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À Gl.´. do G.´. A.´. D.´. U.´.<br />
BYRON & SHELLEY<br />
Autor: Justino Pietro.´. augustfenris@yahoo.com<br />
(c)2010 Registro N:504.889 Biblioteca<br />
Nacional RJ-Brazil )<br />
( Shelley sendo cremado na praia, na presença de Byron )<br />
" A Venezia si sogna, a Roma si pensa, a Firenze si lavora, a Napoli si vive "<br />
( Sonha-se em Veneza,pensa-se em Roma, trabalha-se em Florença e vive-se em<br />
Nápoles ) Ditado italiano do século 19<br />
Peça em 5 atos. Período: de 1815 a 1822.<br />
Sinopse<br />
Dois expoentes do Romantismo do século 19, os poetas ingleses Lord Byron<br />
e Percy B. Shelley foram amigos inseparáveis e mártires de suas próprias<br />
vidas: Byron optou pelo exílio longe da Inglaterra, para fugir das dividas e<br />
dos escandalosos rumores de incesto com sua meia-irmã. Shelley optou<br />
pelo exílio por motivos de saúde . Juntos na Itália, Byron e Shelley viveram o<br />
ápice de suas carreiras literárias, o que os levou a entrarem em contato com<br />
" Os Carbonários", uma Maçonaria italiana da época. Desejoso de libertar a<br />
Grécia da tirania dos turcos, Shelley morreu antes que pudesse concretizar<br />
este sonho. Mas Byron levou adiante o desejo ardente do amigo e lutou em<br />
prol da Liberdade...Liberdade,ainda que tardia...<br />
Personagens: Lord Byron:<br />
Augusta Leigh:<br />
Shelley:<br />
Mestre da Lua (Grão-Mestre dos Carbonários ):
Consultar o Apêndice histórico no final<br />
Se non é vero,é bem trovatto.... Se não é verdadeiro,é bem achado....<br />
ATO I<br />
Inglaterra: Abril 1816 - Adieu, Augusta: O Destino Desdobrado Nas Sombras<br />
Da Noite<br />
Cenário : Byron está sentado. Á sua frente uma mesa cheia de papéis.Um<br />
copo de gym repousa sobre a mesa. Ele olha com desprezo para as folhas.<br />
Olha para cima,distante. Consulta seu relógio de bolso.Está prestes a<br />
abandonar a Inglaterra, devido aos rumores de incesto, o que fez com que<br />
sua esposa, Anne Milbanke, pedisse o divórcio.Difamado e cheio de<br />
dívidas,não lhe resta outra opção,a não ser fugir de seu país.Augusta entra<br />
em cena, para lhe fazer uma última visita.<br />
Byron ( erguendo um copo de gym, num gesto de brinde, ao ver Augusta<br />
entrar,melancólica ): Parto! Antes que a loucura/Me tome de assalto os sentidos<br />
já inertes<br />
E antes que a tua ausência/Me destrua o espírito peregrino<br />
De mim para ti, deixo apenas/A reflexão do que poderia ter sido<br />
Se o Tempo não se mostrasse/Tão tirano descrente....<br />
(faz uma pausa,enquanto bebe o copo ):Não se assuste, eu ainda não<br />
enlouqueci!Não fugiu ainda meu espírito....<br />
( Augusta ri e Byron fica a olhar para ela , pensativo )<br />
Augusta ( declamando com suavidade): Nunca imaginei as distancias que<br />
teria de percorrer/Todos os cantos mais escuros de um sentido que<br />
desconhecia/ Só por um instante pensei ter encontrado meu caminho/Destino
Desdobrado:foi o que vi escorrer de meu alcance...( tristemente falando ):<br />
Então, é isso mesmo, meu amado irmão? Vais partir?Vais me deixar?<br />
Byron (num misto de desespero e esperança,estendendo as mãos para<br />
ela): Venha comigo!Viajaremos por toda a Europa... (ri do próprio absurdo<br />
de sua proposta):Ás vezes fico a pensar, como foi extasiante enquanto durou,<br />
todos estes momentos que passamos juntos! A certeza do teu amor! Como foi<br />
doloroso quando te recusaste a continuar me amando, do modo como você me<br />
amava!<br />
Augusta ( zangada, de braços cruzados, dando as costas para ele ): Mas<br />
foi necessário! Será que nunca vai me perdoar? ( Voltando-se para Byron,<br />
num sinal de cansaço, tristemente falando ): Bem sabes, meu amado<br />
irmão, que não posso, jamais poderia seguir contigo em teu exílio! Como eu<br />
gostaria que tudo fosse diferente para nós.<br />
Byron (abrindo os braços,num tom de exclamação ): Sim, eu sei! Este<br />
pais... esta sociedade que uma vez havia me aplaudido, me elevado ao status de<br />
herói, agora vira as costas para mim! (dando um murro na mesa ):Maldição! Se<br />
ao menos tivéssemos mais tempo! Mas tudo que sinto é que é o fim de uma<br />
estação! É a loucura! Toda vez que te via, abrasava-me os teus olhos ardentes!<br />
( olhando febrilmente para ela ): Meu Deus, teus olhos! Eles exercem sobre<br />
mim, minha doce ninfa, um sentimento tão intenso, que penso que vou<br />
enlouquecer! Estou destinado a percorrer este mundo, a ter amantes...mas o que<br />
alguém pode significar para mim, depois de ti?<br />
( Byron se aproxima para beija-la, mas Augusta se esquiva, ao que Byron faz<br />
um gesto de descrença e impaciência)<br />
Byron ( abrindo os braços ):Você,permanecendo na luz da glória e<br />
eu,irreconhecivel na escuridão... Acaso eu estou num estado tão lastimável<br />
assim?
Augusta ( em tom firme, decidida ): Não foi para isso que eu vim...<br />
Byron ( friamente ): Ah, entendo! ( pausa, falando com amargura ): Me<br />
diga, doce ninfa dos bosques romanos, acaso sentiras saudades de mim?<br />
Augusta ( com firmeza ): Sabes que sim! Acaso duvidas de mim?<br />
Byron( em voz alta, com amargura,em tom de acusação ): Você não soube<br />
me amar... Me empurrou em direção a um casamento sem sentido...seu<br />
grande plano falhou!!!Só restou cinzas...<br />
Augusta ( fazendo gestos intensos com as mãos, ansiosamente ): Ora, o<br />
que querias que eu fizesse? Era a coisa mais lógica a se fazer. Eu quis te<br />
proteger, me proteger, afinal, sou uma mulher casada... e proteger Medora,<br />
também! Acaso esqueceu que ela é... ( levantando-se e próxima a Byron,<br />
olhando friamente para ele ): Que Medora é sua filha?<br />
Byron ( balançando a cabeça, num gesto de negação ) : Você não<br />
agüentou o peso de me amar! ( dando as costas a ela, tristemente falando<br />
para uma platéia imaginária): Coração e alma, um dos dois há de arder!<br />
( Silêncio. Augusta começa a chorar, suavemente )<br />
Byron ( arrependido, colocando as mãos no ombro de Augusta com<br />
delicadeza ): Não chore, Augusta, você sempre foi a mais forte! Muitas vezes<br />
sou selvagem demais...<br />
Augusta: Vim aqui para me despedir, Byron. Mas se minha presença te tortura<br />
tanto assim, é melhor que eu me vá, então!(Augusta faz um gesto de quem<br />
está prestes a partir)<br />
Byron ( segurando as mãos de Augusta ): Não, por favor, pode ficar!
Augusta (colocando as duas mãos no rosto de Byron): Não sei mais o que<br />
devo fazer. Devo partir...Adeus! ( os dois se beijam apaixonadamente.<br />
Augusta corre para um canto do palco.)<br />
Byron ( estendendo as mãos para ela ): Se você partir agora, cometerei uma<br />
loucura, eu juro... Por favor, fique!<br />
( Silêncio Mortal. Augusta repentinamente se volta para Byron e diz, com<br />
melancolia ): Não há lugar no mundo para amores impossíveis. Nem para dois<br />
amantes, como nós.<br />
( ela se vai, enquanto Byron se senta,em choque, colocando as mãos no<br />
rosto.Luzes se apagam...)<br />
ATO II<br />
ITÁLIA, 1819<br />
Cenário : Byron tinha acabado de se recupera de uma doença. O poeta inglês<br />
Shelley, amigo de Byron, atravessara um grave periodo de depressão, pois<br />
sua filha Clara havia falecido em 1818 e seu filho Willian acabara de falecer<br />
em 1819. Sua mulher Mary estava gravida novamente.Shelley,em mais um de<br />
seus momentos de euforia, devido á nova gravidez da esposa, vai com Byron<br />
se encontrar com o Mestre da Lua, o Grão- Mestre dos Carbonários.Ambos<br />
estão sentados á mesa, bebendo chá.<br />
Shelley ( com entusiasmo ): Acaso esqueceste de nosso discurso?Toda a<br />
Europa está em alvoroço...as revoluções estão no ar!E tu estais ai,inerte...(rindo)<br />
( Byron permanece em silêncio. Shelley bate de leve nas costas de Byron,
num gesto amigo )<br />
Byron ( sussurrando ): Shelley, Shelley...Saiste finalmente de tua cela solitária?<br />
Shelley: Vamos lá, Byron, não me diga que...<br />
( Byron acena positivamente com a cabeça. Shelley continua a falar ): Com<br />
quantas mulheres você saiu neste último mÊs?<br />
Byron ( olhando para Shelley, inerte,sorrindo fracamente ): 216... Nos últimos<br />
seis meses...<br />
Shelley ( horrorizado ): Byron! Eu não acredito! Como você consegue? Não se<br />
sente miserável?<br />
Byron ( sorrindo de leve ): É isso que admiro em você, Shelley, essa sua<br />
capacidade de argumentação. Com 16 anos conseguiu a proeza de ser expulso<br />
da universidade em Oxford por causa daquele manifesto, como era mesmo o<br />
nome?<br />
Shelley: " Sobre A Necessidade do Ateísmo ". Foi este um dos motivos pelo qual<br />
meu pai me deserdou... mas que diferença isto faz, agora? Uma hora ou outra um<br />
homem tem que vencer seus próprios demônios, não é ? ( amargurado e<br />
sombrio): Tenho lutado para acreditar, Byron, mas confesso que estou no<br />
escuro...<br />
Byron: Sei que tens lutado bravamente, e agradeço te por teres vindo me dar um<br />
apoio!( pausa ): Considero o ateísmo uma moda nos dias de hoje, Shelley. Acho<br />
que, quando a Natureza me moldou, colocou em mim um senso muito forte de<br />
indiferença. Sou indiferente, só isso. Quanto aos meus demônios, eles me<br />
assombram por dias inteiros. Eu não consigo sentir nada, neste momento.<br />
Shelley: Os excessos é que destroem qualquer tipo de caráter, meu caro! Sem
disciplina não há como seguir adiante!<br />
Byron: Altruísmo, Shelley! E o mais impressionante é que até para escrever você<br />
tem um horário especifico. Eu nem sei como é que eu consigo rabiscar umas<br />
meras linhas! Talvez Keats tenha razão num ponto: eu escrevo o que vivo, ao<br />
passo que ele tem que fazer um esforço inacreditável para compor. Mas mesmo<br />
assim, considero Keats um total idiota. Apesar de saber que você o admira.<br />
Shelley: Vejo somente o lado bom das coisas, Byron, apesar de o mundo sempre<br />
ter girado de ponta-cabeça. Talvez tenha sido a tuberculose, mas o fato é que<br />
existe algo além, disso eu tenho certeza. Veja Goethe, por exemplo: é um ser<br />
humano completo. Creio que está além de nosso tempo.<br />
Byron: Quem conseguirá supera-lo? Sim, ele é o maior...mas ainda assim ele<br />
ficou pesaroso por causa de todos aqueles suicídios causados pela leitura de seu<br />
primeiro livro " O Sofrimentos do jovem Werther ". Queres um conselho, Shelley,<br />
de amigo? Diminua a dosagem de laudano que você toma. Isto pode estar te<br />
afetando...<br />
Shelley ( rindo ): Olha só quem fala! Um escravo da luxuria aconselhando um<br />
viciado em ópio! Belos idiotas nós somos, isso sim!<br />
(Entra em cena o Mestre da Lua:)<br />
Mestre da Lua ( cumprimentando-os efusivamente ):É sempre um prazer<br />
encontra-los. ( O Mestre da Lua consulta uns papéis, preocupado ): Caros<br />
primos, a situação dos gregos não anda nada boa. Cada dia chegam mais<br />
relatórios das crueldades do turco louco, o paxa Ali. Se não me engano, Lord<br />
Byron se encontrou com ele, certa vez, não foi?<br />
Byron: Na época, ele me pareceu um velho bondoso. As aparências enganam,<br />
não é mesmo? Foi por volta de 1809, se não me falha a memória. ( Olhando para<br />
Shelley ): Como pode a Inglaterra apoiar um tirano sanguinário destes, Shelley?
Shelley: Por causa da excelente relação comercial-financeira entre os dois,<br />
Byron.(irônico):Como se você não soubesse...<br />
Byron: Toda minha esperança política morreu com o grande Napoleão Bonaparte,<br />
mas se há um vestígio de esperança, creio na Venezuela do grande Bolívar.<br />
Mestre da Lua: Vim alerta-los de que existem espiões por toda parte, e que<br />
relatórios semanais são escritos sobre as ações dos senhores, e que consideram<br />
a " Romantica " um movimento revolucionário perigoso...<br />
Shelley: Devem estar loucos!!! Falta do que fazer, não é mesmo, Byron?<br />
Byron ( faz um gesto vago de indiferença ): Eu não me imagino liderando<br />
qualquer tipo de movimento...veja por exemplo, a Itália de hoje. Não posso<br />
acreditar e falar em termos de uma Roma papal, de uma Veneza austriaca. Todos<br />
coexistem, por bem ou por mal, não é?<br />
Shelley: Se eu pudesse eu iria até a Grécia lutar pela causa. Estou cansado de<br />
absurdos como esse! Tem gente demais sendo empalada!<br />
Mestre da Lua: Os irmãos da Ordem pediram que eu os convidasse para fazerem<br />
mais uma vez um discurso.Todos ficaram muito inspirados da última<br />
vez.Precisamos planejar nossas ações em prol da Liberdade!<br />
Byron ( com um ar cansado ): Houve um tempo em que acreditava em palavras,<br />
mas creio que esse tempo findou! Sim, o senhor está certo! (levantando-se): Que<br />
ao menos eu tenha uma morte de soldado...( olhando para o Mestre da Lua ):<br />
Iremos planejar um discurso é só marcar a data e mandar nos avisar. Mas sinto<br />
que a Grécia não pode esperar.Avante,Shelley!O tempo urge!<br />
( Os dois cumprimentam respeitosamente o Mestre da Lua e se vão )<br />
Mestre da Lua :( reflexivo,falando consigo mesmo )<br />
: Esses dois...jovens idealistas com grande potencial mas com amarguras<br />
irreparáveis.Pressinto um futuro sombrio para eles.Não é fácil lidar com o
Conhecimento.Muitos se esquecem do velho adágio “Saber para poder;Poder<br />
para servir.E servir á Humanidade,como muitos Mestres do Passado o fizeram.A<br />
Verdade é que o poder dos homens corrompe;somente o Poder de Deus eleva.<br />
A lapidação é constante...<br />
( Luzes se apagam )<br />
ATO III<br />
Cenário : Casa de Shelley, o ambiente está envolto em uma tênue<br />
neblins,representando o estado de Shelley.<br />
Byron ( entrando pensativo em cena ): Como vais,Shelley? Por que está tão<br />
agitado?<br />
Shellley (delirante e agitado): São as vozes dos antepassados que se levantam,<br />
Byron, as vozes do Circo Máximo gritando, pedindo nossas vidas! Os velhos<br />
sistemas estão caindo, e qual é o nosso papel? O manto da Noite nos cobrirá!<br />
Byron: ( preocupado ): Mary me disse que você não está conseguindo dormir!<br />
Que tipos de pesadelos tem?<br />
Shelley ( cabisbaixo ): Pressinto um vento gélido me dominando, Byron, e vozes<br />
alarmadas gritando ao longe! Sinto que meu fim se aproxima.... ( olhando para<br />
Byron ): Já sentiste isto, teu fim? Inevitá vel, consolador?<br />
Byron: Estou cansado, Shelley, tanto quanto você. Vejo esta Italia, tão bela e<br />
distante, com suas operas e teatros...mas sinto falta é da Inglaterra,mesmo agora<br />
eu penso nela...Augusta!Que diferença faz, agora? O que me aguarda? Uma<br />
morte de soldado, é isto que pressinto. Não me imagino morrendo velho.<br />
Shelley: Meu fim se aproxima, Byron, é o preço por ter ousado enchergar além!
Keats está morto, e quem será o próximo?Se ao menos me sobrasse tempo para<br />
ir salvar a Grécia, pátria dos filosofos e amantes da sabedoria!<br />
Byron: Ora, Shelley, você tem mulher e filho. Se alguém deveria ir, já que o<br />
mundo se tornou um deserto sem fim, este teria que ser eu...<br />
Shelley: Um de nós dois irá, querendo ou não! Ao final, todos encontraremos a "<br />
morte de soldado "..(luzes se apagam)<br />
ATO IV<br />
ITÁLIA - 1822<br />
Cenário: O corpo de Shelley inerte no chão. O mar trouxe seu corpo de volta<br />
á terra. Byron vem caminhando e encontra o corpo do amigo. Se ajoelha ao<br />
seu lado. Olha para cima, como quem procura ser confortado. Lágrimas<br />
caem de seus olhos.<br />
Byron ( bradando aos céus, recitando o poema de Shelley " A Noite " :<br />
I)’Spectro da Noite, célere atravessa/Os mares do Ocidente!<br />
Das brumosas grutas do Oriente vem depressa,<br />
De onde, enquanto o dia refulgente/Se alonga em solidão, tu teces sonhos<br />
Os mais benévolos e os mais medonhos/– Vem, ó Noite envolvente!<br />
II)Esconde teu vulto em manto sem cor<br />
Teus astros benfazejos!Venda os olhos do Dia com o negror<br />
De teu cabelo, e exaure-o com teus beijos,<br />
Depois toca a cidade, e a terra, e o mar,<br />
Com teu condão de ópio, a apaziguar - Noite de meus desejos!<br />
III)Quando acordei e vi o amanhecer,<br />
Eu suspirei por ti/E quando vi o orvalho esvanecer,<br />
O sol pesar sobre o mundo, e senti
Que o Dia demorava-se, cansado,<br />
Tal qual um hóspede indesejado/Eu suspirei por ti.<br />
IV)Veio tua irmã, a Morte, e perguntou:<br />
Tu me chamaste aqui?/Teu doce filho, o Sono, se achegou,<br />
E entre suaves murmúrios ouvi:<br />
Queres que me acomode ao lado teu?/Chamaste-me aqui? — Respondi-lhe eu:<br />
Não, não chamei a ti!<br />
V ( levantando Shelley, bradando ): A Morte? Só quando houveres morrido,<br />
Em breve, ah, em breve/O Sono? Quando tiveres partido.<br />
Que não me venha o Sono, nem me leve<br />
A Morte, e sim tu, Noite, ó bem-amada/– Vem súbita, vem célere, alada;<br />
( Silêncio ) Adonis jaz morto! O mundo se tornou mais e mais desolado...<br />
Aqui! Aqui jaz Adonis! Poseidon o enviou de volta, graças aos pedidos de Atenas<br />
e Apolo!<br />
Byron sai andando devagar. Para por um momento, então grita): Por ti,<br />
Shelley, morrerei lutando para libertar a Grécia dos inimigos da liberdade! Juro-te!<br />
( Luzes se apagam )<br />
ATO V<br />
Cenário : Casa de Byron. Faz 8 meses que Shelley morreu. Em cena estão o<br />
Mestre da Lua e Byron. Uma carta jaz sobre a mesa<br />
Mestre da Lua ( espantado ): Ouvi rumores de que o senhor partiria para libertar<br />
a Grécia dos turcos, em especial tomar Lepanto. Isto é verdade?<br />
Byron ( esboça um sorriso ): Não é engraçado como as pessoas antecipam<br />
minhas ações? ( amargamente ): Como se eu pudesse salvar aquelas pobres<br />
pessoas de tiranos como Paxa Ali. Mas creio que no final, o grandioso Shelley<br />
tivesse razão: a juventude desiludida de nosso tempo precisa de mártires para
seguir adiante. Seria um final grandioso.<br />
Mestre da Lua ( respeitosamente ): Gostaria que soubesses que tens nosso<br />
apoio, e falo isso em nome de todos os Carbonários e os primos da Fraternidade<br />
Filelênica . Não quero pressiona-lo, caro lorde, mas seria um grandioso exemplo<br />
para toda a Europa, já que o senhor é um lorde inglês e a Inglaterra lucra com a<br />
tirania dos turcos sobre os gregos...<br />
Byron ( servindo-se de um gole de gym que estava sobre a mesa. Ele então<br />
percebe que tem uma carta sobre a mesa. Pega-a na mão e estranha a letra ):<br />
O senhor que trouxe esta carta?<br />
Mestre da Lua: Não, senhor não trouxe nada comigo. Mas por favor, verifique a<br />
data e abra a carta para verificar.<br />
Byron ( abrindo a carta, olhando mais de perto, espantado ): Faz duas<br />
semana que esta carta chegou! Será de algum estudante lunático? Já recebi<br />
milhares desta, mas... ( espantado, reconhecendo o sinete e a letra ): É de<br />
Goethe! ( sentando-se, pálido e<br />
comovido ): Está em alemão! Por acaso o senhor sabe ler alemão!<br />
Mestre da Lua ( abrindo um largo sorriso, pegando a carta das mão de Byron<br />
): Felizmente sei! Prepare seu coração, pois eu a lerei num minuto!<br />
( O Mestre da Lua faz uma pose, e começa a ler com intensidade. É uma<br />
benção que Goethe mandou para Byron, quando soube que este iria para a<br />
Grécia. Byron ouve com todo cuidado, de cabeça baixa )<br />
" Que poderia eu dizer á distância, de bastante terno - aquele que há tanto tempo<br />
venho acompanhando?<br />
Aquele que vem mantendo consigo mesmo lutas intimas<br />
Aquele que grandemente habituado a suportar as magoas mais profundas,<br />
Ainda assim tem o contentamento de sentir a si próprio?
Que ele tenha coragem de se dizer bem-aventurado<br />
Quando a força das Musas sobrepuja as dores,<br />
E que ele se revele a si próprio, tal como eu o conheço ".<br />
( O Mestre da Lua deposita a carta na mesa e aguarda . Byron se levanta . )<br />
Byron: Sim, eu irei até a Grécia, nem que seja a última coisa que eu faça. Pode<br />
dizer a eles que tens minha palavra!<br />
Mestre da Lua: A Humanidade lhe será imensamente grata! Adeus!<br />
( cumprimenta Byron,abraçando-o respeitosamente ):Lembre-se sempre do<br />
Ideal:Levantar Templos á virtude e cavar masmorras ao vício!<br />
Byron ( em pé, como um soldado ): Se não tive honra em vida,terei na morte,por<br />
uma causa Justa!Buscai a morte do soldado, que poucos procuram e muitos<br />
encontram.Será para a ti a melhor.Escolhe,olhando em torno, a tua sepultura, e<br />
goza teu repouso.(pausa): A Grécia será,então, a minha sepultura...( Luzes se<br />
apagam )<br />
TFA.'.<br />
APÊNDICE<br />
SOCIEDADE DOS CARBONÁRIOS: Membros da Carbonária, sociedade<br />
secreta, de caráter politico-religioso, do fim do século 18 e principio do século 19,<br />
ativa principalmente na Itália e França.Na Itália eram Carbonari ( carvoeiros ) e<br />
na França Fendeurs ( lenhadores ) usando, quando se comunicavam,<br />
expressões próprias daqueles oficios. Chamavam barraca ao lugar das reuniões,<br />
ao seu interior, choça, e aos seus arredores, bosque.Tratavam-se por bons
primos e falavam em nome de grandes ideais e tinham em seu ritual muitas<br />
analogias com a Maçonaria. Na Itália lutou contra a invasão francesa e chegou a<br />
contar com 600.000 adeptos que se batiam contra os Estados Pontifícios, a<br />
Áustria e seus aliados. As chamadas Vendas eram as orientadoras das choças ou<br />
barracas, e nomeavam delegados ao conselho supremo. Havia ainda a barraca<br />
de mulheres, denominadas jardins, tendo elas o nome de jardineiras. Limpar o<br />
bosque dos lobos significava a destruição dos tiranos.<br />
Fraternidade Filelênica : Movimento de interesse e simpatia pelos patriotas que<br />
lutavam pela independência da Grécia contra os turcos. Filelênico quer dizer: "<br />
amigo dos helenos ", dos gregos, portanto.<br />
ROMÂNTICA: Sociedade da época do Romantismo literário, que teve caráter<br />
político em Portugal, com Garret e Herculano. Na Itália, foi chefiada por Manzoni