O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

rodrigo.vieirati
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32 K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O Por sugestão entendemos comumente a tendência que o indivíduo tem de agir sob o mando ou a influência de outrem, quer por meio de uma ordem ou instrução direta, quer por outros meios quaisquer. Definiu-se também a sugestão como sendo “a tendência a criar na pessoa uma atitude, fazendo com que ela aceite coisas imaginárias como se fôssem reais”. Outro dicionário define a sugestão como “uma idéia, crença ou impulso apresentado à mente”. Para McDougall, “é um processo de comunicação que resulta na aceitação convicta de idéias, crenças ou impulsos, sem necessidade de fundamento lógico”. O já citado Dicionário de Têrmos Psicológicos de Warren define a sugestão como sendo “a indução ou tentativa de indução de uma idéia, crença, decisão ou ato, realizada na pessoa alheia, por meio de estímulos verbais ou outros estímulos, à base de uma argumentação exclusivista”; e continua : “É um estímulo, geralmente de natureza verbal, por cujo intermédio intentamos levar uma pessoa a agir independentemente das suas funções críticas e integradoras”. Esta definição omite um dos aspectos mais característicos do fenômeno, a saber, a possível ação projetiva ou reflexiva da sugestão, ou seja, o caráter auto-sugestivo. É verdade que, para efeitos práticos e executivos, o princípio psicológico, segundo o qual tôda sugestão é auto-sugestão, de certo modo se inverte. Acontece que a sugestão, pela sua complexidade psicológica, é dificílima de definir. Insistem certos autores que sugestão ainda não seja hipnose. Podemos estar certos, entretanto, de que tôda e qualquer hipnose começa pela sugestão, ainda que a sugestão fôsse veiculada por vias telepáticas. O estado de hipnose é, sabidamente, o estado em que a sugestão atinge sua ação mais poderosa. Seus efeitos raiam, às vêzes, ao inacreditável, ao inexplicável e mesmo ao maravilhoso, embora, de um modo geral, a hipnose não tenha êsse caráter espetacular que popularmente se lhe atribui. Pode-se eventualmente concordar em que a hipnose não seja apenas sugestão, ou sugestão pura, mesmo porque a sugestibilidade não representa uma condição anímica 54 isolada. S UGESTÃO E PRESTÍGIO Começamos a nossa série de definições de sugestão com “a tendência que a pessoa tem de agir sob o mando ou influência de outrem”… A pergunta que se nos impõe no caso é esta : O que determina psicològicamente essa tendência de agir sob o mando ou a influência alheia, e aceitar coisas imaginárias como se fôssem reais, mais fàcilmente em relação a certos fatos ou pessoas do que em relação a outras? A resposta já está formulada pelos psicólogos : É o prestígio. Reconhecemos no prestígio um dos fatôres decisivos na indução hipnótica. Note-se que, geralmente, só se consegue hipnotizar as pessoas junto às quais se tem o prestígio necessário. Portanto, o prestígio é uma componente indissolùvelmente ligada ao expediente social da hipnotização. Quanto ao prestígio, sabemos que se deriva da idéia de poder, que, por sua vez, emana da aparência ou atitudes de uma pessoa. Para os psicanalistas o prestígio se forma, largamente, em virtude de uma situação de transferência. Seria, citando Ferenczi, a expressão inconsciente, instintiva e automática da submissão filial frente à autoridade materna ou paterna. O prestígio do 54 Pertencente ou relativo à alma; Psíquico.

K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O 33 hipnotista resultaria, portanto, de uma confusão inconsciente da pessoa do hipnotizador com “papai” ou “mamãe”. Consoante essa teoria, as escolas alemãs passaram a dividir respectivamente as técnicas hipnóticas em hipnose materna e hipnose paterna (Mutter- Hypnose e Vater-Hypnose). Muitos dos autores modernos refutam êsses pontos de vista psicanalíticos, alegando que nesse caso os hipnotistas femininos só conseguiriam hipnotizar “sujets” dominados pela autoridade materna, enquanto os hipnotizadores masculinos só induziriam indivíduos habituados ao mando do pai, fenômeno êsse que na realidade nem sempre se confirma. Convenhamos, porém, que o fato de um bom “sujet” ser hipnotizável, pràticamente por qualquer hipnotista, independentemente das suas emoções preformadas, não chega a invalidar a teoria que acabamos de expor, levando em conta que o fator prestígio não se forma exclusivamente à base da experiência infantil da autoridade parental. A SUGESTÃO IDEOMOTORA Excusado será dizer, entretanto, que a sugestão hipnótica não se reduz exclusivamente ao fator prestígio. Existem também as sugestões ideomotoras. Estas se formam, notòriamente, à base de tendências preservativas e estados de expectativas comuns, independentes dos fatôres familiares e sociais que regem emocionalmente a personalidade. A teoria ideomotora, preconizada por Hull, define a hipnose como um estado de sugestibilidade generalizada, resultante da atitude passiva do “sujet” em faze das palavras proferidas pelo hipnotizador. A sabedoria popular tem a intuição da eficiência dêsse processo sugestivo, quando diz : “Água mole em pedra dura tanto dá até que fura.” Êsse estado de sugestibilidade generalizada, que é a hipnose, na definição do autor mencionado acima, é coadjuvado, entre outras coisas, pela recomendação feita ao paciente, no sentido de relaxar os músculos e de pensar ùnicamente no repouso e no sono. É do conhecimento geral que o relaxamento muscular aumenta a sugestibilidade. O descanso físico predispõe a mente a estados imaginativos e a locubrações fantásticas. Êsse requisito físico, no entanto, não constitui um conditio sine qua non da indução hipnótica. É possível hipnotizar pessoas em pé, portanto, sem estarem muscularmente relaxadas, desde que sejam suficientemente sensíveis.

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Por sugestão entendemos comumente a tendência que o indivíduo tem de agir sob o mando<br />

ou a influência de outrem, quer por meio de uma ordem ou instrução direta, quer por outros<br />

meios quaisquer.<br />

Definiu-se também a sugestão como sendo “a tendência a criar na pessoa uma<br />

atitude, fazendo com que ela aceite coisas imaginárias como se fôssem reais”.<br />

Outro dicionário define a sugestão como “uma idéia, crença ou impulso apresentado<br />

à mente”.<br />

Para McDougall, “é um processo de comunicação que resulta na aceitação convicta<br />

de idéias, crenças ou impulsos, sem necessidade de fundamento lógico”.<br />

O já citado Dicionário de Têrmos Psicológicos de Warren define a sugestão como<br />

sendo “a indução ou tentativa de indução de uma idéia, crença, decisão ou ato, realizada na<br />

pessoa alheia, por meio de estímulos verbais ou outros estímulos, à base de uma<br />

argumentação exclusivista”; e continua : “É um estímulo, geralmente de natureza verbal,<br />

por cujo intermédio intentamos levar uma pessoa a agir independentemente das suas<br />

funções críticas e integradoras”.<br />

Esta definição omite um dos aspectos mais característicos do fenômeno, a saber, a<br />

possível ação projetiva ou reflexiva da sugestão, ou seja, o caráter auto-sugestivo. É<br />

verdade que, para efeitos práticos e executivos, o princípio psicológico, segundo o qual<br />

tôda sugestão é auto-sugestão, de certo modo se inverte. Acontece que a sugestão, pela sua<br />

complexidade psicológica, é dificílima de definir.<br />

Insistem certos autores que sugestão ainda não seja hipnose. Podemos estar certos,<br />

entretanto, de que tôda e qualquer hipnose começa pela sugestão, ainda que a sugestão<br />

fôsse veiculada por vias telepáticas. O estado de hipnose é, sabidamente, o estado em que a<br />

sugestão atinge sua ação mais poderosa. Seus efeitos raiam, às vêzes, ao inacreditável, ao<br />

inexplicável e mesmo ao maravilhoso, embora, de um modo geral, a hipnose não tenha êsse<br />

caráter espetacular que popularmente se lhe atribui. Pode-se eventualmente concordar em<br />

que a hipnose não seja apenas sugestão, ou sugestão pura, mesmo porque a sugestibilidade<br />

não representa uma condição anímica 54 isolada.<br />

S UGESTÃO E PRESTÍGIO<br />

Começamos a nossa série de definições de sugestão com “a tendência que a pessoa<br />

tem de agir sob o mando ou influência de outrem”… A pergunta que se nos impõe no caso<br />

é esta : O que determina psicològicamente essa tendência de agir sob o mando ou a<br />

influência alheia, e aceitar coisas imaginárias como se fôssem reais, mais fàcilmente em<br />

relação a certos fatos ou pessoas do que em relação a outras? A resposta já está formulada<br />

pelos psicólogos : É o prestígio. Reconhecemos no prestígio um dos fatôres decisivos na<br />

indução hipnótica. Note-se que, geralmente, só se consegue hipnotizar as pessoas junto às<br />

quais se tem o prestígio necessário. Portanto, o prestígio é uma componente<br />

indissolùvelmente ligada ao expediente social da hipnotização. Quanto ao prestígio,<br />

sabemos que se deriva da idéia de poder, que, por sua vez, emana da aparência ou atitudes<br />

de uma pessoa. Para os psicanalistas o prestígio se forma, largamente, em virtude de uma<br />

situação de transferência. Seria, citando Ferenczi, a expressão inconsciente, instintiva e<br />

automática da submissão filial frente à autoridade materna ou paterna. O prestígio do<br />

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