O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

rodrigo.vieirati
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28 K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O fórmula que se aplica à atividade humana (e não sòmente humana) em geral e à atividade hipnótica em particular. O êxito hipnótico presume a existência de apetites, ou seja, disposição, a qual, por sua vez, não prescinde de estímulos desta ou daquela natureza. A hipnose representa para o operador a ação da vontade aplicada racional, ou melhor diremos, indiretamente. O que equivale a dizer que o hipnotista não têm de fazer fôrça com a sua vontade. Para todos os efeitos, êle tem de saber e não apenas querer hipnotizar. O segrêdo do “poder hipnótico”, como de qualquer outro poder exercido pelo homem, reduz-se, mais cedo ou mais tarde, ao conhecimento. Nesse sentido, a própria arte tende a transformar-se em técnica e ciência e vice-versa. Não podemos, por isso, negar importância prática às diversas teorias sôbre hipnotismo que começamos a expor. Nenhuma delas satisfaz isoladamente, contendo cada uma apenas uma parcela maior ou menor da verdade ; mas, aproveitadas em conjunto, contribuem decididamente para aprimorar o conhecimento e o contrôle sôbre a natureza humana. A hipnose é um fenômeno muito mais complexo do que uma simples irradiação cerebral ou manifestação direta da fôrça da vontade. Não se afirma categòricamente que não possa ser também um pouco disso. O que se pode afirmar é o fato de ser muito mais do que isso. Sarbin vê na hipnose uma das manifestações mais generalizáveis do comportamento social, e Wolberg declara que as variantes interpessoais inerentes ao fenômeno hipnótico são tão complexas, que nem sequer podemos determinar-lhes as medidas. E já sabemos que o fenômeno em aprêço transcende em sua complexidade aos limites da própria espécie. A LEI DA REVERSÃO DOS EFEITOS Numa sessão de hipnotismo observa-se um impacto, não precisamente entre duas vontades, uma mais forte e outra mais fraca, mas, sim, um impacto entre a vontade, geralmente violenta, do “sujet” e a imaginação ou a idéias do hipnotista. Quanto mais forte aquela, tanto mais vitoriosa esta última. É a lei da reversão dos efeitos de Emile Coué : “Num impacto entre a vontade e a idéia, vence invariàvelmente a idéia.” Dentre os exemplos mais típicos dessa lei, ocorre-nos citar a sistemática dificuldade que experimentamos quando, de súbito, queremos lembrar um nome. Justamente no momento em que mais precisamos do nome, êle não vem à tona. Está, como se diz popularmente, na ponta da língua. Quanto maior a nossa pressa, quanto mais nos esforçamos, maiores as dificuldades. É o impacto da idéia do esquecimento contra a vontade imperiosa da lembrança a bloquear a memória. O nome invocado vem à mente à medida em que renunciamos ou moderamos a vontade da lembrança. Nas sessões de hipnotismo, essa reversão de efeitos se produz artificialmente pela intensa e súbita mobilização da vontade no “sujet”. Dizemos ao “sujet” que êle é incapaz de lembrar-se de seu próprio nome. E êle reage desesperadamente à nossa sugestão, ou seja, à nossa idéia (no fundo vontade) de provocar o fenômeno, porém em vão. Semelhantemente, sugere-se que êle não consegue articular uma determinada palavra, que está prêso na cadeira, que não consegue abrir os olhos etc., etc., e o efeito, ou melhor, a reversão de efeitos, a produzir os resultados espetaculares que todos conhecemos das demonstrações de hipnotismo que realizamos ou às quais assistimos. Subentende-se, entretanto, que a lei que acabamos de citar não se põe em ação com

K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O 29 a mesma simplicidade com que se põe a funcionar um engenho mecânico, isto é, ligando uma chave ou apertando um comutador. Para que a referida lei funcione é preciso que o “sujet” esteja convencido da autenticidade da experiência e, subsidiàriamente 51 , também das vantagens que se lhe propõem. E para tanto, é preciso que o hipnotista convença. Não fôra assim e qualquer pessoa, sem nenhuma habilitação, em qualquer circunstância, poderia hipnotizar qualquer indivíduo. Bastaria proferir uma sugestão para ser obedecido, o que, sabidamente, não acontece. Visto sob êste aspecto, o hipnotismo, ao menos por enquanto, não é apenas uma ciência. É também uma arte. É a arte de convencer. Hipnotizar é convencer. E convencer é sugestionar. Só sugestiona quem convence. E só quem convence hipnotiza. Com um mínimo de noções, um indivíduo ignorante pode hipnotizar perfeitamente, desde que as circunstâncias lhe sejam favoráveis e desde que convença. Os indivíduos vitoriosos na política, nas profissões liberais, no comércio, na indústria, nas carreiras artísticas e em tudo mais, usam, que o saibam ou não, as técnicas hipnóticas. São hipnotizadores potenciais. E note-se que em matéria de hipnotismo, o artista, não raro, leva vantagens sôbre o cientista. Desde os primórdios da civilização até a época de Mesmer, o hipnotizador agia intuitivamente, baseado em premissas científicas inteiramente falsas. E ainda em nossos dias o êxito hipnótico vem freqüentemente associado a uma espantosa ignorância em relação às leis psicológicas que presidem êste fenômeno. A capacidade hipnótica, antes adquirida de forma empírica e intuitiva, é hoje, graças aos conhecimentos técnico-científicos, suscetível de aquisição e desenvolvimento. A arte tende a transformar-se, como dissemos há pouco, em técnica e ciência, e, inversamente, a técnica e a ciência se convertem em uma verdadeira arte. 51 Secundariamente.

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Para que a referida lei funcione é preciso que o “sujet” esteja convencido da<br />

autenticidade da experiência e, subsidiàriamente 51 , também das vantagens que se lhe<br />

propõem. E para tanto, é preciso que o hipnotista convença. Não fôra assim e qualquer<br />

pessoa, sem nenhuma habilitação, em qualquer circunstância, poderia hipnotizar qualquer<br />

indivíduo. Bastaria proferir uma sugestão para ser obedecido, o que, sabidamente, não<br />

acontece.<br />

Visto sob êste aspecto, o hipnotismo, ao menos por enquanto, não é apenas uma<br />

ciência. É também uma arte. É a arte de convencer. Hipnotizar é convencer. E convencer é<br />

sugestionar. Só sugestiona quem convence. E só quem convence hipnotiza.<br />

Com um mínimo de noções, um indivíduo ignorante pode hipnotizar perfeitamente,<br />

desde que as circunstâncias lhe sejam favoráveis e desde que convença. Os indivíduos<br />

vitoriosos na política, nas profissões liberais, no comércio, na indústria, nas carreiras<br />

artísticas e em tudo mais, usam, que o saibam ou não, as técnicas hipnóticas. São<br />

hipnotizadores potenciais. E note-se que em matéria de hipnotismo, o artista, não raro, leva<br />

vantagens sôbre o cientista. Desde os primórdios da civilização até a época de Mesmer, o<br />

hipnotizador agia intuitivamente, baseado em premissas científicas inteiramente falsas. E<br />

ainda em nossos dias o êxito hipnótico vem freqüentemente associado a uma espantosa<br />

ignorância em relação às leis psicológicas que presidem êste fenômeno.<br />

A capacidade hipnótica, antes adquirida de forma empírica e intuitiva, é hoje, graças<br />

aos conhecimentos técnico-científicos, suscetível de aquisição e desenvolvimento. A arte<br />

tende a transformar-se, como dissemos há pouco, em técnica e ciência, e, inversamente, a<br />

técnica e a ciência se convertem em uma verdadeira arte.<br />

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Secundariamente.

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