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fazer isso. Uma é que ela se torne um santo e você um pecador. É o que tem feito a<br />
religião. Justamente uma divisão de tarefas — você faz o trabalho de um pecador e eu<br />
faço o trabalho de um santo. Mas num mundo melhor, num mundo mais orientado pelo<br />
Logos — e não pela lógica — será bom forçar alguma outra pessoa a ser uma pecadora e<br />
forçar a mim mesmo a ser um santo? Será bom ser santo à custa dos outros? Não, não<br />
será. Então, num mundo melhor, o santo será também pecador. Certamente ele pecará de<br />
um modo muito santo, é claro — mas isso se tornará cada vez mais difícil. Será então<br />
como Gurdjieff: santo e pecador.<br />
Gurdjieff é um ponto decisivo na história da consciência humana. Depois de<br />
Gurdjieff, o conceito de santo deveria ser completamente diferente: não pode ser o<br />
mesmo, o antigo. Gurdjieff se coloca num ponto crítico de onde deve surgir um novo<br />
santo. É por isso que Gurdjieff foi tão mal interpretado, por causa do conceito de que um<br />
santo deve ser um santo, e Gurdjieff era ambos. Era difícil entender: "Como um homem<br />
pode ser os dois? Ou é um santo ou é um pecador." Por isso há tantos boatos a respeito<br />
de Gurdjieff. Alguns o consideram a pessoa mais maligna possível, um agente do<br />
Demônio. E outros o consideram o maior sábio que já existiu. Ele era tanto um quanto<br />
outro, e os dois boatos são verdadeiros — mas errados também.<br />
Seus seguidores pensam que ele era um sábio e tentam esconder sua parte<br />
pecadora porque nem eles conseguem compreender como Gurdjieff pôde ser ambos.<br />
Assim, dizem que isso é um boato, que as pessoas não sabem o que dizem. E existem as<br />
pessoas que são contra ele. Não acreditam em sua parte sábia porque dizem: "Como um<br />
tal pecador pode ser sábio? Impossível! Os dois não podem existir num só homem." E esse<br />
é todo o ponto; ambos existem no mesmo homem.<br />
Você só pode fazer uma coisa: reprimir um e fingir ser o outro. Pode reprimir um<br />
no inconsciente e trazer o outro à superfície, mas então seu santo estará à flor da pele e<br />
seu pecador profunda-mente enraizado. Ou pode fazer o oposto: pode trazer à tona o<br />
pecador e reprimir o santo — os criminosos estão fazendo isso. A primeira possibilidade é<br />
reprimir o meu pecador, mas esse pecador afetará alguém em algum lugar, pois nós<br />
somos um só. Heráclito diz: "A inteligência privada é falsa." Nós somos um! A consciência<br />
é uma comunidade. Vivemos num ninho. E se eu reprimir o meu pecador, em algum lugar,<br />
em algum elo mais fraco, o pecador subitamente aparecerá. Ram é um santo; o pecador<br />
aparece subitamente em Ravana. Eles são os dois juntos um só fenômeno. Jesus é um<br />
santo; então Judas, o discípulo bem amado, torna-se o pecador.<br />
Os santos são responsáveis pelos pecadores, e os pecadores ajudam os santos a<br />
serem santos.