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O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />

as declarações de seu hipnotista e cumplice.<br />

O impasse criado parecia difícil. O intruso sentiu-se vitorioso. Teríamos de esperar<br />

quase duas horas até que o paciente se dispusesse a acordar. E, no entanto, o caso9 se<br />

resolveu em cinco minutos. Entre os alunos havia um médico legista, munido de uma<br />

carteira de autoridade policial. Mostrou-se ao paciente discretamente a carteira e fixou-selhe,<br />

com a mesma discreção, o prazo de cinco minutos. Em seguida anunciou-se aos<br />

presentes que o paciente resolvera acordar dentro de cinco minutos, marcados no seu<br />

próprio cronômetro. Acordaria à fôrça de sua própria vontade.<br />

O fato de haver sido acordado com uma simples carteira de autoridade policial,<br />

devia deixar entre os alunos e entre os leitores dêste relato a impressão de que tudo não<br />

passava de farsa ou mera simulação de hipnose. Na realidade, o “sujet” não simulou, o que<br />

não obsta que, de certo modo, tenha representado ao mesmo tempo papel de hipnotizado e<br />

de elemento indigno. Já tivemos ocasião de nos referir à teoria de rol-playing ou do roltaking.<br />

Sabemos também que para representar êsse papel de maneira convincente, o “sujet”<br />

não pode prescindir das condições inerentes ao transe hipnótico. Semelhantemente, o<br />

alcoólatra representa o papel do ébrio. Para representar seu papel tem de recorrer e recorre à<br />

intoxicação alcoólica. E ninguém põe em dúvida a realidade da intoxicação etílica ao<br />

descobrir que o ébrio não é assim porque bebe, mas êle bebe por ser assim. Um indivíduo<br />

pode recorrer à hipnose para promover escândalos e, inclusive, valer-se do transe para<br />

chantagem ; isso não quer dizer que o “sujet” dos hipnotista se equipare normalmente ao<br />

alcoólatra, o qual, invariàvelmente, é um elemento neurótico e caracterològicamente<br />

comprometido. Nosso “sujet” é um caso excepcional. Ainda assim, tinha uma polícia<br />

interior a defendê-lo contra as sugestões do hipnotista rival, lesivas aos seus interêsses<br />

vitais. Ameaçado pela polícia externa, a polícia interna passou a agir em sua defesa,<br />

contrariando os propósitos do comparsa mal intencionado.<br />

Escusado será dizer que nem sempre as dificuldades de acordar, se condicionam a<br />

propósitos inconfessáveis ou finalidades instintivas dessa natureza caracterològicamente<br />

comprometida. Cita-se a propósito o caso de pacientes cuja dificuldade de sair do transe se<br />

prende a uma experiência anestésica química. Trata-se de pessoas que já foram anestesiadas<br />

e que revivem no transe psicològicamente a inconsciência do “transe” anestésico.<br />

Um dos meus melhores “sujets” não era difícil de acordar, senão apenas perigoso.<br />

Atleta e conhecido instrutor de luta livre e de jiu-jitsu, êsse paciente, não obstante tôdas as<br />

medidas de precaução, saía do transe, ao ouvir a palavra convencionada, de um salto, de<br />

punhos cerrados, ameaçando esmurrar o hipnotizador, o qual, ciente dessa perspectiva, se<br />

mantinha oculto a uma prudente distância. Descobriu-se que o paciente havia certa vez<br />

sucumbido, em uma luta de jiu-jitsu, a um processo de estrangulamento. Permanecera<br />

alguns instantes desacordado, e ao voltar, seu primeiro impulso tinha sido o de investir<br />

contra o homem que o fizera desmaiar. No processo hipnótico confundia o transe com o<br />

desmaio, e o hipnotista se lhe trocava pelo adversário vencedor. Bastou uma sugestão<br />

elucidativa para que passasse a acordar normalmente.<br />

Há ainda pacientes que acordam fàcilmente, mas que tornam a cair em transe<br />

momentos depois, e ainda os que manifestam fenômenos post-hipnóticos não sugeridos,<br />

espontâneamente. Dentre êsses fenômenos destacam-se, pela respectiva freqüência, os<br />

desmaios e as alucinações visuais e auditivas. Esporàdicamente ocorrem surtos de mudez.<br />

Sabemos que o indivíduo hipnotizado se revela pela pouca inclinação a falar. O fato de<br />

continuar mudo depois da sessão traduz o desejo de prolongar ainda por algum tempo a<br />

experiência agradável da hipnose. Nenhum dêsses casos justifica inquietações. É certo que

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