Osho - A Harmonia Oculta
Bem, quando Heráclito diz coisas como "A harmonia oculta é superior à aparente", ou "Deus é dia e noite, verão e inverno, guerra e paz, saciedade e desejo", e especialmente "As pessoas não compreendem como o divergente consigo mesmo concorda", a mente ocidental, lógica e racional, pode simpatizar com Aristóteles. Mas Bhagwan diz que é exatamente este o ponto: a vida é um paradoxo. E é só através da tensão dos opostos que a vida continua. Na verdade, se Aristóteles tivesse sido totalmente seguido, o mundo há muito teria deixado de existir. "Conta-se", diz Bhagwan numa anedota, "que um dia Aristóteles caminhava pela praia, e viu um homem que trazia água do mar numa colher de chá e a jogava num buraquinho que havia cavado perto do mar. Aristóteles estava às voltas com seus próprios problemas. Não deu importância a isso — uma, duas vezes, Aristóteles se aproximou e viu o homem, mas este estava tão absorvido. Ia até o mar, enchia a colher, trazia a água, punha no buraco, voltava de novo... Por fim, Aristóteles disse: "Espere! Não quero perturbá-lo, mas o que está fazendo? Está me deixando muito curioso." O homem respondeu: "Vou colocar o oceano inteiro neste buraco." Aristóteles, até mesmo ele, riu. Disse: "Você é louco! Isso não vai acontecer. Você está simplesmente doido e está perdendo seu tempo! Veja a vastidão do oceano e a pequenez do buraco — e com uma colher de chá você pretende colocar o oceano neste buraco? Você é louco! Vá para casa e descanse." O homem riu mais alto que Aristóteles, e disse: "Sim, eu irei, porque meu trabalho está feito." Aristóteles disse: "O que você quer dizer?" "Que você está fazendo a mesma coisa" — disse o outro — só que de um modo mais tolo. Olhe para a sua cabeça: é menor do que o meu buraco. E olhe para o Divino, para a Existência: é mais vasta do que o oceano. E veja seus pensamentos — serão maiores do que a minha colher?" Bhagwan suspeita que o homem dessa estória era Heráclito, e diz que se Heráclito tivesse sido aceito, a história do Ocidente teria sido totalmente diferente — "mas ele não foi absolutamente entendido. Tornou-se cada vez mais .separado da corrente principal do pensamento e da mente Ocidentais. O solo grego não foi nada bom para ele. Teria sido uma grande árvore no Oriente: milhares teriam aproveitado, teriam encontrado o caminho através dele. Mas para os gregos ele era um estrangeiro, um excêntrico, um
alienígena. Não pertencia a eles. É por isso que seu nome ficou de lado, pelos cantos escuros. Aos poucos foi sendo esquecido." E agora parece ser o tempo apropriado para lembrá-lo nova-mente. No Ocidente nós nos movemos demais para o extremo do positivo, da bondade, da retidão, Deus, e tentamos evitar tudo que fosse considerado mau, negativo, demoníaco, do Diabo. Mas, mais cedo ou mais tarde, isso teria que irromper; não poderia simples-mente ser banido da existência. É a reação igual e oposta que agora se manifesta, especialmente no Ocidente — a veneração do Demônio; a extrema violência, na maioria das vezes gratuita; perversões de todos os tipos; e outras tendências destrutivas — eram, de certa maneira, de se esperar. É claro que tudo isso é muito desconcertante. E o problema básico com o qual todos os pensadores, poetas e até mesmo os cientistas eventualmente se deparam é precisamente a reconciliação da aparente dualidade que existe em todos os níveis: Deus, Demônio; mente, matéria; instinto, razão; corpo, alma; criação, destruição. Nós chegamos ao ponto crítico onde todos os nossos valores estão sendo postos em questão. Na verdade, diz Bhagwan, um tempo como esse, onde há a possibilidade de muitos se tornarem Iluminados, só acontece a cada vinte e cinco séculos — "Quando as coisas são líquidas, a transformação é fácil." Se alguém conseguir abandonar a lógica, o que afinal não é uma coisa do outro mundo, e olhar um pouco mais fundo na natureza das coisas, como Bhagwan nos ajuda a fazer nestes discursos, então pode-se começar a sentir o ritmo da vida, a pulsação que faz com que tudo entre nos, eixos — a harmonia dos opostos. E somente alguém como Bhagwan ou Heráclito, que aceita e abarca todas as dualidades, pode ajudar a nós, que estamos nos empenhando e tateando na escuridão. Somente eles podem nos ajudar a desenvolver a perspectiva necessária para compreendermos e utilizarmos o caos e a destruição que nos envolve no presente. Eles estão tentando o impossível: transmitir o que não pode ser dito em palavras — o próprio veículo que geralmente serve para perpetuar a dualidade. Observe-os enquanto dançam e cantam juntos no decorrer destas páginas, criando uma sinfonia da qual você, leitor, está convidado a participar e a celebrar. Tente penetrar na harmonia aparente das palavras, e permita-se ser levado para além delas, para o mais profundo mistério da harmonia oculta ... MA YOGA ANURAG
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alienígena. Não pertencia a eles. É por isso que seu nome ficou de lado, pelos cantos<br />
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E agora parece ser o tempo apropriado para lembrá-lo nova-mente. No Ocidente<br />
nós nos movemos demais para o extremo do positivo, da bondade, da retidão, Deus, e<br />
tentamos evitar tudo que fosse considerado mau, negativo, demoníaco, do Diabo. Mas,<br />
mais cedo ou mais tarde, isso teria que irromper; não poderia simples-mente ser banido<br />
da existência. É a reação igual e oposta que agora se manifesta, especialmente no<br />
Ocidente — a veneração do Demônio; a extrema violência, na maioria das vezes gratuita;<br />
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de se esperar. É claro que tudo isso é muito desconcertante. E o problema básico com o<br />
qual todos os pensadores, poetas e até mesmo os cientistas eventualmente se deparam é<br />
precisamente a reconciliação da aparente dualidade que existe em todos os níveis: Deus,<br />
Demônio; mente, matéria; instinto, razão; corpo, alma; criação, destruição. Nós chegamos<br />
ao ponto crítico onde todos os nossos valores estão sendo postos em questão. Na<br />
verdade, diz Bhagwan, um tempo como esse, onde há a possibilidade de muitos se<br />
tornarem Iluminados, só acontece a cada vinte e cinco séculos — "Quando as coisas são<br />
líquidas, a transformação é fácil."<br />
Se alguém conseguir abandonar a lógica, o que afinal não é uma coisa do outro<br />
mundo, e olhar um pouco mais fundo na natureza das coisas, como Bhagwan nos ajuda a<br />
fazer nestes discursos, então pode-se começar a sentir o ritmo da vida, a pulsação que faz<br />
com que tudo entre nos, eixos — a harmonia dos opostos. E somente alguém como<br />
Bhagwan ou Heráclito, que aceita e abarca todas as dualidades, pode ajudar a nós, que<br />
estamos nos empenhando e tateando na escuridão. Somente eles podem nos ajudar a<br />
desenvolver a perspectiva necessária para compreendermos e utilizarmos o caos e a<br />
destruição que nos envolve no presente.<br />
Eles estão tentando o impossível: transmitir o que não pode ser dito em palavras<br />
— o próprio veículo que geralmente serve para perpetuar a dualidade. Observe-os<br />
enquanto dançam e cantam juntos no decorrer destas páginas, criando uma sinfonia da<br />
qual você, leitor, está convidado a participar e a celebrar. Tente penetrar na harmonia<br />
aparente das palavras, e permita-se ser levado para além delas, para o mais profundo<br />
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