O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
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êste tenha de forçar a vista. O objeto brilhante pode ser um relógio que o operador segura<br />
para os devidos fins. Recomenda-se no caso não utilizar objetos que possam despertar um<br />
interêsse particular no “sujet” e distrai-lo. Lembro-me a propósito de um detento, ladrão<br />
contumaz 96 , confiado aos meus cuidados psicoterápicos na penitenciária. À vista do meu<br />
relógio de platina, longe de sentir a sugerida fadiga ocular, os olhos daquele paciente, isso<br />
sim, começaram a brilhar. Ao invés de fixar abstratamente o objeto, começou a decifrar as<br />
minúsculas inscrições, o número de série e tudo mais. Ao notar-lhe o interêsse, substituí o<br />
relógio pelo meu polegar e o transe não tardou em se produzir.<br />
Grande parte dos “sujets” é particularmente impressionável pelo olhar do hipnotista.<br />
A velha crença na fôrça do olhar é um elemento que não se deve desprezar, sobretudo<br />
quando o “sujet” se confessa propenso a êsse tipo de ação sugestiva. Fixando firmemente<br />
os olhos do “sujet”, o hipnotista pode assegurar-se, em certos casos, maior contrôle sôbre a<br />
atenção requerida para a indução. Nesse processo evita-se o pestanejar, a fim de não distrair<br />
o paciente. Êste, por sua vez, é instruído no sentido de fixar a sua vista primeiro num dos<br />
olhos do hipnotizador, passando depois para o outro. A mudança do foco visual lhe turvará<br />
a visão, circunstância essa que poderá auxiliar o trabalho sugestivo. O fator principal, no<br />
entanto, é ainda e sempre o aprisionamento da atenção do paciente e a monotonia no olhar,<br />
na voz e nos gestos. Escusado será acrescentar que o expediente da fascinação deve vir<br />
acompanhado de uma sugestão verbal adequada, além de recomendações no sentido de um<br />
progressivo relaxamento muscular, contrôle apropriado de respiração, passividade mental<br />
etc.<br />
A voz deve ser preferentemente grave e sempre monótona. Suave com uns, mais<br />
enérgica com outros, sempre de acôrdo com as condições emocionais, culturais e<br />
caracterológicas do paciente. Mais adiante daremos maiores detalhes técnicos a êsse<br />
respeito.<br />
Quanto ao teor da sugestão verbal para efeito de indução, tem de obedecer a uns<br />
tantos requisitos fundamentais, os quais, com ligeiras variantes, são os mesmos em todos os<br />
métodos.<br />
Depois de psicològicamente condicionado, o hipnotista acomoda o paciente,<br />
geralmente numa poltrona ou simples cadeira. Recomenda-lhe ficar fìsicamente bem à<br />
vontade. Os músculos relaxados. As mãos sôbre os joelhos. As recomendações nesse<br />
sentido comportam uma certa solenidade, um pouco de ritual, um quê de mistério… Não<br />
nos esqueçamos de que o elemento místico da hipnose jamais será completamente banido<br />
para efeitos sugestivos e para criar o estado de expectativa necessário. Feito isso, mobilizase<br />
a atenção do paciente para o objeto a fixar. “Olhe nos meus olhos (ou para o ponto tal)<br />
fixamente. Assim. Não pense em coisa alguma, senão naquilo que lhe vou dizer. Só vai<br />
prestar atenção nas minhas palavras… Respire profundamente… Mais uma vez… Outra. Já<br />
está com os membros pesados… Muito pesados… Está começando a piscar… Suas<br />
pálpebras estão ficando pesadas… Cada vez mais pesadas… Sua vista começa a ficar<br />
turva… Já não enxerga nìtidamente… Os meus olhos (ou o ponto indicado) vão<br />
aumentando, perdendo os contôrnos… Sua vista cada vez mais cansada… Os seus olhos<br />
estão sumindo… cada vez menores… Com sono… Vão se fechado… Fechando…<br />
Fechando. Pronto, fecharam. Entrará num sono profundo, cada vez mais profundo…”<br />
Parte dessa verbalização e tudo o que se segue dêsse ponto em diante não varia<br />
substancialmente nos demais métodos que ainda passaremos a expor.<br />
96<br />
Muito teimoso; Obstinado.