Osho - A Harmonia Oculta

09.05.2017 Views

E isso acontece em todas as dimensões da vida. Sempre que os grandes temas são tocados, é assim que você engana. Rezar é difícil; ser um padre é fácil. Um padre é um homem que reuniu tudo sobre a prece, mas orar é difícil. É como a morte, porque a menos que você morra, como pode convidar o Divino a entrar em você? A menos que você se torne um vazio, como Ele pode entrar em você? Soren Kierkegaard disse: "No começo, quando comecei a rezar, costumava falar muito com Deus. Depois, aos poucos, compreendi a bobagem que estava fazendo. Eu estava falando — como falar pode ser prece? A prece só pode ser uma profunda escuta, não uma fala. Você precisa estar em silêncio para que Deus possa ser ouvido. Precisa estar muito silencioso para que a palavra quieta e silenciosa de Deus possa penetrá-lo. Nesse silêncio, o Divino é revelado." Orar não é falar, é ouvir — alerta, passivo, aberto, pronto, disponível como um útero. A prece é feminina e um padre é um fenômeno masculino. O padre é agressivo: está fazendo alguma coisa. Orar não é absolutamente uma ação, é simplesmente ser receptivo, é simplesmente estar aberto. Uma porta se abre e você está esperando. É infinita paciência e espera. O padre é agressivo. Você pode aprender isso: o sacerdócio é uma arte, pode-se aprendê-la. A prece não é uma arte, não se pode aprendê-la em nenhum lugar. Você só pode aprendê-la na vida. Não existem escolas, não existem universidades que possam ensiná-lo a orar — só a vida. Você se move na vida, sofre muito, cresce, e, aos poucos, sente a sua total impotência. Aos poucos você sente que todas as reivindicações egoístas são estúpidas — pois, quem é você? Sendo jogado daqui para lá e de lá para cá, à deriva, como um pedaço de madeira ao mar... quem é você? Quando você sente: "Não sou ninguém", a primeira semente da prece entrou em você. Quando sente: "Sou impotente, não posso fazer nada, pois há tanto tempo tenho feito e nada acontece exceto miséria, nada acontece através dos meus esforços", então você pára de se esforçar. Nesse momento de impotência a prece dá um segundo passo. Não que na sua impotência você comece a exigir de Deus: "Faça isso por mim porque eu não posso fazê-lo" — não! Se você estiver realmente impotente não poderá nem mesmo exigir e desejar, pois acabará percebendo que: "Tudo o que eu disser estará errado, tudo o que eu pedir estará errado. Eu sou errado e, por isso, tudo o que vier por meu intermédio estará errado". Então você dirá: "Seja feita a Tua vontade... não me ouça, faça o que você quiser, estou pronto para obedecer." Isso é prece — não sacerdócio. Você pode ser

treinado para ser padre; existem colégios para isso. Cada "gesto da oração é ensinado: como sentar, como se curvar, que palavras usar e quais não usar. Leon Tolstoi escreveu uma pequena parábola. Um homem procurou um padre, o maior sacerdote da Rússia, e disse: "Conheço três santos. Eles vivem numa ilha, e chegaram a Deus." O padre disse: "Como é possível que isso tenha acontecido? Sou o mais alto sacerdote de todo o país. Sem me conhecerem, sem que eu tenha tido conhecimento do fenômeno, como é possível que três pessoas tenham chegado a Deus? Vou procurá-las." E saiu num barco. Chegou à ilha. Aquelas três pessoas simples estavam sentadas ao pé de uma árvore fazendo suas orações. Ele ouviu as preces, deu uma gargalhada e disse: "Seus tolos! Onde aprenderam essa oração? Nunca ouvi tamanho absurdo em toda a minha vida, e sou o mais alto sacerdote deste país. Que tipo de prece é essa?" Os três começaram a tremer de medo e disseram: "Perdoe-nos! Não sabemos, nós nunca aprendemos. Nós mesmos criamos essa prece". A prece era simples. Dizia: "Nós somos três" — e os cristãos acreditam na Trindade, por isso disseram: "Fizemos uma oração: Nós somos três, você também é três — tenha piedade de nós! Nós mesmos a fizemos: Somos três, você é três — tenha piedade de nós! Fazemos isso constantemente, mas não sabemos se está certo ou errado." O padre disse: "Está absolutamente errado e eu lhes ensinarei o certo, a versão autorizada." Era uma longa oração da Igreja. Os três ouviram, tremendo. O padre ficou muito feliz. Voltou pensando que havia realizado um ato virtuoso, um trabalho realmente bom: convertera três pagãos ao cristianismo. "E aqueles tolos! — eles se tornaram famosos. Muitas pessoas foram ter um darshan com eles, tocaram seus pés e os adoraram!" Quando estava voltando, muito feliz por ter feito o que fez, viu de repente que alguma coisa, como uma turbulência no lago, aproximava-se. Ele ficou com medo. Depois olhou... os três santos estavam chegando, correndo sobre a água. Ele não podia acreditar no que seus olhos viam. Os três santos vieram e disseram: "Por favor, diga outra vez aquela oração porque nós a esquecemos! Ë longa demais e somos pessoas simples, incultas. Só mais uma vez..." Conta-se, escreve Leon Tolstoi, que o padre caiu aos pés deles e disse: "Perdoemme! Cometi um pecado. Continuem a fazer como sempre fizeram. A prece de vocês está

treinado para ser padre; existem colégios para isso. Cada "gesto da oração é ensinado:<br />

como sentar, como se curvar, que palavras usar e quais não usar.<br />

Leon Tolstoi escreveu uma pequena parábola.<br />

Um homem procurou um padre, o maior sacerdote da Rússia, e disse: "Conheço<br />

três santos. Eles vivem numa ilha, e chegaram a Deus."<br />

O padre disse: "Como é possível que isso tenha acontecido? Sou o mais alto<br />

sacerdote de todo o país. Sem me conhecerem, sem que eu tenha tido conhecimento do<br />

fenômeno, como é possível que três pessoas tenham chegado a Deus? Vou procurá-las."<br />

E saiu num barco. Chegou à ilha. Aquelas três pessoas simples estavam sentadas ao<br />

pé de uma árvore fazendo suas orações. Ele ouviu as preces, deu uma gargalhada e disse:<br />

"Seus tolos! Onde aprenderam essa oração? Nunca ouvi tamanho absurdo em toda a<br />

minha vida, e sou o mais alto sacerdote deste país. Que tipo de prece é essa?"<br />

Os três começaram a tremer de medo e disseram: "Perdoe-nos! Não sabemos, nós<br />

nunca aprendemos. Nós mesmos criamos essa prece".<br />

A prece era simples. Dizia: "Nós somos três" — e os cristãos acreditam na<br />

Trindade, por isso disseram: "Fizemos uma oração: Nós somos três, você também é três —<br />

tenha piedade de nós! Nós mesmos a fizemos: Somos três, você é três — tenha piedade<br />

de nós! Fazemos isso constantemente, mas não sabemos se está certo ou errado."<br />

O padre disse: "Está absolutamente errado e eu lhes ensinarei o certo, a versão<br />

autorizada." Era uma longa oração da Igreja. Os três ouviram, tremendo. O padre ficou<br />

muito feliz. Voltou pensando que havia realizado um ato virtuoso, um trabalho realmente<br />

bom: convertera três pagãos ao cristianismo. "E aqueles tolos! — eles se tornaram<br />

famosos. Muitas pessoas foram ter um darshan com eles, tocaram seus pés e os<br />

adoraram!"<br />

Quando estava voltando, muito feliz por ter feito o que fez, viu de repente que<br />

alguma coisa, como uma turbulência no lago, aproximava-se. Ele ficou com medo. Depois<br />

olhou... os três santos estavam chegando, correndo sobre a água. Ele não podia acreditar<br />

no que seus olhos viam. Os três santos vieram e disseram: "Por favor, diga outra vez<br />

aquela oração porque nós a esquecemos! Ë longa demais e somos pessoas simples,<br />

incultas. Só mais uma vez..."<br />

Conta-se, escreve Leon Tolstoi, que o padre caiu aos pés deles e disse: "Perdoemme!<br />

Cometi um pecado. Continuem a fazer como sempre fizeram. A prece de vocês está

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