenta línguas e dialetos da Índia, China e Ásia Central;<br />

(2) a primeira obra em prosa e o primeiro jornal no vernáculo<br />

de Bengala; (3) a primeira tipografia organizada, fábrica de papel<br />

e máquina a vapor vistas na Índia; (4) os primeiros esforços<br />

para educar meninas e mulheres na Índia; (5) o primeiro colé-<br />

91


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

gio para cristianizar hindus educados; (6) a primeira missão<br />

médica; (7) o estabelecimento e manutenção de pelo menos<br />

trinta grandes missões separadas; (8)a primeira sociedade para<br />

fomento de agricultura na Índia; (9) a primeira caixa econômica;<br />

(10) as primeiras traduções dosgrandes épicossânscritos,o<br />

Ramayana e o Mahabarata; (11) a primeira tradução da Bíblia<br />

para o sânscrito."?<br />

Seu ministério, porém, não o deteve na busca por uma vida<br />

branda, com as emoções centradas no Senhor. Parece-nos que<br />

essa alta produtividade e serviços por ele prestados ao Reino<br />

não se conciliava com um espírito perturbado e ansioso. Ao<br />

contrário, havia paz. Não confundamos o cansaço com a ansiedade.<br />

O cansaço é um efeito limitador do nosso corpo, mente<br />

e emoções. Um limite saudável. A ansiedade perturba a alma,<br />

mesmo quando em ambiente de descanso.<br />

O termo estresse é utilizado demasiadamente para definir<br />

o cansaço e assim associá-lo a um desiquilíbrio emocional.<br />

Devemos, porém, separar aquilo que nos cansa daquilo que<br />

nos retira a paz. E ao fazê-lo, temos de identificar se aquilo<br />

que nos retira a paz advém da abundância desmedida de responsabilidades<br />

e expectativas ou se de uma fraqueza de espírito.<br />

No segundo caso, é necessário o fortalecimento pessoal,<br />

e não a clausura. Se em sua atuação de liderança você se estressa<br />

com a rotina da vida, algo está errado. Férias prolongadas,<br />

sessões de terapia relaxante ou ano sabático não o ajudarão. É<br />

necessário treinar o espírito para confiar e descansar.<br />

Certa vez, eu almoçava com o Dr. Russel Shedd em um<br />

congresso, quando ele foi abordado por um irmão que o convidava<br />

para ministrar em sua igreja. O Dr. Shedd, sempre carinhoso,<br />

lhe dedicou bastante atenção. Depois que o irmão se<br />

retirou, perguntei-lhe como ele lida com tantos compromissos,<br />

viagens e preleções. Quando descansa? Ele brandamente<br />

respondeu:<br />

"Eu descanso por dentro."<br />

Há uma diferença entre o cansaço de fora eocansaço de<br />

dentro. O de fora atinge o corpo e, se não for extremado, em<br />

uma boa noite de sono restaurador, será superado. O de den-<br />

92


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

tro atinge as emoções, captura a alegria e quebra o espírito. É<br />

necessário descansar por dentro.<br />

O principal instrumento que nos leva a apagar a ansiedade<br />

da nossa alma é a fé. Hebreus é um dos livros mais fascinantes<br />

de toda a Bíblia e nos conduz a crer que a missão da igreja<br />

está fundamentada em Cristo. Esse livro fortemente cristocêntrico<br />

apresenta Jesus logo no primeiro capítulo como o<br />

Resplendor da glória, Herdeiro de todas as coisas, Sustentador<br />

do Universo, Purificador de pecados, Majestoso e Superior<br />

aos anjos,<br />

Um dos principais temas de Hebreus é a fé. Enquanto a fé<br />

crê no invisível, a superstição acredita no inexistente. No<br />

capítulo 11, encontramos a galeria dos heróis da fé, aqueles<br />

que traduziram o conhecimento de Deus para a vida com<br />

Deus.<br />

Se estamos sem direção, lembramo-nos de Abraão. Ele saiu<br />

sem saber para onde, mas, na dependência de Deus, seguiu<br />

para a terra prometida. Se estamos no fim da vida, lembramonos<br />

de Jacó, que terminou seus dias prostrado em seu cajado,<br />

adorando o Senhor. Se temos grande responsabilidade sobre<br />

nós, lembramo-nos de Moisés conduzindo uma nação inteira<br />

durante 40 anos de peregrinação pelo deserto. Se somos discriminados,<br />

lembramo-nos de Raabe, que era prostituta, mas<br />

foi escolhida por Deus para integrar a linhagem de Davi. A fé<br />

é transformadora e consoladora, fundamentada em um Deus<br />

que controla o incontrolável.<br />

Crer em Deus faz descansar o espírito, sossegar a mente e<br />

relaxar o corpo. Crer em Deus leva-nos a compreender - e<br />

sentir - que ele controla o incontrolável; que a ansiedade nada<br />

mais é que nossa momentânea fraqueza de espírito, que ainda<br />

não consegue enxergar que a mão do Senhor está sobre nós e<br />

nos guarda.<br />

<strong>Integridade</strong> perante as tentações<br />

Para alcançar os objetivos da integridade em sua luta, é<br />

importante que o líder saiba buscar o amadurecimento.<br />

Roberta Fay e Eunice Johnson escreveram a respeito das mar-<br />

93


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

cas de uma personalidade amadurecidas, interagindo idéias<br />

bíblicas e da psicologia, que aqui são citadas, unidas à lista de<br />

Schwantes". Portanto, uma pessoa madura:<br />

1. É realista quanto a si própria, aceitando-se como é (senso de<br />

realidade) .<br />

2. Aceita frustrações e desapontamentos sem reagir erradamente<br />

(aptidão para tolerar desconforto e inconveniência).<br />

3. Nega a fama em prol do grupo.<br />

4. Sabe utilizar os dons de forma ideal.<br />

5. É independente. (Não depende obrigatoriamente da opinião<br />

alheia para suas decisões).<br />

6. Pode adiar uma satisfação no presente para garantir um benefício<br />

maior no futuro.<br />

7. Toma decisões ajuizadas, baseadas em fatos e circunstâncias<br />

(senso de responsabilidade).<br />

8. Tem a capacidade de perseverar.<br />

9. Sabe receber louvor e críticas sem perder o equilíbrio.<br />

10. Não pede nem espera a perfeição em ninguém, nem em si<br />

mesma.<br />

11. Tem o hábito de realizar mais do que o dever lhe impõe.<br />

12. É flexível (não interpreta concessões como prova de fraqueza).<br />

13. Ama os outros como a si própria.<br />

o Dr. Arthur Bietz'? aponta como sinal de falta de maturidade:<br />

1. Recusa em enfrentar a realidade.<br />

2. Racionalização, ou seja, o hábito de alegar razões, embora<br />

tolas, para justificar um comportamento infantil.<br />

3. Falta de coerência na conduta.<br />

4. Ressentimento básico contra a autoridade.<br />

5. Hábito de esquivar-se de tarefas difíceis.<br />

6. Egoísmo e inveja.<br />

7. Acesso de ira em face de frustrações.<br />

8. Dependência doentia de outros.<br />

9. Hábito de fanfarronar.<br />

A imaturidade espiritual gera grandes oportunidades para o<br />

94


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

diálogo com as tentações da carne, do mundo e do diabo. Gostaria<br />

de citar algumas tentações inerentes à função de liderança.<br />

A tentação da auto-suficiência<br />

Trata-se do caminho trilhado por muitos, onde não há prestação<br />

de contas ou subordinação. Não se aceita uma reprimenda<br />

ou um alerta; nem mesmo conselhos para se conduzir<br />

melhor. Pessoas auto-suficientes, ou que assim se julgam, são<br />

facilmente reconhecidas. Falam sempre sobre elas mesmas c<br />

seus projetos. Jamais destacam a equipe ou os outros, apenas<br />

a si. Impõem a outros a realização de seus desejos pessoais,<br />

sem negociação. Possuem incrível dificuldade em pedir ajuda.<br />

Seus relatórios devem sempre ter mais destaque. A vaidade<br />

muitas vezes impera. Se alguém ousar repreendê-las, a primeira<br />

reação é de represália. Possuem sempre reações lamentáveis<br />

perante um conflito.<br />

Devemos fugir da auto-suficiência devido a um princípio<br />

sobretudo espiritual, que afirma nossa dependência em Cristo<br />

Jesus, igualando todos os homens como carentes da graça de<br />

Deus. O instrumento que aprisiona e faz cessar a autosufiência<br />

éahumildade. De fato, essa é uma arma para várias<br />

guerras. Ela luta contra o orgulho, a vaidade, a soberba ea<br />

auto-suficiência.<br />

O caminho para a humildade é trilhado de joelhos. Pedese<br />

ao Pai, que pode moldar os corações. Deve também ser<br />

praticado com os irmãos. Sugiro que, sendo líder, se exponha<br />

de quando em quando. Dê liberdade e peça que outros<br />

possam avaliá-lo. Ouça-os sem nada responder; deixe sua<br />

mente ponderar. Dê tempo para suas emoções se acostumarem<br />

a essa nova e incômoda posição. A auto-exposição é um<br />

ataque à auto-suficiência. É um caminho nem sempre fácil,<br />

mas promissor. Ouvi certa vez o líder de uma iniciativa missionária<br />

na Europa confessar uma fraqueza em público e pedir<br />

que outros o ajudassem a avaliar se tal fraqueza tem prejudicado<br />

seu ministério. Certamente os inimigos de plantão<br />

podem usar tais expedientes para acusar-nos. Por outro lado,<br />

é um golpe fatal em um coração orgulhoso.<br />

95


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

Muitas vezes líderes se dão conta de sua fragilidade pessoal<br />

apenas quando açoitados por situações trágicas - enfermidades<br />

graves ou fatais, perda de funções e autoridade, queda<br />

moral. Não devemos aguardar tais situações para buscarmos<br />

a Deus, nos fortalecermos na humildade gerada pelo Espírito<br />

e atacarmos intencionalmente a auto-suficiência.<br />

A tentação do poder<br />

É da natureza carnal humana utilizar o poder para exaltar<br />

os amigos e perseguir os inimigos. É também da nossa natureza<br />

usar o poder para explorar os menos protegidos. Os jogos<br />

políticos, não apenas atuais, mas ao longo da história, são definidos<br />

pelo poder. O poder exerce um fascínio sobre o homem,<br />

dando-lhe uma (falsa) impressão de segurança. É um<br />

ímã também para aqueles que dele dependem, gerando uma<br />

miríade de seguidores; contudo, poucos amigos. O poder, assim,<br />

engana. E engana especialmente aquele que se sente poderoso.<br />

Abraham Lincoln ensinou que praticamente todos os homens<br />

podem sobreviver às adversidades. Mas, se você deseja<br />

realmente testar o caráter de alguém, dê-lhe poder. Essa afirmação<br />

lança-nos ao horizonte dos elementos que tentam corromper<br />

a nossa alma.<br />

Na história, o poder foi usado para explorar os mais fracos,<br />

impor regras e estilos de vida, colonizar, escravizar, enriquecer.<br />

Hoje o mesmo se vê, de maneira por vezes mais dissimuladas.<br />

Infelizmente, o que se vê no mundo se encontra na<br />

igreja. Jogos pelo poder e jogos no poder. O uso do poder para<br />

fazer calar a voz contrária bem como exaltar o amigo que lhe<br />

pode ser útil. O poder para ganhar, jamais perder. Para manter<br />

os interesses, jamais lutar pelo interesse do próximo. Para enriquecer<br />

a si, nunca ao pobre. Para destacar a si, não ao outro.<br />

Muitas funções de liderança vêm acompanhadas de certo<br />

poder institucional ou social. Tal poder permite tanto fazer o<br />

bem quanto o mal. Tanto construir quanto destruir.<br />

O Marquês de Pombal, escrevendo ao jovem Dom Luís Pinto<br />

de Sousa Coutinho, formado em 1767, nomeado governador e<br />

96


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

capitão-geral de Mato Grosso, ensina: "Não altere coisa alguma<br />

com força ou violência". A respeito do uso do poder, afirma:<br />

"Quando a razão permite e se faz necessário banir os abusos<br />

e destruir os costumes perniciosos em benefício do Rei, da justiça<br />

e do Bem Comum, aja com grande prudência e moderação,<br />

método que realiza mais do que o Poder [...] Em qualquer decisão<br />

que Sua Excelência planejar, observe estas três coisas: prudência<br />

na deliberação, destreza na preparação e perseverança<br />

para concluir." II<br />

o poder humano, social e temporário, pode e deve ser exercido<br />

para defender os valores e glorificar o Rei. O Senhor o dá<br />

com um propósito que deve ser seguido com humildade e sabedoria.<br />

O uso do poder para cultuar a personalidade, fomentar<br />

o destaque, atacar os inimigos e impor as idéias é pernicioso.<br />

Um dos efeitos mais carnais do poder se mostra quando<br />

este é utilizado para a perseguição pessoal. Saulo usou abundantemente<br />

contra Davi. Perseguiu-o e levou outros a persegui-lo.<br />

O Senhor resiste a tal atitude eacondena.<br />

Se você não está pronto para usar o poder para a glória do<br />

Rei, ou se seus sentimentos de vingança, auto-suficiência, orgulho<br />

e altivez podem se transformar nos critérios diários para<br />

o uso do poder, decline. Peça demissão, afastamento. Escreva<br />

uma carta, dizendo que ainda não está pronto. Em uma eleição<br />

para liderança de uma denominação em Gana, na África,<br />

vi uma atitude sensata e admirável. Um jovem pastor foi indicado<br />

para concorrer ao cargo mais alto, de presidente da instituição<br />

nacional. Prontamente se levantou e pediu para que<br />

seu nome fosse retirado da votação. Perguntado publicamente<br />

pelos motivos que o levaram a tal atitude respondeu:<br />

"Não estou pronto para estar perto demais do poder, pois<br />

é o que mais desejo."<br />

A tentação das riquezas do mundo<br />

A Palavra nos diz: "Quem anda em integridade, anda seguro"<br />

(Pv 10.9). Faz-se também necessário andarmos com integridade<br />

quando lidamos com o dinheiro.<br />

97


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

o dinheiro é um instrumento de bênção de Deus, e com ele<br />

muita coisa boa pode ser feita. O amor ao dinheiro, entretanto,<br />

é a raiz de todos os males.<br />

Schwantes'? fala a respeito de um jovem missionário na<br />

China, portador de três títulos universitários e fluente no chinês.<br />

Foi convidado pela Standard Oil Company para que assumisse<br />

um cargo de importância, recebendo seis vezes mais<br />

do que recebia para seu sustento missionário e com diversos<br />

benefícios. Procuravam alguém com um curso superior, fluente<br />

na língua local e para atuar naquela mesma cidade. O jovem<br />

missionário negou a oferta e explicou seus motivos:<br />

"Nada há de errado na oferta; o salário que o senhor propõe<br />

é generoso. Mas o trabalho é pequeno demais. Tenho um pequeno<br />

salário e um grande trabalho aqui na Missão. Prefiro<br />

gastar minha vida fazendo um grande trabalho com um pequeno<br />

salário, do que fazendo um pequeno trabalho com um grande<br />

salário."<br />

A tentação das riquezas pode ocorrer de forma multifacetada<br />

na vida de um ministro do evangelho. Tanto pode agredi-lo<br />

quando não possui o mínimo que julga necessário em seu coração,<br />

como ao contrário, quando possui em abundância. A<br />

tentação aqui não está ligada, portanto, ao acúmulo de posses<br />

e dinheiro, mas à maneira como lidamos com isso. Em primeiro<br />

lugar, é preciso guardar o coração e não negociar o ministério<br />

em razão das ofertas financeiras, como bem decidiu o jovem<br />

missionário na China. Outro passo a ser dado é evitar a<br />

comparação com outros que possuem a mesma função que<br />

você.<br />

Outro dia, ouvi um jovem pastor. Ele estava angustiado<br />

porque seu carro era velho demais. E, para descrever sua angústia,<br />

citava outro pastor na mesma região que possuía um<br />

bom carro. Veio à minha mente que o outro pastor, ao qual se<br />

referia, era um homem já no ministério havia mais de 3Oanos.<br />

Eu o conhecia e bem sabia que passara pelo menos metade<br />

desse tempo sem um meio de transporte próprio. Agora o tinha,<br />

bem como uma casa própria, frutos do sustento do povo<br />

de Deus ao longo de três décadas. O jovem pastor, angustia-<br />

98


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

do, estava em seu segundo ano de ministério. Quando nos comparamos<br />

com outros líderes em relação a sustento, benefícios<br />

e moradia, corremos o sério risco de julgar mal e amargurar o<br />

coração. Deus dá de acordo com nossas necessidades e há<br />

mais aprendizado no aperto do que na abundância.<br />

Eu creio que o princípio bíblico de sermos fiéis no pouco<br />

para sermos colocados no muito não está conclusivamente ligado<br />

a benefícios ou prêmios, mas ao aprendizado. O pouco é<br />

um ambiente que favorece maior aprendizado. Aqueles que<br />

vivem parte da vida com pouco dinheiro, pouco espaço, pouca<br />

oportunidade, pouco reconhecimento possuem nesse período<br />

um momento precioso de aprendizado.<br />

Meu pai, o Pastor Gedeon Lidório, foi um ministro presbiteriano<br />

até sua morte, anos atrás. Foi modelo em muitas coisas.<br />

Uma delas era o cuidado com as finanças. Sua imagem<br />

está clara em minha mente, sentado perante uma mesa com<br />

sua agenda na mão onde anotava cuidadosamente cada gasto.<br />

Sempre que reclamávamos que não possuíamos algo que outras<br />

crianças poderiam ter, ele se sentava calmamente e nos<br />

contava, uma vez mais, sobre a sua própria infância e juventude.<br />

Falava de como crescera em um ambiente simples, tendo<br />

de aprender a lidar bem com a falta até mesmo do essencial.<br />

Na época, eu não compreendia, mas hoje vejo que ele estava<br />

nos apresentando o momento em sua vida em que viveu com o<br />

pouco e como ele aprendeu com isso.<br />

Creio que há alguns princípios que pastores e líderes devem<br />

observar no trato com o dinheiro. Um deles é que aquele que<br />

toma decisões não deve ter a chave do cofre. No campo amazônico,<br />

somos hoje uma equipe formada por 39 missionários em<br />

diversas etnias indígenas. Como líderes da equipe, cremos que<br />

não devemos ter acesso ao dinheiro. O tesoureiro o faz. Assim,<br />

creio que nenhum pastor deva administrar as finanças da igreja<br />

que lidera. Com isso, quero dizer que os dízimos e ofertas devem<br />

ser entregues ao tesoureiro. É o tesoureiro que deve<br />

administar as retiradas e manter os relatórios financeiros em<br />

dia. O líder não deve sequer receber um cheque para a igreja e<br />

guardá-lo no bolso para ser entregue mais tarde ao tesoureiro<br />

ou à pessoa responsável. Quem toma decisões não deve ter a<br />

99


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

chave do cofre, para manter a transparência, a integridade eo<br />

zelo pelo bom testemunho.<br />

O contentamento com o que temos é algo relativo ao contexto.<br />

Percebi isso vivendo alguns anos na África. Quando saímos<br />

do Brasil e chegamos a Accra, capital de Gana, ficamos<br />

em uma casa bem simples da missão. A simplicidade do lugar<br />

era visível, e carecíamos de adaptação. Nós nos sentíamos claramente<br />

desconfortáveis. Após algumas semanas de compras,<br />

seguimos para a aldeia. Ali nos aguardava uma casa bem mais<br />

simples que a primeira na capital, e sem energia elétrica, água<br />

encanada e outros benefícios encontrados na cidade. Depois<br />

de um tempo, que durava entre três e seis meses na aldeia,<br />

voltávamos à cidade para podermos fazer mais compras e colocar<br />

em dia algumas questões administrativas do nosso ministério.<br />

Era interessante notar que, nesse momento, a casa da<br />

capital que julgávamos tão simples ao chegar do Brasil, se tornava<br />

um palacete. As paredes pintadas, o chão de cimento bem<br />

polido, os ventiladores de teto. Tudo ganhava brilho e, nessa<br />

hora, nos sentíamos extremamente confortáveis. O contentamento<br />

com o que temos é relativo ao contexto e ao coração.<br />

Pensando sobre o assunto, creio que a maior arma para lidar<br />

bem com o dinheiro - a abundância ou a ausência dele - é o<br />

coração grato. Peça ao Senhor um coração agradecido. Peça a<br />

ele que o ensine a agradecer por cada um dos benefícios que ele<br />

concede. Peça que, em lugar de comparações, lhe dê palavras<br />

de louvor; em lugar de amargura, gratidão pelo que tem. Um<br />

coração grato é uma arma poderosa nas mãos de Deus, pois<br />

coíbe o murmúrio, a comparação, a inconformação eodesperdício.<br />

Gera também um ótimo ambiente para a felicidade.<br />

Conselhos operacionais para um líder<br />

Há diversos tipos de liderança. Há os que influenciam informalmente<br />

um certo círculo de pessoas e desenvolvem,<br />

assim, uma liderança indireta. Existem aqueles que lideram<br />

um grupo de líderes que estão à frente de outros segmentos.<br />

Há também aqueles que formam e lideram equipes, sejam<br />

pastorais ou missionárias. Especialmente para estes, escrevi<br />

100


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

cerca de dois anos atrás, 25 conselhos pontuais e metodológiCOS.<br />

A seguir, transcrevo esses conselhos. Espero que lhe sejam<br />

úteis.<br />

1. Faça uma claradistinção entre problemas e conflitos. Problemas<br />

são disfunções na estrutura ou dinâmica do grupo.<br />

Portanto, seja rápido e objetivo na intervenção. Conflitos são<br />

disfunções nos relacionamentos. Sendo assim, permita que<br />

passem pelo ciclo platônico da insatisfação / inconformação /<br />

respeito / tolerância / amor. Neste caso, seja apenas um pacificador<br />

e moderador.<br />

2. Avalie um possível líder de acordo com a capacidade de<br />

resolver problemas e solucionar conflitos. Se necessário, gere<br />

situações em que os conflitos se tornem mais evidentes para<br />

que todos pratiquem com a tentativa de solucioná-los. Um líder<br />

deve ser, entre outras coisas, avaliado a partir de sua capacidade<br />

de resolver problemas (com iniciativa e agilidade) e<br />

solucionar conflitos (com paciência e ponderação).<br />

3. Não confronte tudo. Confronte o prioritário e só parta<br />

para o capítulo seguinte quando o anterior tiver sofrido mudanças<br />

positivas. A confrontação integral e cotidiana desgasta<br />

os relacionamentos e bloqueia oportunidades para que o essencial<br />

seja por você influenciado.<br />

4. Mantenha em mente que investir em pessoas é uma ação<br />

de médio e longo prazo. Não espere mudanças instantâneas.<br />

O investimento em pessoas é gradual e, em alguns casos, se<br />

desenvolve de forma imperceptível. Tenha em mente planos<br />

de médio e longo prazo.<br />

5. Tenha em mente a visão geral e os poucos elementos não<br />

negociáveis. Quem lidera não precisa saber de tudo e com tudo<br />

se envolver. Deve, porém, ter em mente qual é a visão geral a ser<br />

seguida e estar pronto para defender os valores não-negociáveis.<br />

6. Desenvolva amigos na equipe que tenham liberdade para<br />

lhe apontar o erro. O líder se humaniza através dos amigos e<br />

colegas. Com estes, ele normalmente convive boa parte de sua<br />

vida. Assim, é de se esperar que entre eles sejam encontrados<br />

os que são mais chegados que irmãos.<br />

101


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

7. Não procure agradar em tudo. Admita que outros possam<br />

não gostar de seu estilo e posições. Não seja desagradável<br />

em seu testemunho e integridade. Contudo, também não se<br />

angustie demasiadamente pela incapacidade de agradar a todos<br />

com os quais trabalha. A discordância é parte do papel de<br />

liderança e, tenha certeza, você jamais agradará a todos.<br />

8. Procure não atrapalhar. Permita que todos tenham suas<br />

próprias experiências e evite antecipar soluções que possam<br />

impedi-los de passar pelo processo da idéia/tentativa que pode<br />

desembocar em realização ou mesmo frustração.<br />

9. Pondere sobre o custo/benefício entre a instituição e as<br />

pessoas. Em alguns casos, permita que a instituição sofra por<br />

algum tempo, a fim de que as pessoas cresçam. Lembre-se,<br />

porém, de que instituições também abrigam pessoas. Não permita<br />

um prejuízo maior.<br />

10. Enfraqueça sua liderança em momentos tranqüilos, a<br />

fim de que novas lideranças surjam. Sobretudo os líderes fortes<br />

devem, intencionalmente, enfraquecer sua liderança para<br />

que outros se levantem. Isso não significa deixar de cumprir<br />

sua função, mas diminuir ° círculo de atuação e influência;<br />

sobretudo delegar.<br />

11. Fortaleça sua liderança em momentos de crise, para que<br />

o essencial no trabalho seja mantido. Líderes devem avaliar os<br />

diferentes momentos de crise e fortalecer sua posição, a fim<br />

de que possam dar rumo aos prejuízos no ministério ou equipe<br />

e minimizá-los.<br />

12. Leve a equipe a assumir os sacrifícios pastorais, investindo<br />

em pessoas, para que o caráter de todos seja forjado de acordo<br />

com o amor, e não apenas pela justiça. Intencionalmente,<br />

exponha sua equipe a situações conflitantes no julgamento de<br />

temas conflitantes. Leve-a a equilibrar bem suas decisões entre<br />

uma postura pastoral e uma de justiça.<br />

13. Procure ser um exemplo nas três principais áreas: tolerância,<br />

iniciativa e amor.<br />

14. Trate cada membro de acordo com seu perfil e habilidade.<br />

Não compare nem as pessoas que trabalham com você<br />

nem suas habilidades. Tente tratar cada um de forma personalizada.<br />

102


INTEGRIDADE NA LIDERANÇA<br />

15. Descubra o potencial dos membros de sua equipe, dando-lhes<br />

atividades desafiadoras, fora de sua costumeira área<br />

de ação, que demandem domínio próprio ou certo grau de<br />

maturidade.<br />

16. Lembre-se de sua missão perante a instituição. Como<br />

líder, sua missão em relação à instituição é ser coordenador e<br />

facilitador, para que todos possam produzir o máximo dentro<br />

de suas habilidades e dons, e que os alvos propostos sejam<br />

concluídos.<br />

17. Lembre-se de sua missão perante as pessoas. Sua missão<br />

em relação às pessoas é ser um investidor, para que daqui a<br />

dois anos sejam homens e mulheres melhores do que eram.<br />

18. Invista em pessoas para a vida, e não simplesmente para<br />

o tempo de atuação na instituição ou equipe.<br />

19. Não terceirize o pastoreio e não permita a mobilização<br />

de grupos contra um indivíduo. Não compactue com a<br />

mobilização de muitos contra um. Trate cada um individualmente.<br />

Leve-o a um grupo, comitê, diretoria ou conselho apenas<br />

quando todo o caminho bíblico tiver sido percorrido.<br />

20. Defenda o fraco para que não se quebre. Gere oportunidades<br />

para que se fortaleça. Invista nos fracos e trabalhe na<br />

criação de um ambiente de fortalecimento. Em caso de profunda<br />

fraqueza ou crise, traga-o para perto por algum tempo.<br />

21. Identifique os líderes em potencial. É relativamente fácil<br />

identificar líderes em potencial. São aqueles que têm um<br />

espírito passível de ensino, são simplificadores de problemas,<br />

possuem caráter íntegro e naturalmente influenciam outros.<br />

22. Mantenha-se perto de todos, mas especialmente dos<br />

novos e dos enfraquecidos. É necessário acompanhar aquele<br />

que chega e o que está cansado. Invista nos que estão nos primeiros<br />

dias de ministério e também naqueles que estão em<br />

seus últimos anos.<br />

23. Seja pastoreado. Se a equipe não o pastoreia como líder,<br />

procure gerar o contexto para que isso se dê através da amizade.<br />

Caso isso não aconteça, facilite o pastoreio com amigos de<br />

fora do grupo. Não deixe de prestar contas a alguém.<br />

24. Não instrua abusivamente. Permita que cada um desenvolva<br />

seu conhecimento e experiência. Se você for metódico,<br />

103


LIDERANÇA<br />

E INTEGRIDADE<br />

será tentado a não apenas instruir, mas também a detalhar<br />

como deve ser feito. E isso pode inibir o desenvolvimento de<br />

outras lideranças.<br />

25. Prepare a equipe para funcionar bem com pouca liderança.<br />

Uma equipe madura não necessita de uma forte liderança.<br />

Prepare-os para funcionar bem sem a sua presença ou a<br />

presença de um líder forte.<br />

104


CONCLUSÃO<br />

Há uma forte e clara diferença entre o conhecimento ea<br />

transformação. Somos fruto de uma sociedade que valoriza<br />

apenas o primeiro, e dificilmente o segundo. Somos, pode-se<br />

dizer, uma sociedade teorética. Assim também é a igreja.<br />

Somos capazes de ouvir o mesmo ensino bíblico domingo<br />

após domingo, e dele nos convencermos, sem o experimentarmos<br />

em nossa própria vida. Podemos pregar e detalhar assuntos<br />

de real importância sem deles nos aproximarmos com o<br />

coração aberto. Conseguimos falar e crer sem viver nem seguir.<br />

Essa nossa capacidade humana e carnal é, dentre tantas,<br />

uma das mais nocivas.<br />

Ao ler este livro, talvez você tenha percebido atos, tendências<br />

ou áreas em sua vida que precisam ser amadurecidas ou<br />

transformadas. Talvez tenha se convencido de que há algo a<br />

ser construído ou reparado. Pode ser que alguma máscara precise<br />

ser urgentemente retirada. Porém, como parte de mais<br />

um conhecimento adquirido, este também corre o risco de ser<br />

engavetado naquela parte empoeirada do coração que nunca<br />

mais será visitada. O conhecimento adquirido na Palavra, nos<br />

ensinos, conversas francas e reflexões profundas pode ficar<br />

reduzido a sucintas citações pontuadas em palestras.<br />

O desafio que temos perante nós não é tão-somente o de<br />

chegar ao conhecimento, mas também à aplicação que produz<br />

mudanças. Caso contrário, podemos nos tornar num tipo de<br />

pessoa que fala com profundidade sobre os passos bíblicos do<br />

perdão, mas não sabe perdoar; que exorta a igreja sobre fidelidade,<br />

mas não é fiel; que muito sabe, mas pouco pratica.<br />

Gostaria de convidá-lo a pedir ao Senhor, neste momen-<br />

105


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

to, que o ajude a traduzir os ensinos divinos para a sua vida.<br />

Peça ao Senhor que o conhecimento por ele dado não se torne<br />

inútil.<br />

Gostaria de convidá-lo a parar por um instante e ser prático.<br />

Partilhei neste livro com você a respeito da integridade<br />

de coração, a busca pela integridade que denuncia o pecado,<br />

bem como a integridade nos relacionamentos, na família e<br />

na liderança. Pergunte-se, na presença de Deus, quais são as<br />

áreas de sua vida que precisam de uma grave intervenção<br />

dele. Comece pelo que é essencial, pelo que urge há anos em<br />

seu coração.<br />

Pondere sobre seus pensamentos e processos mentais. Pense<br />

em suas motivações pessoais mais profundas. Reflita sobre<br />

suas ações e como lida com as pessoas, com o dinheiro,<br />

com uma possível fama. Coloque o seu coração na berlinda e<br />

peça ao Espírito que veja se há nele algum caminho mal. Talvez<br />

ele já tenha feito isso e comunicado algo a você. Pense<br />

por um momento sobre que tipo de líder você tem sido; alguém<br />

que influencia outros a se parecerem mais com Cristo<br />

ou que faz o contrário. Pese seus pecados e também suas<br />

enfermidades. Abandone seus pecados e rogue por cura para<br />

suas enfermidades.<br />

Liste esses desafios. Escreva em uma agenda, um local a<br />

que você possa recorrer e se lembrar da caminhada.<br />

Por fim, um passo talvez mais difícil. Coloque tudo isso<br />

perante o Senhor em oração e peça a ele que o ajude a procurar<br />

ajuda, se necessário for. Rogue ao Senhor que lhe indique<br />

alguém de confiança, maduro e crente. Procure-o logo, ainda<br />

nestes dias.<br />

Se há algo a ser confessado, faça-o agora diante de Deus.<br />

Se há algo a ser confessado à esposa, marido, amigo ou<br />

companheiro de ministério, não deixe que a semana termine<br />

sem o procurar.<br />

Termine esta leitura com um momento entre você e Deus.<br />

Tranque a porta do seu quarto e ponha-se em oração. Faça a<br />

oração do salmista. Talvez seja a oração mais arriscada em<br />

toda a Palavra, que pode expô-lo de maneira crua, sem máscaras<br />

nem esconderijos:<br />

106


CONCLUSÃO<br />

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e<br />

conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho<br />

mau, e guia-me pelo caminho eterno." (51139.23,24.)<br />

Que o Eterno nos ajude e guarde.<br />

107


NOTAS<br />

Introdução<br />

1. George Barna. Transformando a Visão em Ação. Editora Cristã<br />

Unida, 1997, p. 106.<br />

Capítulo 1<br />

1. Thomás de Kempis. Imitação de Cristo. Obra escrita no século<br />

Xv, possivelmente em 1441. Publicada no Brasil pela Editora Martin<br />

Claret, 2002.<br />

2. ]ohn MaxwelI. Becominga PersonofInfluence: How to Positively<br />

Impact the Lives ofOthers. Paperback, 2002.<br />

3. Wesley DueweI. Avalie a Sua Vida. Editora Luz e Vida: Editora<br />

Candeia, 1996.<br />

4. Mike Huckabee e ]ohn Perry. Character is The Issue: How<br />

PeopleWith Integrity Can Revolutionize America. Brodman & Holman<br />

Publishers, 1997.<br />

5. www.hernandesdiaslopes.com.br<br />

6. Gedson Lidório. Artigo "Combatendo a Ansiedade" -<br />

www.lidorio.net<br />

7. ]ohn MaxwelI. The 21 Indispensable Qualities of a Leader.<br />

Thomas Nelson Publishers, 1999.<br />

8. Bíblia Shedd, Edições Vida Nova.<br />

9. João Arantes Costa, em artigo ''Afrouxamento da <strong>Integridade</strong>" -<br />

http://www.icesjc.com.br.<br />

10. Richard Foster. Celebração da Disciplina. Editora Vida, 1983.<br />

11. Idem.<br />

12. Editado pela Companhia Editora Nacional em 2003.<br />

13. Kevin Cashman. Leadership From The Inside Out, TCLG,<br />

Minneapolis, 1998, p.15.<br />

14. Clive Staples Lewis. Mere Christianity. Zondervan Publishing<br />

House. 2001, p. 88.<br />

15. ]ohn MaxwelI. Op. cito<br />

108


NOTA S<br />

Capítulo 2<br />

1. C.S. Lewis. Op. cito<br />

2. Richard Baxter. O Pastor Aprovado. Editora PES, 1989.<br />

3. www.monergismo.com<br />

4. João Calvino. As Institutas, Livro I1I, CapoVII, 1. Editora Cultura<br />

Cristã, 1985.<br />

5. C. S. Lewis. Op. Cito<br />

6. Gedson Lidorio. Op. cito<br />

7. C. S. Lewis. Op. cito<br />

8. Gedson Lidório. Op. Cito<br />

9. Emilio Myra y Lopez. Manual de Psicoterapia, Editora Científica,1949.<br />

10. Gedson Lidório. Op. Cito<br />

11. Op.Cit.<br />

12. Autor desconhecido, parte do moto dos Alcoólicos Anônimos.<br />

Capítulo 3<br />

1. Imitação de Cristo. Op. Cito<br />

2. Robin Boisvert, C. J. Mahaney e Greg Sornerville. From Glory<br />

to Glory - Biblical Hope for Lasting Change. Paperback, 1993.<br />

3. Schwantes. Op. Cito<br />

4. Imitação de Cristo. Op. Cito<br />

5. Stephen Brown. Quando SerBomNão Basta, Editora Vida, p. 36.<br />

6. John Maxwell. Developing the Leader Within You. Thomas<br />

Nelson Publishers, 1993.<br />

7. Crisóstomo, Homilia VII, p. 47.<br />

8. C.S. Lewis. Surpreendido Pela Alegria. Editora Mundo Cristão,<br />

2000.<br />

9. Citado por Ruben Zevallos em http://ruben.zevallos.com.br/2007.<br />

10. Dale Carnegie. Como Evitar Preocupações e Começara Viver.<br />

Editora Companhia Nacional, 2003.<br />

Capítulo 4<br />

1. Ed Wheat. O Amor que Não seApaga. Editora Mundo Cristão,<br />

2007.<br />

2. www.oasis.maeb.org.br/site ou www.ministeriooasis.org.br<br />

3. www.mundocristao.com.br<br />

Capítulo 5<br />

1. Charles Swindoll. <strong>Liderança</strong> em Tempos de Crise. Editora Mundo<br />

Cristão, 2004.<br />

109


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

2. Mauro Rodrigues Estrada. Mensage Cristiano y Salud Mental.<br />

Diálogo Entre Psicología de la Personalidad y cristianismo. Herder,<br />

1973.<br />

3. Glenn Wagner. Igreja S/A. Editora Vida, 2004.<br />

4. Bernardo de Clairvaux, citado por R. Foster em Celebração da<br />

Disciplina. Op. Cit., p. 30.<br />

5. Bonhoeffer. Ética. Editora Sinodal, 2005.<br />

6. Bonhoeffer. Op. Cit., p. 17.<br />

7. Eddy Sherwood. Pathfinders ofWorldMissionary Crusade. Abingdon-Cokesbury<br />

Press, 1945, pp. 25-28.<br />

8. Roberta Fay e Eunice Johnson. Psicologia da Criança. Editora<br />

APEC.<br />

9. S. Julio Schwantes. Colunas do Caráter. Casa Publicadora Brasileira,<br />

1986.<br />

10. S. Julio Schwnates. Op. Cito<br />

11. Keneth Maxwell. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo.<br />

Editora Paz e Terra, 1996.<br />

12. Eddy Sherwood. Op. cito<br />

110


REFERÊNCIAS<br />

Barna, George. Transformando a Visão em Ação. Campinas: Editora<br />

Cristã Unida, 1997.<br />

Baxter, Richard. O Pastor Aprovado. Editora PES, 1989.<br />

Boisvert, Robin, C. J. Mahaney e Greg Somerville. From Glory to<br />

Glory - Biblical Hope for Lasting Change. Paperback, 1993.<br />

Bonhoeffer, Dietrich. Ética. Editora Sinodal, 2005.<br />

Calvino, João. As Institutas. Editora Cultura Cristã, 1985.<br />

Carnegie, Dale. Como Evitar Preocupações e Começar a Viver. Editora<br />

Companhia Nacional, 2003.<br />

Cashman, Kevin. Leadership from the inside out, TCLG,<br />

Minneapolis, 1998.<br />

Costa, João Arantes. Artigo "Afrouxamento da <strong>Integridade</strong>": http:/<br />

/www.icesjc.com.br<br />

Duewel, Wesley. Avalie a Sua Vida. Editora Luz e Vida: Editora<br />

Candeia, 1996.<br />

Estrada, Mauro Rodrigues. Mensaje cristiano y salud mental. Diálogo<br />

entre psicología de la personalidad y cristianismo. Herder, 1973.<br />

Kempis, Thomás. Imitação de Cristo. Editora Martin Claret, 2002.<br />

Fay, Roberta e Johson, Eunice. Psicologia da Criança. Editora APEC.<br />

Foster, Richard. Celebração da Disciplina. Editora Vida, 1983.<br />

Huckabee, Mike e john Perry. Character is the issue: how people<br />

with integrity can revolutionize America. Brodman & Holman<br />

Publishers, 1997.<br />

Lewis, Clive Staples. Mere Christianity. Zondervan Publishing<br />

House, 2001.<br />

____o Surpreendido Pela Alegria. Editora Mundo Cristão,<br />

2000.<br />

Lidório, Gedson. Artigo "Combatendo a Ansiedade" -<br />

www.lidorio.net<br />

Maxwell, Keneth. Marques de Pombal: Paradoxo do Iluminismo.<br />

Editora Paz e Terra. 1996.<br />

111


LIDERANÇA E INTEGRIDADE<br />

Mawell, John. The 21 Indispensable Qualities ofa Leader. Thomas<br />

Nelson Publishers, 1999.<br />

____o Developing the Leader Within you. Thomas Nelson<br />

Publishers, 1993.<br />

__ Becoming a Person of Influence: How to Positively<br />

Impact the Lives ofOthers. Paperback, 2002.<br />

Sherwood, Eddy. Pathfinders of World Missionary Crusade.<br />

Abingdon-Cokesbury Press, 1945.<br />

Schwantes, Siegfried Julio. Colunas do Caráter. Casa Publicadora<br />

Brasileira, 1986.<br />

Swindoll, Charles. <strong>Liderança</strong> em Termpos de Crise. Editora Mundo<br />

Cristão, 2004.<br />

Wagner, Glenn. Igreja S/A. Editora Vida, 2004.<br />

Wheat, Ed. O Amor que Não se Apaga. Editora Mundo Cristão,<br />

2007.<br />

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