Osho - A Harmonia Oculta

09.05.2017 Views

disso. Naquele momento isso era verdadeiro, era o que você estava sentindo, mas agora esse sentimento se foi. Aquele que o sentiu não está mais aqui. E o que passou, passou; nada pode ser feito. Você não pode forçar o amor. É o que estamos fazendo — e com isso causamos muito sofrimento. O marido diz: "Ama-me!". A esposa diz: "Ama-me! Você prometeu me amar — já se esqueceu de quando namorávamos?" Mas esses já se passaram. Aquelas pessoas que estavam lá não existem mais. Aquele jovem de vinte anos, lembra-se? — você ainda é o mesmo? Muito se passou; o Ganges já correu muito — você já não está mais lá. Ouvi contar que certa noite a mulher de Muna Nasrudin lhe disse: "Você não me ama mais, não me beija mais, não me abraça mais. Lembra-se de quando me cortejava? — você costumava me morder e eu gostava tanto disso! Pode-me moder mais uma vez?" Nasrudin levantou da cama e começou a andar. Sua mulher perguntou: "Onde você vai?" Ele respondeu: "Ao banheiro, buscar os meus dentes". Não, não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. É impossível. Não se prenda; se você se prender criará um inferno. Prender-se é o inferno; uma consciência solta está sempre no paraíso — move-se de acordo com a situação, aceita-a, não resiste à mudança; não há rancores, não há reclamações, porque assim é a vida, assim são as coisas. Você pode brigar, mas isso não mudará nada. Quando uma pessoa é jovem, é claro que existem diferentes disposições, porque a juventude tem diferentes estações. Como poderia um velho ser igual? Um velho com essas disposições parecerá ridículo. Como poderia dizer as mesmas coisas? — tudo mudou. Quando você é jovem, é romântico, inexperiente, sonhador. Quando envelhece, todos os sonhos desaparecem. Não há nada de mau nisso, porque quando os sonhos desaparecem você está próximo da realidade — agora entende mais. Você é menos poético, porque agora já não pode sonhar, mas não há nada de errado nisso. Sonhar era uma disposição, uma estação — isso muda. E é preciso ser verdadeiro para com o estado em que nos encontramos em determinado momento. Seja verdadeiro para com o seu eu mutante, porque essa é a única realidade. É por isso que Buda diz que não existe eu. Você é um rio. Não há nenhum eu porque não há nada imutável em você. Buda foi rejeitado na índia porque a mente indiana, particularmente a dos Brahmins, dos hindus, acreditava num ser permanente — o Atma. Eles sempre disseram que há algo permanente, e Buda disse que somente a mudança é permanente — nada é permanente.

Por que você quer ser uma coisa permanente? Por que quer estar morto? Só uma coisa morta pode ser permanente. As ondas vêm e vão e por isso o oceano está vivo. Se as ondas parassem, tudo no oceano pararia. Seria uma coisa morta. Tudo vive através da mudança — e mudar significa mudar para a outra polaridade. Você se move de um pólo a outro, e é assim que você se torna cada vez mais vivo e novo. Durante o dia você trabalha muito, à noite relaxa e vai dormir. De manhã você está novamente vivo e novo para trabalhar. Já observou a polaridade? O trabalho opõe-se ao relaxamento. Se você trabalha muito torna-se tenso, cansado, exausto, mas depois cai no profundo vale do repouso, num profundo relaxamento. Você se afasta da superfície e move-se para o centro. Não é mais idêntico àquele que era na superfície, não é mais aquele nome, aquele ego; não leva consigo nada da superfície. Simplesmente se esquece de quem é, e pela manhã sente-se novo. Esse esquecimento é bom, renova-o. Tente ficar sem dormir durante três semanas — você enlouquecerá, porque se esqueceu de ir para o oposto. Se Aristóteles estivesse certo, então não dormindo nunca, não se movendo para o oposto, você se tornaria um homem Iluminado. Mas assim você ficaria louco. E é por causa de Aristóteles que existem tantos loucos no Ocidente. Se não se ouvir o Oriente, se não se ouvir Heráclito, mais cedo ou mais tarde todo o Ocidente enlouquecerá. É, inevitável, porque se perdeu a polaridade. A lógica lhe dirá exatamente o contrário. Para que você possa dormir profundamente à noite, a lógica lhe dirá para repousar durante todo o dia, para praticar o repouso o dia todo. Isso é lógico: pratique o repouso! É o que fazem os ricos: repousam o dia inteiro, depois têm insônia e dizem: "Não conseguimos dormir". E estão descansando o dia todo — deitados em suas camas, em suas espreguiçadeiras, repousando o tempo todo. E depois, à noite, descobrem que não podem dormir. Estão seguindo Aristóteles, são lógicos. Um dia, Mulla Nasrudin foi ao médico. Entrou tossindo e o médico lhe disse: "Parece que sua tosse está melhor." Nasrudin disse: "É claro que está melhor — eu a pratiquei a noite toda". Se você repousar o dia inteiro, à noite estará agitado. Ficará o tempo todo se virando na cama: isso é apenas um exercício que o corpo faz para que se torne possível algum repouso.

disso. Naquele momento isso era verdadeiro, era o que você estava sentindo, mas agora<br />

esse sentimento se foi. Aquele que o sentiu não está mais aqui. E o que passou, passou;<br />

nada pode ser feito. Você não pode forçar o amor. É o que estamos fazendo — e com isso<br />

causamos muito sofrimento.<br />

O marido diz: "Ama-me!". A esposa diz: "Ama-me! Você prometeu me amar — já<br />

se esqueceu de quando namorávamos?" Mas esses já se passaram. Aquelas pessoas que<br />

estavam lá não existem mais. Aquele jovem de vinte anos, lembra-se? — você ainda é o<br />

mesmo? Muito se passou; o Ganges já correu muito — você já não está mais lá.<br />

Ouvi contar que certa noite a mulher de Muna Nasrudin lhe disse: "Você não me<br />

ama mais, não me beija mais, não me abraça mais. Lembra-se de quando me cortejava? —<br />

você costumava me morder e eu gostava tanto disso! Pode-me moder mais uma vez?"<br />

Nasrudin levantou da cama e começou a andar. Sua mulher perguntou: "Onde você vai?"<br />

Ele respondeu: "Ao banheiro, buscar os meus dentes".<br />

Não, não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. É impossível. Não se prenda; se<br />

você se prender criará um inferno. Prender-se é o inferno; uma consciência solta está<br />

sempre no paraíso — move-se de acordo com a situação, aceita-a, não resiste à mudança;<br />

não há rancores, não há reclamações, porque assim é a vida, assim são as coisas. Você<br />

pode brigar, mas isso não mudará nada.<br />

Quando uma pessoa é jovem, é claro que existem diferentes disposições, porque a<br />

juventude tem diferentes estações. Como poderia um velho ser igual? Um velho com<br />

essas disposições parecerá ridículo. Como poderia dizer as mesmas coisas? — tudo<br />

mudou. Quando você é jovem, é romântico, inexperiente, sonhador. Quando envelhece,<br />

todos os sonhos desaparecem. Não há nada de mau nisso, porque quando os sonhos<br />

desaparecem você está próximo da realidade — agora entende mais. Você é menos<br />

poético, porque agora já não pode sonhar, mas não há nada de errado nisso. Sonhar era<br />

uma disposição, uma estação — isso muda. E é preciso ser verdadeiro para com o estado<br />

em que nos encontramos em determinado momento.<br />

Seja verdadeiro para com o seu eu mutante, porque essa é a única realidade. É por<br />

isso que Buda diz que não existe eu. Você é um rio. Não há nenhum eu porque não há<br />

nada imutável em você. Buda foi rejeitado na índia porque a mente indiana,<br />

particularmente a dos Brahmins, dos hindus, acreditava num ser permanente — o Atma.<br />

Eles sempre disseram que há algo permanente, e Buda disse que somente a mudança é<br />

permanente — nada é permanente.

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