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BYRONSHELLEY-textoteatral-

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À Gl.´. do G.´. A.´. D.´. U.´.<br />

BYRON & SHELLEY<br />

Autor: Justino Pietro.´. ​augustfenris@yahoo.com<br />

(c)2010 Registro N:504.889 Biblioteca<br />

Nacional RJ-Brazil )<br />

( Shelley sendo cremado na praia, na presença de Byron )<br />

" A Venezia si sogna, a Roma si pensa, a Firenze si lavora, a Napoli si vive "<br />

( ​Sonha-se em Veneza,pensa-se em Roma, trabalha-se em Florença e vive-se em<br />

Nápoles ) ​Ditado italiano do século 19<br />

Peça em 5 atos. Período: de 1815 a 1822.<br />

Sinopse<br />

Dois expoentes do Romantismo do século 19, os poetas ingleses Lord Byron<br />

e Percy B. Shelley foram amigos inseparáveis e mártires de suas próprias<br />

vidas: Byron optou pelo exílio longe da Inglaterra, para fugir das dividas e<br />

dos escandalosos rumores de incesto com sua meia-irmã. Shelley optou<br />

pelo exílio por motivos de saúde . Juntos na Itália, Byron e Shelley viveram o<br />

ápice de suas carreiras literárias, o que os levou a entrarem em contato com<br />

" Os Carbonários", uma Maçonaria italiana da época. Desejoso de libertar a<br />

Grécia da tirania dos turcos, Shelley morreu antes que pudesse concretizar<br />

este sonho. Mas Byron levou adiante o desejo ardente do amigo e lutou em<br />

prol da Liberdade...Liberdade,ainda que tardia...<br />

Personagens: Lord Byron:<br />

Augusta Leigh:<br />

Shelley:<br />

Mestre da Lua (Grão-Mestre dos Carbonários ):


Consultar o Apêndice histórico no final<br />

Se non é vero,é bem trovatto.... ​Se não é verdadeiro,é bem achado....<br />

ATO I<br />

Inglaterra: Abril 1816 - Adieu, Augusta: O Destino Desdobrado Nas Sombras<br />

Da Noite<br />

Cenário : Byron está sentado. Á sua frente uma mesa cheia de papéis.Um<br />

copo de gym repousa sobre a mesa. Ele olha com desprezo para as folhas.<br />

Olha para cima,distante. Consulta seu relógio de bolso.Está prestes a<br />

abandonar a Inglaterra, devido aos rumores de incesto, o que fez com que<br />

sua esposa, Anne Milbanke, pedisse o divórcio.Difamado e cheio de<br />

dívidas,não lhe resta outra opção,a não ser fugir de seu país.Augusta entra<br />

em cena, para lhe fazer uma última visita.<br />

Byron ( erguendo um copo de gym, num gesto de brinde, ao ver Augusta<br />

entrar,melancólica ): ​Parto! Antes que a loucura/Me tome de assalto os sentidos<br />

já inertes<br />

E antes que a tua ausência/Me destrua o espírito peregrino<br />

De mim para ti, deixo apenas/A reflexão do que poderia ter sido<br />

Se o Tempo não se mostrasse/Tão tirano descrente....<br />

(faz uma pausa,enquanto bebe o copo ):​Não se assuste, eu ainda não<br />

enlouqueci!Não fugiu ainda meu espírito....<br />

( Augusta ri e Byron fica a olhar para ela​ ​, pensativo )<br />

Augusta ( declamando com suavidade): ​Nunca imaginei as distancias que<br />

teria de percorrer/Todos os cantos mais escuros de um sentido que<br />

desconhecia/ Só por um instante pensei ter encontrado meu caminho/Destino


Desdobrado:foi o que vi escorrer de meu alcance...​( tristemente falando ):<br />

Então, é isso mesmo, meu amado irmão? Vais partir?Vais me deixar?<br />

Byron (num misto de desespero e esperança,estendendo as mãos para<br />

ela): ​Venha comigo!Viajaremos por toda a Europa... ​(ri do próprio absurdo<br />

de sua proposta):​Ás vezes fico a pensar, como foi extasiante enquanto durou,<br />

todos estes momentos que passamos juntos! A certeza do teu amor! Como foi<br />

doloroso quando te recusaste a continuar me amando, do modo como você me<br />

amava!<br />

Augusta ( zangada, de braços cruzados, dando as costas para ele ): ​Mas<br />

foi necessário! Será que nunca vai me perdoar? ( ​Voltando-se para Byron,<br />

num sinal de cansaço, tristemente falando ): ​Bem sabes, meu amado<br />

irmão, que não posso, jamais poderia seguir contigo em teu exílio! Como eu<br />

gostaria que tudo fosse diferente para nós.<br />

​Byron (abrindo os braços,num tom de exclamação ): ​Sim, eu sei! Este<br />

pais... esta sociedade que uma vez havia me aplaudido, me elevado ao status de<br />

herói, agora vira as costas para mim! ​(dando um murro na mesa ):​Maldição!​ ​Se<br />

ao menos tivéssemos mais tempo! Mas tudo que sinto é que é o fim de uma<br />

estação! É a loucura! Toda vez que te via, abrasava-me os teus olhos ardentes!<br />

​( olhando febrilmente para ela ): ​ Meu Deus, teus olhos! Eles exercem sobre<br />

mim, minha doce ninfa, um sentimento tão intenso, que penso que vou<br />

enlouquecer! Estou destinado a percorrer este mundo, a ter amantes...mas o que<br />

alguém pode significar para mim, depois de ti?<br />

( Byron se aproxima para beija-la, mas Augusta se esquiva, ao que Byron faz<br />

um gesto de descrença e impaciência)<br />

Byron ( abrindo os braços ):​Você,permanecendo na luz da glória e<br />

eu,irreconhecivel na escuridão... Acaso eu estou num estado tão lastimável<br />

assim?


Augusta ( em tom firme, decidida ): ​Não foi para isso que eu vim...<br />

Byron ( friamente ): ​Ah, entendo! ​( pausa, falando com amargura ): ​Me<br />

diga, doce ninfa dos bosques romanos, acaso sentiras saudades de mim?<br />

Augusta ( com firmeza ): ​Sabes que sim! Acaso duvidas de mim?<br />

Byron( em voz alta, com amargura,em tom de acusação ): ​Você não soube<br />

me amar... Me empurrou em direção a um casamento sem sentido...seu<br />

grande plano falhou!!!Só restou cinzas...<br />

Augusta ( fazendo gestos intensos com as mãos, ansiosamente ): ​Ora, o<br />

que querias que eu fizesse? Era a coisa mais lógica a se fazer. Eu quis te<br />

proteger, me proteger, afinal, sou uma mulher casada... e proteger Medora,<br />

também! Acaso esqueceu que ela é... ​( levantando-se e próxima a Byron,<br />

olhando friamente para ele ): ​Que Medora é sua filha?<br />

Byron ( balançando a cabeça, num gesto de negação ) : ​Você não<br />

agüentou o peso de me amar! ​( dando as costas a ela, tristemente falando<br />

para uma platéia imaginária): ​ Coração e alma, um dos dois há de arder!<br />

( Silêncio. Augusta começa a chorar, suavemente )<br />

Byron ( arrependido, colocando as mãos no ombro de Augusta com<br />

delicadeza ): ​Não chore, Augusta, você sempre foi a mais forte! Muitas vezes<br />

sou selvagem demais...<br />

Augusta: ​Vim aqui para me despedir, Byron. Mas se minha presença te tortura<br />

tanto assim, é melhor que eu me vá, então!​(Augusta faz um gesto de quem<br />

está prestes a partir)<br />

Byron ( segurando as mãos de Augusta ): ​Não, por favor, pode ficar!


Augusta (colocando as duas mãos no rosto de Byron): ​Não sei mais o que<br />

devo fazer. Devo partir...Adeus! ​( os dois se beijam apaixonadamente.<br />

Augusta corre para um canto do palco.)<br />

Byron ( estendendo as mãos para ela ):​ Se você partir agora, cometerei uma<br />

loucura, eu juro... Por favor, fique!<br />

( Silêncio Mortal. Augusta repentinamente se volta para Byron e diz, com<br />

melancolia ): ​Não há lugar no mundo para amores impossíveis. Nem para dois<br />

amantes, como nós.<br />

( ela se vai, enquanto Byron se senta,em choque, colocando as mãos no<br />

rosto.Luzes se apagam...)<br />

ATO II<br />

ITÁLIA, 1819<br />

Cenário : Byron tinha acabado de se recupera de uma doença. O poeta inglês<br />

Shelley, amigo de Byron, atravessara um grave periodo de depressão, pois<br />

sua filha Clara havia falecido em 1818 e seu filho Willian acabara de falecer<br />

em 1819. Sua mulher Mary estava gravida novamente.Shelley,em mais um de<br />

seus momentos de euforia, devido á nova gravidez da esposa, vai com Byron<br />

se encontrar com o Mestre da Lua, o Grão- Mestre dos Carbonários.Ambos<br />

estão sentados á mesa, bebendo chá.<br />

Shelley ( com entusiasmo ): ​Acaso esqueceste de nosso discurso?Toda a<br />

Europa está em alvoroço...as revoluções estão no ar!E tu estais ai,inerte...(rindo)<br />

( Byron permanece em silêncio. Shelley bate de leve nas costas de Byron,


num gesto amigo )<br />

Byron ( sussurrando ): ​Shelley, Shelley...Saiste finalmente de tua cela solitária?<br />

Shelley: ​Vamos lá, Byron, não me diga que...<br />

( Byron acena positivamente com a cabeça. Shelley continua a falar ): ​Com<br />

quantas mulheres você saiu neste último mÊs?<br />

Byron ( olhando para Shelley, inerte,sorrindo fracamente ): ​216... Nos últimos<br />

seis meses...<br />

Shelley ( horrorizado ): ​Byron! Eu não acredito! Como você consegue? Não se<br />

sente miserável?<br />

Byron ( sorrindo de leve ): ​É isso que admiro em você, Shelley, essa sua<br />

capacidade de argumentação. Com 16 anos conseguiu a proeza de ser expulso<br />

da universidade em Oxford por causa daquele manifesto, como era mesmo o<br />

nome?<br />

Shelley: ​" Sobre A Necessidade do Ateísmo ". Foi este um dos motivos pelo qual<br />

meu pai me deserdou... mas que diferença isto faz, agora? Uma hora ou outra um<br />

homem tem que vencer seus próprios demônios, não é ?​ ( amargurado e<br />

sombrio): ​Tenho lutado para acreditar, Byron, mas confesso que estou no<br />

escuro...<br />

Byron: ​Sei que tens lutado bravamente, e agradeço te por teres vindo me dar um<br />

apoio!(​ pausa ): ​Considero o ateísmo uma moda nos dias de hoje, Shelley. Acho<br />

que, quando a Natureza me moldou, colocou em mim um senso muito forte de<br />

indiferença. Sou indiferente, só isso. Quanto aos meus demônios, eles me<br />

assombram por dias inteiros. Eu não consigo sentir nada, neste momento.<br />

Shelley: ​Os excessos é que destroem qualquer tipo de caráter, meu caro! Sem


disciplina não há como seguir adiante!<br />

Byron:​ Altruísmo, Shelley! E o mais impressionante é que até para escrever você<br />

tem um horário especifico. Eu nem sei como é que eu consigo rabiscar umas<br />

meras linhas! Talvez Keats tenha razão num ponto: eu escrevo o que vivo, ao<br />

passo que ele tem que fazer um esforço inacreditável para compor. Mas mesmo<br />

assim, considero Keats um total idiota. Apesar de saber que você o admira.<br />

Shelley: ​Vejo somente o lado bom das coisas, Byron, apesar de o mundo sempre<br />

ter girado de ponta-cabeça. Talvez tenha sido a tuberculose, mas o fato é que<br />

existe algo além, disso eu tenho certeza. Veja Goethe, por exemplo: é um ser<br />

humano completo. Creio que está além de nosso tempo.<br />

Byron: ​Quem conseguirá supera-lo? Sim, ele é o maior...mas ainda assim ele<br />

ficou pesaroso por causa de todos aqueles suicídios causados pela leitura de seu<br />

primeiro livro " O Sofrimentos do jovem Werther ". Queres um conselho, Shelley,<br />

de amigo? Diminua a dosagem de laudano que você toma. Isto pode estar te<br />

afetando...<br />

Shelley ( rindo ): ​Olha só quem fala! Um escravo da luxuria aconselhando um<br />

viciado em ópio! Belos idiotas nós somos, isso sim!<br />

(Entra em cena o Mestre da Lua:)<br />

Mestre da Lua ( cumprimentando-os efusivamente ):​É sempre um prazer<br />

encontra-los. ​( O Mestre da Lua consulta uns papéis, preocupado ): ​Caros<br />

primos, a situação dos gregos não anda nada boa. Cada dia chegam mais<br />

relatórios das crueldades do turco louco, o paxa Ali. Se não me engano, Lord<br />

Byron se encontrou com ele, certa vez, não foi?<br />

Byron: ​Na época, ele me pareceu um velho bondoso. As aparências enganam,<br />

não é mesmo? Foi por volta de 1809, se não me falha a memória. ​( Olhando para<br />

Shelley ): ​Como pode a Inglaterra apoiar um tirano sanguinário destes, Shelley?


Shelley: ​Por causa da excelente relação comercial-financeira entre os dois,<br />

Byron.​(irônico):​Como se você não soubesse...<br />

Byron: ​Toda minha esperança política morreu com o grande Napoleão Bonaparte,<br />

mas se há um vestígio de esperança, creio na Venezuela do grande Bolívar.<br />

Mestre da Lua: ​ Vim alerta-los de que existem espiões por toda parte, e que<br />

relatórios semanais são escritos sobre as ações dos senhores, e que consideram<br />

a " Romantica " um movimento revolucionário perigoso...<br />

Shelley: ​Devem estar loucos!!! Falta do que fazer, não é mesmo, Byron?<br />

Byron ( faz um gesto vago de indiferença ): ​Eu não me imagino liderando<br />

qualquer tipo de movimento...veja por exemplo, a Itália de hoje. Não posso<br />

acreditar e falar em termos de uma Roma papal, de uma Veneza austriaca. Todos<br />

coexistem, por bem ou por mal, não é?<br />

Shelley: ​Se eu pudesse eu iria até a Grécia lutar pela causa. Estou cansado de<br />

absurdos como esse! Tem gente demais sendo empalada!<br />

Mestre da Lua: ​Os irmãos da Ordem pediram que eu os convidasse para fazerem<br />

mais uma vez um discurso.Todos ficaram muito inspirados da última<br />

vez.Precisamos planejar nossas ações em prol da Liberdade!<br />

Byron ( com um ar cansado ): ​Houve um tempo em que acreditava em palavras,<br />

mas creio que esse tempo findou! Sim, o senhor está certo! ​(levantando-se): ​Que<br />

ao menos eu tenha uma morte de soldado...​( olhando para o Mestre da Lua ):<br />

Iremos planejar um discurso é só marcar a data e mandar nos avisar. Mas sinto<br />

que a Grécia não pode esperar.Avante,Shelley!O tempo urge!<br />

( Os dois cumprimentam respeitosamente o Mestre da Lua e se vão )<br />

Mestre da Lua :( reflexivo,falando consigo mesmo )<br />

: ​Esses dois...jovens idealistas com grande potencial mas com amarguras<br />

irreparáveis.Pressinto um futuro sombrio para eles.Não é fácil lidar com o


Conhecimento.Muitos se esquecem do velho adágio “Saber para poder;Poder<br />

para servir.E servir á Humanidade,como muitos Mestres do Passado o fizeram.A<br />

Verdade é que o poder dos homens corrompe;somente o Poder de Deus eleva.<br />

A lapidação é constante...<br />

( Luzes se apagam )<br />

ATO III<br />

Cenário : Casa de Shelley, o ambiente está envolto em uma tênue<br />

neblins,representando o estado de Shelley.<br />

Byron ( entrando pensativo em cena ): ​Como vais,Shelley? Por que está tão<br />

agitado?<br />

Shellley (delirante e agitado): ​São as vozes dos antepassados que se levantam,<br />

Byron, as vozes do Circo Máximo gritando, pedindo nossas vidas! Os velhos<br />

sistemas estão caindo, e qual é o nosso papel? O manto da Noite nos cobrirá!<br />

Byron: ( preocupado ): ​Mary me disse que você não está conseguindo dormir!<br />

Que tipos de pesadelos tem?<br />

Shelley ( cabisbaixo ): ​Pressinto um vento gélido me dominando, Byron, e vozes<br />

alarmadas gritando ao longe! Sinto que meu fim se aproxima.... ​( olhando para<br />

Byron ): ​Já sentiste isto, teu fim? Inevitá vel, consolador?<br />

Byron: ​Estou cansado, Shelley, tanto quanto você. Vejo esta Italia, tão bela e<br />

distante, com suas operas e teatros...mas sinto falta é da Inglaterra,mesmo agora<br />

eu penso nela...Augusta!Que diferença faz, agora? O que me aguarda? Uma<br />

morte de soldado, é isto que pressinto. Não me imagino morrendo velho.<br />

Shelley: ​Meu fim se aproxima, Byron, é o preço por ter ousado enchergar além!


Keats está morto, e quem será o próximo?Se ao menos me sobrasse tempo para<br />

ir salvar a Grécia, pátria dos filosofos e amantes da sabedoria!<br />

Byron: ​Ora, Shelley, você tem mulher e filho. Se alguém deveria ir, já que o<br />

mundo se tornou um deserto sem fim, este teria que ser eu...<br />

Shelley: ​Um de nós dois irá, querendo ou não! Ao final, todos encontraremos a "<br />

morte de soldado "..​(luzes se apagam)<br />

ATO IV<br />

ITÁLIA - 1822<br />

Cenário: O corpo de Shelley inerte no chão. O mar trouxe seu corpo de volta<br />

á terra. Byron vem caminhando e encontra o corpo do amigo. Se ajoelha ao<br />

seu lado. Olha para cima, como quem procura ser confortado. Lágrimas<br />

caem de seus olhos.<br />

Byron ( bradando aos céus, recitando o poema de Shelley " A Noite " :<br />

I)​’Spectro da Noite, célere atravessa/Os mares do Ocidente!<br />

Das brumosas grutas do Oriente vem depressa,<br />

De onde, enquanto o dia refulgente/Se alonga em solidão, tu teces sonhos<br />

Os mais benévolos e os mais medonhos/– Vem, ó Noite envolvente!<br />

II)​Esconde teu vulto em manto sem cor<br />

Teus astros benfazejos!Venda os olhos do Dia com o negror<br />

De teu cabelo, e exaure-o com teus beijos,<br />

Depois toca a cidade, e a terra, e o mar,<br />

Com teu condão de ópio, a apaziguar - Noite de meus desejos!<br />

III)​Quando acordei e vi o amanhecer,<br />

Eu suspirei por ti/E quando vi o orvalho esvanecer,<br />

O sol pesar sobre o mundo, e senti


Que o Dia demorava-se, cansado,<br />

Tal qual um hóspede indesejado/Eu suspirei por ti.<br />

IV)​Veio tua irmã, a Morte, e perguntou:<br />

Tu me chamaste aqui?/Teu doce filho, o Sono, se achegou,<br />

E entre suaves murmúrios ouvi:<br />

Queres que me acomode ao lado teu?/Chamaste-me aqui? — Respondi-lhe eu:<br />

Não, não chamei a ti!<br />

V ​( levantando Shelley, bradando ): ​A Morte? Só quando houveres morrido,<br />

Em breve, ah, em breve/O Sono? Quando tiveres partido.<br />

Que não me venha o Sono, nem me leve<br />

A Morte, e sim tu, Noite, ó bem-amada/– Vem súbita, vem célere, alada;<br />

( Silêncio ) ​Adonis jaz morto! O mundo se tornou mais e mais desolado...<br />

Aqui! Aqui jaz Adonis! Poseidon o enviou de volta, graças aos pedidos de Atenas<br />

e Apolo!<br />

Byron sai andando devagar. Para por um momento, então grita): ​Por ti,<br />

Shelley, morrerei lutando para libertar a Grécia dos inimigos da liberdade! Juro-te!<br />

( ​Luzes se apagam )<br />

ATO V<br />

Cenário : Casa de Byron. Faz 8 meses que Shelley morreu. Em cena estão o<br />

Mestre da Lua e Byron. Uma carta jaz sobre a mesa<br />

Mestre da Lua ( espantado ): ​Ouvi rumores de que o senhor partiria para libertar<br />

a Grécia dos turcos, em especial tomar Lepanto. Isto é verdade?<br />

Byron ( esboça um sorriso ): ​Não é engraçado como as pessoas antecipam<br />

minhas ações? ​( amargamente ): ​Como se eu pudesse salvar aquelas pobres<br />

pessoas de tiranos como Paxa Ali. Mas creio que no final, o grandioso Shelley<br />

tivesse razão: a juventude desiludida de nosso tempo precisa de mártires para


seguir adiante. Seria um final grandioso.<br />

Mestre da Lua ( respeitosamente ): ​Gostaria que soubesses que tens nosso<br />

apoio, e falo isso em nome de todos os Carbonários e os primos da Fraternidade<br />

Filelênica . Não quero pressiona-lo, caro lorde, mas seria um grandioso exemplo<br />

para toda a Europa, já que o senhor é um lorde inglês e a Inglaterra lucra com a<br />

tirania dos turcos sobre os gregos...<br />

Byron ( servindo-se de um gole de gym que estava sobre a mesa. Ele então<br />

percebe que tem uma carta sobre a mesa. Pega-a na mão e estranha a letra ):<br />

O senhor que trouxe esta carta?<br />

Mestre da Lua: ​Não, senhor não trouxe nada comigo. Mas por favor, verifique a<br />

data e abra a carta para verificar.<br />

Byron ( abrindo a carta, olhando mais de perto, espantado ): ​Faz duas<br />

semana que esta carta chegou! Será de algum estudante lunático? Já recebi<br />

milhares desta, mas...​ ( espantado, reconhecendo o sinete e a letra ): ​É de<br />

Goethe! ​( sentando-se, pálido e<br />

comovido ): ​Está em alemão! Por acaso o senhor sabe ler alemão!<br />

Mestre da Lua ( abrindo um largo sorriso, pegando a carta das mão de Byron<br />

): ​Felizmente sei! Prepare seu coração, pois eu a lerei num minuto!<br />

( O Mestre da Lua faz uma pose, e começa a ler com intensidade. É uma<br />

benção que Goethe mandou para Byron, quando soube que este iria para a<br />

Grécia. Byron ouve com todo cuidado, de cabeça baixa )<br />

" ​Que poderia eu dizer á distância, de bastante terno - aquele que há tanto tempo<br />

venho acompanhando?<br />

Aquele que vem mantendo consigo mesmo lutas intimas<br />

Aquele que grandemente habituado a suportar as magoas mais profundas,<br />

Ainda assim tem o contentamento de sentir a si próprio?


Que ele tenha coragem de se dizer bem-aventurado<br />

Quando a força das Musas sobrepuja as dores,<br />

E que ele se revele a si próprio, tal como eu o conheço ".<br />

( O Mestre da Lua deposita a carta na mesa e aguarda . Byron se levanta . )<br />

Byron: ​Sim, eu irei até a Grécia, nem que seja a última coisa que eu faça. Pode<br />

dizer a eles que tens minha palavra!<br />

Mestre da Lua: ​ A Humanidade lhe será imensamente grata! Adeus!<br />

( cumprimenta Byron,abraçando-o respeitosamente ):​Lembre-se sempre do<br />

Ideal:Levantar Templos á virtude e cavar masmorras ao vício!<br />

Byron ( em pé, como um soldado ): ​Se não tive honra em vida,terei na morte,por<br />

uma causa Justa!Buscai a morte do soldado, que poucos procuram e muitos<br />

encontram.Será para a ti a melhor.Escolhe,olhando em torno, a tua sepultura, e<br />

goza teu repouso.​(pausa): ​A Grécia será,então, a minha sepultura...​( Luzes se<br />

apagam )<br />

TFA.'.<br />

APÊNDICE<br />

SOCIEDADE DOS CARBONÁRIOS: ​Membros da ​Carbonária​, sociedade<br />

secreta, de caráter politico-religioso, do fim do século 18 e principio do século 19,<br />

ativa principalmente na Itália e França.Na Itália eram ​Carbonari ( carvoeiros )​ e<br />

na França ​Fendeurs ( lenhadores )​ usando, quando se comunicavam,<br />

expressões próprias daqueles oficios. Chamavam ​barraca​ ao lugar das reuniões,<br />

ao seu interior, ​choça​, e aos seus arredores, ​bosque​.Tratavam-se por bons


primos e falavam em nome de grandes ideais e tinham em seu ritual muitas<br />

analogias com a ​Maçonaria​. Na Itália lutou contra a invasão francesa e chegou a<br />

contar com 600.000 adeptos que se batiam contra os Estados Pontifícios, a<br />

Áustria e seus aliados. As chamadas ​Vendas​ eram as orientadoras das choças ou<br />

barracas, e nomeavam ​delegados​ ao conselho supremo. Havia ainda a barraca<br />

de mulheres, denominadas ​jardins​, tendo elas o nome de ​jardineiras​. ​Limpar o<br />

bosque dos lobos ​significava a destruição dos tiranos.<br />

Fraternidade Filelênica : ​Movimento de interesse e simpatia pelos patriotas que<br />

lutavam pela independência da Grécia contra os turcos. Filelênico quer dizer: "<br />

amigo dos helenos ", dos gregos, portanto.<br />

ROMÂNTICA: ​Sociedade da época do Romantismo literário, que teve caráter<br />

político em Portugal, com Garret e Herculano. Na Itália, foi chefiada por Manzoni

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