Como Criar o Cão Perfeito desde Filhotinho - Cesar Millan

04.08.2017 Views

7 O FILHOTE SOCIÁVEL A convivência entre cães e humanos Outro dia, entrei em uma lojinha de animais de estimação para comprar alguns vergalhos para os filhotes quando dei de cara com o que era anunciado com uma “aula para filhotes ”, cujo objetivo era socializar jovens cães. Havia oito ou dez pessoas ali, cada qual com um filhote. Havia um husky siberiano, um chihuahua, um lhasa apso, um golden retriever, um jack russell e alguns outros de raças que não lembro. Os donos formavam uma roda, no centro da qual se alvoroçavam os filhotes. Não havia orientação nenhuma. Os filhotes tinham todos idades diferentes, níveis de energia diferentes e todo tipo de habilidade social. Em resumo, era um caos. Observei o chihuahua — não é sempre o chihuahua? — assumir a liderança da turma, dominar e depois atacar o husky siberiano. Não era mais brincadeira, estava virando uma verdadeira briga. O professor gritava com uma voz desafiadora e esganiçada: “Não, não, não! Não se faz isso na aula!” Aí, depois que a dona do chihuahua puxou o seu filhote, o professor disse: “Agora vamos dar um biscoito aos nossos cachorros”. Tive vontade de gritar: “Pelo quê? Pelo que vocês os estão recompensando?” Felizmente, lembrei-me de que estava na loja como cliente, não como o encantador de cães. Dobrei a língua, paguei os meus vergalhos, e voltei para a segurança do meu carro, onde respirei fundo e pensei longamente sobre o significado do termo aula para filhotes. Para mim, o objetivo de uma aula para filhotes deveria ser reforçar os bons modos, fomentar a energia submissa e calma e ensinar o comportamento social adequado. Minha aula para filhotes ideal espelharia o tipo de educação que um filhote receberia numa matilha natural, onde haveria um cão sábio e mais velho como Daddy, um cão adulto — talvez uma cadela mãe com grandes habilidades para cuidar das crias — e um cão adolescente de energia mais elevada, como Junior. Os cães adultos seriam todos equilibrados e experientes, mostrariam limites aos filhotes e lhes dariam bons exemplos para eles imitarem. Haveria alguns filhotes, claro, e pelo menos um humano experiente para supervisionar. Esse é o tipo de aula para filhotes que eu gostaria de oferecer no novo Centro de Psicologia Canina, uma aula na qual os filhotes possam praticar comportamento social com seus pares, mas supervisionados por cães mais velhos e mais sábios — e por líderes de matilha humanos responsáveis. Os cães estão entre os animais mais sociais. Essa é uma de suas características mais próximas aos humanos, e é uma das razões pelas quais nossas duas espécies tornaram-se tão unidas nas últimas dezenas de milhares de anos. Você pode ter adestrado seu filhote para sentar, ficar, vir, ficar junto, pegar o jornal, levar os seus chinelos ou apagar a luz antes de latir “Boa Noite”, mas se ele não se dá bem socialmente com humanos e outros cães, você não tem um animal equilibrado. E, se não for equilibrado, quando crescer, o seu filhote não conseguirá experimentar as alegrias e as aventuras da vida.

A apresentação dos filhotes às pessoas A socialização do seu filhote com pessoas deve começar desde o momento em que você chega em casa. Todos os membros da sua família, incluindo todas as crianças, precisam aprender como cumprimentar o filhote, e como compartilhar energia assertiva e calma. Você precisa explicar até aos seus filhos mais novos que o filhote não é um brinquedo, mas um ser vivo, e que para familiarizá-lo ao novo lar, eles precisarão parar de demonstrar todo aquele carinho e aquela excitação que certamente devem estar sentindo, pelo menos logo no início. Todo mundo em sua casa, da criança mais jovem ao avô mais velho, precisa ser educado e estar empenhado na regra do nada de toque, nada de conversa, nada de contato visual. Quando o filhote chega, as crianças não devem estar aglomeradas em volta dele para afagá-lo e brincar com ele. Em vez disso, devem, em silêncio, se deixar cheirar por ele, depois deixar o principal responsável colocá-lo em seu lugar seguro ou em sua caixa. “O novo filhote precisa associar a chegada ao seu lar com calma, não com excitação. Ele pode estar estressado e não se sentindo bem devido à mudança do ambiente e à viagem de carro”, diz Diana Foster. “Ele não precisa ser afagado, a essa altura. Precisa ser deixado em paz para se adaptar no seu próprio ritmo. Você terá esse cão por muitos anos, e haverá muito tempo para afagá-lo e ficar com ele quando ele já estiver adaptado ao seu ambiente, já tiver criado um vínculo com você e já o respeitar como líder. Tudo isso demora e não há necessidade de apressar as coisas.” Mas mesmo após trinta anos de sucesso adestrando e criando excelentes pastores alemães de temperamento calmo e constante, Diana ainda acha que os donos de um filhote novo se ofendem com esse conselho. Algumas crianças choram quando digo isso. “Ah, ela é muito má. A gente não pode brincar com o filhote ”. Um homem disse na minha cara: “Vocês estão loucos! Se acham que vou dizer a uma menina de nove anos para não tocar neste cachorro, vocês estão malucos! Achei que eu estava comprando um cachorro bem criado. Não achei que eu tivesse que ter esse trabalho todo”. As pessoas não pensam no que é melhor para o cão. Por isso os abrigos estão lotados. As pessoas criam um cão incontrolável, depois não o querem mais. Não é fácil uma criança se conter e não brincar com um cachorrinho, e por isso os pais precisam ser educados para supervisionar. Os filhotes que chegam em um novo lar muitas vezes estão em seu estágio reservado, além de naturalmente inseguros em relação à nova situação. Crianças muito atiradas com um filhotinho tímido ou inseguro podem intimidá-lo, e tais afrontas, se repetidas, podem criar um cão muito tímido e assustado, ou, pior, tremendamente agressivo. Isso pode acabar em uma mordida, e a tendência é culpar o filhote pela agressividade. Por outro lado, um filhotinho extrovertido e ativo pode tentar as crianças a fazer brincadeiras muito intensas, ficando em um estado de excitação tão exacerbado que pode ser difícil controlar à medida que ele cresce. “O maior problema que temos são crianças no chão, agarradas ao animal, fazendo cabo de guerra, brincando de morder e arranhar, e o cão fica muito violento”, diz Diana. “Prevenção é tudo. E em relação às crianças, hoje em dia é muito difícil, porque os pais costumam mimá-las. Deixam-nas fazer tudo que elas querem. Então o cachorro cresce, fica incontrolável e começa a machucar as crianças. E aí a família não o quer mais, porque não é fofinho e divertido. Está fazendo estragos.

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O FILHOTE SOCIÁVEL<br />

A convivência entre cães e humanos<br />

Outro dia, entrei em uma lojinha de animais de estimação para comprar alguns vergalhos para<br />

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objetivo era socializar jovens cães. Havia oito ou dez pessoas ali, cada qual com um filhote.<br />

Havia um husky siberiano, um chihuahua, um lhasa apso, um golden retriever, um jack russell e<br />

alguns outros de raças que não lembro. Os donos formavam uma roda, no centro da qual se<br />

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diferentes, níveis de energia diferentes e todo tipo de habilidade social. Em resumo, era um<br />

caos. Observei o chihuahua — não é sempre o chihuahua? — assumir a liderança da turma,<br />

dominar e depois atacar o husky siberiano. Não era mais brincadeira, estava virando uma<br />

verdadeira briga. O professor gritava com uma voz desafiadora e esganiçada: “Não, não, não!<br />

Não se faz isso na aula!” Aí, depois que a dona do chihuahua puxou o seu filhote, o professor<br />

disse: “Agora vamos dar um biscoito aos nossos cachorros”. Tive vontade de gritar: “Pelo<br />

quê? Pelo que vocês os estão recompensando?”<br />

Felizmente, lembrei-me de que estava na loja como cliente, não como o encantador de cães.<br />

Dobrei a língua, paguei os meus vergalhos, e voltei para a segurança do meu carro, onde<br />

respirei fundo e pensei longamente sobre o significado do termo aula para filhotes. Para mim,<br />

o objetivo de uma aula para filhotes deveria ser reforçar os bons modos, fomentar a energia<br />

submissa e calma e ensinar o comportamento social adequado. Minha aula para filhotes ideal<br />

espelharia o tipo de educação que um filhote receberia numa matilha natural, onde haveria um<br />

cão sábio e mais velho como Daddy, um cão adulto — talvez uma cadela mãe com grandes<br />

habilidades para cuidar das crias — e um cão adolescente de energia mais elevada, como<br />

Junior. Os cães adultos seriam todos equilibrados e experientes, mostrariam limites aos<br />

filhotes e lhes dariam bons exemplos para eles imitarem. Haveria alguns filhotes, claro, e pelo<br />

menos um humano experiente para supervisionar. Esse é o tipo de aula para filhotes que eu<br />

gostaria de oferecer no novo Centro de Psicologia Canina, uma aula na qual os filhotes<br />

possam praticar comportamento social com seus pares, mas supervisionados por cães mais<br />

velhos e mais sábios — e por líderes de matilha humanos responsáveis.<br />

Os cães estão entre os animais mais sociais. Essa é uma de suas características mais<br />

próximas aos humanos, e é uma das razões pelas quais nossas duas espécies tornaram-se tão<br />

unidas nas últimas dezenas de milhares de anos. Você pode ter adestrado seu filhote para<br />

sentar, ficar, vir, ficar junto, pegar o jornal, levar os seus chinelos ou apagar a luz antes de<br />

latir “Boa Noite”, mas se ele não se dá bem socialmente com humanos e outros cães, você não<br />

tem um animal equilibrado. E, se não for equilibrado, quando crescer, o seu filhote não<br />

conseguirá experimentar as alegrias e as aventuras da vida.

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