O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

rodrigo.vieirati
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92 K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O O método da hipnose acordada oferece a vantagem inicial de eliminar um dos aspectos que mais temor infunde à maioria das pessoas : a idéia do sono e da inconsciência absoluta, associada freqüentemente às fantasias de morte temporária. Substituindo a sugestão do sono pela recomendação do relaxamento muscular e do exercício respiratório, evita-se a própria palavra h i p n o s e. Muitos pacientes, neuròticamente rebeldes à hipnotização, são levados aos estágios profundos do transe hipnótico e voltam do mesmo sem sequer desconfiarem de que foram hipnotizados. Induzidos por tais métodos, certos pacientes, meio perplexos, perguntarão ao hipnotista se cochilaram ou se houve hipnose. Aconselha-lse deixar ao critério do próprio paciente a escolha da resposta. Aos que impugnam 109 o estado de hipnose, se diz que simplesmente cochilaram. Aos que se mostram inclinados a reconhecer a verdadeira natureza da experiência por que acabaram de passar, podemos, eventualmente, revelar a verdadeira situação. Escusado será dizer que o exercício eficiente da hipnose acordada não exige ùnicamente maior pericia e desembaraço do hipnotista, senão também uma suscetibilidade mais acentuada por parte do “sujet”. 109 Refutam; Contrariam.

K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O 93 X — A QUALIFICAÇÃO DO HIPNOTISTA Hipnotizar não era coisa que se aprendesse : era considerado um dom e um dom extremamente raro. Conquanto se admitisse a possibilidade de adquirir e desenvolver êsse dom, adotavam-se os mais estranhos e rigorosos critérios de perfectibilidade ética e fisiológica na qualificação do hipnotizador. Até hoje muita gente atribui o “poder hipnótico” a regimens dietéticos mais ou menos extravagantes. Na opinião de muita gente, o hipnotista tem de abster-se de carne, fumo, álcool e drogas de qualquer espécie e nem pode condescender com as tentações do prazer sexual, já que tôdas as suas energias têm de concentrar-se em sua fôrça mental. Fôrça essa, que tinha de ser aurida em um saber superior, adquirido por meio de uma cultura misteriosa, leituras e ensinamentos secretos (chaves), conjuntamente com exercícios adequados e coisas que tais. Só assim era que no consenso popular, um indivíduo podia assegurar-se o domínio necessário sôbre as suas paixões e conquistar o contrôle superior ou mágico sôbre a natureza própria e alheia. Escusado será dizer que o hipnotista dispensa tais atributos sobrenaturais ou sequer qualidades muito excepcionais para o exercício de seu mister. Não depende de regimens dietéticos nem de hábitos especiais. Por outro lado, nem tudo depende ùnicamente de conhecimentos técnico-científicos, os quais, em si nada tem de misterioso, estando, como vimos, ao alcance de todos os que se disponham ao sacrifício necessário de adquirí-los. É que os conhecimentos técnicos, no caso da hipnose, não representam senão uma parte dos requisitos que entram em linha de conta ao qualificarmos um hipnotista. Já se disse que a qualificação do hipnotizador tem de processar-se em função do paciente que êle vai hipnotisar, o que equivale a dizer, em função da ignorância, da credulidade e da sugestibilidade alheias. O “sujet” não concede ao hipnotista a “fôrça” que o domina ùnicamente à base dos conhecimentos que possue, senão principalmente, à base do já referido fenômeno de projeção. Êle investe o operador, embora inconscientemente, com os seus próprios poderes, baseados nos seus próprios desejos de fazer milagres e nas suas próprias fantasias de onipotência. Em outras palavras, êle se deixa hipnotizar, em primeiro lugar porque é suscetível, e subsidiàriamente, por que confia no hipnotista e lhe atribui poderes mágicos. Isso explica porque muitas vêzes psicólogos escolados e profundos conhecedores da técnica hipnótica fracassam, enquanto ignorantes, ou indivíduos dotados de um mínimo de conhecimentos, conseguem resultados espetaculares. Tanto para lembrar que, embora o hipnotismo seja uma ciência, a qualificação do hipnotizador não se coloca numa paralela perfeita com a qualificação do cientísta ou do técnico de um modo geral. Êstes últimos não dependem em sua carreira da cooperação imediata do público. O hipnotismo se refere a um poder que se baseia em psicologia. À diferença de outros poderes (como por ex. poderes mecânicos), seu exercício proficiente exige tato, capacidade de identificação e insinuação. Requer além de experiência técnica-científica, aquilo que comumente chamamos de personalidade, o que, por sua vez, subentende tais

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O método da hipnose acordada oferece a vantagem inicial de eliminar um dos<br />

aspectos que mais temor infunde à maioria das pessoas : a idéia do sono e da inconsciência<br />

absoluta, associada freqüentemente às fantasias de morte temporária. Substituindo a<br />

sugestão do sono pela recomendação do relaxamento muscular e do exercício respiratório,<br />

evita-se a própria palavra h i p n o s e. Muitos pacientes, neuròticamente rebeldes à<br />

hipnotização, são levados aos estágios profundos do transe hipnótico e voltam do mesmo<br />

sem sequer desconfiarem de que foram hipnotizados. Induzidos por tais métodos, certos<br />

pacientes, meio perplexos, perguntarão ao hipnotista se cochilaram ou se houve hipnose.<br />

Aconselha-lse deixar ao critério do próprio paciente a escolha da resposta. Aos que<br />

impugnam 109 o estado de hipnose, se diz que simplesmente cochilaram. Aos que se<br />

mostram inclinados a reconhecer a verdadeira natureza da experiência por que acabaram de<br />

passar, podemos, eventualmente, revelar a verdadeira situação.<br />

Escusado será dizer que o exercício eficiente da hipnose acordada não exige<br />

ùnicamente maior pericia e desembaraço do hipnotista, senão também uma suscetibilidade<br />

mais acentuada por parte do “sujet”.<br />

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