You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
we<br />
mkt<br />
MFIlustra<br />
O fator cabelo branco<br />
“Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”.<br />
Provérbio Árabe<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Num mundo <strong>de</strong> cotas esqueceram-se dos<br />
cabelos brancos. Ainda bem. Não precisa.<br />
Desconfie <strong>de</strong> uma empresa que não<br />
tem dois ou três colaboradores no comando<br />
e com os cabelos brancos. Risco superior<br />
a 80%. São empresas com apenas parte do<br />
cérebro. Empresas incapazes <strong>de</strong> realizar a<br />
contextualização. Empresas mais que qualificadas<br />
para praticarem os velhos, mesmos<br />
e recorrentes erros. É assim. Hoje no<br />
Brasil fala-se e tem-se cotas <strong>de</strong> todos os tipos<br />
e espécies. Menos para os cabelos brancos.<br />
Repito, ainda bem.<br />
Cotas raciais, cotas <strong>de</strong> gênero, cotas socioeconômicas.<br />
Segundo a Wikipédia, tudo<br />
começou no emblemático ano <strong>de</strong> 1968, com<br />
a tal da Lei do Boi, que garantia o acesso <strong>de</strong><br />
filhos <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros às universida<strong>de</strong>s.<br />
Nos governos FHC e Lula, a política <strong>de</strong><br />
cotas foi se a<strong>de</strong>nsando. Segundo seus <strong>de</strong>fensores,<br />
a adoção <strong>de</strong>ssa política <strong>de</strong> cotas<br />
tem por objetivo reparar erros históricos e<br />
corrigir ou atenuar injustiças sociais. Que<br />
assim seja. Os cabelos brancos não precisam<br />
<strong>de</strong> cotas. Depen<strong>de</strong>m apenas da consciência<br />
dos cabelos pretos em seus diferentes<br />
matizes e intensida<strong>de</strong>, que sem a sabedoria<br />
dos tais “velhos”, <strong>de</strong>corrente da experiência<br />
acumulada no correr <strong>de</strong> décadas, pouco<br />
provavelmente chegarão lá.<br />
E aí vem à tona a razão do número absurdo<br />
<strong>de</strong> insucessos ou fracassos patéticos das<br />
chamadas startups. Levantado e revelado<br />
pela pesquisa da Escola <strong>de</strong> Administração<br />
<strong>de</strong> Empresas da Fundação Getúlio Vargas,<br />
e comentado pela revista Exame.<br />
A FGV foi perguntar aos investidores em<br />
operação no mercado brasileiro o que os<br />
faz recusarem-se a investir numa <strong>de</strong>terminada<br />
startup? Quais as principais razões e<br />
motivos que inviabilizam consi<strong>de</strong>rarem os<br />
próprios investimentos ou os investimen-<br />
tos que administram <strong>de</strong> terceiros, quando<br />
tomam suas <strong>de</strong>cisões?<br />
Na última colocação, uma série <strong>de</strong> razões<br />
e <strong>de</strong>talhes com 12% das manifestações<br />
(sempre respostas múltiplas). Junto<br />
com dúvidas sobre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio<br />
escolhido. Na penúltima, com 35% <strong>de</strong> manifestações,<br />
a inexistência ou insuficiência<br />
<strong>de</strong> inovação nos negócios. A antepenúltima<br />
colocação, com 51% das manifestações,<br />
a consciência <strong>de</strong> produtos com pequena ou<br />
baixa <strong>de</strong>manda, e impossibilida<strong>de</strong> quase<br />
que <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> escalabilida<strong>de</strong>. Preparado?<br />
Primeiro lugar disparado com 93% das<br />
manifestações. Isso mesmo. Adivinhou. A<br />
falta do tal dos cabelos brancos: “Equipe<br />
Inexperiente”.<br />
Hello! Como dizia uma socialite hoje enrascada<br />
na Lava Jato. Tudo o que os seus<br />
projetos, empresas e negócios precisam é<br />
<strong>de</strong> alguns cabelos brancos. Alguém com o<br />
corpo coberto <strong>de</strong> cicatrizes, mãos calejadas<br />
e a cabeça carregada <strong>de</strong> sabedoria para lhe<br />
dizer, entre outras coisas, “não é por ali, é<br />
por aqui”. E repetir Gertru<strong>de</strong> Stein, arrematando,<br />
“não existe lá mais ali”. Sinto muito,<br />
brilhante, talentoso e promissor jovem. Sabedoria<br />
não é tomate, nem feijão, nem gado<br />
<strong>de</strong> corte. Com todo o respeito por esses alimentos<br />
essenciais às nossas vidas. É como<br />
plantar tâmaras. Mesmo com todo o avanço<br />
e técnicas <strong>de</strong> produção mo<strong>de</strong>rna, o ditado<br />
árabe continua prevalecendo: “Quem<br />
planta tâmaras, não colhe tâmaras”.<br />
Lembra aquela frase que você já ouviu<br />
algumas vezes e em diferentes momentos<br />
e situações? “Senhor, dai-me coragem para<br />
mudar o que posso mudar, serenida<strong>de</strong> para<br />
aceitar o que não posso mudar e sabedoria<br />
para perceber a diferença”. Na frase, a tal<br />
da “sabedoria” é o “velho”.<br />
Isso mesmo, o fator cabelos brancos.<br />
Mas, se você preferir, daqui para frente, “a<br />
tâmara” do provérbio árabe.<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
20 <strong>22</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2017</strong> - jornal propmark