Osho - A Harmonia Oculta
você está cheio de ódio, o espelho retrata esse ódio. O espelho não é ambíguo, é verdadeiro. Aristóteles não é como um espelho, mas como uma fotografia morta. Ela não muda, não se move com a vida. É por isso que Aristóteles diz que existe alguma falha nesse tal Heráclito, alguma falha em seu caráter. Para Aristóteles, a mente deve ser clara, sistemática e racional; a lógica deve ser o objetivo da vida e não se deve misturar os opostos. Mas quem os está misturando? Heráclito não os está misturando. Eles estão aí, misturados. Heráclito não é responsável por isso. E como se pode separá-los se na própria vida eles estão misturados? Sim, pode-se tentar através dos livros, mas esses livros serão falsos. Uma afirmação lógica será basicamente falsa porque não pode ser uma afirmação vital. E uma afirmação vital será ilógica porque a vida existe através das contradições. Olhe para a vida: há contradições em todo lugar — mas não há nada de errado na contradição; é só porque ela é insuportável à sua mente lógica. Se você atinge uma percepção mística, ela se torna bela. Na verdade, sem essa percepção não pode haver beleza. Se você não puder odiar a mesma pessoa que ama, não haverá nenhuma tensão em seu amor. Ele será uma coisa morta, não terá nenhuma polaridade, e tudo ficará velho. O que acontece? Se você ama uma pessoa, de manhã está amando e à tarde o amor tornou-se ódio. Por quê? Qual é a razão disso? Por que isso ocorre na vida? Porque odiando, você separa; a distância original é outra vez recuperada. Antes de se apaixonarem, vocês eram dois indivíduos. Apaixonando-se, tornaram-se uma unidade, tornaram-se uma comunidade. Você tem de entender esta palavra, 'comunidade'; é muito bonita — significa unidade comum. Você se torna uma comunidade, alcança uma unidade comum. A comunidade é bela por alguns momentos, mas depois se parece com a escravidão. Alcançar a unidade comum durante alguns momentos é muito bonito, leva às alturas, a um pico — mas não se pode viver para sempre nesse pico. Quem então iria viver no vale? E o pico só é belo porque existe o vale. Se você não puder voltar de novo ao vale, o pico perderá toda a sua altivez. E em oposição ao vale que ele é um pico. Se você construir nele uma casa, esquecerá que é um pico — toda a beleza do amor se perderá. De manhã você ama, à tarde está cheio de ódio. Moveu-se para o vale, moveu-se para a posição inicial onde estava antes de se apaixonar — agora ambos são novamente indivíduos. Ser um indivíduo também é belo porque é um relaxamento. Estar no vale
escuro é calmo, ajuda a recuperar o equilíbrio. Depois você estará novamente pronto para subir ao pico; à noite estará amando novamente. Este é um processo de separação, depois novamente de união — repetindo-se mais e mais vezes. Quando você novamente se apaixona depois de um momento de ódio, é uma nova lua-de-mel. Se não há nenhuma mudança, a vida se torna estática. Se você não se mover para o oposto, tudo envelhecerá e ficará aborrecido. É por isso que as pessoas que são muito educadas se aborrecem com facilidade — porque estão sempre rindo, nunca se zangam. Você as insulta e elas riem, você as elogia e elas riem, você as condena e elas riem — são insuportáveis. E o sorriso delas é perigoso. Não pode ser um sorriso profundo, permanece apenas nos lábios, é uma máscara. Elas não estão rindo, estão apenas obedecendo a um código. O sorriso delas é feio. As pessoas que estão sempre amando e nunca odeiam, nunca se zangam, serão sempre superficiais — porque se você não vai para o oposto, de onde ganhará profundidade? A profundidade vem através do movimento para o oposto. Amor é ódio. Na verdade, não deveríamos usar as palavras 'amor' e 'ódio'; deveríamos usar uma única palavra, 'amoródio'. Um relacionamento amoroso é um relacionamento de 'amoródio' — e é muito bonito! Nada há de errado com o ódio, porque é através do ódio que se ganha o amor. Não há nada de errado em sentir raiva, porque é através da raiva que você chega a uma quietude silenciosa. Você já observou? Todas as manhãs os aviões passam por aqui — um som alto. E ao passarem, deixam em seus rastros um profundo silêncio. Não parecia tão silencioso antes do avião passar, não. Depois que o avião passa, o silêncio é maior. Caminhando pela rua numa noite escura, de repente passa por você um carro em alta velocidade; os seus olhos ficam ofuscados pela luz — depois que ele passa, a escuridão é maior do que antes. Através do oposto, através da tensão dos opostos, tudo vive — e torna-se mais profundo. Afaste-se para que 'você possa se aproximar; mova-se para o oposto para poder retornar novamente. Um relacionamento amoroso é um relacionamento onde se entra tantas vezes quanto possível em lua-de-mel. Se a lua-de-mel acaba e tudo se acalma, ele está morto — qualquer coisa estabelecida está morta. A vida persiste através de um movimento constante — qualquer coisa que se torne estável, torna-se morta. As suas contas
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você está cheio de ódio, o espelho retrata esse ódio. O espelho não é ambíguo, é<br />
verdadeiro.<br />
Aristóteles não é como um espelho, mas como uma fotografia morta. Ela não<br />
muda, não se move com a vida. É por isso que Aristóteles diz que existe alguma falha<br />
nesse tal Heráclito, alguma falha em seu caráter. Para Aristóteles, a mente deve ser clara,<br />
sistemática e racional; a lógica deve ser o objetivo da vida e não se deve misturar os<br />
opostos.<br />
Mas quem os está misturando? Heráclito não os está misturando. Eles estão aí,<br />
misturados. Heráclito não é responsável por isso. E como se pode separá-los se na própria<br />
vida eles estão misturados? Sim, pode-se tentar através dos livros, mas esses livros serão<br />
falsos. Uma afirmação lógica será basicamente falsa porque não pode ser uma afirmação<br />
vital. E uma afirmação vital será ilógica porque a vida existe através das contradições.<br />
Olhe para a vida: há contradições em todo lugar — mas não há nada de errado na<br />
contradição; é só porque ela é insuportável à sua mente lógica. Se você atinge uma<br />
percepção mística, ela se torna bela. Na verdade, sem essa percepção não pode haver<br />
beleza. Se você não puder odiar a mesma pessoa que ama, não haverá nenhuma tensão<br />
em seu amor. Ele será uma coisa morta, não terá nenhuma polaridade, e tudo ficará<br />
velho.<br />
O que acontece? Se você ama uma pessoa, de manhã está amando e à tarde o<br />
amor tornou-se ódio. Por quê? Qual é a razão disso? Por que isso ocorre na vida? Porque<br />
odiando, você separa; a distância original é outra vez recuperada. Antes de se<br />
apaixonarem, vocês eram dois indivíduos. Apaixonando-se, tornaram-se uma unidade,<br />
tornaram-se uma comunidade.<br />
Você tem de entender esta palavra, 'comunidade'; é muito bonita — significa<br />
unidade comum. Você se torna uma comunidade, alcança uma unidade comum. A<br />
comunidade é bela por alguns momentos, mas depois se parece com a escravidão.<br />
Alcançar a unidade comum durante alguns momentos é muito bonito, leva às alturas, a<br />
um pico — mas não se pode viver para sempre nesse pico. Quem então iria viver no vale?<br />
E o pico só é belo porque existe o vale. Se você não puder voltar de novo ao vale, o pico<br />
perderá toda a sua altivez. E em oposição ao vale que ele é um pico. Se você construir nele<br />
uma casa, esquecerá que é um pico — toda a beleza do amor se perderá.<br />
De manhã você ama, à tarde está cheio de ódio. Moveu-se para o vale, moveu-se<br />
para a posição inicial onde estava antes de se apaixonar — agora ambos são novamente<br />
indivíduos. Ser um indivíduo também é belo porque é um relaxamento. Estar no vale