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O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />

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ver com o sistema nervoso. E, repito, para blefar ou “representar” inconsciente e<br />

convincentemente o papel que lhe é sugerido, é preciso que o indivíduo esteja ainda e<br />

sempre sob o efeito do transe.<br />

O simples desejo de representar o papel do indivíduo hipnotizado, por exemplo, não<br />

será o bastante para que uma pessoa sofra uma dor séria, como entre outras, uma extração<br />

de dentes sem anestesia. Admitamos que o paciente não esteja anestesiado no sentido<br />

próprio da palavra e que, no fundo, participe ativamente da dor a que é submetido. O fato é<br />

que em estado normal êle não consegue assumir essa atitude de quem resolveu não tomar<br />

conhecimento do sofrimento físico, fingindo simplesmente ignorá-lo. Isso não obsta que se<br />

veja ainda nesses casos um sacrifício feito ao mero desejo de representar e de impressionar<br />

os outros. Os pacientes de Esdaile, que sofriam as intervenções cirúrgicas mais severas,<br />

inclusive amputações, eram apontados pelos adversários do hipnotismo daquele tempo<br />

como “um grupo de endurecidos e renitentes impostores”.<br />

E as bôlhas de queimadura que se produzem por efeito de sugestão hipnótica?!<br />

Convenhamos que a hipnose é um gênero dramático, uma farsa ou um esfôrço de simulação<br />

todo especial.<br />

Jamais me esquecerei da expressão de pasmo de um tenente do Corpo de<br />

bombeiros, do Serviço de Segurança, no Teatro Glória, do Rio de Janeiro, onde realizei<br />

demonstrações públicas. O soldado do fogo, que nunca havia visto um espetáculo de<br />

hipnotismo e que, de certo, pouquíssimo sabia a respeito, estava sinceramente convencido<br />

de que se tratava de uma peça teatral, na qual, com exceção da minha pessoa, todos os<br />

“atôres” estavam representando de olhos fechados. À sua pergunta : “Que peça é essa,<br />

doutor?”, meu assistente respondeu : “É a peça do hipnotismo.” E o homem, admirado,<br />

observou : “Ah! Não conhecia êsse gênero! Mas como êles representam bem!”<br />

A HIPNOSE COMO DISSOCIAÇÃO<br />

Uma das teorias mais populares sôbre hipnose é a da dissociação da personalidade.<br />

Essa teoria tem inspirado a literatura e o drama e é responsável por muitas ficções. Partindo<br />

do fato, cientìficamente estabelecido, segundo o qual a hipnose é um meio de acesso ao<br />

inconsciente, os autores responsáveis pela teoria mencionada concluiram que, abrindo as<br />

portas do inconsciente, a hipnose devia, “ipso facto”, fechar as do consciente. O “sujet” não<br />

se recordava dos incidentes ocorridos durante o transe, nem dos papéis que desempenhara<br />

nesse estado, porque seu consciente estava fechado ou “adormecido” e só o inconsciente,<br />

por assim dizer, “acordado”. Êsse fenômeno da dissociação opera à base da expectativa do<br />

próprio “sujet”. Êste espera que, à medida em que entra em transe, seu consciente se apague<br />

e seu inconsciente se manifeste. É parte fundamental e convencional do papel do indivíduo<br />

hipnotizado e o “sujet” instintivamente se esforça por corresponder a êsse imperativo<br />

categórico do transe hipnótico. Ao acordar, apressa-se em declarar não se recordar de nada<br />

do que ocorreu, quando, às vêzes, com algum esfôrço, poderia recordar-se, ao menos em<br />

parte, do que se passou. Basta esclarecer aos pacientes que o clássico estado de<br />

inconsciência e conseqüente amnésia post-hipnótica não são essenciais e que já não<br />

constituem requisito e critério de hipnose, para obtermos uma notável redução do<br />

mecanismo dissociativo. A amnésia e outros fenômenos decorrentes da dissociação, são, de<br />

certo modo, impostos por sugestão, o que equivale a dizer que são mais artificiais do que<br />

reais. A conseqüência moral continua alerta no estado hipnótico. De um modo geral, o

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