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Heráclito diz que o fogo é a substância básica da vida. E é! Atualmente os físicos<br />
concordam com Heráclito. Concordam que a eletricidade é a base de toda a existência,<br />
que tudo não passa de formas de eletricidade. Heráclito diz que é o fogo. Qual é a<br />
diferença? E a palavra 'fogo' é a mais bela do que 'eletricidade'. Fogo dá uma sensação de<br />
maior vitalidade do que eletricidade, fogo é mais selvagem do que eletricidade. Quando<br />
você diz que a eletricidade é a base, isso soa como se o universo fosse algo mecânico,<br />
porque a eletricidade tornou-se associada a mecanismos; e nesse caso Deus parece uma<br />
máquina — mas eletricidade é fogo.<br />
Os hindus chamaram esse elemento básico de prana, vitalidade — mas vitalidade é<br />
fogo. Quando você é vital, quando está vivo, você é flamejante, inflamado. Henri Bergson<br />
chamou a base de tudo de élan vital, exatamente como prana. Aqueles que têm buscado,<br />
de uma maneira ou de outra se aproximaram do fogo. No fundo, esta existência é fogo.<br />
Fogo é vida. E Zaratustra está certo: fez do fogo o deus supremo. Ele deve ter concordado<br />
com Heráclito — eram contemporâneos, Zaratustra e Heráclito. O fogo tornou-se o deus<br />
supremo para os seguidores de Zaratustra.<br />
O fogo contém no fundo muitas coisas. Você precisará entender o fenômeno do<br />
fogo, o símbolo, porque essa é uma maneira de falar, é uma metáfora. Heráclito quer<br />
indicar alguma coisa profunda quando diz que o fogo é o substrato. Observe o fogo numa<br />
noite de inverno; sente-se perto dele também e apenas observe, simples-mente sinta o<br />
calor.<br />
O frio é morte, o calor é vida. Um corpo morto é frio, um corpo vivo é quente — e<br />
você tem de manter um certo calor constantemente. Existe no homem um mecanismo<br />
interno para manter o calor sempre dentro de um certo limite, porque somente entre<br />
esses determinados graus a vida é possível. A vida humana só existe entre noventa e cinco<br />
e cento e dez graus, apenas entre esses quinze graus. Há outras vidas que existem em<br />
outras temperaturas, mas a vida humana tem um espectro de apenas quinze graus.<br />
Mulla Nasrudin estava muito, muito doente, com febre, uma febre alta. O médico<br />
tomou sua temperatura e disse: "Cento e cinco." Mulla abriu os olhos e perguntou: "Qual<br />
é o recorde mundial?" porque o ego sempre pensa em termos de recordes mundiais. Ele<br />
estava pensando: "Talvez eu não possa vencer ninguém de nenhum outro modo, mas<br />
talvez possa quebrar o recorde mundial de febre" — mas não existe recorde além dos<br />
cento e dez graus, porque então o homem simplesmente desaparece, não se pode<br />
absorver tanto fogo. Abaixo dos noventa e cinco você desaparece: com tal frio, a morte<br />
sobrevém.