O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
conseguida. E quando indicam as características, o fazem quase sempre de maneira errada.<br />
Insistem em que “no hipnotismo fascinador seja absolutamente necessário possuir um olhar<br />
fixo, e para que o olhar adquira uma energia irresistível, é preciso conservar os olhos<br />
abertos o maior tempo possível, sem pestanejar”. Acontece que a ação hipnótica do olhar<br />
para do não é devida à energia irresistível, mas, sim, devida à monotonia irresistível que<br />
exprime. Tanto assim, que, para efeitos de hipnotização, os olhos do hipnotizador podem<br />
ser substituídos por um objeto inanimado qualquer, geralmente brilhante, ao qual a mente<br />
não atribui necessàriamente nenhuma ação energética, senão ùnicamente estática.<br />
Já Heidenhaim dizia que “a hipnose resulta de um estímulo sensorial monótono e<br />
suave”. Escusado será acrescentar que, dentre êsses estímulos sensoriais a produzir o transe<br />
hipnótico, o auditivo é o mais eficiente. O intérprete mais adequado e potente da monotonia<br />
hipnótica é a voz. A monotonia da voz costuma superar, em matéria de ação hipnótica, a<br />
monotonia dos gestos e a monotonia do olhar ou da expressão fisionômica.<br />
Para efeitos de indução hipnótica contamos com o fator monotonia sob as mais<br />
diversas manifestações, não ùnicamente sob a sua forma mais específica da repetição, da<br />
insistência, da perseverança e persuasão, o que bastaria para evocar a síntese emocional da<br />
experiência infantil, consubstanciada na crença do inevitável, do irresistível, do misterioso<br />
e do sinistro, sentimentos êsses tradicional e indissolùvelmente asociados às teorias e às<br />
práticas do hipnotismo.<br />
Não será preciso repetir que a monotonia hipnótica não se produz ùnicamente por<br />
vias sensoriais, senão também pelos expedientes imaginativos e ideativos, o que equivale a<br />
dizer subjetivos. A monotonia externa, ou seja, a monotonia do hipnotizador, tem de<br />
harmonizar-se, de certo modo, com a monotonia interna, ou seja, a monotonia subjetiva do<br />
“sujet”, para produzir o efeito que dela esperamos. O “sujet”, sem dar-se conscientemente<br />
conta do fato, projeta sôbre a pessoa do hipnotista os efeitos de sua própria monotonia<br />
interior, assim como projeta sôbre o mesmo os seus próprios desejos de fazer milagres e as<br />
suas próprias fantasias de onipotência.<br />
A monotonia deve exprimir-se ainda na confiança e na calma do hipnotizador e, por<br />
paradoxal 91 que pareça, no próprio clima de expectativa que êle cria em tôrno de seu<br />
intento.<br />
91<br />
Conceito que é ou parece contrário ao senso comum; Absurdo.