Como Criar o Cão Perfeito desde Filhotinho - Cesar Millan

04.08.2017 Views

instintivamente que não se cria um filhote de foca, de papagaio ou um potrinho da mesma maneira que se criaria uma criança humana. Os seres humanos até aprenderam duras lições ao tentar criar nossos primos mais próximos, os grandes primatas, como se fossem versões mais peludas de nós mesmos. Li recentemente um livro de cortar o coração, Nim Chimpsky: The Chimp Who Would Be Human [Nim Chimpsky: o chimpanzé que queria ser humano], de Elizabeth Hess, sobre uma experiência dos anos 1960 com a intenção de ensinar uma linguagem a um chimpanzé em um contexto social, tirado da mãe quando bebê e criado como se fosse um menino humano, em uma família de classe alta de Manhattan, em Nova York. Embora Nim tivesse conseguido aprender habilidades excelentes na língua de sinais americana e pudesse se comunicar por meio dela pelo resto da vida, sua natureza animal logo se tornou excessiva para os membros humanos de sua ingênua família adotiva, que foram forçados a abandoná-lo. Ele viveu o resto de sua triste vida em uma espécie de terra de ninguém de lares adotivos e centros de pesquisas sobre primatas, sem saber se era chimpanzé, humano ou algo entre os dois. Uma de minhas regras fundamentais na vida é a de que devemos respeitar os animais antes como os seres que são do que como companheiros quase humanos, que talvez desejássemos que fossem. Para mim, ter um vínculo verdadeiro com um animal significa celebrar e honrar sua natureza animal primeiro, antes de começar a cooptá-lo para ser nosso amigo, nossa alma gêmea ou nosso filho. Embora para nós talvez os filhotes pareçam bebês humanos, a verdade é que eles são, antes de tudo, cães. Criar um filhote para ser um cão saudável e equilibrado é um processo muito diferente de educar com sucesso um bebê para ser um jovem adulto feliz e confiante. Por mais que possamos desejar que eles sejam, filhotes não são os equivalentes caninos dos bebês, especialmente quando assumimos o papel de seus cuidadores. Enquanto os bebês são, por muitos meses, criaturas indefesas, os filhotes vêm ao mundo como pequenas máquinas de sobrevivência, revelando sua verdadeira natureza animal imediatamente após nascerem. Um filhote de três dias já se esforça para exercer sua dominância sobre os irmãos ao empurrá-los para longe da teta da mãe. Com duas ou três semanas, esse mesmo filhotesabe andar sozinho e se empenha mais para estabelecer seu lugar na matilha. Quando um criador idôneo acha que um filhote está pronto para ser separado da mãe e dos irmãos da mesma ninhada — aproximadamente aos dois meses —, esse filhote já está anos à frente, em termos de desenvolvimento, de um bebê humano da mesma idade. Quando adotamos um filhote de dois meses, ele está longe de ser indefeso, embora muitas vezes continuemos a vê-lo assim e tratálo de acordo com essa perspectiva. Ao fazer isso, muitos donos de cães inadvertidamente desprezam ou desrespeitam a verdadeira natureza de um filhote: sua “canidade”. Ao mimar nossos cães em fase de crescimento como se fossem bebês indefesos — carregando-os como bolsas, satisfazendo todos os seus caprichos, permitindo-lhes todo tipo de liberdade que nunca permitiríamos a uma criança —, impedimos o seu progresso desde o início. Sem querer, podemos alimentar medo, ansiedade, agressão ou domínio. Podemos condenar nossos cães a vidas de instabilidade e estresse. Ao colocar nossa própria realização psicológica na frente das verdadeiras necessidades de desenvolvimento de um cão em crescimento, podemos sem querer criar mais problemas de comportamento. Pela minha experiência, em geral, é apenas a falta de conhecimento que leva amantes de cães bem-intecionados a cometer esses erros cruciais. Todo dono de cachorro que já conheci

só queria mesmo o melhor para o seu animal de estimação. Neste livro, espero oferecer algumas estratégias para ajudar os donos a manter a verdadeira identidade canina de um cão antes de transformá-lo em seu bebê”. Uma das coisas mais importantes a lembrar a respeito do filhote é que é a fase de vida mais curta de um cão saudável. Um cão é filhote do nascimento aos oito meses, então é adolescente dos oito meses aos três anos. Com boa nutrição e assistência veterinária, um cão moderno pode viver de dez, doze até dezesseis anos ou mais.[1] Vejo muitos humanos se apaixonarem pela fofura de um filhotinho, mas acabando por se desinteressarem — ou, pior, ressentirem-se — do cão adulto que ele está destinado a ser. Isso realmente me corta o coração. Acho que quando trazemos um cão para nossas vidas em qualquer idade, assumimos uma responsabilidade muito importante pelo bem-estar daquele animal para o resto de sua vida. Possuir um cão deveria ser uma experiência alegre, não estressante. Claro, isso exige foco e comprometimento nos estágios iniciais, mas depois, durante anos e anos, o trabalho difícil que se teve no início será recompensado de incontáveis maneiras. Os cães em nossas vidas nos ensinam a desfrutar o momento, a não ficar obcecados com o passado ou o futuro. Os cães nos mostram que alegrias simples — rolar pelo chão, correr no parque, mergulhar na piscina, espreguiçar na grama debaixo de um sol gostoso — ainda são as melhores coisas que a vida tem a oferecer. E os cães nos ajudam a experimentar um tipo de ligação mais profundo — não só com bichos, mas com os outros humanos em nossas vidas e com nós mesmos. Se tiver certeza de que quer se comprometer com um cachorro para a vida toda, você realmente terá uma oportunidade incrível à sua frente. Esta é realmente a sua chance de criar e moldar o cão dos sonhos da sua família, bem como de criar outro ser vivo para desenvolver todo o potencial que a natureza lhe deu. Os filhotes são programados por seu DNA para absorver as regras, os limites e as restrições das sociedades em que vivem. Se você transmitir claramente ao filhote as regras de sua família desde o primeiro dia, você pode moldar um companheiro que irá respeitá-lo, confiar em você e ter uma ligação em um nível que você jamais imaginou ser possível. Mas, como as crianças, os cães estão constantemente observando, explorando e tentando descobrir como se encaixam no mundo que os cerca. Se você lhes enviar os sinais errados com frequência nos primeiros dias do seu relacionamento, será bem mais difícil recuperá-los uma vez arraigados estes hábitos. Já criei centenas de cães na vida, por muitos estágios de desenvolvimento diferentes, mas quando decidi escrever este livro, quis garantir que estivesse realmente seguindo o processo todo de acompanhar vários filhotes do nascimento até o início da idade adulta. Cada cão que recupero ou adoto, cada filhote que crio me ajuda a compreender melhor a natureza dos cães e como nós humanos podemos lhes dar a melhor e mais equilibrada vida possível. Espero que as trajetórias individuais dos cães que aparecem neste livro ajudem a demonstrar na prática alguns dos conceitos que vamos discutir. Será que você pode realmente criar o “cão perfeito”? Acredito plenamente que sim. Porque penso que a natureza insere a fórmula da perfeição dentro de cada organismo que ela cria. Como seres humanos, gostamos de pensar que podemos melhorar a natureza, e, talvez, em algumas áreas, possamos. Mas quando se trata de criar cães, a natureza acertou logo de primeira. Vamos parar de reinventar a roda e começar a aprender com os melhores professores da vida: os próprios cães.

instintivamente que não se cria um filhote de foca, de papagaio ou um potrinho da mesma<br />

maneira que se criaria uma criança humana. Os seres humanos até aprenderam duras lições ao<br />

tentar criar nossos primos mais próximos, os grandes primatas, como se fossem versões mais<br />

peludas de nós mesmos. Li recentemente um livro de cortar o coração, Nim Chimpsky: The<br />

Chimp Who Would Be Human [Nim Chimpsky: o chimpanzé que queria ser humano], de<br />

Elizabeth Hess, sobre uma experiência dos anos 1960 com a intenção de ensinar uma<br />

linguagem a um chimpanzé em um contexto social, tirado da mãe quando bebê e criado como<br />

se fosse um menino humano, em uma família de classe alta de Manhattan, em Nova York.<br />

Embora Nim tivesse conseguido aprender habilidades excelentes na língua de sinais<br />

americana e pudesse se comunicar por meio dela pelo resto da vida, sua natureza animal logo<br />

se tornou excessiva para os membros humanos de sua ingênua família adotiva, que foram<br />

forçados a abandoná-lo. Ele viveu o resto de sua triste vida em uma espécie de terra de<br />

ninguém de lares adotivos e centros de pesquisas sobre primatas, sem saber se era chimpanzé,<br />

humano ou algo entre os dois.<br />

Uma de minhas regras fundamentais na vida é a de que devemos respeitar os animais antes<br />

como os seres que são do que como companheiros quase humanos, que talvez desejássemos<br />

que fossem. Para mim, ter um vínculo verdadeiro com um animal significa celebrar e honrar<br />

sua natureza animal primeiro, antes de começar a cooptá-lo para ser nosso amigo, nossa alma<br />

gêmea ou nosso filho.<br />

Embora para nós talvez os filhotes pareçam bebês humanos, a verdade é que eles são, antes<br />

de tudo, cães. <strong>Criar</strong> um filhote para ser um cão saudável e equilibrado é um processo muito<br />

diferente de educar com sucesso um bebê para ser um jovem adulto feliz e confiante. Por mais<br />

que possamos desejar que eles sejam, filhotes não são os equivalentes caninos dos bebês,<br />

especialmente quando assumimos o papel de seus cuidadores. Enquanto os bebês são, por<br />

muitos meses, criaturas indefesas, os filhotes vêm ao mundo como pequenas máquinas de<br />

sobrevivência, revelando sua verdadeira natureza animal imediatamente após nascerem. Um<br />

filhote de três dias já se esforça para exercer sua dominância sobre os irmãos ao empurrá-los<br />

para longe da teta da mãe. Com duas ou três semanas, esse mesmo filhotesabe andar sozinho e<br />

se empenha mais para estabelecer seu lugar na matilha. Quando um criador idôneo acha que<br />

um filhote está pronto para ser separado da mãe e dos irmãos da mesma ninhada —<br />

aproximadamente aos dois meses —, esse filhote já está anos à frente, em termos de<br />

desenvolvimento, de um bebê humano da mesma idade. Quando adotamos um filhote de dois<br />

meses, ele está longe de ser indefeso, embora muitas vezes continuemos a vê-lo assim e tratálo<br />

de acordo com essa perspectiva. Ao fazer isso, muitos donos de cães inadvertidamente<br />

desprezam ou desrespeitam a verdadeira natureza de um filhote: sua “canidade”.<br />

Ao mimar nossos cães em fase de crescimento como se fossem bebês indefesos —<br />

carregando-os como bolsas, satisfazendo todos os seus caprichos, permitindo-lhes todo tipo<br />

de liberdade que nunca permitiríamos a uma criança —, impedimos o seu progresso <strong>desde</strong> o<br />

início. Sem querer, podemos alimentar medo, ansiedade, agressão ou domínio. Podemos<br />

condenar nossos cães a vidas de instabilidade e estresse. Ao colocar nossa própria realização<br />

psicológica na frente das verdadeiras necessidades de desenvolvimento de um cão em<br />

crescimento, podemos sem querer criar mais problemas de comportamento.<br />

Pela minha experiência, em geral, é apenas a falta de conhecimento que leva amantes de<br />

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