2017 - Revista PME
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O acesso à informação técnica é cada vez mais difícil para as oficinas independentes. Atualmente,<br />
os fabricantes de veículos têm o controlo exclusivo dos sistemas telemáticos e de reprogramação,<br />
enquanto o aftermarket continua apreensivo em relação ao que o futuro lhe reserva<br />
Na última reunião do Conselho<br />
Europeu do Comércio e da Reparação<br />
Automóvel (CECRA),<br />
foram tratados assuntos de importância<br />
para o setor reparador, como o acesso à<br />
informação técnica ou a situação dos sistemas<br />
telemáticos, em concreto o eCall.<br />
Relativamente ao acesso à informação<br />
técnica, foi dado destaque às conclusões<br />
do estudo elaborado pela consultora britânica<br />
Ricardo-AEA, a pedido da Comissão<br />
Europeia. Dos seus resultados,<br />
depreende-se que, na atualidade, existe<br />
um controlo exclusivo dos sistemas telemáticos<br />
e de reprogramação por parte<br />
dos fabricantes de veículos, bem como<br />
um acesso “difícil” para as oficinas independentes.<br />
Perante esta situação, o estudo da Ricardo-AEA<br />
inclui nas suas conclusões “a<br />
necessidade de se solicitar a igualdade de<br />
direitos para concorrer no mercado e que<br />
a norma clarifique questões como o preço<br />
razoável para o acesso à informação<br />
técnica”.<br />
As oficinas independentes denunciam<br />
que não podem reparar os veículos<br />
Euro 5 e Euro 6 por não terem à disposição<br />
as ferramentas de comunicação<br />
veículo-software do construtor (VCI).<br />
Afirmam que as máquinas de diagnóstico<br />
multimarca não acedem a certas áreas<br />
porque têm bloqueados esses acessos, estando<br />
restringidos ao software das marcas.<br />
Além disso, garantem que também<br />
não dispõem das acreditações para aceder<br />
ao software do construtor para realizar<br />
diagnósticos e reprogramações online<br />
porque “as marcas não disponibilizam ou<br />
demoram excessivamente no processamento<br />
das acreditações”.<br />
Outro dos pontos de maior controvérsia,<br />
e que consideram “ilógico”, é que os dados<br />
das reparações realizadas pelas oficinas<br />
sejam administrados e registados<br />
nos servidores das marcas, “sendo sua<br />
concorrência direta”.<br />
O problema das acreditações deixará de<br />
existir com a entrada em vigor do sistema<br />
SERMI, encarregue de proporcionar<br />
uma única acreditação para todas as<br />
marcas. Simultaneamente, perante o dilema<br />
em torno da telemática do veículo<br />
(obrigatória a partir de março de 2018)<br />
e da administração dos dados gerados<br />
nas oficinas independentes por parte das<br />
marcas, o CECRA advoga um sistema<br />
duplo no qual os dados são armazenados<br />
tanto em servidores de acesso partilhado<br />
como no veículo, acedendo-se à informação<br />
através de um conector standard de<br />
16 pinos (OBD).<br />
FABRICANTES VÃO DOMINAR?<br />
A controvérsia surgiu com os novos automóveis<br />
equipados com conectividade<br />
de série, o novo conceito de “Extended<br />
Vehicle” (veículo ampliado) promovido<br />
pelos fabricantes de automóveis e que, na<br />
prática, implica que é apenas o fabricante<br />
a decidir quem tem acesso funcional<br />
aos dados registados no veículo, além de<br />
outras considerações de privacidade que<br />
afetam os consumidores.<br />
Todos os fabricantes estão a estruturar<br />
os seus sistemas e protocolos técnicos<br />
de modo a que apenas os seus respetivos<br />
servidores possam recolher e dar acesso<br />
a estes dados do veículo, o que supõe o<br />
controlo exclusivo de cada automóvel e<br />
uma mais do que evidente posição tecnológica<br />
dominante para determinar unilateralmente<br />
quais os reparadores e fornecedores<br />
de serviços autorizados a aceder.<br />
É evidente que a investigação e o desenvolvimento<br />
da tecnologia automóvel estão<br />
nas mãos dos construtores, cujo peso<br />
económico e “lobístico” como setor é<br />
muito relevante em toda a UE.<br />
Até agora, cada consumidor podia escolher<br />
livremente a sua oficina de confiança<br />
com base nos dois princípios gerais do<br />
mercado europeu, que são a livre circulação<br />
de bens e serviços e a livre escolha do<br />
consumidor. No entanto, com os novos<br />
veículos conectados, estas liberdades ficam<br />
comprometidas.<br />
“Esta realidade não pode ser um instrumento<br />
para manipular o mercado e os<br />
preços, nem para condicionar a liberdade<br />
dos consumidores ou prejudicar o trabalho<br />
leal de 2,9 milhões de profissionais<br />
que prestam um serviço eficaz, próximo<br />
e de qualidade a 228 milhões de veículos<br />
ligeiros e a 38,5 milhões de veículos<br />
comerciais na UE”, refere o CECRA em<br />
comunicado.<br />
SETOR INDEPENDENTE AVALIA<br />
Há poucas coisas mais importantes para<br />
um negócio de reparação de automóveis<br />
do que o acesso a uma informação técnica<br />
de qualidade. É assim agora e, se é<br />
que é possível, ainda o será mais no futuro.<br />
Em 2014, a UE colocou em andamento<br />
um estudo para conhecer o estado<br />
do acesso à informação técnica no setor.<br />
Agora, publicou um relatório com as suas<br />
conclusões.<br />
“Para competir no mercado de reparação<br />
de automóveis, os operadores independentes<br />
devem ter um acesso fácil, livre de<br />
restrições e padronizado à informação<br />
técnica”, afirma o relatório.<br />
As associações europeias do aftermarket<br />
(AFCAR, FIGIEFA, CECRA, EGEA,<br />
AIRC, UEIL, ADPA e FIA) e, também,<br />
operadores de leasing e renting (Leaseurope),<br />
mostram-se satisfeitas pelo<br />
reconhecimento por parte de Bruxelas<br />
da importância do acesso à informação<br />
técnica para garantir a concorrência e<br />
o bom funcionamento do mercado: “A<br />
existência de operadores independentes<br />
garante a concorrência no mercado de<br />
<strong>PME</strong> Líder & Excelência Aftermarket Junho <strong>2017</strong><br />
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