O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
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X — A QUALIFICAÇÃO DO HIPNOTISTA<br />
Hipnotizar não era coisa que se aprendesse : era considerado um dom e um dom<br />
extremamente raro. Conquanto se admitisse a possibilidade de adquirir e desenvolver êsse<br />
dom, adotavam-se os mais estranhos e rigorosos critérios de perfectibilidade ética e<br />
fisiológica na qualificação do hipnotizador. Até hoje muita gente atribui o “poder<br />
hipnótico” a regimens dietéticos mais ou menos extravagantes. Na opinião de muita gente,<br />
o hipnotista tem de abster-se de carne, fumo, álcool e drogas de qualquer espécie e nem<br />
pode condescender com as tentações do prazer sexual, já que tôdas as suas energias têm de<br />
concentrar-se em sua fôrça mental. Fôrça essa, que tinha de ser aurida em um saber<br />
superior, adquirido por meio de uma cultura misteriosa, leituras e ensinamentos secretos<br />
(chaves), conjuntamente com exercícios adequados e coisas que tais. Só assim era que no<br />
consenso popular, um indivíduo podia assegurar-se o domínio necessário sôbre as suas<br />
paixões e conquistar o contrôle superior ou mágico sôbre a natureza própria e alheia.<br />
Escusado será dizer que o hipnotista dispensa tais atributos sobrenaturais ou sequer<br />
qualidades muito excepcionais para o exercício de seu mister. Não depende de regimens<br />
dietéticos nem de hábitos especiais. Por outro lado, nem tudo depende ùnicamente de<br />
conhecimentos técnico-científicos, os quais, em si nada tem de misterioso, estando, como<br />
vimos, ao alcance de todos os que se disponham ao sacrifício necessário de adquirí-los. É<br />
que os conhecimentos técnicos, no caso da hipnose, não representam senão uma parte dos<br />
requisitos que entram em linha de conta ao qualificarmos um hipnotista. Já se disse que a<br />
qualificação do hipnotizador tem de processar-se em função do paciente que êle vai<br />
hipnotisar, o que equivale a dizer, em função da ignorância, da credulidade e da<br />
sugestibilidade alheias. O “sujet” não concede ao hipnotista a “fôrça” que o domina<br />
ùnicamente à base dos conhecimentos que possue, senão principalmente, à base do já<br />
referido fenômeno de projeção. Êle investe o operador, embora inconscientemente, com os<br />
seus próprios poderes, baseados nos seus próprios desejos de fazer milagres e nas suas<br />
próprias fantasias de onipotência. Em outras palavras, êle se deixa hipnotizar, em primeiro<br />
lugar porque é suscetível, e subsidiàriamente, por que confia no hipnotista e lhe atribui<br />
poderes mágicos. Isso explica porque muitas vêzes psicólogos escolados e profundos<br />
conhecedores da técnica hipnótica fracassam, enquanto ignorantes, ou indivíduos dotados<br />
de um mínimo de conhecimentos, conseguem resultados espetaculares.<br />
Tanto para lembrar que, embora o hipnotismo seja uma ciência, a qualificação do<br />
hipnotizador não se coloca numa paralela perfeita com a qualificação do cientísta ou do<br />
técnico de um modo geral. Êstes últimos não dependem em sua carreira da cooperação<br />
imediata do público.<br />
O hipnotismo se refere a um poder que se baseia em psicologia. À diferença de<br />
outros poderes (como por ex. poderes mecânicos), seu exercício proficiente exige tato,<br />
capacidade de identificação e insinuação. Requer além de experiência técnica-científica,<br />
aquilo que comumente chamamos de personalidade, o que, por sua vez, subentende tais