O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
Em sua ingênua suposição de que o “sujet” se torna criança no duro, como se diria<br />
na linguagem popular, sem vestígios ou resquícios de influência de sua evolução adulta<br />
ulterior, o referido professor, numa série de experiências, nas quais colocou sob transe<br />
profundo diversos indivíduos, sugerindo-lhes que tinham seis anos de idade e que estavam<br />
na escola, fê-los desenhar e escrever e submeteu-os ainda ao teste de Rorschach. Conforme<br />
seria de esperar, nas interpretações, nas garatujas 65 e nos desenhos infantis, a madurez ainda<br />
se traduzia por detalhes visíveis aos olhos de um psicólogo experimentado. A evolução da<br />
personalidade podia ser mais ou menos entrevista no resultado final. Um dos “sujets” a<br />
quem o renomado psicólogo solicitou que desenhasse uma árvore, fê-lo com os traços de<br />
ingenuidade próprios de criança de seis anos, mas não se esqueceu das raízes. O que na<br />
opinião do professor revelava estágio superior à idade sugerida. A outro perguntou pela<br />
hora, e o paciente, automàticamente, consultou seu relógio de pulso, outro gesto que não se<br />
coaduna 66 com a idade infantil em questão. Já me aconteceu em uma demonstração pública<br />
muito concorrida o seguinte : um “sujet” de nacionalidade alemã, que na idade de dois anos<br />
ignorava o português, continuava a usar essa língua, adquirida posteriormente, durante a<br />
regressão hipnótica. Diversos espectadores que conheciam a infância do paciênte<br />
estranharam o fato. Bastaria adverti-lo do êrro para que imediatamente falasse no idioma de<br />
sua origem.<br />
Não concluamos daí com os céticos, que o hipnotizado blefa, embora<br />
inconscientemente, para poder mais que depressa obedecer à ordem de quem lhe controla a<br />
vontade. Basta considerar que o paciente, não obstante hipnotizado, é um indivíduo<br />
anatômica e fisiològicamente adulto ao “representar”, hipnòticamente falando, o papel de<br />
uma criança de seis anos. Dissemos há pouco que a pessoa hipnòticamente regressada<br />
remonta a níveis prehistóricos da própria organização mental, porém sem eliminar<br />
completamente as aquisições psico-fisiológicas ulteriores. A regressão pela hipnose tem-se<br />
levado até estágios intra-uterinos (nada além disso). E o paciente, encolhendo-se, assume<br />
posição de feto. Ao perguntar-se-lhe onde está, responderá provàvelmente : em um lugar ao<br />
mesmo tempo escuro e iluminado. Silencioso e cheio de estranhos ruídos, etc.<br />
Possìvelmente descreverá os batidos cardíacos da mãe e poderá reviver o traumatismo do<br />
próprio nascimento. Dirão : “É farsa. Um feto não fala. Logo não pode descrever<br />
verbalmente as suas experiências intra-uterinas.” Com efeito, o feto não fala. Não possui<br />
ainda o poder da verbalização, que é uma aquisição ulterior do Ego, mas o adulto que<br />
recorda e revive sua própria fase pré-natal tem êsse poder e o coloca, por assim dizer, à<br />
disposição da experiência a que está sendo submetido. Não deduzimos daí que a regressão<br />
no tempo ou outros fenômenos hipnóticos sejam falácias 67 .<br />
Idêntico argumento tem sido usado contra a autenticidade das alucinações negativas.<br />
O “sujet” em transe profundo recebe a ordem seguinte : “Ao abrir os olhos, você terá<br />
poderes para enxergar tudo, menos uma determinada coisa ou pessoa.” A lógica nos diz que<br />
o objeto que o “sujet” não vê é visto e não visto ao mesmo tempo. Pois para poder eliminar<br />
do campo visual o objeto suprimido pela sugestão post-hipnótica, o “sujet” tem de localizar<br />
e identificá-lo primeiro, sob pena de desobedecer à ordem do hipnotista. Êsse fato contraria<br />
a teoria da dissociação 68 , de que falaremos a seguir. Isso apenas demonstra que a<br />
dissociação é um fenômeno de caráter eminentemente psicológico, pouco ou nada tendo a<br />
65<br />
Desenho(s) mal feito(s); Rabisco(s).<br />
66<br />
Junta; Reúne (para a formação dum todo).<br />
67<br />
Qualidade ou caráter de falaz: Enganador; Fraudulento; Ilusório.<br />
68<br />
Separação; Decomposição.