Como Criar o Cão Perfeito desde Filhotinho - Cesar Millan

04.08.2017 Views

2 - A combinação perfeita: A escolha do filhote perfeito 2 A COMBINAÇÃO PERFEITA A escolha do filhote perfeito Crescendo na fazenda do meu avô no estado rural de Sinaloa, no México, vivi entre cães de fazenda desmazelados, nossos fieis amigos e companheiros de trabalho nos campos e em torno da casa. Esses cães não seriam chamados de “animais de estimação” pelos padrões americanos, pois passavam a vida perto de nós, mas não como parte de nós. Eram nossos cães, mas viviam em um mundo separado de nossas vidas humanas, satisfeitos e equilibrados em sua própria cultura canina. Assisti ao nascimento de muitas ninhadas desses cães, e embora os filhotes fossem meigos e cativantes, nunca havia sentido a extraordinária “fofice” dos filhotes até vir para os Estados Unidos e ser exposto às centenas de raças deste país: filhotes de buldogue francês, com seus focinhos achatados e olhos castanhos enormes, ou filhotes de lhasa apso, de westie ou de poodle, todos umas bolinhas de pelúcia incrivelmente adoráveis. Quando vi algumas dessas raças mais atraentes como filhotes, comecei a entender melhor por que os americanos costumam tratar seus cães como bebês — algo que não faz parte da cultura no México. Todos os filhotes de animais são cativantes, mas, na minha opinião, não há nada mais fofo que um cachorrinho filhote. Nem o humano mais insensível consegue não parar e suspirar ao passar por um filhote na rua. Tenho muitos clientes que são homens de negócios implacáveis na vida profissional, mas se derretem ao ver um cão jovem. Segundo o psicólogo canadense e especialista em comportamento animal dr. Stanley Coren, “os mamíferos muito jovens têm feromônios que lhes dão um ‘cheiro de bebê’ característico. Um dos objetivos destes feromônios é instigar os instintos protetores, ou pelo menos os não hostis, em sua própria espécie. No entanto, pela semelhança entre todos os mamíferos, tendemos a achar que os outros animais responderão a esse estímulo”.[4] A afirmação de Coren explica em parte as profundas “amizades” que já vimos florescer entre um bicho mais velho e mais protetor e outro de uma espécie diferente. Seja Koko, a gorila, e seu gatinho de estimação, ou uma leoa e um pequeno lobo, o desejo inato de cuidar de um bebê está profundamente arraigado em todos os mamíferos. Mas a fofura de um filhote pode ser a sua — e a nossa — ruína. A “reação à fofice” que sentimos quando temos o impulso irresistível de trazer para casa um filhote é uma reação emocional, e não racional. John Grogan capta perfeitamente a experiência universal do “amor de filhote” em suas memórias maravilhosas de um labrador adorável, mas imprevisível, Marley e Eu. “O acordo que fiz com Jenny quando concordei em ir, foi de que veríamos os filhotes, faríamos algumas perguntas e verificaríamos se realmente estávamos prontos para trazer para casa um cão… Eu disse: “Não vamos tomar nenhuma decisão precipitada”. Mas

meio minuto depois, vi que a batalha já estava perdida. Não havia dúvida de que antes do fim da noite, um daqueles filhotes seria nosso”.[5] Não sei nem dizer quantas vezes já ouvi variações desse mesmo tema quando sou chamado para ajudar a reabilitar um cão com problemas. Infelizmente, essas histórias nem sempre terminam com um livro best-seller e um filme de sucesso. Às vezes, terminam com os donos desiludidos e frustrados arrancando os cabelos, e no fim largando o filhote ou cão em uma instituição de resgate ou abrigo. Às vezes, esses abandonos resultam na morte de um cão inocente. Ao levar um filhote para casa, você na verdade leva o que em poucos meses será um cão crescido — não um bicho de pelúcia que será pequeno e fofinho para sempre. Quem gosta de animais, especialmente aqueles que trabalham com cães todos os dias, levam muito a sério o número estarrecedor de cães que mofam em canis e em depósitos. Nos últimos anos, criadores responsáveis, organizações de resgate e até abrigos tornaram-se muito mais conscientes das consequências de abrigar um de seus filhotes com um dono que não seja realista quanto a sua capacidade de cuidar de um cão. Muitas vezes, eles exigem que o potencial dono assine um contrato e até fazem uma “visita domiciliar” para garantir que o ambiente seja adequado à criação de um cachorro. A criadora de Angel, Brooke Walker, faz todos os novos donos de seus schnauzers miniaturas com pedigree assinarem um contrato declarando que, se as circunstâncias mudarem e eles não puderem mais cuidar de um cão, este será devolvido a ela para ser realojado. Ela também coloca microchips em seus cães, para que possam ser rastreados até ela caso algum dia se percam. Dois adestradores certificados e criadores premiados com quem trabalhei, Diana Foster e seu marido, Doug, têm a empresa Thinschmidt German Shepherds, em Corona, na Califórnia, há trinta e quatro anos. Eles não só criam filhotes de pastor alemão com pedigree e temperamentos excelentes como animais de estimação, mas também os adestram. Diana descreve o interrogatório detalhado que faz aos potenciais donos antes de concordar em dar para adoção um de seus filhotes puros-sangues: “Temos uma longa discussão com eles. A primeira coisa que pergunto é se já tiveram um pastor alemão. Algumas dessas pessoas não entendem o quão cachorro é um pastor alemão, porque eles são muito fofos quando pequenos. Mas elas têm que entender para o que esses cães são criados, o seu tamanho e a sua força, e como é importante o adestramento precoce. Pergunto-lhes por que querem um pastor alemão. Qual é o motivo? Ele será um cão de guarda que fica o tempo todo fora de casa? Caso seja, não lhes vendemos um de nossos cães — não é para isso que os criamos. Nossos cães são de família. Logo de início, pergunto-lhes se há crianças na família. Vocês tem cães? São machos ou fêmeas? Vocês são pessoas ativas? O cachorro vai ficar com a família? Onde ele vai dormir? Fornecemos um diagrama com nossas sugestões de como organizar sua casa para prepará-la para o cão. Não queremos nos desfazer de um de nossos cães antes de ter uma boa ideia de como será sua vida”. Como os Fosters, Brooke Walker examina com cuidado quem ela permite que leve para casa um de seus excelentes filhotes de schnauzer miniatura. Se for um casal de profissionais focados em suas carreiras com filhos bebês, eles não terão o tempo necessário para criar um desses filhotes de maneira correta. Meus cães são ótimos com crianças — esse não é o problema — e o cão vai sobreviver desde que seja cuidado, claro,

2 - A combinação perfeita: A escolha do filhote perfeito<br />

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A COMBINAÇÃO PERFEITA<br />

A escolha do filhote perfeito<br />

Crescendo na fazenda do meu avô no estado rural de Sinaloa, no México, vivi entre cães de<br />

fazenda desmazelados, nossos fieis amigos e companheiros de trabalho nos campos e em torno<br />

da casa. Esses cães não seriam chamados de “animais de estimação” pelos padrões<br />

americanos, pois passavam a vida perto de nós, mas não como parte de nós. Eram nossos<br />

cães, mas viviam em um mundo separado de nossas vidas humanas, satisfeitos e equilibrados<br />

em sua própria cultura canina. Assisti ao nascimento de muitas ninhadas desses cães, e embora<br />

os filhotes fossem meigos e cativantes, nunca havia sentido a extraordinária “fofice” dos<br />

filhotes até vir para os Estados Unidos e ser exposto às centenas de raças deste país: filhotes<br />

de buldogue francês, com seus focinhos achatados e olhos castanhos enormes, ou filhotes de<br />

lhasa apso, de westie ou de poodle, todos umas bolinhas de pelúcia incrivelmente adoráveis.<br />

Quando vi algumas dessas raças mais atraentes como filhotes, comecei a entender melhor por<br />

que os americanos costumam tratar seus cães como bebês — algo que não faz parte da cultura<br />

no México.<br />

Todos os filhotes de animais são cativantes, mas, na minha opinião, não há nada mais fofo<br />

que um cachorrinho filhote. Nem o humano mais insensível consegue não parar e suspirar ao<br />

passar por um filhote na rua. Tenho muitos clientes que são homens de negócios implacáveis<br />

na vida profissional, mas se derretem ao ver um cão jovem. Segundo o psicólogo canadense e<br />

especialista em comportamento animal dr. Stanley Coren, “os mamíferos muito jovens têm<br />

feromônios que lhes dão um ‘cheiro de bebê’ característico. Um dos objetivos destes<br />

feromônios é instigar os instintos protetores, ou pelo menos os não hostis, em sua própria<br />

espécie. No entanto, pela semelhança entre todos os mamíferos, tendemos a achar que os<br />

outros animais responderão a esse estímulo”.[4] A afirmação de Coren explica em parte as<br />

profundas “amizades” que já vimos florescer entre um bicho mais velho e mais protetor e<br />

outro de uma espécie diferente. Seja Koko, a gorila, e seu gatinho de estimação, ou uma leoa e<br />

um pequeno lobo, o desejo inato de cuidar de um bebê está profundamente arraigado em todos<br />

os mamíferos.<br />

Mas a fofura de um filhote pode ser a sua — e a nossa — ruína. A “reação à fofice” que<br />

sentimos quando temos o impulso irresistível de trazer para casa um filhote é uma reação<br />

emocional, e não racional. John Grogan capta perfeitamente a experiência universal do “amor<br />

de filhote” em suas memórias maravilhosas de um labrador adorável, mas imprevisível,<br />

Marley e Eu. “O acordo que fiz com Jenny quando concordei em ir, foi de que veríamos os<br />

filhotes, faríamos algumas perguntas e verificaríamos se realmente estávamos prontos para<br />

trazer para casa um cão… Eu disse: “Não vamos tomar nenhuma decisão precipitada”. Mas

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