Como Criar o Cão Perfeito desde Filhotinho - Cesar Millan

04.08.2017 Views

um filhote com um comportamento naturalmente submisso e calmo, e criá-lo para continuar assim, para que se tornasse o cão de família perfeito. Levei apenas segundos para determinar que o labrador amarelo era o cara certo. Ele ficou cheirando em volta um pouco, ligeiramente curioso, depois se sentou sobre as patas traseiras e relaxou. Em poucos minutos, ele se espreguiçava no piso aquecido pelo sol. O labrador preto, por outro lado, já estava meio ressabiado, nervoso e superexcitado. Estava de costas para nós e puxava a guia, mantendo-se ligeiramente atrás. Ora, eu podia facilmente trabalhar com ele e reabilitar esse estado. Mas eu queria fazer algo diferente para este livro — eu queria usar o equilíbrio natural que a Mãe Natureza já programou nos cachorros e mostrar a vocês, meus leitores, como educar e manter esse estado. Valerie e Geneve ficaram chocadas por eu ter escolhido o labrador amarelo, porque acharam que eu seria atraído pelo filhote mais “ativo”. “Achei que o filhote amarelo era preguiçoso”, comentou Valerie. Apesar de serem “cachorreiras” experientes, elas não eram capazes de discernir a energia nervosa da brincalhona. Quando mostrei as indicações da energia ansiosa do labrador preto, Geneva começou a entender o que eu estava falando. “Posso lhe perguntar como eles ficam assim?”, indagou ela, hesitante. “Será que nascem assim?” Eu lhe disse que, às vezes, experiências assustadoras ainda quando o filhote é muito novo podem deixar um cão inseguro, especialmente se ele não tem uma mãe atenta ou um líder da matilha para guiá-lo da maneira certa pela experiência. Um cão normal é um cão curioso, mesmo se for um pouco hesitante a princípio. Um comportamento extremamente medroso e tímido desde o começo pode indicar que há algo errado. Alguns filhotes nascem fracos ou assustados, os proverbiais “nanicos da ninhada”, e a verdade cruel é que, em um habitat natural, esses pequenos provavelmente não sobreviveriam. Como humanos, somos propensos a nos sentir mal por eles. Mas temos que aprender a ajudálos a superar esse estado de espírito. Do contrário, vamos mantê-los assim, sentindo-nos mal por eles. É maravilhoso resgatar cães que se perderam no mundo físico, mas também precisamos aprender como resgatá-los de seus mundos psicológicos de medo. Nenhum cão deveria viver a vida inteira com medo. E esse tipo de recuperação começa com nossa própria energia segura e calma. É fácil correr até um filhote nervoso e, gritar: “Ah, está tudo bem, amorzinho, está tudo certo!” Achamos que, ao cobri-los com o que nós chamamos de amor, afeição e conforto, podemos ajudá-los. Mas para um filhote nervoso, uma abordagem como essa só aumenta sua ansiedade ou sua excitação. Mostrei às moças como usar cheiros para distrair o nariz do filhote preto, para ajudar a liberar seu cérebro “preso” daquele estado nervoso e negativo. Passei uma lata de comida de cachorro orgânica diante dele, sem invadir seu espaço. Bastou sentir o cheiro da comida para o carinha se animar, e então sentar sobre as patas traseiras. As orelhas relaxaram. Não usei palavras. Não fiz festa. Ao permanecer calmo, forte e calado, mas evolvendo seu sentido mais forte — o faro —, consegui tirá-lo de seu ânimo ansioso. “A verdade”, prossegui, “é que esse cara amarelo, nas mãos de um dono que não dá regras ou só dá carinho, carinho e carinho, pode facilmente se tornar superexcitado, ansioso ou nervoso, também. Meu objetivo é educar seu belo estado natural durante os primeiros oito meses de sua vida. Porque aos oito meses, acabou-se. A fase de filhote termina. Aos oito meses, eles chegam à adolescência, e então começam a desafiar, mas, se são criados com regras, limites e restrições, eles sempre saberão como voltar ao equilíbrio”.

Enquanto eu conversava com aquelas moças do Southern California Labrador Retriever Rescue, meu pequeno Marley ficara tão relaxado que entrou num sono profundo e calmo, embalado pelo sol. Peguei novamente minha lata de comida de cachorro. “Com filhotes, às vezes podemos despertar neles uma reação nervosa ou assustada se os sobressaltarmos enquanto estão dormindo”, expliquei. Acenei com a lata de comida de cachorro embaixo do nariz dele, mas ele só acordou quando sentiu o labrador preto abrindo caminho para cheirar a comida também. “Estão vendo como ele não ficou assustado nem surpreso quando acordou?”, ressaltei. “É um comportamento normal entre filhotes os irmãos da mesma ninhada se cutucarem, subirem uns por cima dos outros, se acordarem. Então estou estimulando o cérebro para acordar de uma forma que lhe seja familiar, sem sobressalto, pois ele ainda não está familiarizado com a minha mão.” Com a minha escolha feita, eu estava pronto para apresentar o novo filhote à matilha. Mas com filhotes, toda primeira impressão é importante, então eu tinha que acertar de primeira. Atraído pela comida, o mini Marley me acompanhou feliz da vida em direção à área interna do Centro de Psicologia Canina, para a cerca atrás da qual a matilha aguardava com ansiedade seu membro mais novo e mais jovem. Ele cheirou a cerca com cuidado, depois começou a abanar o rabo. Se ele estivesse muito excitado ou fosse muito ousado, a matilha perceberia isso como algo negativo, mas o carinha manteve a cabeça baixa, em uma atitude respeitosa. Ele estava pronto. Uma nota rápida aqui sobre saúde e segurança de filhotes (que veremos mais a fundo nos próximos capítulos). Antes de apresentar o novo filhote de labrador à minha matilha, as moças do SCLRR e eu tínhamos que ter certeza de que a saúde do filhote e a saúde dos meus outros cães estavam sendo protegidas. As voluntárias do SCLRR primeiro se certificaram de que os dois filhotes tinham uma ficha de saúde limpa e que estavam com as vacinas em dia. Mesmo com as vacinas, porém, o sistema imunológico de um filhote continua em desenvolvimento até os quatro meses, e é durante esses meses cruciais que ele é mais suscetível a doenças, particularmente à parvovirose, transmitida pelas fezes de cães infectados. Portanto, antes de dar o seu aval e permitir que qualquer filhote escolhido por mim interagisse com os meus cães, o SCLRR pediu para eu verificar que todos os cães no Centro de Psicologia Canina também estivessem com as imunizações em dia, que nossas instalações fossem higiênicas e que não houvéssemos tido nenhum surto recente de parvovirose ou de outras doenças contagiosas. Quando tiveram certeza de tudo isso, as voluntárias do SCLRR autorizaram o labrador a estar com os meus cães. Nesse caso, havia dois grupos — as equipes de resgate e o novo dono adotivo — cuidando da saúde e do bem-estar do filhote. Precisamos ser cuidadosos e responsáveis durante esse intervalo da vida de um filhote, enquanto seu sistema imunológico ainda está se desenvolvendo. Mas, ao mesmo tempo, não podemos privá-lo de experiências normais de socialização, que são igualmente importantes para seu bem-estar geral. Peguei-o pelo cangote e levantei-o do chão. Esse gesto imediatamente o deixou em um estado relaxado, embora eu apoiasse todo o seu peso na minha outra mão, que segurava sua parte de trás. Abaixando-o no chão, apresentei-o à matilha da mesma forma que sua mãe faria. Seu rabo estava meio entre as pernas, sinalizando um pouco de ansiedade, então esperei que relaxasse antes de colocá-lo no chão. Os outros cães cheiraram-no delicadamente, aceitando-o imediatamente. Em dez minutos, ele estava feliz e confiante explorando o novo ambiente. Esse

Enquanto eu conversava com aquelas moças do Southern California Labrador Retriever<br />

Rescue, meu pequeno Marley ficara tão relaxado que entrou num sono profundo e calmo,<br />

embalado pelo sol. Peguei novamente minha lata de comida de cachorro. “Com filhotes, às<br />

vezes podemos despertar neles uma reação nervosa ou assustada se os sobressaltarmos<br />

enquanto estão dormindo”, expliquei. Acenei com a lata de comida de cachorro embaixo do<br />

nariz dele, mas ele só acordou quando sentiu o labrador preto abrindo caminho para cheirar a<br />

comida também. “Estão vendo como ele não ficou assustado nem surpreso quando acordou?”,<br />

ressaltei. “É um comportamento normal entre filhotes os irmãos da mesma ninhada se<br />

cutucarem, subirem uns por cima dos outros, se acordarem. Então estou estimulando o cérebro<br />

para acordar de uma forma que lhe seja familiar, sem sobressalto, pois ele ainda não está<br />

familiarizado com a minha mão.”<br />

Com a minha escolha feita, eu estava pronto para apresentar o novo filhote à matilha. Mas<br />

com filhotes, toda primeira impressão é importante, então eu tinha que acertar de primeira.<br />

Atraído pela comida, o mini Marley me acompanhou feliz da vida em direção à área interna<br />

do Centro de Psicologia Canina, para a cerca atrás da qual a matilha aguardava com ansiedade<br />

seu membro mais novo e mais jovem. Ele cheirou a cerca com cuidado, depois começou a<br />

abanar o rabo. Se ele estivesse muito excitado ou fosse muito ousado, a matilha perceberia<br />

isso como algo negativo, mas o carinha manteve a cabeça baixa, em uma atitude respeitosa.<br />

Ele estava pronto.<br />

Uma nota rápida aqui sobre saúde e segurança de filhotes (que veremos mais a fundo nos<br />

próximos capítulos). Antes de apresentar o novo filhote de labrador à minha matilha, as moças<br />

do SCLRR e eu tínhamos que ter certeza de que a saúde do filhote e a saúde dos meus outros<br />

cães estavam sendo protegidas. As voluntárias do SCLRR primeiro se certificaram de que os<br />

dois filhotes tinham uma ficha de saúde limpa e que estavam com as vacinas em dia. Mesmo<br />

com as vacinas, porém, o sistema imunológico de um filhote continua em desenvolvimento até<br />

os quatro meses, e é durante esses meses cruciais que ele é mais suscetível a doenças,<br />

particularmente à parvovirose, transmitida pelas fezes de cães infectados. Portanto, antes de<br />

dar o seu aval e permitir que qualquer filhote escolhido por mim interagisse com os meus<br />

cães, o SCLRR pediu para eu verificar que todos os cães no Centro de Psicologia Canina<br />

também estivessem com as imunizações em dia, que nossas instalações fossem higiênicas e<br />

que não houvéssemos tido nenhum surto recente de parvovirose ou de outras doenças<br />

contagiosas. Quando tiveram certeza de tudo isso, as voluntárias do SCLRR autorizaram o<br />

labrador a estar com os meus cães. Nesse caso, havia dois grupos — as equipes de resgate e o<br />

novo dono adotivo — cuidando da saúde e do bem-estar do filhote. Precisamos ser<br />

cuidadosos e responsáveis durante esse intervalo da vida de um filhote, enquanto seu sistema<br />

imunológico ainda está se desenvolvendo. Mas, ao mesmo tempo, não podemos privá-lo de<br />

experiências normais de socialização, que são igualmente importantes para seu bem-estar<br />

geral.<br />

Peguei-o pelo cangote e levantei-o do chão. Esse gesto imediatamente o deixou em um<br />

estado relaxado, embora eu apoiasse todo o seu peso na minha outra mão, que segurava sua<br />

parte de trás. Abaixando-o no chão, apresentei-o à matilha da mesma forma que sua mãe faria.<br />

Seu rabo estava meio entre as pernas, sinalizando um pouco de ansiedade, então esperei que<br />

relaxasse antes de colocá-lo no chão. Os outros cães cheiraram-no delicadamente, aceitando-o<br />

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