O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação
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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />
IV — HIPNOSE E SONO<br />
Ainda não se chegou a um acôrdo quanto à relação exata entre a hipnose e o sono.<br />
No tempo de Mesmer, o hipnotista ainda não era o homem que faz dormir, embora o fôsse<br />
em épocas anteriores.<br />
Nos primórdios do hipnotismo científico, o primeiro a associar o estado de hipnose<br />
ao estado onírico foi o marquês de Puységur, em 1784, com sua já citada teoria do<br />
sonambulismo artificial. Puységur tinha, sem dúvida, sua parcela de razão. Até hoje<br />
reconhecemos nos indivíduos sonâmbulos ótimos “sujets”. E até hoje o estágio mais<br />
profundo de hipnose é acertadamente denominado : estágio sonambúlico.<br />
O primeiro a intentar uma discriminação mais acurada entre o sono natural e o<br />
“sono hipnótico” foi, como já sabemos, Braid, com a sua teoria do neurohipnotismo. Braid<br />
chamou o estado de hipnose de sono nervoso (nervous sleep). A hipnose passou a ser sono<br />
ou uma espécie de sono, para quase toda a totalidade dos pesquisadores ulteriores, dentre os<br />
quais se apontam Liébeault, Binet, Fere, Bernheim e muitos outros cientistas, mais ou<br />
menos eminentes 55 . O psicólogo contemporâneo Pavlov também nos descreve o estado<br />
hipnótico em têrmos oníricos. De acôrdo com êsse autor, a diferença que existe entre o<br />
“sono hipnótico” e o sono natural é uma diferença de grau e não de natureza e ainda uma<br />
diferença topográfica : o “sono hipnótico” apresentaria uma inibição cortical menos<br />
completa do que a do sono fisiológico. A hipnose corresponderia a um sono parcial, ou um<br />
sono distribuído em partes localizadas e canalizadas em limites estreitos, enquanto o sono<br />
natural é uma inibição contínua e difusa. Pavlov insiste ainda em que a hipnose represente<br />
uma inibição das funções corticais superiores. Se êsse seu ponto de vista correspondesse à<br />
realidade, as pessoas hipnotizadas seriam incapazes de executar atos inteligentes, o que<br />
sabidamente não se verifica.( * )<br />
Dentro da própria psicanálise encontramos ainda pontos de apôio em favor dos<br />
conceitos oníricos da hipnose. Tanto no estado de hipnose como no sono fisiológico,<br />
“mergulhamos” nos meandros 56 do inconsciente. O estado de hipnose apresenta fenômenos<br />
que se assemelham aos mecanismos e à dinâmica dos sonhos. E os sonhos, na definição de<br />
F r e u d , representam, por sua vez, “a nossa vida mental durante o sono”. Um dos<br />
fenômenos mais típicos da hipnose, a regressão, ocorre no estado onírico como no estado<br />
hipnótico, com a diferença que êsse último, às mais das vêzes, tem de ser reforçado pela<br />
sugestão. Pela hipnose podemos fazer com que uma pessoa volte, não ùnicamente à<br />
adolescência ou à infância. O “sujet” devidamente hipnotizado vai até à vida intra-uterina e<br />
remonta a níveis prehistóricos da própria organização mental. Idênticos processos<br />
regressivos se observam em relação ao sono fisiológico, conforme o prova a interpretação<br />
55<br />
Emissores.<br />
* ( * ) O Reflexo Condicionado póde prevalecer, de certo modo, como explicação científica do sono<br />
fisiológico e do sono artificial, mas não explica a hipnose humana, senão ùnicamente na parte onírica.<br />
56<br />
Sinuosidade(s) de curso(s) de água, caminho(s), etc.