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O Hipnotismo - Psicologia, Técnica e Aplicação

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K A R L W E I S S M A N N — O H I P N O T I S M O<br />

27<br />

II — QUE É A HIPNOSE?<br />

U M FEN Ô M ENO DE PROJEÇÃO — ARTE E CIÊNCIA<br />

Para as pessoas que ignoram os mecanismos psicológicos que presidem ao<br />

fenômeno da hipnose e para todos aquêles que acreditam no “poder hipnótico”, a hipnose<br />

resulta da ação direta de uma vontade mais forte, ou seja, a vontade do hipnotista, sôbre<br />

uma vontade mais fraca, ou seja, a vontade do “sujet”. Ao menos enquanto dura o transe,<br />

êle, “sujet”, é considerado escravo de uma vontade mais forte do que a sua. Na realidade, o<br />

“sujet” sucumbe à sua própria vontade, que se confunde ou entra em choque com a idéia ou<br />

a imaginação do hipnotista. Assim, a monotonia, que é um dos fatôres técnicos mais<br />

decisivos na indução hipnótica, para produzir efeito, tem de basear-se na reciprocidade. A<br />

monotonia externa, ou seja, a monotonia do hipnotizador, tem de refletir, de certo modo, a<br />

monotonia interna, ou seja, a monotonia do paciente. O “sujet”, sem dar-se<br />

conscientemente conta do fato, projeta sôbre a pessoa do hipnotizador os efeitos hipnóticos<br />

de sua própria monotonia, assim como projeta sôbre o mesmo seus próprios desejos de<br />

fazer milagres e suas próprias fantasias de onipotência. Pelo lado psicológico,<br />

indiscutìvelmente o lado mais importante, a hipnose explica-se, entre outras coisas, como<br />

um fenômeno de projeção. Ao menos em grande parte, o “sujet” é vencido pelas suas<br />

próprias armas, armas essas que o hipnotista tem de saber selecionar e utilizar<br />

adequadamente. Não percamos de mente que tôda sugestão é, em última análise,<br />

largamente auto-sugestão, tôda hipnose, em última análise, largamente auto-hipnose, e todo<br />

mêdo, no fundo, mêdo de si mesmo.<br />

Contràriamente ao que ensinam os livros populares, a fé inabalável no hipnotismo e<br />

a vontade forte não constituem os atributos fundamentais e diretos do hipnotizador, mas,<br />

sim, do “sujet”. A experiência mostra que os melhores pacientes são precisamente os tipos<br />

impulsivos, os voluntariosos, em suma, as pessoas de muita vontade ou de vontade forte.<br />

Os livros do tipo “Querer é Poder” — nos quais os autores se comprazem em<br />

confundir a simples vontade de poder com o poder da vontade — têm contribuído<br />

largamente para formar ótimos “sujets” e péssimos hipnotistas. A notória escassez de bons<br />

hipnotizadores pode ser atribuída em grande parte a êsse gênero de literatura sôbre o<br />

assunto.<br />

Do que se acaba de expor não se infere que o hipnotizador não deva ter vontade, ou<br />

que seja, necessàriamente, dotado de pouca vontade ou de uma vontade débil. Êle também<br />

tem a sua vontade, e de certo, uma dessas vontades respeitáveis ou “invencíveis”, sòmente<br />

não a utiliza de maneira irracional, ou seja, de forma direta. Êle não comete a ingenuidade<br />

de confundir a simples vontade de poder com o poder já concretizado, ou seja, com o<br />

poder da própria vontade. Dizia Nietzsche : “Todos os nossos movimentos não passam de<br />

sintomas. Também todos os nossos pensamentos não passam de sintomas. Atrás de cada<br />

sintoma esconde-se um apetite. E o apetite fundamental é a vontade de poder.” É esta uma

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