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O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />

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hipnotizador. Muitos dos meus pacientes, segundo declarações feitas a mim ou a outras<br />

pessoas, tiveram a impressão de que, entre outras coisas, eu os fizera “mamar” durante o<br />

transe. E note-se que, dentre as pessoas mais hipnotizáveis, figuram os chamados “tipos<br />

orais”, ou sejam aquêles indivíduos “mal desmamados”, que se fixaram em sua evolução<br />

instintiva à fase pré-genital, denominada a “fase oral”, que é o primeiro dos três estágios<br />

marcantes da evolução libidinal para a genitalidade madura e adulta.<br />

De acôrdo com as teorias psicanalíticas mais modernas, a hipnose reproduz os<br />

processos normais do desenvolvimento do Ego infantil. É uma recapitulação da própria<br />

infância.<br />

A HIPNOSE COMO GÊN ERO DRAMÁTICO<br />

A hipnose representa — como diria Sarbin — uma forma de comportamento<br />

psicológico social mais generalizada do que a simples entrega amorosa ou o<br />

apaixonamento : é dramatização, é “rol-playing” ou “rol-taking”. O “sujet” seria, antes de<br />

mais nada, um artista animado pelo desejo de representar um papel : o papel do indivíduo<br />

hipnotizado. È esta uma teoria que confere com a impressão popular, segundo a qual o<br />

“sujet” está fingindo o estado de hipnose, quer pelo prazer de representar êsse papel<br />

específico, quer para agradar ao hipnotista. E, no entanto, essa teoria não indica,<br />

necessàriamente, ceticismo quanto à autenticidade dos fenômenos hipnóticos e nem<br />

tampouco compromete a idoneidade dos “atôres”. O desejo de representar e o de cooperar<br />

com o hipnotista e obedecer-lhe, desde que não contrarie os interêsses vitais, constitui uma<br />

característica inerente à hipnose. É uma manifestação daquilo que designamos pelo nome<br />

de “rapport”. Sem estar hipnòticamente afetado, o “sujet” não se dispõe a “colaborar” com<br />

tanta docilidade, nem “representa” o papel do hipnotizado de forma tão perfeita e<br />

convincente. Sirva-nos de exemplo o paralelo da intoxicação etílica. Ninguém põe em<br />

dúvida a realidade da intoxicação alcoólica ao descobrir que o ébrio 63 não é assim porque<br />

bebe, mas bebe precisamente por ser assim. E não se duvida, tampouco, da influência do<br />

álcool pelo fato de o indivíduo conservar a lembrança parcial ou total do que ocorreu<br />

enquanto influenciado pela bebida. Acontece que o “sujet” representa o papel do indivíduo<br />

hipnotizado da mesma forma como o alcoólatra representa o papel do ébrio. Assim como<br />

êste, a fim de poder representar convincentemente seu papel predileto, de recorrer ao<br />

álcool, aquêle também não dispensa as condições inerentes ao transe para poder<br />

desincumbir-se devidamente de sua função. Contudo, os céticos acreditam no álcool e<br />

duvidam da hipnose.<br />

Dentre êsses céticos incluem-se pessoas de grau acadêmico e muitos eminentes<br />

professôres universitários. De acôrdo com uma comunicação publicada recentemente, um<br />

renomado psicólogo da Universidade de Harvard, a exemplo de tantos outros, partiu<br />

ingênuamente do princípio segundo o qual um indivíduo que, hipnotizado, regride à<br />

infância e, por conseguinte, abstrai 64 tôda evolução posterior (como se isso fôsse psicofisiològicamente<br />

imaginável), deve, necessàriamente, comportar-se como criança em<br />

quaisquer circunstâncias, ao menos enquanto durar o transe hipnótico, principalmente<br />

quando se lhe pede que desenhe ou quando é submetido ao teste de Rorschach.<br />

63<br />

Bêbado; Embriagado; Beberrão.<br />

64<br />

Não leva em conta; Alhea-se.

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