O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

rodrigo.vieirati
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82 K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O O ATO DE ACORDAR Acordar o “sujet” constitui um ato delicado. O indivíduo que submergiu lentamente nas profundezas do transe hipnótico não deve tornar ao estado normal sùbitamente. Arrancando o “sujet” violentamente ou indelicadamente do transe em que se encontra, corremos o risco de neutralizar o condicionamento psicológico para as próximas sessões. O paciente pode mostrar-se assustado ou mesmo histèricamente impressionado. Uma das técnicas de acordar consiste em contar até dez, fazendo preceder a contagem de uma explicação prévia e interpolando-se 101 sugestões adequadas. Ex. “Agora vou começar a acordá-lo, contando até dez. Você vai sentir-se maravilhosamente bem disposto ; uma sensação de grande bem-estar, livre de qualquer dor ou desconfôrto, ou qualquer impressão desagradável. Vou começar a contar. À medida em que eu fôr contando, você vai acordando. Antes de chegar aos dez, você já está pràticamente acordado. Vai acordando suavemente. Atenção, começo a contar : 1… 2… 3… Já está começando a acordar. 4… 5… 6… já está voltando… 7… já está quase, 8… 9… agora. 10, pronto. É de boa tática psicológica congratular-se com o paciente pela felicidade e profundidade de seu transe. “Dou-lhe os parabéns, pois o estado de hipnose profunda que nem todos alcançam representa uma chance terapêutica de primeiríssima ordem. “Costumo acrescentar : “O senhor (senhora) dormiu bastante, deve estar se sentindo repousado e muito bem disposto”, no que sou geralmente confirmado pelo “sujet”. Evitemos que testemunhas, porventura presentes no ato de acordar, contrariem ou neutralizem essa atitude congratulatória do hipnotista, com risos, comentários críticos injuriosos ou desairosos 102 ao “sujet”. Em minhas demonstrações públicas costumo fazer um apêlo às platéias nesse sentido. E o público que tem a sua dinâmica de cooperação e intuição psicológica próprias, geralmente gratifica “sujet” com uma salva de palmas ao acordar. A razão psicológica da contagem para efeitos de acordar dispensará maiores explicações : é simplesmente para dar ao “sujet” tempo para voltar ao seu estado normal. Se não terminássemos a contagem êle acordaria. E acordaria mesmo sem contagem ou outro qualquer expediente equivalente, embora um tanto ou quanto atordoado ou admirado. Outra técnica muito aprovada do ponto de vista psicológico consiste em soletrar o nome do “sujet”. “Eu vou dizendo, uma a uma, as letras de seu nome. À medida em que eu fôr soletrando o seu nome, você vai acordando. Antes mesmo de terminar, você já estará pràticamente acordado. Vai acordando suavemente, bem disposto, com uma grande sensação de bem-estar, livre de qualquer dor ou desconforto, perfeitamente repousado, etc. Ao dizer a última letra de seu nome, você estará perfeitamente acordado e maravilhosamente bem disposto.” UMA TÉCNICA PARA OS DIFÍCEIS DE ACORDAR Um dos espantalhos de quantos ignoram as possibilidades e os mecanismos da hipnose é o receio de não conseguir acordar o paciente e restitui-lo ao seu estado normal. Inicialmente devemos nos lembrar de que não apenas o ato de acordar, senão também a 101 Inserindo(-se); Introduzindo(-se). 102 Indecoroso(s); Inconveniente(s).

K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O 83 própria indução e condução da hipnose, exigem alguma prática, além de algum conhecimento e contrôle sôbre a sua própria natureza. Ocorrem, efetivamente, casos nos quais o ato de acordar se complica ou prolonga, o que, em hipótese alguma, deve constituirse em motivo de pânico para o hipnotista, ainda que as reações do “sujet” assumam proporções espetaculares. Há pessoas que se aboletam 103 no transe e insistem em prolongar o rapport, ou seja, sua relação com o hipnotista. Outros se agarram à hipnose, cumprindo nela, secretamente, alguma outra finalidade instintiva qualquer, inconfessável e nem sempre de todo inconsciente. Não raro se vislumbra na resistência do “sujet” que insiste em dar trabalho o desejo de vingar-se do hipnotista. É como se êle dissesse : “Agora você me paga. Vou passar-lhe um susto. Vou desmoralizar sua pretensão de homem forte, não acordando quando você o determinar. Mui raramente tais pacientes complementam sua ação de resistência com violências, atos que, em tudo e por tudo, se assemelham às manifestações histéricas, obrigando o hipnotista a segurá-los, a imobilizá-los e a subjugálos à fôrça. É da experiência psicológica universal que tais cenas quase sempre assumem um caráter de “show”, não dispensando, portanto, algum público. E há pessoas, embora raríssimas, que aproveitam a hipnose para promover desordens e ações depredatórias. Dentre as dezenas de milhares de pessoas por mim hipnotizadas, registrei meia dúzia de casos difíceis apenas. Para êsses divisei uma técnica que não costuma falhar. Pergunto ao paciente o motivo de sua resistência : “Você me vai dizer agora a razão por que você se recusa a voltar.” Esta pergunta coloca o “sujet” difícil diante de duas alternativas : confessar o segrêdo de sua resistência ou renunciar à mesma. Escusado será dizer que geralmente opta pela última dessas duas alternativas e acorda. Caso contrário, ainda restam outros recursos psicológicos, mais ou menos sutis. A eficiência de tôdas as possíveis técnicas de acordar o “difíceis”, depende largamente das motivações, mais ou menos inconscientes e inconfessáveis que determinaram a resistência. Certo “sujet” meu foi acordado com uma carteira de polícia. Pelo que tem de instrutivo e de pitoresco, passo a relatar êste e mais alguns outros casos de minha experiência : O “sujet” tinha por hábito deixar em apuros os hipnotistas, tendo sido hipnotizado por diversos. Só acordava a poder de sua própria vontade, ou seja, duas horas depois do intento alheio de acordá-lo. No momento em que se iniciava o ato de despertá-lo tinha de ser subjugado à fôrça, pois com verdadeira fúria depredatória investia contra as pessoas e os móveis. Êste indivíduo, considerado impossível e não apenas difícil de acordar, condicionado por um hipnotista rival, introduziu-se clandestinamente em minha sessão com o objetivo declarado de desmoralizar um curso que estava ministrando a uma centena de odontólogos e médicos. À minha pergunta de praxe se já havia sido hipnotizado alguma vez, respondeu afirmativamente. À pergunta seguinte : “por quem ?”, respondeu evasivamente : “por um vizinho”. O “vizinho” encontrava-se como clandestino entre os alunos. Desde o comêço da indução o paciente mostrou-se visìvelmente emocionado. As extremidades geladas começaram a tremer. Chamei a atenção dos alunos. O sintoma podia ser levado à conta da própria experiência hipnótica, mas já era o reflexo fisiológico de uma consciência comprometida. Quando, quinze minutos depois da indução, me aprestei a acordá-lo, a “bomba” explodiu. O hipnotista rival quis aproveitar o ensejo para dar uma demonstração de sua “fôrça”, superior à do professor. Apresentando-se, declarou enfàticamente que o paciente só acordaria pela sua própria vontade, à meia noite em ponto. Eram dez horas. Por sua vez, o “sujet”, por meio de movimentos com a cabeça, confirmava 103 Alojam; Instalam.

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Acordar o “sujet” constitui um ato delicado. O indivíduo que submergiu lentamente<br />

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Uma das técnicas de acordar consiste em contar até dez, fazendo preceder a<br />

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disposto ; uma sensação de grande bem-estar, livre de qualquer dor ou desconfôrto, ou<br />

qualquer impressão desagradável. Vou começar a contar. À medida em que eu fôr<br />

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acordado. Vai acordando suavemente. Atenção, começo a contar : 1… 2… 3… Já está<br />

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profundidade de seu transe. “Dou-lhe os parabéns, pois o estado de hipnose profunda que<br />

nem todos alcançam representa uma chance terapêutica de primeiríssima ordem. “Costumo<br />

acrescentar : “O senhor (senhora) dormiu bastante, deve estar se sentindo repousado e<br />

muito bem disposto”, no que sou geralmente confirmado pelo “sujet”. Evitemos que<br />

testemunhas, porventura presentes no ato de acordar, contrariem ou neutralizem essa<br />

atitude congratulatória do hipnotista, com risos, comentários críticos injuriosos ou<br />

desairosos 102 ao “sujet”. Em minhas demonstrações públicas costumo fazer um apêlo às<br />

platéias nesse sentido. E o público que tem a sua dinâmica de cooperação e intuição<br />

psicológica próprias, geralmente gratifica “sujet” com uma salva de palmas ao acordar.<br />

A razão psicológica da contagem para efeitos de acordar dispensará maiores<br />

explicações : é simplesmente para dar ao “sujet” tempo para voltar ao seu estado normal.<br />

Se não terminássemos a contagem êle acordaria. E acordaria mesmo sem contagem ou<br />

outro qualquer expediente equivalente, embora um tanto ou quanto atordoado ou admirado.<br />

Outra técnica muito aprovada do ponto de vista psicológico consiste em soletrar o<br />

nome do “sujet”. “Eu vou dizendo, uma a uma, as letras de seu nome. À medida em que eu<br />

fôr soletrando o seu nome, você vai acordando. Antes mesmo de terminar, você já estará<br />

pràticamente acordado. Vai acordando suavemente, bem disposto, com uma grande<br />

sensação de bem-estar, livre de qualquer dor ou desconforto, perfeitamente repousado, etc.<br />

Ao dizer a última letra de seu nome, você estará perfeitamente acordado e<br />

maravilhosamente bem disposto.”<br />

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Um dos espantalhos de quantos ignoram as possibilidades e os mecanismos da<br />

hipnose é o receio de não conseguir acordar o paciente e restitui-lo ao seu estado normal.<br />

Inicialmente devemos nos lembrar de que não apenas o ato de acordar, senão também a<br />

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