O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
As duas últimas componentes desta fórmula valem, na realidade, por uma só.<br />
Quanto à atenção desviada, que é fundamental, corresponde à atenção concentrada ou à<br />
super-concentração das escolas antigas.<br />
A HIPNOSE, UM ESTADO DE INTENSA CONCENTRAÇÃO<br />
A hipnose resulta, antes de mais nada, de um estado de intensa concentração. Isso<br />
explica as façanhas de que é capaz o indivíduo hipnotizado, quer na dramatização das<br />
situações sugeridas, quer nas modificações psico-somáticas que se produzem<br />
passageiramente na estrutura de sua personalidade. Neste estado de super-concentração<br />
diluem-se, ao menos em parte, as fronteiras da personalidade consciente. As divisas do Ego<br />
se apagam. Daí os pensamentos e os sentimentos sugeridos pelo hipnotizador afigurarem-se<br />
ao “sujet” como se fossem seus próprios pensamentos e sentimentos, a ponto de não poder<br />
discriminar o material auto-psíquico do hetero-psíquico. Há autores que se recusam a ver<br />
semelhante fenômeno ùnicamente o poder da sugestão, alegando que esse é apenas um<br />
componente da indução hipnótica, nada tendo a ver com o estado de hipnose pròpriamente<br />
dito. Tudo parece indicar, entretanto, que não existe essa diferença substancial entre essas<br />
duas fases, ou seja, entre a indução e o estado hipnótico consumado. É mais uma vez uma<br />
diferença de grau e não de natureza.<br />
Sendo a atenção desviada ou super-concentrada, um fenômeno psicológico corrente<br />
ocorre com todas suas concomitantes psicosomáticas correspondentes, também fora das<br />
sessões de hipnotismo, notadamente na paixão amorosa e no susto.<br />
Vejamos :<br />
O indivíduo apaixonado encontra-se “en rapport” em relação ao objeto de sua<br />
paixão. Torna-se insensível às excelências alheias ao seu próprio romance. Superconcentrado,<br />
o que equivale a dizer, com a atenção desviada da realidade ambiente, só<br />
ouve, só vê, só obedece àquela determinada pessoa. E tal como o “sujet” em transe, perde a<br />
auto-crítica. Confunde a vontade alheia com a sua própria vontade, as virtudes alheias com<br />
as suas próprias virtudes. Enquanto ama, vive em regime alucinatório. E se o amor não<br />
resiste a certos abusos e choques, também o encanto da hipnose se quebra, conforme as<br />
objeções que o paciente formula ao hipnotista.<br />
Por sua vez, a pessoa operada sob hipnose, que, em virtude de sua atenção desviada<br />
pelo hipnotizador ou do estado de super-concentração em que se encontra, se “esquece” de<br />
sentir a dor, assemelha-se ao indivíduo que sòmente descobre que perdeu a perna, num<br />
desastre de automóvel, momentos depois da amputação.<br />
Enquadra-se na mesma categoria de reações psicológicas o caso do herói da anedota<br />
a quem se gritou : “Manuel, a sua mulher acaba de ser atropelada em Niterói!” Só depois<br />
de chegar extenuado no local mencionado, e sòmente depois de ter obedecido à ordem<br />
irrefletida e impulsivamente, o herói se capacitou de que, ele não se chamava Manuel, que<br />
não tinha mulher e que não residia na indicada localidade. Sob o efeito da distração, ou da<br />
atenção desviada, esquecera temporariamente das características fundamentais de sua<br />
própria identidade.<br />
Encontramos a todo passo paralelos curiosos e convincentes na vida cotidiana a<br />
reproduzir inadvertidamente os mais engenhosos expedientes psicológicos da hipnotização,<br />
mostrando destarte que a hipnose é efetivamente um estado psicológico, senão<br />
rigorosamente normal, ao menos bastante comum e que os mecanismos desse fenômeno