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O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />

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própria indução e condução da hipnose, exigem alguma prática, além de algum<br />

conhecimento e contrôle sôbre a sua própria natureza. Ocorrem, efetivamente, casos nos<br />

quais o ato de acordar se complica ou prolonga, o que, em hipótese alguma, deve constituirse<br />

em motivo de pânico para o hipnotista, ainda que as reações do “sujet” assumam<br />

proporções espetaculares. Há pessoas que se aboletam 103 no transe e insistem em prolongar<br />

o rapport, ou seja, sua relação com o hipnotista. Outros se agarram à hipnose, cumprindo<br />

nela, secretamente, alguma outra finalidade instintiva qualquer, inconfessável e nem<br />

sempre de todo inconsciente. Não raro se vislumbra na resistência do “sujet” que insiste em<br />

dar trabalho o desejo de vingar-se do hipnotista. É como se êle dissesse : “Agora você me<br />

paga. Vou passar-lhe um susto. Vou desmoralizar sua pretensão de homem forte, não<br />

acordando quando você o determinar. Mui raramente tais pacientes complementam sua<br />

ação de resistência com violências, atos que, em tudo e por tudo, se assemelham às<br />

manifestações histéricas, obrigando o hipnotista a segurá-los, a imobilizá-los e a subjugálos<br />

à fôrça. É da experiência psicológica universal que tais cenas quase sempre assumem<br />

um caráter de “show”, não dispensando, portanto, algum público. E há pessoas, embora<br />

raríssimas, que aproveitam a hipnose para promover desordens e ações depredatórias.<br />

Dentre as dezenas de milhares de pessoas por mim hipnotizadas, registrei meia dúzia de<br />

casos difíceis apenas. Para êsses divisei uma técnica que não costuma falhar. Pergunto ao<br />

paciente o motivo de sua resistência : “Você me vai dizer agora a razão por que você se<br />

recusa a voltar.” Esta pergunta coloca o “sujet” difícil diante de duas alternativas :<br />

confessar o segrêdo de sua resistência ou renunciar à mesma. Escusado será dizer que<br />

geralmente opta pela última dessas duas alternativas e acorda. Caso contrário, ainda restam<br />

outros recursos psicológicos, mais ou menos sutis. A eficiência de tôdas as possíveis<br />

técnicas de acordar o “difíceis”, depende largamente das motivações, mais ou menos<br />

inconscientes e inconfessáveis que determinaram a resistência. Certo “sujet” meu foi<br />

acordado com uma carteira de polícia. Pelo que tem de instrutivo e de pitoresco, passo a<br />

relatar êste e mais alguns outros casos de minha experiência :<br />

O “sujet” tinha por hábito deixar em apuros os hipnotistas, tendo sido hipnotizado<br />

por diversos. Só acordava a poder de sua própria vontade, ou seja, duas horas depois do<br />

intento alheio de acordá-lo. No momento em que se iniciava o ato de despertá-lo tinha de<br />

ser subjugado à fôrça, pois com verdadeira fúria depredatória investia contra as pessoas e<br />

os móveis. Êste indivíduo, considerado impossível e não apenas difícil de acordar,<br />

condicionado por um hipnotista rival, introduziu-se clandestinamente em minha sessão com<br />

o objetivo declarado de desmoralizar um curso que estava ministrando a uma centena de<br />

odontólogos e médicos. À minha pergunta de praxe se já havia sido hipnotizado alguma<br />

vez, respondeu afirmativamente. À pergunta seguinte : “por quem ?”, respondeu<br />

evasivamente : “por um vizinho”. O “vizinho” encontrava-se como clandestino entre os<br />

alunos. Desde o comêço da indução o paciente mostrou-se visìvelmente emocionado. As<br />

extremidades geladas começaram a tremer. Chamei a atenção dos alunos. O sintoma podia<br />

ser levado à conta da própria experiência hipnótica, mas já era o reflexo fisiológico de uma<br />

consciência comprometida. Quando, quinze minutos depois da indução, me aprestei a<br />

acordá-lo, a “bomba” explodiu. O hipnotista rival quis aproveitar o ensejo para dar uma<br />

demonstração de sua “fôrça”, superior à do professor. Apresentando-se, declarou<br />

enfàticamente que o paciente só acordaria pela sua própria vontade, à meia noite em ponto.<br />

Eram dez horas. Por sua vez, o “sujet”, por meio de movimentos com a cabeça, confirmava<br />

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Alojam; Instalam.

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