L+D 63
Edição: maio/junho de 2017
Edição: maio/junho de 2017
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TEMPLO BAHÁ’Í (SANTIAGO)<br />
E MAIS: GASHOLDER PARK (LONDRES); GUINDASTES DO PÍER MAUÁ (RIO DE JANEIRO); THE FARM RESIDENCE (GERROA);<br />
NOVO CENTRO DE CONVENÇÕES DE ROMA; BACIO DI LATTE (SÃO PAULO); EUROLUCE 2017; FOTO LUZ FOTO: ARYEH 1 KORNFELD
2 3
4 5
SUMÁRIO<br />
66<br />
maio | junho 2017<br />
edição <strong>63</strong><br />
32<br />
44 50<br />
36 56<br />
60<br />
10<br />
¿QUÉ PASA?<br />
32<br />
36<br />
GUINDASTES DO PÍER MAUÁ<br />
A cor além do metal<br />
THE FARM RESIDENCE<br />
Luz como matéria<br />
44<br />
TEMPLO BAHÁ’Í<br />
50<br />
56<br />
NOVO CENTRO DE CONVENÇÕES DE ROMA<br />
Nuvemteca<br />
BACIO DI LATTE<br />
O sabor de um bom projeto luminotécnico<br />
60<br />
EUROLUCE 2017<br />
66<br />
FOTO LUZ FOTO<br />
Aryeh Kornfeld<br />
6 7
Romulo Fialdini<br />
Thiago Gaya<br />
publisher<br />
TEMPLO BAHÁ’Í<br />
Iluminação: Limarí Lighting Design<br />
Foto: Aryeh Kornfeld<br />
VOCAÇÃO PARA O DETALHE<br />
Orlando Marques<br />
editor-chefe<br />
PUBLISHER<br />
Thiago Gaya<br />
EDITOR-CHEFE<br />
Orlando Marques<br />
DIRETORA DE ARTE<br />
Thais Moro<br />
Uma das abordagens conceituais bastante utilizadas em projetos de iluminação<br />
arquitetural em geral consiste na criação de detalhes integrados ao tecido arquitetônico,<br />
com a finalidade de esconder equipamentos de iluminação, proporcionando, assim,<br />
uma camada de luz cuja procedência parece brotar do próprio edifício.<br />
Esse trabalho envolve habilidades que vão além do conhecimento a respeito do<br />
comportamento da luz no espaço e seus efeitos nas superfícies materiais: requer<br />
um entendimento específico das propriedades físicas dos materiais e de suas<br />
capacidades construtivas.<br />
Portanto, quanto mais esmiuçado for o detalhe, melhor ele vai se comunicar ao<br />
longo do cronograma da obra e, com isso, maiores serão as possibilidades de ser<br />
implantado conforme inicialmente projetado.<br />
Nesta edição trazemos alguns exemplos de projetos cujos detalhes para a<br />
integração de equipamentos de iluminação no tecido arquitetônico foram concebidos,<br />
desenvolvidos e coordenados de maneira exemplar. Apresentamos também os<br />
principais lançamentos da Euroluce 2017, com destaque para as luminárias que, por<br />
seu desenho, estão procurando responder às questões prementes encontradas no<br />
conceito “human centric design”.<br />
Homenageado na seção Foto Luz Foto desta edição, o fotógrafo chileno Aryeh<br />
Kornfeld apresenta a imagem síntese de seu trabalho no templo Bahá’í. Além disso,<br />
os arquitetos do premiado escritório Limarí Lighting Design são os convidados para<br />
a coedição do ¿Qué Pasa? especial desta edição, apresentando o delicado projeto de<br />
luz e sombras dos também premiados arquitetos do escritório Speirs + Major para o<br />
projeto Gasholder Park, em Londres.<br />
Destacamos, ainda, o trabalho do artista Daniel de Paula com as carcaças das<br />
antigas pétalas dos postes de iluminação da avenida Paulista, exposto no Museu de<br />
Arte de São Paulo – Masp.<br />
REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO<br />
Carlos Fortes, Debora Torii, Fernanda Carvalho,<br />
Gilberto Franco, Limarí Lighting Design,<br />
Orlando Marques, Thiago Gaya<br />
REVISÃO<br />
Débora Tamayose<br />
ADMINISTRAÇÃO<br />
Richard Schiavo<br />
CIRCULAÇÃO E MARKETING<br />
Márcio Silva<br />
PUBLICIDADE<br />
Lucimara Ricardi | diretora<br />
Avany Ferreira | contato publicitário<br />
Paula Ribeiro | contato publicitário<br />
PARA ANUNCIAR<br />
comercial@editoralumiere.com.br<br />
T 11 2827.0660<br />
PARA ASSINAR<br />
assinaturas@editoralumiere.com.br<br />
T 11 2827.0690<br />
Boa leitura!<br />
Orlando Marques<br />
Editor-chefe<br />
TIRAGEM E CIRCULAÇÃO AUDITADAS POR<br />
O time do escritório chileno<br />
Limarí Lighting Design<br />
apresenta no ¿Qué Pasa?<br />
duplo desta edição o<br />
premiado projeto Gasholder<br />
Park em Londres, do<br />
escritório Speirs + Major.<br />
PUBLICADA POR<br />
Editora Lumière Ltda.<br />
Rua Catalunha, 350, 05329-030, São Paulo SP, T 11 2827.0660<br />
www.editoralumiere.com.br<br />
8 9
¿QUÉ PASA?<br />
ORIGAMI ESPACIAL<br />
A grandiosidade das esculturas cinéticas criadas pela<br />
cenógrafa britânica Es Devlin impressiona. Tendo iniciado sua<br />
carreira com modestos projetos para pequenos espetáculos<br />
teatrais londrinos, a designer tem hoje em seu currículo cenários<br />
desenvolvidos para alguns dos maiores nomes da cena musical<br />
internacional, como Kanye West, Lady Gaga e U2, além de ter<br />
feito parte da produção das cerimônias de encerramento dos<br />
Jogos Olímpicos de Londres e do Rio de Janeiro.<br />
Uma de suas mais recentes e ousadas criações é a<br />
cenografia da nova turnê do cantor canadense The Weeknd<br />
– que recentemente se apresentou no Brasil. A The Weeknd’s<br />
Starboy: Legend of The Fall Tour apresenta aos espectadores uma<br />
surpreendente estrutura triangular que paira sobre o palco e<br />
cuja movimentação faz alusão a uma aeronave. O conceito foi<br />
desenvolvido em conjunto com o próprio artista e com o diretor<br />
criativo de sua gravadora, que consideram o enredo do show<br />
similar aos movimentos de um plano de voo. Assim, no início<br />
da performance, a estrutura se apresenta como um triângulo<br />
plano, com “asas” que lentamente se dobram e se movimentam,<br />
culminando em um mergulho de nariz e na posterior separação<br />
dessas asas, que passam a se mover de maneira independente.<br />
Sustentada por meio de treliças de alumínio, a estrutura é<br />
revestida por um tecido cinza, sobre o qual uma série de imagens<br />
é projetada durante a apresentação, perfeitamente sincronizadas<br />
aos movimentos da estrutura. Essas imagens complementam a<br />
iluminação principal do palco, realizada por meio de uma série de<br />
projetores fixados em uma vara central móvel.<br />
Devlin explica que a intenção de seu projeto era traduzir ambas<br />
as linguagens, analógica e futurista, da forma como interpreta as<br />
canções criadas pelo cantor. “Sua música funde a analogia do soul<br />
ao futurismo eletrônico, portanto imaginamos um elemento cênico<br />
que referenciasse tanto um origami de avião de papel quanto uma<br />
nave espacial futurística”. As linhas de LEDs que delineiam as<br />
formas da estrutura reforçam essa sensação. (D.T.)<br />
10 11
Imagens: Messe Düsseldorf/Constanze Tillmann<br />
¿QUÉ PASA?<br />
EUROSHOP 2017<br />
Entre os dias 5 e 9 de março aconteceu mais uma edição da<br />
EuroShop, a maior feira do mundo dedicada às novidades para o<br />
setor do varejo. Organizado há 50 anos pela Messe Düsseldorf,<br />
o evento é realizado a cada três anos na cidade alemã e, nesta<br />
edição, recebeu mais de 113 mil visitantes, que circularam dentre<br />
os cerca de 2.300 estandes dispostos em uma área de 127 mil<br />
metros quadrados de espaço expositivo.<br />
A feira é dividida em sete “dimensões de experiência”,<br />
dentre as quais se destaca a Iluminação, com praticamente dois<br />
pavilhões dentro do evento.<br />
A economia de energia, a integração da luz nos<br />
equipamentos no mobiliário e, em especial, as possibilidades<br />
dos sistemas de iluminação digital – e inteligente – foram os<br />
principais temas observados. A tecnologia LED, continua o<br />
centro das tendências apresentadas na feira, que prometem<br />
ser o futuro do setor de retail: a digitalização do varejo;<br />
a “emocionalização” da experiência de compra por meio<br />
da criação de narrativas (utilizando arquitetura, design e<br />
iluminação como ferramentas); e o conceito de omnichannel<br />
solutions – ou soluções desenvolvidas sob medida que permitam<br />
oferecer aos clientes experiências de compra exclusivas.<br />
A Editora Lumière e a <strong>L+D</strong> estiveram presentes na<br />
EuroShop 2017, acompanhando a comitiva da Associação<br />
Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o<br />
Varejo (ABIESV), que desde a edição anterior do evento,<br />
em 2014, apoia a participação de empresas brasileiras na<br />
feira, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção<br />
de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). A próxima<br />
edição da EuroShop acontecerá entre 16 e 20 de fevereiro de<br />
2020. (D.T.)<br />
12 13
Imagens: Rauno Träskelin/Courtesy Galerie Maria Wettergren<br />
¿QUÉ PASA?<br />
EFEMERIDADE<br />
A Galerie Maria Wettergren, em Paris, dedica seu espaço à<br />
exibição de trabalhos dos mais importantes artistas e designers<br />
da cena escandinava desde a sua fundação, em 2010. Em março<br />
último, o trabalho do internacionalmente premiado artista<br />
finlandês Ilkka Suppanen esteve em cartaz na mostra Evanescent.<br />
A exposição reflete sobre o fenômeno da evanescência por<br />
meio de 15 grandes esculturas de vidro, produzidas em parceria<br />
com Murano Tiozzo e Claudio Pino Signoretto, na cidade<br />
de Murano, na Itália. A delicadeza e a fragilidade das obras<br />
remetem à efemeridade do processo de transição da matéria<br />
entre dois estágios. Assim, representam, metaforicamente, o<br />
elo entre água e vidro e suas propriedades de transformação, de<br />
estado sólido a líquido ou vapor. As etéreas esculturas parecem<br />
capturar o momento de condensação da água – congelada ou<br />
líquida –, e suas superfícies translúcidas produzem, sob a luz,<br />
tonalidades que variam sutilmente entre brancos, verdes e<br />
azuis. Algumas delas são compostas também de prata, o único<br />
metal, além do ouro, que pode ser fundido ao vidro.<br />
Por meio de suas obras, o artista costuma conduzir seu público<br />
a reflexões coletivas acerca de temas como o desenvolvimento<br />
sustentável e a globalização. Por trás da fragilidade estética das<br />
peças, Suppanen emite seu olhar crítico, sinalizando os perigos do<br />
aquecimento global e do consequente derretimento das calotas<br />
polares. A importância da preservação dos recursos naturais é<br />
sua mensagem, demonstrada por meio da conexão entre o ciclo<br />
eterno das águas e as possibilidades de reciclagem do vidro.<br />
Além de Evanescent, a galeria exibiu a linha de luminárias<br />
Porcupine, também de autoria do finlandês. Os pendentes<br />
foram desenvolvidos por meio de um inovador processo de<br />
impressão em 3D em três versões diferentes (resina, cobre e<br />
madeira), com design que combina formas orgânicas e padrões<br />
matemáticos. (D.T.)<br />
14 15
Imagens: Thierry Bal<br />
¿QUÉ PASA?<br />
EXPERIÊNCIA TRANSITÓRIA<br />
Inspirado pela vida itinerante que leva desde que deixou<br />
sua cidade natal, Seul, na Coreia do Sul, para estudar e viver<br />
em Nova York, nos Estados Unidos, o artista Do Ho Suh exibe,<br />
em grande parte de seus trabalhos, suas reflexões a respeito<br />
da ideia de “lar”. É exatamente essa a abordagem de Passage/s,<br />
sua maior e mais recente exposição em Londres, cidade na<br />
qual vive desde 2015.<br />
Em cartaz durante os meses de fevereiro e março<br />
deste ano na Galeria Victoria Miro, a mostra apresentou<br />
réplicas meticulosas da arquitetura dos locais onde o artista<br />
viveu, desde a sua residência durante a infância até seus<br />
apartamentos nos países ocidentais. Ocupando quase a<br />
totalidade dos 25 metros lineares da sala de exposições, seus<br />
“lares” foram recriados por meio de superfícies translúcidas de<br />
poliéster colorido, costuradas na forma de um longo corredor<br />
que conecta todos os chamados “Hubs” – nome dado a cada<br />
“cubículo”, representando uma residência diferente.<br />
As estruturas buscam comunicar a interpretação de<br />
Suh acerca de temas como a migração, a transitoriedade<br />
e as mutações de identidade. A permeabilidade visual<br />
proporcionada pelos tecidos é potencializada pela abundante<br />
iluminação zenital no interior da galeria e remete, de maneira<br />
metafórica, à perambulação entre culturas, na qual se perdem<br />
os limites entre público e privado. A conexão entre os “Hubs”<br />
acentua o senso de fluxo, que alude à passagem da vida do<br />
próprio artista e rompe com as barreiras entre imaginação e<br />
realidade, entre passado e presente.<br />
Alguns detalhes das residências foram também apresentados<br />
por meio de uma nova técnica desenvolvida<br />
pelo artista. O sul-coreano utilizou uma espécie de tecido<br />
gelatinoso, costurado de maneira semelhante ao poliéster. Em<br />
contato com a água, porém, o material se dissolve e resulta em<br />
grandes imagens bidimensionais que atuam como verdadeiros<br />
retratos viscerais que complementam suas reflexões.<br />
A experiência transitória é composta ainda de um vídeo –<br />
gravado e exibido sob três pontos de vista diferentes –, no qual<br />
o artista, acompanhado de suas filhas, explora os arredores<br />
de sua residência londrina. Os sons ambientes e os diálogos<br />
entre eles (em inglês e coreano) ressaltam o cruzamento<br />
entre fronteiras culturais e geográficas. Para o artista, o “lar”<br />
não é apenas uma construção física mas abrange também as<br />
experiências vividas em cada local. (D.T.)<br />
16 17
¿QUÉ PASA?<br />
MEMORIAL<br />
PAULISTANO<br />
Por ocasião do seu 70ª aniversário, o Masp – Museu de<br />
Arte Assis Chateaubriand – inaugurou em fevereiro a exposição<br />
Avenida Paulista, em cartaz até 28 de maio. A intenção da<br />
curadoria foi chamar a atenção não apenas para o edifício<br />
do museu, mas para seu entorno. Além de documentos do<br />
acervo histórico da avenida, reunidos entre 1891 e 2016, são<br />
apresentados 14 trabalhos comissionados, isto é, criados<br />
especialmente para essa exposição.<br />
Entre os convidados a executar esses trabalhos está o artista<br />
Daniel de Paula, que apresenta a instalação Campo de ação/<br />
campo de visão, que consiste na disposição regular de 20 pétalas<br />
feitas das antigas luminárias da avenida, substituídas em 2011.<br />
Além das peças, o artista apresenta um esquema gráfico do<br />
sistema de postes de iluminação e Uma breve cronologia da luz<br />
na avenida Paulista, na qual relata fatos marcantes ocorridos no<br />
local, como a “substituição das lâmpadas brancas de mercúrio<br />
por lâmpadas amarelas de vapor de sódio” em 1991, a “crise do<br />
apagão que afeta o fornecimento de energia no país e modifica<br />
a paisagem noturna da avenida Paulista” em 2001 e a agressão<br />
a um jovem “com uma lâmpada fluorescente em ataque<br />
homofóbico na avenida Paulista”, em 2010, entre outros.<br />
As sucatas foram adquiridas em um leilão da Prefeitura<br />
Municipal de São Paulo. Colocadas no contexto do museu<br />
e dispostas como lápides em um cemitério, adquirem novo<br />
significado, permitindo refletir sobre temas como a escala<br />
urbana, evidenciada pelo tamanho desproporcionalmente<br />
grande das luminárias, e a humana, a memória, a obsolescência<br />
e a finitude. As peças, em formato que lembram caixões,<br />
parecem ser tratadas como entes que, após a morte, repousam<br />
alinhados nesse triste memorial. De fato, o ambiente remete a<br />
algo ritualístico e solene.<br />
Com essa estratégia de ressignificação, o artista potencializa<br />
a lógica do objeto “luminária” como instrumento da visão e do<br />
“lugar avenida Paulista/Masp” como palco da ação. O nome do<br />
trabalho evidencia a relação que o artista intencionou estabelecer<br />
ao unir o palco dos principais acontecimentos do país e os<br />
holofotes que os iluminam. Tais objetos deixam assim de ser lixo<br />
e passam a ser reconhecidos como entes que “testemunharam<br />
o agregado de todos os acontecimentos ocorridos entre 1974 e<br />
2011 na avenida Paulista, iluminando-os e permitindo que fossem<br />
percebidos”, relata o artista. (F.C.)<br />
Foram anunciados os prazos e as datas de realização da<br />
5ª edição da International Lighting Design Competition, uma<br />
premiação-evento anual produzida pela L A M P (Lighting<br />
Architecture Movement Project) em Vancouver, no Canadá<br />
(não confundir com o prêmio LAMP Awards da empresa<br />
espanhola LAMP). A partir desta edição, o evento passará a<br />
ser bianual, de maneira a oferecer aos designers mais tempo<br />
para que desenvolvam suas criações e seus protótipos.<br />
Aqueles que queiram concorrer aos prêmios poderão<br />
inscrever suas criações a partir de 1º de junho, em três<br />
diferentes categorias: Consagrado, Emergente e Estudante.<br />
Assim como nas edições anteriores, os trabalhos enviados<br />
deverão estar relacionados a um tema específico, que nesta<br />
edição será “Equilíbrio”.<br />
Os prêmios e o painel do júri – que já contou com nomes<br />
como Michael Anastassiades e Tom Dixon – serão anunciados<br />
em breve. As inscrições encerram em 15 de dezembro, e os<br />
finalistas serão anunciados no segundo semestre de 2018,<br />
quando também será realizado o evento de entrega dos<br />
prêmios. As regras e o cronograma completo da 5ª edição da<br />
competição estão disponíveis no site welovelamp.ca.(D.T.)<br />
18 19
Imagens: Surrey NanoSystems<br />
¿QUÉ PASA?<br />
VANTABLACK É O NOVO PRETO<br />
Quando se fala em cores escuras, o preto é, sem dúvida, a<br />
primeira cor que vem à mente. É praticamente inimaginável que<br />
uma cor possa ser ainda mais escura. Mas não para os cientistas<br />
da empresa britânica Surrey NanoSystems, que não apenas a<br />
imaginaram, como foram capazes de desenvolver um pigmento com<br />
essa característica. Trata-se do Vantablack, um tipo de revestimento<br />
que detém o título de substância mais escura do mundo.<br />
O nome deriva da expressão “Vertically Aligned NanoTube<br />
Array Black”, que nada mais é do que uma descrição da composição<br />
do material. Diferentemente de um pigmento em pó tradicional,<br />
o Vantablack é composto de uma “floresta” de nanotubos de<br />
carbono (impressionantes 1.000 milhões por cm 2 ), alinhados<br />
e uniformemente espaçados. Isso faz com que o processo de<br />
pigmentação seja “cultivado” sobre a própria superfície do material<br />
a ser pintado – e não por meio de uma simples aplicação, como<br />
ocorre com uma tinta comum.<br />
Em razão de sua constituição, o material absorve mais<br />
de 99,9% da luz incide em sua superfície, e isso não se refere<br />
apenas à luz visível mas também a outros componentes do<br />
espectro, invisíveis ao olho humano. “A luz que penetra nos tubos<br />
ricocheteia entre eles, sendo transformada em calor, que é então<br />
dissipado”, explica Narayan Khandekar, expert em pigmentos e<br />
diretor do Straus Center for Conservation and Technical Studies,<br />
pertencente a Harvard Art Museums, que detêm uma amostra<br />
do material em sua coleção de pigmentos.<br />
Seu surpreendente nível de absorção tem consequências ópticas<br />
curiosas. Quando aplicado sobre uma superfície tridimensional,<br />
Vantablack dificulta o discernimento de suas características,<br />
fazendo com que o objeto pareça bidimensional. Por causa disso,<br />
seu uso sem prévia autorização pode ser considerado ilegal, e a<br />
aquisição de amostras junto aos desenvolvedores está sujeita à<br />
obtenção de uma licença do governo britânico.<br />
O material foi originalmente desenvolvido para a aplicação<br />
em sistemas de instrumentação científica espacial. No<br />
entanto, suas propriedades ópticas e físicas singulares –<br />
complementadas por sua alta resistência mecânica e térmica,<br />
sua elasticidade e sua leveza – aguçaram a criatividade da<br />
comunidade científica, que começa a vislumbrar outras<br />
aplicações, por exemplo, para fins militares ou mesmo em<br />
itens de design.<br />
O lançamento de uma nova versão em spray (Vantablack<br />
S-VIS) promete facilitar a aplicação em superfícies com formas<br />
mais complexas. Essa nova opção, porém, vem acompanhada<br />
de uma polêmica: o direito exclusivo de seu uso para fins<br />
artísticos foi cedido ao artista indiano-britânico Anish Kapoor,<br />
que tem acesso ilimitado ao material desde o ano passado.<br />
A negociação gerou muitos protestos no meio artístico, já<br />
que é atípico que um artista detenha, com exclusividade, os<br />
direitos de uso de uma cor em particular. Kapoor se defende<br />
alegando que se trata de uma colaboração, pois está tentando<br />
ajudar os criadores do material a expandir as possibilidades de<br />
seu uso. Até o momento, no entanto, o artista não conseguiu<br />
utilizar o Vantablack em nenhuma criação, em virtude da grande<br />
complexidade técnica de seu processo de aplicação. (D.T.)<br />
20 21
¿QUÉ PASA?<br />
Imagens: Deniz Birgi<br />
ARTE, CIÊNCIA E<br />
TECNOLOGIA<br />
Inspirados pela física por trás da luz, o único elemento<br />
eletromagnético que pode ser percebido pelo olho humano,<br />
os designers do estúdio turco Ouchhh criaram iOTA – Data<br />
Live Performance. O nome da instalação deriva da linguagem<br />
de programação, na qual a nona letra do alfabeto grego,<br />
grafada em letra minúscula, denota o mapa de inclusão de<br />
um espaço em outro.<br />
iOTA é uma escultura de luz que remete às pesquisas<br />
a respeito da origem da geometria. Uma profusão de<br />
gráficos, em aparente desordem, é formada por centenas<br />
de LEDs distribuídos na superfície de uma gigantesca placa<br />
vertical de vidro. Instalada em um átrio do que parece ser<br />
um shopping ou um aeroporto vazios, a escala da escultura<br />
parece encolher o observador, que é praticamente forçado<br />
a mover-se pelo espaço a fim de vivenciar a experiência a<br />
partir de todas as perspectivas que ela oferece. “A natureza<br />
da luz e seus diferentes fenômenos podem ser observados<br />
além da perceptividade da mente humana, em uma tentativa<br />
de traduzi-los de maneira unificada e não espacial”, divagam<br />
os autores. A experiência conta com uma trilha sonora<br />
desenvolvida especialmente para o projeto pelo estúdio de<br />
design sonoro Audiofil. O vídeo de iOTA pode ser conferido<br />
no site Vimeo, no canal do Ouchhh.<br />
A instalação foi exibida ao público pela primeira vez<br />
durante o festival de música, criatividade e tecnologia Sónar<br />
Istanbul, realizado na cidade turca nos dias 24 e 25 de março.<br />
O estúdio de novas mídias Ouchhh, com sedes em Istambul<br />
e Los Angeles, tem se consolidado cada vez mais no mercado<br />
de mídias interativas, experiências imersivas, animações<br />
e projeções mapeadas, tendo dentre seus clientes marcas<br />
como Nike, Turkish Airlines, Coca-Cola, Apple e MTV. (D.T.)<br />
22 23
Imagens: Luke Hayes<br />
¿QUÉ PASA?<br />
TECNOLOGIA SEM FRONTEIRAS<br />
Conhecida pelo desenvolvimento de projetos de formas Sobre as telas eram projetadas imagens gráficas com<br />
notavelmente ousadas, a equipe do Zaha Hadid Architects, movimento contínuo, especialmente desenvolvidas pelo<br />
agora sob a direção de Patrik Schumacher, foi designada pela estúdio de design Universal Everything para a ocasião. Os<br />
Samsung para a criação de Unconfined: The Galaxy S8 Design. visitantes também tinham a oportunidade de criar seus<br />
Trata-se de uma instalação interativa que ficou aberta ao próprios avatares utilizando os aparelhos Galaxy S8 e vê-los<br />
público entre os dias 4 e 9 de abril no distrito de Tortona, em projetados sobre as telas. O objetivo da marca era demonstrar<br />
Milão, Itália, como parte da Design Week deste ano.<br />
a perfeita integração entre o espaço gráfico físico e o virtual,<br />
Concebida para a divulgação dos novos smartphones da marca refletindo a história por trás da criação do aparelho, que une<br />
sul-coreana, a instalação imersiva contou com sete telas suspensas design, tecnologia e experiência.<br />
sob o teto – cada uma com cerca de 5 metros de comprimento e O espaço de 800 metros quadrados apresentou também<br />
3,5 metros de altura –, as quais, apesar da magnitude, pareciam uma área destinada à exploração dos novos recursos do<br />
flutuar pelo espaço. Seu desenho curvo, semelhante ao de smartphone, cuja tecnologia pioneira e design integrado de<br />
pétalas retorcidas, foi criado com inspiração nas formas, nas sua tela “infinita” são os principais atrativos. Daí parte o<br />
cores e nos materiais do recém-lançado aparelho celular. conceito da instalação: sem bordas e sem limites. (D.T.)<br />
LEMCA FIT BRASÍLIA<br />
GUINDASTES DO PIER MAUÁ<br />
Perfil com LEDs para uso<br />
Local: Rio de Janeiro<br />
interno e externo.<br />
Projeto de Iluminação: LD Studio<br />
24 Foto: Andrés Otero<br />
www.lemca.com.br | led@lemca.com.br<br />
25<br />
Tel: |11| 2827.0600 | 3719.3555
26 27
Imagens: Tokujin Yoshioka Design<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ESPECTRO TÁTIL<br />
O designer japonês Tokujin Yoshioka é declaradamente<br />
fascinado pela luz natural e pela sua aura mística, capaz de<br />
modificar toda a atmosfera que a rodeia. Focado na investigação<br />
da relação entre o homem e a natureza, Yoshioka costuma<br />
realizar experimentos acerca das sensações provocadas pela<br />
luz natural, que ele acredita ter o poder de ressoar com as mais<br />
íntimas emoções do observador.<br />
Inspirado pelos experimentos de Isaac Newton, o primeiro<br />
filósofo e cientista a demonstrar a decomposição do espectro<br />
da luz solar através de um prisma transparente, o designer<br />
explora o fascínio do homem quanto à relação entre luz e<br />
cor. Sua predileção por materiais transparentes também é<br />
explicada pelo fato de ele considerar ser essa a “cor” mais<br />
próxima da luz, que se torna radiante sob a luz natural. Dessa<br />
forma, já fez uso desse tipo de material anteriormente em pelo<br />
menos duas grandes instalações (KOU-AN Glass Tea House, em<br />
2011, e Rainbow Church, parte da mostra Crystalize, de 2013,<br />
ambas no Japão), antes de apresentar Spectrum – Resonant<br />
rainbows radiate from prisms, sua mais recente criação.<br />
Em cartaz na Shiseido Gallery, em Tóquio, entre os meses<br />
de janeiro e março deste ano, a experiência pode ser definida<br />
como uma jornada mística, formada por “infinitos” arco-íris<br />
que irradiavam da escultura instalada sobre a parede de uma<br />
sala branca. A instalação era constituída de 200 prismas<br />
que, sob a luz branca, refratavam cerca de 4 mil raios de luz<br />
colorida. A obra buscava transmitir uma aura de natureza, a<br />
passagem do tempo e a beleza da luz por si mesma. “Já estudei<br />
e experimentei com a luz natural muitas vezes, por ser um<br />
fenômeno tão único. Durante esse processo, aprendi sobre o<br />
caráter imprevisível da luz natural e tentei recriar essa beleza<br />
sublime, sob o meu ponto de vista. Sempre procuro capturar<br />
a essência do tempo e da natureza em experiências de design<br />
simples, de maneira a permitir que o observador se integre à<br />
natureza e à luz de forma palpável”, explica Yoshioka. (D.T.)<br />
28 29
¿QUÉ PASA?<br />
GASHOLDER PARK<br />
Texto: Limarí Lighting Design | Fotos: Speirs + Major / James Newton<br />
O projeto Gasholder Park, no bairro de King’s Cross,<br />
em Londres, se encontra imerso em um projeto global de<br />
revalorização desse antigo bairro industrial da capital inglesa.<br />
É uma iniciativa muito atraente por vários motivos, como a<br />
cuidadosa restauração e reconstrução da estrutura de aço do<br />
Gasholder 8, um marco da época vitoriana do bairro, às margens<br />
do Regent’s Canal.<br />
Sua metamorfose em um “parque de bolso” se deu pelas<br />
mãos dos arquitetos do escritório inglês Bell Phillips, que<br />
projetaram uma impressionante estrutura circular de aço<br />
inoxidável polido como um espelho, instalada internamente à<br />
estrutura original, circundando um disco de grama com cerca de<br />
20 metros de diâmetro.<br />
O projeto de iluminação desenvolvido por nossos colegas da<br />
Speirs + Major ganhou vários prêmios, entre os quais o recente<br />
Darc Awards na categoria “Best Landscape Lighting Scheme – high<br />
budget”, em 2016. O projeto se destaca por intervir na arquitetura<br />
de forma bastante integrada e elegante, por meio da delicada<br />
iluminação em tom branco frio, que realça a estrutura de aço<br />
patrimonial. Além disso, foi criada uma iluminação dinâmica com<br />
duração de 20 minutos, baseada no conceito do eclipse solar, que<br />
usa a estrutura de aço polido como um refletor secundário para<br />
gerar uma animação nesse espaço público de um bairro residencial.<br />
O projeto foi agraciado com o honroso prêmio IALD Award<br />
of Merit, concedido este ano pela Associação Internacional de<br />
Lighting Designers (IALD).<br />
30 31
A volumetria dos guindastes é revelada pelo<br />
contraste de luzes e sombras em suas superfícies.<br />
O conceito do projeto de iluminação é composto,<br />
basicamente, de fontes monocromáticas a 3.000 K<br />
e por projetores RGB, cuja programação se alterna<br />
entre as cores laranja, vermelho, azul e violeta.<br />
A COR ALÉM<br />
DO METAL<br />
Texto: Débora Torii | Fotos: Andrés Otero<br />
O<br />
projeto de revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro,<br />
intensificado durante a preparação da cidade para os Jogos<br />
Olímpicos no ano passado, continua ganhando reforços<br />
mesmo após o encerramento do evento. Sua mais recente atração<br />
será a nova iluminação dos dois guindastes portuários do Píer Mauá.<br />
Remanescentes da década de 1960 e já há algumas décadas fora de<br />
operação, eles são personagens conhecidos pela maioria dos cariocas<br />
e agora passam a integrar o emergente contexto cultural do local.<br />
Sob o comando da equipe da LD Studio, esses equipamentos<br />
ganharam vida, deixando de ser meros “pedaços de metal”, como<br />
define Mônica Lobo, uma das titulares do escritório. “Desde pequena<br />
sempre achei que os guindastes remetem a animais, e essa ideia, que<br />
é até um pouco infantil, trouxe a inspiração para o conceito”, explica<br />
ela. Buscando como resultados a vivacidade e o movimento, a equipe<br />
optou pela iluminação RGB e, em conjunto com o cliente, definiu quatro<br />
diferentes cores, que se alternarão em uma sequência pré-programada.<br />
Além disso, o sistema de cores possibilita que a estrutura se comunique<br />
com a cidade, homenageando eventos e datas comemorativas por<br />
meio de cenas que serão acionadas automaticamente.<br />
Enquanto a estrutura principal dos guindastes recebe a luz de<br />
LEDs em temperatura de cor 3.000 K, acentuando sua tonalidade<br />
laranja, o interior da cabine e a haste de carga são revelados pelas luzes<br />
dinâmicas. O desafio, nesse caso, foi obter um resultado equilibrado<br />
entre esses dois elementos, visto que seus acabamentos diferentes<br />
se comportam de maneiras distintas sob as luzes coloridas. Houve<br />
bastante cuidado também com a luminância das superfícies, de modo<br />
que seu brilho fosse compatível com o do entorno do local onde estão<br />
expostas as estruturas, evitando, assim, distorções na compreensão<br />
de sua volumetria, cuja tridimensionalidade é revelada por meio de<br />
suaves contrastes.<br />
32 33
Ao lado, a estrutura principal<br />
dos guindastes é iluminada<br />
por projetores orientáveis<br />
compactos, com LEDs de<br />
17 W, 38°, e de 12 W, 40°,<br />
ambos a 3.000 K. Acima, o<br />
interior da cabine é revelado<br />
por meio de projetores lineares<br />
com LEDs RGB 80 W, com<br />
facho assimétrico 30° × 60°.<br />
Já as hastes de carga são<br />
iluminadas por projetores<br />
com LEDs RGB 50 W, 10°. A<br />
parte superior da estrutura<br />
de cor laranja é iluminada por<br />
projetores uplight, com LEDs<br />
17 W, 12°, e 12 W, 20°, ambos<br />
a 3.000 K. A base da cabine<br />
é suavemente destacada<br />
com perfil de LEDs 9,6 W/m,<br />
3.000 K, instalado sobre a<br />
base circular da estrutura.<br />
Em razão da especificação de equipamentos de altíssima<br />
eficiência, o resultado foi alcançado com apenas 16 projetores<br />
por guindaste, com diferentes fachos e potências, além de perfis<br />
lineares que destacam a base da cabine de maneira mais homogênea<br />
e sutil. Não somente a performance mas também as dimensões<br />
das luminárias foram determinantes para sua escolha, já que era<br />
importante que o volume não sobressaísse à escala da estrutura.<br />
Mônica Lobo ainda recorreu a uma inspiração antiga para esse<br />
projeto: a iluminação das pontes de Cleveland, nos Estados Unidos,<br />
assinada pelo lighting designer Ross de Alessi em comemoração ao<br />
bicentenário da cidade, em 1996. Sem que ainda existissem os LEDs<br />
RGB na época, foram usados filtros coloridos e a movimentação<br />
mecânica das próprias luminárias para criar o efeito dinâmico de<br />
cores e intensidades luminosas da chamada “City of Bridges”. Essa<br />
referência a direcionou à liberdade e ao dinamismo com os quais<br />
interpretaram as estruturas a serem iluminadas.<br />
GUINDASTES DO PÍER MAUÁ<br />
Rio de Janeiro<br />
Projeto de iluminação:<br />
LD Studio<br />
Mônica Luz Lobo, Daniele Valle<br />
(arquitetas titulares)<br />
Flavia Azambuja, Priscila Pacheco<br />
(arquitetas colaboradoras)<br />
Cliente:<br />
Píer Mauá S/A<br />
Fornecedores:<br />
iGuzzini (O/M), Lemca, Philips<br />
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A residência apresenta detalhes cuidadosamente integrados<br />
na malha arquitetônica. Nesta imagem, linhas de LED 2.700 K<br />
sobre as vigas que separam o caixilho inferior e o superior fazem<br />
o teto flutuar.<br />
LUZ COMO<br />
MATÉRIA<br />
Texto: Gilberto Franco | Fotos: Rohan Venn<br />
se projeta uma casa para que ela brilhe?”– pergunta<br />
capciosamente Donn Salisbury, autor do projeto de<br />
“Como<br />
iluminação desta residência de fim de semana situada<br />
nas redondezas de Gerroa, um vilarejo no sudeste da Austrália.<br />
“Com um planejamento cuidadoso e luz invisível” – ele mesmo<br />
trata de esclarecer.<br />
A casa, conhecida por “The Farm Residence”, está situada no<br />
topo de uma ampla colina relvada e é constituída por um core central,<br />
no qual se acumulam as funções principais (lazer, estar e serviços),<br />
ladeado por duas alas independentes, cada uma com um grupo de<br />
dormitórios. Toda a edificação se debruça como um pássaro sobre a<br />
colina, ao mesmo tempo que suas robustas paredes de terra batida<br />
parecem emergir do solo como se dele fizessem parte.<br />
Esse conjunto arquitetônico, de materiais em estado bruto –<br />
madeira, terra batida e concreto – e de forte personalidade, não<br />
deveria, segundo Donn, ser perturbado por sistemas de iluminação<br />
que o ferissem, mas sim ser “honrado” por ela. Isso significou um<br />
habilidoso trabalho de esconder as fontes de luz, como se quisesse<br />
transformar o próprio edifício em uma grande luminária – ou “lanterna”,<br />
termo que ele utiliza. “Queríamos que a luz fluísse pela arquitetura<br />
como se fosse ela mesma a fonte de luz”, completa.<br />
Dois sistemas complementares foram utilizados, ambos<br />
integrados à arquitetura: a iluminação indireta, por meio de fontes<br />
lineares escondidas no topo das paredes (que nunca encostam no<br />
teto), fazendo o teto flutuar; e a iluminação vinda do teto, formada<br />
36 37
Acima, linhas de LED escondidas<br />
sobre as paredes fazem a casa brilhar<br />
também quando vista pelos fundos.<br />
Abaixo, esquemas mostram como a<br />
luz se distribui pela casa nos diferentes<br />
ambientes, quase sempre rebatendo no<br />
teto ou nas paredes e se distribuindo.<br />
Abaixo, à direita, a casa vista de baixo,<br />
pela colina, com o rebatimento das<br />
linhas de luz.<br />
38 39
Acima, projetores de solo junto aos pilares difundem a luz no teto de modo ritmado, provocando<br />
sombras irreais. Acima, à direita, em cada um dos dormitórios, três pontos no teto, quase<br />
imperceptíveis, fazem a iluminação das paredes, conforme ilustrado nos esquemas da página<br />
anterior. À direita, projetores de facho elíptico iluminam a piscina, proporcionando uma faixa<br />
homogênea de luz na parede oposta.<br />
geralmente por grupos de microluminárias que iluminam móveis<br />
ou áreas que necessitam de mais destaque – às vezes funcionando<br />
também como wallwashers, como nos dormitórios. Em todos<br />
os casos, o desenho integrado foi a chave para conseguir fazer<br />
desaparecer as luminárias.<br />
Nos corredores, cada dormitório é identificado por conjuntos de<br />
pequenas luminárias lineares verticais, desenhadas especialmente<br />
para o projeto, as quais, de maneira poética e inusitada, servem<br />
tanto como numeração do quarto quanto como luz noturna. Outras<br />
peças, por exemplo, os pendentes da mesa de jantar e as arandelas<br />
de latão dos quartos, com formas que mimetizam a arquitetura do<br />
edifício, também foram desenhadas especialmente para a residência.<br />
Embora toda a iluminação seja controlada por protocolo DALI,<br />
sua utilização é bastante simples para o usuário, permitindo apenas<br />
três cenas em cada espaço, programadas para atender tanto à<br />
ambientação quanto ao exercício das atividades necessárias.<br />
Não é apenas a luz que exala pelas janelas dessa robusta, porém<br />
sintética, residência. É a sintonia fina entre arquiteto e lighting<br />
designer, é o tratamento dado à luz como se fosse matéria, assim<br />
como são o concreto e a madeira.<br />
O projeto foi agraciado com o honroso prêmio IALD Award of<br />
Merit, concedido este ano pela Associação Internacional de Lighting<br />
Designers (IALD).<br />
40 41
PROCESSO<br />
Corte<br />
80<br />
Madeira<br />
W3<br />
W3<br />
3mm<br />
140<br />
Elevação frontal<br />
120<br />
200<br />
Parte interna de<br />
latão escovado<br />
Parte externa de<br />
latão envelhecido<br />
Na página anterior, acima, arandelas<br />
de latão, mimetizando as formas da<br />
arquitetura, foram desenvolvidas<br />
especialmente para esta casa; abaixo,<br />
diferentes detalhes construtivos de<br />
cada fonte de luz, incluindo croqui<br />
para os pendentes das áreas sociais.<br />
Nesta página, acima, a iluminação<br />
escondida, integrada aos detalhes<br />
de marcenaria, cria uma espécie de<br />
“arquitetura de luz”, complementada<br />
por três globos difusos para luz de<br />
espelho; abaixo, uma linha ultrafina<br />
de luz faz brilhar a caixilharia<br />
de madeira dos corredores dos<br />
dormitórios. Balizadores de desenho<br />
customizado indicam a numeração<br />
dos dormitórios, além de servirem de<br />
iluminação noturna.<br />
50<br />
Espelho<br />
Latão<br />
Acabamento<br />
branco fosco<br />
Fita dupla-face 3M<br />
resistente a calor<br />
L9<br />
70<br />
30<br />
15<br />
Madeira<br />
Luminária<br />
Forro de gesso<br />
Vidro<br />
Revestimento<br />
de madeira<br />
100<br />
80<br />
Luminária<br />
Espaçador para<br />
permitir alinhamento<br />
da luminária com a<br />
face inferior do perfil U<br />
Pedra<br />
40 x 40<br />
Esquadria<br />
Parafuso soldado no<br />
perfil metálico<br />
Porca<br />
Mola de fixação<br />
Luminária<br />
Exterior<br />
25<br />
30<br />
Interior<br />
Vidro<br />
Luminária<br />
Anteparo<br />
Cabo de alimentação<br />
THE FARM RESIDENCE<br />
Gerro, Austrália<br />
Projeto de iluminação:<br />
Electrolight<br />
Donn Salisbury, Vladimira Rosolova<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Fergus Scott Architects<br />
Fergus Scott, Caryn McCarthy e<br />
Richard Smith<br />
Fornecedores:<br />
Bega, Flos, IBL, iGuzzini, KKDC,<br />
Nocturnal Lighting, Philips, TAL,<br />
Viabizzuno, WE-EF<br />
42<br />
43<br />
Luz<br />
Palestrante do<br />
8º LEDforum
O Templo Bahá’i, em Peñalolén, Chile,<br />
está implantado na pré-cordilheira<br />
dos Andes, de onde se descortina uma<br />
magnífica vista da região. A arquitetura<br />
é destacada pela iluminação interna,<br />
que reforça a translucidez do vidro e do<br />
mármore das fachadas.<br />
TEMPLO BAHÁ’Í<br />
Texto: Carlos Fortes | Fotos: : Aryeh Kornfeld<br />
O<br />
imponente edifício do templo Bahá’í destaca-se na<br />
paisagem da pré-cordilheira dos Andes, nos arredores<br />
de Santiago do Chile, em Peñalolén. Sua vocação<br />
monástica e contemplativa é magnificamente reforçada pela<br />
arquitetura em forma de flor e pela iluminação – tanto diurna<br />
quanto noturna –, que realçam o brilho e a translucidez dos<br />
materiais – vidro e mármore branco –, revelando nuances,<br />
curvas e sombras.<br />
A doutrina e a fé Bahá’í pregam a unidade espiritual de todos<br />
os indivíduos e é amplamente calcada na prática de orações<br />
e meditações. A arquitetura, em forma de flor, parece querer<br />
traduzir os princípios de diversidade e união, com as pétalas<br />
descrevendo um movimento em direção ao topo do edifício.<br />
Implantado em um terreno de 58 hectares, o projeto do escritório<br />
canadense HPA (Hariri Pontarini Architects), concebido por<br />
Siamak Hariri como um corpo luminoso, foi vencedor de um<br />
concurso internacional em 2003.<br />
44 45
Em sentido horário, as superfícies de mármore<br />
e vidro são iluminadas internamente por<br />
36 projetores fixados em alojamento de bronze,<br />
para LEDs de 35 W, 2.700 K, não dimerizáveis.<br />
Esse sistema revela na fachada a silhueta<br />
da estrutura interna, entre a superfície de<br />
mármore e a de vidro. A iluminação indireta<br />
das superfícies de mármore é proveniente de<br />
<strong>63</strong> luminárias equipadas com lentes elípticas,<br />
para LEDs de 3 W, 2.700 K, dimerizáveis.<br />
Pendentes cilíndricos de bronze para iluminação<br />
direta marcam a posição da escada. Como<br />
complemento à iluminação indireta, foram<br />
desenhadas 26 luminárias de piso de bronze,<br />
equipadas com lâmpadas halógenas bipinos de<br />
75 W, 12 V. Nas áreas de circulação interna, com<br />
forro de madeira, foram utilizadas 36 luminárias<br />
do tipo downlight, para LEDs 8 W, 2.700 K,<br />
dimerizáveis. Nos acessos, com forro de bronze,<br />
foram utilizadas 27 luminárias do tipo downlight<br />
IP 54 para LEDs 8 W, 2.700 K, dimerizáveis.<br />
As nove pétalas que compõem o volume do edifício se<br />
desenvolvem em torno de um eixo central. As fachadas são<br />
constituídas por uma estrutura metálica revestida externamente<br />
por lâminas de vidro fundido, desenhadas para o projeto, e<br />
internamente por mármore português branco translúcido. A<br />
luz diurna penetra no interior do templo pelas janelas, que se<br />
desenvolvem entre as nove pétalas, e através da dupla camada<br />
translúcida formada pelas superfícies de vidro e de mármore.<br />
O conceito arquitetônico de “corpo luminoso” foi traduzido<br />
no projeto do lighting designer francês radicado no Chile Pascal<br />
Chautard, por meio da acertada proposta de privilegiar a translucidez<br />
das superfícies e as aberturas verticais das janelas pela iluminação<br />
interna. Assim, o templo brilha na paisagem e reflete no espelho<br />
d’água, revelando sutilmente os interiores e a teia da estrutura<br />
metálica, ensanduichada entre o mármore e o vidro.<br />
A iluminação interna deveria ser propícia às atividades<br />
monásticas, essencialmente contemplativas. Aliando-se o objetivo<br />
formal de valorizar os elementos arquitetônicos e os materiais de<br />
acabamento à demanda por um ambiente voltado à oração e à<br />
meditação, enfatizou-se a iluminação indireta, buscando-se alojar<br />
os equipamentos de iluminação de modo a serem minimamente<br />
percebidos, sem agregar novos elementos à arquitetura.<br />
Para a iluminação direta das superfícies de mármore, que<br />
proporcionaram o efeito externo de translucidez e brilho, foram<br />
46 47
Os 36 projetores que iluminam as superfícies das pétalas, assim como os 18 projetores que iluminam o óculo central, são fixados em<br />
tubos cilíndricos de bronze, locados junto às estruturas verticais das janelas, entre as pétalas.<br />
O óculo central e o topo das pétalas são iluminados por 18 projetores para lâmpadas halógenas AR 111 de 75W /8 graus.<br />
utilizados 36 projetores fixados na estrutura metálica de interseção<br />
entre as janelas e as pétalas, os quais projetam a luz em direção<br />
à pétala oposta. Esses projetores foram fixados em um tubo<br />
cilíndrico de bronze junto às estruturas verticais das janelas. A<br />
parte superior das pétalas e o óculo central são iluminados por<br />
18 projetores fixados na mesma estrutura.<br />
As superfícies de mármore também cumprem a função de<br />
rebatedores para iluminação difusa. O principal sistema de<br />
iluminação indireta é composto de <strong>63</strong> equipamentos localizados<br />
atrás dos bancos do pavimento superior, realçando a forma<br />
complexa das pétalas e a textura do mármore.<br />
Em complemento à iluminação indireta, foram desenhadas<br />
luminárias de piso difusas, que emulam a luz de vela, cumprindo<br />
também a função de restabelecer a escala humana nesse<br />
espaço de 30 metros de altura. Além desses elementos,<br />
foram desenhados cilindros pendentes de bronze, fixados nas<br />
superfícies de mármore das pétalas, para iluminação direta das<br />
escadas e do local de pregação. As circulações que circundam<br />
a nave central são iluminadas por downlights embutidos no<br />
forro de madeira. Os nove acessos que conectam o interior ao<br />
exterior também são iluminados por downlights, embutidos<br />
em placas de bronze.<br />
O templo de Peñalolén para a América do Sul foi a oitava e<br />
última edificação construída pela comunidade Bahá’í e é aberto à<br />
comunidade local. O templo é um convite à contemplação – seja<br />
pela bela arquitetura religiosa, seja pela magnífica vista que se<br />
descortina a partir do terreno onde foi construído. E o projeto<br />
de iluminação respeita e valoriza o edifício, seus usuários e a<br />
paisagem, conectando, como na filosofia Bahá’í, a diversidade<br />
e a união.<br />
O projeto foi vencedor do prêmio Lighting Design Awards 2017,<br />
na categoria Integration Project of the Year (Projeto de Integração<br />
do Ano).<br />
TEMPLO BAHÁ’Í<br />
Peñalolén, Chile<br />
Projeto de iluminação:<br />
Limarí Lighting Design – Pascal Chautard, Carolina Roese, Raúl<br />
Osses, Magdalena Roa, Francisca Nicoletti, Cristina Fahrenkrog<br />
Projeto de arquitetura:<br />
HPA – Hariri Pontarini Architects – Siamak Hariri, Doron<br />
Meinhard, Justin Ford<br />
Fornecedores:<br />
Cristobal Brahm, DGA, Home Control, JANMAR, Lutron<br />
48 49
Fachada do Novo Centro de Convenções de Roma,<br />
projetado por Massimiliano e Doriana Fuksas,<br />
titulares do Studio Fuksas, e projeto de iluminação<br />
dos lighting designers do Speirs + Major.<br />
NUVEMTECA<br />
Texto: Orlando Marques<br />
Fotos: Maurizio Marcato + AP Press Association Images<br />
e Moreno Maggi, cortesia iGuzzini Iluminação<br />
nas nuvens do céu que transformam os sonhos<br />
em realidade”, nasce o Novo Centro de Convenções de<br />
“Inspirado<br />
Roma, o maior edifício de grande escala construído nos<br />
últimos 50 anos na cidade. O empreendimento procura suprir a<br />
escassez de lugares para sediar conferências internacionais de<br />
grande porte, nos moldes dos grandes centros europeus e de<br />
diversos lugares do mundo.<br />
O complexo está situado em EUR, bairro inicialmente projetado<br />
pelo governo de Benito Mussolini para abrigar a Exposição Universal<br />
de Roma em 1942. Sua construção, no entanto, foi interrompida<br />
durante a Segunda Guerra Mundial, restando dessa época apenas<br />
alguns edifícios de arquitetura racionalista, danificados pela guerra.<br />
Dentre as edificações, destacam-se o Palácio da Civilização<br />
Italiana – também conhecido por “coliseu quadrado” –, a Basílica<br />
dos Santos Pedro e Paulo e o Palácio do Congresso.<br />
Nas décadas de 1950 e 1960, as autoridades de Roma decidiram<br />
finalizar os edifícios do EUR, procurando firmar o local como novo<br />
centro financeiro da cidade, o que provavelmente poderia ter<br />
inspirando os demais centros europeus, como Londres e Paris,<br />
a agir da mesma forma mais tarde. Para a 17ª edição dos Jogos<br />
Olímpicos, realizados em Roma em 1960, outros edifícios foram<br />
construídos no bairro, com destaque para o Palácio dos Esportes<br />
e a Torre de Vidro (que, depois da Basílica de São Pedro, seria a<br />
construção mais alta de Roma até 2012).<br />
O projeto de arquitetura do novo centro de convenções foi<br />
concebido pelos arquitetos italianos Massimiliano e Doriana Fuksas,<br />
titulares do Studio Fuksas. O projeto consistiu em dois volumes<br />
geométricos autônomos, com evidente referência às escalas dos<br />
50 51
Para iluminar o revestimento<br />
de fibra de vidro e silicone<br />
translúcidos que envolve a<br />
nuvem, foram especificadas<br />
luminárias de alta<br />
performance utilizadas<br />
em teatro. Os projetores<br />
foram fixados em nichos nos<br />
patamares da circulação<br />
dos pavimentos na nuvem,<br />
os quais foram iluminados<br />
por luminárias fixadas<br />
na estrutura metálica e<br />
sob o forro. O conceito<br />
apresentado no croqui de<br />
Massimiliano Fuksas foi<br />
sensivelmente interpretado<br />
pelos lighting designers.<br />
O resultado apresenta<br />
uma composição de cores<br />
quase monocromáticas,<br />
conferindo drama e realismo<br />
à iluminação da nuvem.<br />
volumes da arquitetura do entorno. O volume maior abriga o<br />
centro de convenções, com capacidade para até 8 mil pessoas,<br />
e o auditório, com 1.800 lugares. Outro volume tornou-se um<br />
hotel com 439 quartos, sete suítes especiais, spa e restaurantes.<br />
O projeto de arquitetura foi definido com base na ideia de três<br />
elementos: “teca”, “nuvem” e “lâmina”. Seu conceito, segundo<br />
os arquitetos, “define a justaposição de uma articulação espacial<br />
livre, sem regras, e uma forma geometricamente definida”. A teca<br />
consiste em uma caixa de vidro com estrutura metálica, na qual<br />
se articulam os espaços para exposições, feiras e conferências e<br />
também as áreas administrativas e técnicas. A nuvem, elemento<br />
considerado o coração do projeto, abriga o auditório principal e um<br />
zigue-zague de rampas e patamares de circulação e convivência,<br />
conectando o auditório e os quiosques de bebidas e de comidas à<br />
teca. A lâmina abriga o hotel.<br />
O projeto de iluminação foi desenvolvido pelo escritório londrino<br />
Speirs + Major, parceiro dos arquitetos em outros projetos bemsucedidos,<br />
como o do Aeroporto de Shenzhen, na China, e o das<br />
lojas Armani em Tóquio e Nova York, entre outros.<br />
52 53
A iluminação de boas-vindas da teca é feita por projetores fixados a 14 metros de altura, os quais fornecem 50 lux no plano.<br />
Nas demais áreas, a iluminação é fornecida pela retroiluminação da nuvem.<br />
Os pendentes projetados pelo arquiteto, organizados em uma malha ortogonal, possuem duas emissões de luz: uma direta e<br />
outra indireta. A porção direta apresenta facho médio e fluxo de 5.000 lumens e 3.000 K.<br />
Segundo os lighting designers, o projeto é uma celebração à<br />
escala do edifício e a suas propriedades transparentes e translúcidas.<br />
Sua principal intenção foi criar uma identidade noturna marcante<br />
para o empreendimento no bairro histórico. Outro aspecto foi<br />
oferecer ao usuário uma experiência imersiva no espaço, como<br />
se estivesse “andando nas nuvens”.<br />
A solução foi abordar o projeto de maneira que a nuvem<br />
parecesse autoiluminada, como uma fonte de luz gigante,<br />
disforme. Dessa forma, sua luminosidade revelaria sua natureza<br />
orgânica em direta oposição à ortogonalidade da estrutura<br />
metálica de seu invólucro. Além da abordagem poética e<br />
sensorial, a nuvem também deveria prover iluminação funcional<br />
e mais “pragmática” tanto para os espaços de dentro quanto<br />
para os de fora.<br />
Para isso, projetores de alta performance utilizados em<br />
teatro foram fixados em nichos estratégicos nas rampas e nos<br />
patamares da nuvem, com o intuito de iluminar de frente suas<br />
superfícies revestidas de fibra de vidro e silicone translúcidos.<br />
Os projetores são dotados de tecnologia que permite variação de<br />
cor, sendo possível adicionar diferentes tonalidades à nuvem, o<br />
que ajuda a enfatizar sua volumetria e sua tridimensionalidade.<br />
Para a iluminação das rampas e das circulações, luminárias de<br />
sobrepor quadradas foram escondidas ora nos nós da estrutura,<br />
ora sob a o forro dos patamares. Já a iluminação das circulações<br />
internas da teca se dá por meio de downlights e projetores fixados<br />
a 14 metros de altura, para iluminação direta.<br />
Nas áreas externas de acesso à teca, foi explorada a iluminação<br />
de balizamento indireta, escondida nos corrimões, de forma<br />
a não desviar a atenção do visitante do volume do edifício.<br />
No coração da nuvem, o amplo auditório apresenta layout<br />
dividido em plateia com pé-direito duplo e simples e mezanino,<br />
onde se situa a galeria. O forro e as paredes do ambiente são<br />
revestidos por mais de 4.700 painéis de madeira cerejeira<br />
americana. O uso desse revestimento garante alta performance<br />
acústica, ao mesmo tempo que confere ao espaço uma atmosfera<br />
aconchegante e até mais intimista.<br />
O projeto de iluminação dessas áreas é percebido por meio<br />
da distribuição regular de luminárias cilíndricas pendentes,<br />
desenhadas especialmente para o projeto. Sua forma esbelta e<br />
longilínea parece ajustar a escala do ambiente à escala humana,<br />
proporcionando equilíbrio entre o edifício e o usuário.<br />
Os pendentes possuem duas emissões de luz, uma para<br />
iluminação direta e funcional da plateia e outra para iluminação<br />
indireta. A emissão indireta imprime um padrão geométrico no<br />
forro, ressaltando tanto o material de revestimento – pois destaca<br />
as qualidades oferecidas pelo uso desse material –, quanto a malha<br />
regular de distribuição das luminárias. Downlights nas áreas de pédireito<br />
simples e balizadores de pequenas dimensões embutidos<br />
nos degraus das plateias completam a iluminação desse espaço.<br />
Inspirados no projeto do Roma Convention Center La Nuvola,<br />
espera-se que outros edifícios do histórico bairro, como o Palácio<br />
da Civilização Italiana, hoje sede do grupo Fendi, também<br />
sejam restaurados, para que a história de Roma continue a ser<br />
contada por meio de seus edifícios no século XXI.<br />
O projeto recebeu Menção Honrosa na categoria Integration<br />
Project of the Year (Projeto de Integração do Ano), na premiação<br />
Lighting Design Awards 2017.<br />
NOVO CENTRO DE CONVENÇÕES DE ROMA<br />
Roma, Itália<br />
Projeto de iluminação:<br />
Speirs + Major<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Studio Fuksas:<br />
Massimiliano & Doriana Fuksas<br />
Projeto de engenharia:<br />
AI Engineering<br />
Fornecedores:<br />
ETC, iGuzzini (O/M)<br />
54 55
O SABOR DE UM BOM PROJETO<br />
LUMINOTÉCNICO<br />
Apesar de fazer parte do Top Center Shopping, esta unidade da sorveteria tem sua fachada principal voltada para a avenida Paulista,<br />
o que demandava seu destaque. Assim, para que ficasse em evidência, a logomarca foi iluminada por meio de uma arandela linear de<br />
comprimento customizado, equipada com ledline 14,4 W/m, 2.700 K e difusor.<br />
Texto: Débora Torii | Fotos: Beto Riginik<br />
Um cliente decidido e disposto a investir em uma boa<br />
iluminação, uma nova loja de grande visibilidade. Com<br />
esses ingredientes, aparentemente perfeitos para uma<br />
receita de sucesso, a lighting designer Renata Fongaro, à frente do<br />
Studio 220V, iniciou seu projeto para a sorveteria Bacio di Latte<br />
do Top Center Shopping, em São Paulo.<br />
No entanto, lidar com esses elementos revelou-se um<br />
verdadeiro desafio até a obtenção do resultado equilibrado e<br />
aconchegante que já pode ser apreciado na loja.<br />
Nenhuma das unidades da rede de sorveterias havia tido, até então,<br />
um projeto luminotécnico. Por essa razão, o grupo responsável por<br />
sua fundação e seu gerenciamento estava extremamente insatisfeito<br />
e “traumatizado”, nas palavras de Renata, com a iluminação dos<br />
estabelecimentos. A nova unidade, localizada na avenida Paulista,<br />
era uma das grandes apostas da rede, por isso todos estavam<br />
ansiosos por obter um resultado tão bom quanto o esperado.<br />
Nesse cenário de grandes expectativas, a lighting designer<br />
tinha um duplo trabalho pela frente: provar a importância de<br />
um bom projeto luminotécnico, por meio da obtenção de um<br />
resultado satisfatório, e, ao mesmo tempo, convencer sutilmente<br />
seu cliente de cada uma das soluções de iluminação proposta<br />
por ela, visto que ele já tinha em mente diversas ideias – até<br />
mesmo de fontes luminosas –, embora não tivesse qualquer<br />
conhecimento técnico a respeito dos efeitos de tais recursos.<br />
Assim como nas lojas anteriormente inauguradas, o conceito<br />
dos projetos de arquitetura e de interiores buscava conferir à<br />
nova unidade na avenida Paulista o conforto e o aconchego<br />
de uma residência. Além dessa premissa, Renata tinha como<br />
objetivo desenvolver uma identidade de luz para a loja, utilizando<br />
linguagens e padrões luminotécnicos que pudessem ser replicados<br />
em projetos futuros. Essa necessidade foi identificada após um<br />
extenso levantamento feito nas outras unidades da rede, por<br />
meio do qual ela também constatou outros problemas, como<br />
a existência de muitas sombras e de áreas mal iluminadas e o<br />
destaque inadequado dos objetos decorativos.<br />
Sendo assim, o projeto de iluminação partiu do desejo de<br />
iluminar o espaço de maneira uniforme e sutil, sem a presença<br />
de fachos marcados. Renata buscava também promover uma<br />
verdadeira limpeza no forro do local, visto que foi nessa superfície<br />
que praticamente todos os equipamentos de iluminação foram<br />
instalados nos projetos anteriores. Para isso, utilizou distintos tipos<br />
56 57
de montagem e de efeito, como a valorização do plano vertical<br />
principal ao fundo da loja – por meio da luz difusa proveniente de<br />
uma sanca – e da iluminação indireta instalada no topo do mobiliário<br />
– evitando que o forro ficasse escuro.<br />
Fatores restritivos, como o prazo extremamente curto – cerca<br />
de 20 dias entre a contratação do projeto e a inauguração da loja<br />
– e o orçamento limitado disponibilizado pelo cliente, levaram a<br />
lighting designer a optar por downlights com lâmpadas halógenas<br />
como principal fonte de luz para a área do salão. A escolha foi<br />
influenciada também pela solicitação do cliente de que as luzes<br />
fossem ligadas a um controle de intensidade luminosa – sistema<br />
que se provou desnecessário após a inauguração da loja, conforme<br />
já havia previsto Renata.<br />
Já a área de serviço, atrás do balcão de atendimento, é iluminada<br />
por meio de downlights com lâmpadas LED, de maneira a garantir<br />
que a temperatura desse local – onde são armazenados e servidos<br />
os sorvetes – não sofresse nenhuma elevação decorrente dos<br />
equipamentos de iluminação, fator apontado pelo cliente como um<br />
problema nas outras unidades. A temperatura de cor sutilmente mais<br />
fria dessa área da loja a unifica com a cozinha, que, sob o cuidado<br />
de Renata, passou a ter um desenho de teto mais organizado e<br />
elegante, diferentemente dos projetos anteriores, que sempre<br />
trataram o espaço como um local estritamente de serviço, apesar<br />
de poder ser observado pelos clientes através de duas grandes<br />
janelas, que remetem a vitrines.<br />
Os acabamentos predominantemente brancos, tanto da<br />
arquitetura quanto dos objetos decorativos, parecem, à primeira<br />
vista, trabalhar em favor da iluminação, que se beneficia de suas<br />
altas refletâncias. No entanto, a variedade de tipos de acabamento<br />
e de material, com diferentes propriedades, comportamentos e<br />
pigmentos, demandou a realização de inúmeros testes até que<br />
a temperatura de cor das fitas de LED pudesse ser corretamente<br />
definida, de maneira a permitir um resultado homogêneo.<br />
O esforço conjunto das equipes de iluminação, de arquitetura<br />
e de marcenaria e também do fornecedor dos equipamentos de<br />
iluminação foi crucial para a correta execução dos detalhes de<br />
fixação desses equipamentos no mobiliário da loja. Além disso,<br />
houve cuidado para que a luz não se transformasse em um objeto<br />
decorativo, já que as lojas da rede costumam ser ricas em objetos e<br />
detalhes, para os quais o cliente demandava que houvesse destaque.<br />
“Não desejo chamar mais atenção do que a arquitetura, mas sim<br />
trabalhar em conjunto com ela, de forma que os visitantes não<br />
considerem a luz linda, mas sim o espaço confortável”, afirma Renata.<br />
Com uma de suas fachadas voltadas para a avenida Paulista,<br />
essa unidade da sorveteria necessitava ainda de maior ênfase<br />
na logomarca, outro ponto de insatisfação do cliente quanto aos<br />
projetos anteriores. Para tanto, foi necessário lidar com as inúmeras<br />
restrições impostas pela administração do shopping quanto à fixação<br />
de equipamentos na área externa da loja. Assim, a lighting designer<br />
optou por uma arandela de dimensões bastante reduzidas, cujo<br />
comprimento foi customizado de acordo com a logo, resultando<br />
em uma iluminação intensa e, ao mesmo tempo discreta, o que<br />
agradou bastante o cliente.<br />
Mesmo que com alguns ajustes, grande parte dos padrões<br />
de projeto implementados por Renata nessa “experiência teste”<br />
continua sendo aplicada pela marca nas unidades posteriormente<br />
inauguradas. Prova de que a receita do bolo – ou melhor, do sorvete<br />
– deu certo.<br />
Nas imagens ao lado, a área do salão da loja, cuja<br />
iluminação geral é realizada por meio de luminárias<br />
orientáveis embutidas no forro, com lâmpadas<br />
halógenas PAR 30 35 W, 30°, dimerizáveis,<br />
complementadas pela iluminação indireta<br />
proveniente da prateleira superior do mobiliário,<br />
com ledline 9,6 W/m, 2.700 K. As superfícies da<br />
mesa e do balcão são iluminadas por pendentes<br />
com lâmpadas halógenas PAR 20. Acima, é possível<br />
observar o discreto contraste de temperaturas de cor<br />
entre a área do salão e a área de atendimento, que foi<br />
iluminada por meio de downlights com lâmpadas<br />
LED AR 111, 10 W, 24°, 2.700 K sobre o balcão e<br />
PAR 30, 10 W, 30°, 2.700 K ao fundo – resultando<br />
em uma aparência levemente mais fria. A parede<br />
ao fundo foi destacada pela sanca wallwasher<br />
com lâmpadas fluorescentes tubulares T5, 28 W,<br />
2.700 K. A estante ao fundo da loja, assim como<br />
todo o restante do mobiliário, teve suas prateleiras<br />
equipadas com ledlines 9,6 W/m, 2.700 K, montadas<br />
em perfis lineares a 45°, para destaque dos<br />
abundantes objetos decorativos.<br />
BACIO DI LATTE – UNIDADE TOP CENTER SHOPPING<br />
São Paulo, Brasil<br />
Projeto de iluminação:<br />
Studio 220V – Renata Fongaro<br />
Projeto de arquitetura:<br />
C.A.ST. – Companhia de Arquitetura & Store Design<br />
Fornecedores:<br />
Lemca e Ômega Light<br />
58 59
EUROLUCE 2017<br />
A VEZ DO HUMAN CENTRIC DESIGN<br />
Texto: Thiago Gaya<br />
Aconteceu entre os dias 4 e 9 de abril a 29ª edição da<br />
Euroluce. O evento é parte do Salão do Móvel, que, com<br />
os eventos Fuori Salone, compõe a Semana de Design<br />
de Milão, momento em que os olhos do mundo se voltam para<br />
a cidade italiana.<br />
O Salão recebeu aproximadamente 345 mil visitantes,<br />
de 165 países, em busca das novidades dos mais de 2 mil<br />
expositores – dos quais 485 estavam na Euroluce. O crescimento<br />
de 10% no número de visitantes em relação a 2015 consolida<br />
a impressão que tivemos esse ano: a contínua retomada da<br />
atividade econômica e um fôlego maior dos principais players<br />
e a qualidade e a relevância dos lançamentos apresentados. Se<br />
nas últimas edições observamos muitas releituras de coleções<br />
anteriores, que passaram a abrigar a tecnologia LED, a Euroluce<br />
2017 trouxe novas ideias, formas, usos e possibilidades, e o design<br />
retomou o controle, usando a tecnologia como ferramenta, e<br />
não como um fim bastante em si.<br />
Verificamos nas últimas edições a soberania dos desenhos<br />
escandinavo e japonês e a consequente busca pela simplicidade<br />
das formas e pela “verdade dos materias”, com o uso da madeira,<br />
do vidro, do concreto, do cobre, do couro e do feltro. Permanece<br />
essa tendência, mas, no que diz respeito a materiais, o vidro<br />
reinou absoluto neste ano, estando presente em todos os<br />
estandes e na maioria dos lançamentos mais relevantes. E<br />
vale destacar a relação – na verdade, a interação – entre vidro<br />
e tecnologia. Ainda que seja um elemento tão tradicional,<br />
sobretudo da indústria italiana, muitos produtos traziam o<br />
vidro totalmente integrado à exploração das possibilidades<br />
de novas formas e usos em razão da evolução tecnológica<br />
das fontes de luz.<br />
Outra forte tendência observada na feira deste ano foi a<br />
portabilidade. Luminárias portáteis, com baterias recarregáveis,<br />
estavam por toda parte. Alguns novos produtos e muitos<br />
clássicos que agora podem ser levados a qualquer lugar, com<br />
autonomia de até 12 horas.<br />
As linhas de produtos componíveis integrados à arquitetura,<br />
apresentados em especial pela Vibia e pela FLOS nas últimas edições,<br />
ganharam ainda mais destaque e também puderam ser vistas em<br />
diversos estandes com um viés interessante: a humanização das<br />
composições. Os lançamentos presentes na Euroluce 2017 vão além<br />
da personalização proporcionada por essas linhas componíveis;<br />
elementos como plantas, pássaros estilizados, pequenos objetos de<br />
nosso cotidiano e até a chama de uma lamparina foram integrados<br />
aos equipamentos, quase sempre com fontes de luz cálidas, para<br />
criar ambientes acolhedores e mais humanos, que estabeleçam<br />
um contato dos usuários com o mundo real e nos remetam às<br />
nossas origens.<br />
Saímos da feira com a sensação de que a Euroluce, depois de<br />
algumas edições pouco inspiradas e inspiradoras, volta a fazer um<br />
contraponto às feiras de tecnologia, especialmente no atual momento,<br />
em que Light+Building e LighFair mergulharam no mundo dos bits<br />
e bytes e que o tema luz se pautou essencialmente nos aspectos<br />
técnicos da evolução dos LEDs e suas variáveis. A Euroluce volta a<br />
abrir outra porta, de diferentes estímulos, com os quais o desenho<br />
reafirma sua força, como que nos dizendo “não se esqueçam de mim”.<br />
Também é muito interessante notar que, seja pela tecnologia<br />
– por meio dos apelos “ecológicos” do LED e pela atual hegemonia<br />
da Human Centric Lighting –, seja por esse “human centric design”<br />
observado como principal tendência na Euroluce, o homem<br />
parece querer fazer as pazes com a natureza e consigo mesmo.<br />
60 61
10<br />
5<br />
9<br />
11 12<br />
1<br />
4<br />
2<br />
3<br />
8<br />
6 7<br />
13 14<br />
VIBIA<br />
Protagonista das últimas duas edições da Euroluce, a fabricante<br />
catalã Vibia apresentou quatro novas famílias de luminárias e<br />
evoluções de coleções apresentadas em anos anteriores. Das<br />
novidades, destacamos duas linhas de produtos componíveis,<br />
muito características da marca: Structural 1 , de Arik Levy, que se<br />
baseia na combinação de volumes cúbicos que formam esculturas<br />
integradas na arquitetura, desconstruindo e dispersando as fontes<br />
de luz e proporcionando jogos de luz direta e indireta; e a coleção<br />
Palma 2 , de Antoni Arola, que é composta de sutis esferas de<br />
vidro soprado, unidas por meio de um aro e de estruturas de<br />
alumínio. Pode ser instalada de forma individual ou múltipla,<br />
permitindo criar diversas composições – pendentes, de parede<br />
ou de piso – e integrar plantas ao conjunto.<br />
O estúdio sueco Note Design Studio criou a coleção Musa 3 , cujos<br />
objetos proporcionam uma interessante interação entre a iluminação<br />
suave emitida pelo difusor de vidro soprado e a luz indireta e envolvente<br />
refletida na superfície adjacente.<br />
O designer Stefan Diez desenvolveu com a Vibia uma nova<br />
forma de aplicar a tecnologia LED, integrando a luz à matéria,<br />
fazendo com que ela percorra o vidro de forma invisível e apareça<br />
do nada. A união do material e do virtual nas luminárias Guise 4<br />
foi obtida por meio da aplicação de alta tecnologia: LED de última<br />
geração, corte preciso do vidro borossilicato de altíssima qualidade<br />
e estriamentos realizados no cristal por robôs. O resultado é uma<br />
coleção de belos objetos transparentes que emanam luz.<br />
FONTANAARTE<br />
A FontanaArte dá sequência à sua repaginação, iniciada na<br />
Euroluce 2013, com lançamentos que certamente conquistarão<br />
o mercado.<br />
A linha Equatore 5 , dos designers Gabriele e Oscar Buratti,<br />
reinterpreta os abajures clássicos, com cúpulas de vidro.<br />
Enquanto nas peças clássicas o difusor aloja e controla a<br />
fonte de luz em seu interior, nessa coleção de luminárias, os<br />
difusores, paradoxal e sugestivamente, estão vazios e o efeito<br />
luminoso é produto da distribuição regular das luzes de LED<br />
de dois discos luminosos dispostos no interior de uma faixa<br />
metálica visível através do difusor, que evoca a linha do equador.<br />
O disco inferior projeta luz direta para baixo, enquanto a luz<br />
gerada pelo disco superior ilumina a cápsula de vidro, para<br />
uma difusão suave e um interessante efeito reflexivo.<br />
A luminária Galerie 6 , de Federico Peri, é inspirada na<br />
estética e na funcionalidade das antigas lamparinas a óleo da<br />
Belle Époque. O difusor é feito de vidro soprado em quatro<br />
camadas, e preso por uma tira de couro, que permite que a<br />
peça seja pendurada em diferentes posições na estrutura<br />
metálica. Está disponível nas versões para parede e para piso.<br />
Dois discos de vidro com rotação livre bloqueia ou deixa a<br />
luz passar, de forma gradual e suave. O mecanismo da luminária<br />
Heliacal 7 , concebida por OS & OOS, é uma metáfora do<br />
comportamento dos corpos celestes, como o processo diário<br />
e permanente de graduação da luz provocado pela alternância<br />
entre o nascer e o pôr do sol. Como descreve a fabricante,<br />
"uma luz mágica e preciosa de uma luminária de grande<br />
potência expressiva".<br />
A família de luminárias Setareh 8 , criada pelo jovem<br />
arquiteto siciliano Francesco Librizzi, é composta de esferas de<br />
vidro soprado acetinado, suspensas por diferentes estruturas<br />
metálicas, sutis e graciosas.<br />
FLOS<br />
A FLOS foi a grande estrela da Euroluce 2017. Em um estande<br />
lindo, que permaneceu absolutamente lotado durante toda a<br />
feira, a fabricante italiana apresentou lançamentos que aliam<br />
design e tecnologia com maestria. Novas formas, novos usos e<br />
possibilidades mil, em peças assinadas por grandes designers<br />
da cena contemporânea.<br />
Arrangements 9 nasce do fascínio do designer Michael<br />
Anastassiades pelo paralelismo entre objetos de luz e joalheria<br />
e do desafio de traduzir a natureza delicada das joias no espaço,<br />
em uma escala diferente, mantendo sua preciosidade graças à<br />
maneira como os materiais são apresentados. Arrangements é<br />
um sistema modular de elementos geométricos de luz que podem<br />
ser combinados de diferentes formas, transformando múltiplas<br />
composições em chandeliers individuais. Cada unidade se une<br />
à outra de forma simples, “repousando” em perfeito equilíbrio,<br />
como um elemento de uma corrente luminosa.<br />
Anastassiades criou também o pendente Overlap 10 ,<br />
que consiste na interseção de dois discos, revestidos pela<br />
membrana cocoon – amplamente usada pela FLOS em peças<br />
clássicas da marca – como forma de conceber e materializar o<br />
espaço do entorno de duas superfícies planas perpendiculares.<br />
A divertida luminária Blush Lamp 11 , desenhada pelo<br />
estúdio Formafantasma, faz uso de uma fita de LED e uma<br />
peça de vidro dicroico para projetar reflexos coloridos na<br />
parede, evocando na memória a recordação de um longo<br />
dia de verão, como resposta à falta de saturação de cores<br />
nos períodos invernais. Também desenvolvida pelo estúdio<br />
holandês, a luminária WireRing 12 é um “exercício de redução,<br />
pelo qual seus componentes essenciais oferecem o máximo<br />
com a utilização do mínimo”. É composta de dois elementos<br />
separados: um cabo que sustenta e transmite eletricidade a<br />
um anel de LED.<br />
O estúdio de design japonês nendo criou para a FLOS a<br />
coleção Gaku 13 : um conjunto de caixas, projetores e pendentes<br />
diminutos e objetos singelos que são pura poesia. Um sortimento<br />
de elementos de luz e acessórios para combinações diversas,<br />
como se estivéssemos casualmente organizando os móveis<br />
de um quarto em miniatura.<br />
A coleção Noctambule 14 , de Konstantin Grcic, é feita de<br />
módulos cilíndricos de vidro soprado transparente. O módulo<br />
individual é como uma lanterna e, quando combinado com<br />
outros, cria uma coluna de luz ou um chandelier.<br />
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15<br />
16<br />
20<br />
22 23 24 25<br />
17 18 19<br />
21<br />
ARTEMIDE<br />
A Artemide mais uma vez chegou à Euroluce com uma<br />
grande quantidade de lançamentos. Entre desdobramentos de<br />
coleções anteriores e novos produtos, foram nada menos que<br />
as novidades apresentadas. Destacamos aqui quatro produtos:<br />
A coleção Yanzi 15 , dos designers Lyndon e Rossana Hu, foi<br />
um dos highlights da Euroluce 2017. Trata-se de uma delicada<br />
composição de signos gráficos: estruturas como galhos e<br />
poleiros sobre as quais são colocadas outras figuras estilizadas,<br />
como andorinhas icônicas, com corpo de latão escovado e<br />
cabeça de delicada esfera de vidro que acondiciona a fonte de<br />
luz. Um sistema aberto, ideal para criar composições singelas<br />
e paisagens de luz que alegram qualquer espaço com uma<br />
atitude poética e elegante.<br />
A designer Carlotta de Bevilacqua sempre apresenta produtos<br />
futuristas. O pendente Harry H. 16 , desenhado em parceria com<br />
Laura Pessoni, foi apresentado como uma “máquina óptica híbrida”,<br />
que utiliza tecnologia LED e OLED. Dentro de um difusor de<br />
vidro transparente, dois sistemas ópticos diferentes trabalham<br />
conjuntamente para proporcionar diferentes cenários, luz e alta<br />
performance. A parte inferior é constituída de quatro pares de<br />
painéis OLED orientáveis, que emitem luz dos dois lados. Quando<br />
desligados, são superfícies espelhadas que refletem seu entorno<br />
e a luz emitida pela outra fonte, de LED, na parte superior.<br />
Desenvolvido pelo escritório BIG, Alphabet of light 17 é um<br />
sistema modular de componentes de luz lineares e curvos que<br />
oferecem inúmeras possibilidades de desenhos: letras, linhas<br />
retas e curvas.<br />
Emera 18 , desenhada por Ernesto Gismondi e Daniele Moioli,<br />
combina mobilidade com desempenho. Mais uma opção de<br />
luminária portátil apresentada na feira, com autonomia de<br />
até quatro horas.<br />
BOCCI<br />
O estande da fabricante canadense Bocci é sempre um<br />
espaço de muita inspiração. A criatividade de Omer Arbel e<br />
sua equipe surpreende a cada edição da Euroluce. As formas<br />
orgânicas, que parecem invadir e se apropriar da geometria<br />
do estande, causam estranheza e fascinam, em uma feira<br />
marcada pela tradição limpa dos desenhos nórdico e japonês.<br />
Quatro novas coleções foram apresentadas este ano, dentre<br />
as quais destacamos três: as duas coleções de pendentes,<br />
84 19 e 87 20 e uma de parede, a 76 21 .<br />
DAVIDE GROPPI<br />
O designer italiano Davide Groppi, diretor criativo da fabricante<br />
homônima, é hoje o ícone do minimalismo na iluminação. Seus<br />
produtos aliam de forma única a simplicidade, a leveza e a<br />
essencialidade das formas com tecnologia. Dois de seus lançamentos<br />
em Milão têm a marca de seu desenho delicado, com tecnologia<br />
de ponta integrada. O pendente QuiQuoQua 22 é composto de<br />
uma fonte de luz com bateria recarregável (entrada mini USB) e<br />
autonomia de até 12 horas, acoplada magneticamente a um disco<br />
de metal, suspenso por um finíssimo fio de aço. Também portátil<br />
e recarregável, a luminária de mesa Tetatet Flûte 23 concentra<br />
na parte superior a fonte de luz e a bateria, que parecem flutuar<br />
sobre a elegante coluna de vidro quase invisível.<br />
ASTEP<br />
A marca dinamarquesa Astep foi uma das boas surpresas<br />
da Euroluce 2017. Além de uma linda parceria com a FLOS para<br />
a produção de luminárias clássicas de Gino Sarfatti – avô do<br />
fundador da empresa, Alessandro Sarfatti –, apresentou dois<br />
lançamentos portáteis, tecnológicos e repletos de significado.<br />
A luminária Candela 24 , concebida pelo designer argentino<br />
Francisco Gomez Paz, transforma o calor de uma chama em<br />
eletricidade por meio do efeito termelétrico de Seebeck.<br />
Isso mesmo: a luminária, que é alimentada por 260 ml de<br />
bioetanol (para cinco horas de autonomia) possui uma chama<br />
que gera eletricidade suficiente para acender um LED. O uso<br />
do fogo para alimentar o LED representa simultaneamente<br />
a mais remota e mais atual forma de iluminar.<br />
A luminária Nox 25 , por sua vez, não é apenas mais um<br />
exemplo de luminária portátil, dentre os diversos apresentados<br />
na feira, mas o mais funcional deles. Estética e funcionalidade<br />
são ainda acompanhadas por tecnologia de ponta: a luminária<br />
desenhada por Alfredo Häberli utiliza sistema de indução –<br />
sem fio – e é dimerizada por toque na estrutura de alumínio<br />
anodizado.<br />
64 65
FOTO LUZ FOTO<br />
ARYEH<br />
KORNFELD<br />
Esta imagem que selecionei permite<br />
resumir com excelência as características de<br />
um projeto de grande escala e envergadura.<br />
De linhas particulares, simples, mas ao mesmo<br />
tempo com complexidade e desenvolvimento<br />
de seus materiais e acabamentos, enquadrados<br />
sob um trabalho de iluminação preciso.<br />
A fotografia foi tirada com uma câmera<br />
Canon 5DMK III e com lente TS-E 17 mm<br />
f4/L, com abertura de diafragma em f8,<br />
para extrair um resultado melhor da óptica<br />
da lente, e com exposição de ¼ de segundo,<br />
em resposta às condições de iluminação – o<br />
que demandou que o equipamento fosse<br />
montado sobre um tripé. O interessante aqui<br />
é o uso de uma lente de óptica móvel (“Tilt-<br />
Shift”), que permite corrigir a perspectiva e<br />
gerar um deslocamento óptico com mínima<br />
distorção, além de proporcionar amplitude ao<br />
espaço, com enfoque na iluminação sobre o<br />
revestimento da cúpula.<br />
O enquadramento foi feito de maneira<br />
vertical para valorizar as características do<br />
espaço e “brincar” com a escala do local. Além<br />
disso, foi incluída a escala humana como<br />
recurso, e o registro foi tomado de uma altura<br />
mais baixa, para enfatizar a calidez do piso de<br />
madeira e seus reflexos.<br />
De modo geral, sempre calibro a imagem<br />
da maneira mais fiel possível à realidade e<br />
regulo as diferenças geradas pelas distintas<br />
temperaturas de cor. Somente se acentuaram<br />
certos pontos, que avaliei estarem de acordo<br />
com a imagem final.<br />
O maior desafio que enfrentei nesse lugar<br />
foi como trabalhar a luz sutil e atmosférica<br />
sobre um mármore branco de grande escala,<br />
em contraste com a superfície do piso, muito<br />
mais escura, opaca e horizontal, no qual o jogo<br />
das formas é primordial.<br />
Especialista em fotografia arquitetônica e corporativa, Aryeh Kornfeld é sócio-fundador e diretor do estúdio chileno de design e fotografia<br />
Draft. Arquiteto formado pela Universidad Central de Chile, também é docente na Escuela de Diseño da Universidad Gabriela Mistral<br />
(UGM) e na Escuela de Artes Visuales y Diseño da Universidad Andrés Bello (UNAB).<br />
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