28.07.2017 Views

L+D 64

Edição: julho/agosto de 2017

Edição: julho/agosto de 2017

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

JAPAN HOUSE (SÃO PAULO)<br />

E MAIS: TEATRO SANTANDER (SÃO PAULO); COCA-COLA – PAVIMENTO VIP (RIO DE JANEIRO);<br />

BARNEYS (NOVA YORK); ONE QUEEN (TORONTO); FOTO LUZ FOTO: NELSON KON<br />

1


2 3


inscreva-se no<br />

17 e 18 de agosto de 2017<br />

Tivoli Mofarrej Conference Hotel<br />

São Paulo | Brasil<br />

sucesso<br />

absoluto<br />

VAGAS<br />

ESGOTADAS<br />

Garanta o seu lugar no maior<br />

congresso de Iluminação<br />

Arquitetural da América Latina<br />

Confira os palestrantes já confirmados:<br />

Catharine Perez Vega<br />

Univ. de Wismar<br />

Panamá/Alemanha/<br />

França<br />

Christopher M. Bauder<br />

WHITEvoid<br />

Alemanha<br />

Prof. Christopher Cuttle<br />

Autor e Pesquisador<br />

Nova Zelândia<br />

Pascal Chautard<br />

Limarí Lighting Design<br />

Chile<br />

Claudio Ramos<br />

Electrolight<br />

Brasil/EUA<br />

Victor Palacio<br />

Ideas en Luz/IALD<br />

México<br />

Emily Monato<br />

Cooley Monato Studio<br />

EUA<br />

Hanan Peretz<br />

Peretz Architecture<br />

Israel<br />

Nora Imaz<br />

LD Independente<br />

Espanha<br />

4 5<br />

www.ledforum.com.br


SUMÁRIO<br />

julho | agosto 2017<br />

edição <strong>64</strong><br />

46<br />

56 <strong>64</strong><br />

João Caldas<br />

70 78 82<br />

10<br />

¿QUÉ PASA?<br />

46<br />

56<br />

<strong>64</strong><br />

70<br />

78<br />

82<br />

TEATRO SANTANDER<br />

Um espetáculo de luzes<br />

JAPAN HOUSE<br />

Mande in...<br />

COCA-COLA<br />

Luz que comunica<br />

BARNEYS<br />

Barneys New York, Downtown<br />

ONE QUEEN EAST<br />

Do opaco ao translúcido<br />

FOTO LUZ FOTO<br />

Nelson Kon<br />

6 7


Romulo Fialdini<br />

Thiago Gaya<br />

publisher<br />

JAPAN HOUSE<br />

Iluminação: Castilha Iluminação<br />

Foto: Rafaela Netto<br />

Orlando Marques<br />

editor-chefe<br />

PUBLISHER<br />

Thiago Gaya<br />

IMAGEM, MENSAGEM<br />

EDITOR-CHEFE<br />

Orlando Marques<br />

DIRETORA DE ARTE<br />

Thais Moro<br />

Um dos objetivos da <strong>L+D</strong> é relatar – e, assim, divulgar – os resultados mais<br />

recentes da manipulação da luz nos objetos e nos espaços construídos no Brasil e no<br />

mundo. Nesse trabalho, a seleção de imagens tem um papel tão importante quanto<br />

a composição das palavras. É com bastante cuidado que procuramos manipular<br />

esses ingredientes para compor o que finalmente constitui o resultado da publicação.<br />

Cientes dessa importância, todos os autores dos projetos nacionais apresentados<br />

nesta edição empenharam-se em produzir imagens inéditas do resultado de seus<br />

trabalhos, criadas por talentosos fotógrafos, e divulgá-los com exclusividade nas<br />

páginas da <strong>L+D</strong>. Obrigado, lighting designers!<br />

Guinter Parschalk, titular do tradicional studio ix, apresenta, por meio de belíssimas<br />

imagens de Nelson Kon, o projeto do Teatro Santander, às margens do rio Pinheiros,<br />

em São Paulo. Mônica Rio Branco e Giani Faccini, titulares da RBF Arquitetura de<br />

Iluminação, apresentam o projeto do Edifício Sede da Coca-Cola, de frente para a<br />

espetacular Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, fotografado pelo talentoso André<br />

Nazareth. Marcos Castilha, do escritório que leva seu nome, apresenta a Casa Japão,<br />

com arquitetura de Kengo Kuma e fotos de Rafaela Netto.<br />

Apresentamos também a nova loja Barneys de Nova York, recentemente premiada<br />

pelo IALD 2017, projeto de Cooley Monato Studio – CoMoS, das titulares Renée Cooley<br />

e Emily Monato, com imagens do fotogafo nova-iorquino Scott Frances. Lighting<br />

designer brasileiro radicado no Canadá, Rafael Salsa Correa apresenta o projeto do<br />

lobby do Edifício One Queen, com imagens clicadas por ele mesmo.<br />

Convidados como coeditores da seção ¿Qué Pasa? duplo desta edição, o lighting<br />

designer Carlos Fortes e sua equipe apresentam a belíssima exposição LuzEscrita, em<br />

cartaz no Espaço Cultural Porto Seguro até 30 de julho.<br />

Nelson Kon é o fotógrafo homenageado do Foto Luz Foto. Obrigado, Nelson!<br />

Destacamos também as matérias do ¿Qué Pasa? sobre a instalação criada<br />

pelo designer japonês nendo em comemoração dos 90 anos da Sogetsu, tradicional<br />

escola japonesa de ikebana em Tóquio; o trabalho de representação gráfica da luz<br />

em arquitetura do arquiteto do designer gráfico português André Chiote; os mais<br />

importantes e recentes prêmios do universo LD; e muito mais.<br />

REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO<br />

André Becker, Débora Torii, Estudio Carlos Fortes,<br />

Fernanda Carvalho, Gilberto Franco,<br />

Nelson Kon, Orlando Marques<br />

REVISÃO<br />

Débora Tamayose<br />

ADMINISTRAÇÃO<br />

Richard Schiavo<br />

CIRCULAÇÃO E MARKETING<br />

Márcio Silva<br />

PUBLICIDADE<br />

Lucimara Ricardi | diretora<br />

Avany Ferreira | contato publicitário<br />

Paula Ribeiro | contato publicitário<br />

PARA ANUNCIAR<br />

comercial@editoralumiere.com.br<br />

T 11 2827.0660<br />

PARA ASSINAR<br />

assinaturas@editoralumiere.com.br<br />

T 11 2827.0690<br />

TIRAGEM E CIRCULAÇÃO AUDITADAS POR<br />

Boa leitura!<br />

Orlando Marques<br />

Editor-chefe<br />

PUBLICADA POR<br />

A equipe do premiado escritório<br />

paulistano Estudio Carlos Fortes é a<br />

Editora Lumière Ltda.<br />

convidada para a coedição do<br />

Rua Catalunha, 350, 05329-030, São Paulo SP, T 11 2827.0660<br />

¿Qué Pasa? de página dupla desta<br />

www.editoralumiere.com.br<br />

edição. Da esquerda para a direita:<br />

Philippe Jacob Melo, Nathalie Lima<br />

8 Legal, Bruno Luz, Thales Sportero<br />

Débora Esposto e Carlos Fortes.<br />

9<br />

Leka Mendes


Kozo Sekiya Takumi Ota<br />

Takumi Ota<br />

¿QUÉ PASA?<br />

HERA CALEIDOSCÓPICA<br />

Em homenagem aos 90 anos da Sogetsu, tradicional<br />

escola japonesa de ikebana em Tóquio, Japão, sua quarta<br />

e atual diretora Akane Teshigahara organizou Hana So, sua<br />

primeira exibição solo em seis anos, em cartaz entre os dias<br />

5 e 10 de abril. Motivada pelo desafio de criar um ambiente<br />

totalmente inovador, ela convidou o estúdio de design nendo<br />

para conceber o desenho do espaço.<br />

Como parte do projeto, a artista propôs que a decisão<br />

sobre os itens a serem exibidos fosse tomada somente após<br />

a montagem do local, a fim de que seu design servisse de<br />

inspiração para a criação dos arranjos florais. Inspirado<br />

pelo espaço escolhido para a mostra, um jardim de pedras<br />

escalonado, o designer Oki Sato desenvolveu uma “hera de<br />

espelhos” utilizando mais de 40 mil folhas de aço inoxidável<br />

de 0,5 mm de espessura, com acabamento espelhado. As<br />

peças, cortadas em forma de losangos e unidas umas às<br />

outras, foram posicionadas, uma a uma, sobre as superfícies<br />

das pedras.<br />

Essa camada extra entre as pedras e os arranjos ikebana<br />

promoveu sua harmonização, criando um encantador efeito<br />

caleidoscópico em decorrência dos suaves reflexos das<br />

cores e dos contornos dos elementos florais. Além de refletir<br />

o entorno, os espelhos permitiam que fossem reveladas<br />

pequenas amostras da textura e da aparência do jardim de<br />

pedras sob eles.<br />

Até o início da disposição dos arranjos, Akane Teshigahara<br />

relata que se sentia intimidada pelo efeito arrebatador<br />

da hera espelhada. No entanto, após iniciar a montagem,<br />

percebeu que as plantas eram suavemente acolhidas pelos<br />

espelhos, gerando um espaço “deslumbrante e misterioso, no<br />

qual o jardim de pedras, as folhas espelhadas e as plantas se<br />

fundiam num só”, declara. (D.T.)<br />

10 11


André Chiote<br />

¿QUÉ PASA?<br />

REPRESENTAÇÕES ICÔNICAS<br />

A partir de suas pesquisas praticamente diárias em busca<br />

de soluções arquitetônicas para seus projetos, o arquiteto<br />

e ilustrador português André Chiote passou a notar quão<br />

simbólicos e emblemáticos podem ser certos ângulos ou<br />

detalhes dos edifícios. A percepção de que esses elementos<br />

podem, de alguma forma, resumir a intenção de desenho<br />

da construção como um todo o inspira na produção de suas<br />

icônicas ilustrações sobre arquitetura.<br />

Tendo como base sua crescente biblioteca de referências,<br />

o arquiteto produz representações gráficas sutis, utilizando<br />

texturas em duas dimensões. O resultado, porém, vai além<br />

da mera representação arquitetônica, pois sua ilustração<br />

carrega consigo uma carga simbólica própria que, apesar<br />

da simplicidade, permite o reconhecimento instantâneo dos<br />

volumes arquitetônicos retratados.<br />

Para Chiote, a luz é essencial, já que é ela que nos permite<br />

perceber a arquitetura dos edifícios, influenciando a aparência de<br />

sua volumetria, suas transparências e o brilho de seus materiais.<br />

“Os efeitos da luz, e consequentemente da sombra, permitem que<br />

um edifício determinado tenha leituras diferentes de acordo com<br />

a luz que sobre ele incide. E desses momentos de luz e sombra<br />

resultam muitas vezes imagens instantâneas de grande potencial<br />

gráfico e estético”, explica ele.<br />

As luzes artificial e natural influenciam de diferentes<br />

maneiras as ilustrações produzidas por André. A iluminação<br />

natural, em razão de sua força e sua intensidade, cria momentos<br />

de maior contraste entre luz e sombra, que podem ser<br />

considerados graficamente bastante apelativos em seu trabalho.<br />

Já a luz artificial é vista por ele como um tipo de fonte luminosa<br />

mais localizada, o que acaba por dar destaque a porções e<br />

detalhes de um edifício, em vez de “varrer” de luz a totalidade do<br />

espaço, como ele explica. Apesar de menos apelativo, esse tipo<br />

de iluminação possibilita o surgimento de gradações de tons e<br />

de sobreposições de cores e de sombras, o que pode tornar o<br />

trabalho de representação mais variado e, consequentemente,<br />

mais desafiador.<br />

Atualmente André Chiote tem trabalhado em uma série<br />

de ilustrações cujo tema são os edifícios religiosos, dentre<br />

os quais figura a Catedral de Brasília, de Oscar Niemeyer. Em<br />

entrevista à <strong>L+D</strong>, ele contou um pouco da abordagem por trás<br />

dessa e das demais imagens que compõem a série: “O trabalho<br />

gráfico procura de alguma forma retomar as representações<br />

de outros tempos, de livros e tratados de arquitetura, em que<br />

o uso de tons sépia no desenho da arquitetura (sobretudo a<br />

religiosa) contrastava com os tons pastéis (azuis e verdes)<br />

usados na representação da envolvente natural, que enquadrava<br />

as composições. Simultaneamente esses elementos naturais da<br />

paisagem tinham uma representação menos rigorosa/mais livre,<br />

que é outra forma de contrastar com a representação do edifício<br />

(mais geométrica), dando-lhe assim maior protagonismo”. (D.T.)<br />

12 13


LEMCA RECEBEU O PRÊMIO AsBEA<br />

O Perfil Fit Mundi recebeu a Menção Honrosa<br />

no projeto da fachada do Hotel Venit+Mio<br />

LEMCA FIT BRASILIA<br />

HOTEL VENIT+MIO<br />

Local: Rio de Janeiro<br />

Perfil de sobrepor com fita<br />

Projeto de Iluminação: LD Studio<br />

ou placa de LEDs para áreas<br />

Tel: |11| 2827.0600<br />

14 internas e externas.<br />

Projeto de Arquitetura: STA Arquitetura<br />

www.lemca.com.br<br />

15<br />

Foto: André Nazareth<br />

led@lemca.com.br


1 2<br />

Hufton+Crow, Adam Mørk<br />

Limelight atelier<br />

3<br />

INK<br />

Lichtlauf<br />

4 5 6<br />

Michael Elkan Photography<br />

Rohan Venn<br />

¿QUÉ PASA?<br />

TEMPORADA DE PRÊMIOS 2017<br />

Foi dada a largada para a temporada de prêmios deste<br />

ano, com a divulgação dos resultados de algumas das mais<br />

importantes honrarias anuais do universo da iluminação.<br />

IALD AWARDS 2017<br />

Dentre os 22 projetos homenageados durante a cerimônia<br />

de entrega da 34ª edição do prêmio, o que mais pontuou nas<br />

avaliações do júri – que neste ano contou com a presença do<br />

lighting designer e colaborador da <strong>L+D</strong> Carlos Fortes – foi o<br />

projeto para a Harbin Opera House, em Harbin, na China 1 , do<br />

escritório Beijing United Artists Lighting Design, que recebeu o<br />

IALD Radiance Award for Excellence in Lighting Design.<br />

DARC AWARDS / DECORATIVE<br />

Promovida pelas revistas darc e mondo*arc, essa é a única<br />

premiação de iluminação decorativa na qual os próprios<br />

designers votam e determinam os vencedores. Em sua primeira<br />

edição, foram premiados os três projetos que melhor utilizaram<br />

a iluminação decorativa em cada uma das seguintes categorias:<br />

Residencial, Corporativa, Hoteleira, Lazer e Varejo. Destacou-se o<br />

projeto para a residência House X 2 , do Limelight Atelier, que foi<br />

agraciado com o darc award – best of the best.<br />

Além desses, os prêmios também foram entregues aos<br />

criadores dos melhores produtos decorativos nas tipologias de<br />

teto, parede, piso, mesa, uso externo, sob medida e lâmpada para<br />

luminária decorativa, dentre os quais se destacaram o pendente<br />

cinético Nebula do INK Lighting 3 , a modular Alphabet of<br />

Light, criada pelo BIG Architects, e a subaquática Munich<br />

Reeds 4 , assinada por Christoph Matthias em conjunto com o<br />

lighting designer Gerd Pfarré.<br />

IESBC VISION AWARDS<br />

Oferecida pela Illuminating Engineering Society of British<br />

Columbia (IESBC) – um setor da Illuminating Engineering Society<br />

(IES) sediado em Vancouver, Canadá –, essa premiação é conhecida<br />

como um termômetro para os IES Illumination Awards, que serão<br />

entregues em agosto, nos Estados Unidos. Dentre os 14 prêmios<br />

distribuídos nas quatro categorias oferecidas, o destaque foi o<br />

projeto de iluminação do Vancouver Creekside Paddling Centre 5 ,<br />

do MMM Group/WSP, agraciado com o IESBC 2017 Vision Award.<br />

LAMP LIGHTING SOLUTIONS AWARDS 2017<br />

Em cerimônia realizada em Barcelona, Espanha, foram<br />

conhecidos os quatro projetos premiados – além de outros dois<br />

reconhecidos com menções honrosas – nas categorias Proposta<br />

Estudantil, Iluminação Urbana e/ou de Paisagismo, Iluminação de<br />

Interiores e Iluminação Arquitetural de Exteriores. Nesta última,<br />

o grande vencedor foi o projeto de iluminação para a fachada do<br />

Australian War Memorial 6 , em Canberra, Austrália, de autoria<br />

do escritório Steensen Varming. (D.T.)<br />

16 17


Imagens: Michael Young<br />

¿QUÉ PASA?<br />

5ª INTERNATIONAL LIGHTING DESIGN<br />

COMPETITION – L A M P<br />

Foram anunciados os prazos e as datas de realização<br />

da 5ª edição da International Lighting Design Competition,<br />

uma premiação-evento produzida pela L A M P (Lighting<br />

Architecture Movement Project) em Vancouver, no Canadá<br />

(não confundir com o prêmio LAMP Awards da empresa<br />

espanhola LAMP). A partir desta edição, o evento passará a<br />

ser bianual, de maneira a oferecer aos designers mais tempo<br />

para que desenvolvam suas criações e seus protótipos.<br />

Aqueles que queiram concorrer aos prêmios já podem fazer<br />

suas inscrições, em três diferentes categorias: Consagrado,<br />

Emergente e Estudante. Assim como nas edições anteriores,<br />

os trabalhos enviados deverão estar relacionados a um tema<br />

específico, que nesta edição será “Equilíbrio”.<br />

Os prêmios e o painel do júri – que já contou com nomes<br />

como Michael Anastassiades e Tom Dixon – serão anunciados<br />

em breve. As inscrições encerram em 15 de dezembro, e os<br />

finalistas serão anunciados no segundo semestre de 2018,<br />

quando também será realizado o evento de entrega dos<br />

prêmios. As regras e o cronograma completo da 5ª edição da<br />

competição estão disponíveis no site welovelamp.ca. (D.T.)<br />

18 19


20 21


Imagens: Kimchi and Chips<br />

¿QUÉ PASA?<br />

NÉVOA LUMINOSA<br />

A série Light Barrier, criada pelo estúdio de arte sul-coreano<br />

Kimchi and Chips, apresenta uma nova abordagem do conceito<br />

de “desenhar no ar”, proporcionando a materialização de<br />

objetos de luz por meio de uma experiência semimaterial. Por<br />

trás da criação, os designers Elliot Woods e Mimi Son tiveram<br />

como inspiração as pinturas impressionistas, produzindo<br />

imagens que parecem saltar da “tela”, como uma espécie de<br />

pintura que extrapola sua perspectiva.<br />

O projeto já está em sua terceira edição, desenvolvida<br />

especialmente para o Asia Culture Center, em Gwangju,<br />

Coreia do Sul, e explora os conflitos existentes no limite<br />

entre material e não material, entre realidade e ilusão, entre<br />

existência e ausência.<br />

São oito “projetores de vídeo arquitetônicos”, aos quais<br />

se subordinam outros 630 subprojetores, que, por sua vez,<br />

atuam sobre uma imponente estrutura de espelhos côncavos.<br />

Da interação entre esses elementos – luz, imagens projetadas<br />

e espelhos –, resulta uma “tela” com 16.000.000 pixels<br />

calibrados individualmente, culminando na geração de uma<br />

imagem unificada no ar, a partir da fusão dos raios de luz<br />

resultantes das projeções e de seus reflexos. A instalação só<br />

foi possível graças ao uso de uma ferramenta de calibração<br />

gráfica desenvolvida pelos próprios designers.<br />

A sequência de projeções tem duração de seis minutos,<br />

e seu tema principal é a figura do círculo, como metáfora<br />

para a abordagem cíclica do nascimento, da morte e do<br />

renascimento. Complementando a experiência, 40 canais<br />

de áudio foram utilizados para a construção de um campo<br />

sonoro, em busca da completa imersão dos observadores.<br />

O vídeo da instalação Light Barrier Third Edition pode<br />

ser conferido no Vimeo (disponível em: https://vimeo.<br />

com/218354021). (D.T.)<br />

22 23


Imagens: Mark Cocksedge<br />

¿QUÉ PASA?<br />

SWAROVSKI NA DESIGN MIAMI/BASEL<br />

Pelo terceiro ano consecutivo, o Prêmio Swarovski Designers<br />

of the Future (que existe desde 2006) selecionou e ofereceu a<br />

um grupo de jovens e promissores designers a oportunidade<br />

de apresentar seus trabalhos durante a mostra Design Miami/<br />

Basel. Durante a edição deste ano, realizada entre os dias 13 e<br />

18 de junho na cidade suíça, tiveram suas criações expostas os<br />

designers Jimenez Lai, Marjan van Aubel e TAKT PROJECT.<br />

Respondendo a orientações individuais – relacionadas<br />

especificamente às suas áreas de atuação –, os designers<br />

foram estimulados a desenvolver seus trabalhos sob um<br />

tema comum: “Moldando sociedades”. Para além do simples<br />

design de produto, eles foram levados ao desenvolvimento<br />

de projetos multidisciplinares, com abordagem conceitual<br />

e técnica de vanguarda, utilizando como base os diversos<br />

recursos da joalheria austríaca.<br />

Os japoneses do estúdio TAKT PROJECT elevaram a<br />

impressão em 3D a um novo nível, sendo os primeiros – em<br />

parceria com a companhia MICRON3DP – a realizar a impressão<br />

em 3D em cristais. O projeto Ice Crystal é composto de uma<br />

série de candelabros e vasos cujo design teve inspiração nas<br />

técnicas de corte e polimento impecáveis da Swarovski, que<br />

produzem reflexos e refrações únicos sob a luz. A impressão<br />

em 3D possibilitou a obtenção de formas e texturas que não<br />

são possíveis por meio das técnicas tradicionais de moldagem,<br />

corte e sopro dos cristais de vidro.<br />

A designer holandesa Marjan van Aubel criou a série<br />

Cyanometer, em colaboração com a equipe técnica da Swarovski<br />

e com o Centro de Pesquisa de Energia dos Países Baixos (ECN).<br />

Com base no fato de que o Sol, em apenas um dia, é capaz<br />

de fornecer energia suficiente para alimentar a rede elétrica<br />

terrestre por um ano inteiro, a designer desenvolveu uma série<br />

de três objetos luminosos “vivos”. Cada um deles é dotado de<br />

painéis solares portáteis, que devem ser portados pelos usuários<br />

durante o dia. Uma célula solar, integrada a um cristal planoconvexo<br />

facetado – desenvolvido pela Swarovski especialmente<br />

para o projeto –, coleta e direciona a luz refletida e refratada de<br />

maneira mais eficiente. A energia armazenada é então usada<br />

para alimentar a iluminação da residência do usuário. A forma<br />

do Cyanometer foi inspirada no aparelho homônimo – inventado<br />

em 1789 para a medição da intensidade da cor do céu –, cujas<br />

cores foram replicadas por meio de cristais opalinos e LEDs.<br />

A instalação que acomodou todos os trabalhos produzidos<br />

pelos “designers do futuro” ficou a cargo de Jimenez Lai,<br />

designer taiwanês radicado em Los Angeles. Terrazo Palazzo<br />

é uma espécie de palácio desconstruído, formado por<br />

estruturas independentes, cujas cores, formas e geometria<br />

se relacionam com o ciclo diário de uma residência típica. O<br />

cenário arquitetônico foi construído com um novo e pioneiro<br />

material, que incorpora cristais Swarovski transformados<br />

e reutilizados. O objetivo é potencializar a eficiência do<br />

uso de recursos, por meio do aproveitamento dos cristais<br />

de “segunda mão” (como são definidos aqueles que não<br />

passaram pelo rigoroso controle de qualidade da Swarovski<br />

em virtude de imperfeições mínimas). (D.T.)<br />

24 25


Imagens: LightGlass<br />

¿QUÉ PASA?<br />

VIDRO INTELIGENTE<br />

A empresa austríaca de tecnologia LightGlass é pioneira<br />

no desenvolvimento de vidros “inteligentes”, com as<br />

mais distintas tecnologias integradas. Uma de suas mais<br />

recentes invenções foi contemplada, no último mês de<br />

maio, com o prestigioso prêmio norte-americano Architizer<br />

A+Award, na categoria “Produtos para a construção –<br />

sistemas e produtos para envidraçamento”. Trata-se da<br />

tecnologia ALED Privacy-Plus, uma nova geração de vidros<br />

autoiluminados que oferece luz artificial com qualidades<br />

similares às da natural, além de atuar como uma forma de<br />

proteção visual.<br />

O sistema conta com LEDs integrados, oferecidos<br />

em quatro configurações, todas dimerizáveis: duas com<br />

temperatura de cor branca fixa, com fluxos luminosos<br />

de 2.575 lm e 10.300 lm por metro linear; a opção ALED<br />

Daylight, cuja temperatura de cor pode ser ajustada entre<br />

2.700 K e 6.500 K; e uma versão RGB.<br />

Além de atuar como um sistema de iluminação, essa<br />

tecnologia permite ao usuário optar por mais transparência<br />

ou por privacidade absoluta ao toque de um botão. Essa<br />

característica potencializa sua utilização em locais como<br />

hospitais, escritórios e residências, já que suas aplicações<br />

são bastante variadas: de fachadas e elevadores a portas e<br />

divisórias. A compatibilidade da ALED Privacy-Plus com os<br />

sistemas convencionais de automação possibilita ainda sua<br />

programação de acordo com o horário ou com as condições<br />

de luminosidade externas, por exemplo.<br />

O produto foi recentemente exibido durante a última<br />

edição da LightFair, realizada entre os dias 9 e 11 de maio nos<br />

Estados Unidos. Seus produtores esperam, em breve, poder<br />

expandir a comercialização do produto internacionalmente<br />

e também afirmam ter a ambição de extrapolar o âmbito<br />

da arquitetura, com estudos para sua aplicação nos ramos<br />

automobilístico e náutico. (D.T.)<br />

26 27


28 29


1<br />

Imagens: Divulgação<br />

2 3<br />

¿QUÉ PASA?<br />

SOL DE BOLSO<br />

O projeto social Little Sun foi fundado em 2012 pelo<br />

artista Olafur Eliasson, em parceria com o engenheiro<br />

Frederik Ottesen, com o objetivo de levar energia limpa<br />

e de maneira confiável e acessível a mais de 1 bilhão de<br />

pessoas que vivem sem acesso à eletricidade mundo afora.<br />

Ao introduzir a energia sustentável nessas comunidades, o<br />

projeto permite uma redução do uso de alternativas de risco<br />

(como as lanternas de querosene), além de minimizar as<br />

emissões de CO 2<br />

.<br />

O primeiro produto lançado para esse fim foi a Little Sun<br />

Solar Lamp (1), uma pequena luminária portátil, dimerizável<br />

e recarregável por meio da luz do sol, capaz de fornecer<br />

até 50 horas de iluminação contínua. O produto teve sua<br />

distribuição iniciada ainda em 2012 e já teve mais de 500 mil<br />

unidades comercializadas – cerca de metade delas em locais<br />

desprovidos de energia elétrica. Posteriormente foi lançado<br />

o Little Sun Charge (2), que funciona tanto como carregador<br />

para celulares quanto como luminária portátil e recarregável,<br />

apta à geração de até 155 horas de luz.<br />

No último mês de março, Eliasson apresentou o terceiro e mais<br />

recente produto da série durante a Conferência Design Indaba, na<br />

Cidade do Cabo, África do Sul. A Little Sun Diamond (3) é a menor<br />

das três luminárias solares e tem uma lente cristalina e multifacetada<br />

que, inspirada em formas da natureza, emite luz brilhante e reluzente<br />

por um período de até quatro horas. Acompanha a luminária tanto<br />

um suporte voltado para o uso em ambientes fechados – para<br />

leitura, por exemplo – quanto uma corrente para que seja usada<br />

também ao ar livre, como uma lanterna.<br />

O produto estará disponível mundialmente a partir do<br />

segundo semestre deste ano. Todos aqueles que vivem em<br />

locais providos de eletricidade e que adquiram as luminárias<br />

solares contribuem para que elas possam ser vendidas a preços<br />

mais acessíveis nas comunidades desprovidas de energia<br />

elétrica alcançadas pelos produtos.<br />

Durante a conferência sul-africana, Olafur foi questionado<br />

sobre se o design poderia realmente mudar o mundo. Ao que<br />

ele respondeu: “Little Sun não somente acredita que pode como<br />

o está fazendo”. (D.T.)<br />

30 31


Imagens: James Ewing<br />

¿QUÉ PASA?<br />

JOÃO, MARIA E OS DRONES<br />

Construído em 1880, o antigo arsenal Park Avenue Armory,<br />

em Nova York, Estados Unidos, foi transformado, em 2007, em<br />

centro cultural. Desde então, o espaço tem exibido uma variedade<br />

de trabalhos artísticos não convencionais, como performances<br />

imersivas, instalações e colaborações interdisciplinares, todas em<br />

suas inúmeras salas históricas. Na mais imponente delas, o salão<br />

Wade Thompson Drill Hall, estará em cartaz até o dia 6 de agosto<br />

a instalação Hansel & Gretel, idealizada pelos arquitetos suíços<br />

Jacques Herzog e Pierre de Meuron – que também assinam o<br />

projeto de renovação e restauração do edifício, em andamento<br />

desde 2006 – em parceria com o artista chinês Ai Weiwei.<br />

O trio criou um ambiente que envolve os visitantes e os<br />

transforma em elementos ativos como observados e como<br />

observadores. O público adentra no espaço na escuridão, até<br />

chegar ao cenário cavernoso montado no Drill Hall. Fachos<br />

de luzes brancas seguem os movimentos de cada indivíduo<br />

presente no misterioso espaço, permitindo a captura de<br />

suas imagens, que são projetadas no piso, e criando, assim,<br />

um registro visual de seus movimentos. Seu deslocamento<br />

também é gravado por câmeras infravermelhas e transmitido<br />

pela internet, em tempo real, a uma plateia virtual. Além<br />

disso, os participantes também são monitorados por drones<br />

de vigilância que sobrevoam o espaço periodicamente. Os<br />

visitantes passam então ao papel de observadores ao adentrar<br />

na sala seguinte, na qual são confrontados com suas próprias<br />

imagens capturadas no espaço anterior, além de poder assistir,<br />

ao vivo, à movimentação dos que circulam por ali.<br />

Em uma inversão da narrativa do tradicional conto<br />

alemão “Hansel and Gretel” (“João e Maria”, em português),<br />

no qual os protagonistas propositalmente deixam seu rastro<br />

para que não se percam, os visitantes da instalação têm seus<br />

movimentos discretamente rastreados, impossibilitando o<br />

ocultamento de sua localização.<br />

A instalação imersiva desenvolvida por Herzog, de Meuron<br />

e Weiwei – que, neste ano, comemoram 15 anos do início de sua<br />

parceria –, explora a maneira como a vigilância transforma espaços<br />

públicos em ambientes controlados, nos quais os indivíduos são<br />

privados de seu anonimato. Assim, esse “laboratório de vigilância”<br />

visa tornar seu público ciente da extensão de que foi vigiado,<br />

provocando uma discussão a respeito da ética e do impacto<br />

social relacionados à crescente “cultura do monitoramento”.<br />

“O projeto fornece uma grande oportunidade para a análise da<br />

monitoração como um fenômeno social da atualidade, trazendo<br />

questões urgentes a respeito do direto à privacidade em um<br />

mundo hipermonitorado”, explica Rebecca Robertson, produtora<br />

executiva e presidente do Park Avenue Armory. (D.T.)<br />

32 33


34 35


Imagens: Brian Eno, Courtesy Ivorypress<br />

¿QUÉ PASA?<br />

MÚSICA PARA LUZES<br />

O inglês Brian Eno é músico, compositor, produtor musical<br />

e artista visual, conhecido como um dos principais nomes da<br />

música ambiente e da pintura generativa. Seus trabalhos mais<br />

conhecidos incluem o álbum minimalista Ambient 1: Music<br />

for Airports, de 1978, e os álbuns que produziu no início da<br />

carreira da banda norte-americana Talking Heads, incluindo o<br />

premiado Remain in Light, de 1980.<br />

Experimentando sons e luzes desde a adolescência, Eno<br />

define seu trabalho como uma tentativa de “desacelerar<br />

a música”, de maneira a aproximá-la de uma pintura, e de<br />

“animar as pinturas”, de forma que se assemelhem à música,<br />

com a expectativa de que as duas artes “se encontrem e se<br />

fundam no meio do caminho”.<br />

O artista esteve recentemente em Madri, na Espanha,<br />

para a inauguração de Light, sua primeira exibição solo no<br />

país, que ficou em cartaz até o dia 15 de julho na galeria<br />

Ivorypress. A exposição funcionou como uma grande<br />

instalação, composta de caixas luminosas acompanhadas de<br />

trilhas sonoras individuais, além de uma composição musical<br />

desenvolvida para a mostra como um todo. O resultado visual<br />

se assemelhava a uma “paisagem de cores”, obtida por meio<br />

do uso de fontes luminosas RGB, cujos tons se mesclavam na<br />

superfície translúcida de cada caixa.<br />

A instalação, sem início ou final aparentes, buscava<br />

estender as barreiras temporais. A motivação de Eno com<br />

a instalação era encorajar os visitantes a permanecer no<br />

mesmo local por algum tempo, conforme ele explica: “Se há<br />

uma pintura pendurada na parede, não sentimos que estamos<br />

perdendo algo por não prestar atenção nela. Porém, com<br />

música e vídeo, temos a expectativa de algum tipo de drama”.<br />

A mostra contou ainda com sete gravuras relacionadas às<br />

caixas musicais luminosas, além de duas obras compostas de<br />

lentes, criando ilusões de profundidade e de movimento, de<br />

acordo com o deslocamento dos espectadores. (D.T.)<br />

36 37


Imagens: VISIBLE<br />

¿QUÉ PASA?<br />

TRÁFEGO DE CORES<br />

“É possível rastrear os veículos em uma rodovia e gerar<br />

padrões luminosos com base na densidade e na velocidade do<br />

seu tráfego?” Esse questionamento foi a inspiração para que os<br />

designers do estúdio de tecnologia esloveno VISIBLE concebessem<br />

sua mais recente instalação interativa. Com vasto conhecimento<br />

no desenvolvimento de instalações com luz, projeções mapeadas<br />

e experiências multimídia, a equipe foi contratada pela Viparis<br />

– gigante francesa do ramo de gerenciamento de eventos<br />

corporativos – para a realização de uma instalação em um de seus<br />

espaços para conferências, o Paris Expo Porte de Versailles.<br />

Sob uma ponte pela qual o maior anel viário parisiense<br />

cruza a Paris Expo, a instalação é uma resposta afirmativa à<br />

indagação recebida pelo estúdio ainda em 2014. O tráfego sobre<br />

a ponte é monitorado por meio de duas câmeras exclusivas, que<br />

transmitem o material a um servidor. As informações captadas<br />

quanto à velocidade e à densidade de tráfego são continuamente<br />

analisadas por um sistema de controle chamado LightAct –<br />

desenvolvido pelo VISIBLE –, que gera, em tempo real, padrões<br />

que são traduzidos pelas luminárias instaladas sob a ponte.<br />

Inúmeras experiências foram realizadas pela equipe do<br />

VISIBLE, com o objetivo de “ensinar” ao software o que ele<br />

deveria rastrear. Por meio de um algoritmo inteligente, o sistema<br />

detecta automaticamente o tipo, a posição e a velocidade dos<br />

veículos na rodovia. Colocar o sistema em funcionamento foi a<br />

maior dificuldade enfrentada durante o projeto, segundo Mitja<br />

Prelovsek, CEO do VISIBLE, já que eles foram autorizados a<br />

instalar suas câmeras somente em um dos lados da rodovia, o<br />

que dificulta o rastreamento.<br />

O projeto de iluminação foi desenvolvido em conjunto com<br />

o escritório francês de arquitetura e lighting design Seulsoleil<br />

e se baseia em uma suave ondulação de manchas luminosas,<br />

cuja vivacidade e densidade crescem proporcionalmente ao<br />

tráfego. As luzes são magentas e azuis sob a direção norte da<br />

rodovia e laranja sob o sentido sul.<br />

Seus criadores acreditam que o projeto ilustra a extensão<br />

que pode ser alcançada pela inteligência e pela interatividade<br />

nas instalações luminosas contemporâneas. “A adição de uma<br />

camada responsiva à iluminação geralmente traz benefícios à<br />

experiência como um todo. A escolha quanto ao que a luz vai<br />

reagir, no entanto, depende do local em particular. Poderá ser<br />

o vento, o sol, as pessoas ou, como nesse projeto, o tráfego”,<br />

relata Mitja. (D.T.)<br />

38 39


3<br />

4<br />

1 2<br />

Imagens: Destination NSW/James Horan<br />

¿QUÉ PASA?<br />

VIVID SYDNEY 2017<br />

Considerado o maior festival de luzes, música e ideias do<br />

mundo, Vivid Sydney transforma, todos os anos, o famoso<br />

porto da cidade australiana em uma exposição de arte a céu<br />

aberto. Organizado e produzido pela agência de turismo<br />

e grandes eventos do governo do estado de New South<br />

Wales, o festival é dividido em três grandes segmentos: Vivid<br />

Light, que apresenta instalações luminosas e projeções em<br />

grandes escalas; Vivid Music, que oferece performances e<br />

colaborações musicais – incluindo apresentações na Sydney<br />

Opera House; e Vivid Ideas, um espaço para debates e<br />

discussões para a promoção de estímulos criativos, muitos<br />

deles tendo a luz como foco. A edição deste ano do festival<br />

aconteceu entre os dias 26 de maio e 17 de junho e recebeu,<br />

somente no fim de semana de abertura, mais de 326 mil<br />

visitantes, batendo os recordes de público que já tinham sido<br />

superados no ano passado.<br />

Foram mais de 400 eventos musicais e cerca de 280<br />

debates e palestras. Já as instalações com luz foram mais de<br />

90, criadas por cerca de 180 artistas locais e internacionais.<br />

Dentre elas, destacou-se Dreamscape (1), um ousado projeto<br />

que conectou, por meio de 124.128 luzes, toda a área do<br />

Circular Quay – o principal terminal de balsas de Sydney<br />

–, desde a icônica Sydney Opera House até a ponte Sydney<br />

Harbour Bridge. A instalação era interativa, possibilitando aos<br />

participantes controlar cor, textura e comportamento das luzes,<br />

o que rendeu a seus criadores, o estúdio 32 Hundred Lighting,<br />

o prêmio de “maior instalação de iluminação interativa”,<br />

conferido pela organização do Guinness World Records.<br />

As projeções têm ganhado cada vez mais força e<br />

expressividade dentre as obras apresentadas no festival. Em<br />

Magicians of the Mist (2), 12 enormes bombas lançavam no ar<br />

28 toneladas de água por minuto, criando um paredão aquático<br />

com mais de 2 mil metros quadrados sobre o qual eram<br />

projetadas imagens, combinadas a músicas, labaredas, lasers e<br />

fogos de artifício. Já a austera e geométrica fachada do Museum<br />

of Contemporary Art Australia (MCA) foi completamente<br />

transformada por Organic Vibrations (3), composta de projeções<br />

mapeadas de imagens abstratas – desenhadas originalmente<br />

à mão pelo artista –, as quais foram inspiradas em formas<br />

orgânicas e nas cores da natureza.<br />

Provavelmente a mais aguardada instalação do festival, a<br />

projeção mapeada sobre as “velas” da Sydney Opera House,<br />

nesta edição intitulada Lighting the Sails: Audio Creatures<br />

(4), buscou evocar o movimento das criaturas marinhas, as<br />

plumagens deslumbrantes dos pássaros e a iridescência da<br />

flora. As imagens foram acompanhadas de uma fascinante trilha<br />

sonora desenvolvida pelo DJ e produtor brasileiro de música<br />

eletrônica Amon Tobin. (D.T.)<br />

40 41


¿QUÉ PASA?<br />

8º LEDFORUM<br />

Falta pouco para a 8ª Edição do congresso de iluminação<br />

mais importante do Brasil. Com inscrições esgotadas, o<br />

LEDforum 2017 promete repetir o sucesso de suas edições<br />

anteriores, proporcionando a oportunidade de aprender e refletir<br />

com as palestras proferidas por grandes figuras do universo do<br />

lighting design e de especialidades correlatas.<br />

Já foi confirmada boa parte dos palestrantes inter–<br />

nacionais deste ano: a designer e estudante de iluminação<br />

panamenha baseada em Paris Catherine Pérez Vega,<br />

ganhadora do concurso Light Symposium Paper Competition<br />

2016 (evento parceiro do LEDforum e patrocinado pela<br />

<strong>L+D</strong>), em Wismar, Alemanha; o artista alemão e especialista<br />

em mídia digital Christopher Bauder, à frente do renomado<br />

estúdio WHITEvoid; o lighting designer neozelandês e<br />

educador em iluminação Christopher “Kit” Cuttle; o lighting<br />

designer brasileiro radicado nos Estados Unidos Claudio<br />

Ramos, titular do premiado escritório Electrolight; a lighting<br />

designer norte-americana Emily Monato, sócia-diretora<br />

do Cooley Monato Studio (CoMoS); o arquiteto e lighting<br />

designer israelense Hanan Peretz; a lighting designer<br />

espanhola Nora Imaz; o lighting designer mexicano Victor<br />

Palacio, atual presidente da International Association of<br />

Lighting Designers (IALD); e o premiado lighting designer<br />

francês, radicado em Santiago, Chile, Pascal Chautard.<br />

Fique atento ao nosso site para saber mais sobre<br />

confirmações de novos palestrantes, detalhes do programa,<br />

horários, patrocinadores, apoiadores e muito mais!<br />

8º LEDforum<br />

17 e 18 de agosto<br />

Inscrições no site<br />

ledforum.com.br<br />

42 43


¿QUÉ PASA?<br />

LUZ, FOTO E POESIA<br />

Imagens: Fernando Laszlo<br />

Acontece até 30 de julho em São Paulo a<br />

exposição LuzEscrita, no Espaço Cultural Porto<br />

Seguro. A mostra traz em suas 60 obras a<br />

integração da fotografia e da poesia por meio<br />

da luz, pelas mãos dos artistas Fernando Laszlo,<br />

Arnaldo Antunes e Walter Siqueira. O projeto<br />

foi desenvolvido ao longo dos últimos 15 anos,<br />

idealizado por Laszlo, que buscou, pela poesia de<br />

Arnaldo e de Siqueira, traduzir a palavra fotografia.<br />

A exposição já percorreu cidades brasileiras<br />

como Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília e a<br />

cidade portuguesa Vila Nova de Cerveira e continua<br />

em constante transformação, levando a cada nova<br />

locação obras geradas a partir das etapas anteriores.<br />

Na chegada a São Paulo, LuzEscrita apresenta nove<br />

obras inéditas.<br />

O circuito de visitação se dá em duas etapas:<br />

primeiro nas Salas Claras, onde estão expostas<br />

as fotografias nas longas paredes brancas e com<br />

grande presença de luz, e, em seguida, na Sala<br />

Escura, que tem as paredes e o teto pintados de<br />

preto e luz controlada, a fim de chamar a atenção<br />

para as obras e desvendar um pouco dos processos<br />

que levaram ao resultado observado nas fotografias<br />

do circuito anterior.<br />

Ao ver os objetos luminosos que deram origem<br />

às fotografias no ambiente completamente escuro,<br />

percebe-se como a luz – ou, ainda, a falta dela – mexe<br />

com muito mais sentidos além da visão. A mostra<br />

explora também os sons, as sensações e as emoções<br />

ao fazer o visitante percorrer os escuros corredores<br />

sem saber ao certo o que encontrará ao final.<br />

Com projeto de iluminação de Fernanda<br />

Carvalho, a exposição nos convida a vivenciar as<br />

diferentes percepções e explorar nossos sentidos<br />

em um ambiente de integração entre luz e sombra,<br />

onde as várias linguagens artísticas interagem e nos<br />

provocam. (Estudio Carlos Fortes)<br />

44 45


As duas extensas fachadas visÍveis a partir da movimentada<br />

Marginal Pinheiros, em São Paulo, foram iluminadas por meio de<br />

uma malha de pontos de LED RGB 3,5 W/ 1.200 lm, individualmente<br />

programáveis. A luz dos LEDs fixados na alvenaria é difundida pelo<br />

revestimento externo de tijolos de vidro.<br />

UM ESPETÁCULO<br />

DE LUZES<br />

Texto: Débora Torii | Fotos: Nelson Kon<br />

Inaugurado no ano passado na cidade de São Paulo, o Teatro<br />

Santander chama a atenção na paisagem noturna da Marginal<br />

Pinheiros. Por trás do elegante e imponente projeto de<br />

iluminação está a equipe do studioix, sob comando do lighting<br />

designer Guinter Parschalk, que teve como parceiros o escritório<br />

paulistano AIC Arquitetura e Urbanismo, responsável pelo projeto<br />

de arquitetura, e os norte-americanos da Eskew+Dumez+Ripple<br />

Architecture, incumbidos do projeto da sala de espetáculos.<br />

Posteriormente, a Edo Rocha Arquitetura também passou a<br />

integrar o time, ficando encarregada do projeto para a fachada<br />

do edifício. Além da função de teatro, o empreendimento foi<br />

concebido pela equipe para funcionar como um espaço cultural<br />

multiúso, preparado para abrigar desde musicais, concertos,<br />

desfiles de moda, shows e dramaturgia até eventos corporativos.<br />

Com escopo bastante abrangente, incluindo não apenas as<br />

áreas sociais mas também as técnicas (com exceção da iluminação<br />

cênica para o palco), o conceito do projeto de iluminação foi<br />

desenvolvido principalmente a partir de elementos lineares, parte<br />

da linguagem do projeto de arquitetura. Dessa maneira, foram<br />

priorizadas as soluções de iluminação indireta, o que possibilitou<br />

a manutenção dos forros livres de interferências visuais.<br />

46 47


Na página anterior, o<br />

saguão principal, que<br />

foi iluminado por meio<br />

de equipamentos com<br />

módulos LED 19,8 W/<br />

10°/ 3.000 K embutidos<br />

nos fechamentos<br />

verticais entre as<br />

vigas transversais,<br />

iluminando-as<br />

longitudinalmente. Essa<br />

iluminação indireta é<br />

complementada por<br />

uma série de luminárias<br />

orientáveis com<br />

módulos LED 13,2 W/<br />

35°/ 3.000 K instaladas<br />

no forro, nos intervalos<br />

entre as vigas. Abaixo,<br />

a parede curva que<br />

acomoda os balcões da<br />

loja, da bilheteria e do<br />

café, cujo revestimento<br />

de madeira foi ressaltado<br />

por meio de sanca<br />

wallwasher com<br />

lâmpadas fluorescentes<br />

tubulares 25 W/ 3.000 K.<br />

Nesta página,, a escada<br />

social, iluminada<br />

homogeneamente por<br />

meio de lâmpadas<br />

fluorescentes<br />

tubulares 25 W/<br />

3.000 K dimerizáveis,<br />

instaladas por trás<br />

de lonas tensionadas<br />

translúcidas em suas<br />

faces inferiores.<br />

Esse é o caso do saguão principal, cujo teto é composto<br />

de diversas vigas transversais com acabamento de gesso<br />

branco, que permitiram o ocultamento de luminárias nos<br />

fechamentos laterais de cada um dos vãos entre elas, em ambas<br />

as extremidades. Os projetores – cujo facho concentrado foi<br />

definido após a realização de testes na obra – iluminam as<br />

vigas longitudinalmente, criando um suave dégradé luminoso.<br />

Já a luz refletida pelas vigas é suplementada por uma série<br />

de downlights instalados no forro, que, de maneira quase<br />

imperceptível, iluminam suavemente o espaço.<br />

Nas extremidades do saguão situam-se as circulações sociais<br />

verticais do edifício: de um lado, os elevadores, cujo hall recebeu<br />

iluminação por meio de sancas para iluminação indireta; de<br />

outro, a escada de estrutura metálica, cujas faces inferiores foram<br />

convertidas em superfícies luminosas por meio da aplicação<br />

de lonas tensionadas translúcidas retroiluminadas, que a<br />

transformaram em um imponente elemento luminoso que<br />

transparece na fachada através de sua envoltória de vidro.<br />

Na parede oposta à entrada principal do saguão – onde se<br />

localizam a bilheteria, a loja e o café –, o acabamento de madeira<br />

de tonalidade clara foi ressaltado por meio de uma sanca tipo<br />

wallwasher, que acompanha sua curvatura. Essa linguagem se<br />

estendeu por todas as circulações horizontais do edifício, o<br />

que contribuiu para realçar o acabamento vermelho-alaranjado<br />

dos corredores laterais à sala de espetáculos. Nesses locais,<br />

a intenção dos lighting designers também foi fornecer aos<br />

espectadores um ponto de referência, mantendo iluminados os<br />

planos verticais opostos a todas as saídas do ambiente, além<br />

de fazer suas propriedades de acabamento presentes também<br />

no interior do teatro.<br />

48 49


À esquerda, as<br />

circulações laterais à<br />

sala de espetáculos,<br />

cujos acabamentos<br />

avermelhados foram<br />

valorizados por meio de<br />

sancas wallwasher com<br />

lâmpadas fluorescentes<br />

tubulares 50 W/ 3.000 K<br />

dimerizáveis. Os degraus<br />

foram sinalizados, em<br />

suas extremidades,<br />

com balizadores de piso<br />

equipados com LEDs 1 W/<br />

3.000 K, emitindo luz<br />

difusa. À direita,<br />

a sala de espetaculos,<br />

cuja iluminacao principal<br />

é indireta, proveniente<br />

de perfis lineares de<br />

LEDs 25,2 W/m 3.000 K,<br />

instalados a 45o por trás<br />

dos painéis prismáticos<br />

executados nas paredes.<br />

A iluminação geral da<br />

sala é complementada por<br />

projetores orientáveis com<br />

módulos LED 19,8 W/ 25°/<br />

3.000 K instalados no forro.<br />

A sala de espetáculos, com capacidade total para até 2.085<br />

espectadores, é predominantemente iluminada de maneira<br />

indireta. O projeto de iluminação beneficiou-se dos painéis em<br />

forma de prisma, executados em madeira acústica na porção<br />

superior das paredes laterais – cuja angulação foi cuidadosamente<br />

calculada pelo projeto de arquitetura –, por trás dos quais foram<br />

instalados perfis de LED. A luz emitida de baixo para cima<br />

ressalta o relevo em formatos triangulares dos painéis, além de<br />

transformá-los em refletores, em resposta à tonalidade clara<br />

da madeira utilizada em seu acabamento. Como complemento<br />

à iluminação geral do espaço, projetores com LEDs de alto<br />

fluxo luminoso foram distribuídos linearmente pelo forro<br />

da sala, solução que se estende também à plateia superior.<br />

50 51


52 53


A fachada se sobressai à discrição da iluminação das áreas<br />

internas. Com duas faces constituídas de blocos de tijolos de vidro,<br />

situadas a 60 centímetros da parede de alvenaria branca que<br />

delimita o edifício, as fachadas tiveram a iluminação inicialmente<br />

idealizada pela Edo Rocha com tecnologia laser. Os lighting<br />

designers então iniciaram uma extensa pesquisa em busca de<br />

transformar a ideia em solução viável, o que não se efetivou.<br />

Apesar de inovadora, a tecnologia se mostrou arriscada quando<br />

comparada ao LED, cujo comportamento é mais bem conhecido,<br />

além de apresentar outras vantagens técnicas. “O efeito poderia<br />

até ser interessante, apesar de relativamente sutil. No entanto,<br />

o laser possui ciclo de vida muito curto, o que demandaria a<br />

substituição constante dos equipamentos”, explica Guinter.<br />

Com esses argumentos, somados a testes in loco com ambas as<br />

tecnologias, laser e LED, a equipe do studioix convenceu cliente<br />

e arquiteto a optar pela segunda opção.<br />

Foi desenhada então uma malha de 70 × 70 centímetros<br />

composta de pontos de LED RGB individualmente programáveis,<br />

instalados sobre a superfície de alvenaria, cuja luz é difundida<br />

pela pele de vidro à frente. O sistema possibilita desde uma<br />

aparência monocromática, com transição de cores, até a<br />

exibição de imagens em baixa resolução e de mensagens de<br />

interesse público. Um verdadeiro espetáculo luminoso no palco<br />

da Marginal Pinheiros.<br />

O volume da escada<br />

social, à esquerda,<br />

foi um elemento da<br />

arquitetura elegantemente<br />

potencializado por sua<br />

iluminação. Seu fechamento<br />

exterior de vidro permite<br />

que a luz difusa e uniforme<br />

dessa circulação vertical<br />

transpareça na fachada do<br />

edifício. À direita, a fachada<br />

do teatro, cujas superfícies<br />

iluminadas somam uma<br />

área de mais de 2 mil<br />

metros quadrados.<br />

TEATRO SANTANDER<br />

São Paulo, Brasil<br />

Projeto de iluminação:<br />

studioix – Guinter Parschalk (titular), Vinícius Malaco,<br />

Maria Carolina Braga e Taíssa Martins (colaboradores)<br />

Projeto da fachada:<br />

Edo Rocha Arquitetura<br />

Projeto de interiores:<br />

EDR – Eskew+Dumez+Ripple Architecture / AIC Arquitetura<br />

Fornecedores:<br />

Centru, Light Design + Exporlux, Lumini, New Energy,<br />

Osram, Tensoflex, Traxon<br />

54 55


Avenida Paulista, 52. A fachada de madeira da Japan House<br />

é iluminada, no pátio de entrada, por projetores fixados no<br />

piso equipados com lâmpadas LED. Ao fundo, a iluminação<br />

interna aparece filtrada pelas peças de madeira, marcando<br />

dois pavimentos do centro cultural.<br />

MADE IN...<br />

Texto: Andre Becker | Fotos: Rafaela Netto<br />

Uma estrutura recíproca é composta de barras estruturais<br />

independentes, de tamanhos relativamente pequeno. Por<br />

meio de arranjos geométricos e “meros” encaixes, essas<br />

barras vão se solidarizando, apoiando e sendo apoiadas mutuamente<br />

e conseguem vencer vãos e gerar estruturas muito maiores e mais<br />

ricas do que pareceria possível apenas com os elementos isolados.<br />

A Japan House é uma iniciativa recente do governo japonês<br />

para a “difusão de todos os elementos da cultura japonesa para<br />

a comunidade internacional”. São Paulo, assim como Londres<br />

e Los Angeles, foi escolhida para receber a primeira geração<br />

desses espaços.<br />

Localizada no início da Avenida Paulista, o primeiro elemento<br />

que se destaca no projeto, cobrindo parte da fachada do prédio,<br />

delimitando o lote, criando uma pracinha interna e fazendo a<br />

mediação com a calçada, é uma bela estrutura recíproca de<br />

madeira. Ela tem vãos grandes o suficiente para ser convidativa;<br />

é visualmente permeável, o suficiente para ser instigante; é<br />

tecnicamente interessante e legível para os transeuntes; é um<br />

elemento quase abstrato, mas claramente identificado com<br />

a cultura japonesa; e seu aspecto intrinsicamente solidário<br />

é adequado ao desenvolvimento de um projeto como esse,<br />

com equipes técnicas, criativas, burocráticas e políticas no<br />

Brasil e no Japão.<br />

A arquitetura é de autoria do japonês Kengo Kuma (autor,<br />

entre outros projetos, do estádio olímpico dos Jogos Olímpicos<br />

de Tóquio, em 2020), em parceria com os paulistanos do<br />

FGMF (autores de inúmeros projetos premiados dentro e<br />

fora do Brasil). A iluminação é de Marcos Castilha, parceiro<br />

costumaz de projetos do FGMF. E, por se tratar da reforma de<br />

um imóvel existente, todas as surpresas e rearranjos naturais<br />

de uma obra dessa complexidade são mais um elemento de<br />

redistribuição dinâmica de esforços em uma estrutura solidária<br />

no decorrer do projeto.<br />

56 57


Nesta página, o pátio que recebe os visitantes está fechado. O portão de correr com a mesma estrutura de madeira mantém a<br />

permeabilidade visual e não obstrui os projetores que iluminam a parte fixa, conferindo identidade a Japan House.<br />

No centro, o eixo do hall de entrada com downlights embutidos de LED, 67° de facho, 10,5 W, 3.000 K e recuos antiofuscamento.<br />

À esquerda, a biblioteca e o balcão do café. Madeira e metal fosco são iluminados por projetores com lâmpadas de LED tipo<br />

AR111 dimerizáveis, 12° e 25° de facho, 20 W, 3.000 K. A marcenaria do forro é destacada por meio de iluminação indireta feita<br />

por perfil linear de LED, 120o de facho, 7,2 W/m, 3.000 K.<br />

Um ponto interessante a se observar é o tamanho comedido<br />

do espaço. São três pavimentos em menos de 2.000 metros<br />

quadrados de área total, dos quais boa parte é destinada a<br />

escritórios e administração. Contudo, essa característica<br />

se mostra um acerto, pois proporciona espaços culturais e<br />

comerciais mais intimistas, o que torna possível fazer uma<br />

visita completa e olhar com atenção toda a exposição, a<br />

biblioteca, as lojas de produtos nipônicos, tomar um café ou<br />

sentar-se no restaurante de Jun Sakamoto, sem a angústia<br />

comum que se sente em grandes museus, espaços e exposições<br />

de ou não olhar todo o acervo, ou apenas passar os olhos<br />

rapidamente em tudo.<br />

O projeto em si começa na gentil praça semipública, onde<br />

a ponta triangular do lote tem as laterais para a calçada,<br />

mediadas pela estrutura recíproca de madeira; e a fachada<br />

do edifício voltada para essa praça interna recebe um painel<br />

de cobogó – elemento clássico da arquitetura brasileira para a<br />

filtragem de luz e calor que formalmente guarda semelhança<br />

com a estrutura recíproca densa utilizada aqui.<br />

Por ser um espaço externo e escultórico, a iluminação<br />

podia ser mais livre, e até por isso as possibilidades eram mais<br />

amplas. Kuma, num primeiro momento, queria iluminar a fachada<br />

de madeira a partir da rua. Talvez no Japão os trâmites para<br />

iluminar algo privado a partir do espaço público sejam mais<br />

amigáveis, no Brasil, porém, essa hipótese acabou descartada.<br />

Marcos Castilha desenvolveu estudos avaliando o uso de<br />

projetores pontuais, projetores lineares, LEDs aplicados nas<br />

madeiras, etc. No entanto, a solução acabou amadurecendo<br />

quase de improviso. Lourenço Gimenez, do FGMF, avisou<br />

Castilha que Kengo Kuma estaria no Brasil para visitar a<br />

obra, e eles providenciaram rapidamente projetores para<br />

uma sessão de testes. Assim, ao fim do dia, todos foram<br />

ao local experimentar diversos efeitos e posicionamentos<br />

de equipamento para lidar com a estrutura bruxuleante e<br />

vazada, dando subsídios ao projeto final de Castilha, que<br />

locou cuidadosamente projetores pelo piso e em alguns<br />

pontos elevados do pátio, voltados à estrutura de madeira e<br />

também aos cobogós do pátio interno.<br />

Dali, um pequeno corredor leva à recepção da Japan House.<br />

Um balcão dá suporte ao visitante logo na entrada, contígua<br />

à exposição e ao café e livraria, uma vez que o acesso é livre.<br />

Tanto pela escala do projeto como por seu princípio norteador<br />

(poucos elementos extremamente detalhados e adequados;<br />

nada supérfluo ou desnecessário), Castilha utilizou uma<br />

palheta reduzida de modelos e fontes luminosas. No corredor<br />

de acesso, há um dos padrões de luminária que se repetem,<br />

quando adequado, em outros pontos do projeto: downlights<br />

embutidos com recuos antiofuscamento, 67° de facho.<br />

58 59


Abaixo, à esquerda, o andar térreo, com pé-direito maior, tem forro branco com placas de metal e papel Washi. Projetores brancos<br />

para LED tipo AR111 dimerizáveis, 12° e 25° de facho, 20 W, 3.000 K, paginados de acordo com as placas de forro. Acima, o andar<br />

superior: pé-direito menor e concreto aparente recebem projetores similares aos do térreo, porém na cor grafite.<br />

Um elemento das áreas internas do edifício reformado que<br />

marca todo o projeto são as vigas aparentes bem robustas. Elas<br />

ficam visíveis, assim como toda a infraestrutura elétrica e de<br />

ar-condicionado. Essas vigas são elementos arquitetônicos e<br />

base modular para o layout da iluminação.<br />

No primeiro pavimento, vigas e demais infraestruturas<br />

são pintadas de branco. E um elemento adicional importante<br />

faz parte do teto: uma quantidade grande de placas brancas<br />

vazadas, aplicadas num desenho dinâmico com diferentes ritmos<br />

e alturas, compostas de telas metálicas expandidas mescladas ao<br />

tradicional papel japonês Washi. Essas placas foram desenvolvidas<br />

especialmente para divisórias e forros do projeto pelo artesão<br />

Yasuo Kobayashi. Esse elemento se transformou em um desafio<br />

adicional para Castilha, que especificou distâncias e um raio<br />

de abertura mínimo entre placas quando perto dos trilhos de<br />

iluminação. Em alguns momentos, e de alguns ângulos, essas<br />

placas se sobrepõem e filtram a luz, gerando um efeito interessante.<br />

Nos trilhos alocados na modulação estrutural existente, foram<br />

especificados diferentes tipos de projetor em circuitos distintos,<br />

para criar a flexibilidade necessária a um espaço dinâmico<br />

como esse. Projetores cillíndricos dimerizáveis para lãmpadas<br />

LED, com recuo antiofuscamento e aberturas de 25° e 12°, são<br />

controlados por sistema de automação. Iluminância e índice<br />

de reprodução de cor foram cuidados permanentes do projeto,<br />

tanto pela demanda bastante elevada de iluminância mínima<br />

pela equipe de Kuma como pelo próprio esmero de Castilha.<br />

No segundo pavimento, o pé-direito é um pouco menor,<br />

e não há placas se sobrepondo ao vigamento. Aqui, as vigas<br />

estão em concreto aparente, assim como a maioria das lajes<br />

entre vigas. Alguns panos de laje foram pintados de branco,<br />

criando uma composição de contrastes. Nesse pavimento, os<br />

trilhos, as peças de iluminação e os elementos de infraestrutura<br />

e ar-condicionado foram pintados de grafite, “sumindo” contra<br />

o concreto e destacando-se contra o eventual fundo branco,<br />

sempre com diversidade de circuitos por trilho e flexibilidade<br />

para a instalação de peças distintas de iluminação.<br />

60 61


À esquerda, a escultura Conexão 2017, de Chikuunsai IV Tanabe, é destacada por projetores microelipsoidais com zoom de 15° a 40° na<br />

própria luminária e lâmpadas halógenas dicroicas 50 W, 3.000 K. Esse projetor para destaques das exposições trabalha em conjunto<br />

com os projetores para LED que permeiam os trilhos do projeto de iluminação e criam a iluminação geral. Acima, o restaurante Junji, de<br />

Jun Sakamoto, fechado sutilmente pelas telas de Washi, com os projetores iluminando os planos de madeira.<br />

Para entender a inserção precisa da iluminação no projeto,<br />

é interessante perceber as texturas. Os pisos são de madeira<br />

clara e de cimento queimado; as paredes, brancas; guardacorpos,<br />

de vidro e divisórias e forros, de papel Washi, com<br />

efeito semelhante à tela expandida, mas com a textura mais<br />

rústica do trabalho manual. O que marca o projeto de Kuma,<br />

FGMF e Castilha é esse diálogo entre uma linha industrial e<br />

uma série de elementos que traz o artesanal para o espaço, mas<br />

distante do romantismo saudosista, um artesanal absolutamente<br />

adequado e minimalista que humaniza o espaço mantendo<br />

princípios técnicos contemporâneos e coerentes, trazendo<br />

muito do fazer tradicional misturado com a tecnologia de<br />

ponta que caracteriza o Japão e criando um ambiente e uma<br />

experiência totalmente coesos, em uma escala precisa.<br />

JAPAN HOUSE<br />

São Paulo, Brasil<br />

Projeto de iluminação:<br />

Castilha Iluminação<br />

Marcos Castilha (arquiteto titular)<br />

Larissa Oliveira (colaboradora)<br />

Projeto de arquitetura:<br />

Kengo Kuma and Associates<br />

Projeto local de arquitetura:<br />

FGMF Arquitetura<br />

Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo<br />

Marcondes Ferraz, arquitetos titulares<br />

Luminárias:<br />

Altena, Brilia, Itaim, Ledplus, LIS, Lumicenter,<br />

Philips, Powerlume, Reka, Telem<br />

62 63


O hall dos elevadores recebeu forro especial com instalação<br />

luminosa de silhuetas de garrafas em backlight, iluminada por<br />

fluorescentes LED 18 W e 3.000 K. O balcão principal, visto na<br />

chegada, está integrado a um forro com pintura de laca vermelha,<br />

que recebeu downlights e uma luminária linear de LED 2.700 K, que<br />

realça a cor vermelha e ilumina a logomarca da empresa.<br />

LUZ QUE<br />

COMUNICA<br />

Texto: Fernanda Carvalho | Fotos: André Nazareth<br />

O<br />

edifício sede da Coca-Cola, localizado em frente à<br />

Praia de Botafogo no Rio de Janeiro, teve seu último<br />

andar inteiramente repaginado por ocasião das<br />

Olimpíadas, sediadas na cidade em 2016. Com o privilégio<br />

de uma vista deslumbrante, o andar foi remodelado com um<br />

visual pautado pela forte presença da comunicação visual da<br />

empresa. A arquiteta Bia Petrus, da Foco 153 Arquitetura, ficou<br />

responsável por dar aos interiores o tratamento visual adequado<br />

à proposta do espaço: um ambiente moderno e descolado, com<br />

as instalações de infraestrutura aparentes e organizadas. A<br />

iluminação, totalmente integrada à arquitetura, ficou a cargo<br />

do escritório RBF Arquitetura de Iluminação, das arquitetas<br />

titulares Monica Rio Branco e Giani Faccini.<br />

A principal intenção do projeto de iluminação foi conferir<br />

flexibilidade aos sistemas de iluminação, porém com máxima<br />

integração das luminárias à arquitetura de interiores. Era<br />

desejável que as estruturas estivessem visíveis, porém de<br />

forma organizada e limpa no teto. Outra premissa que permeou<br />

o projeto foi a ideia de que a luz estivesse visível, mas com<br />

as fontes luminosas escondidas. Segundo Giani, mimetizar as<br />

fontes de luz aos suportes da arquitetura ajudaria a trazer essa<br />

organização das instalações.<br />

<strong>64</strong> 65


Acima, o lounge tem instalações de teto aparentes em que foram<br />

posicionados projetores LED 2.700 K para destacar o mobiliário.<br />

O lustre customizado criado em parceria com a arquitetura mostra<br />

pequenas garrafas iluminadas. Do lado, no hall de acesso aos<br />

restaurantes e à cozinha, um rasgo luminoso preenchido por perfil<br />

em aço inox, fita de LED 9,7 W/m e 27.000 K, com difusor de<br />

acrílico leitoso, é a unica fonte de luz, proporcionando uma<br />

experiência impactante para quem entra. Na imagem à direita da<br />

página seguinte, detalhe da sala do restaurante VIP.<br />

O andar tem auditório com capacidade flexível, lounge,<br />

restaurante com área VIP e um bar para uso reservado. Todos<br />

os espaços são multiúso, podendo ser usados para diversos<br />

tipos de evento. A iluminação acompanha essa premissa ao<br />

utilizar diferentes fontes de luz para criar efeitos variados:<br />

pontos de destaque, áreas de luz difusa, iluminação de planos<br />

verticais e horizontais.<br />

A onipresença da cor vermelha levou as projetistas a optar<br />

por um tom mais quente para a temperatura de cor das fontes de<br />

luz brancas, todas com 2.700 K. A distribuição da luminosidade e<br />

sua disposição pelos espaços de múltiplo uso ajudam a desenhar<br />

esses espaços, ora destacando mobiliários e planos verticais, ora<br />

permitindo áreas de penumbra e sombra. Segundo Giani, essa<br />

distribuição não homogênea evita que os ambientes se tornem<br />

monótonos e permite a valorização de pontos de interesse.<br />

66 67


Na página anterior, pendente criado especialmente para a mesa do restaurante VIP usa lâmpadas halógenas 40 W com base espelhada,<br />

cuja luz é complementada por projetores instalados na estrutura aparente. No bar, uma caixa de tela tensionada, com interior iluminado<br />

por fluorescentes T5 28 W e 3.000 K, remete a um cubo de gelo. Na parede do fundo, garrafinhas cenográficas contam com um efeito<br />

de luz em cada base. Acima, o auditório recebeu perfis de LED RGB controlados por sistema de automação para mudança de cenas e<br />

projetores LED 2.700 K. Ao lado, a mesa do refeitório VIP e a vista para a Baía de Botafogo, filtrada pelas telas solares que garantem a<br />

convivência harmônica da luz natural com a artificial.<br />

Luminárias especiais decorativas foram criadas especialmente<br />

para o projeto, em conjunto com a arquiteta. A solução de<br />

garrafinhas em backlight utilizada no teto do hall de elevadores<br />

já havia sido implantada em outros pavimentos do edifício e<br />

foi repetida para conferir unidade aos andares. Outras são<br />

inteiramente novas, como é o caso da parede escura com<br />

garrafinhas iluminadas individualmente e do pendente customizado<br />

sobre a mesa do restaurante VIP.<br />

O controle da iluminação é automatizado, e os efeitos<br />

são dimerizados a fim de permitir que o desenho de cada<br />

ambiente receba uma regulagem fina de intensidade e cenas<br />

de luz. O auditório, por exemplo, pode ser usado tanto para<br />

treinamentos, palestras e apresentações com iluminâncias<br />

variadas quanto para festas e eventos mais descontraídos, sem<br />

a necessidade de instalar luminárias provisórias. O ambiente<br />

conta com iluminação direta por meio de projetores LED,<br />

que podem ser controlados individualmente, além de uma<br />

iluminação mais cênica, proporcionada por barras de LED<br />

RGB, controladas de forma independente, com a possibilidade<br />

de mudar de cor.<br />

A automação também está presente no tratamento da luz<br />

natural. Todos os ambientes voltados para a vista panorâmica<br />

contam com telas solares controladas digitalmente. A trama da<br />

tela controla a luminosidade que vem de fora, ao mesmo tempo<br />

que mantém a possibilidade de visualizar o exterior, permitindo<br />

que arquitetura, luz e paisagem estejam em equilíbrio.<br />

COCA-COLA – PAVIMENTO VIP<br />

Rio de Janeiro, Brasil<br />

Projeto de iluminação:<br />

RBF Arquitetura de Iluminação<br />

Monica Rio Branco e Giani Faccini (arquitetas titulares)<br />

Projeto de arquitetura e de interiores:<br />

Foco 153 Arquitetura<br />

Bia Petrus (arquiteta titular)<br />

Fornecedores:<br />

Dimlux, Ledplus, Ledprofiles, Lumini, Osram/Traxon<br />

(Jacobina Representações), Tensoflex<br />

68 69


BARNEYS NEW YORK, DOWNTOWN<br />

Texto: Orlando Marques | Fotos: Scott Frances<br />

“Um exemplo perfeito de elegante simplicidade”, assim<br />

definiu um dos jurados do 34º IALD Awards sobre<br />

o projeto da loja flagship Barneys de Nova York,<br />

vencedor do prestigioso prêmio Award of Excellence, concedido<br />

pela Associação Internacional de Lighting Designers – IALD.<br />

Realizado pelo estúdio nova-iorquino CoMoS, acrônimo<br />

de Cooley Monato Studio, sobrenome das lighting designers<br />

titulares Renée Cooley e Emily Monato, a loja teve projeto de<br />

arquitetura de Steven Harris Architects.<br />

A loja ocupa 17.500 m² distribuídos em cinco andares de um<br />

antigo bloco residencial no bairro de Downtown da cidade de Nova<br />

York. Para sua inauguração e de volta à quadra onde a loja iniciou<br />

seus negócios em 1923, a marca encomendou ao diretor Bruce<br />

Weber uma série de curtas-metragens, parte da campanha Our<br />

Town, um tributo à cidade e a seus residentes.<br />

A relação com seu entorno também foi o ponto de partida<br />

para o projeto de arquitetura. A elegante escada em espiral criada<br />

pelos arquitetos, por exemplo, surgiu após a constatação da<br />

ausência de escadas rolantes na maioria das lojas desse tipo<br />

abaixo da Rua 34 da cidade, rua que divide os bairros de Midtown<br />

e Downtown. Localizada no coração do edifício da loja, ela liga o<br />

departamento de cosméticos do subsolo ao terceiro pavimento,<br />

onde também se encontra o notório restaurante Freds. De acordo<br />

com o arquiteto, a escada age como uma espécie de passarela,<br />

para ver e ser visto de um andar ao outro da loja. Além disso, seu<br />

átrio cria a ilusão de que os pés-direitos dos pavimentos são mais<br />

altos do que parecem.<br />

Em virtude do pé-direito baixo, característica de muitos edifícios<br />

residenciais nova-iorquinos, os arquitetos evitaram seccionar<br />

os ambientes. Dessa forma, criaram plantas sem divisórias que<br />

proporcionam circulações fluidas e ambientes amplos. Já o projeto<br />

do forro, em plano com altura única, tem papel fundamental na<br />

percepção desses espaços. Sua superfície lisa, com altura única,<br />

foi projetada como parte integral de outros planos verticais e<br />

horizontais do projeto, proporcionando, assim, “um certo conforto<br />

espacial”, como afirma o arquiteto.<br />

Seus interiores possuem uma paleta de cores neutra, ainda que<br />

variada, com o intuito de criar uma ambiência calma e tranquila que<br />

permite uma convivência harmônica entre as peças de mobiliário<br />

e as mercadorias expostas. Além disso, a abordagem discreta do<br />

projeto de arquitetura permitiu ao projeto de interiores incorporar<br />

uma série de elementos decorativos inspirados em trabalhos de<br />

artistas visuais relacionados à cena artística da cidade. Esse é o caso<br />

da composição de linhas verticais, e ocasionalmente horizontais<br />

e diagonais, gravadas no fechamento de vidro transparente do<br />

átrio da escada, inspirada nos trabalhos dos artistas Agnes Martin<br />

e Fred Sandback. No térreo, pavimento onde são expostos os<br />

acessórios femininos, as colunas foram revestidas de lâminas de<br />

aço inoxidável polido, inspirado no trabalho do artista minimalista<br />

John McCracken, solução que também ajuda na percepção mais<br />

ampla do espaço.<br />

Nesse contexto, o estúdio Cooley Monato desenvolveu um projeto<br />

que assegurasse conforto, unidade estética e amplitude espacial à<br />

loja, além de considerar a economia de energia e atender às rígidas<br />

normas técnicas locais. Todas as luminárias embutidas no forro,<br />

utilizadas principalmente para dar destaque às mercadorias, foram<br />

especificadas com desenho discreto e dimensões minimalistas,<br />

com a intuito de “desaparecer” no espaço. Demais equipamentos<br />

de iluminação foram integrados no tecido arquitetônico e em<br />

detalhes no mobiliário, com o mesmo objetivo.<br />

70 71


PONTO FOCAL<br />

A elegante escada espiral foi iluminada para ser um elemento<br />

de destaque da arquitetura. O projeto de iluminação previu luz<br />

integrada nos corrimões e uplights embutidos nos degraus.<br />

Essas luminárias possuem um rigoroso controle antiofuscamento<br />

feito de um anteparo ou, como explica Emily, “uma espécie de<br />

pálpebra que bloqueia o contato visual direto com a fonte de<br />

luz”. Para provar a eficiência da solução, além de convencer<br />

os arquitetos inicialmente relutantes em embutir luminárias<br />

no piso, foi realizado um mockup da escada em escala 1 : 1.<br />

Já o detalhe do corrimão foi “desafiado diversas vezes<br />

em diferentes níveis de complexidade”, comenta Emily. O<br />

detalhe deveria parecer limpo, sem marcas ou variação de<br />

temperaturas de cor dos pontos de LEDs. O projeto deveria<br />

também atender aos níveis de iluminâncias nos espelhos dos<br />

degraus, necessários para rota de fuga em caso de emergência.<br />

Além disso, as luminárias deveriam ser fornecidas a um<br />

custo baixo.<br />

VITRINES E LOJA<br />

A iluminação das vitrines da Barneys foi projetada com o<br />

intuito de atender às necessidades e às demandas que essas<br />

intricadas cenografias exigem. Para isso, foi previsto um sistema<br />

versátil de projetores em trilhos eletrificados, fixados no forro e,<br />

verticalmente, nas laterais das vitrines. Os projetores possuem<br />

diversas aberturas de facho, sendo alguns RGB para iluminação<br />

com efeitos especiais. As paredes do fundo também foram<br />

destacadas por iluminação linear rente à superfície e por<br />

microprojetores para destaque ou projeções.<br />

Para a iluminação da loja, além da camada para o destaque<br />

das mercadorias e da circulação, foi criada uma camada de<br />

iluminação difusa com o intuito de suavizar sombras nas feições<br />

humanas. Essa camada foi obtida por meio de luz refletida nas<br />

superfícies próximas às fontes de luz escondidas em detalhes<br />

no mobiliário ou integrados na arquitetura. Sancas no forro<br />

em forma de amebas foram iluminados de maneira indireta,<br />

contribuindo também para a camada de luz difusa e geral dos<br />

ambientes. Todas as fontes luz nesses espaços possuem a<br />

mesma temperatura de cor de 3.000 K.<br />

Na página anterior, vista da loja com<br />

destaque para o vazio da escada,<br />

ponto central do projeto. A escada foi<br />

iluminada por luminárias LED 1 W e 3.000 K<br />

embutidas no piso com anteparo<br />

antiofuscamento. Os corrimões receberam<br />

fitas de LED 15 W/m linear e 3.000 K,<br />

fixadas na lateral do detalhe, por fitas<br />

adesivas dupla face de alta aderência. No<br />

piso do setor dos cosméticos no subsolo, a<br />

camada de luz difusa e suave é obtida<br />

por meio de luminárias escondidas no<br />

tecido arquitetônico e mobiliário. As<br />

prateleiras, por exemplo, receberam fitas<br />

de LED 25,6 W/m linear e 3.000 K. Os<br />

espelhos, fixados nas colunas, receberam<br />

duas tiras verticais laterais, uma em cada<br />

extremidade, para iluminação difusa.<br />

72 73


74 75


FREDS<br />

O icônico restaurante localizado no terceiro pavimento da loja<br />

foi iluminado seguindo os mesmos princípios das demais áreas: uma<br />

camada de luz para destaque das mesas e do balcão do bar e outra<br />

para iluminação suave e difusa, por meio de iluminação refletida.<br />

Esse é o caso da iluminação do painel de madeira da entrada e do<br />

trabalho figurativo do artista norte-americano Connor Thompson.<br />

A pintura ocupa toda a principal parede do restaurante, oposta ao<br />

bar. Ela foi iluminada por sanca no forro e por iluminação escondida<br />

em detalhe atrás do sofá.<br />

A área do bar recebeu o ponto focal por meio do brilho nas garrafas<br />

iluminadas de baixo para cima, e a frente do balcão foi iluminado for<br />

LEDs fixados sob o tampo. A temperatura de cor especificada nesses<br />

ambientes foi de 2.700 K.<br />

Como a maioria dos projetos de sucesso, o de iluminação<br />

enfrentou enormes desafios, como prazos e orçamentos curtos e<br />

normas técnicas limitadoras. Nessa realidade, os designers tiveram<br />

menos tempo para testar ideias e coordenar a construção e o<br />

desenvolvimento de detalhes – imprescindível no processo do<br />

estúdio e, nesse caso, na realização do conceito do projeto. Segundo<br />

Emily, ela poderia encher uma página com todos os problemas que<br />

o projeto enfrentou. “Estamos aliviadas e um pouco surpresas pelo<br />

projeto ter sobrevivido. Parece que existe final feliz na realidade<br />

desafiadora do mercado de hoje.”<br />

No departamento de acessórios, na página dupla<br />

anterior, as mercadorias são destacadas por meio de<br />

luminárias embutidas no forro LED 14,8 W e 3.000 K, com<br />

acabamento discreto. Acima, à esquerda, as sancas com<br />

formato ameboide foram iluminadas por fitas de LED 24<br />

W/m e 3.000 K. No restaurante Freds, fitas de LED 11,2<br />

W/m linear e 2.700 K foram utilizadas em detalhes sob<br />

o tampo do balcão do bar e no sofá. Nas sancas, foram<br />

especificadas fitas de LED 2.700 K.<br />

BARNEYS<br />

Nova York, EUA<br />

Projeto de iluminação:<br />

Cooley Monato Studio – CoMoS<br />

Projeto de arquitetura:<br />

Steven Harris Architects<br />

Projeto executivo de arquitetura:<br />

Lalire March Architects<br />

Projeto de interiores:<br />

Lee Roberts + Partners<br />

Fornecedores:<br />

Aculux, Eklipse, Feelux, GE Lighting, LED Linear,<br />

Loupi, MP Lighting, OptoLum<br />

Palestrante do<br />

8º LEDforum<br />

76 77


Lâminas horizontais<br />

suavizam a<br />

luminosidade do<br />

painel translúcido, o<br />

que acaba reforçando<br />

a impressão de “luz<br />

natural”, um dos<br />

efeitos pretendidos<br />

pelos designers.<br />

Na outra página,<br />

downlights em LED<br />

têm acesso por meio<br />

do sótão sobre o teto,<br />

o mesmo que serve<br />

para recolher as fitas<br />

de LED articuladas e<br />

removíveis dos pilares.<br />

DO OPACO AO TRANSLÚCIDO<br />

Texto: Gilberto Franco | Fotos: Rafael Salsa Correa<br />

O<br />

edifício One Queen East, em Downtown Toronto, é um<br />

importante conjunto comercial constituído por uma<br />

torre envidraçada de 27 andares, com escalonamentos<br />

defasados ao topo e um lobby com um vazio de cinco andares.<br />

Concluído no início dos anos 1990, surgiu como uma integração<br />

ao 20 Richmond Street East, um edifício do final do século XIX,<br />

de arquitetura neorromânica, com largos arcos de tijolos, que<br />

sofrera um grande incêndio em 1984. Das cinzas desse incêndio,<br />

surgiu, além da recuperação dos danos do edifício histórico,<br />

ao custo de 11 milhões de dólares, a nova torre em questão. O<br />

sítio é hoje entendido como um landmark da região e da cidade.<br />

Por ser um local de passagem, que faz ligação tanto aos<br />

famosos caminhos peatonais subterrâneos de Toronto como à<br />

estação de metrô Queen, recebe diariamente um fluxo intenso<br />

de pessoas. Recentemente, os proprietários deram início a um<br />

processo de renovação, visando tornar o local mais atraente a todos<br />

– passantes, visitantes, inquilinos. Essa renovação, que continuará<br />

ainda por muitos anos, teve início com a remodelação do lobby,<br />

a cargo dos escritórios de arquitetura Building Arts Architects e<br />

WZMH Architects, com iluminação do arquiteto e lighting designer<br />

brasileiro Rafael Salsa Correa, antigo colaborador da então Franco<br />

+ Fortes Lighting Design, e hoje radicado no Canadá.<br />

78 79


ADICIONANDO LUMINOSIDADE<br />

Um dos aspectos que chama a atenção no lobby é a presença<br />

CUBOS DE GELO<br />

No mezanino, onde funciona uma área privada para eventos,<br />

Cubos luminosos que ajudam a<br />

amenizar os distúrbios causados<br />

pela privação da luz natural.<br />

de imensas paredes que envolvem as baterias de elevadores, cuja<br />

algumas paredes foram revestidas de painéis difusos, criando<br />

monumentalidade era vista como um dos elementos que obscureciam<br />

como que “cubos de gelo” no espaço. A generosa iluminação<br />

o espaço. A solução encontrada pelo time de arquitetos e lighting<br />

dessas superfícies verticais destina-se a minimizar o efeito<br />

designers foi adicionar luminosidade a elas, tornando-as atraentes.<br />

conhecido como SAD (Seasonal Affective Disorder), que afeta<br />

Foram então criados extensos painéis luminosos, suavizados por<br />

os canadenses durante o período de inverno, já que nessa<br />

lâminas horizontais, transformando o que antes eram elementos<br />

época ficam bem menos expostos à luz natural. “Estudos têm<br />

A delicadeza dos rasgos de<br />

luz horizontais e verticais<br />

do hall dos elevadores<br />

contrapõe-se à presenca<br />

dos gigantescos painéis.<br />

sombrios em fontes de luz vívidas e atraentes. As questões técnicas<br />

foram resolvidas de forma engenhosa: a adoção de tecnologia LED<br />

em todo o espaço, aliada ao recurso de dimerização, proporcionou<br />

simultaneamente um aumento na luminosidade geral e uma redução<br />

no consumo de energia. A manutenção do sistema de iluminação<br />

dos imensos pilares, por sua vez, foi resolvida com um sistema de<br />

polias capaz de remover para um sótão acima do lobby toda a coluna<br />

de LEDs de cada parede. Como os LEDs são uma sequência de<br />

segmentos articulados entre si, comportam-se como uma corrente,<br />

podendo, assim, alojar-se horizontalmente no topo para a devida<br />

manutenção, retornando posteriormente à sua exata posição original.<br />

Esse mesmo sótão, aliás, serve para a manutenção das luminárias<br />

de embutir que fazem a iluminação funcional.<br />

associado males como depressão e obesidade à privação do<br />

organismo à exposição da luz, e o tipo de solução de iluminação<br />

destina-se potencialmente a minimizar esses danos”, explica<br />

Rafael Salsa.<br />

Como contraponto a esses elementos tão grandiosos, efeitos<br />

de luz mais sutis permeiam o lobby, como a iluminação difusa<br />

linear vertical embutida nas paredes de mármore laterais dos<br />

elevadores e as iluminações direta e indireta integradas nos<br />

fechamentos de madeira sobre as portas.<br />

Assim, a exploração de elementos verticais como fontes<br />

de luz integradas à arquitetura resultou na transformação de<br />

um ambiente outrora dispendioso e pouco convidativo em um<br />

novo espaço luminoso, atraente e saudável.<br />

ONE QUEEN EAST<br />

Toronto, Canadá<br />

Projeto de iluminação:<br />

Rafael Salsa Correa<br />

Projeto de arquitetura do edifício original de 1892:<br />

Knox Elliot & Jarvis<br />

Projeto de arquitetura do edifício novo de 1990:<br />

Page + Steele / IBI Group Architecture<br />

Projeto de interiores de 2016:<br />

Building Arts Architects, WZMH Architects<br />

Fornecedores:<br />

Acclaim, Gotham, Lumenpulse, Selux, Traxon<br />

80 81


FOTO LUZ FOTO<br />

NELSON KON<br />

O que me chamou a atenção no primeiro contato com o edifício<br />

do Teatro Santander é a caótica situação em que ele está inserido.<br />

O rio, a estação, a avenida marginal e os edifícios de diferentes<br />

formas e gabaritos configuram uma geografia muito peculiar.<br />

Eu queria retratar essa situação, mas a falta de recuos<br />

suficientes no terreno e nos espaços próximos ao edifício tornou<br />

a tarefa muito difícil. Passei algum tempo rodeando o edifício de<br />

carro e a pé até encontrar o local adequado: a ponte que faz a<br />

ligação da Marginal Pinheiros à Avenida dos Bandeirantes.<br />

Por ser uma via com tráfego muito intenso, seria impossível<br />

chegar ao local durante os dias de semana. Agendei a fotografia,<br />

então, para o domingo. Iniciei a aventura de atravessar a marginal,<br />

escalar a ponte e me posicionar para a tomada da imagem.<br />

Armei o tripé e a câmera e esperei pelo momento certo.<br />

Alguns motoristas perversos desviavam seu trajeto para passar<br />

rente e disparar a buzina quando bem próximos de mim.<br />

Escolhi uma sensibilidade ISO mais alta que a usual, para<br />

que o tempo de exposição não fosse excessivamente longo, mas<br />

não alta o bastante para degradar a qualidade da imagem.<br />

O momento do disparo teria de ser bem preciso: não tão<br />

cedo que a iluminação não tivesse destaque nem tão tarde que<br />

o céu escurecesse muito e a silhueta dos edifícios do entorno<br />

fosse perdida. O uso do formato quadrado recortou as laterais<br />

dos edifícios adjacentes, o que ressaltou a presença do meu<br />

objeto e permitiu enquadrar o céu e o rio.<br />

A ponte oscilava fortemente com a passagem de grupos de<br />

carros e, principalmente, caminhões. Aguardei o momento de<br />

menor oscilação para fazer a tomada.<br />

Utilizei uma câmera Canon EOS 5DS R com uma objetiva<br />

Canon TS-E 45 mm f/2.8, usei a sensibilidade ISO 400,<br />

velocidade de exposição de 1/10 segundo e diafragma f/8. A<br />

edição final foi feita pela Rafaela Netto no Adobe Photoshop<br />

CS6 com alguns ajustes de cor e contraste, mas sem excessivas<br />

manipulações da imagem.<br />

Nelson Kon é formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Atua como fotógrafo profissional desde 1885, especializado<br />

em fotos de arquitetura e do ambiente urbano. Seu acervo compreende principalmente imagens da arquitetura brasileira moderna e contemporânea.<br />

82 83<br />

82


84

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!